1 – Discorrer a respeito das medidas executivas atípicas previstas no art. 139, IV, do CPC, indicando o posicionamento do STF acerca da possibilidade de aplicação delas.
Diante da indagação acerca das medidas executivas atípicas previstas
no art. 139, IV, do Código de Processo Civil (CPC) e do posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre sua aplicação, é crucial ressaltar a amplitude conferida ao juiz para determinar medidas que assegurem o cumprimento de ordens judiciais, inclusive em casos de obrigações pecuniárias. Este dispositivo legal confere ao magistrado uma ferramenta fundamental para garantir a efetividade das decisões judiciais, especialmente quando os meios tradicionais se mostram insuficientes.
O STF, através da ADI 5.941, ratificou a constitucionalidade dessas
medidas atípicas, reconhecendo sua importância na busca pela efetividade do processo de execução. Contudo, é crucial destacar que sua aplicação deve ser criteriosa e pautada pela observância dos direitos fundamentais do devedor, como a dignidade da pessoa humana e o direito de ir e vir. Portanto, o exercício desse poder conferido ao juiz deve ser guiado pelo princípio da proporcionalidade, garantindo que a medida adotada seja adequada e necessária para alcançar o objetivo almejado.
A jurisprudência tem demonstrado uma tendência à ampla aplicação das
medidas atípicas, incluindo a apreensão de documentos como a CNH e o passaporte do devedor, bem como a suspensão de direitos como a participação em concursos públicos e licitações. Entretanto, é indispensável que tais medidas sejam adotadas de forma parcimoniosa, evitando-se excessos que possam resultar em violações dos direitos do executado.
É imperativo ressaltar que a aplicação indiscriminada e inadequada
dessas medidas pode acarretar consequências graves para o devedor, podendo afetar sua liberdade, dignidade e até mesmo seu sustento. Portanto, cabe ao magistrado avaliar cuidadosamente cada situação, considerando os interesses das partes envolvidas e buscando alternativas menos gravosas para alcançar a efetividade da decisão judicial.
É fundamental que o juiz promova o diálogo entre as partes e estimule a
utilização de métodos alternativos de resolução de conflitos, como a mediação e a conciliação, como forma de preservar a dignidade das partes e garantir uma justiça equitativa e eficaz. Assim, a aplicação das medidas executivas atípicas deve ser pautada pela busca do equilíbrio entre a efetividade do processo e a proteção dos direitos fundamentais dos envolvidos.
A decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à
constitucionalidade das medidas coercitivas atípicas para garantir o cumprimento de ordens judiciais representa um marco significativo no contexto do processo de execução no Brasil. Ao declarar a validade dessas medidas, o STF reconhece a necessidade de conferir ao juiz uma maior flexibilidade na escolha das ferramentas necessárias para assegurar a efetividade das decisões judiciais. Esse posicionamento abre espaço para uma abordagem mais pragmática e adaptável à complexidade das situações enfrentadas no âmbito do processo de execução.
Um exemplo emblemático que merece destaque é o julgamento do
Habeas Corpus 478.963/RS pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2018. Nesse caso, ficou estabelecido que as medidas coercitivas atípicas, como a apreensão de passaportes, poderiam ser adotadas desde que observados critérios específicos, tais como a comprovação de conduta temerária e evasiva das partes e a garantia do contraditório prévio. Essa decisão demonstra a preocupação do Poder Judiciário em conciliar a necessidade de efetividade do processo com a proteção dos direitos fundamentais das partes envolvidas.
O cerne da discussão em torno das medidas coercitivas atípicas reside
na busca por um equilíbrio entre a efetividade do processo de execução e a preservação dos direitos individuais. Nesse sentido, o STF, ao decidir pela constitucionalidade dessas medidas, reforça a importância de uma abordagem casuística, que leve em consideração as particularidades de cada caso concreto. Essa abordagem permite ao juiz avaliar, de forma criteriosa, a necessidade e adequação das medidas coercitivas em relação aos direitos das partes envolvidas.
A doutrina, representada por renomados juristas como Rafael
Vasconcellos de Araújo Pereira e Eduardo Cambi, destaca a relevância das medidas atípicas como instrumentos indispensáveis para garantir a efetividade do processo de execução. Essas medidas representam uma resposta eficaz às dificuldades enfrentadas pelo sistema judiciário na busca pelo cumprimento das decisões judiciais, especialmente diante da resistência ou inadimplência das partes. Além disso, a doutrina ressalta a necessidade de uma abordagem mais ampla e flexível, que permita ao juiz adaptar as medidas coercitivas de acordo com a complexidade e peculiaridade de cada situação.
