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Esse requisito do § 3º do art. 42 do ECA é absoluto ou pode ser relativizado?


Pode ser relativizado.
A diferença etária mínima de 16 (dezesseis) anos entre adotante e adotado pode ser flexibilizada à luz
do princípio da socioafetividade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.785.754-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/10/2019 (Info 658).

No caso concreto julgado pelo STJ, o padrasto queria adotar a sua enteada, com quem convivia há muitos
anos como sua filha. Ocorre que o padrasto é apenas 15 anos e 9 meses mais velho que a sua enteada. Em
razão disso, o juiz não aceitou o pedido de adoção.
A questão chegou até o STJ, que deu provimento ao recurso para admitir a adoção.
Realmente, a diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado é requisito legal para a adoção
(art. 42, § 3º, do ECA). No entanto, a adoção é sempre regida pela premissa do amor e da imitação da
realidade biológica, sendo o limite de idade uma forma de evitar confusão de papéis ou a imaturidade
emocional indispensável para a criação e educação de um ser humano e o cumprimento dos deveres
inerentes ao poder familiar.
Dessa forma, incumbe ao magistrado estudar as particularidades de cada caso concreto a fim de apreciar
se a idade entre as partes realiza a proteção do adotando, sendo o limite mínimo legal um norte a ser
seguido, mas que permite interpretações à luz do princípio da socioafetividade, nem sempre atrelado às
diferenças de idade entre os interessados no processo de adoção.
No caso concreto, o adotante e a adotada conviviam juntos como pai e filha há muitos anos.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

IRDR
Não cabe a instauração de IRDR se, quando a parte requereu o incidente, o Tribunal já havia julgado
o mérito do recurso e estava pendente agora apenas os embargos de declaração contra a decisão

Não caberá a instauração de IRDR se já encerrado o julgamento de mérito do recurso ou da


ação originária, mesmo que pendente de julgamento embargos de declaração.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.470.017-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 15/10/2019 (Info 658).

INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS (IRDR)


Ideia geral do IRDR
É muito comum, na prática, que um determinado tema jurídico esteja sendo discutido simultaneamente
em centenas ou milhares de processos.
No passado, esses processos eram julgados individualmente, o que gerava enormes custos e o risco de
decisões diferentes para uma mesma controvérsia jurídica.
Pensando nisso, o CPC/2015 criou o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR).
Assim, quando o juiz, o relator no Tribunal, o Ministério Público, a Defensoria Pública ou qualquer das
partes perceber que uma determinada controvérsia jurídica que está sendo discutida em um processo
também se repete em inúmeros outros, será possível pedir a instauração do incidente de resolução de
demandas repetitivas. Isso significa que todos os processos que tratam sobre aquele assunto ficarão
suspensos até que o Tribunal defina a tese jurídica e, em seguida, ela será aplicada para todos esses feitos
que se encontravam sobrestados.
Isso gera eficiência e minimiza o risco de decisões diferentes para situações semelhantes.

Informativo 658-STJ (08/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31


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Essa sistemática já não era prevista para os casos de recursos especial e extraordinário repetitivos?
Os arts. 543-B e 543-C do CPC/1973 previam uma espécie de “julgamento por amostragem” dos recursos
extraordinários e recursos especiais que tivessem sido interpostos com fundamento em idêntica
controvérsia ou questão de direito.
O CPC/2015, em linhas gerais, manteve uma regulamentação bem parecida, sendo o tema agora tratado
nos arts. 1.036 a 1.041.
Desse modo, existe sim uma sistemática parecida para o procedimento de julgamento dos recursos
extraordinário e especial repetitivos.
Em primeiro lugar, o Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e
separar todos os recursos interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará 2 ou mais que representem bem a controvérsia
discutida e os encaminhará ao STJ ou STF (conforme seja Resp ou RE).
Serão escolhidos os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de argumentos no
recurso especial/extraordinário.
Os demais recursos especiais e extraordinários que tratem sobre a mesma matéria e que não foram
remetidos como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ/STF se
pronuncie sobre o tema central.
Se o Ministro do STJ ou do STF, ao receber o recurso representativo de controvérsia, perceber que a
matéria nele tratada realmente possui um interesse geral e se repete em inúmeros outros casos, irá
proferir decisão determinando a afetação daquele tema para julgamento sob o rito dos recursos
repetitivos (art. 1.037 do CPC/2015).
Nesta decisão de afetação, o Ministro irá determinar “a suspensão do processamento de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território
nacional” (art. 1.037, II).
O STJ/STF irá julgar o recurso especial/extraordinário que foi submetido ao regime de recurso repetitivo e
definirá a tese jurídica para aquela controvérsia. Essa tese jurídica será aplicada para todos recursos que
ficaram suspensos nos TJ’s ou TRF’s.
Desse modo, o IRDR é parecido sim com a sistemática do julgamento dos recursos extraordinário e especial
repetitivos. No entanto, no caso dos recursos repetitivos, exige-se que a questão já tenha chegado ao STJ
ou STF por meio de recurso especial ou recurso extraordinário. O IRDR, por sua vez, pode ser instaurado
antes de o tema chegar aos Tribunais Superiores.
Conforme se extrai da exposição de motivos do CPC/2015, o novo instituto – que é inspirado no direito
alemão – foi pensado para dotar os tribunais estaduais e tribunais regionais federais de um mecanismo
semelhante àquele já existente nas cortes superiores relativamente aos recursos repetitivos.

