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JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS - EVOLUÇÃO - COMPETÊNCIA E APLICABILIDADE –

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Autor:Dr. Liberato Bonadia Neto *

Introdução

O direito processual civil, impelido pelo olho crítico do processualista


contemporâneo, - preocupado em ver no processo não somente uma técnica para
fazer atuar o direito material, mas, principalmente, um instrumento destinado a
propiciar o bem comum, vem passando por ondas renovatórias deflagradas em
1965.

A primeira onda voltou-se para a prestação da assistência judiciária aos


necessitados; a segunda para a tutela coletiva, e a terceira, vivida presentemente, traz
em si a reforma legislativa com vistas à simplificação ou deformalização do processo e
do procedimento, ao aprimoramento da qualidade dos julgamentos e ao oferecimento da
tutela efetiva.

Entre as medidas simplificadoras encontra-se a instituição dos juizados especiais


cíveis e criminais, no caso brasileiro determinada pela própria Carta Magna de 1988,
que, no art. 98, I, incumbiu a União (no Distrito Federal e nos Territórios) e os Estados
de criarem os Juizados Especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
complexidade e de infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

Existia, antes mesmo da Constituição da República de 1988, a Lei n o 7.244, de


1984, conhecida Lei dos Juizados Especiais de Pequenas Causas, que, aliás, diante do
sucesso obtido nos Estados que implantaram tais órgãos, inspirou o constituinte de
1988.

Veio ao mundo jurídico, então, a Lei n o 9.099, de 26/9/1995, para, cumprindo o


comando constitucional, regulamentar tais juizados no âmbito da Justiça Ordinária, isto
é, da Justiça comum estadual e do Distrito Federal, e que se acha em vigor desde
27/11/1995.

Recentemente, entrou em vigor a Lei n o 10.259/2001, a qual instituiu os juizados


especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça Federal comum, aplicando-se,
subsidiariamente, a Lei no 9.099/1995, ressalvado aquilo que conflitar com o novel texto
legal.

Para a boa aplicação do procedimento submetido aos juizados especiais não


deve a Lei no 9.099/1995 ser interpretada isoladamente, mas, sim, em cotejo com o
Código de Processo Civil, o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil, de modo
a integrá-la.

A idéia-matriz dos juizados especiais consiste na facilitação do acesso à Justiça


pelo cidadão comum, especialmente pela camada mais humilde da população, criando-
se um verdadeiro microsistema processual, e encontram-se nos arts. 2o, 5o, 6o, 12 e 13,
da Lei no 9.099/1995, seus princípios orientadores, isto é, oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual, celeridade e busca da conciliação ou transação.

Os juizados especiais não foram instituídos com a pretensão de desafogar o


Judiciário, mesmo porque, conforme vem demonstrando a experiência, eles vieram para
atender a uma litigiosidade reprimida representada pelas questões de pequena
expressão monetária, tituladas pelos cidadãos de parcos recursos financeiros, que,
antes, não tinham acesso à Justiça, através das varas cíveis, considerados os
obstáculos econômicos (despesas com custas processuais, honorários de advogado,
etc.) e as deficiências do sistema de assistência judiciária. Em outras palavras: os
juizados especiais não vieram para retirar causas das varas comuns, mas, sim, para
abrir as portas do Judiciário às pessoas mais simples, que dele estavam alijadas.

Objetiva-se, neste estudo, analisar os principais aspectos dos juizados especiais


cíveis que os distinguem dos demais órgãos responsáveis pela aplicação do direito
processual civil comum, tais a competência, o procedimento adotado, a sentença e o
sistema recursal, ressaltando suas particularidades e vantagens para prestação
jurisdicional.

1. - Considerações Gerais
Surgiram primeiro, os Juizados de Pequenas Causas para matéria cível. Tiveram
inspiração na Pretoria do Direito Italiano, incluindo como no mesmo, também a figura do
Conciliador. A intenção foi desafogar as varas cíveis, no sentido de que as causas de
menor alçada pudessem ter solução mais breve e assim satisfazer melhor a expectativa
das partes de verem solucionado um litígio.

O Juizado Especial Cível nasceu em 1995, com a Lei n. 9.099, de 26.09.95, a


partir da experiência bem sucedida do Tribunal de Pequenas Causas. Para as causas
mais simples e de menor valor, propostas por pessoas físicas, a lei desde 1984 já
instituía um procedimento informal, que privilegiava o acordo entre as partes e o contato
direto delas com o juiz, sem a necessidade de contratação de um advogado. O processo
se tornava ágil e rápido, mas sem perder a segurança, o que fez do "Pequenas Causas"
um verdadeiro instrumento do exercício da cidadania.