Portanto, a decisão do STF em favor da constitucionalidade das medidas
coercitivas atípicas representa um avanço significativo no processo de execução no Brasil. Ao reconhecer a legitimidade dessas medidas, o STF fortalece o poder do juiz na busca pelo cumprimento das decisões judiciais, ao mesmo tempo em que reafirma o compromisso com a proteção dos direitos fundamentais das partes envolvidas. Assim, abre-se espaço para uma abordagem mais flexível e adaptável, capaz de conciliar a efetividade do processo com o respeito aos princípios constitucionais e garantias individuais.
A abordagem da atipicidade dos meios executórios, conforme delineada
no artigo 139, IV, do CPC, representa uma inovação significativa no âmbito do processo de execução no Brasil. Ao conferir ao magistrado a prerrogativa de determinar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para garantir o cumprimento das ordens judiciais, inclusive nas ações que envolvam prestações pecuniárias, o legislador busca promover uma tutela jurisdicional efetiva e adaptada à complexidade das situações enfrentadas.
A diferenciação entre as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais e
sub-rogatórias é fundamental para compreender a amplitude e a diversidade dos instrumentos disponíveis ao juiz. Enquanto as medidas indutivas visam influenciar o comportamento das partes por meio de incentivos positivos, as coercitivas exercem uma pressão negativa para compelir o cumprimento da obrigação. Por outro lado, as medidas mandamentais consistem em ordens judiciais diretas para efetivar as decisões, enquanto as sub-rogatórias permitem a substituição da conduta do obrigado por terceiros, visando alcançar o mesmo resultado.
A inserção do princípio da atipicidade dos meios executivos no CPC
reflete a preocupação em garantir a efetividade do processo de execução, especialmente nas demandas que envolvem obrigações de pagar quantia certa. Nesse contexto, o magistrado assume um papel mais ativo na escolha dos meios mais adequados para assegurar a satisfação do crédito do exequente, pautado pelos princípios da cooperação, proporcionalidade e razoabilidade.
Contudo, a atribuição de poderes mais amplos ao juiz na execução não
está isenta de críticas. Juristas como Lenio Streck e Dierle Nunes questionam a amplitude da cláusula geral prevista no artigo 139, IV, do CPC, argumentando que ela pode conduzir a uma interpretação superficial e utilitarista, em detrimento das garantias constitucionais e dos limites do devido processo legal.
Diante desse cenário, torna-se imprescindível que o magistrado, ao
adotar medidas atípicas, observe não apenas a necessidade de efetividade do processo, mas também o respeito aos direitos das partes e aos princípios que norteiam a execução, tais como o da menor onerosidade, a boa-fé processual e a cooperação entre os sujeitos processuais. Somente assim será possível conciliar a busca pela efetividade com a preservação dos valores constitucionais e garantias individuais.
2 – Dissertar acerca do princípio da menor gravosidade ou onerosidade na execução cível.
O princípio da menor onerosidade da execução, também conhecido
como princípio da menor gravosidade ao executado, desdobra-se como um importante corolário do direito processual civil brasileiro. Sua essência reside na busca por um equilíbrio entre a efetividade da tutela executiva e a preservação do patrimônio do devedor, promovendo uma execução que, embora eficaz para o credor, seja menos prejudicial para o devedor.
Dentro dessa perspectiva, o Código de Processo Civil (CPC), em seu
artigo 805, estabelece que a execução deve ser realizada de forma menos gravosa para o devedor, desde que isso não comprometa sua eficácia. Essa disposição legal impõe ao magistrado e às partes o dever de considerar, durante o processo executivo, medidas que minimizem o ônus suportado pelo executado, sem, no entanto, prejudicar o adimplemento do crédito do exequente.
Uma das expressões concretas desse princípio é a preferência
estabelecida pelo artigo 835 do CPC pela penhora em dinheiro como primeira opção. Tal escolha se justifica pelo fato de que a penhora em dinheiro tende a causar menos prejuízo ao devedor do que a penhora de outros bens, como imóveis ou veículos, por exemplo.
No entanto, é importante ressaltar que o princípio da menor onerosidade
não implica em uma imunidade absoluta do devedor em relação à constrição de seus bens. Pelo contrário, a execução se realiza no interesse do credor, conforme disposto no artigo 797 do CPC, sendo que o devedor deve colaborar de forma ativa para a efetivação do pagamento do crédito exequendo.
Assim, quando o devedor alega a existência de meios menos onerosos
para a execução, é imprescindível que ele indique tais meios de forma concreta, sob pena de não ser acolhida sua pretensão. Isso fica evidente no § único do artigo 805 do CPC, que estabelece essa exigência.
