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01/09/2023, 15:23 Envio | Revista dos Tribunais

A formação do objeto litigioso no julgamento de casos repetitivos: a simbiose


entre o modelo cooperativo de processo e a garantia constitucional do
contraditório

A FORMAÇÃO DO OBJETO LITIGIOSO NO JULGAMENTO DE CASOS REPETITIVOS: A


SIMBIOSE ENTRE O MODELO COOPERATIVO DE PROCESSO E A GARANTIA
CONSTITUCIONAL DO CONTRADITÓRIO
The formation of the litigation object in the judgment of repetitive cases: the symbiosis between the cooperative
process model and the constitutional guarantee of the adversary
Revista de Processo | vol. 302/2020 | p. 289 - 308 | Abr / 2020
DTR\2020\3857

Pedro Augusto Silveira Freitas


Mestrado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais; Especialista em Direito Processual pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais; Assistente judiciário no Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
pedrosilveirafreitas@gmail.com

Área do Direito: Civil; Processual


Resumo: O presente artigo examinará o objeto litigioso do julgamento de casos repetitivos, no intuito de estabelecer
requisitos para que a sua formação opere do modo mais adequado possível ao sistema normativo de precedentes
judiciais, observando o modelo constitucional de processo. Dentre as providências a serem observadas, avulta-se a
necessidade de efetivação da garantia constitucional do contraditório, na perspectiva do direito à influência, de modo
que os sujeitos processuais possam, em momento anterior à estabilização do objeto desses incidentes, participar, de
forma efetiva, de sua construção.

Palavras-chave: Litigiosidade repetitiva – Precedente judicial – Incidente de resolução de demandas repetitivas –


Recurso especial e extraordinário repetitivos – Objeto litigioso – Modelo cooperativo de processo – Contraditório –
Fundamentação das decisões judiciais
Abstract: This article will examine the contentious object of the trial of repetitive cases, in order to establish
requirements for its training to operate in the most appropriate way possible to the normative system of judicial
precedents, observing the constitutional model of process. Among the measures to be observed, there is an increased
need for the constitutional guarantee of the adversary, in view of the right to influence, so that procedural subjects can,
in a moment prior to the stabilization of the object of these incidents, participate effectively, of its construction.

Keywords: Repetitive litigation – Judicial precedent – Incident of resolution of repetitive demands – Repetitive special
and extraordinary resources – Litigious object – Cooperative model of process – Contradictory – Justification of judicial
decisions
Sumário:

Introdução - 1.A atuação do Poder Judiciário no desenvolvimento do direito e no enfrentamento da litigância repetitiva
- 2.O objeto litigioso no processo civil - 3.O resultado obtido no julgamento de casos repetitivos: a fixação de teses
jurídicas - 4.A fixação do objeto litigioso no julgamento de casos repetitivos - Considerações finais - Referências

Introdução
As crises jurídicas contemporâneas, emparelhadas com a evolução e a transformação pelas quais atravessa a
sociedade brasileira, orbitam, cada vez mais, em torno de interesses massificados, que são veiculados, quase
sempre, em inúmeras demandas individuais, próprias da litigiosidade massificada e repetitiva, e também dos conflitos
que afetam uma dada coletividade de indivíduos.
Nesta seara, caracterizada pela repetição de questões jurídicas idênticas, a prestação da tutela jurisdicional de forma
individualista –, ou seja, alheia ao fenômeno maior que é o da litigância repetitiva –, se mostra contraproducente, na
medida em que o Poder Judiciário passa a rediscutir a mesma questão já anteriormente enfrentada e resolvida,
violando a garantia da razoável duração do processo, e também se revela igualmente danosa ao sistema jurídico,
tendo em vista que propicia o risco de interpretações distintas em relação a questões jurídicas idênticas, ocasionando
uma situação de imprevisibilidade e de instabilidade e, portanto, infringindo a isonomia e a segurança jurídica.
À vista da ocorrência desse fenômeno jurídico-social – que se tem propagado na modernidade sem qualquer
arrefecimento –, evidencia-se a necessidade de criação e de desenvolvimento de técnicas processuais idôneas à
prestação de uma tutela jurisdicional adequada à resolução desse tipo de conflito.1 Afirma-se, nessa perspectiva, que
“os tribunais modernos, portanto, têm de se aparelhar de instrumentos processuais capazes de enfrentar e solucionar,
com adequação e efetividade, os novos litígios coletivos ou de massa.”2
Com o advento do Código de Processo Civil de 2015 foram criadas e também aprimoradas técnicas processuais
destinadas, primariamente, a promover a correção normativa do Direito, mas também igualmente hábeis a circuitar as

