No livro “Direito Constitucional ao Recurso”, o autor Robson Renault Godinho, inicia a
introdução pontuando sobre o sistema recursal ter tido a depreciação de ser um
obstáculo a uma contribuição judicial rápida e eficaz, os mesmos foram elevados à condições de impasses inconvenientes para a duração razoável do processo. Sendo assim, o principal objetivo das propostas de mudanças na legislação, é enfatizar o protagonismo judicial na diminuição do julgamento da lide. O autor apresenta que, o afronta do direito de recorrer e a necessidade de reforma do sistema de recursos, são questões que merecem atenção, porém, enfatiza que é importante evitar uma abordagem simplista, pois ela, pode prejudicar o contraditório e a associação das partes no processo. Para se desenvolver sobre o tema, o autor expõe os seguintes tópicos: A recorribilidade das decisões José Carlos Barbosa Moreira apresenta que os motivos os quais decorrem a recorribilidade das decisões podem ser inúmeros, desde a pela plena certeza de que o órgão se decidiu de forma falha, até o luxo da vontade de se garantir tempo no processo. Aponta-se também que, a interposição de recursos, frequentemente é incentivada por razões remunerativas, com base na justificativa de "produtividade", que leva em consideração a quantidade de atos processuais praticados. Isso significa que, independentemente do mérito da decisão, recursos são apresentados, porque isso é beneficia economicamente os advogados contratados. Sendo assim, a Fazenda Pública, por exemplo, é a maior litigante do sistema judiciário brasileiro e, portanto, contribui significativamente para o grande volume de recursos. Humberto Theodoro Junior pesquisou e concluiu, que pela vasta recorribilidade das decisões interlocutórias no direito brasileiro, é notável o contraste com a origem histórica do agravo, e seu uso em sistemas jurídicos. A tradição brasileira permite um amplo espectro de recursos contra tais decisões, contribuindo para um excesso de agravos que sobrecarrega os tribunais. Ele apresenta então, uma proposta para lidar com esse problema, sendo a implementação de maior rigor na utilização da modalidade por instrumento, restringindo-a a casos excepcionais em que haja efetivo risco de dano irreparável ou de difícil reparação. Além disso, sugere a criação de um sistema de decisões irrecorríveis em relação a certas decisões interlocutórias, de modo a reduzir a litigiosidade e o congestionamento dos tribunais. Argumenta também que, em vez de proliferar recursos, seria preferível retornar à "era do mandado de segurança", buscando solucionar questões de legalidade diretamente perante o Poder Judiciário. Isso poderia aliviar a carga de trabalho dos tribunais, permitindo que eles se concentrem em casos mais complexos e relevantes.
Expostamente, a recorribilidade das decisões é um tópico importante a ser considerado
em nosso atual sistema recursal. Direito ao recurso e ao duplo grau de jurisdição Enfatiza-se que, o direito ao recurso não se iguala ao duplo grau de jurisdição. O direito ao recurso também, não deve se confundir com o direito de recorrer a inteiramente qualquer decisão, e fase do processo. É garantido que, apenas haja o mínimo de compatibilidade entre o direito posto e o direito aplicado, constata Calmon Passos. Sendo assim, o direito ao recurso, assegura o aperfeiçoamento do contraditório. Enquanto o duplo grau de jurisdição está no centro de um conflito clássico, entre a busca pela eficiência processual e a garantia da justiça e da correção nas decisões judiciais. Segundo apontamento, o duplo grau de jurisdição apresenta vantagens, como a experiência dos revisores, redução de erros, controle da decisão, análise mais abrangente do caso e uniformização da jurisprudência. No entanto, há desafios, como a violação do princípio da oralidade e da duração razoável do processo, a desvalorização do juiz de primeira instância e a aparente ineficácia devido à alta taxa de manutenção das decisões. Marinoni e Arenhart argumentam que a Constituição não garante o duplo grau de jurisdição de forma absoluta, apenas quando necessário para a ampla defesa, o que não se aplica em causas simples. Concluem que uma prestação jurisdicional eficaz e rápida é mais importante do que a revisão dupla do mérito. Afirmação que se baseia em autores italianos dos anos 1970, mas estudos posteriores indicam que a revisão dos fatos por meio de recursos é comum na sistemática processual inglesa desde 1998. Portanto, a relação entre o instituto do recurso e o duplo grau de jurisdição não é vinculativa, sendo o recurso mais associado à ideia de concluir um diálogo