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FACULDADES INTEGRADAS DO NORTE DE MINAS – JANUÁRIA

DIREITO

JUIZADO ESPECIAL ESTADUAL

LUÍSA LISBOA SANTANA

JANUÁRIA
2022
LUÍSA LISBOA SANTANA

JUIZADO ESPECIAL ESTADUAL

Breve resumo sobre o Juizado Especial Estadual. Curso


de Direito da FUNORTE campus Januária/MG;
disciplina de Direito Processual Civil IV; 7° Período.
Disciplina esta, ministrada pela Professora Me. Rosana
Santos Martins.

JANUÁRIA
2022
PRINCÍPIOS
Efetividade: Às diretrizes constantes do artigo 2o da Lei no 9.099/95 são
lentes pelas quais os operadores do direito devem observar todas as disposições
deste microssistema jurídico, os Juizados Especiais.
A efetividade do processo apresenta-se como terminologia usada para dar a
noção de que o processo deve ser instrumento apto para resolver o litígio.
Não é segredo que o tempo é grande inimigo daquele que busca a reparação
ou a proteção de seu direito. Diante de tanta burocracia geradora de dilações
temporais, o jurisdicionado requer efetividade e rapidez processual. Isto leva a
refletir sobre a justiça que está sendo operada por juízes e tribunais, os quais
proferem muitas vezes decisões ideais distantes da percepção dos jurisdicionados e
ante um sistema recursal tão pródigo não é incomum, ao tempo da decisão final, o
vencedor da demanda não mais estar vivo para ver tal decisão. O processo há de ter
um tempo razoável de duração, o qual certamente não é o atual, na Justiça
tradicional.
O princípio da efetividade permeia a Lei dos Juizados Especiais como uma
diretriz que, em conjunto com os demais princípios, norteia a interpretação da norma
a ser balizada frente ao caso concreto. Trata-se de preceito jurídico. Para Celso
Antônio Bandeira de Mello, o princípio jurídico tem na sua essência o "mandamento
nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se
irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para
sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a
racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido
harmônico."
Oralidade: A oralidade é um princípio que promove uma maior proximidade
entre o magistrado e o jurisdicionado, facilitando uma solução rápida do litígio, sendo
uma inovação no cenário jurídico tradicional, tendo ainda como princípios correlatos
o da imediatidade, o da irrecorribilidade das decisões interlocutórias e o da
identidade física do juiz, tanto na esfera especial cível, como especial criminal.
Pelo princípio do imediatismo o juiz deve proceder diretamente à colheita de
todas as provas, em contato imediato com as partes, propondo a conciliação,
expondo as questões controvertidas da lide etc. Com isso o magistrado recebe, sem
intermediários, o material de que se servirá para julgar, obtém informações e toma
conhecimento de características e motivação das partes etc.
O princípio da oralidade recebeu um relevo extraordinário na Lei no 9.099/95,
quando se observa os seguintes aspectos: o pedido originário da parte pode ser
formulado "oralmente" perante o Juizado (art. 14, § 3o); o mandato ao advogado
pode ser verbal (art. 9o, § 3o); serão decididas de plano todas as questões que
possam interferir no prosseguimento da audiência e, as demais, na sentença que é
proferida logo após (arts. 28 e 29); a contestação pode ser oral (art. 30); o resultado
da inspeção de pessoas ou coisas por auxiliares do juízo pode ser consubstanciado
em relatório informal (art. 35, parágrafo único), não obstante o recurso tenha que ser
escrito (art. 42); os embargos de declaração podem ser orais (art. 49) e o início da
execução de sentença pode ser verbal (art. 52, IV).
A oralidade é princípio informativo do procedimento, onde há prevalência da
palavra "falada". É a concentração, quanto possível, da discussão oral da causa em
audiência, evitando-se, com isso, a realização sequencial de atos processuais.
Pressupõe a identidade física do juiz, pois aquele que realizou a audiência onde foi
praticamente debatida toda a causa deve também julgá-la.
Decorre da adoção do princípio da oralidade, também, a irrecorribilidade das
decisões interlocutórias, facilitando o bom desenvolvimento do processo. Por isso,
descabe o recurso de agravo, retido ou de instrumento no Juizado Especial.
No texto legal, encontramos a consagração do princípio da oralidade nos
artigos 9, § 3o; 14, § 3o; 28 e 29; 35, parágrafo único; 39; 42; 49 e 52, inciso IV.

