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Audiência de custodiaa

A promulgação do “Pacote Anticrime “

Em vigor desde janeiro de 2020, o “Pacote Anticrime”, trouxe mudanças


importantes nas politicas criminais e na esfera processual penal no ordenamento
jurídico brasileiro, sendo que esta proposição foi feita com base na vontade da
sociedade e sua premente necessidade de se ter uma resposta à criminalidade e a
percepção que se teria de que havia uma impunidade e não satisfação da justiça
perante as atividades criminosas cada vez mais elaboradas, com a atuação do crime
organizado de modo cada vez mais pungente.

Tivemos varias Durante a tramitação do projeto no Senado Federal (PLS n.


6.341/2019), foi inserida a previsão expressa do sistema processual acusatório no
Código de Processo Penal com a criação do art. 3º-A, que dispõe:

“O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na


fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.”

Tal menção expressa poderia ser considerada um amadurecimento do


sistema penal brasileiro e da nossa democracia, pois atenderia uma vontade do
povo realizada pela mao de seus representantes e conforme leciona o doutrinador
do meu estado natal Bryan Lechenakoski 1:

Por ser um termômetro para aferir a democraticidade ou o autoritarismo de


um Estado, o estudo sobre sistemas processuais penais ultrapassa as barreiras
somente da relação processual, dizendo muito mais sobre o caráter autoritário ou
democrático de um Estado como todo.

Cabe aqui um breve histórico e explanação do sistema adotado pelo Pacote


anticrime e consequentemente da audiência de custodia, o já falado sistema
acusatório.

1
LECHENAKOSKI, Bryan Bueno. Processo penal e sistema acusatório: análise crítica dos sistemas
processuais penais ao ônus da prova. Curitiba: Editora Intersaberes, 2021. p. 25.
A doutrina já explica nas palavras do Professor Aury Lopes Junior2 :

O sistema acusatório já vinha sendo adotado antes mesmo da aprovação do


pacote anticrime, já estava claro que a Constituição Federal havia escolhido
implicitamente o sistema acusatório como o mais adequado para a dinâmica
processual penal brasileira. A Carta Magna deixa isso evidente ao desenhar o
núcleo do sistema afirmando que a acusação cabe ao Ministério Público (art. 129),
exigindo a separação entre acusar e julgar, e ao definir as regras do devido
processo legal e do contraditório (art. 5º)

Para Lopes Júnior3 :

O sistema acusatório é um imperativo do moderno processo penal: O sistema


acusatório é um imperativo do moderno processo penal, frente à atual estrutura
social e política do Estado. Assegura a imparcialidade e a tranquilidade psicológica
do juiz que sentenciará, garantindo o trato digno e respeitoso com o acusado, que
deixa de ser um mero objeto para assumir sua posição de autêntica parte passiva do
processo penal.

Hoje em dia, o sistema acusatório possui, em síntese, as seguintes


características:

I) clara distinção entre as atividades de acusar e julgar;

II) a iniciativa probatória deve ser das partes (decorrência lógica da distinção
entre as atividades);

III) mantém-se o juiz como um terceiro imparcial, alheio a labor de


investigação e passivo no que se refere à coleta da prova, tanto de imputação como
de descargo;

IV) tratamento igualitário das partes (igualdade de oportunidades no


processo);

2
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 15.

3
LOPES JÚNIOR, Aury. Fundamentos do Processo Penal: Introdução crítica. São Paulo:
Saraiva Educação
V) procedimento é em regra oral (ou predominantemente);

VI) plena publicidade de todo o procedimento (ou de sua maior parte);

VII) contraditório e possibilidade de resistência (defesa);

VIII) ausência de uma tarifa probatória, sustentando-se a sentença pelo livre


convencimento motivado do órgão jurisdicional;

IX) instituição, atendendo a critérios de segurança jurídica (e social) da coisa


julgada;

X) possibilidade de impugnar as decisões e o duplo grau de jurisdição.

A referida audiência tem fim precípuo de urgência de apresentação do preso


em flagrante ao juiz, sem demora, a fim de ter um controle sobre o ato praticado em
flagrante, as circunstâncias bem como a decisão imposta naquele momento.

A audiência de custodia tem como elemento de ligação com a cadeia de


custodia como dito por este trabalho a função de guardar, proteger e assegurar
direitos do preso apresentado, tais como os direitos humanos deste, as
peculiaridades da prisão ocorrida etc..

Leciona sobre o tema o professor Caio Paiva4:

O conceito de custódia se relaciona com o ato de guardar, de proteger. A


audiência de custódia consiste, portanto, na condução do preso, sem demora, à
presença de uma autoridade judicial, que deverá, a partir de prévio contraditório
estabelecido entre o Ministério Público e a Defesa, exercer um controle imediato da
legalidade e da necessidade da prisão, assim como apreciar questões relativas à
pessoa do cidadão conduzido, notadamente a presença de maus tratos ou tortura.