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diversas mazelas decorrentes da litigância repetitiva. Nesse sentido, introduziu-se no ordenamento jurídico brasileiro o
incidente de resolução de demandas repetitivas e, ainda, aprimorou-se o regime de julgamento dos recursos
extraordinário e especial repetitivos.
A par desse regramento, a legislação processual considera julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em
incidente de resolução de demandas repetitivas e recursos especiais e extraordinários repetitivos (incisos I e II do
artigo 928 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)), que verse sobre direito material ou direito processual (parágrafo único do
artigo 928 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)). A especializada literatura jurídica, ao tratar do julgamento de casos
repetitivos, assinala que, na primeira hipótese, “foram criados mecanismos processuais diferenciados que, de algum
modo, pretendem contingenciar estas demandas marcadas pela repetitividade, dentre os quais o incidente de
resolução de demandas repetitivas;”3 e, na segunda, que “a formulação das técnicas de tutela pluri-individual no Brasil
teve como uma das metas originais a racionalização do julgamento dos recursos extraordinários e especial, no âmbito
do STF e do STJ, em resposta ao problema concreto que essas cortes vivenciavam de excesso de recursos que lhes
chegava diariamente.”4
1.A atuação do Poder Judiciário no desenvolvimento do direito e no enfrentamento da litigância repetitiva
Tais instrumentos processuais destinam-se à fixação de tese jurídica sobre determinada controvérsia de direito
material ou processual, cujo resultado se estenderá, em caráter vinculante, sobre as causas individuais que possuam
questão jurídica idêntica.
Além disso, a tese jurídica que será formatada nesses procedimentos irá integrar o ordenamento jurídico, atuando
numa espécie de colmatagem hermenêutica de todo este conjunto de textos normativos. Isto porque, ao possibilitar a
especificação semântica dos textos legais, o precedente judicial passa a permear e a enriquecer o ordenamento
jurídico, bem como a interligar instâncias desse sistema jurídico que, até então, permaneciam isoladas entre si. Por
essa razão, o pronunciamento judicial oriundo do julgamento de casos repetitivos, ao explicitar os fundamentos
determinantes, passa a compor e a entremear a ordem jurídica, permitindo, pois, uma maior racionalidade na
aplicação do Direito.
Paralelamente a este objetivo, a tese jurídica firmada pelos Tribunais no âmbito desses incidentes processuais –
justamente por pressupor a repetitividade de demandas como elemento fático desencadeador de sua instauração –
tem o potencial de coletivizar o resultado da prestação jurisdicional, impedindo o tratamento jurisdicional desigual e
evitando a repetição desnecessária de demandas. Os precedentes judiciais forjados neste ambiente também
possuem a capacidade para suplantar uma parcela significativa da crise judiciária contemporânea, congregando
benefícios ao sistema jurídico, tais como a celeridade, a isonomia, a segurança jurídica, bem como a uniformização, a
estabilidade, a integridade e a coerência da jurisprudência.
Percebe-se, portanto, que as teses jurídicas firmadas pelos Tribunais assumem significativa importância no cenário
jurídico brasileiro, irradiando efeitos: i. na processualística, que passa a se preocupar com o desenvolvimento e com o
aprimoramento das técnicas processuais destinadas à confecção dos precedentes judiciais, de modo a impedir que
elas se afastem do modelo constitucional de processo traçado pela Constituição da República;5ii. na teoria geral do
direito brasileiro, que passa a conviver com uma nova fonte formal do direito, diferente dos textos positivados pelo
legislador;6-7-8iii. na própria dinâmica social e no comportamento dos indivíduos, que, a partir da vigência do novo
Código de Processo Civil, invocam as teses jurídicas como parâmetro e como orientação no processo de tomada de
decisões.9
Diante da relevância conferida pelo Código de Processo Civil às teses jurídicas fixadas pelo Poder Judiciário mediante
procedimentos específicos, afigura-se necessário discutir a formação e a fixação do objeto litigioso no julgamento do
incidente de resolução de demandas repetitivas e dos recursos extraordinários e especiais repetitivos – mote do
presente estudo.
A melhor compreensão dessa etapa procedimental – qual seja, a de estabilização do objeto litigioso no julgamento de
casos repetitivos – se justifica na medida em que tem o potencial de propiciar o melhor rendimento às técnicas
processuais desenvolvidas pelo legislador, potencializando a obtenção de teses jurídicas mais adequadas ao
ordenamento jurídico brasileiro, e, ainda, implementando requisitos capazes de impedir violações ao modelo
constitucional de processo.10
2.O objeto litigioso no processo civil
O exercício da atividade jurisdicional pressupõe a existência do processo. Isto porque a atuação dos sujeitos
processuais não pode ocorrer de forma aleatória e despropositada, ao contrário, deve subordinar-se ao método
prescrito pelas regras de direito processual, no intuito de se aferir a procedência da pretensão deduzida em juízo.
Esse método de trabalho, caracterizado pela sucessão coordenada de atos processuais, tem a finalidade de permitir
que, ao final de um dado procedimento, o pedido formulado seja resolvido por meio de uma decisão de mérito justa e
efetiva, acolhendo-o ou mesmo rejeitando-o.
Percebe-se, portanto, que as atividades desenvolvidas por todos os sujeitos processuais têm por referencial o objeto
do processo: os atos postulatórios praticados pelas partes destinam-se à exposição dos fatos e dos fundamentos
capazes de alicerçar o pedido de prestação da tutela jurisdicional; as provas realizadas objetivam comprovar a
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ocorrência dos fatos capazes de gerar o direito afirmado; e, por fim, a atividade cognitiva realizada pelo juiz tem por
finalidade averiguar a procedência dessa pretensão, a partir dos argumentos e das provas registrados ao longo do
procedimento.11
O que se pretende demonstrar é que todo processo tem o seu objeto, em torno do qual gravitam as atividades
realizadas pelos sujeitos processuais. Afirma-se, nesse sentido, que essa pretensão “constituirá o alvo central das
atividades de todos os sujeitos processuais e, particularmente, do provimento que o juiz emitirá ao fim. É em relação a
ela que a jurisdição se exerce e a tutela jurisdicional deve ser outorgada àquele que tiver razão.”12
O objeto do processo compreende, portanto:
“[...] o pedido como sendo a pretensão processual, definidora do objeto litigioso do processo, que deve ser informado
necessariamente pelos fundamentos de fato e de direito que a instruem, ou seja, pela causa de pedir, e ainda com o
escopo de obtenção de um provimento jurisdicional (pedido imediato) que possa conferir ao autor uma utilidade real,
um ‘bem da vida’ (pedido mediato).”13
Em artigo científico dedicado exclusivamente à temática, Sydney Sanches esclarece que o:
“[...] objeto do processo, em seu aspecto global de instrumento institucional da jurisdição, é toda a matéria que nele
deva ser apreciada pelo juiz, seja em termos de simples cognitio, seja em termos de judicium, envolvendo, pois, os
pressupostos processuais, as chamadas condições da ação e o próprio mérito.”14 (grifos do autor)
Ao final de sua exposição, afirma o autor, que “só uma parte do ‘objeto do processo’ constitui o ‘objeto litigioso do
processo’: é o mérito, assim entendido o pedido do autor formulado na inicial ou nas oportunidades em que o
ordenamento jurídico lhe permita ampliação ou modificação.”15(grifos do autor)
A par dessas considerações, infere-se que o objeto do processo, em sua precisão teórica, quer significar, portanto, o
pedido formulado pelo demandante, ou seja, a pretensãodeduzida em juízo, ou, ainda, o mérito processual. Em suma,
o objeto do processo se refere “[à]quilo sobre o que irá incidir o pronunciamento judicial.”16