Simplicidade e informalidade: Os princípios da simplicidade e informalidade


revelam a nova face da desburocratização da Justiça Especial. Pela adoção destes
princípios pretende-se, sem que se prejudique o resultado da prestação jurisdicional,
diminuir tanto quanto possível a massa dos materiais que são juntados aos autos do
processo, reunindo apenas os essenciais num todo harmônico.
A fusão destes princípios justifica-se em virtude de a simplicidade ser
instrumento da informalidade, ambos consectários da instrumentalidade das formas.
Tais princípios são desdobramentos, também, do princípio da economia
processual. Mormente porque se trata de justiça volvida, sobretudo, à celeridade dos
conflitos, e destinada ao leigo, a simplicidade no processar e a informalidade dos
atos deve sempre suplantar qualquer exigência formalista.
A forma do ato processual é o meio, e, em se tratando de Juizado Especial, o
meio utilizado nunca deve prejudicar o fim a que se destina. Não há, pois, qualquer
solenidade nas formas. A única exigência que se faz é que esteja presente o mínimo
exigível para a inteligência da manifestação da vontade e a consequente solução
dos conflitos.
Há que se estabelecer uma relação inversa entre custo processual e benefício
obtido da prestação jurisdicional, somente não se podendo ultrapassar o limite de
segurança exigível nas decisões judiciais.
Da leitura dos artigos 13 e seu § 1o; 14 e seu § 1o; 18, inciso III; 19; 52,
incisos IV, VII e VIII da Lei no 9.099/95 vislumbra-se que o legislador dedicou grande
importância à consagração de tal princípio norteador.

Economia processual e celeridade: Pelo princípio da economia processual


entende-se que, entre duas alternativas, se deve escolher a menos onerosa às
partes e ao próprio Estado. Sendo evitada a repetição inconseqüente e inútil de atos
procedimentais, a concentração de atos em uma mesma oportunidade é critério de
economia processual.
Exemplos dessa orientação são a abolição do inquérito policial e a disposição
que prevê a realização de toda a instrução e julgamento em uma única audiência,
evitando-se tanto quanto possível sua multiplicidade. Além disso, preconiza-se o
aproveitamento dos atos processuais, tanto quanto possível, poupando-se tempo
precioso, tão escasso nas lides forenses diante da pletora de ações propostas.
Dispõe a lei, aliás, que os serviços de cartório poderão ser prestados e audiências
realizadas fora da sede da Comarca, em bairros ou cidades a ela pertencentes,
ocupando instalações de prédios públicos (art. 94). Nada impede, ao contrário, é
recomendável que, para a documentação dos atos processuais, sejam utilizados
formulários impressos com espaços a serem preenchidos pelos auxiliares da
Justiça, poupando-se o tempo de redação integral desses documentos.
Os princípios da economia processual e da celeridade oportunizam a
otimização e a racionalização dos procedimentos, objetivando a efetividade dos
Juizados Especiais. Tais princípios impõem ao magistrado na direção do processo
que confira às partes um máximo de resultado com um mínimo de esforço
processual, bem como orientam para, sempre que possível, que haja o
aproveitamento de todos os atos praticados. Vale lembrar que tal aproveitamento
tem como limite apenas a ausência de prejuízo a se causar aos fins da Justiça.
Em se tratando de processo que tramita frente ao Juizado há de se cuidar,
especialmente, do aproveitamento dos atos processuais, em face da permissão de
que os leigos litigam desassistidos de profissional habilitado (em causas de valor
não excedente a 20 salários mínimos). A partir do momento em que a lei confere ao
leigo capacidade postulatória, o julgador há de ter em mente a falta de preparo
técnico deste, somente não aproveitando qualquer ato quando o mesmo
demonstrar-se a tal ponto contradizente com os padrões ordinários que colocaria em
risco a própria atividade jurisdicional.
Cabe ressaltar que a Lei dos Juizados Especiais atenta para a celeridade
processual quando admite, desde logo, a instauração da instância com o
comparecimento das duas partes (art. 17) e quando não permite variados recursos
ou ação rescisória (art. 59), objetivando não eternizar o litígio. Verifica-se que a
celeridade acompanha a oralidade, levando à desburocratização e simplificação da
Justiça.
O princípio da economia processual encontra-se referido, na Lei no 9.099/95,
nos artigos 13; 15; 17, parágrafo único; 31; 38, parágrafo único; 53, inciso III e § 2o;
e 55, § 4o.
de inventariante
III - contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro.