Requisitos para a instauração de IRDR (art. 976)


É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver,
simultaneamente:
1) efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de
direito; e
2) risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

Há ainda um pressuposto negativo previsto no § 4º do art. 976, que é a inexistência de afetação de recurso
repetitivo pelos tribunais superiores no âmbito de sua respectiva competência para a definição de tese
sobre a questão de direito objeto do IRDR:
§ 4º É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais
superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de
tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.

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Legitimidade para requerer a instauração (art. 977)


O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de tribunal:
I - pelo juiz ou relator, por meio de ofício;
II - pelas partes, por petição;
III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição.

O ofício ou a petição será instruído com os documentos necessários à demonstração do preenchimento


dos pressupostos para a instauração do incidente.

Competência
Em regra, o IRDR será julgado pelo Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal Regional Federal.
É possível, no entanto, que seja instaurado um IRDR diretamente no STJ nos casos de:
• competência recursal ordinária (art. 105, II, da CF/88); e de
• competência originária (art. 105, I, da CF/88).

Foi o que decidiu a Corte Especial do STJ:


O novo Código de Processo Civil instituiu microssistema para o julgamento de demandas repetitivas - nele
incluído o IRDR, instituto, em regra, afeto à competência dos tribunais estaduais ou regionais federal -, a
fim de assegurar o tratamento isonômico das questões comuns e, assim, conferir maior estabilidade à
jurisprudência e efetividade e celeridade à prestação jurisdicional.
A instauração de incidente de resolução de demandas repetitivas diretamente no Superior Tribunal de
Justiça é cabível apenas nos casos de competência recursal ordinária e de competência originária e desde
que preenchidos os requisitos do art. 976 do CPC.
STJ. Corte Especial. AgInt na Pet 11.838/MS, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. p/ Acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 07/08/2019.

Logo, não cabe IRDR no STJ caso este Tribunal esteja apreciando um recurso especial (art. 105, III, da
CF/88). Isso porque, neste caso, já existe um outro mecanismo que cumpre essa função, qual seja, o
recurso especial repetitivo (art. 976, § 4º do CPC).

Falando agora da competência interna, o IRDR será julgado pelo órgão do Tribunal que for responsável
pela uniformização de jurisprudência, segundo as regras do regimento interno.
Ex: no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a competência para julgar o IRDR é da Câmara de
Uniformização (art. 18, I, do RITJDFT).
Esse órgão colegiado incumbido de julgar o IRDR e fixar a tese jurídica será também competente para
julgar o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o
incidente.

Incidente deverá ser bem divulgado para permitir participação de interessados (art. 979)
A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e específica divulgação e
publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça.
Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações específicas sobre questões
de direito submetidas ao incidente, comunicando-o imediatamente ao CNJ para inclusão no cadastro.
Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro eletrônico
das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no mínimo, os fundamentos determinantes da decisão
e os dispositivos normativos a ela relacionados.

Incabível o incidente se o STF ou STJ já tiver afetado o tema para julgamento como recurso especial ou
extraordinário repetitivo

Informativo 658-STJ (08/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


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É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais superiores, no


âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de
direito material ou processual repetitiva.

Procedimento
1) Pedido de instauração
Se o juiz, o relator, o Ministério Público, a Defensoria Pública ou qualquer das partes perceber que uma
determinada controvérsia jurídica que está sendo discutida em um processo que está em 1ª ou 2ª
instâncias também se repete em inúmeros outros processos, ele poderá pedir ao Tribunal de Justiça ou
Tribunal Regional Federal a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas.

2) Juízo de admissibilidade (art. 981)


Após a distribuição, o órgão colegiado competente para julgar o incidente procederá ao seu juízo de
admissibilidade, considerando a presença dos pressupostos do art. 976:
• efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de
direito; e
• risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

3) Se o incidente não for admitido


Se o IRDR não foi admitido por ausência de qualquer de seus pressupostos de admissibilidade, isso não
impede que, uma vez satisfeito o requisito, seja o incidente novamente suscitado.

