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PROCESSO PENAL

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Noções Introdutórias.........................................................................................................................................................................3
Investigação Preliminar....................................................................................................................................................................11
Ação Penal .......................................................................................................................................................................................30
Competência Criminal .....................................................................................................................................................................46
Provas ..............................................................................................................................................................................................74
Medidas Cautelares no Processo Penal ..........................................................................................................................................101
Questões e Processos Incidentes ...................................................................................................................................................133
Comunicação dos Atos Processuais ................................................................................................................................................149
Procedimento .................................................................................................................................................................................155
Ação Civil Ex Delicto ........................................................................................................................................................................178
Tribunal do Júri ...............................................................................................................................................................................181
Sentença .........................................................................................................................................................................................206
Nulidades ........................................................................................................................................................................................215
Recursos .........................................................................................................................................................................................225
Ações Autônomas de Impugnação .................................................................................................................................................247

Este material foi elaborado a partir da apostila de aula do curso de Renato Brasileiro de 2014,
quando este ainda dava aula no CERS, da leitura integra do Manual de Processo Penal do mesmo autor
(edição 2017) e jurisprudência do Dizer o Direito.

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NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

1. INTRODUÇÃO
Eis o grande dilema do processo penal: de um lado, o necessário e indispensável respeito aos direitos e garantias
fundamentais; do outro, o atingimento de um sistema criminal mais operante e eficiente. Há de se buscar, portanto, um ponto
de equilíbrio entre a exigência de se assegurar ao investigado e ao acusado a aplicação das garantias fundamentais do devido
processo legal e a necessidade de maior efetividade do sistema persecutório penal para a segurança da coletividade.

2. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS


2.1. Sistema inquisitorial
Tem como característica principal o fato de as funções de acusar, defender e julgar encontrarem-se concentradas em
uma única pessoa, que assume assim as vestes de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor, que não é dotado, portanto, de
imparcialidade. Não há falar em contraditório; o juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória e o acusado é mero
objeto do processo.

2.2. Sistema acusatório


Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições, e a
ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma separação das funções de acusar, defender e
julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimo actum trium personarum.
Historicamente, o processo acusatório tem como suas características a oralidade e a publicidade, nele se aplicando o
princípio da presunção de inocência.
Ainda que se admite que o juiz tenha poderes instrutórios, essa iniciativa deve ser possível apenas no curso do
processo, em caráter excepcional, como atividade subsidiária da atuação das partes.
No sistema acusatório, a gestão das provas é função das partes, cabendo ao juiz um papel de garante das regras do
jogo, salvaguardando direitos e liberdades fundamentais.
É o sistema acolhido de forma explícita pela CF/88 em seu art.129, I, que confere ao MP a iniciativa para a propositura
da ação penal pública.
O que efetivamente diferencia o sistema inquisitorial do acusatório é a posição dos sujeitos processuais e gestão da
prova.
Em síntese, pode-se trabalhar com o seguinte quadro comparativo entre os dois sistemas:

SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATÓRIO


Não há separação das funções de acusar, defender e julgar, Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por
que estão concentradas em uma única pessoa, que assume consequência, caracteriza-se pela presença de partes
as vestes de um juiz inquisidor; distintas (actum trium personarum), contrapondo-se
acusação e defesa em igualdade de condições, sobrepondo-
se a ambas um juiz, de maneira equidistante e imparcial;
Como se admite o princípio da verdade real, o acusado não é O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da
sujeito de direitos, sendo tratado como mero objeto do busca da verdade, devendo a prova ser produzida com fiel
processo, daí por que se admite inclusive a tortura como observância ao contraditório e à ampla defesa;
meio de se obter a verdade absoluta;
Gestão da prova: o juiz inquisidor é dotado de ampla Gestão da prova: recai precipuamente sobre as partes. Na
iniciativa probatória, tendo liberdade para determinar de fase investigatória, o juiz só deve intervir quando provocado
ofício a colheita de elementos informativos e de provas, seja e desde que haja necessidade de intervenção judicial.
no curso das investigações, seja no curso da instrução Durante a instrução processual, prevalece o entendimento
processual; de que o juiz tem certa iniciativa probatória, podendo
determinar a produção de provas de ofício, desde que o faça
de maneira subsidiária;
A concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa A separação das funções e a iniciativa probatória residual
acusatória dela decorrente é incompatível com a garantia da restrita à fase judicial preserva a equidistância que o
imparcialidade (CADH, art.8º, §1º) e com o princípio do magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes,
devido processo legal. sendo compatível com a garantia da imparcialidade e com o
princípio do devido processo legal.