§ 1º Julgando procedente a impugnação referida no inciso I, o juiz mandará retificar as


primeiras declarações.
§ 2º Se acolher o pedido de que trata o inciso II, o juiz nomeará outro inventariante,
observada a preferência legal.

Competência: Dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais possuem competência para


conciliação, processo e julgamento das causas de menor complexidade assim definidas no
artigo 3º da Lei nº 9.099/95. No entanto, um ponto em que surge divergência é com relação
à opção ou obrigatoriedade desse procedimento, já que a Lei não prevê este aspecto.
Logo que promulgada a Lei 9.099/95, surgiu dúvidas sobre se a competência dos
juizados especiais seria absoluta ou relativa, ou seja, se a parte autora poderia optar pela
justiça comum nas hipóteses em que se essa lei estabelecida a competência do juízo dos
juizados especiais; mas, sendo relativa, essa opção pela Justiça comum constituída
verdadeiro direito potestativo, cujos efeitos são produzidos pela simples emissão de
vontade do seu titular.
Lei nº 7.244/84 (revogada) – Art. 1º - Os Juizados Especiais de Pequenas Causas,
órgãos da Justiça ordinária, poderão ser criados nos Estados, no Distrito Federal e nos
Territórios, para processo e julgamento, por opção do autor, das causas de reduzido valor
econômico. (grifo nosso)

Já na Lei nº 10.259/01 que regula os Juizados Especiais Federais, existe a previsão


de que onde houver instalada Vara do Juizado Especial, a competência será absoluta,
conforme § 3º do artigo 3º.
Lei nº 10.259/01 – Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar,
conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários
mínimos, bem como executar as sentenças.

§ 3º No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é


absoluta. (grifo nosso)

Para um melhor entendimento, vejamos o conceito de competência definido por


Vicente Greco Filho.

É o poder de fazer atuar a jurisdição que tem um órgão jurisdicional diante de um


caso concreto. Decorre esse poder de uma delimitação prévia, constitucional e legal,
estabelecida, segundo critérios de especialização da Justiça, distribuição territorial e divisão
de serviços (1993/1995) apud, LOURENÇO, 1998, p. 39). Do mesmo modo, doutrinadores
defendem a corrente de que o procedimento é de natureza optativa, tal como é o
entendimento sustentado por Cândido Rangel Dinamarco.

Capacidade: O art. 5º da Lei nº 12.153/09 define a capacidade ativa e passiva para


utilização daqueles Juizados Especiais da Fazenda Pública, ao determinar que podem ser
partes no Juizado Especial da Fazenda Pública: I – como autores, as pessoas físicas e as
microempresas e empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei Complementar no
123, de 14 de dezembro de 2006; II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os
Territórios e os Municípios, bem como autarquias, fundações e empresas públicas a eles
vinculadas.

Também e em razão do microssistema dos Juizados Especiais, de ampliar-se a


legitimação ativa para encampar as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e as sociedades de crédito ao
microempreendedor.

Com relação às pessoas jurídicas de direito público deverão atuar por meio de seus
representantes legais, com poderes para conciliar, transigir ou desistir, nos termos e nas
hipóteses previstas na Lei do respectivo ente da Federação (art. 8º da Lei nº 12.153/09).

