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ESTÁGIO SUPERVISIONADO IV

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

Conceito: O Recurso Ordinário Constitucional (ROC) é o recurso com


hipóteses de cabimento expressamente previstas na Constituição Federal, que
guarda simetria com a apelação, mas que será julgado pelo STF ou STJ, a
depender do caso.

O Recurso Ordinário Constitucional será recebido apenas no efeito devolutivo.


Por ser uma via ordinária de impugnação, semelhante à apelação, esse efeito
devolutivo é o mais amplo possível (tantum devolutum quantum appellatum),
motivo pelo qual ele poderá discutir tanto matéria de direito como matéria de
fato.

No Supremo Tribunal Federal, este recurso é cabível:

a) das decisões dos Tribunais Superiores que julgarem em única instância o


mandado de segurança, o habeas data, o habeas corpus e o mandado de
injunção, desde que denegatórias (art. 102, II, a, CF). As decisões concessivas
proferidas nestes processos não permitem o manejo deste recurso. Além disso,
as decisões denegatórias devem ser proferidas por Tribunais Superiores (em
única instância). O prazo para oferecimento deste recurso perante o STF, em
qualquer situação, é sempre de 5 (cinco) dias, nos termos da Súmula nº 319 do
STF;

b) das decisões referentes a crimes políticos, previstos na Lei de Segurança


Nacional (art. 102, II, b, CF). Esta hipótese o recurso é cabível contra a
sentença do Juiz Federal de primeiro grau que julgar o crime político. Neste
caso, contra tal sentença não caberá o recurso de apelação e sim o Recurso
Ordinário Constitucional, que é dirigido diretamente ao STF. No caso, o recurso
é chamado de recurso criminal ordinário constitucional. Lembrando ainda que a
competência para julgamento destes crimes é da justiça federal (CF, art. 109,
IV). O prazo de interposição deste recurso é de 5 (cinco) dias. O rito a ser
seguido é o da apelação do Código de Processo Penal (artigos 593 e
seguintes).

No Superior Tribunal de Justiça, este recurso é cabível:

a) das decisões denegatórias de habeas corpus, proferidas em única ou última


instância, pelos Tribunais Regionais Federais, ou pelos Tribunais dos Estados
e do Distrito Federal (art. 105, II, a, CF). O prazo de oferecimento do recurso é
de 5 (cinco) dias, prazo dentro do qual, além da interposição do mesmo, devem
ser apresentadas as razões recursais. O rito a ser aplicado é o previsto nos
artigos 30 a 32 da Lei nº 8.038/90;
b) das decisões denegatórias de mandado de segurança, proferidas em única
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados e
do Distrito Federal (art. 105, II, b, CF). O prazo de interposição será de 15
(quinze) dias, prazo dentro do qual também devem ser oferecidas as razões
recursais (art. 33, da lei nº 8.038/90 e art. 1.003, parágrafo 5º do CPC de

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2015). Além disso, o rito a ser seguido é o da apelação do Código de Processo


Civil (artigos 1.009 e seguintes do CPC de 2015), nos termos do artigo 34 da
Lei nº 8.038/90;

c) das decisões proferidas em causas em que forem partes Estado estrangeiro


ou organismo internacional de um lado, e, do outro, município ou pessoa
residente ou domiciliada no país (art. 105, II, c).

A lei nº 8.038/90, trata dos processos perante o Superior Tribunal de Justiça e


o Supremo Tribunal Federal, prevê o procedimento do Recurso Ordinário
Constitucional (em habeas corpus – artigos 30 a 32 e em mandado de
segurança – artigos 33 a 35).

Em denegatória de habeas corpus, o recurso será interposto no prazo de 5


(cinco) dias, com as razões do pedido de reforma (art. 30, Lei 8.038/90). Em
denegatória de mandado de segurança “será interposto no prazo de 15
(quinze) dias, com as razões do pedido de reforma” (art. 33, Lei 8.038/90). O
recurso deverá ser endereçado ao Presidente do Tribunal que proferiu a
decisão.