2.3. Sistema misto ou francês


É chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas fases distintas: a primeira fase é tipicamente
inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a
materialidade e a autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o
réu se defende e o juiz julga, vigora, em regra, a publicidade e a oralidade.
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3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL
Em face da incorporação da CADH ao ordenamento pátrio, o Brasil assume, então, o dever de adotar medidas
legislativas para dar efetividade aos direitos preconizados na referida Convenção (art.2º). Esta pode ser garantida em 3
perspectivas: a) utilização da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e das opiniões consultivas na
interpretação dos casos penais internos de cada país; b) controle difuso da convencionalidade, a ser exercido pelos magistrados
em cada caso concreto, nos termos do art.5º, §§2º e 3º da CF; c) controle concentrado ou abstrato de convencionalidade, a ser
realizado pela CIDH, em sua jurisdição contenciosa e consultiva, e pelos Tribunais, após a EC nº 45/04.
De se notar, portanto, que as decisões da CIDH gozam de eficácia vinculante, nos termos dos arts.67, 68.1 e 68.2 da
CADH. São dotadas de autoridade de coisa julgada formal e material, devendo, pois, ser cumpridas de forma eficaz e integral.

3.1. Da Presunção de inocência (ou da não culpabilidade)


3.1.1. Noções introdutórias
O direito de não ser declarado culpado enquanto ainda há dúvida sobre se o cidadão é culpado ou inocente foi acolhido
no art.9º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), no art.11.1 da Declaração Universal de Direitos Humanos,
no art.14.2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, no art.8º, §2º da CADH e no art.5º, LVII, da CF/88.
Comparando-se a forma como referido princípio foi previsto nos Tratados Internacionais e na Constituição Federal,
percebe-se que, naqueles, costuma-se referir à presunção de inocência, ao passo que a CF em momento algum utiliza a
expressão inocente, dizendo, na verdade, que ninguém será considerado culpado. Por conta dessa diversidade terminológica, o
preceito inserido na Carta magna passou a ser denominado de presunção de não culpabilidade.
Na jurisprudência brasileira, ora se faz referência ao princípio da presunção de inocência, ora ao princípio da presunção
de não culpabilidade.
Do princípio da presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade) derivam duas regras fundamentais: a regra
probatória (também conhecida como regra de juízo) e a regra de tratamento, objeto de estudo nos próximos tópicos.

3.1.2. Da regra probatória (in dubio pro reo)


Por força da regra probatória, a parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado além de
qualquer dúvida razoável, e não este de provar sua inocência.
Como consequência da regra probatória, destaca-se: a) a incumbência do acusador de demonstrar a culpabilidade do
acusado; b) a necessidade de comprovar a existência dos fatos imputados, não de demonstrar a inconsistência das desculpas do
acusado; c) tal comprovação deve ser feita legalmente; d) impossibilidade de se obrigar o acusado a colaborar na apuração dos
fatos.
Nesta acepção, presunção de inocência confunde-se com in dubio pro reo.

3.1.3. Da regra de tratamento


A privação cautelar da liberdade, sempre qualificada pela nota da excepcionalidade, somente se justifica em hipóteses
estritas, ou seja, a regra é responder ao processo penal em liberdade, a exceção é estar preso. São manifestações claras desta
regra de tratamento a vedação de prisões processuais automáticas ou obrigatórias e a impossibilidade de execução provisória
ou antecipada da sanção penal.
Há quem entenda que esse dever de tratamento atua em duas dimensões: a) interna ao processo: funciona como
dever imposto, inicialmente, ao magistrado, no sentido de que o ônus da prova recai integralmente sobre a parte acusadora,
devendo a dúvida favorecer o acusado. Ademais, as prisões cautelares devem ser utilizadas apenas em situações excepcionais;
b) externa ao processo: o princípio da presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade
demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado, funcionando como limites democráticos
à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do próprio processo judicial.