Com relação à capacidade postulatória nos Juizados Especiais estaduais, nas


causas até vinte salários mínimos têm as partes capacidade postulatória, ou seja, podem ir
ao naqueles juizados desacompanhadas de advogados, consoante o disposto no art. 9º,
caput, 1ª parte, da Lei nº 9.099/95, apresentando petição, por escrito ou oral (art. 14 da lei
9.099/95). Porém, se uma das partes comparecer com advogado ou se o réu for pessoa
jurídica ou firma individual, a outra parte poderá, se quiser, ter assistência judiciária, na
forma do art. 9º, § 1º da lei 9.099/95.

Portanto e considerando que o juízo especial civil tem competência, pelo art. 3º,
inciso I, da Lei 9.099/95, para julgar causas que não excedam a quarenta salários mínimos,
acima de 20 (vinte) salários mínimos a parte deverá estar assistida por advogado.

Evidentemente que discordamos deste dispensa do advogado, nos juizados cíveis,


eis que há desrespeito à exigência constitucional de devido processo legal, eis que,
afastando a obrigatoriedade do advogado não está havendo ampla defesa, considerando
que o leigo não tem conhecimentos jurídicos necessários para postular e defender em juízo.
Portanto e pelo princípio do devido processo legal não mais poderia ser dispensado o
advogado, em qualquer demanda ou instância.

Entretanto, no julgamento da ADI 1.127-8/DF o STF entendeu que não há


inconstitucionalidade na dispensa de advogado no âmbito dos Juizados Especiais, a
exemplo do que ocorre na Justiça do Trabalho e na Justiça de Paz. Na Justiça de Paz, tudo
bem. Trata-se de mera composição extrajudicial. E de justiça tem apenas o nome, por
tradição. Porém, em demandas judiciais tal interpretação, feita pelo Guardião da
Constituição, é contra a própria Constituição.

Assim e nos Juizados Especiais estaduais se as causas forem superiores a vinte


salários mínimos, a assistência por advogado é obrigatória, conforme consta do art. 9º,
caput, 2ª parte. O mandato outorgado ao advogado pode ser verbal, salvo quanto aos
poderes especiais (art. 9º, § 3º). Deve o juiz, dependendo da complexidade da causa,
recomendar o patrocínio de um advogado (art. 9º, § 2º). E, para recorrer, as partes devem
estar representadas por advogado, exigência do art. 41, § 2º.

Juiz Leigo e Conciliadores: O Artigo 7º da Lei 9.099/95 estabelece, de pronto, a


natureza da função exercida pelo juiz leigo, perante os Juizados Especiais. Referido
dispositivo estabelece que “os conciliadores e juízes leigos são auxiliares da justiça,
recrutados, os primeiros, preferentemente entre os bacharéis em Direito, e os segundos,
entre advogados com mais de cinco anos de experiência”.
No que se refere aos juízes leigos, o parágrafo único desse dispositivo estabelece
que “ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no
desempenho de suas funções”. Juiz leigo – bem assim como o conciliador — quando
atuando perante os juizados especiais são, assim, auxiliares da justiça e exercem um
munus público, mas nem por isso se situam na categoria de servidor público ou exercentes
de cargo, mesmo que em comissão.

É o juiz leigo um agente público, gênero de que são espécies os agentes políticos, os
servidores públicos e os particulares em colaboração com o poder público, nesta última
categoria, especificamente, se inserindo os Juízes leigos e conciliadores. Nessa última
categoria, segundo a doutrina especializada, “entram as pessoas físicas que prestam
serviços ao Estado, sem vínculo empregatício, com ou sem remuneração”, podendo fazê-lo
sob diversas formas como, por exemplo, através da delegação, requisição, nomeação ou
designação para o exercício de funções públicas relevantes, como são as atribuições
conferidas ao juiz leigo e ao conciliador.