Percebe-se, assim, que o objeto litigioso do processo civil é delimitado segundo a vontade do demandante,17 que
possui ampla liberdade para deduzir a sua pretensão e formular o pedido de atuação da atividade jurisdicional, desde
que atue dentro das margens que são postas pela legislação processual.
Tendo em vista que o objeto litigioso é orientador das atividades processuais que irão se desenvolver no curso do
procedimento, é indispensável que fique definido, de maneira precisa, certa e determinada, desde a instauração do
processo. Isto porque, caso o objeto litigioso somente venha a ser definido durante o processo ou mesmo na fase
decisória, “as partes poderão ser, no final, surpreendidas com decisão sobre questões que não passaram pelo crivo
do contraditório e da ampla defesa (CF (LGL\1988\3), art. 5º, LIV e LV). Por isso é da maior importância a
identificação, no início da relação processual, do objeto do processo.”18(grifos do autor)
3.O resultado obtido no julgamento de casos repetitivos: a fixação de teses jurídicas
A finalidade precípua da instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas e da afetação dos recursos
extraordinário e especial repetitivos é a fixação de tese jurídica que, após ser declarada pelo Poder Judiciário, irá se
espraiar por todo o ordenamento jurídico – realizando uma espécie de colmatagem hermenêutica –, e, mais
especificamente, irá recair sobre as causas individuais repetitivas – combatendo, de forma adequada, a litigância de
massa e superando uma parcela da crise judiciária.
De acordo com o regramento ditado pela legislação processual, a instauração do incidente de resolução de demandas
repetitivas pressupõe a efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão
unicamente de direito e o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica (incisos I e II do artigo 976 do CPC/2015
(LGL\2015\1656)).
De modo bastante similar, sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento daquela controvérsia repetitiva (artigo
1.036 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)). Além disso, há que assinalar que os acórdãos proferidos em incidente de
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos constituem
precedente judicial com eficácia vinculante (inciso III do artigo 927 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
Conforme assentado anteriormente, todo processo possui um objeto, que irá conduzir o exercício da atividade
jurisdicional ao longo do procedimento e, ainda, que irá precisar os limites da tutela jurisdicional outorgada pelo Poder
Judiciário. Tal assertiva não é diferente em relação ao julgamento de casos repetitivos, que também possui um mérito
particular a ser examinado. Isto porque quando são selecionados os casos para julgamento do incidente de resolução
de demandas repetitivas ou são afetados os recursos extraordinário ou especial, instaura-se um novo procedimento
com a finalidade de definição do entendimento do Tribunal sobre aquela determinada questão jurídica. Passa a existir,
assim, “ao lado do processo originário ou do recurso (inclusive a remessa necessária), um procedimento específico
para julgamento e fixação da tese que irá repercutir relativamente a vários outros casos repetitivos.”19

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A autonomia outorgada a esses procedimentos é tão significativa que, de acordo com expressa previsão legal, após a
admissão do incidente de resolução de demandas repetitivas ou da afetação dos recursos extraordinário ou especial,
a desistência da ação originária ou mesmo dos recursos afetados não implicará a extinção desses procedimentos, de
modo que o Tribunal continua autorizado a prosseguir no julgamento, fixando apenas a tese jurídica.20
Colhe-se da literatura jurídica que:
“[...] quando o autor ou o recorrente, num caso como esse, desiste da ação ou do recurso, a desistência deve atingir
apenas o procedimento relativo a uma dessas demandas. Tal desistência, todavia, não atinge o segundo
procedimento, instaurado para a definição da tese a ser adotada pelo tribunal. Em suma, a desistência não impede o
julgamento com a definição da tese a ser adotada pelo tribunal.”21
Infere-se, portanto, que “o objeto litigioso do julgamento de casos repetitivos é a fixação de tese jurídica, genérica e
objetiva, sobre questão de direito material ou processual,22 que, ao final, resultará na consubstanciação de
precedente judicial de observância obrigatória.”23
4.A fixação do objeto litigioso no julgamento de casos repetitivos
Conquanto o resultado que será obtido no julgamento de casos repetitivos seja de fácil identificação, o momento de
fixação do objeto litigioso, nessas hipóteses, bem como a própria especificação do âmbito de sua incidência,
comporta, por outro lado, diversos questionamentos, não solucionados pelo texto legislativo.
Isto se deve ao fato de que a tarefa de delimitação da questão jurídica – diferentemente do que ocorre com a
propositura de uma ação, em que o demandante é obrigado a indicar, desde logo, o fato e os fundamentos jurídicos
relativos à sua pretensão, bem como a formular o pedido e as suas especificações – fica a cargo do próprio órgão
jurisdicional que sobre ela irá se manifestar, no intuito de criar precedente judicial dotado de eficácia vinculante (artigo
927 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
Percebe-se, portanto, que a fixação do objeto do julgamento de casos repetitivos, mesmo que inicialmente atrelado a
outro procedimento de natureza recursal ou de ação originária, somente será realizado após o término da fase
postulatória, pelo próprio órgão julgador. Em outras palavras, constata-se a existência de um acúmulo, perante o
mesmo sujeito processual, entre a função de delimitação da questão jurídica e a função de julgamento da referida
temática.
De acordo com o procedimento previsto na legislação processual brasileira, no que tange ao incidente de resolução
de demandas repetitivas, a atuação dos legitimados se limita à formulação de “pedido de instauração do incidente”,
que deverá vir acompanhado da demonstração documental da efetiva repetição de processos e, ainda, do risco de
ofensa à isonomia e à segurança jurídica (artigo 977 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
Quanto ao julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, as partes sequer possuem legitimidade
processual para requerer a sua abertura, que fica subordinada à iniciativa do presidente ou do vice-presidente do
Tribunal de Justiça ou do Tribunal Regional Federal (§1º do artigo 1.036 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)) ou do
ministro do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça (§ 5º do artigo 1.036 do CPC/2015
(LGL\2015\1656)).
Todavia, ainda que o objeto litigioso não fique precisamente delimitado quando da instauração do incidente ou quando
da afetação dos recursos, o Código de Processo Civil prevê etapa procedimental específica, por meio da qual a
questão jurídica de direito material ou processual será precisamente identificada.
Assim, no que se refere ao incidente de resolução de demandas repetitivas, está previsto que, após a sua
distribuição, o órgão colegiado competente para julgar o incidente procederá ao seu juízo de admissibilidade, a fim de
averiguar a presença de efetiva repetição de processos sobre a mesma questão de direito e, ainda, do risco de ofensa
à isonomia e à segurança jurídica (artigo 981 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
Em sendo realizado o juízo positivo de admissibilidade do incidente, o órgão julgador indicará, nessa oportunidade, os
limites e o conteúdo da questão jurídica a ser debatida e discutida.
Naquilo que toca, por sua vez, ao julgamento dos recursos extraordinários e especial repetitivos, o relator, no Tribunal
Superior, constatando a ocorrência de multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito,
proferirá decisão de afetação, por meio da qual, dentre outras determinações, identificará com precisão a questão a
ser submetida a julgamento (inciso I do artigo 1.037 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
No entanto, as técnicas processuais desenvolvidas para o julgamento de casos repetitivos – o procedimento de
instauração, na hipótese do incidente de resolução de demandas repetitivas, e o procedimento de seleção e de
afetação, no caso de julgamento dos recursos extraordinários ou especiais repetitivos – não foram suficientemente
exaustivas para explicitar as regras relativas à delimitação do objeto litigioso.
Portanto, se mostra imprescindível reflexionar critérios e determinar algumas condicionantes à etapa procedimental de
fixação do objeto litigioso do julgamento de casos repetitivos, de modo a torná-la a mais producente e adequada
possível ao sistema de precedentes judiciais e, ainda, de forma a preservar o modelo constitucional de processo,
especificamente no que tange ao objeto sobre o qual recairá a atividade jurisdicional.

