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Tutelas Provisórias e procedimentos especiais

1- Incidente de resolução de demandas repetitivas

Neste tópico inaugural da unidade estudaremos o incidente de resolução de demandas


repetitivas (IRDR), e nos tópicos seguinte estudaremos outros dois incidentes processuais de
competência originária dos tribunais: o incidente de assunção de competência (IAC) e o
incidente de arguição de inconstitucionalidade (IAI).

1.1 Do cabimento e admissão

O incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) está regulamentado nos artigos 976 a
987 do CPC sendo um importante instrumento de uniformização dos precedentes emitidos
pelos tribunais.

O art. 976 do CPC estipula que o cabimento do incidente de resolução de demandas repetitivas
depende da presença cumulativa e simultaneamente dos seguintes requisitos:

I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão


unicamente de direito;

II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

Conforme parágrafo 1º do art. 976, a desistência ou o abandono do processo pelas partes não
impede o exame de mérito do incidente, caso em que o Ministério Público, se não for o
requerente, intervirá obrigatoriamente no incidente e deverá assumir sua titularidade em caso
de desistência ou de abandono, nos termos do parágrafo 2º.

Elucidativo é o Enunciado nº. 342 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), que
dispõe: “O incidente de resolução de demandas repetitivas aplica-se a recurso, a remessa
necessária ou a qualquer causa de competência originária”.

Interessante é a disposição do art. 976, §3º, que abre a possibilidade de que em caso de
inadmissão do IRDR por ausência de quaisquer dos seus pressupostos de admissibilidade,
mesmo assim, poderá o incidente ser novamente suscitado caso o requisito venha a ser
satisfeito.

Com relação ao primeiro requisito – mesma questão unicamente de direito – afasta, prima
facie, que o IRDR seja instaurado quando houver questão de fato pendente de apreciação.
Neste aspecto, Daniel Amorim pondera que a questão de fato (NEVES, 2016) suficiente a
afastar o cabimento do IRDR é aquela que influencie diretamente na aplicação do direito ao
caso concreto.

Importante informar sobre questão frequentemente cobrada em provas e concursos públicos


acerca da impossibilidade de instauração preventiva do IRDR. Ou seja, na redação em que o
código foi promulgado, é necessário que ocorram, de fato, diversas demandas repetitivas que
promovam o aprofundamento do debate daquelas questões jurídicas para que somente após
o crescimento deste debate seja instaurado o IRDR. O mero receio de que determinada
controvérsia pudesse gerar repetição de processos não seria hipótese hábil a ensejar o
incidente.

Não cabe incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais superiores
tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual
repetitiva, nos termos do art. 976, §4º do CPC.
É compreensível a motivação da regra. Se já houve a afetação, por tribunal superior, para que
julgue a mesma questão de direito e se a razão de ser do incidente (e do novo Código) é de
promover a uniformidade das decisões judiciais, não faz sentidoo IRDR no tribunal local se o
tribunal superior já se obrigou a decidir a questão, e tal entendimento será vinculante.

Quanto ao pagamento de custas processuais no incidente de resolução de demandas


repetitivas o art. 976, §5º dispõe expressamente que não serão exigidas.

A competência para requerer a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas


é estabelecida pelo art. 977, que determina que poderá ser formulado pelas seguintes
pessoas:

-Pelo juiz ou relator, por ofício;

-Pelas partes, por meio de petição;

-Pelo Ministério público ou pela Defensoria pública, por meio de petição.

O pedido dever ser dirigido ao presidente do tribunal. Além disso, deve ter todos os
documentos que demonstrem o preenchimento dos pressupostos para a instauração do
incidente.

Quanto à legitimidade do Ministério Público tem-se entendido majoritariamente que está


restrita às questões que envolvam os direitos difusos ou coletivos sendo que no caso de
direitos individuais homogêneos o Ministério Público só terá legitimidade se o direito tiver
repercussão social, nos termos do entendimento esposado pelo Superior Tribunal de Justiça
(julgados AgRg no REsp 938.951/DF e AgRg no REsp 800.657/SP) e pelo Supremo Tribunal
Federal (RE 514.023 e RE 472.489).

