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PROCESSO Nº: 0805502-02.2023.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO


AGRAVANTE: FRANCINETE OLIVEIRA FIRMINO SILVA
ADVOGADO: Alyson Vasconcelos De Paula Gomes e outros
AGRAVADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Sebastião José Vasques de Moraes - 6ª Turma
JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA (1° GRAU): Juiz(a) Federal

DECISÃO

Cuida-se de agravo de instrumento interposto por FRANCINETE OLIVEIRA


FIRMINO SILVA, contra decisão proferida pelo Juízo da 28ª Vara Federal de Pernambuco, que,
nos autos do procedimento comum 0800204-28.2023.4.05.8310, assim consignou: "Nessa
senda, em que pese ser cediço que o STF possui o entendimento de que é possível aplicar a tese
de repercussão geral, mesmo antes do trânsito em julgado, entendo prudente a suspensão do
processo até o trânsito em julgado do Tema 1.102, devendo a Secretaria diligenciar a consulta
periódica do RE 1276977".

Às suas razões, alega a agravante que: a) não pode esperar a finalização do processo
perante o E. STF uma vez que se trata de Benefício de Natureza Alimentar; b) a Decisão do
Pleno do STF, referente ao Julgamento do Tema 1102, já foi publicada; c) não fora
recepcionado, no âmbito da Corte Suprema, nenhum recurso com natureza suspensiva ante aos
entendimentos sedimentados no julgamento do Tema 1102 STF.

Requer a concessão da antecipação da tutela a fim de que seja levantada a suspensão da


ação de origem

DECIDO

Depreende-se, do art. 1019, I, c/c o art. 1012, § 4º, ambos do estatuto instrumental civil,
que o relator poderá atribuir efeito suspensivo ao agravo de instrumento ou deferir, em
antecipação de tutela, a pretensão deduzida no recurso, desde que a parte comprove estar
passível de sofrer lesão grave e de difícil reparação, pressupondo, ainda, a relevância dos seus
fundamentos.

A fim de contextualizar o caso concreto, passemos à transcrição do decisum ora


agravado, in verbis:
"Cuida-se de ação revisional promovida em desfavor do INSS na qual a demandante requer que,
imediatamente, haja a revisão do benefício de aposentadoria por idade (NB 41/172.066.267-0)
concedido à autora na via administrativa, para que o cálculo do salário de benefício seja efetuado na
forma da regra permanente do art. 29, I, da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 9.876/99,
considerando todo o período contributivo do segurado, incluindo as contribuições anteriores a julho
de 1994. Acosta planilha de cálculos (id. 4058310.26369249).

Vieram-me os autos conclusos.

Consoante o art. 294 do CPC/2015, "a tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou
evidência", tendo em comum, como ensina Humberto Theodoro Júnior, "a meta de combater os
riscos de injustiça ou de dano, derivados da espera, sempre longa, pelo desate final do conflito
submetido à solução judicial. Representam provimentos imediatos que, de alguma forma, possam
obviar ou minimizar os inconvenientes suportados pela parte que se acha numa situação de
vantagem aparentemente tutelada pela ordem jurídica material (fumus boni iuris)." (Curso de
Direito Processual Civil, vol. I, Editora Forense, 2015, pág. 596-597).

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Ao passo que as tutelas de urgência - cautelares (conservativas) e antecipatórias (satisfativas) - estão


voltadas para combater o perigo de dano, a tutela de evidência destina-se a eliminar a injustiça
suportada pela parte que, mesmo tendo a evidência de seu direito material, se vê sujeita a privar-se da
respectiva fruição em razão da abusiva resistência da parte contrária.

O art. 300 do CPC/2015 dispõe que "a tutela de urgência será concedida quando houver elementos
que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo", ou seja, funda-se nos requisitos comuns do fumus boni iuris e periculum in mora.

Não se faz mais a distinção de pedido cautelar amparado na aparência do bom direito e pedido
antecipatório fundado em prova inequívoca. A distinção entre tutela cautelar (conservativa) e tutela
antecipatória (satisfativa), porém, adverte Humberto Theodoro Júnior, continua relevante "porque a
(i) medida cautelar tem a sua subsistência sempre dependente do procedimento que, afinal, deverá
compor o litígio que se pode dizer 'principal', ou de 'mérito'; enquanto (ii) a tutela antecipada pode,
por conveniência das partes, estabilizar-se, dispensando o prosseguimento do procedimento para
alcançar a sentença final de mérito" (obra já citada, pág. 609).

Pois bem.

Sobre a matéria objeto de demanda dos autos, no Recurso Especial nº 1.554.596/SC, onde o STJ
fixou a tese, sob o rito dos recursos repetitivos representativos de controvérsia (Tema 999) a respeito
da possibilidade de utilização dos salários de contribuição anteriores a 07/1994 no cálculo da RMI,
foi interposto Recurso Extraordinário (RE 1276977), o qual foi admitido como representativo de
controvérsia (Tema 1.102, STF), determinando a suspensão de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem sobre a mesma controvérsia, em trâmite em todo o território
nacional.

