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DIREITO
JANUÁRIA
2022
LUÍSA LISBOA SANTANA
JANUÁRIA
2022
PRINCÍPIOS
Efetividade: Às diretrizes constantes do artigo 2o da Lei no 9.099/95 são
lentes pelas quais os operadores do direito devem observar todas as disposições
deste microssistema jurídico, os Juizados Especiais.
A efetividade do processo apresenta-se como terminologia usada para dar a
noção de que o processo deve ser instrumento apto para resolver o litígio.
Não é segredo que o tempo é grande inimigo daquele que busca a reparação
ou a proteção de seu direito. Diante de tanta burocracia geradora de dilações
temporais, o jurisdicionado requer efetividade e rapidez processual. Isto leva a
refletir sobre a justiça que está sendo operada por juízes e tribunais, os quais
proferem muitas vezes decisões ideais distantes da percepção dos jurisdicionados e
ante um sistema recursal tão pródigo não é incomum, ao tempo da decisão final, o
vencedor da demanda não mais estar vivo para ver tal decisão. O processo há de ter
um tempo razoável de duração, o qual certamente não é o atual, na Justiça
tradicional.
O princípio da efetividade permeia a Lei dos Juizados Especiais como uma
diretriz que, em conjunto com os demais princípios, norteia a interpretação da norma
a ser balizada frente ao caso concreto. Trata-se de preceito jurídico. Para Celso
Antônio Bandeira de Mello, o princípio jurídico tem na sua essência o "mandamento
nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se
irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para
sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a
racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido
harmônico."
Oralidade: A oralidade é um princípio que promove uma maior proximidade
entre o magistrado e o jurisdicionado, facilitando uma solução rápida do litígio, sendo
uma inovação no cenário jurídico tradicional, tendo ainda como princípios correlatos
o da imediatidade, o da irrecorribilidade das decisões interlocutórias e o da
identidade física do juiz, tanto na esfera especial cível, como especial criminal.
Pelo princípio do imediatismo o juiz deve proceder diretamente à colheita de
todas as provas, em contato imediato com as partes, propondo a conciliação,
expondo as questões controvertidas da lide etc. Com isso o magistrado recebe, sem
intermediários, o material de que se servirá para julgar, obtém informações e toma
conhecimento de características e motivação das partes etc.
O princípio da oralidade recebeu um relevo extraordinário na Lei no 9.099/95,
quando se observa os seguintes aspectos: o pedido originário da parte pode ser
formulado "oralmente" perante o Juizado (art. 14, § 3o); o mandato ao advogado
pode ser verbal (art. 9o, § 3o); serão decididas de plano todas as questões que
possam interferir no prosseguimento da audiência e, as demais, na sentença que é
proferida logo após (arts. 28 e 29); a contestação pode ser oral (art. 30); o resultado
da inspeção de pessoas ou coisas por auxiliares do juízo pode ser consubstanciado
em relatório informal (art. 35, parágrafo único), não obstante o recurso tenha que ser
escrito (art. 42); os embargos de declaração podem ser orais (art. 49) e o início da
execução de sentença pode ser verbal (art. 52, IV).
A oralidade é princípio informativo do procedimento, onde há prevalência da
palavra "falada". É a concentração, quanto possível, da discussão oral da causa em
audiência, evitando-se, com isso, a realização sequencial de atos processuais.
Pressupõe a identidade física do juiz, pois aquele que realizou a audiência onde foi
praticamente debatida toda a causa deve também julgá-la.
Decorre da adoção do princípio da oralidade, também, a irrecorribilidade das
decisões interlocutórias, facilitando o bom desenvolvimento do processo. Por isso,
descabe o recurso de agravo, retido ou de instrumento no Juizado Especial.
No texto legal, encontramos a consagração do princípio da oralidade nos
artigos 9, § 3o; 14, § 3o; 28 e 29; 35, parágrafo único; 39; 42; 49 e 52, inciso IV.
Com relação às pessoas jurídicas de direito público deverão atuar por meio de seus
representantes legais, com poderes para conciliar, transigir ou desistir, nos termos e nas
hipóteses previstas na Lei do respectivo ente da Federação (art. 8º da Lei nº 12.153/09).
Portanto e considerando que o juízo especial civil tem competência, pelo art. 3º,
inciso I, da Lei 9.099/95, para julgar causas que não excedam a quarenta salários mínimos,
acima de 20 (vinte) salários mínimos a parte deverá estar assistida por advogado.