Os conciliadores e juízes leigos não são ocupantes de cargo público porque nestes é
imprescindível a existência de um vínculo com o Estado, seja estatutário, seja celetista,
onde o exercente do respectivo cargo, criado por lei, com atribuições próprias e
remuneração também prevista em lei, possui um vínculo de subordinação (empregatício), o
que não existe com os conciliadores e juízes leigos, que desempenham seu múnus com
independência, notadamente no aspecto funcional. Tanto assim é que os juízes leigos e
conciliadores, por exemplo, não recebem mês a mês, a mesma parcela, mas sim parcela
variável, de conteúdo indenizatório pelo deslocamento para atuar em favor do Estado; não
fazem jus a 13º salário; não têm disciplina de férias; não recolhem aos cofres públicos
estaduais nenhuma quantia a título de contribuição previdenciária, sujeitando-se, apenas,
ao desconto do imposto de renda sobre os valores recebidos mensalmente, de acordo com
sua atuação.
Prazos Processuais: A temática dos prazos no âmbito dos Juizados Especiais
Cíveis tomou proporções inusitadas e contraditórias quando do advento do CPC/2015.
É que no microssistema dos Juizados Especiais sempre se aplica subsidiariamente a
regra do art. 184 do revogado CPC/1973 de que os prazos eram contados em dias corridos.
Com o advento do novel Codex, tivemos esculpida no art. 219 a seguinte disposição:
“Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão
somente os dias úteis”.
Pois bem. Estabelecida a mudança na contagem em dias pelo CPC/2015,
elaborados foram alguns enunciados, como, v. g., o da Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrado – ENFAM, onde, no de número 45, dispôs:
“A contagem dos prazos em dias úteis (art. 219 do CPC/2015) aplica-se ao sistema
de juizados especiais.”
Entretanto, o Fórum Nacional de Juizados Especiais - FONAJE, por meio da Nota
Técnica N. 01/2016, exteriorizou que:
“Com o advento do Novo Código de Processo Civil (CPC de 2015), por força do
artigo 219, a justiça cível dita comum passa a conviver com a contagem de prazos legais e
judiciais em dias úteis, em inexplicável distanciamento e indisfarçável subversão ao
princípio constitucional da razoável duração do processo.”
Depois de aludida Nota Técnica, editado foi o Enunciado n.165 do próprio FONAJE,
com o seguinte direcionamento: “Nos Juizados Especiais Cíveis, todos os prazos serão
contados de forma contínua”
Nota-se que tanto a Nota Técnica ou mesmo o supracitado Enunciado n.165, se
pautaram nos princípios informadores estampados no art. 2º da Lei n.9.099/95, mais
precisamente na celeridade como justificadora para negar a aplicabilidade da contagem de
prazos em dias úteis, e mais.
“Considerado o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente terá aplicação ao
Sistema dos Juizados Especiais nos casos de expressa e específica remissão ou na
hipótese de compatibilidade com os critérios previstos no art. 2º da Lei 9.099/95.
Interessante notar que, a despeito da alarmada “incompatibilidade” declarada do art.
219 para com o rito sumaríssimo, a despeito da ausência de norma reguladora de prazos
em tal lex especial, sequer tomou-se o cuidado de apresentar dados empíricos
justificadores para infirmar a ideia de que o processo restará menos célere quando da
adoção do referido dispositivo ao procedimento em tela. Ademais, ainda que pese o
festejado princípio da celeridade, os Juizados Especiais Cíveis, em verdade, são pouco
afeitos ao cumprimento efetivo para sua consolidação, seja pela frequente tentativa de
ordinarizar o querido rito, e mesmo pelo pouco cuidado no trato informal que se pede o
procedimento, tudo somado ao já conhecido e incipiente, ainda que digno, material humano
e seu quantitativo.
Não obstante a isso, tal como se dá com toda legislação específica, ou seja, de
cunho não generalista, seja sob o ponto de vista das matérias ali reguladas, quer de
natureza substantiva e/ou adjetiva, seu conteúdo dificilmente se exaure na própria lei que o
institui. Notadamente, não seria razoável e mesmo possível em caráter absoluto, que uma
legislação, mesmo especial, pudesse prever todo o mecanismo processual a ser observado
ao longo de todo o caminho procedimental a ser percorrido.
Nestes termos, será na própria lei geral que se pre determinará a aplicabilidade
