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No meio da década de noventa surgiu a lei que criou os Juizados Especiais para atender
as demandas de pequeno valor cujos princípios norteadores de seu rito processual são
exatamente os da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.
Como é de se extrair do próprio nome dos princípios, se pressupõe que estes quando aplicados
ao trâmite processual, venham a torná-lo bem mais rápido e prático.
Nesse intuito, a nova lei à época, estabeleceu que nas demandas judiciais, logo após
registrados os seus pedidos, independentemente de distribuição ou autuação, a secretaria do
juizado haveria de designar uma sessão de conciliação nos termos do art. 16 da Lei 9.099/95 1.
No ano seguinte, também surgiu a lei de arbitragem sob o n. 9.307/96 que, além de
trazer maior segurança aos julgamentos de questões de natureza eminentemente técnica as
quais fogem à especificidade da ciência jurídica, contribuiu, a princípio, para não sobrecarregar
o poder judiciário ao direcionar determinados pleitos ao juízo arbitral.
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Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de distribuição e autuação, a Secretaria do Juizado
designará a sessão de conciliação, a realizar-se no prazo de quinze dias.
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Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar
do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30
(trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
Contudo, há de se voltar a atenção para algumas distorções que vem ocorrendo na
persecução da redução do ajuizamento de ações e da celeridade processual, especialmente no
âmbito dos Juizados Especiais, responsável por um alto volume das ações em trâmite na justiça
brasileira.
No ano de 2016, o Conselho Nacional de Justiça divulgou o relatório anual de 2015 com
a informação de que nos Tribunais de Justiça Estaduais do país a proporção dos acordos
frutíferos correspondeu a 9% das demandas totais que foram julgadas durante o respectivo
período. No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por exemplo, esse valor foi de apenas
1,3%3.
Além desses índices, não se pode olvidar de outro fator que deveria ser levado em
consideração para permitir a dispensa da audiência de conciliação. Trata-se do fato de que nem
mesmo nas grandes capitais os fóruns têm estrutura física suficiente para, dentro de um prazo
razoável, viabilizar a realização das audiências de conciliação de todas as ações que são
distribuídas.
Evidente que a depender da natureza de algumas demandas como, por exemplo, uma
batida de carro ou um conflito familiar, esse raciocínio não poderia ser aplicado, porquanto a
pessoalidade nesses casos tem um grau de influência direta sobre o deslinde da causa.
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http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83676-relatorio-justica-em-numeros-traz-indice-de-conciliacao
Ademais, é essencial ressalvar que a dispensa de audiência de conciliação não implica
na renúncia de uma eventual composição, até mesmo porque por mais ineficiente que se deem
as tratativas de acordo entre os litigantes, o juiz sempre poderá convidar as partes para uma
tentativa de mediação extrajudicial4.
Entretanto, a partir de uma análise atenta aos julgados dos Juizados Especiais do Estado
de São Paulo, se percebe que quando o autor de um processo requer a dispensa de audiência
de conciliação, a maioria dos juízes indefere o pedido sob o fundamento de que a referida
audiência constitui etapa processual inerente ao rito dos Juizados Especiais de modo a não
deferir o referido pedido de dispensa.
Em proporção ainda menor, é possível encontrar situações em que o juiz de ofício deixa
de designar audiência de conciliação, muito embora essa tenha sido expressamente requerida
pelo autor.
Não obstante, nota-se que uma parcela considerável de juristas defende que o
procedimento comum também adote a obrigatoriedade da designação das audiências de
conciliação ou mediação.
Ou seja, além do benefício gerado às partes, o próprio Poder Judiciário também obtém
proveitos com a possibilidade de o magistrado permitir, nos devidos casos, a supressão da
audiência de conciliação, uma vez que a própria administração do processo resta desonerada.
Nesse escopo de conciliar a atual vida cotidiana e o direito vigente, mister se faz valer
do diálogo das fontes5 como critério de resolução de conflito de normas do ordenamento
jurídico para permitir a aplicação subsidiária do novo Código de Processo Civil ao procedimento
dos Juizados Especiais e, assim, flexibilizar a obrigatoriedade da designação de audiência de
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I JORNADA “PREVENÇÃO E SOLUÇÃO EXTRAJUDICIAL DE LITÍGIOS" - Enunciado n. 16: O magistrado pode,
a qualquer momento do processo judicial, convidar as partes para tentativa de composição da lide pela
mediação extrajudicial, quando entender que o conflito será adequadamente solucionado por essa forma.
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O STF concluiu pela constitucionalidade da aplicação do CDC a todas as atividades bancárias ao
reconhecer a necessidade do atual Diálogo das Fontes. MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de
Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.
conciliação nos Juizados Especiais em prol do rápido andamento processual, da desoneração de
custos às partes e ao Poder Judiciário.
O art. 139, IV, do CPC, por sua vez, também corrobora a teleologia do novo código em
flexibilizar procedimentos do processo civil, ao prever a possibilidade do juiz "dilatar os prazos
processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades
do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito."
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Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar
do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30
(trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
§ 4o A audiência não será realizada:
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II - quando não se admitir a autocomposição.
§ 5o O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-
lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência.
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ENFAM - Enunciado 35 - Além das situações em que a flexibilização do procedimento é autorizada pelo
art. 139, VI, do CPC/2015, pode o juiz, de ofício, preservada a previsibilidade do rito, adaptá-lo às
especificidades da causa, observadas as garantias fundamentais do processo.
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Art. 614, §6º. Nos casos de litigantes cuja postura seja de evidente desinteresse pela audiência de
conciliação poderá o juiz substituí-la pela apresentação de contestação no prazo de 15 dias, facultada a
apresentação em preliminar de defesa de proposta de acordo, sem que isto implique em reconhecimento
do pedido. (acrescentado pelo provimento CG nº 17/2016).