A competência para julgamento pertence aos tribunais de justiça e aos tribunais regionais,
sendo impossível aos tribunais superiores julgar o IRDR de forma originária, mas somente em
sede de recurso, podendo inclusive determinar a suspensão de processos sobre a mesma
questão de direito em todo o país.

O art. 978 do CPC ensina que o julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo
regimento interno dentre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do
tribunal.

Já no parágrafo único do art. 978, a regra é que o órgão colegiado incumbido de julgar o
incidente e de fixar a tese jurídica, será responsável por julgar igualmente o recurso, a remessa
necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o incidente.

Este dispositivo é alvo de diversas discussões entre os doutrinadores, especialmente quanto à


sua inconstitucionalidade formal em razão de vício no processo legislativo. Ainda, suscita-se
(NEVES, 2016) que há diversos impedimentos para sua admissão, já que não é possível garantir
que haverá apelação da sentença – o que implicará na remessa do processo ao tribunal,
tornando o dispositivo ineficaz.

Outra crítica que se faz é a inviabilidade, decorrente deste dispositivo, do processamento do


IRDR no âmbito dos juizados especiais, pois o tribunal correspondente teria competência para
julgar o IRDR suscitado, mas não teria competência para julgar o eventual recurso inominado.
Esta celeuma deu origem ao enunciado nº. 44 da Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM): “Admite-se o IRDR nos juizados especiais, que
deverá ser julgado por órgão colegiado de uniformização do próprio sistema”

Tal enunciado propõe solução que gera outro problema, qual seja, a possibilidade de uma
mesma matéria ser decidida em sede de IRDR pelo tribunal e, ao mesmo tempo, ser decidida
em IRDR pelo órgão colegiado do sistema dos juizados especiais. Poderia haver decisões
conflitantes, contrariando o intuito de uniformização de jurisprudência.

Sobre o tema, Daniel Amorim (NEVES, 2016) conclui:

Outra saída seria nesse caso, excepcionalmente, fracionar-se o julgamento, de forma que ao
tribunal caberá a fixação da tese jurídica com o julgamento do IRDR e ao Colégio Recursal, o
julgamento do recurso inominado. Trata-se de solução menos traumática, mas que não escapa
de crítica, porque afasta, ainda que parcialmente, a aplicação do art. 978, parágrafo único, do
Novo CPC.

Já o art. 979 estabelece que a instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da


mais ampla e específica divulgação e publicidade. Isso dever ser feito inclusive por meio de
registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça.

Para conseguir essa amplitude de divulgação, o Código estabelece que os tribunais devem
manter um banco eletrônico de dados atualizados com as informações específicas sobre
questões de direito submetidas ao incidente. Além disso o Conselho Nacional de Justiça deve
ser comunicado imediatamente para inclusão no cadastro e que, para possibilitar a
identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro eletrônico das
teses jurídicas constantes do cadastro deve conter pelo menos os fundamentos determinantes
da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados.

Conforme seu parágrafo 3º o disposto no artigo 979, no que toca à ampla divulgação e
publicidade, também se aplicará ao julgamento de recursos repetitivos e da repercussão geral
em recurso extraordinário.

O incidente de resolução de demandas repetitivas deverá ser julgado no prazo de 1 (um) ano e
terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos
de habeas corpus, em atendimento ao art. 980 do CPC:

Art. 980. O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais
feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.

Parágrafo único. Superado o prazo previsto no caput, cessa a suspensão dos processos prevista
no art. 982, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário.

O órgão colegiado competente para julgar o incidente avaliará o seu juízo de admissibilidade,
considerando a presença dos pressupostos de admissibilidade previstos no art. 976. É o que
prevê o art. 981 do CPC, para momento posterior à distribuição do IRDR. Importante destacar
que em caso de inadmissão do incidente o recurso voluntário, reexame necessário ou processo
de competência originária deverá retornar ao órgão fracionário do tribunal competente para
sua apreciação, onde o feito terá o regular prosseguimento.
1.2 Da tramitação do incidente admitido

Admitido o incidente de resolução de demandas repetitivas, o relator do processo suspende os


processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou na região, e deve
comunicar a suspensão aos órgãos jurisdicionais competentes; poderá ainda requisitar
informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no qual se discute o objeto do incidente,
que as prestarão no prazo de 15 dias – tratando-se a requisição de informações de
possibilidade e não obrigatoriedade.