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A fim de alcançar esse resultado, tenta-se estabelecer alguns parâmetros para consecução desse desiderato, a seguir
apontados.
4.1.A simbiose entre o modelo cooperativo de processo, o princípio do contraditório e a sua interferência na
formação do objeto litigioso do julgamento de casos repetitivos
O Código de Processo Civil adotou, expressamente, o modelo cooperativo de processo, impondo, em nível de norma
fundamental, a todos os sujeitos do processo o dever de cooperarem entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva (artigo 6º do CPC/2015 (LGL\2015\1656)). Bem por isso, afirma-se, há
muito, que:
“[...] o Estado desempenha a função jurisdicional em cooperação com uma ou com ambas as partes envolvidas no
conflito, segundo um método de trabalho estabelecido em normas adequadas. A essa soma de atividades em
cooperação e à soma de poderes, faculdades, deveres, ônus e sujeições que impulsionam essa atividade dá-se o
nome de processo.”24
O modelo cooperativo de processo determina que tanto o procedimento instaurado entre as partes quanto o
provimento jurisdicional a ser obtido ao final devem espelhar a atuação, em cooperação, realizada pelas partes e pelo
juiz. Desvanece-se, desse modo, o protagonismo de quaisquer dos sujeitos processuais, que passam a integrar uma
genuína comunidade de trabalho,25 e, a partir desta empresa comum, desempenham suas atividades processuais em
prol do melhor rendimento do processo e da obtenção da mais efetiva e justa decisão de mérito.
Conforme esclarece a especializada doutrina, no modelo cooperativo de processo:
“está superada a ideia de órgão julgador como o único centro decisório (unicentrismo), já que, com base no princípio
da cooperação processual e na tridimensionalidade do contraditório, também as partes possuem a prerrogativa de
influir nos resultados advindos do exercício da função jurisdicional (policentrismo).”26
Paralelamente à instituição do modelo cooperativo de processo, a nova legislação processual também determina ao
órgão julgador o dever de tornar efetiva a garantia constitucional do contraditório (artigo 7º do CPC/2015
(LGL\2015\1656)). Nesse sentido, a efetivação do contraditório no processo civil implica no reconhecimento da
evolução de seu conteúdo normativo, que, nos tempos atuais, quer significar que “o litigante não só tenha assegurado
o direito de ser ouvido em juízo; mas há de lhe ser reconhecido e garantido também o direito de participar, ativa e
concretamente, da formação do provimento com que seu pedido de tutela jurisdicional será solucionado.”27
Trata-se, no particular, “da conjugação dos direitos das partes ao conhecimento e à participação no processo em
simétrica paridade – dimensão estática –, com a possibilidade de interferência e de fiscalização dos resultados
advindos do exercício da função jurisdicional – dimensão dinâmica.”28 Afirma-se, em idêntica perspectiva, que:
“[...] na vigência do Estado de Direito Democrático, a nova conformação do contraditório pressupõe, em termos
teóricos, a revalorização da atuação das partes no iter processual, reconhecendo a sua importância e
imprescindibilidade para a adequada solução de controvérsias (ainda que unicamente de direito) e, em termos
práticos, o estabelecimento de estruturas que garantam uma efetiva participação do jurisdicionado nos diversos locus
de produção de normas.”29
Constata-se, portanto, que os princípios da cooperação processual e do contraditório resultam um interessante dueto
que apregoa, em uníssono tom, que os fundamentos utilizados para sustentar o provimento jurisdicional, inclusive
aqueles invocados de ofício, deverão ser previamente submetidos ao escrutínio das partes, que terão a oportunidade
de se manifestarem sobre as questões de direito relevantes para a decisão do mérito e, nessa exata medida,
influenciarem o órgão julgador, colaborando com a construção do provimento jurisdicional.
Diante da obrigatoriedade de efetivação do contraditório, na sua dimensão substancial ou dinâmica, pode se afirmar
que nenhuma decisão judicial poderá ser tomada sem que os seus fundamentos tenham sido averiguados, de forma
prévia, pelas partes. O Código de Processo Civil proíbe, no particular, o juiz de decidir com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de ofício (artigo 10 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
O contraditório dinâmico e efetivo deve traduzir, portanto:
“[...] a participação real das partes, com possibilidade de influenciar na decisão da causa, e por isso não se pode mais
admitir as decisões ‘surpresa’ ou que emanem exclusivamente da via judicial, sem participação das partes, ainda que
o tema suscitado de ofício seja exclusivamente de direito, de modo a tornar o art. 10 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)
efetivo, com a vinculação cada vez maior do juiz aos princípios da cooperação e da lealdade processual, que
permeiam a compreensão da proibição da prolação da decisão de terceira via.”30
Além disso, num processo que se desenvolve em ambiente de cooperação, impõe-se especificamente ao órgão
julgador o “dever de informar às partes sobre as iniciativas que pretende exercer, de modo a lhes permitir um espaço
de discussão em contraditório, devendo haver a expansão e a institucionalização do dever de esclarecimento judicial
a cada etapa do procedimento, inviabilizando julgamento surpresa.”31