4) Se o incidente for admitido (art. 982)


Se o Tribunal admitir o processamento do IRDR, o relator:
I - suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou na região,
conforme o caso;
II - poderá requisitar informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no qual se discute o objeto do
incidente, que as prestarão no prazo de 15 dias;
III - intimará o Ministério Público para, querendo, manifestar-se no prazo de 15 dias.

A suspensão será comunicada aos órgãos jurisdicionais competentes.


Durante a suspensão, o pedido de tutela de urgência deverá ser dirigido ao juízo onde tramita o processo
suspenso.
Cessa a suspensão se o incidente for julgado e, contra essa decisão, não for interposto recurso especial ou
recurso extraordinário.

5) Possibilidade de suspensão nacional dos processos


Visando à garantia da segurança jurídica, a parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública poderá
requerer, ao STF ou ao STJ, a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos em curso no
território nacional que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado.
Independentemente dos limites da competência territorial, a parte no processo em curso no qual se
discuta a mesma questão objeto do incidente é legitimada para requerer essa suspensão nacional.

6) Desistência ou abandono do processo


Depois que o IRDR for suscitado, ainda que a parte desista ou abandone o processo que deu causa ao
incidente, este IRDR terá o seu mérito apreciado. Para isso, o Ministério Público deverá assumir a
titularidade em caso de desistência ou de abandono.

7) Oitiva de partes, interessados e do MP (art. 983)

Informativo 658-STJ (08/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34


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O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com interesse
na controvérsia que, no prazo comum de 15 dias, poderão requerer a juntada de documentos, bem como
as diligências necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida.
Em seguida, deverá ser ouvido o Ministério Público, também no prazo de 15 dias.
Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente.

8) Audiência pública
Para instruir o incidente, o relator poderá designar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos
de pessoas com experiência e conhecimento na matéria.

9) Data para julgamento


Concluídas as diligências, o relator solicitará dia para o julgamento do incidente.

10) Prazo para julgamento


O incidente será julgado no prazo de 1 ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que
envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus (art. 980).
Se o IRDR não for julgado neste prazo, cessa a suspensão dos processos, salvo decisão fundamentada do
relator em sentido contrário.

11) Ordem no julgamento (art. 984)


No julgamento do incidente, deverá ser observada a seguinte ordem:
I - o relator fará a exposição do objeto do incidente;
II - poderão sustentar suas razões, sucessivamente:
a) o autor e o réu do processo originário e o Ministério Público, pelo prazo de 30 minutos;
b) os demais interessados, no prazo de 30 minutos, divididos entre todos, sendo exigida inscrição com 2
dias de antecedência.

Obs.: considerando o número de inscritos, o prazo poderá ser ampliado.

Necessidade de análise de todos os argumentos: segundo o § 2º do art. 984, o conteúdo do acórdão


abrangerá a análise de todos os fundamentos suscitados concernentes à tese jurídica discutida, sejam
favoráveis ou contrários.

12) Custas
Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas repetitivas.

Tese jurídica (art. 985)


Julgado o incidente, será definida uma tese jurídica, que será aplicada:
I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e que
tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos juizados
especiais do respectivo Estado ou região;
II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no território de
competência do tribunal.

Tese jurídica envolvendo serviço concedido, permitido ou autorizado


Se o incidente tiver por objeto questão relativa a prestação de serviço concedido, permitido ou autorizado,
o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para
fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada (art. 985, § 2º).

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Descumprimento da tese jurídica


Não observada a tese fixada no IRDR, caberá reclamação (985, § 1º).

Revisão da tese jurídica fixada (art. 986)


É possível a revisão da tese jurídica firmada no incidente.
Essa revisão deverá ser feita pelo mesmo tribunal que fixou a tese, de ofício ou mediante requerimento
do MP ou da Defensoria Pública.

Recurso contra o julgamento do IRDR (art. 987)


Do julgamento do mérito do incidente, caberá recurso extraordinário ou especial, conforme seja caso de
matéria constitucional ou infraconstitucional.
Atenção: o recurso tem efeito suspensivo.
No caso de recurso extraordinário interposto contra o acórdão que julgou o IRDR, fica presumida a
repercussão geral da questão constitucional.

Decisão do STF ou STJ que julgou o recurso contra o julgamento do IRDR


Apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo STF ou pelo STJ será aplicada no território
nacional a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito.