Ainda, nos termos do art. 982 do CPC, intimará o Ministério Público para, querendo,
manifestar-se também no prazo de 15 (quinze) dias. Note-se que a intimação do Ministério
Público é obrigatória mas, caso esse órgão analise o conteúdo do processo e opte por não se
manifestar quando ao seu mérito, não há óbice em que o processo continue. Também não
será considerada intempestiva a manifestação do órgão se feita após os 15 (quinze) dias,
desde que antes do julgamento do incidente.

Sobre a suspensão dos processos pendentes a boa doutrina entende que deve haver decisão
pelo relator determinando a suspensão na tramitação que deverá ser enviada a todos os juízos
abrangidos na competência territorial do tribunal preferencialmente acompanhada do inteiro
teor da decisão que admitiu o incidente. Isto seria para garantir a máxima adequação dos
casos concretos em que a necessidade de suspensão será analisada, faze ao conteúdo do
incidente (NEVES, 2016).

O enunciado nº. 348 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) diz que os
interessados serão intimados da suspensão de seus processos individuais, podendo requerer o
prosseguimento ao juiz ou tribunal onde tramitarem, demonstrando a distinção entre a
questão a ser decidida e aquela a ser julgada no incidente de resolução de demandas
repetitivas, ou nos recursos repetitivos.

Conforme o parágrafo 2º, do art. 982 do CPC, durante a suspensão, o pedido de tutela de
urgência (regulamentado pelos arts. 300 a 310 do CPC deverá ser dirigido ao juízo onde
tramita o processo suspenso. Ou seja, embora o recurso, remessa necessária ou processo de
competência deva ser analisado pelo órgão colegiado, a tutela provisória de urgência deve ser
decidida pelo juízo mais adequado, aquele em que o processo tramita originalmente
(especialmente porque esta decisão não terá efeito contra todos).

Como visto acima, a decisão de suspensão sobre os múltiplos processos quer versem sobre a
mesma questão de direito tratada no incidente fica limitada ao território do tribunal do estado
ou região que julgará o IRDR. Porém, pode haver também nos outros estados e regiões do país
demandas repetitivas que versem sobre a mesma questão, motivo pelo qual o art. 982 previu,
em seu parágrafo 3º:

§ 3º Visando à garantia da segurança jurídica, qualquer legitimado mencionado no art. 977,


incisos II e III , poderá requerer, ao tribunal competente para conhecer do recurso
extraordinário ou especial, a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos em
curso no território nacional que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado.

§ 4º Independentemente dos limites da competência territorial, a parte no processo em curso


no qual se discuta a mesma questão objeto do incidente é legitimada para requerer a
providência prevista no § 3º deste artigo.
Cumpre relembrar, portanto, quem são as pessoas legitimadas a fazer o pedido de suspensão
perante os tribunais superiores: as partes, o Ministério Público ou a defensoria pública, por
petição.

Finalizando o art. 982, o parágrafo 5º informa que a suspensão dos processos cessa se não for
interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra a decisão proferida no incidente.
Isso, claro, porque não havendo nenhum recurso em instância extraordinária em face da
decisão que resolveu o IRDR, não há que se falar em suspensão dos demais processos, mas em
aplicação nestes daquilo que foi decidido naquele, porquanto já operada a coisa julgada.

Enquanto durar a tramitação do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, o relator


deve ouvir as partes e os demais interessados (pessoas, órgãos e entidades com interesse na
controvérsia), que, poderão requerer a juntada de documentos, em até quinze dias, bem como
as diligências necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida Em seguida, o
Ministério Público deve se manifestar, no mesmo prazo de 15 dias

Explique-se que os demais interessados são aquelas pessoas que são partes em outros
processos sobre a mesma questão – nos quais se determinou sobrestamento – assim como o
Ministério Público e a Defensoria Pública, já citados. Também se configuram como demais
interessados aquelas instituições que tenham interesse no resultado da ação (é o caso do
amicus curiae).

Também de modo a se chegar a uma solução justa e interessante para a sociedade (já que seu
efeito é vinculativo e pode alcança milhares de pessoas), fica facultado ao relator do incidente
designar audiência pública e ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento
na matéria. Depois dessa instrução, o incidente pode ser incluído em pauta de julgamento
mediante pedido de dia formulado pelo relator.