3.1.4. (In)constitucionalidade da execução provisória da pena


Pelo menos em regra, os recursos extraordinário e especial não são dotados de efeito suspensivo (art.637 do CPP c/c
arts.995 e 1.029, §5º, NCPC). Por isso, prevaleceu, durante anos, o entendimento jurisprudencial segundo o qual era cabível a
execução provisória de sentença penal condenatória recorrível, independentemente da demonstração de qualquer hipótese
que autorizasse a prisão preventiva do acusado.
Ocorre que, no julgamento do HC 84.078 no ano de 2009, o Plenário do STF alterou a jurisprudência até então
dominante para concluir que a execução da pena só poderia ocorrer com o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Todavia, em julgamento histórico realizado em 17 de fevereiro de 2016 (HC 126.292), o STF concluiu que é possível a
execução provisória de acórdão penal condenatório proferido por Tribunal de 2ª instância no julgamento de apelação, ainda que
sujeito a recurso especial ou extraordinário, e mesmo que ausentes os requisitos da prisão cautelar, sem que se possa objetar
suposta violação ao princípio da presunção de inocência, já que é possível fixar determinados limites para referida garantia
constitucional. Para justificar essa nova orientação foram apontados os seguintes fundamentos:
a) Deve ser buscado o necessário equilíbrio entre o princípio da presunção de inocência e a efetividade da função
jurisdicional penal, que deve atender a valores caros não apenas aos acusados, mas também à sociedade;

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b) É no âmbito das instâncias ordinárias que se exaure a possibilidade de exame de fatos e provas e, sob esse aspecto, a
própria fixação da responsabilidade criminal do acusado. É dizer, os recursos de natureza extraordinária não
configuram desdobramentos do duplo grau de jurisdição, porquanto não são recursos de ampla devolutividade, já que
não se prestam ao debate da matéria fática probatória;
c) Se houve, em 2º grau, um juízo de incriminação do acusado, fundado em fatos e provas insuscetíveis de reexame pela
instância extraordinária, parece inteiramente justificável a relativização e até mesmo a própria inversão, para o caso
concreto, do princípio da presunção de inocência até então observado;
d) A lei da Ficha Limpa expressamente consagra como causa de inelegibilidade a existência de sentença condenatória por
crimes nela relacionados quando proferidas por órgão colegiado;
e) Não se pode afirmar que, à exceção das prisões em flagrante, temporária, preventiva e decorrente de sentença
condenatória transitada em julgado, todas as demais formas de prisão foram revogadas pelo art.283 do CPP;
f) Em nenhum país do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica
suspensa, aguardando referendo da Suprema Corte;
g) A jurisprudência que assegurava a presunção de inocência até o trânsito em julgado de sentença condenatória vinha
permitindo a indevida e sucessiva interposição de recursos da mais variada espécie, com indisfarçados propósitos
protelatórios;
h) Quanto a eventuais equívocos das instâncias ordinárias, não se pode esquecer que há instrumentos aptos a inibir
consequências danosas para o condenado, suspendendo, se necessário, a execução provisória da pena, como, por
exemplo, medidas cautelares de outorga de efeito suspensivo ao RExt e REsp e o HC.