A lei de 1995 veio aprimorar o sistema, ampliando a competência do Juizado


tanto com relação à matéria, quanto em relação ao valor. Desse modo, o cidadão
comum encontrou o foro no qual procurava resolver suas pendências cotidianas,
aquelas que antes ficavam longe da apreciação da Justiça, causando um sentimento de
impunidade. O caráter didático da atuação do Juizado hoje pode ser medido na atitude
da pessoa comum que, diante de uma injustiça, não deixa de "procurar seus direitos".

Recentemente, a Lei n. 9.841, de 1999, estendeu o procedimento do Juizado


também as microempresas, diante do interesse dos empresários, que também queriam
contar com a eficiência do procedimento da Lei n. 9099/95. Não se pode negar hoje a
tendência de que a agilidade do procedimento do Juizado venha a ser incorporada ao
processo comum, dotando o juiz de um instrumento eficaz no combate a morosidade do
processo.

Os juizados especiais cíveis, dotados da incumbência de conciliar, julgar e


executar as causas de menor complexidade, tem sede na Constituição Federal em seu
artigo 98, I, e, seguindo os princípios da oralidade, informalidade, economia processual,
celeridade e simplicidade, cumprem a missão de abrir as portas do Poder Judiciário às
pessoas mais carentes, atendendo a uma demanda reprimida, mediante a oferta de um
processo rápido, econômico e simples.

2. - PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO JUIZADO


Qualquer processo, por mais simples que seja precisa seguir a certos princípios
com a finalidade de dar uma orientação ao processo legal. Note-se que a falta de
qualquer deles pode ensejar nulidades.

Pode-se conceituar princípio como regra fundamental que deve ser observada e
cumprida. O doutrinador Joel Dias Figueira Júnior assim conceitua: “princípios
processuais são um complexo de todos os preceitos que originam, fundamentam e
orientam o processo”.

Podemos classificar os princípios em duas espécies, informativos e gerais. Os


informativos orientam o processo pelo seu fim maior e ideal precípuo, já os gerais, ou
também conhecidos como fundamentais, são os previstos na Carta Magna ou na
legislação infraconstitucional, e estes orientam a atividade de todo o processo e de todas
as pessoas nele envolvidas.

Os princípios orientadores do Juizado Especial Cível são: oralidade, simplicidade,


informalidade, economia processual e celeridade, visando sempre que possível a
conciliação ou a transação (artigo 2º).

2.1. - Oralidade

Nunca houve um processo nem totalmente oral nem apenas escrito. Sempre se
utilizaram atos orais e atos escritos em conjugação na atividade jurisdicional.

Quando se afirma que o processo se baseia no princípio da oralidade, quer-se


dizer que ele é predominantemente oral e que procura afastar as notórias causas de
lentidão do processo predominantemente escrito. Assim, processo inspirado no princípio
ou no critério da oralidade significa a adoção de procedimento onde a forma oral se
apresenta como mandamento precípuo, embora sem eliminação do uso dos registros da
escrita, já que isto seria impossível em qualquer procedimento da justiça, pela
necessidade incontornável de documentar toda a marcha da causa em juízo.

O processo dominado pela oralidade funda-se, destarte, em alguns subprincípios


que implicam uma decisão concentrada, imediata, rápida, e irrecorríveis suas
interlocutórias, além também o da identidade física do juiz. É o conjunto desses critérios
que, sendo adotados com prevalência sobre a pura manifestação escrita das partes e
dos juízes, dá configuração ao processo oral.

Pelo imediatismo deve caber ao juiz a coleta direta das provas, em contato
imediato com as partes, seus representantes, testemunhas e peritos.

A concentração exige que, na audiência, praticamente se resuma a atividade


processual concentrando numa só sessão as etapas básicas da postulação, instrução e
do julgamento, ou, pelo menos, que, havendo necessidade de mais de uma audiência,
sejam elas realizadas em ocasiões próximas.

A identidade física do juiz preconiza que o juiz que colhe a prova deve ser o
mesmo que decide a causa.

E, enfim, a irrecorribilidade tem a função de assegurar a rápida solução do litígio,


sem a interrupção da marcha do processo por recursos contra as decisões
interlocutórias.

Na verdade, não se chega ao extremo de impedir a impugnação dos decisórios


sobre as questões incidentais. Satisfaz-se a exigência desse princípio privando o
agravo de sua eficácia suspensiva ou determinando que seja ele retido nos autos para
exame e julgamento, ao final do procedimento, de molde a não prejudicar o seu
andamento normal.