Quando da sessão de julgamento do incidente pelo órgão competente designado no


regimento interno do tribunal, o relator fará a exposição do objeto do incidente e em seguida
dará a palavra as partes e aos interessados.

O autor e o réu do processo originário podem sustentar oralmente por 30 (trinta) minutos
cada, assim como o Ministério Público. Todos os demais interessados podem sustentar por 30
(trinta) minutos, divididos entre todos, mas devem se inscrever com 2 (dois) dias de
antecedência. O prazo pode ser ampliado se houver grande quantidade de inscritos para
sustentação oral.

Todos os fundamentos levatnados pelas partes e interessados que digam respeito à tese
jurídica discutida, independente se favoráveis ou contrários, devem ser abrangidos pelo
conteúdo do acórdão, por determinação do art. 984, §2º do CPC, em claro reforço ao princípio
da motivação das decisões informado no art. 489, parágrafo 1º do CPC.

Nos termos do art. 985, o julgamento do IRDR faz com que a tese jurídica fixada deva ser
aplicada:

I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e
que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos
juizados especiais do respectivo Estado ou região;

II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no
território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986.
Conforme parágrafo 1º do artigo citado, a não aplicação da tese adotada no incidente enseja o
cabimento de reclamação, processo de competência originária dos tribunais regulamentado
pelos artigos 988 a 993 do CPC.

O art. 985, parágrafo 2º do CPC diz que, se o incidente tiver por objeto questão relativa a
prestação de serviço concedido, permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será
comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva
aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada.

Importante destacar, como faz Neves (2016), que a tese fixada no IRDR aplicar-se-á aos
processos em trâmite no estado ou região abrangida pelo tribunal mas também aos casos
futuros que venham a ser propostos no mesmo território e que versem sobre idêntica questão
de direito.

Cabe recurso extraordinário ou especial em relação ao julgamento de mérito,  por ser


presumida, a repercussão geral de questão constitucional eventualmente discutida terá efeito
suspensivo.

Uma vez apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo Supremo Tribunal Federal
ou pelo Superior Tribunal de Justiça será aplicada os processos individuais ou coletivos que
versem sobre idêntica questão de direito no Brasil.

2 Incidente de assunção de competência

O incidente de assunção de competência está previsto no art. 947 do Código de Processo Civil
(CPC), e está inserido Título I do Livro III da Parte Especial do Código, que diz respeito à ordem
dos processos nos tribunais e aos procedimentos de competência originária dos Tribunais.

O incidente de assunção de competência foi criado no CPC/15 em substituição ao antigo


incidente de uniformização de jurisprudência que era regido pelo art. 555, §1º do CPC de 1973.
No incidente de uniformização de jurisprudência, de acordo com Daniel Amorim (NEVS, 2016)
o órgão pleno fixava a tese e o órgão fracionário do tribunal era o responsável por aplicar o
entendimento fixado aos casos concretos.

Diferentemente disto, no incidente de assunção de competência, o próprio órgão pleno


promove o julgamento do recurso voluntário, reexame necessário ou processo de
competência originária.

Além disso, muito se discutia acerca do efeito vinculante da decisão proferida em sede de
incidente de uniformização de jurisprudência, discussão que foi encerrada sob a vigência do
Novo CPC quanto ao incidente de assunção de competência já que sua força vinculante está
expressa na norma. Passa-se, então, ao estudo do art. 947 do CPC.

2.1  Do cabimento do incidente

Inicialmente cumpre destacar que o incidente de assunção de competência tem lugar


majoritariamente em tribunais, sendo incabível nos juízos de primeira instância. Isso porque o
caput do art. 947 define os requisitos para o cabimento do incidente:

Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de


remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão de
direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.
Desse modo, são requisitos do IAC:

1. julgamento de recurso, remessa necessária ou processo de competência originária

2. relevante questão de direito com grande repercussão social

3. sem repetição em múltiplos processos

O primeiro item exclui a possibilidade de que o incidente seja apreciado em primeira instância,
pois pressupõe a existência de recurso voluntário, remessa necessária ou que processo de
competência originária dos tribunais. De outro lado, embora aconteça com mais frequência
em tribunais locais/regionais, é possível admitir-se a possibilidade de incidentes de assunção
de competência nos tribunais superiores em razão da previsão de processos de competência
originária destes.