Renato Brasileiro: com a devida vênia à maioria dos Ministros do STF que admitiram a execução provisória da pena,
parece-nos que esse novo entendimento contraria flagrantemente a CF, que assegura a presunção de inocência (ou de não
culpabilidade) até o trânsito em julgado de sentença condenatória (art.5º, LVII), assim como o art.283 do CPP, que só admite, no
curso da investigação ou do processo – é dizer, antes do trânsito em julgado de sentença condenatória -, a decretação da prisão
temporária ou preventiva por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
Por mais que a CADH estenda o princípio da presunção de inocência até a comprovação legal da culpa, o que ocorre
com a prolação de acórdão condenatório no julgamento de um recurso, não se pode perder de vista que a CF é categórica ao
afirmar que somente o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória poderá afastar o estado inicial de não
culpabilidade de que todos gozam. Seu caráter mais amplo deve prevalecer, portanto, sobre o teor da CADH. De fato, a própria
Convenção prevê que os direitos nela estabelecidos não poderão ser interpretados no sentido de restringir ou limitar a aplicação
de normas mais amplas que existam no direito interno dos países signatários. Em consequência, deverá sempre prevalecer a
disposição mais favorável (princípio pro homine).
Ademais, o art.637 do CPP foi tacitamente revogado pela Lei 12.403/11, que conferiu nova redação ao art.283 do CPP.
A solução para o caos do sistema punitivo brasileiro deve passar por uma mudança legislativa, e não jurisprudencial,
como feita pelo STF.

3.2. Princípio do contraditório


CF, Art.5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
São dois os elementos do contraditório: a) direito à informação; b) direito de participação. O contraditório seria, assim,
a necessária informação às partes e a possível reação a atos desfavoráveis.
Na dicção de Badaró, houve uma dupla mudança – subjetiva e objetiva – na noção de contraditório: quanto ao seu
objeto, deixou de ser o contraditório uma mera possibilidade de participação de desiguais, passando a se estimular a
participação dos sujeitos em igualdade de condições. Subjetivamente, porque a missão de igualar os desiguais é atribuída ao juiz
e, assim, o contraditório não só permite a atuação das partes, como impõe a participação do julgador.

3.2.1. Contraditório para a prova e contraditório sobre a prova


O contraditório para a prova (ou contraditório real) demanda que as partes atuem na própria formação do elemento de
prova, sendo indispensável que sua produção se dê na presença do órgão julgador e das partes. É o que acontece com a prova
testemunhal colhida em juízo.
O contraditório sobre a prova (contraditório diferido ou postergado) é o reconhecimento da atuação do contraditório
após a formação da prova. É o que acontece com a interceptação telefônica judicialmente autorizada no curso das
investigações.

3.3. Princípio da ampla defesa


CF, Art.5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Enquanto o contraditório manifesta-se em relação a ambas as partes, a ampla defesa diz respeito apenas ao réu.

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Sob a ótica que privilegia o interesse do acusado, a ampla defesa pode ser vista como um direito; todavia, sob o
enfoque publicístico, no qual prepondera o interesse geral de um processo justo, é vista como uma garantia.
Quando a CF assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral a ampla defesa,
entende-se que a proteção deve abranger o direito à defesa técnica (processual ou específica) e à autodefesa (material ou
genérica).
Por força da ampla defesa, admite-se que o acusado seja formalmente tratado de maneira desigual em relação à
acusação, delineando o viés material do princípio da igualdade. Por consequência, ao acusado são outorgados diversos
privilégios em detrimento da acusação, como a existência de recursos privativos da defesa, a proibição da reformatio in pejus, a
regra do in dubio pro reo, a previsão de revisão criminal exclusivamente pro reo, etc., privilégios estes que são reunidos no
princípio do favor rei.

3.3.1. Defesa técnica (processual ou específica)


Defesa técnica é aquela exercida por profissional da advocacia, dotado de capacidade postulatória, seja ele advogado
constituído, nomeado ou defensor público. A defesa técnica é necessária, indeclinável, plena e efetiva.

3.3.1.1. Defesa técnica necessária e irrenunciável


A defesa técnica é indisponível e irrenunciável.
CPP, Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
Logicamente, se o acusado é profissional de advocacia, poderá exercer sua própria defesa técnica.

3.3.1.2. Direito de escolha do defensor


Em virtude da relação de confiança que necessariamente se estabelece entre o acusado e quem o defende, entende-se
que um dos desdobramentos da ampla defesa é o direito que o acusado tem de escolher seu próprio advogado. Logo, não sendo
possível ao defensor constituído assumir ou prosseguir na causa, incumbe ao juiz ordenar a intimação do réu para que este,
querendo, escolha outro advogado. Antes de realizada essa intimação (ou enquanto não exaurido o prazo nela assinalado), não
é lícito ao juiz nomear defensor dativo. Nomeado defensor dativo, o acusado pode, a todo tempo, nomear outro de sua
confiança ou a si mesmo defender, caso tenha habilitação (art.263, CPP). Neste sentido, a súmula 707 do STF preconiza que
constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia,
não a suprindo a nomeação de defensor dativo.