Importante: Impossibilidade de utilização do “habeas corpus” como substitutivo


do recurso ordinário constitucional:

O STF, no julgamento paradigmático proferido nos autos do HC nº 109-956/PR,


decidiu que o “habeas corpus” não poderia ser utilizado como substitutivo do
recurso ordinário constitucional para atacar decisões proferidas em “habeas
corpus”, em única instância por Tribunais Superiores, se denegatórias (art. 102,
II, “a”, CF). Essa postura assumida pelo Pretório Excelso visa essencialmente
dar efetividade às normas previstas no art. 102, II, “a”, da CF e aos artigos 30 a
32 da Lei nº 8.038/90. Nada impede, entretanto, que o próprio STF, quando do
manejo inadequado do “habeas corpus” como substitutivo na hipótese em tela,
analise a questão de ofício em casos de flagrante ilegalidade, abuso de poder
(STF, HC nº 109-232/SP). Da mesma forma, o “habeas corpus” não pode ser
utilizado como sucedâneo da apelação, do agravo em execução, do recurso
especial e da revisão criminal.

O STJ, seguindo a orientação do STF estampada no julgamento paradigmático


proferido nos autos do HC nº 109-956/PR, também entende que o “habeas
corpus” não pode ser utilizado como substitutivo do recurso ordinário
constitucional par atacar as decisões mencionadas no art. 105, inciso II, “a”, da
CF. Da mesma forma, o “habeas corpus” não pode ser utilizado coo sucedâneo
da apelação, do agravo em execução, do recurso especial e da revisão criminal
(STJ, 5ª Turma, HC nº 245-465/CE, julgado em 18.12.2012, publicado em
01.02.2013).
PROCEDIMENTO
O procedimento relativo aos recursos ordinários das decisões denegatórias de
“habeas corpus” dirigidos ao STF está previsto no Regimento Interno daquela
Corte.

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O Recurso Ordinário Constitucional é interposto nos próprios autos por meio de


petição dirigida ao Presidente do Tribunal recorrido, dentro do prazo de 5
(cinco) dias, no caso de denegação do habeas corpus (art. 30 da Lei n.
8.038/90), ou 15 (quinze), no caso do mandado de segurança (art. 33), com as
razões do pedido de reforma.
Junto com a petição, apresenta-se as razões do pedido de reforma. Recebido o
recurso, o Presidente do TJ ou TRF, determina sua juntada aos autos
respectivos e abertura de vista ao órgão do Ministério Público (Procurador
Geral da Justiça), que funcionará perante o Tribunal coator (“a quo” – TJ ou
TRF), para parecer em 2 (dois) dias, no caso do habeas corpus (art. 31), ou 5
(cinco) dias, no caso do mandado de segurança (art. 35).

Após, os autos serão remetidos a Turma do STJ onde será distribuído ao


Ministro Relator, que marcará data para o julgamento, podendo haver
sustentação oral pelo prazo de 15 (quinze) minutos.

Observação: O prazo de interposição desses recursos é contado a partir da


publicação do Acórdão recorrido no Diário Oficial.

Teses e requerimentos:

Na interposição deve-se requerer: a) o recebimento e processamento do


recurso; b) a remessa do recurso ao Superior Tribunal de Justiça ou ao
Supremo Tribunal Federal.

Quanto às razões, o recurso ordinário constitucional possibilita o reexame, por


instância superior, de pedido de “habeas corpus” ou mandado de segurança.
Deverá, portanto, o recorrente reproduzir a argumentação veiculada na ação
denegada e requerer aquela mesma providência que deveria ser concedida e
não foi.

Resumo:

Fundamento: artigos 102, II, “a” e “b”, da CF, quando de competência do STF,
105, II, “a”, “b” e “c”, quando do STJ, e 30/35 da Lei 8.038/90.

Conceito: Trata-se da peça cabível, em regra, contra as decisões denegatórias


de HC e MS proferidas por Tribunais.

Prazo: Ao STJ: Decisão denegatória de HC: 05 dias. Decisão denegatória de


MS: 15 dias.

Ao STF: Decisão denegatória de HC: 05 dias (RI do STF, artigo 310). Decisão
denegatória de MS: 05 dias (Súmula 319 do STF).

Duas partes: Peça de interposição do recurso e razões de recurso.