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A partir da relação de simbiose existente entre o modelo cooperativo de processo e o princípio do contraditório,32
pode-se concluir que, na etapa procedimental de consolidação do objeto litigioso do julgamento de casos repetitivos, o
órgão jurisdicional deverá, de forma prévia ao juízo de admissibilidade do incidente de resolução de demandas
repetitivas e em momento anterior à identificação da questão submetida ao julgamento dos recursos especial e
extraordinário repetitivos, conceder às partes do processo, ao Ministério Público e aos potenciais interessados –
sujeitos processuais – oportunidade para apresentarem suas manifestações sobre a questão jurídica que será
oportunamente fixada e, posteriormente, julgada.
A manifestação das partes ficará, por óbvio, circunscrita à delimitação e à fixação da questão de direito a ser objeto da
consubstanciação de tese jurídica e, por consequência, de precedente judicial de observância obrigatória. A
participação dos sujeitos processuais nessa fase do procedimento tem a importantíssima finalidade de auxiliar o órgão
jurisdicional na decomposição dos elementos que integram a questão de direito repetitiva, identificando o âmbito de
sua incidência e delimitando, com clareza, as margens de atuação da atividade jurisdicional, seja no que tange à fase
instrutória do procedimento, seja no que se refere à fase decisória da tese jurídica.
A intimação dos sujeitos processuais previamente à delimitação da questão jurídica, conquanto não esteja
expressamente prevista no regramento do julgamento de casos repetitivos, decorre da interpretação sistemática do
Código de Processo Civil,33 que, como visto, é impositivo ao determinar a efetivação, em regime de cooperação, da
garantia constitucional do contraditório, vedando, expressamente, a prolação de decisões com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar (artigo 6º c/c artigo 7º c/c artigo 10, todos
do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
A intimação antecedente dos sujeitos processuais, além de implementar a democracia deliberativa no processo de
julgamento de casos repetitivos,34 tem o potencial de permitir que a fixação da questão jurídica seja a mais adequada
e útil possível para o seu futuro julgamento, com a fixação da correspondente tese jurídica e a instituição de
precedente judicial obrigatório. Isto porque os sujeitos processuais, justamente por serem detentores do maior
conhecimento sobre aquele determinado tipo de controvérsia repetitiva, poderão aparelhar o órgão jurisdicional com
argumentos e fundamentos mais próximos daquela realidade litigiosa.
Tal providência garante, ademais, que a delimitação da questão jurídica não descambe para o subjetivismo ou mesmo
para o autoritarismo do órgão julgador, que procederia – caso tal providência não seja implementada – à delimitação
solipsista do objeto litigioso; além disso, a intimação prévia das partes assegura que a fixação da questão jurídica a
ser decidida não permaneça circunscrita ao mero circunstancialismo de um dado contexto de litigiosidade, muitas
vezes provocado por litigantes habituais.
Portanto, no caso do incidente de resolução de demandas repetitivas, logo após o protocolo do pedido de sua
instauração, independentemente de quem seja o legitimado requerente,35 o relator deverá intimar os sujeitos
processuais para que apresentem suas manifestações sobre o objeto litigioso do incidente e, somente após essa
medida, submeterá ao órgão colegiado a análise de sua admissibilidade e a fixação da questão de direito a ser
julgada (artigo 981 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
De igual modo, na hipótese do julgamento do recurso especial e extraordinário repetitivos, logo após a seleção dos
recursos e tendo sido formulada a proposta de afetação,36 o relator deverá proceder à intimação de todos os sujeitos
processuais, a fim de que apresentem seus argumentos sobre a questão de direito e, apenas quando implementada
essa providência, levará ao órgão colegiado a apreciação de sua admissibilidade e de sua efetiva afetação,37
identificando com precisão a questão a ser submetida a julgamento (inciso I do artigo 1.037 do CPC/15
(LGL\2015\1656)).
Importante pontuar, ao fim deste tópico, que tal providência não se confunde com as diligências que poderão ser
determinadas pelo relator, previstas nos artigos 983 e 1.038, ambos do CPC/2015 (LGL\2015\1656), já que tais
medidas se localizam em momento posterior à fase de delimitação e fixação do objeto litigioso dos casos repetitivos e
destinam-se à instrução dos incidentes e à preparação para o seu julgamento definitivo. A medida processual ora
defendida se localiza em momento anterior à confecção da decisão judicial que irá delimitar a questão jurídica do
julgamento de casos repetitivos, e, conquanto não se encontre expressamente prevista na legislação, decorre de
interpretação sistemática do Código de Processo Civil.
Esse é o requisito que ostenta a maior importância na fixação do objeto do julgamento de casos repetitivos,
justamente porque permite que os sujeitos processuais – ou seja, aqueles que serão diretamente afetados pela
definição da tese jurídica – participem dessa etapa procedimental e possam, nessa medida, influenciar a sua
conformação.
4.2.Vinculação às questões de fato e de direito debatidas no caso concreto
A questão de direito repetitiva em processos ou em recursos especial e extraordinário, conquanto possa ser
compreendida exclusivamente em seu espectro teórico – o que pressupõe o estudo e o desenvolvimento dos
institutos jurídicos e do próprio direito –, jamais poderá ser aplicada38 de forma abstrata e apartada dos aspectos
fáticos do caso concreto – o que subentende a construção de provimentos jurisdicionados adequados para solução de
controvérsias dotadas de particularidades fáticas genuínas.
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Ainda que o julgamento de casos repetitivos se predisponha à fixação de tese jurídica, o entendimento firmado sobre
determinada questão de direito não pode se desvencilhar dos fatos relevantes que exsurgem dos casos concretos, a
partir dos quais é instaurado o incidente de resolução de demandas repetitivas e é realizado o julgamento do recurso
especial e extraordinário repetitivos. Os fatos relevantes do caso concreto funcionam, portanto, como balizas quanto
ao alcance da aplicação da tese jurídica, ora permitindo que fatos similares sejam abarcados por aquele
entendimento, ora autorizando que fatos distintos sejam afastados do âmbito de sua incidência.
Logo, o aspecto fático não pode ser ignorado no momento da fixação do objeto litigioso do julgamento de casos
repetitivos. Ao contrário, tais circunstâncias fáticas também deverão ser precisamente identificadas, tal como realizado
em relação à questão jurídica. Isto porque, “não bastará, contudo, identificar a questão jurídica, sem delimitar a
situação fática que lhe está subjacente, ou seja, as circunstâncias fáticas que ensejam a controvérsia, ou, ainda, a
categoria fática para qual a tese será aplicada.”39
Conforme esclarece a doutrina:
“[...] a reconstrução criteriosa do caso passado (útil na medida em que tem capacidade de influenciar a prática
judiciária do presente) deve estabelecer os fatos operativos que integram a ratio decidendi do precedente a partir do
emaranhado de fatos, situações, eventos, detalhes e características desses casos, que, por sua vez, serão
comparados aos do caso presente, a fim de se verificar se os fatos operativos do precedente também podem ser
encontrados no caso presente.”40
Desse modo, após ter sido oportunizado o prévio contraditório sobre a questão, e tendo iniciada a fase de
estabilização do objeto litigioso dos casos repetitivos, a sua delimitação deverá observar a perfeita correlação entre a
questão jurídica repetitiva e as questões de fato expressamente debatidas no caso concreto, ainda que se trate da
excepcionalíssima hipótese de desistência do recurso.41
4.3.Fundamentação exaustiva e a fixação explícita da questão jurídica e de seus desdobramentos
A garantia constitucional do contraditório possui, como fonte de seu resguardo, o dever de fundamentação das
decisões judiciais. A comprovação de que o contraditório – na dimensão que assegura o direito à influência – foi
efetivamente observado, só se mostra possível por meio da análise dos fundamentos empregados pelo órgão
jurisdicional. Somente através da fundamentação decisória é possível perceber se os argumentos suscitados pelos
sujeitos processuais quanto à fixação do objeto litigioso realmente foram levados em consideração e puderam
contribuir para a construção da decisão judicial.
Bem por isso, o ordenamento jurídico brasileiro contempla regra no sentido de que todos os julgamentos dos órgãos
do Poder Judiciário serão públicos, e todas as decisões fundamentadas, sob pena de nulidade (inciso IX do artigo 93
da CF/88 (LGL\1988\3) e artigo 11 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
Desse modo, a decisão judicial que irá identificar a questão jurídica a ser submetida a julgamento – e, portanto, que
estabilizará o objeto litigioso do julgamento de casos repetitivos – deverá expor, de forma racional, analítica e
exaustiva, as razões pelas quais aquela delimitação se revelou a mais adequada e mais proveitosa para o sistema
normativo de precedentes judiciais e para a resolução daquela crise jurídica que se revela repetitiva. A decisão
deverá, ainda, perpassar pelos argumentos apresentados pelos sujeitos processuais, demonstrando a sua
pertinência, ou não, à temática discutida no julgamento de casos repetitivos.
Além disso, a identificação da questão jurídica, bem como o âmbito de sua incidência e também de suas exceções,
deverá ser explícita e induvidosamente declarada pelo órgão julgador, de modo a preparar a fase instrutória dos
respectivos incidentes, balizando a atuação jurisdicional, e, ainda, para que seja possível identificar quais os
processos serão afetados pela fixação da tese jurídica.
Portanto, a decisão de fixação do objeto litigioso do julgamento de casos repetitivos:
“[...] deverá identificar, de modo claro e preciso, a questão que será submetida a julgamento, ou seja, a controvérsia
de direito material ou processual cuja resolução se buscará uniformizar. Trata-se, portanto, de identificar qual a
questão jurídica em análise, respeitando-se o que foi decidido pelo órgão colegiado no momento da admissão.”42
Considerações finais
Todo processo possui um objeto, que irá conduzir o exercício da atividade jurisdicional ao longo do procedimento e,
ainda, que irá precisar os limites da tutela jurisdicional outorgada pelo Poder Judiciário. Tal assertiva não é diferente
em relação ao julgamento de casos repetitivos, que também possui um mérito particular a ser examinado,
correspondente à fixação de tese jurídica sobre questão de direito material ou processual, que, ao final, resultará na
consubstanciação de precedente judicial de observância obrigatória.
Todavia, as técnicas processuais desenvolvidas para o julgamento de casos repetitivos não foram suficientemente
exaustivas para explicitar as regras relativas à delimitação do objeto litigioso, tornando necessário reflexionar critérios
e determinar algumas condicionantes.
Portanto, revela-se imprescindível que, no julgamento de casos repetitivos, a fixação da questão jurídica observe o
contraditório substancial, permitindo que as partes possam, em momento adequado, influenciar a sua construção.