3.3.1.3. Defesa técnica plena e efetiva


Não é suficiente assegurar a presença formal de defensor técnico, é necessário que a defesa seja plena e efetiva.
Recai sobre o MP e o juiz o dever de fiscalizar a atuação defensiva do advogado, evitando-se, assim, possível
caracterização de nulidade absoluta do feito, por violação à ampla defesa.
CPP, Art.261, Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através
de manifestação fundamentada.
Súmula 523 STF: No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver
prejuízo para o réu.

3.3.2. Autodefesa (material ou genérica)


Autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo. É disponível, já que não há
como se compelir o acusado a exercer seu direito ao interrogatório nem tampouco a acompanhar os atos da instrução
processual.
Eventual ofensa ao direito do acusado de exercer sua própria defesa é causa de nulidade absoluta por violação à ampla
defesa.
A autodefesa se manifesta no processo penal de várias formas: a) direito de audiência; b) direito de presença; c)
capacidade postulatória autônoma do acusado.

3.3.2.1. Direito de audiência


O direito de audiência pode ser entendido como o direito que o acusado tem de apresentar ao juiz da causa a sua
defesa, pessoalmente. Esse direito se materializa através do interrogatório do réu. Daí o entendimento hoje majoritário em
torno da natureza jurídica do interrogatório: meio de defesa.

3.3.2.2. Direito de presença


Por meio do direito de presença, assegura-se ao acusado a oportunidade de, ao lado de seu defensor, acompanhar atos
de instrução, auxiliando-o na realização da defesa. Daí a importância da obrigatória intimação do defensor e do acusado para
todos os atos processuais.
Se o direito de presença é um desdobramento da autodefesa, a qual é disponível, conclui-se que o comparecimento do
réu aos atos processuais, em princípio, é um direito, e não um dever, sem embargo da possibilidade de sua condução coercitiva,

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caso necessário, por exemplo, para audiência de reconhecimento, ato este que não está protegido pelo direito à não
autoincriminação. Nem mesmo ao interrogatório estará o acusado obrigado a comparecer, até mesmo porque a CF lhe assegura
o direito ao silêncio.
Não se trata, todavia, de um direito de natureza absoluta. Dentre os direitos fundamentais que podem colidir com o
direito de presença, legitimando sua restrição, encontram-se os direitos das testemunhas e das vítimas à vida, à segurança, à
intimidade e à liberdade declarar, os quais se revestem de inequívoco interesse público, e cuja proteção é indiscutível dever do
Estado.
CPP, Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e,
somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.
DE OLHO NA JURIS! Em julgados recentes, as Turmas do Supremo têm entendido que a alegação de necessidade da presença do
réu em audiências deprecadas, estando ele preso, configura nulidade relativa, devendo-se comprovar a oportuna requisição e
também a presença de efetivo prejuízo à defesa.

3.3.2.3. Capacidade postulatória autônoma do acusado


Em alguns momentos específicos do processo penal, defere-se ao acusado capacidade postulatória autônoma,
independentemente da presença de seu advogado. É por isso que, no processo penal, o acusado pode interpor recursos
(art.577, caput, CPP), impetrar HC (art.654, caput, CPP), ajuizar revisão criminal (art.623, CPP), assim como formular pedidos
relativos à execução da pena (art.195, caput, LEP).
Uma vez dado o impulso inicial pelo acusado, pensamos que, em seguida, e de modo a lhe assegurar a mais ampla
defesa, há de ser garantida a assistência de defensor técnico, possibilitando, a título de exemplo, a apresentação das respectivas
razões, etc.