subsidiária aos procedimentos especiais. Nisto, àqueles ritos que, por não estarem inclusos
no texto geral regulador (in casu, o Código de Processo Civil), a rigor, aplicar-se-ão as
disposições gerais do procedimento comum (art. 318 do CPC).
Quer dizer isto que, a sistemática comum do CPC tem o fito de alcançar
procedimentos pelos quais, uma vez lacunosos, são de preenchimentos inevitáveis, a fim
de harmonizá-los com o sistema geral em torno do qual se acha plasmado o direito positivo
pátrio.
Por tudo, acreditamos na ausência de regramento justificador para a contínua
aplicabilidade do modelo de contagem de prazos em dias corridos, anteriormente regrados
pelo revogado CPC/1973 ao microssistema dos Juizados Especiais Cíveis, estes que, por
tudo, deverão receber a aplicabilidade subsidiária do CPC/2015, onde, diante de regra da
contagem de prazos em dias, computar-se-ão tão somente aqueles dias considerados
úteis.
Procedimento: O procedimento do Juizado Especial Cível tem início com a petição
inicial. Destaque-se que o autor poderá aditar o pedido até o momento da audiência de
instrução e julgamento . Em seguida será o réu citado para comparecer em audiência de
conciliação. As partes devem obrigatoriamente estar presentes em audiência.
A ausência do autor em audiência resulta no arquivamento do processo e
condenação em custas (Artigo 51, I da Lei 9.099/95) a ausência do réu em audiência
resulta em revelia (Artigo 20 da Lei 9.099/95). A pessoa jurídica quando autora deve estar
representada em audiência pelo empresário individual ou pelo sócio dirigente e quando ré
pode estar representada por preposto (Artigo 9º, § 4º da Lei 9.099/95). É proibido figurar
como advogado e preposto simultaneamente.
Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado,
mediante sentença com eficácia de título executivo (Artigo 22, § único da Lei 9.099/95).
O réu deverá apresentar contestação até a audiência de instrução e julgamento
sendo cabível pedido contraposto (Artigo 31 da Lei 9.099/95 e
Poderá haver uma segunda audiência (de instrução e julgamento) onde serão
ouvidas as partes e as testemunhas (3 para cada parte, Artigo 34 da Lei 9.099/95),
conforme Artigo 288 da Lei 9.0999/95.
Após tudo será proferida a sentença, da qual caberá recurso inominado para a
Turma Recursal (Artigos 41 e 42 da Lei 9.099/95). Do acórdão da Turma Recursal caberá
reclamação ao Tribunal de Justiça (Súmula 203 do STJ e Artigo 1º da Resolução STJ/GP
N. 3 DE 7 DE ABRIL DE 2016) e recurso extraordinário (Enunciados 63 e 84 do FONAJE e
Súmula 640 do STF). De todas as decisões cabem embargos de declaração (Artigo 1.022
do CPC).
Recursos: Com efeito, os diplomas que tratam dos Juizados Especiais Cíveis
compõem um microssistema intercambiante. Além disso, tendo em vista o princípio da
instrumentalidade das formas , os atos processuais serão válidos sempre que alcançarem
as finalidades para as quais forem realizados, não se pronunciando eventual nulidade sem
que tenha havido efetivo prejuízo (art. 13, caput e seu § 1º da Lei nº 9.099/1995).
Dúvida se faz quanto à recorribilidade de atos e decisões (interlocutórias ou
terminativas) lançadas no curso do processo ou na fase de execução. É este, pois, o objeto
deste artigo (sem esgotamento do tema).

Antes de tudo, impõe-nos observar que, em suma, no âmbito dos Juizados Especiais
Cíveis Estaduais são cabíveis o recurso (inominado) contra sentença (art. 41 da Lei nº
9.099/1995), os embargos de declaração contra sentença ou acórdão (art. 48 da Lei nº
9.099/1995), o pedido de uniformização de jurisprudência (art. 1º Resolução nº 12/2009 do
STJ), a reclamação ao Tribunal para dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma
recursal estadual (art. 1º da Resolução nº 12/2009 do STJ c/c art. 988 do CPC), e o recurso
extraordinário (art. 102, III, da CF).
REFERÊNCIAS
https://www.genebraseguros.com.br/competencias-dos-juizados-especiais-civeis-
estaduais/
https://direitoreal.com.br/artigos/juizados-especiais-principios-processuais
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm
https://jus.com.br/artigos/49775/o-novo-codigo-de-processo-civil-e-os-recursos-
nos-juizados-especiais

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