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Nesse sentido, o órgão jurisdicional deverá, de forma prévia, conceder aos sujeitos processuais oportunidade para
apresentarem suas manifestações sobre a questão jurídica que será oportunamente fixada e, posteriormente, julgada.
Além disso, a delimitação do objeto litigioso dos casos repetitivos deverá observar a perfeita correlação entre a
questão jurídica repetitiva e as questões de fato expressamente debatidas no caso concreto, mesmo que se trate da
excepcionalíssima hipótese de desistência do recurso ou da ação de competência originária.
Ademais, a decisão judicial que irá identificar a questão jurídica a ser submetida a julgamento deverá expor, de forma
fundamentada, as razões pelas quais aquela delimitação se revelou a mais adequada para a resolução daquela crise
jurídica que se mostrou repetitiva, perpassando pelos argumentos apresentados pelos sujeitos processuais.
Logo, somente com o cumprimento desses requisitos – intimação prévia das partes; vinculação aos fatos relevantes
do caso concreto; fundamentação exaustiva; e fixação explícita da questão jurídica – a fixação do objeto litigioso do
julgamento de casos repetitivos se adequará, com maior perfectibilidade, ao sistema de precedentes judiciais e, ainda,
ao modelo constitucional de processo.
Referências
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THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Execução forçada, processo nos tribunais,
recursos e direito intertemporal. 48. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. III.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil, processo
de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. I.
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes: teoria dos precedentes normativos formalmente
vinculantes. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2016.

