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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS

JURÍDICAS
DEPARTAMENTO DE DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

JESSICA LISBOA DA PAZ

APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS CONSTITUCIONAIS DO


CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA SOB A ÓTICA DOS TRIBUNAIS
SUPERIORES

PONTA GROSSA
2024
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JESSICA LISBOA DA PAZ

APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS CONSTITUCIONAIS


DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA SOB A ÓTICA DOS TRIBUNAIS
SUPERIORES

Trabalho apresentado para a obtenção de nota


parcial, na disciplina de Direito Processual
Penal.

Professora: Christiane Cruvinel Queiroz

PONTA GROSSA
2024
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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo discorrer acerca dos princípios penais constitucionais
do contraditório e da ampla defesa, trazendo seus conceitos, a fundamentação legal dentro do
ordenamento jurídico brasileiro, sua aplicabilidade no código de processo penal, bem como
abordará uso de tais princípios em decisões do Superior Tribunal de Justiça, objetivando
demonstrar sua importância para a garantia da isonomia no processo penal.

Palavras-chave: Processo Penal; Princípios, Isonomia, Contraditório; Ampla Defesa


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ABSTRACT

The present work aims to discuss the constitutional criminal principles of adversarial and broad
defense, bringing its concepts, the legal basis within the Brazilian legal system, its applicability
in the code of criminal procedure, as well as addressing the use of such principles in decisions
of the Superior Court of Justice, aiming to demonstrate its importance in guaranteeing equality
in criminal proceedings.

Keywords: Criminal proceedings; Principles, Isonomy, Contradictory; Broad Defense


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................6

2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO…………………...................................................7

3 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA……………………...................................................8

4 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA NAS DECISÕES DO

STJ .........................................................................................................................................9

6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................11

REFERÊNCIAS....................................................................................................................12
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1 INTRODUÇÃO

No ordenamento jurídico brasileiro, os princípios do contraditório e da ampla defesa


assumem uma posição fundamental nas garantias constitucionais, pois dizem respeito ao
exercício do processo dentro de um Estado democrático de Direito, garantindo diretamente a
participação adequada e eficaz das partes envolvidas no processo, estando intimamente ligados
ao princípio da isonomia.

Os princípios do Contraditório e da Ampla defesa são assegurados pela Carta Magna em


seu artigo 5º, LV, da CF, o qual declara “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;”, garantindo a possibilidade de resposta e a utilização de todos os
meios de defesa permitidos pelo Direito.

Em consonância com a garantia fundamental constitucional, tendo em vista a importância


para o devido processo legal, o Código de Processo Penal, em seu art. 155 aduz:

O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova


produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas. (BRASIL, 1941)

No contexto do direito moderno brasileiro, os princípios do contraditório e da ampla defesa


ocupam uma posição fundamental, pois estão relacionados ao funcionamento do processo em um
Estado Democrático de Direito, assegurando diretamente a participação adequada e efetiva das partes
envolvidas no processo, estreitamente associados ao princípio da igualdade.

O legislador, ao instituir o tratamento igualitário, simultaneamente, não apenas se refere à


igualdade formal entre as partes, mas também à provisão de assistência judicial para alcançar o
equilíbrio processual, garantindo que ambas as partes tenham recursos equivalentes de defesa. Além
disso, impõe ao juiz a responsabilidade de garantir o contraditório no processo, visto que este é uma
salvaguarda da igualdade entre as partes.

Esses dois princípios estão interligados, uma vez que proporcionam oportunidades equitativas
de participação para os envolvidos no processo, permitindo que apresentem suas alegações conforme
seus interesses. Tais apontamentos representam as funções assumidas pelos princípios descritos: a
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garantia de participação e a possibilidade dos litigantes em produzirem as provas e a se pronunciarem
a respeito dos resultados.

2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

O contraditório aborda a bilateralidade dos atos processuais, impondo que as partes


devem ser dadas as condições necessárias para a justa participação no processo, o princípio diz
respeito não somente ao direito de contrapor-se, mas também à ciência acerca dos atos
praticados no processo judicial. É o direito de defesa das partes e de amplo conhecimento de
todos os atos processuais realizados durante o processo jurídico. Sobre o tema, Nucci leciona:

Significa dizer que a toda alegação fática ou apresentação de


prova, feita no processo por uma das partes, tem a outra,
adversária, o direito de se manifestar, havendo um perfeito
equilíbrio na relação estabelecida pela pretensão punitiva do
Estado em confronto com o direito à liberdade e à manutenção do
estado de inocência do acusado (art. 5.o, LV, CF). (NUCCI, 2023,
p.169)

Segundo Aury Lopes Jr. (2022, p.50) “O contraditório é visto em duas dimensões
(informazione e reazione), como direito à informação e reação (igualdade de tratamento e
oportunidades).”

