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A SISTEMÁTICA LEGAL DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS

REPETITIVAS

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR)é um instituto totalmente


novo no ordenamento jurídico brasileiro nos moldes em que se apresenta nos artigos 976 a
987 do novo Código de Processo Civil e tem por escopo maior conferir uniformidade das
decisões judiciais, além de imprimir maior segurança jurídica e promover o princípio
constitucional da isonomia.
Trata-se de uma técnica processual destinada a administrar litígios seriados, alicerça-
se em três fundamentos constitucionais: a) o princípio da isonomia, que exige tratamento
isonômico aos casos iguais; b) a segurança jurídica, na medida em que favorece a
possibilidade de decisões que não sejam contraditórias, promovendo estabilidade às tutelas
jurisdicionais; c) a duração razoável do processo, ou seja, o direito indiscutível de que o
processo transcorra num lapso de tempo “razoável”, ou seja, não se procrastine além do
estritamente necessário.
Em apertada síntese, referido instituto tem por objeto ensejar uma única decisão de
Tribunal a uma mesma questão de direito que envolve julgamento em múltiplas ações.
Destarte, seu acórdão confere caráter vinculante para todos os órgãos do Judiciário que
pertence ao Tribunal julgador, o que torna obrigatória sua aplicação para todas as ações em
curso e ainda para aqueles que porventura vierem a ser proposta posteriormente.
O art. 976 do novo Código de Processo Civil aponta os pressupostos para que se
possa instaurar o incidente de demandas repetitivas que se devem apresentar
simultaneamente: a) risco de ofensa à isonomia; b) risco à segurança jurídica; c) efetiva
repetição de processos; d) idêntica controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito.
Os dois primeiros pressupostos, de natureza subjetiva, estão previstos no inciso II do
artigo 976 que denota o perigo de julgamentos diferentes quando a matéria de direito
envolvendo as demandas é a mesma.
Observa-se que os dois últimos pressupostos são de cunho objetivo e exige para a
instauração do incidente a efetiva repetição de processos, não bastando, portanto, uma ameaça
ou a potencialidade de múltiplas ações que versem a mesma questão de direito. Conforme
dispõe o art. 977 do CPC é necessária a repetição real e documentalmente comprovável.
Vale ressaltar que o Código de Processo Civil não estabelece um número definido e
objetivo caracterizador de processos repetidos para que se instaure o incidente, permitindo
supor que o legitimado ativo deverá avaliar as circunstâncias e as características que
envolvem as demandas passíveis de repetição.
Além disso, exige-se que se demonstre que existe uma tese jurídica idêntica sendo
discutida em várias demandas, de forma que a decisão proferida em uma das causas possa ser
aplicada sem ressalvas em todas as causas onde ela se apresenta, por força da sua identidade.
A legitimidade para instaurar o pedido do IRDR é conferida, de acordo com os
incisos I e II do art. 977 do CPC é do juiz de primeiro grau ou relator (se a questão já estiver
em grau de recurso), por ofício, pelas partes, pelo Ministério Público ou pela Defensoria, por
petição. Ambos deverão ser instruídos com os documentos necessários à comprovação do
preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente. Os pressupostos devem ser
cabalmente demonstrados de plano, sem necessidade de maiores instruções.
Segundo dispõe o artigo 977 do CPC, o pedido de instauração do incidente será
dirigido ao presidente do tribunal, que determinará a sua imediata distribuição ao órgão
colegiado competente para apreciar a sua admissibilidade e posterior julgamento.
O relator do incidente deverá determinar a suspensão dos processos pendentes,
individuais ou coletivos que estão tramitando na área de competência do tribunal.
O prazo máximo para julgamento é de um ano, conforme fixado pelo art. 980 do
CPC. Percebe-se, mais uma vez, a preocupação do legislador com a concretização do
princípio da razoável duração do processo. Acrescenta-se o fato de que o instituto tem com
objeto questão que poderá impactar vários outros processos e ainda que aqueles que já estão
em juízo estarão suspensos.
Julgado o IRDR, será criada uma tese jurídica que será aplicada para todos os
processos pendentes e suspensos e ainda aos futuros processos que porventura venham ser
propostos na área de competência do tribunal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Gustavo Milaré. O incidente de resolução de demandas repetitivas e o trato da litigiosidade
coletiva. IN:DIDIER JR, Fredie:ZANETI JR, Hermes. (coords.). Repercussões do Novo CPC. Processo
Coletivo. Bahia: Editora JusPODIVM, 2016.

MENDES, AluisioGonaçalves de Castro e SILVA, Larissa Clare Pochmann. Ações coletivas e incidente de
resolução de demandas repetitivas: algumas considerações sobre a solução de conflitos. IN:DIDIER JR,
Fredie:ZANETI JR, Hermes. (coords.). Repercussões do Novo CPC. Processo Coletivo. Bahia: Editora
JusPODIVM, 2016.

SPADONI, Joaquim Felipe. Incidente de resolução de demandas repetitivas. IN WAMBIER, Luiz Rodrigues;
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. (coords.). Temas Essenciais do Novo CPC: Análise das principais alterações
do sistema processual civil brasileiro. São Paulo: RT, 2016.

SOUZA, Artur César de. Resolução de demandas repetitivas: comunicação de demanda individual, incidente
de demandas repetitivas, recursos repetitivos. São Paulo: Almedina Brasil, 2015.

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