A jurisprudência brasileira tem se debruçado sobre questões relativas à
aplicação do princípio da menor onerosidade da execução, considerando diversos aspectos, como a eficácia da medida executiva, a suficiência dos meios apontados pelo devedor e a proteção dos interesses do credor.
O princípio da menor onerosidade da execução representa uma
importante garantia no processo civil brasileiro, assegurando que a satisfação do crédito seja realizada de forma eficaz, porém sem impor ao devedor ônus desproporcional ao seu patrimônio. Sua correta aplicação contribui para a justiça e equidade nas relações processuais de execução.
O princípio da menor onerosidade para o devedor, consagrado no artigo
620 do Código de Processo Civil (CPC), desempenha um papel crucial na condução das execuções judiciais, especialmente no contexto da busca pela efetivação dos créditos do exequente sem desconsiderar os direitos e a dignidade do executado.
Ao determinar que a execução seja realizada pelo modo menos gravoso
para o devedor, o legislador busca assegurar que a constrição judicial do seu patrimônio seja feita de maneira equitativa e proporcional, evitando situações de excessiva privação ou desfalque que possam comprometer sua subsistência ou seu padrão de vida.
Nesse sentido, é imperativo que o juiz, ao conduzir o processo
executivo, leve em consideração não apenas a necessidade de satisfação do crédito do exequente, mas também a situação econômica e as condições pessoais do executado. Isso implica em uma análise individualizada de cada caso, a fim de determinar quais medidas são mais adequadas para alcançar o resultado almejado com o menor impacto possível sobre o devedor.
É importante destacar que o princípio da menor onerosidade não pode
ser interpretado como um escudo para a inadimplência ou para a procrastinação da prestação jurisdicional. Pelo contrário, sua finalidade é evitar o abuso por parte do credor na busca pela satisfação de seu crédito, garantindo que o processo executivo seja conduzido de forma justa e equilibrada para ambas as partes.
No entanto, é comum que haja certa resistência à aplicação desse
princípio, especialmente no âmbito trabalhista, onde se argumenta que o executado é geralmente hipossuficiente em relação ao exequente. Contudo, isso não invalida a importância do princípio, pois seu objetivo é justamente proteger aqueles devedores que, embora inadimplentes, não possuem recursos suficientes para arcar com suas obrigações.
Assim, a correta interpretação e aplicação do princípio da menor
onerosidade para o devedor requer uma análise equilibrada e sensível das circunstâncias de cada caso, garantindo que a execução seja conduzida de forma a conciliar os interesses do credor com os direitos e garantias fundamentais do executado. Somente assim será possível promover uma justiça efetiva e equitativa no âmbito das execuções judiciais. 3 – conceituar a fraude à execução, indicando os elementos necessários para a sua caracterização, levando em conta a Súmula 375 do STJ e o par. 4º do art. 828 do CPC, bem como elaborar quadro comparativo entre a fraude à execução e a fraude contra credores, explicitando os requisitos e elementos que constituem e direrenciam os referidos institutos.
A fraude à execução é uma prática na qual o devedor, visando obter
vantagens para si mesmo ou para terceiros próximos, realiza ações fraudulentas com o intuito de prejudicar a execução ou cobrança de dívidas em curso. Isso geralmente ocorre através da alienação, transferência ou venda de seus bens antes que estes possam ser bloqueados ou vendidos pelo poder judiciário. Trata-se, portanto, de uma estratégia utilizada pelo devedor para evitar que seus ativos sejam utilizados como garantia para o pagamento das dívidas que estão sendo cobradas judicialmente.
A fraude à execução se configura quando o devedor, já em situação de
insolvência, realiza a venda ou transferência de seus bens mesmo ciente de que estes seriam a única possibilidade de quitar as dívidas cobradas judicialmente. Um exemplo clássico é quando o devedor, sabendo que não possui recursos financeiros para quitar uma ação judicial em curso, começa a vender seu patrimônio, impedindo assim que estes bens sejam utilizados para satisfazer a dívida.
Para provar a ocorrência da fraude à execução, o credor, que é a parte
que tem o direito de receber os valores devidos, informa à Justiça sobre os bens que o devedor possuía ou ainda possui. Além disso, o credor pode solicitar à Justiça medidas de busca para localizar bens ou valores que possam ter sido transferidos ou ocultados pelo devedor. Essas buscas, embora nem sempre sejam simples, são facilitadas pelo avanço da digitalização dos cartórios e pelo uso de sistemas cada vez mais sofisticados.