A respeito dos recursos voluntários, estão arrolados no art. 994 do CPC:

I - apelação;

II - agravo de instrumento;

III - agravo interno;

IV - embargos de declaração;

V - recurso ordinário;

VI - recurso especial;

VII - recurso extraordinário;

VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário;

IX - embargos de divergência.

Com relação ao instituo da remessa necessária, a título de informação, está previsto no art.
496 do CPC e obriga a tramitação de alguns processos ao duplo grau de jurisdição, hipóteses
em que a sentença não produz efeitos se não após confirmada pelo tribunal, quais sejam:

I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas


autarquias e fundações de direito público;

II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.

§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará
a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-
los-á.

[...]

§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico


obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito
público;

II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas


autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados;

III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e
fundações de direito público.

§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:

I - súmula de tribunal superior;

II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção


de competência;

IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do


próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.

Já os processos de competência originária do tribunal estão arrolados, em princípio, no art.


937, inciso VI, do CPC, abrangendo: a ação rescisória, o mandado de segurança e a reclamação.
Os processos de competência originária do Superior Tribunal de Justiça estão arrolados no art.
105, I da Constituição de 1988 e os do Supremo Tribunal Federal no art. 102, I, da Carta
Magna.

É de se destacar o requisito exposto no segundo item, da relevante questão de direito com


grande repercussão social, sem o preenchimento do qual não se permite instaurar o IAC.

Quanto ao terceiro item, impõe um requisito negativo, ou seja, de que não exista a repetição
da questão em diversos processos, o que é confirmado pelo Enunciado nº. 334 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis (FPPC):

Por força da expressão ‘sem repetição em diversos processos’, não cabe o incidente de
assunção de competência quando couber julgamento de casos repetitivos.

O parágrafo 4º do art. 947 traz outra hipótese de cabimento do incidente de assunção de


competência. É o caso de relevante questão de direito a respeito da qual seja conveniente a
prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou turmas do tribunal.

Da tramitação do incidente admitido

Preenchidos os requisitos previstos no caput do art. 947 do CPC para admissão do incidente de
assunção de competência, os parágrafos do dispositivo prestam orientações acerca da
tramitação.

Como dispõe o parágrafo 1º admitido o incidente, o relator propõe que seja o recurso, a
remessa necessária ou o processo de competência originária julgado pelo órgão colegiado que
o regimento indicar. Vamos ler o artigo na íntegra:
Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de
remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão de
direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.

§ 1º Ocorrendo a hipótese de assunção de competência, o relator proporá, de ofício ou a


requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, que seja o recurso, a
remessa necessária ou o processo de competência originária julgado pelo órgão colegiado que
o regimento indicar.

§ 2º O órgão colegiado julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência


originária se reconhecer interesse público na assunção de competência.

§ 3º O acórdão proferido em assunção de competência vinculará todos os juízes e órgãos


fracionários, exceto se houver revisão de tese.

§ 4º Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão de direito a respeito
da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou
turmas do tribunal.

Importante destacar que a competência para propor o julgamento pelo órgão colegiado
indicado pelo regimento interno do tribunal pertence ao relator do processo, que poderá fazê-
lo de ofício ou a requerimento. Quanto ao requerimento, pode ser formulado pelas partes no
processo, pelo Ministério Público ou pela Defensoria – lembrando-se de que o processo
certamente envolve relevante questão de direito, com grande repercussão social, o que
justificaria a atuação destes entes.

A remessa necessária ou o processo de competência originária se reconhecer interesse público


na assunção de competência devem ser julgadas pelo órgão colegiado indicado no regimento
interno, conforme §2º do art. 947, do CPC. As competências previstas nestes parágrafos - §1º e
§2º - costumam ser corriqueiramente objeto de questões de prova e concursos públicos.

Importante frisar que é o próprio órgão colegiado que, primeiro, faz análise de admissibilidade
do incidente e, se reconhecer a existência de interesse público na assunção de competência,
procederá ao julgamento do mérito do recurso, a remessa necessária ou o processo de
competência originária.