3.3.3. Ampla defesa no processo administrativo disciplinar e na execução penal


CF, Art.5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

CUIDADO! A Súmula Vinculante 5 (“A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição) é aplicável apenas em procedimentos de natureza cível, e não em procedimento administrativo disciplinar no
âmbito da execução penal. A propósito, eis o teor da Súmula 533 do STJ, aprovada em 10/06/2015: “Para o reconhecimento da
prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo
diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor
público nomeado”.

3.4. Princípio da publicidade


O princípio da publicidade objetiva assegurar a transparência da atividade jurisdicional, oportunizando sua fiscalização
não só pelas partes, como por toda a comunidade.
Funciona a publicidade como pressuposto de validade não apenas dos atos processuais, mas também das próprias
decisões que são tomadas pelo Poder Judiciário.
CF, Art.93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena
de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes,
em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação;
CF, Art.5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

CPP, Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e
tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou
previamente designados.
§1o Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de
perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério
Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes.

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3.5. Princípio da busca da verdade: superando o dogma da verdade real
Durante muitos anos, foi dito que, no processo penal, vigorava o princípio da verdade material - também conhecido
como princípio da verdade substancial ou real -, onde a descoberta da verdade, obtida a qualquer preço, era a premissa
indispensável para a realização da pretensão punitiva do Estado.
Atualmente, a dicotomia entre verdade formal e material deixou de existir. Já não há mais espaço para a dicotomia
ente verdade formal (típica do processo civil) e verdade material (própria do processo penal).
No âmbito do processo penal, hodiernamente, admite-se que é impossível que se atinja a uma verdade absoluta. Por
esse motivo, tem prevalecido na doutrina mais moderna que o princípio que vigora no processo penal não é o da verdade
material ou real, mas sim o da busca da verdade. Seu fundamento legal consta do art.156 do CPP. Por força dele, admite-se que
o magistrado produza provas de ofício, porém apenas na fase processual, devendo sua atuação ser sempre complementar,
subsidiária. Na fase preliminar de investigações, não é dado ao magistrado produzir provas de ofício, sob pena de evidente
violação ao princípio do devido processo legal e à garantia da imparcialidade do magistrado.
ATENÇÃO! No âmbito dos Juizados, adota-se o princípio da busca da verdade consensual.

3.6. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos à abordado no material referente às provas.

3.7. Princípio do juiz natural à abordado no material referente à competência.

3.8. Princípio do nemo tenetur se detegere


3.8.1. Noções introdutórias
CF, Art.5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;
O direito ao silêncio é uma das várias decorrências do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a
produzir prova contra si mesmo. Além da CF, o princípio do nemo tenetur se detegere também se encontra previsto no Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art.14.3, “g”) e na CADH (art.8º, §2º, “g”).
Consiste, grosso modo, na proibição de uso de qualquer medida de coerção ou intimidação ao investigado (ou acusado)
em processo de caráter sancionatório para obtenção de uma confissão ou para que colabore em atos que possam ocasionar a
sua condenação.

3.8.2. Titular do direito de não produzir prova contra si mesmo


O art.5º, LXIII, da CF, segundo doutrina moderna, se presta a proteger não apenas quem está preso, como também
aquele que está solto, assim como qualquer pessoa a quem seja imputada a prática de um ilícito criminal. Pouco importa se o
cidadão é suspeito, indiciado, acusado ou condenado, e se está preso ou em liberdade.
ATENÇÃO! A testemunha, diferentemente do acusado, tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de
falso testemunho, porém não está obrigada a responder sobre fato que possa, em tese, incriminá-la. Daí ter decidido o Supremo
que não configura o crime de falso testemunho, quando a pessoa, depondo como testemunha, ainda que compromissada, deixa
de revelar fatos que possam incriminá-la.

3.8.3. Advertência quanto ao direito de não produzir prova contra si mesmo


Com o objetivo de se evitar a autoincriminação involuntária por força do desconhecimento da lei, deve haver uma
prévia e formal advertência quanto ao direito ao silêncio, sob pena de macular de ilicitude a prova então obtida. O acusado deve
ser advertido, ademais, que o direito ao silêncio é uma garantia constitucional, de cujo exercício não lhe poderão advir
consequências prejudiciais.
Trata-se, o art.5º, LXIII, de mandamento constitucional semelhante ao famoso aviso de Miranda do direito norte-
americano.
Com o objetivo de melhor assegurar o respeito aos direitos fundamentais, notadamente o nemo tenetur se detegere,
tem-se tornado comum a entrega ao preso, no momento de sua prisão, de uma nota de ciência das garantias constitucionais,
nos moldes do art.2º, §6º, da Lei da prisão temporária.

