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Elias Guilherme Trevisol Advogado Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Juízes criminais e suas sentenças fast-food

A prática judicial forense não deixa dúvidas, as decisões dos magistrados criminais estão cada vez mais suscintas e com menor
profundidade. Assoberbados de processos em pauta para julgamento e com um Sistema que só alimenta a demanda, apressam-
se para atender seu ofício judicante, sem no entanto, a devida análise das provas e demais elementos processuais, resultando em
sentenças em massa ou de produção, em série.

Denota o ilustre doutrinador Alexandre Morais da Rosa, em brilhante obra, que na busca pela eficiência, magistrados criminais
estão numa empreitada que visa a sumarização do processo penal, não importante se tal elemento constitucional (art. 37, da
Constituição Federal), ponha a baixo direitos fundamentais como a ampla defesa, o direito à recursos, etc. O discurso, portanto,
pauta-se pela produção eficiente do Juiz, porém, desencadeia condenações "fast-food", do tipo "peça pelo número", implicando na
"McDonaldização" do direito processual penal e na "standartização da acusação", tudo em nome de uma "McPena-Feliz"[1].
Exposta a verdade fática e prática do cotidiano forense na seara penal, há que analisarmos os fatores incidentes no presente
dilema de sentenças penais sem o devido apuro em contrapartida de um processo penal que visa a proteção democrática e
controle do Poder do Estado perante o acusado[2].

Em princípio, dever-se-ia perseguir um processo penal de modelo acusatório e não inquisitório como temos hoje, ao menos de
forma jurisprudencial, na fase de inquérito policial, não existindo o sistema misto, como alguns doutrinadores insistem em
argumentar[3].

A superação do dilema entre qual Sistema penal está vigente no país, se inquisitório ou acusatório, se faz urgente, devendo haver
adequação do Sistema às normas de Direitos Humanos (normas e Pactos Internacionais) e à Constituição Federal de 1988[4].

O Sistema acusatório teve seu berço no direito grego e se faz imperativo em nosso processo penal atual, configurando um
processo de partes – acusador e acusado – situação em que o Juiz se queda inerte, imparcial, mero espectador das provas
produzidas tanto pelo órgão acusador, quanto pela defesa, delineando um processo penal em contraditório, portanto, mais
justo[5].

Com vistas à aplicação de um processo penal acusatório em nosso país, houve a edição da nova Lei nº 13.245/16, modificando
em parte o inquérito policial, oportunizando ao Advogado apresentar razões e quesitos na defesa de seu cliente (artigo 7º, XXI,
a)), todavia, embora louvável a intenção legislativa, a implementação do Sistema acusatório deve ter contornos não só legais, mas
culturais, no intuito de fazermos valer decisões judiciais mais equilibradas e que respeitem o contraditório e a ampla defesa[6].

Há aqui, sobretudo, que priorizarmos o Princípio do Contraditório, direito, em suma, das partes à contrapor o que a outra arguiu
em seu desfavor.[7]

É no cenário procedimental em contraditório que se deve fazer a análise das provas pelo magistrado criminal, protegendo o direito
das partes em poder exercer os próprios diereitos de cada uma.
É dizer, permitir uma adequada acusação pelo Ministério Público ou querelante e em contrapartida, ainda mais relevante dado ao
Princípio Constitucional da Inocência, ofertar ao acusado o amplo direito à defesa, tanto técnica, qaunto pessoal.
Realizando o modelo de Sistema acusatório, estará assegurando o Estado-Juiz, a mínima dialeticidade e paridade de armas entre
as partes[8].

Daí que se deve sobrepor o Sistema penal acusatório, imantado de vários princípios constitucionais, ao solitário princípio da
eficiência da administração pública, ou seja, embora saibamos que há pressão contidiana aos Juízes para que julguem de forma
mais rápida, atualmente exigência também regulada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), deve haver, na prática, o efetivo
respeito às regras de Direitos Humanos, inclusive, harmonizando as decisões para com os Pactos Internacionais relacionados ao
tema e concreto alinhamento das decisões ao que regra nossa Lei Maior, iniciando por uma leitura constitucional do direito
penal[9].
É na análise do Sistema penal acusatório que podemos desconstituir as repetidas sentenças penais reformadas através dos
recursos. Se evitarmos os erros de julgamento, tanto de procedimento (error in procedendo), quanto do próprio julgamento da
matéria (error in judicando), durante o processo penal, não teremos mais que ouvir "qual é o número de seu pedido?" e nos
depararmos com sentenças penais condenatórias ao estilo "fast-food", afinal, nem sempre estamos com fome, mas almejamos
sim, a efetiva e prática Justiça por parte do judiciário.

Elias Guilherme Trevisol é Doutorando em Direito e Ciências Sociais pela Universidade de Córdoba, Argentina. Advogado
Criminalista.

Disponível em: http://www.justificando.com/2016/02/03/juizes-criminais-e-suas-sentencas-fast-food/


Acesso em 7 maio 2019

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