1 Nesse sentido, Victor Dutra afirma que “o modelo constitucional de processo também impõe que sejam
desenvolvidas estruturas procedimentais próprias para o novel sistema de tutela de casos repetitivos. Com efeito, as
características de expansividade, variabilidade e perfectibilidade destacadas por Andolina e Vignera – e bem
lembradas por Franco – impõem essa adaptação”. In: DUTRA, Victor Barbosa. Precedentes vinculantes: contraditório
efetivo e técnicas repetitivas. Belo Horizonte: D’Plácido, 2018. p. 68.

2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Execução forçada, processo nos tribunais,
recursos e direito intertemporal. 48. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. III. p. 912.

3 TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 37.

4 ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais
superiores: Precedentes no direito brasileiro. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. p. 542.

5 Assinala-se, nesse sentido, que “o aprimoramento das técnicas processuais deu-se, portanto, no rumo de torná-las,
cada vez mais, instrumentos utilizáveis sempre para condicionar a atuação dos órgãos judiciais em conformidade com
a Constituição”, motivo pelo qual espera-se que a Justiça pública “esteja, sobretudo, preocupada com a eficácia das
normas constitucionais por meio de instrumentos processuais específicos e adequados”. In: THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Processo Constitucional. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO,
Carlos Valder do (Coord.). Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2. p. 722.

6 Humberto Theodoro Júnior ao reconhecer que o Código de Processo Civil passou a agasalhar a orientação de
valorizar os precedentes, assinala que “a grande mudança de rumo que o processo vem sofrendo entre nós, no que
se relaciona com a força normativa dos julgados dos tribunais. De modo que se acha autorizada a conclusão de que,
nos limites dos precedentes, as teses jurisprudenciais adquirem a autoridade de fonte do direito”. In: THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil, processo de
conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. I. p. 111.

7 Cândido Rangel Dinamarco acena para um movimento de reorganização das fontes do direito, ao afirmar que “a
jurisprudência deixou portanto de exercer mera influência no espírito dos aplicadores da lei e passou a integrar o
conjunto normativo a ser considerado nos julgamentos”. E, na sequência, elucidar que, “após toda essa evolução e
agora com a obrigatoriedade da observância desses precedentes judiciais, na ordem jurídico-positiva brasileira da
atualidade a jurisprudência é fonte de direito”. In: DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos
Carrilho. Teoria geral do novo processo civil. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 43/44.

8 Hermes Zaneti Jr. é categórico ao afirmar que “a natureza das mudanças decorrentes da constitucionalização e
principialização dos direitos e a conformação atual do direito no nosso ordenamento jurídico (súmulas vinculantes,
filtros recursais, decisões com efeito vinculante e jurisprudência dominante dos tribunais), reconhecidamente uma
tendência mundial, revelam uma insofismável realidade: o precedente é fonte formal no direito contemporâneo
brasileiro e tendencialmente existem razões para adotar os precedentes como fontes do direito mesmo em
ordenamentos jurídicos de civil law”. In: ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes: teoria dos
precedentes normativos formalmente vinculantes. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 175/176.

9 Afirma-se, no ponto, que “ao ser adotado o stare decisis, não se pode ignorar que principalmente a decisão das
Cortes Supremas contem um discurso voltado ao caso concreto e um voltado aos demais jurisdicionados de forma
mais nítida. Se o precedente é obrigatório, ele gera confiabilidade em todos aqueles sujeitos ao posicionamento do
tribunal. Essa confiança gerada nos jurisdicionados e a estabilidade fornecida ao ordenamento jurídico não podem ser
simplesmente ignoradas, caso esse precedente seja posteriormente superado de forma surpreendente”. In:
PEIXOTO, Ravi. Superação do precedente e segurança jurídica. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 374.

10 No mesmo sentido, disserta Victor Dutra, ao afirmar que “partindo-se da premissa de que o CPC/2015
(LGL\2015\1656) previu uma tutela diferenciada de casos repetitivos, mas não regulamentou à exaustão o
procedimento e as garantias a ele aplicáveis, é importante avaliar a maneira mais adequada para estruturá-lo a partir

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do modelo constitucional de processo e do entendimento do contraditório como direito fundamental, de modo a se


atingir uma tutela efetiva para os casos repetitivos sem que seja atingido o núcleo duro do referido direito
fundamental”. In: DUTRA, Victor Barbosa. Precedentes vinculantes: contraditório efetivo e técnicas repetitivas. Belo
Horizonte: D’Plácido, 2018. p. 69.

11 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. v. II. p.
210.

12 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. v. I. p.
442.

13 LEONEL, Ricardo de Barros. Objeto litigioso no processo e o princípio do duplo grau de jurisdição. In TUCCI, José
Rogério Cruz e; BEDAQUE, José Roberto dos Santos (Coord.). Causa de pedir e pedido no processo civil: (questões
polêmicas). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 367.

14 SANCHES, Sydney. Objeto do processo e objeto litigioso do processo. Revista de Processo, n. 13, jan.-mar. 1979,
p. 31-47.

15 SANCHES, Sydney. Objeto do processo e objeto litigioso do processo. Revista de Processo, n. 13, jan.-mar. 1979,
p. 31-47.

16 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil,
processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. I. p. 131.

17 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. p. 217. v.
II.

18 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil,
processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. I. p. 131.

19 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Recursos contra decisão proferida em incidente de resolução
de demandas repetitivas que apenas fixa a tese jurídica. In: NUNES, Dierle; MENDES, Aluisio; JAYME, Fernando
(Coord.). A nova aplicação da jurisprudência e precedentes no CPC/2015 (LGL\2015\1656). São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2017. p. 453.

20 Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver,
simultaneamente: [...] § 1º A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente.
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do
recurso.Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha
sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.

21 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Recursos contra decisão proferida em incidente de resolução
de demandas repetitivas que apenas fixa a tese jurídica. In NUNES, Dierle; MENDES, Aluisio; JAYME, Fernando
(Coord.). A nova aplicação da jurisprudência e precedentes no CPC/2015 (LGL\2015\1656). São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2017. p. 453/454.

22 Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em: I –
incidente de resolução de demandas repetitivas; II – recursos especial e extraordinário repetitivos. Parágrafo único. O
julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito material ou processual.

23 Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: [...] III – os acórdãos em incidente de assunção de competência ou
de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;

24 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. p. 14/15.

25 NUNES, Dierle José Coelho. Processo Jurisdicional Democrático: uma análise crítica das reformas processuais.
Curitiba: Juruá, 2012. p. 213.