3.8.4. Desdobramentos do direito de não produzir prova contra si mesmo


Há uma tendência equivocada de se querer equiparar o princípio do nemo tenetur se detegere ao direito ao silêncio. No
entanto, o direito ao silêncio é apenas uma das decorrências deste princípio, que abrange:
a) O direito ao silêncio ou direito de ficar calado;
b) O direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal;
c) A inexigibilidade de dizer a verdade; à DE OLHO NA JURIS! Tem prevalecido o entendimento de que o direito ao
silêncio não abrange o direito de falsear a verdade quanto à identidade pessoal. Para o STF, tipifica o crime de falsa
identidade o fato de o agente, ao ser preso, identificar-se com nome falso, com o objetivo de esconder seus maus
antecedentes. A propósito, eis o teor da Súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante
autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

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d) O direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminar o indivíduo: não se pode exigir um
comportamento ativo do indivíduo de que possa resultar a autoincriminação. No entanto, em relação às provas que
demandam apenas que o acusado tolere a sua realização, ou seja, aquelas que exijam uma cooperação meramente
passiva (ex: reconhecimento pessoal), não há se falar em violação ao nemo tenetur se detegere.
e) O direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva. As intervenções corporais podem ser de duas
espécies: i. provas invasivas: são as intervenções corporais que pressupõem penetração no organismo humano; e ii.
provas não invasivas: consistem numa inspeção ou verificação corporal, são aquelas em que não há penetração no
corpo humano. Em se tratando de prova não invasiva (inspeções ou verificações corporais), mesmo que o agente não
concorde com a produção da prova, esta poderá ser realizada normalmente, desde que não implique colaboração ativa
por parte do acusado. Por outro lado, cuidando-se de provas invasivas, por conta do princípio do nemo tenetur se
detegere, a jurisprudência tem considerado que o suspeito, indiciado, preso ou acusado, não é obrigado a se
autoincriminar, podendo validamente recusar-se a colaborar com a produção da prova, não podendo sofrer qualquer
gravame em virtude dessa recusa.

3.8.5. Consequências do exercício do direito de não produzir prova contra si mesmo


Do exercício do direito de não produzir prova contra si mesmo não pode advir nenhuma consequência negativa ao
indivíduo, pois, se fosse possível estar-se-ia negando a própria existência desse direito, e até mesmo porque milita, em seu
benefício, o princípio da presunção de inocência, de cuja regra probatória deriva que o ônus da prova recai integralmente sobre
a acusação.

3.9. Princípio da proporcionalidade


O princípio da proporcionalidade não está previsto de maneira expressa na CF; porém, está inserido no aspecto
material do princípio do devido processo legal. Este princípio possui requisitos intrínsecos (também chamados de subprincípios
da proporcionalidade), quais sejam: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Por força da adequação, a
medida restritiva será considerada adequada quando for apta a atingir o fim proposto. Por força da necessidade, entende-se
que, dentre várias medidas restritivas de direito fundamentais idôneas a atingir o fim proposto, deve o Poder Público escolher a
menos gravosa. Já a proporcionalidade em sentido estrito é a verificação da relação de custo-benefício da medida, ou seja, da
ponderação entre os danos causados e os resultados a serem obtidos.

4. LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO


CPP, Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do
Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts.
86, 89, § 2º, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); à esse Tribunal Especial é o antigo Tribunal
de Segurança Nacional, que já não existe mais, visto que foi extinto pela Constituição de 1946.
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130) à a Lei de Imprensa foi considerada não recepcionada pela CF/88.
+ crimes eleitorais, que devem ser julgados pela Justiça Eleitoral, segundo legislação eleitoral.
+ crimes de abuso de autoridade, regulados pela Lei 4.898/65;
+ crimes de competência originária dos Tribunais, regulados pela Lei 8.038/90;
+ infrações de menor potencial ofensivo, reguladas pela Lei 9.099/95;
+ crimes falimentares, regulados pela Lei 11.101/05;
+ crimes contra os idosos previstos no Estatuto do Idoso;
+ crimes previstos na Lei Maria da Penha;
+ crimes previstos na Lei de Drogas.
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os
regulam não dispuserem de modo diverso.