É o juiz leigo um agente público, gênero de que são espécies os agentes políticos, os
servidores públicos e os particulares em colaboração com o poder público, nesta última
categoria, especificamente, se inserindo os Juízes leigos e conciliadores. Nessa última
categoria, segundo a doutrina especializada, “entram as pessoas físicas que prestam
serviços ao Estado, sem vínculo empregatício, com ou sem remuneração”, podendo fazê-lo
sob diversas formas como, por exemplo, através da delegação, requisição, nomeação ou
designação para o exercício de funções públicas relevantes, como são as atribuições
conferidas ao juiz leigo e ao conciliador.
Os conciliadores e juízes leigos não são ocupantes de cargo público porque nestes é
imprescindível a existência de um vínculo com o Estado, seja estatutário, seja celetista,
onde o exercente do respectivo cargo, criado por lei, com atribuições próprias e
remuneração também prevista em lei, possui um vínculo de subordinação (empregatício), o
que não existe com os conciliadores e juízes leigos, que desempenham seu múnus com
independência, notadamente no aspecto funcional. Tanto assim é que os juízes leigos e
conciliadores, por exemplo, não recebem mês a mês, a mesma parcela, mas sim parcela
variável, de conteúdo indenizatório pelo deslocamento para atuar em favor do Estado; não
fazem jus a 13º salário; não têm disciplina de férias; não recolhem aos cofres públicos
estaduais nenhuma quantia a título de contribuição previdenciária, sujeitando-se, apenas,
ao desconto do imposto de renda sobre os valores recebidos mensalmente, de acordo com
sua atuação.
Prazos Processuais: A temática dos prazos no âmbito dos Juizados Especiais
Cíveis tomou proporções inusitadas e contraditórias quando do advento do CPC/2015.
É que no microssistema dos Juizados Especiais sempre se aplica subsidiariamente a
regra do art. 184 do revogado CPC/1973 de que os prazos eram contados em dias corridos.
Com o advento do novel Codex, tivemos esculpida no art. 219 a seguinte disposição:
“Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão
somente os dias úteis”.
Pois bem. Estabelecida a mudança na contagem em dias pelo CPC/2015,
elaborados foram alguns enunciados, como, v. g., o da Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrado – ENFAM, onde, no de número 45, dispôs:
“A contagem dos prazos em dias úteis (art. 219 do CPC/2015) aplica-se ao sistema
de juizados especiais.”
Entretanto, o Fórum Nacional de Juizados Especiais - FONAJE, por meio da Nota
Técnica N. 01/2016, exteriorizou que:
“Com o advento do Novo Código de Processo Civil (CPC de 2015), por força do
artigo 219, a justiça cível dita comum passa a conviver com a contagem de prazos legais e
judiciais em dias úteis, em inexplicável distanciamento e indisfarçável subversão ao
princípio constitucional da razoável duração do processo.”
Depois de aludida Nota Técnica, editado foi o Enunciado n.165 do próprio FONAJE,
com o seguinte direcionamento: “Nos Juizados Especiais Cíveis, todos os prazos serão
contados de forma contínua”
Nota-se que tanto a Nota Técnica ou mesmo o supracitado Enunciado n.165, se
pautaram nos princípios informadores estampados no art. 2º da Lei n.9.099/95, mais
precisamente na celeridade como justificadora para negar a aplicabilidade da contagem de
prazos em dias úteis, e mais.
“Considerado o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente terá aplicação ao
Sistema dos Juizados Especiais nos casos de expressa e específica remissão ou na
hipótese de compatibilidade com os critérios previstos no art. 2º da Lei 9.099/95.
Interessante notar que, a despeito da alarmada “incompatibilidade” declarada do art.
219 para com o rito sumaríssimo, a despeito da ausência de norma reguladora de prazos
em tal lex especial, sequer tomou-se o cuidado de apresentar dados empíricos
justificadores para infirmar a ideia de que o processo restará menos célere quando da
adoção do referido dispositivo ao procedimento em tela. Ademais, ainda que pese o
festejado princípio da celeridade, os Juizados Especiais Cíveis, em verdade, são pouco
afeitos ao cumprimento efetivo para sua consolidação, seja pela frequente tentativa de
ordinarizar o querido rito, e mesmo pelo pouco cuidado no trato informal que se pede o
procedimento, tudo somado ao já conhecido e incipiente, ainda que digno, material humano
e seu quantitativo.
Não obstante a isso, tal como se dá com toda legislação específica, ou seja, de
cunho não generalista, seja sob o ponto de vista das matérias ali reguladas, quer de
natureza substantiva e/ou adjetiva, seu conteúdo dificilmente se exaure na própria lei que o
institui. Notadamente, não seria razoável e mesmo possível em caráter absoluto, que uma
legislação, mesmo especial, pudesse prever todo o mecanismo processual a ser observado
ao longo de todo o caminho procedimental a ser percorrido.
