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No caso concreto julgado pelo STJ, o padrasto queria adotar a sua enteada, com quem convivia há muitos
anos como sua filha. Ocorre que o padrasto é apenas 15 anos e 9 meses mais velho que a sua enteada. Em
razão disso, o juiz não aceitou o pedido de adoção.
A questão chegou até o STJ, que deu provimento ao recurso para admitir a adoção.
Realmente, a diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado é requisito legal para a adoção
(art. 42, § 3º, do ECA). No entanto, a adoção é sempre regida pela premissa do amor e da imitação da
realidade biológica, sendo o limite de idade uma forma de evitar confusão de papéis ou a imaturidade
emocional indispensável para a criação e educação de um ser humano e o cumprimento dos deveres
inerentes ao poder familiar.
Dessa forma, incumbe ao magistrado estudar as particularidades de cada caso concreto a fim de apreciar
se a idade entre as partes realiza a proteção do adotando, sendo o limite mínimo legal um norte a ser
seguido, mas que permite interpretações à luz do princípio da socioafetividade, nem sempre atrelado às
diferenças de idade entre os interessados no processo de adoção.
No caso concreto, o adotante e a adotada conviviam juntos como pai e filha há muitos anos.
IRDR
Não cabe a instauração de IRDR se, quando a parte requereu o incidente, o Tribunal já havia julgado
o mérito do recurso e estava pendente agora apenas os embargos de declaração contra a decisão
Essa sistemática já não era prevista para os casos de recursos especial e extraordinário repetitivos?
Os arts. 543-B e 543-C do CPC/1973 previam uma espécie de “julgamento por amostragem” dos recursos
extraordinários e recursos especiais que tivessem sido interpostos com fundamento em idêntica
controvérsia ou questão de direito.
O CPC/2015, em linhas gerais, manteve uma regulamentação bem parecida, sendo o tema agora tratado
nos arts. 1.036 a 1.041.
Desse modo, existe sim uma sistemática parecida para o procedimento de julgamento dos recursos
extraordinário e especial repetitivos.
Em primeiro lugar, o Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e
separar todos os recursos interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará 2 ou mais que representem bem a controvérsia
discutida e os encaminhará ao STJ ou STF (conforme seja Resp ou RE).
Serão escolhidos os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de argumentos no
recurso especial/extraordinário.
Os demais recursos especiais e extraordinários que tratem sobre a mesma matéria e que não foram
remetidos como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ/STF se
pronuncie sobre o tema central.
Se o Ministro do STJ ou do STF, ao receber o recurso representativo de controvérsia, perceber que a
matéria nele tratada realmente possui um interesse geral e se repete em inúmeros outros casos, irá
proferir decisão determinando a afetação daquele tema para julgamento sob o rito dos recursos
repetitivos (art. 1.037 do CPC/2015).
Nesta decisão de afetação, o Ministro irá determinar “a suspensão do processamento de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território
nacional” (art. 1.037, II).
O STJ/STF irá julgar o recurso especial/extraordinário que foi submetido ao regime de recurso repetitivo e
definirá a tese jurídica para aquela controvérsia. Essa tese jurídica será aplicada para todos recursos que
ficaram suspensos nos TJ’s ou TRF’s.
Desse modo, o IRDR é parecido sim com a sistemática do julgamento dos recursos extraordinário e especial
repetitivos. No entanto, no caso dos recursos repetitivos, exige-se que a questão já tenha chegado ao STJ
ou STF por meio de recurso especial ou recurso extraordinário. O IRDR, por sua vez, pode ser instaurado
antes de o tema chegar aos Tribunais Superiores.
Conforme se extrai da exposição de motivos do CPC/2015, o novo instituto – que é inspirado no direito
alemão – foi pensado para dotar os tribunais estaduais e tribunais regionais federais de um mecanismo
semelhante àquele já existente nas cortes superiores relativamente aos recursos repetitivos.
Há ainda um pressuposto negativo previsto no § 4º do art. 976, que é a inexistência de afetação de recurso
repetitivo pelos tribunais superiores no âmbito de sua respectiva competência para a definição de tese
sobre a questão de direito objeto do IRDR:
§ 4º É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais
superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de
tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.
Competência
Em regra, o IRDR será julgado pelo Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal Regional Federal.
É possível, no entanto, que seja instaurado um IRDR diretamente no STJ nos casos de:
• competência recursal ordinária (art. 105, II, da CF/88); e de
• competência originária (art. 105, I, da CF/88).
Logo, não cabe IRDR no STJ caso este Tribunal esteja apreciando um recurso especial (art. 105, III, da
CF/88). Isso porque, neste caso, já existe um outro mecanismo que cumpre essa função, qual seja, o
recurso especial repetitivo (art. 976, § 4º do CPC).
Falando agora da competência interna, o IRDR será julgado pelo órgão do Tribunal que for responsável
pela uniformização de jurisprudência, segundo as regras do regimento interno.