No processo penal, após a apresentação inicial da acusação, seja ela de natureza pública ou
privada, é concedido à parte acusada o direito de contestar as alegações que a incriminam,
utilizando todos os meios de prova lícitos permitidos. O autor da ação, via de regra, é quem tem
o dever de provar as alegações feitas, para que sejam devidamente contestadas. O réu, por sua
vez, tem o direito de responder às alegações apresentadas contra si para que enfim o Estado,
personificado na figura do magistrado, resolva a controvérsia, sendo ele o guardião da
jurisdição. A inobservância do princípio do contraditório, nesse sentido, prejudica a relação
triangular fundamentalmente ligada ao desenvolvimento do processo.

A concretização do contraditório ocorre, portanto, por meio do conhecimento do processo


por intermédio do ato formal de citação, da oportunidade, mediante prazo estabelecido, para
contestar o pedido inicial, da chance de produzir provas, do direito de se manifestar sobre as
provas apresentadas pela outra parte, bem como da oportunidade de estar presente em todos os
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atos processuais orais, com direito à exposição de argumentos contrários; e a possibilidade de


recorrer caso a decisão não seja favorável ao que se deseja.

3 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

Nas palavras de Bonfim (2019, p.102) “ o princípio da ampla defesa consubstancia-se no


direito das partes de oferecer argumentos em seu favor e de demonstrá-los, nos limites em que
isso seja possível. Conecta-se, portanto, aos princípios da igualdade e do contraditório.” Para o
Processo Penal, a ampla defesa se caracteriza, além do resguardo contra um apontamento
contrário, como um princípio processual conectado ao contraditório.

De acordo com o autor, a defesa pode ser técnica, quando exercida por advogado
habilitado, garantindo paridades de armas diante da acusação, e a autodefesa é realizada pelo
próprio acusado por meio do direito de audiência e do direito de presença. Quando existente a
defesa técnica, as partes têm direito a produzir provas que digam respeito à causa. Desta forma,
se o juiz rejeita a produção de uma prova essencial ao andamento do processo e à apuração da
ocorrência, aí ocorre a violação ao exercício do direito à Ampla Defesa

Contudo, Bonfim explica que a decisão do juiz de indeferir uma prova não constitui
violação à ampla defesa:

Com efeito, deve-se também atentar para o princípio do livre


convencimento racional do juiz (“vide”, adiante). Se a prova faltante
não for, efetivamente, essencial para a apuração da verdade, ou
quando o juiz entender dispensável a prova requerida, por entender
suficiente a prova já existente, não se configurará a nulidade, desde
que a negativa em determinar sua produção seja razoável e desde
que seja devidamente motivada a decisão denegatória. (BONFIM,
2019, p.104)

Na ampla defesa, três subprincípios a caracterizam: a amplitude de alegação, amplitude


probatória e amplitude recursal. A amplitude da alegação garante ao autor o direito de alegar o
que desejar em sua petição inicial, dentro de certas restrições. Em outras palavras, tanto o autor
quanto o réu podem apresentar quaisquer provas, desde que sejam legítimas e lícitas.

Por fim, a amplitude recursal diz respeito ao direito das partes de contestar as decisões

judiciais por obscuridade (quando não estão claras) ou simplesmente por discordarem delas. As

partes podem recorrer de decisões interlocutórias (simples ou mistas) por meio do agravo de

instrumento e de sentenças por meio da apelação.


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4 PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA EM DECISÕES DO


STJ

O caso escolhido para exposição trata-se agravo em Recurso Especial nº 1.087.706 - PE


(2017/0097434-1),publicado em 02/05/2019, interposto por Daerson Luiz de Melo de decisão
do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, que não admitiu o recurso especial manejado
com apoio no art. 105, III, "a" e "c", da Constituição Federal. No Recurso, requeria-se, entre
outros pedidos, análise de violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa, posto que
teria sido dispensada a oitiva de uma das testemunhas arroladas pela acusação sem a anuência
da defesa.

O agravo foi interposto contra acórdão assim ementado:

"APELAÇÃO CRIMINAL. FORMAÇÃO DE QUADRILHA


ARMADA. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. RECURSO DA
DEFESA. PRELIMINAR DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DE
UM DOS RÉUS. ACOLHIDA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA. PRELIMINAR DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA.
PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO DA IMPUTAÇÃO DE QUADRILHA.
ALEGAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DE PROVAS.
INOCORRÊNCIA. CONDENAÇÃO MANTIDA. AFASTAMENTO
DA QUALIFICADORA DO BANDO ARMADO. AUSÊNCIA DE
REALIZAÇÃO DE PERÍCIA NA ARMA. PRESCINDIBILIDADE.
CRIME DE PERIGO ABSTRATO. PROVIMENTO DO RECURSO
DE ADRIANO ANTÔNIO. IMPROVIMENTO DO RECURSO DE
DAERSON LUIZ DE MELO. DECISÃO UNÂNIME. [...] 2. Não
configura violação ao contraditório ou a ampla defesa a não realização
da oitiva de uma vítima arrolado pela acusação e cujo interesse no
depoimento a defesa não foi manifestado nos autos;

Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, o agravo foi acolhido e passou ao exame


do apelo especial, onde foi proferida a decisão:
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V) - Ampla defesa e contraditório (arts. 201, 381, III, 400, 564, IV, do
CPP) O Tribunal de origem, com base nas provas dos autos, afastou a
alegada violação da ampla defesa e do contraditório. Para tanto,
apresentou os seguintes fundamentos:

"Alega a defesa que ao desistir da oitiva da referida testemunha, sem a


devida intimação à defesa, a autoridade julgadora findou por violar os
princípios constitucionais da ampla defesa e contraditório. Não
concordamos com a tese defensiva. Ora, inicialmente, observa-se que a
referida prova testemunhal foi proposta pela acusação, que incluiu Bozz
da Luz Vitalino no rol de testemunhas anexado à denúncia; no rol de
testemunhas da defesa (fl. 424) não consta a referida pessoa. Com
efeito, infrutífera a tentativa de localização da testemunha, desistiu-se
da sua oitiva, fato não contestado pela parte que havia manifestado
interesse de ouvi-la, qual seja, a acusação.

O ministro relator Ribeiro Dantas entendeu ilógico pensar em violação de ampla defesa
ou contraditório quando a testemunha deixa de ser ouvida e a parte que a arrolou não se
insurge.Em suas palavras:

Não se desconhece que determinadas testemunhas, pela sua


importância, a despeito da desistência da parte que a trouxe aos autos,
pode ainda ser ouvida, quando então o juiz a qualifica como testemunha
do juízo. Nessa mesma ordem de ideias, é possível que a outra parte,
justificando a utilidade do depoimento para sua tese, insista na oitiva
daquela. Esse não é, todavia, o caso dos autos. A defesa em nenhum
momento demonstrou o interesse em ouvir a referida testemunha. A
lógica, assim, não é que a autoridade judicial deveria perquirir o
interesse da defesa na oitiva de testemunha indicada pela acusação,
senão o contrário: deveria a defesa demonstrar o interesse, ainda que a
parte que propôs a prova desistisse da sua produção. (e-STJ, fl. 1531.)

Nestes termos, o Recurso Especial apreciado pelo ministro foi negado. A não oitiva da
testemunha foi a causa pela qual a defesa entendeu existir violação ao princípio do contraditório
e da ampla defesa. A tese não foi aceita pelo tribunal, declarando que a simples desistência da
oitiva não infringe os citados princípios. Ademais, os argumentos defensivos encontram óbice
na Súmula nº 7 do STJ, a qual aduz que ““A pretensão de simples reexame de prova não enseja
recurso especial”. O Superior Tribunal de Justiça, ao aceitar o referido recurso especial, estaria
incumbido de reexaminar as provas, dando sentido diverso ao estabelecido pelo tribunal de
origem, competência esta que não lhe cabe.
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5 CONCLUSÃO

Ante o exposto, compreende-se que o princípio do contraditório garante às partes o

direito de ter o conhecimento dos fatos, bem como o direito de resposta. Por sua vez, a ampla

defesa concede ao indivíduo o direito de alegar e se defender, podendo utilizar todos os meios

e recursos juridicamente válidos, impedindo assim qualquer restrição ao direito de defesa.

Da ampla defesa derivam direitos como a apresentação de argumentos antes da sentença, o

acesso às cópias do processo, a solicitação de produção de provas e a interposição de recursos

administrativos, mesmo que não previstos em lei.

Portanto, a ampla defesa abrange também o direito à assistência técnica. Esses princípios

são cruciais para garantir que o processo legal ocorra de maneira igualitária, em conformidade

com os preceitos constitucionais de um Estado Democrático de Direito, onde os litigantes

tenham acesso e participação equitativos no processo, com o intuito de alcançar a verdade

processual e uma sentença justa e imparcial.


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REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário


Oficial da União, Rio de Janeiro, 3 out. 1941.
BONFIM, Edilson Mougenot.Curso de Processo Penal.13.ed. Rio de Janeiro: SaraivaJur, 2019.

LOPES Jr, Aury. Direito Processual Penal. 19. ed. São Paulo : SaraivaJur, 2022.

NUCCI. Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 20. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2023, p.169.

NUCCI. Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 20. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2023, p.169.

PERNABUCO. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.087.706. APELAÇÃO

CRIMINAL. FORMAÇÃO DE QUADRILHA ARMADA. PORTE ILEGAL DE ARMA DE

FOGO[...] PRELIMINAR DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E

AMPLA DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA[...]. Daerson Luis de Melo contra Tribula de Justiça

e Pernambuco. Relator: Ministro Ribeiro Dantas. Brasília (DF), 30 de abril de 2019.

Jurisprudência do STJ. Brasilia. Disponível em:

https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?livre=AGRAVO+EM+RECURSO+ESPECIAL+N

+1.087.706&b=DTXT&p=true&tp=T. Acesso em 25/03/2024

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