NÃO CABE IRDR SE O RECURSO JÁ FOI JULGADO


A situação concreta foi a seguinte:
O Estado de São Paulo ajuizou execução fiscal contra a empresa COSAN S/A.
A devedora foi citada e apresentou, em juízo, seguro-garantia.
Como o débito tributário estava garantido, o juiz determinou que o Estado retirasse o nome da empresa
do CADIN Estadual (cadastro dos devedores do Fisco).
O Estado interpôs agravo de instrumento.
O TJ/SP deu provimento ao agravo, decidindo que o nome da devedora só poderia sair do CADIN Estadual
se tivesse havido a suspensão da exigibilidade do crédito tributário.
Ocorre que as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário estão previstas no art. 151 do
CTN e nelas não se inclui o mero oferecimento de seguro-garantia.
Diante disso, a empresa tomou duas providências:
• opôs embargos de declaração contra o acórdão;
• requereu a instauração do IRDR a fim de fazer prevalecer a tese jurídica de que pode ser determinada a
retirada do nome do devedor do CADIN Estadual quando ele apresentar garantia idônea (como o seguro-
garantia).

O processamento deste IRDR foi admitido?


NÃO.
Não cabe a instauração de IRDR se já foi encerrado o julgamento de mérito do recurso ou da ação
originária, mesmo que pendente de julgamento embargos de declaração.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.470.017-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 15/10/2019 (Info 658).

Para se admitir o cabimento do IRDR, é necessário que ainda esteja pendente de julgamento, no tribunal,
um recurso ou uma ação originária. Se já foi encerrado o julgamento do mérito do recurso, não caberá
mais a instauração do IRDR, senão em outra causa pendente, porém não mais naquela que já foi julgada.
Nesse sentido, é o enunciado 344 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A instauração do
incidente pressupõe a existência de processo pendente no respectivo tribunal”.

No mesmo sentido, é a lição da doutrina:

Informativo 658-STJ (08/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36


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“Caberá o IRDR, se estiver pendente de julgamento no tribunal uma apelação, um agravo de


instrumento, uma ação rescisória, um mandado de segurança, enfim, uma causa recursal ou
originária. Se já encerrado o julgamento, não cabe mais o IRDR. Os interessados poderão suscitar
o IRDR em outra causa pendente, mas não naquela que já foi julgada.” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA,
Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais
e processos nos tribunais. 15ª ed. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 625).

No caso concreto, o agravo de instrumento não poderia mais ser considerado como apto à formação do
IRDR, considerando que não havia mais pendência do agravo para fins de admissibilidade do incidente.
Isso porque o que pendia era apenas o julgamento dos embargos declaratórios, que possuem caráter
meramente integrativo.
A oposição dos embargos de declaração permite, em regra, apenas a integração do julgado. Mesmo que
não se tenha pronunciamento definitivo do tribunal e ainda que haja a possibilidade de atribuição de
efeitos infringentes, é certo que os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e apenas
interrompem o prazo para a interposição dos recursos cabíveis.
A pendência do julgamento dos embargos de declaração contra o acórdão do agravo de instrumento
revela um momento processual em que já houve quase que o esgotamento da apreciação do mérito.
Trata-se de momento inadequado para a formação do precedente do IRDR.
Inserido no microssistema de formação concentrada de precedente obrigatório (arts. 489, § 1º, 984, § 2º,
e 1.038, § 3º, CPC/2015), o IRDR extrai sua legitimidade jurídica não apenas de simples previsão legal.
Afastando-se de um mero processo de partes (destinado à decisão de um conflito singular), ostenta
natureza de processo objetivo, em que legitimados adequados previstos em lei requerem a instauração
de incidente cuja função precípua é permitir um ambiente de pluralização do debate, em que sejam
isonomicamente enfrentados todos os argumentos contrários e favoráveis à tese jurídica discutida; bem
como seja ampliado e qualificado o contraditório, com possibilidade de audiências públicas e participação
de amicus curiae (arts. 138, 927, § 2º, 983, 1.038, I e II, do CPC/2015).
Tendo em vista a concepção dinâmica do contraditório como efetiva oportunidade de influenciar a decisão
no procedimento (arts. 10 e 489, § 1º, do CPC/2015), o diferimento da análise da seleção da causa e
admissibilidade do IRDR para o momento dos embargos de declaração importaria prejuízo à paridade
argumentativa processual, considerando que esse desequilíbrio inicial certamente arriscaria a isonômica
distribuição do ônus argumentativo a ser desenvolvido, mesmo que os argumentos fossem
pretensamente esgotados durante o curso do incidente.

TUTELA ANTECIPADA
A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente (art. 303
do CPC) ou somente a interposição de recurso, conforme prevê a redação do art. 304?

Importante!!!
Novo CPC
Atualize o Info 639-STJ
A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente (art. 303
do CPC)?
1ª corrente: NÃO. Apenas a interposição de agravo de instrumento contra a decisão
antecipatória dos efeitos da tutela requerida em caráter antecedente é que se revela capaz de
impedir a estabilização, nos termos do disposto no art. 304 do Código de Processo Civil.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.797.365-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado
em 03/10/2019 (Info 658).

Informativo 658-STJ (08/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 37

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