Ex: no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a competência para julgar o IRDR é da Câmara de
Uniformização (art. 18, I, do RITJDFT).
Esse órgão colegiado incumbido de julgar o IRDR e fixar a tese jurídica será também competente para
julgar o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o
incidente.
Incidente deverá ser bem divulgado para permitir participação de interessados (art. 979)
A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e específica divulgação e
publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça.
Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações específicas sobre questões
de direito submetidas ao incidente, comunicando-o imediatamente ao CNJ para inclusão no cadastro.
Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro eletrônico
das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no mínimo, os fundamentos determinantes da decisão
e os dispositivos normativos a ela relacionados.
Incabível o incidente se o STF ou STJ já tiver afetado o tema para julgamento como recurso especial ou
extraordinário repetitivo
Procedimento
1) Pedido de instauração
Se o juiz, o relator, o Ministério Público, a Defensoria Pública ou qualquer das partes perceber que uma
determinada controvérsia jurídica que está sendo discutida em um processo que está em 1ª ou 2ª
instâncias também se repete em inúmeros outros processos, ele poderá pedir ao Tribunal de Justiça ou
Tribunal Regional Federal a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas.
O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com interesse
na controvérsia que, no prazo comum de 15 dias, poderão requerer a juntada de documentos, bem como
as diligências necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida.
Em seguida, deverá ser ouvido o Ministério Público, também no prazo de 15 dias.
Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente.
8) Audiência pública
Para instruir o incidente, o relator poderá designar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos
de pessoas com experiência e conhecimento na matéria.
12) Custas
Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas repetitivas.
Para se admitir o cabimento do IRDR, é necessário que ainda esteja pendente de julgamento, no tribunal,
um recurso ou uma ação originária. Se já foi encerrado o julgamento do mérito do recurso, não caberá
mais a instauração do IRDR, senão em outra causa pendente, porém não mais naquela que já foi julgada.
Nesse sentido, é o enunciado 344 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A instauração do
incidente pressupõe a existência de processo pendente no respectivo tribunal”.
No caso concreto, o agravo de instrumento não poderia mais ser considerado como apto à formação do
IRDR, considerando que não havia mais pendência do agravo para fins de admissibilidade do incidente.
Isso porque o que pendia era apenas o julgamento dos embargos declaratórios, que possuem caráter
meramente integrativo.
A oposição dos embargos de declaração permite, em regra, apenas a integração do julgado. Mesmo que
não se tenha pronunciamento definitivo do tribunal e ainda que haja a possibilidade de atribuição de
efeitos infringentes, é certo que os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e apenas
interrompem o prazo para a interposição dos recursos cabíveis.
A pendência do julgamento dos embargos de declaração contra o acórdão do agravo de instrumento
revela um momento processual em que já houve quase que o esgotamento da apreciação do mérito.
Trata-se de momento inadequado para a formação do precedente do IRDR.
Inserido no microssistema de formação concentrada de precedente obrigatório (arts. 489, § 1º, 984, § 2º,
e 1.038, § 3º, CPC/2015), o IRDR extrai sua legitimidade jurídica não apenas de simples previsão legal.
Afastando-se de um mero processo de partes (destinado à decisão de um conflito singular), ostenta
natureza de processo objetivo, em que legitimados adequados previstos em lei requerem a instauração
de incidente cuja função precípua é permitir um ambiente de pluralização do debate, em que sejam
isonomicamente enfrentados todos os argumentos contrários e favoráveis à tese jurídica discutida; bem
como seja ampliado e qualificado o contraditório, com possibilidade de audiências públicas e participação
de amicus curiae (arts. 138, 927, § 2º, 983, 1.038, I e II, do CPC/2015).
Tendo em vista a concepção dinâmica do contraditório como efetiva oportunidade de influenciar a decisão
no procedimento (arts. 10 e 489, § 1º, do CPC/2015), o diferimento da análise da seleção da causa e
admissibilidade do IRDR para o momento dos embargos de declaração importaria prejuízo à paridade
argumentativa processual, considerando que esse desequilíbrio inicial certamente arriscaria a isonômica
distribuição do ônus argumentativo a ser desenvolvido, mesmo que os argumentos fossem
pretensamente esgotados durante o curso do incidente.
TUTELA ANTECIPADA
A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente (art. 303
do CPC) ou somente a interposição de recurso, conforme prevê a redação do art. 304?
Importante!!!
Novo CPC
Atualize o Info 639-STJ
A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente (art. 303
do CPC)?
1ª corrente: NÃO. Apenas a interposição de agravo de instrumento contra a decisão
antecipatória dos efeitos da tutela requerida em caráter antecedente é que se revela capaz de
impedir a estabilização, nos termos do disposto no art. 304 do Código de Processo Civil.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.797.365-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado
em 03/10/2019 (Info 658).