Por fim, o parágrafo 3º não deixa dúvidas acerca da eficácia vinculante do incidente de
assunção de competência, a cujo entendimento fixado se submeterão todos os juízes e órgãos
fracionários do tribunal que apreciou a questão, salvo na hipótese de haver revisão da tese
que poderá ser realizada somente pelo próprio órgão do tribunal que a fixou, por meio da
técnica conhecida com o overruling (ou superação), nas lições de Neves (2016).

Aplica-se ao incidente de assunção de competência o disposto no art. 983, do CPC, que


permite a intervenção de amicus curiae e a realização de audiências públicas sobre o tema a
ser julgado.

Informe-se que em caso de desistência do recurso ou, pelo autor, do pedidos da ação
originária, o incidente ficará prejudicado e não terá como prosseguir, ao contrário do que
acontece no incidente de resolução de demandas repetitivas, também no escólio de NEVES,
2016.

Incidente de arguição de inconstitucionalidade

O incidente de arguição de inconstitucionalidade já era previsto no Código de Processo Civil de


1973, e era chamado de “declaração de inconstitucionalidade”. No Código atual, está previsto
nos artigos 948 a 950, que serão abordados a seguir.

Da arguição

Estamos tratando, nesta unidade, dos incidentes processuais de competência originária dos
tribunais, sendo a arguição de inconstitucionalidade processada também de forma incidental
em relação a um processo já existente.

O artigo 948 do CPC prevê para os casos de controle difuso de constitucionalidade, em que for
arguida a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público, o relator do
processo no tribunal deve submeter a questão à turma ou à câmara competente para o
conhecimento do processo. Isso acontecerá   depois de ouvidos o Ministério Público e as
partes,

Acerca do controle de constitucionalidade é importante ressaltar que o ordenamento jurídico


pátrio prevê a existência de duas modalidades de controle dos atos normativos
infraconstitucionais, quais sejam:

Conforme visto no tópico anterior, em razão da Súmula Vinculante nº. 10 e da norma inserta
no art. 97 da Constituição da República de 1988, a declaração de inconstitucionalidade de
norma de forma incidental, por tribunal, deve obedecer a chamada cláusula de reserva de
plenário.

Como leciona Neves (2016), se tratando de controle difuso de constitucionalidade em primeira


instância:

não há qualquer especialidade procedimental para a declaração incidental de


inconstitucionalidade, resolvendo-se em sentença como questão prejudicial. Essa decisão tem
efeito apenas endoprocessual, e mesmo sendo solução de questão prejudicial não produz
coisa julgada material, em razão do previsto no art. 503, §1º, III, do Novo CPC (NEVES, 2016, p.
1542).

Ao contrário dos incidentes anteriormente estudados, verifica-se que o CPC não dispõe
expressamente sobre quem são as pessoas legitimadas a suscitar o incidente de arguição de
inconstitucionalidade entendendo-se, assim, pela possibilidade de que qualquer das partes e
terceiros interessados possa arguir, bem como Ministério Público e Defensoria Pública (nos
processos em que participem) e também os juízes atuantes no feito.

Quanto ao momento em que a arguição deve ser suscitada, ensina Neves (2016) que as partes
podem até mesmo em sustentação oral suscitarem o incidente, sendo importante que a
arguição seja feita antes do julgamento do processo no tribunal. Inexiste, assim, preclusão
temporal para a suscitação deste incidente processual.

Nos termos do art. 949 do CPC, se a arguição de inconstitucionalidade for rejeitada, o processo
prosseguirá em seu julgamento normal. Importante destacar o parágrafo único deste artigo,
que contém algumas hipóteses de inadmissibilidade:

Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão
especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou do
plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

Note-se que, nesse caso, o órgão fracionário do tribunal terá legitimidade para declarar que
determinada norma é constitucional, com amparo em pronunciamento anterior de órgãos
e/ou tribunais superiores sobre a questão. Nesse caso, inadmitir-se-á o incidente de arguição
de inconstitucionalidade.

O que o órgão fracionário do tribunal não pode é declarar a inconstitucionalidade da norma de


plano, pois assim estaria violando a já citada cláusula de reserva de plenário.