que ficou incompleto, perspectiva essa ressaltada por Dierle Nunes. A análise do tema sob a perspectiva dos direitos fundamentais De início, se frisa, que o Estado Democrático de Direito tem que ser comprometido com o devido processo legal e o contraditório. Antonio do Passo Cabral, destaca que o aumento do poder do juiz no processo moderno não precisa ser entendido como autoritário, desde que seja equilibrado pela participação das partes, que desempenham um papel fundamental. No entanto, o crescimento dos poderes do juiz pode se tornar perigoso se não houver mecanismos para evitar abusos. Nesse contexto, a participação efetiva das partes é essencial para o controle das decisões judiciais. Isso ressalta a importância de garantir que o contraditório inclua a atividade argumentativa das partes, que deve ser refletida na fundamentação das decisões judiciais. Isso representa implicações significativas no direito ao recurso. Além disso, o princípio do devido processo legal recebe uma nova perspectiva, incorporando o direito ao recurso como parte fundamental de seu conteúdo. A dimensão objetiva dos direitos fundamentais é importante e decorre de uma interpretação constitucional do processo. Essa abordagem implica que os direitos fundamentais não se limitam apenas a proteger os indivíduos contra ações do Estado, mas também têm um caráter jurídico-objetivo na Constituição. Eles representam um conjunto de valores objetivos essenciais e direcionadores da ação dos poderes públicos em todo o sistema jurídico, assumindo a posição de princípios fundamentais na estrutura da ordem jurídica-constitucional. Sendo assim, o contorno constitucional do direito ao recurso, deve-se ter como crucial as dimensões objetivas, tanto quanto as subjetivas fundamentais. Restrições à admissibilidade recursal Sobre o tópico, se destaca que a existência de um plano de admissibilidade na ingressão à justiça é crucial, mas não deve resultar na imposição de questões arbitrários que possam injustamente obstruir o acesso à justiça e o devido processo legal. Esse filtro não é absoluto ou desvinculado de outras considerações, especialmente a principal missão do processo, que é garantir a proteção dos direitos das partes envolvidas. O juízo de admissibilidade não visa impedir a tutela jurisdicional, mas sim interromper um processo que, por si só, é inviável. Se um requisito de admissibilidade for insuperável, a tutela jurisdicional não poderá ser concedida. No entanto, a ideia é que a extinção prematura do processo não seja automática ou considerada como algo natural. O objetivo é que o juízo de admissibilidade seja aplicado de maneira justa e de acordo com a garantia do acesso à tutela jurisdicional. O processo não é independente e seus fins são para a tutela jurisdicional. Portanto, o juízo de admissibilidade não deve ser automatizado, mas sim criterioso, evitando ser usado para frustrar o processo. O objetivo do processo é resolver questões de direito material. Sendo assim, a admissibilidade da tutela jurisdicional existe para evitar atos processuais inviáveis, não para impedir o acesso à tutela do direito material. Infelizmente, é apontado que o plano de admissibilidade tem sido utilizado como um meio de desafiar o direito constitucional ao recurso, criando obstáculos artificiais com o único propósito de evitar sua utilização pelas partes. Se destaca também, requisitos abusivos na admissão de recursos, tal como a “jurisprudência defensiva”, que impede o conhecimento de recursos. Outro problema apresentado é o julgamento dos recursos em massas ou de causas recorrentes. E por fim, se menciona a questão relacionada a recorribilidade da omissão em decidir, sendo ela, a situação que se adia o pronunciamento sobre uma pretensão, sem a devida manifestação judicial. Ressalta-se que a negação de jurisdição é a maior violência que pode se realizar em um processo, já que se age contra sua finalidade principal. Conclusão Assim como se analisou Dierle Nunes, a associação dos recursos devem ter visibilidade, como um local para efetivação do contraditório e legitimação de um processo verdadeiramente democrático. Porém, como enfatiza Robson Renault, o sistema recursal precisa de reformas estáveis e profundas, e essas mudanças devem ser baseadas em ideias alinhadas com o modelo constitucional do processo, e fundamentadas em dados estatísticos e debates pluralistas. Aponta-se, por fim, que a pressa em implementar reformas pode prejudicar o processo, mesmo que seja justificada como uma maneira de torná-lo mais eficaz, já que o termo "efetivo" tem perdido seu significado concreto ao longo do tempo.