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Como identificá-lo: o problema dirá que o MS ou o HC foi denegado por


decisão de um Tribunal (TJ, STJ, etc), e não por um juiz de primeira instância.
No entanto, atenção: se o Tribunal julgar improcedente um Recurso em Sentido
Estrito interposto na hipótese do artigo 581, X, do CPP, a peça também será o
recurso ordinário constitucional.

MODELO DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - SP.

“Habeas Corpus” nº ____

(Nome), já qualificado nos autos de


habeas corpus em epígrafe, por seu advogado ao final subscrito, não se
conformando, data maxima venia, com o V. Acórdão denegatório da ordem,
vem, muito respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, dentro do prazo
legal, interpor RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL, com fulcro no
artigo 105, II, “a”, da Constituição Federal, e artigos 30/32 da Lei 8.038/90.

Requer o recebimento e
processamento deste recurso, e encaminhado, com as inclusas razões, ao
Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Termos em que,
Pede deferimento.

Local, data.

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Advogado,
OAB/____ n. ____.

RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

Recorrente: João.
Recorrida: Justiça Pública.

Habeas Corpus nº: ____.

Superior Tribunal de Justiça;


Colenda Turma;
Douto Procurador da República:

Em que pese o ilibado saber jurídico


da Colenda Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, o
Venerando Acórdão que denegou a ordem de “Habeas Corpus” impetrado em
favor do recorrente não merece prosperar, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas:

I. DOS FATOS

No dia ____, o recorrente foi preso em


flagrante pela prática, em tese, do crime de concussão, previsto no artigo 316
do Código Penal.

Obedecidas as formalidades legais, foi


requerida a concessão da liberdade provisória do recorrente, mediante o
pagamento de fiança. Contudo, o pedido foi negado.

Reiterado o pedido junto ao Tribunal


de Justiça, a concessão de liberdade provisória foi novamente negada, sob o
argumento de que o crime é muito grave.

II. DO DIREITO

Entretanto, o Venerando Acórdão não


merece prosperar, pois viola frontalmente os ditames legais.

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Segundo o artigo 5º, inciso LXVI, da


Constituição Federal: “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”.

A concussão, crime previsto no artigo


316 do Código Penal, tem pena mínima de 02 (dois) anos, sendo, portanto,
afiançável, nos termos do artigo 323 do Código de Processo Penal:

Artigo 323 do CPP. Não será concedida fiança:

I - nos crimes punidos com reclusão em que a pena mínima cominada


for superior a 2 (dois) anos,

Ademais, a suposta gravidade do


crime não pode embasar a manutenção da prisão, sendo imperioso a
concessão de liberdade provisória mediante o pagamento de fiança.

Portanto, é de se concluir que o


presente recurso é medida que se impõe para reformar a respeitável decisão
denegatória, possibilitando, assim, que o recorrente faça jus ao benefício que
lhe é de direito.

III. JURISPRUDÊNCIA

Conforme entendimento
Jurisprudencial: (Copiar a Jurisprudência ou o Acórdão).

IV. DO PEDIDO

Isto posto, requer seja conhecido e


provido o presente recurso, para que se conceda a ordem de “habeas corpus”
denegada pela Corte Estadual, arbitrando-se a respectiva fiança para a
concessão de liberdade provisória, expedindo-se o competente alvará de
soltura em favor do recorrente, como medida da mais legítima Justiça.

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Local, data.

Advogado,
OAB/____ n. ____.

PROBLEMA PRÁTICO

João, investigador de polícia, está preso no Presídio Especial da Polícia


Civil de São Paulo por força de auto de prisão em flagrante delito e
denunciado como violador do artigo 316, do Código Penal, sendo certo
que teve concedida a fase do artigo 514, do Código de Processo Penal, e
que os prazos legais estão sendo observados.

É primário, tem residência fixa e exerce atividade lícita. O Meritíssimo


Juiz de primeira instância negou a liberdade provisória com fiança,
alegando apenas e tão somente ser o crime muito grave, enquanto a
Egrégia 1.ª Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo, por maioria de
votos, denegou a ordem de “habeas corpus” que fora impetrada usando
do mesmo argumento, conforme consta do V. aresto hoje publicado.

Como advogado de João, adotar a medida judicial cabível.

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