O Supremo Tribunal Federal (STF) considera aplicável a norma inserta no art. 949, parágrafo
único, do CPC, ainda que seu pronunciamento sobre a inconstitucionalidade da norma
apontada tenha ocorrido de forma incidental e não em sede de controle concentrado.

Da leitura do inciso II, do art. 949, do CPC, se a arguição for acolhida a questão cuja
constitucionalidade foi impugnada será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão
especial, onde houver (sendo necessário verificar o regimento interno dos tribunais estaduais
e regionais para fixar tal competência).

Da tramitação do incidente admitido

A admissão do incidente pelo órgão fracionário fará com que as demais questões do recurso
ou remessa necessária fiquem pendentes de julgamento – sobrestadas – até que se decida
sobre a constitucionalidade do ato normativo impugnado, que terá influência sobre o
julgamento das demais questões.

O fato de os magistrados do órgão fracionário admitirem o incidente já dá indícios – se não


decide – da inconstitucionalidade da norma apontada, mas o fato de no momento da admissão
acreditarem neste vício não significa que terão que votas da mesma maneira quando o
incidente for julgado pelo tribunal pleno ou órgão especial, conforme destaca Neves (2016).

Quanto ao julgamento pelo tribunal pleno ou órgão especial, segue rito determinado pelo art.
950 do CPC:

Art. 950. Remetida cópia do acórdão a todos os juízes, o presidente do tribunal designará a
sessão de julgamento.

§ 1º As pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado


poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade se assim o requererem,
observados os prazos e as condições previstos no regimento interno do tribunal.

§ 2º A parte legitimada à propositura das ações previstas no art. 103 da Constituição Federal
poderá manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional objeto de apreciação, no
prazo previsto pelo regimento interno, sendo-lhe assegurado o direito de apresentar
memoriais ou de requerer a juntada de documentos.
§ 3º Considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, o relator
poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

Cabe destacar que conforme o art. 97 da Constituição Federal de 1988 a declaração de


inconstitucionalidade depende do voto da maioria absoluta dos membros do tribunal ou dos
membros do seu respectivo órgão especial, entendendo-se por maioria absoluta o primeiro
número inteiro maior que a metade de todos os membros que compõem o grupo.

Explique-se que o julgamento da ação que contenha recurso ou reexame necessário será
composto de dois julgamentos, sendo o primeiro a análise do incidente de arguição de
inconstitucionalidade pelo tribunal pleno e o segundo o julgamento das demais questões
recursais pelo órgão fracionário, que fica vinculado ao pronunciamento realizado no incidente,
seja pela constitucionalidade seja pela inconstitucionalidade da norma apontada.

A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário ou extraordinário não é a do plenário.


A decisão do plenário resolve o incidente de inconstitucionalidade, já a do órgão (câmaras,
grupos ou turmas) completa o julgamento do feito.

Diante desta disposição, conclui Neves (2016) sobre o tema:

Justamente por se tratar de julgamento objetivamente complexo, afirma-se, com acerto na


melhor doutrina, a natureza de competência absoluta do órgão plenário para a declaração
incidental de incompetência, de forma que o órgão fracionário, salvo as exceções legais já
analisadas, é absolutamente incompetente para tal declaração. Trata-se de competência
funcional do órgão pleno do tribunal (NEVES, 2016, p. 1547).

Por todo o exposto, a parte que pretender apresentar recurso especial ou extraordinário em
seu processo, em que tenha havido incidente de arguição de inconstitucionalidade admitido e
julgado, deverá apresentar tanto o acórdão que julgou o mérito do incidente quanto o acordão
que julgou as demais questões recursais, possibilitando aos tribunais superiores o pleno
conhecimento das questões de direito já discutidas.

Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

 aprendeu que, tanto o incidente de resolução de demandas repetitivas, quanto o


incidente de assunção possuem efeito vinculante;

 descobriu que o incidente de resolução de demandas repetitivas não pode ser


instaurado de forma preventiva;

 compreendeu que o incidente de assunção de competência pressupõe a inexistência  


de repetição em múltiplos processos;

 aprendeu que o incidente de arguição de inconstitucionalidade ocorrerá em sede de


controle difuso de constitucionalidade.
Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:
15 de dez. 2019.

_____. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 14
de dez. 2019.

NEVES, D. A. A. Novo código de processo civil comentado. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.

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