O Colendo Tribunal, por maioria, apreciando o Tema 1.102 da repercussão geral, por unanimidade,
fixou a seguinte tese: "O segurado que implementou as condições para o benefício previdenciário
após a vigência da Lei 9.876, de 26.11.1999, e antes da vigência das novas regras constitucionais,
introduzidas pela EC 103/2019, tem o direito de optar pela regra definitiva, caso esta lhe seja mais
favorável".

Em que pese o julgamento do Tema 1.102 ter sido concluído, constata-se que ainda não houve o
trânsito em julgado.

Importante mencionar que o INSS solicitou ao STF a suspensão de todos os processos que discutam
a "Revisão da Vida Toda" em tribunais pelo Brasil, após o trânsito em julgado do RE 1276977.

Argumentou a autarquia que "a revisão ora tratada implica a utilização de salários de contribuição
anteriores a julho de 1994, situação que, por si só, impacta os diversos sistemas utilizados pelo
INSS na simulação do cálculo da renda mensal inicial dos benefícios e no processamento dessa
simulação, bem como o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), onde estão registrados
os salários de contribuição dos segurados, utilizados no cálculo do valor da renda dos benefícios
previdenciários".

Realçou que "após as mudanças nos diversos sistemas, todo o aparato tecnológico de software
necessitará de preparação de condições físicas para atender integralmente ao comando judicial,
como a ampliação significativa das estruturas que recebem informação de vínculos e remunerações,
tanto em tamanho do registro como em área de armazenamento."

Diante disso, o Ministro Alexandre de Moraes, em 28/02/2023, proferiu decisão expondo que, apesar
de relevantes os argumentos aduzidos pelo INSS quanto às atuais dificuldades operacionais e
técnicas, o impacto social do precedente exige que a análise de eventual suspensão seja realizada sob
condições claras e definidas.

O Ministro, então, concedeu um prazo de 10 (dez) dias para que a autarquia previdenciária
informasse de que modo e em que prazos se propõe a dar efetividade ao entendimento definido pelo
STF (apresentação de cronograma de aplicação da diretriz formada no Tema 1102 da repercussão
geral).

Consoante consulta ao site do STF, verifica-se que a procuradoria foi intimada da decisão em
13/03/2023, de modo que ainda está aberto o prazo concedido pelo Ministro.

Nessa senda, em que pese ser cediço que o STF possui o entendimento de que é possível aplicar a
tese de repercussão geral, mesmo antes do trânsito em julgado, entendo prudente a suspensão do
processo até o trânsito em julgado do Tema 1.102, devendo a Secretaria diligenciar a consulta
periódica do RE 1276977.

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Intimem-se. "

Pois bem, não obstante o zelo demonstrado pelo juízo, entendo que merece reparo a decisão atacada.

É que, não obstante o acórdão correspondente não tenha sido publicado, é cediço o conhecimento do
teor da tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal sobre o Tema 1.102, que assim consignou: "O
segurado que implementou as condições para o benefício previdenciário após a vigência da Lei
9.876, de 26.11.1999, e antes da vigência das novas regras constitucionais, introduzidas pela EC
103/2019, tem o direito de optar pela regra definitiva, caso esta lhe seja mais favorável".

Com efeito, entendo cabível a retirada do sobrestamento e o regular trâmite e julgamento


do processo que versa sobre esse assunto, sobretudo considerando que não há determinação no
sentido de que se aguarde o trânsito em julgado do recurso representativo da controvérsia para
que então se implemente o direito reconhecido através da decisão sabidamente vinculativa do
STF.

Não se pode perder de vista, ainda, que, em recente decisão monocrática publicada no
DJE de 02.03.2023, o Relator do leading case em questão, Ministro Alexandre de Moraes,
concedeu prazo de 10 dias para que o INSS apresente cronograma de aplicação da diretriz
formada no Tema 1.102 da Repercussão Geral, reverberando, assim, que a tese firmada pela
Suprema Corte já deve produzir seus efeitos, não subsistindo fundamento para que os processos
judiciais que tratam da matéria permaneçam sobrestados.

Quanto à urgência, está retratada no fato de estar em discussão o valor de benefício


previdenciário, logo, de natureza alimentar, sem embargo de que o direito da agravante em ter
seu benefício revisto está assegurado em decisão vinculativa do STF, cuja observância é de
caráter impositivo e deve ser imediata, sobretudo porque, repita-se, inexiste determinação ou
fundamento para que a aplicação da tese firmada seja suspensa ou diferida.

Ante o exposto, DEFIRO o pedido de antecipação de tutela de urgência a fim de que


seja retirado o sobrestamento e dê seguimento ao feito originário.

Comunique-se ao Juízo de Origem.

Intime-se a parte agravada para, querendo, apresentar suas contrarrazões ao presente


recurso.

Ciência desta decisão à agravante.

Recife, data da validação eletrônica.

SEBASTIÃO JOSÉ VASQUES DE MORAES

Desembargador Federal Relator

Nmjc

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Processo: 0805502-02.2023.4.05.0000
Assinado eletronicamente por: 23051410430043800000037949200
Sebastião José Vasques de Moraes - Magistrado
Data e hora da assinatura: 14/05/2023 20:17:09
Identificador: 4050000.37913553

Para conferência da autenticidade do


documento:
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