CF, Art.5º, §4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.

O CPP adota o princípio da territorialidade (lex fori), ou seja, todo e qualquer processo penal que surgir no território
nacional deve ser solucionado consoante as regras do CPP. Há, todavia, exceções.

5. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO


CF, Art.5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; à Da mesma forma que a lei penal mais grave não pode
retroagir, é certo que a lei mais benéfica é dotada de extratividade: fala-se, assim, em ultratividade quando a lei, mesmo depois

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de ser revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência; por sua vez, retroatividade seria a possibilidade
conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor.

CPP, Art 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei
anterior. à Incide no processo penal o princípio da aplicabilidade imediata, no sentido de que a norma processual aplica-se tão
logo entre em vigor, sem prejuízo da validade dos atos já praticados anteriormente. Portanto, ao contrário da lei penal, que leva
em conta o momento da prática delituosa (tempus delicti), a aplicação imediata da lei processual leva em consideração o
momento da prática do ato processual (tempus regit actum).

ATENÇÃO! Às normas processuais mistas/híbridas/materiais (abrigam normas de natureza penal e processual penal) se aplica o
mesmo critério do direito penal, ou seja, tratando-se de norma benéfica ao agente, mesmo depois de sua revogação, referida lei
continuará a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência (ultratividade da lei processual mista mais benéfica); na hipótese
de novatio legis in mellius, referida norma será dotada de caráter retroativo.

CUIDADO! Normas processuais heterotópicas não se confundem com as normas processuais materiais. Enquanto a heterotópica
possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese estar incorporada a diploma de caráter distinto, a
norma processual mista ou híbrida apresenta dupla natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em
outra.

6. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL


CPP, Art.3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
gerais de direito.

6.1. Interpretação extensiva


Quanto ao resultado, a interpretação pode ser declaratória, restritiva, extensiva ou progressiva:
i. Interpretação declaratória: o intérprete não amplia nem restringe o alcance da norma, porquanto o significado ou
sentido da lei corresponde exatamente à sua literalidade.
ii. Interpretação restritiva: o intérprete diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que a norma disse mais do que
efetivamente pretendia dizer.
iii. Interpretação extensiva: o intérprete necessita ampliar o alcance da norma, uma vez que esta disse menos do que
pretendia dizer. Ex: hipóteses de cabimento do RESE.
iv. Interpretação progressiva: aquela que busca ajustar a lei às transformações sociais, jurídicas, científicas e morais
que se sucedem no tempo e que acabam por interferir na efetividade que buscou o legislador. Ex:
inconstitucionalidade progressiva do art.68 do CPP.

6.2. Analogia
Consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal relativa a um caso semelhante. Não se trata a
analogia de um método de interpretação, mas sim de integração. No direito penal (ou em se tratando de norma processual
mista), não se admite a analogia in malam partem.

6.3. Distinção entre analogia e interpretação analógica


A interpretação analógica permite, expressamente, a ampliação do alcance da norma. Neste caso, o legislador detalha
as situações que pretende regular, estabelecendo fórmulas casuísticas, para, na sequência, por meio de uma fórmula genérica,
permitir que tudo aquilo que a elas for semelhante também possa ser abrangido pelo mesmo dispositivo legal. Trata-se de
método de interpretação, como o próprio nome diz.

6.4. Aplicação subsidiária do NCPC ao processo penal


NCPC, Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste
Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
Quanto o art.15 do NCPC faz referência apenas aos processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, deve-se
concluir que houve uma omissão involuntária do legislador, que deve ser suprida pela interpretação extensiva para fins de ser
reconhecida a possibilidade de aplicação supletiva e subsidiária do NCPC ao processo penal (comum e militar).

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