26 FRANCO, Marcelo Veiga. Dimensão dinâmica do contraditório, fundamentação decisória e conotação ética do
processo justo. Revista de Processo, v. 40, n. 247, p. 105–136, set., 2015.

27 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil,
processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. I. p. 86.

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28 FRANCO, Marcelo Veiga. Processo justo: entre efetividade e legitimidade da jurisdição. Belo Horizonte: Del Rey,
2016. p. 57.

29 DUTRA, Victor Barbosa. Precedentes vinculantes: contraditório efetivo e técnicas repetitivas. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2018. p. 59.

30 ANDRADE, Érico. A atuação judicial e o contraditório: o art. 10 do CPC/2015 (LGL\2015\1656) e as consequências


da sua violação. Revista de Processo, v. 43, n. 283, p. 55–106, set., 2018.

31 NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; HORTA, André Frederico [et al]. Contraditório como garantia de
influência e não surpresa no CPC (LGL\2015\1656)-2015. In: DIDIER JR., Fredie; NUNES, Dierle; FREIRE, Alexandre
(Coord.). Normas Fundamentais. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 231.

32 Nesse sentido, Humberto Theodoro Júnior afirma que “o que, portanto, se compreende na norma fundamental
constante do art. 6º do novo CPC (LGL\2015\1656), sob o rótulo de cooperação processual, são deveres que
complementam a garantia do contraditório, formando com esta uma simbiose, com o objetivo comum de ensejar a
obtenção, em tempo razoável, de decisão de mérito justa e efetiva”. In: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de
Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum.
57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. I. p. 84.

33 Fredie Didier afirma, nesse sentido, que, “o código deve ser interpretado como um conjunto de normas orgânico e
coerente. Surge daí o postulado interpretativo da unidade do Código”. In: DIDIER JR., Fredie. Curso de direito
processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. ed. Salvador:
JusPodivm, 2015. p. 151.

34 Humberto Theodoro Júnior elucida, no particular, que “o novo CPC (LGL\2015\1656) brasileiro esposa
ostensivamente o modelo cooperativo, no qual a lógica dedutiva de resolução de conflitos é substituída pela lógica
argumentativa, fazendo com que o contraditório, como direito de informação/reação, ceda espaço a um direito de
influência. Nele, a ideia de democracia representativa é complementada pela democracia deliberativa no campo do
processo, reforçando, assim, ‘o papel das partes na formação da decisão judicial’. Deve-se a Habermas a concepção
de democracia deliberativa, que eleva o status dos cidadãos, tornando-os titulares de direitos de participação nas
decisões estatais. A importância da doutrina citada manifesta-se, sobretudo, no processo, como registra Cabral: ‘surge
um peculiar espectro de cidadania, o status activus processualis, que consubstancia o direito fundamental de
participação ativa nos procedimentos estatais decisórios, ou seja, direito de influir na formação de normas jurídicas
vinculativas’”. In: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito
processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. I. p. 82.

35 Isto porque, conforme expressamente previsto na legislação processual, o pedido formulado pelo requerente se
limita à requisição para instauração do incidente, sendo instruído com os documentos necessários à demonstração do
preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente (caput e parágrafo único do artigo 977 do CPC/2015
(LGL\2015\1656)).

36 Artigo 257-A do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, incluído pela Emenda Regimental de nº 24, de
2016: “Incluída pelo relator, em meio eletrônico, a proposta de afetação ou de admissão do processo à sistemática
dos recursos repetitivos ou da assunção de competência, os demais Ministros do respectivo órgão julgador terão o
prazo de sete dias corridos para se manifestar sobre a proposição”.

37 Art. 257-D do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, incluído pela Emenda Regimental de nº 24, de
2016: “Afetado o recurso ou admitido o incidente, os dados serão incluídos no sistema informatizado do Tribunal,
sendo-lhe atribuído número sequencial referente ao enunciado de tema”.
Art. 257-E do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, incluído pela Emenda Regimental de nº 24, de 2016:
“Será publicada, no Diário da Justiça eletrônico, a decisão colegiada pela afetação do recurso ou pela admissão do
incidente, acompanhada das manifestações porventura apresentadas pelos demais Ministros”.

38 Relevante, pontuar, no particular, as considerações formuladas pelo jurista Friedrich Müller, nos seguintes termos:
“A norma jurídica precisa ser produzida no decurso temporal da decisão. Não existe ante casum: o caso da decisão
lhe é co-constitutivo. O texto da norma no código legal é (apenas) um dado de entrada do processo de trabalho
chamado ‘concretização’, ainda que um elemento de trabalho em posição de destaque. A norma jurídica criada no
caso está estruturada segundo ‘programa da norma’ e ‘âmbito da norma’, isto é, segundo o resultado da intepretação
lingüística e o conjunto dos fatos individuais e gerais do caso/tipo de caso conformes à interpretação lingüística. Assim
a ‘norma jurídica’ é agora um conceito composto que operacionaliza, torna trabalhável o problema tradicionalmente
irresolvido de ‘ser e/versus dever ser’”. In: MÜLLER, Friedrich. O novo paradigma do direito: introdução à teoria e
metódica estruturantes. Vários tradutores. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 139.

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39 DIDIER JR., Fredie; TEMER, Sofia. A decisão de organização do incidente de resolução de demandas repetitivas:
importância, conteúdo e o papel do Regimento Interno do Tribunal. In: DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo
Carneiro da (Coord.). Julgamento de casos repetitivos. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 234/235.

40 NUNES, Dierle José Coelho; HORTA, André Frederico. A doutrina do precedente judicial – fatos operativos,
argumentos de princípio e novo Código de Processo Civil. In: SCARPINELLA BUENO, Cassio. (Org.). PRODIREITO:
Direito Processual Civil: Programa de Atualização em Direito: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2015. p.
23.

41 Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver,
simultaneamente: [...] § 1º A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente.
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do
recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha
sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.

42 DIDIER JR., Fredie; TEMER, Sofia. A decisão de organização do incidente de resolução de demandas repetitivas:
importância, conteúdo e o papel do Regimento Interno do Tribunal. In: DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo
Carneiro da (Coord.). Julgamento de casos repetitivos. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 234/235.

https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 12/12

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