4
PAIVA, Caio. Audiência de Custódia e o Processo Penal Brasileiro. 3ª ed. Boa Esperança:
CEI, 2018. p.35.
Este instrumento observa todas as garantias do preso, evitando as tendentes
prisões arbitrárias ou ilegais. Neste momento serão ouvidos também o representante
do Ministério Público e a defesa do acusado, seja seu advogado contratado ou
defensor público.

O juiz irá avaliar a real necessidade da conversão da prisão em flagrante para


prisão preventiva ou não, poderá também verificar a necessidade de alguma medida
assistencial ou soltura do acusado.

O termo prescreve a urgência de trazer imediatamente o preso ao local do


crime perante um juiz, a fim de controlar os atos cometidos, as circunstâncias e as
decisões tomadas no local. Este instrumento honra o compromisso de todos os
presos de evitar prisões arbitrárias ou ilegais. Nesse momento, também deporão
em juízo representantes do Ministério Público e da defesa do réu, seja advogado
por ele contratado ou defensor público. O juiz irá avaliar se existe uma
necessidade real de converter a prisão atual em prisão preventiva e poderá
também verificar se são necessárias algumas medidas de assistência ou libertação
do arguido.

Vale ressaltar que, como explica Caio Paiva 5 :

a audiência de tutela não nasceu para obstruir o poder de punir do Estado,


"A inclusão ou limitação do poder de punir não significa condescendência com a
impunidade, mas prima pelo respeito às normas processuais, constitucionais e
convencionais que regem a atuação do sistema de justiça criminal".

Nesse sentido, devemos nos colocar dentro da lei e dela tirar os benefícios
dessa instituição. Os advogados têm um papel muito importante a desempenhar
nesta instituição, e é preciso ter muita clareza sobre os detalhes em sua percepção.
Ele terá que verificar se existem deficiências formais ou materiais na prisão, por

5
Ob.cit. pp. 35
exemplo, levando a um pedido de soltura ou verificando se há provas suficientes
de um crime.

Deve prevalecer a presunção de inocência, ou seja, a prisão Exceção


preventiva. Depois de analisar a verdadeira finalidade e finalidade de uma
audiência de custódia, o debate fica interessante. Isso permite que as partes
apontem adequadamente o seu propósito na audiência, evitando argumentos
frívolos ou irrelevantes para o procedimento.

Objetivos e peculiaridades da cadeia de custodia com o Pacote anticrime

Desde a implementação da audiência de custódia no sistema penal brasileiro,


fala-se em evitar prisões ilegais e garantir os direitos básicos dos arguidos presos
em flagrante delito. Esta afirmação é verdadeira, mas um julgamento de custódia
não é apenas para esta finalidade. Ressalte-se que o principal objetivo de sua
criação foi amenizar o atual sistema carcerário brasileiro, tendo em vista que a
prisão é uma medida excepcional.

A audiência de custódia tem sido discutida quanto a sua finalidade quanto a


sua aplicação na prática. É certo que hoje não há controle sobre como a condução
das negociações tutelares pode ser classificada de forma que não seja possível
saber se estão ocorrendo de forma adequada ou não, se estão de acordo com o
CNJ n. das normas regulamentares contidas em sua decisão.. 213/2015. como a
maioria dos juízes apenas investiga se houve ou não tortura policial, não avaliam
outros requisitos, como a legalidade da prisão ou a necessidade de manutenção da
prisão razão pela qual o objetivo inicial não foi alcançado, ou seja, a redução de
superlotação nos presídios brasileiros

Considerando que ultimamente, mesmo diante dos bons resultados das


reduções da população carcerária, as audiências tutelares continuam sendo um
tema bastante contestado e controverso. Algumas pessoas pensam que há uma
sensação de impunidade ou injustiça quando criminosos infringem a lei na rua, o que
é uma ideia errada e incompreensível. Lembramos que prevalece no país o princípio
constitucional da inocência, com exceção da prisão preventiva, sempre respeitada
com ampla defesa, e que logicamente será analisada caso a caso pelos
magistrados, sejam medidas preventivas de prisão, prisão preventiva ou mesmo
medidas de assistência social são necessárias.

Entao para aplicar adequadamente as audiências de tutela na execução,


várias agências trabalham juntas. Temos o poder judicial do próprio juiz, o advogado
brasileiro ordenando a presença de um advogado de defesa (se for o caso), o poder
administrativo para fiscalizar as autoridades policiais e a legalidade das ações
praticadas pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública escritório que irá
supervisionar, coordenar esforços para buscar uma audiência o resultado correto.

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