As consequências da fraude à execução podem ser severas para o
devedor. Além de poder acarretar no aumento do valor da dívida devido às multas aplicadas, que podem chegar a até 20% do valor cobrado na ação judicial, o devedor ainda pode responder criminalmente pelo ato, conforme previsto no artigo 179 do Código Penal. É importante destacar que a fraude à execução se diferencia da fraude contra credores. Enquanto na fraude à execução o devedor age para impedir a cobrança de dívidas em processo judicial, na fraude contra credores ele se desfaz de seus bens mesmo antes da instauração de ações de cobrança judicial, mas ciente de sua impossibilidade de pagar suas dívidas. Em ambos os casos, o objetivo do devedor é o mesmo: evitar o pagamento de suas obrigações, porém os momentos e as formas de prática dos atos fraudulentos diferem entre os dois institutos.
Para o reconhecimento da fraude à execução, a jurisprudência
estabelece critérios específicos, como destacado na Súmula 375 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Recurso Especial (REsp) 956.943/PR. Segundo essas orientações, a efetivação da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova da má-fé do terceiro adquirente. No entanto, é essencial ressaltar que a má-fé do adquirente deve ser devidamente comprovada pelo credor quando não houver o registro prévio da penhora na matrícula do imóvel.
Nesse sentido, a responsabilidade pelo ônus da prova da má-fé do
terceiro adquirente recai sobre o credor, conforme explicitado no Acórdão 1412113. Em casos em que não há registro prévio da existência de ação contra o alienante do imóvel ou da penhora na matrícula do bem, cabe ao credor demonstrar a má-fé por parte do adquirente. Tal orientação é corroborada pelo entendimento adotado nos acórdãos representativos, como o Acórdão 1412101 e o Acórdão 1399374.
Contudo, é importante salientar que a presunção de boa-fé é um
princípio geral do direito, conforme ressaltado no tema 243 do recurso repetitivo. Assim, compete ao credor provar a existência de má-fé por parte do adquirente, especialmente quando não há registro da penhora na matrícula do imóvel. Esta exigência visa garantir a segurança jurídica e evitar decisões arbitrárias que possam prejudicar terceiros de boa-fé.
No entanto, em situações de alienações sucessivas, como mencionado
no acórdão representativo, é necessário analisar cuidadosamente as circunstâncias específicas de cada caso. O registro da penhora ou da pendência de ação na matrícula do imóvel alienado a terceiros é fundamental para estabelecer a presunção de conhecimento e, consequentemente, a ocorrência de fraude à execução. Quando tal registro não é realizado, cabe ao credor comprovar a má-fé do adquirente sucessivo.
Dessa forma, a análise da fraude à execução requer uma avaliação
minuciosa das evidências apresentadas, respeitando os princípios do contraditório, da ampla defesa e da presunção de boa-fé. Somente mediante uma análise criteriosa e fundamentada é possível garantir a justiça e a eficácia do processo de execução.
Quadro Comparativo Fraude à Execução Fraude contra credores
Definição Tentativa do devedor de Desfazimento de bens pelo
burlar a execução judicial, devedor antes mesmo da geralmente ocultando, existência de ação judicial de transferindo ou alienando cobrança, visando prejudicar seus bens antes que sejam futuros credores. bloqueados e vendidos pela Justiça.
Requisitos Registro da penhora do bem Desfazimento de bens pelo
alienado ou prova de má-fé devedor antes mesmo da do terceiro adquirente. - Má- existência de ação judicial de fé do adquirente pode ser cobrança. - Ausência de presumida em caso de registro da penhora ou da registro da ação ou penhora pendência de ação. - Ônus na matrícula do imóvel. - da prova da má-fé recai Ônus da prova da má-fé sobre o credor. recai sobre o credor quando não há registro prévio da penhora na matrícula do imóvel.
Presunção de boa-fé A presunção de boa-fé é Aplica-se a presunção de
princípio geral, cabendo ao boa-fé, porém, cabe ao credor provar a má-fé do credor comprovar a má-fé do adquirente. devedor em caso de fraude contra credores.
Desdobramentos legais Art. 620 do CPC prevê Não há disposição legal
medidas para evitar a fraude específica para a fraude à execução. contra credores, mas os princípios gerais do direito são aplicados.
Consequências legais Multas e responsabilidade Multas e possibilidade de
criminal conforme o Código responsabilização civil. Penal.
Ônus da prova Cabe ao credor provar a má- O credor deve demonstrar a
fé do adquirente em casos má-fé do devedor. específicos.
Considerações Jurisprudenciais Sobre As Medidas Atípicas (Art. 139, Iv, Do CPC/2015) Na Tutela Jurisdicional Executiva: Breve Estudo Da Orientação Do Superior Tribunal de Justiça