Nestes termos, será na própria lei geral que se pre determinará a aplicabilidade
subsidiária aos procedimentos especiais. Nisto, àqueles ritos que, por não estarem inclusos
no texto geral regulador (in casu, o Código de Processo Civil), a rigor, aplicar-se-ão as
disposições gerais do procedimento comum (art. 318 do CPC).
Quer dizer isto que, a sistemática comum do CPC tem o fito de alcançar
procedimentos pelos quais, uma vez lacunosos, são de preenchimentos inevitáveis, a fim
de harmonizá-los com o sistema geral em torno do qual se acha plasmado o direito positivo
pátrio.
Por tudo, acreditamos na ausência de regramento justificador para a contínua
aplicabilidade do modelo de contagem de prazos em dias corridos, anteriormente regrados
pelo revogado CPC/1973 ao microssistema dos Juizados Especiais Cíveis, estes que, por
tudo, deverão receber a aplicabilidade subsidiária do CPC/2015, onde, diante de regra da
contagem de prazos em dias, computar-se-ão tão somente aqueles dias considerados
úteis.
Procedimento: O procedimento do Juizado Especial Cível tem início com a petição
inicial. Destaque-se que o autor poderá aditar o pedido até o momento da audiência de
instrução e julgamento . Em seguida será o réu citado para comparecer em audiência de
conciliação. As partes devem obrigatoriamente estar presentes em audiência.
A ausência do autor em audiência resulta no arquivamento do processo e
condenação em custas (Artigo 51, I da Lei 9.099/95) a ausência do réu em audiência
resulta em revelia (Artigo 20 da Lei 9.099/95). A pessoa jurídica quando autora deve estar
representada em audiência pelo empresário individual ou pelo sócio dirigente e quando ré
pode estar representada por preposto (Artigo 9º, § 4º da Lei 9.099/95). É proibido figurar
como advogado e preposto simultaneamente.
Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado,
mediante sentença com eficácia de título executivo (Artigo 22, § único da Lei 9.099/95).
O réu deverá apresentar contestação até a audiência de instrução e julgamento
sendo cabível pedido contraposto (Artigo 31 da Lei 9.099/95 e
Poderá haver uma segunda audiência (de instrução e julgamento) onde serão
ouvidas as partes e as testemunhas (3 para cada parte, Artigo 34 da Lei 9.099/95),
conforme Artigo 288 da Lei 9.0999/95.
Após tudo será proferida a sentença, da qual caberá recurso inominado para a
Turma Recursal (Artigos 41 e 42 da Lei 9.099/95). Do acórdão da Turma Recursal caberá
reclamação ao Tribunal de Justiça (Súmula 203 do STJ e Artigo 1º da Resolução STJ/GP
N. 3 DE 7 DE ABRIL DE 2016) e recurso extraordinário (Enunciados 63 e 84 do FONAJE e
Súmula 640 do STF). De todas as decisões cabem embargos de declaração (Artigo 1.022
do CPC).
Recursos: Com efeito, os diplomas que tratam dos Juizados Especiais Cíveis
compõem um microssistema intercambiante. Além disso, tendo em vista o princípio da
instrumentalidade das formas , os atos processuais serão válidos sempre que alcançarem
as finalidades para as quais forem realizados, não se pronunciando eventual nulidade sem
que tenha havido efetivo prejuízo (art. 13, caput e seu § 1º da Lei nº 9.099/1995).
Dúvida se faz quanto à recorribilidade de atos e decisões (interlocutórias ou
terminativas) lançadas no curso do processo ou na fase de execução. É este, pois, o objeto
deste artigo (sem esgotamento do tema).
Antes de tudo, impõe-nos observar que, em suma, no âmbito dos Juizados Especiais
Cíveis Estaduais são cabíveis o recurso (inominado) contra sentença (art. 41 da Lei nº
9.099/1995), os embargos de declaração contra sentença ou acórdão (art. 48 da Lei nº
9.099/1995), o pedido de uniformização de jurisprudência (art. 1º Resolução nº 12/2009 do
STJ), a reclamação ao Tribunal para dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma
recursal estadual (art. 1º da Resolução nº 12/2009 do STJ c/c art. 988 do CPC), e o recurso
extraordinário (art. 102, III, da CF).
REFERÊNCIAS
https://www.genebraseguros.com.br/competencias-dos-juizados-especiais-civeis-
estaduais/
https://direitoreal.com.br/artigos/juizados-especiais-principios-processuais
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm
https://jus.com.br/artigos/49775/o-novo-codigo-de-processo-civil-e-os-recursos-
nos-juizados-especiais