Tudo isso deve orientar o aplicador da lei quando estiver manejando o


procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Civil. Por integrar a ideologia do
instituto, a intenção do legislador é, no texto do artigo 2º da Lei 9.099, criar um clima de
ordem psicológica que estimule juiz e partes a procedes em atividade de íntima
colaboração na solução rápida e direta do conflito.

2.2. - Simplicidade

Este princípio se confunde um pouco com o princípio da informalidade orienta,


que o processo deve ser simples, sem a complexidade exigida no procedimento comum.
As causas complexas, não se recomenda, processá-las perante os Juizados Especiais
Cíveis, considerando que as referidas causas, via de regra, exigem a realização de
prova pericial, o que não é recomendado pelo procedimento, salvo quando o reclamante
já adunar à inicial a prova técnica necessária para a comprovação de seu direito
articulado na peça inaugural da ação.

Porém importante se faz ressaltar que a simplicidade não pode também ser
confundida com a inexistência de autos; há necessidade de registros, ainda que
sumários, pois as partes precisam de elementos não só para a execução, como também
para possíveis recursos.

2.3. - Informalidade

Os atos processuais são os mais informais possíveis, e, com base nesse


princípio, admite-se a propositura da reclamação de forma oral, através de termo lavrado
pelo cartório secretário, a presidência da audiência conciliatória por um conciliador, a
presidência da audiência de instrução e julgamento por um juiz leigo, o qual proferirá sua
decisão, a atribuição da capacidade postulatória sem assistência de advogado, quando
o valor da causa for igual ou inferior a 20 salários mínimos.

O princípio da oralidade também pode corresponder ao registro do que seja


realmente necessário, bem resumido, sem os excessos inúteis, que, em regra, constam
dos autos dos processos.

2.4. - Economia processual

O princípio da economia processual visa o máximo de resultados com o mínimo


de esforço ou atividade processual, aproveitando-se os atos processuais praticados.

2.5. - Celeridade

A celeridade, no sentido de se realizar a prestação jurisdicional com rapidez e


presteza, sem prejuízo da segurança da decisão. A preocupação do legislador com a
celeridade processual é bastante compreensível, pois está intimamente ligada à própria
razão da instituição dos órgãos especiais, criados como alternativa à problemática
realidade dos órgãos da Justiça comum, entrevada por toda sorte de deficiências e
imperfeições, que obstaculizam a boa fluência da jurisdição. A essência do processo
especial reside na dinamização da prestação jurisdicional, daí por que todos os outros
princípios informativos guardam estreita relação com a celeridade processual, que, em
última análise, é objetivada como meta principal do processo especial, por representar o
elemento que mais o diferencia do processo tradicional, aos olhos do jurisdicionado. A
redução e simplificação dos atos e termos, a irrecorribilidade das decisões
interlocutórias, a concentração dos atos, tudo, enfim, foi disciplinado com a intenção de
imprimir maior celeridade ao processo.

Devemos salientar a importância da efetiva aplicação dos princípios supra, de


forma a tender aos fins colimados com a criação dos Juizados Especiais, facilitando o
acesso das partes à prestação jurisdicional e à satisfação imediata dessa prestação,
contribuindo ainda para o descongestionamento do juízo comum.

É importante a aplicabilidade técnica dos princípios que orientam o procedimento


dos processos em trâmite pelos Juizados Especiais Cíveis, pois a observância desses
princípios pelo julgador, indubitavelmente, contribuirá para o desenvolvimento dos
órgãos e atenderá aos fins visados com sua criação.

3. - COMPETÊNCIA

3.1. - Quanto ao valor de alçada

A Lei nº 9.099/95 em seu art. 3º inciso I, fixa o valor da alçada não excedente a 40
(quarenta) vezes o salário mínimo vigente à data à do ajuizamento da ação. Para
apurar-se o valor da causa, deve-se somar, o principal com os acessórios até a época
da propositura da ação.

É oportuno salientar que, superando o valor da causa ao valor da alçada e não


sendo logrado êxito, na conciliação das partes, importa, conseqüentemente, em
renúncia automática do crédito excedente, nada impedindo que o reclamante desista,
naquele momento, de prosseguir com a ação perante o Juizado, buscando a via judicial
comum, isso sem anuência da parte contrária, uma vez que o valor de alçada deve ser
respeitado somente para efeito de condenação e não para fins conciliatórios, conforme
ilação do disposto no art. 3º, § 3º, c/c com o art. 39 da mesma lei, que torna ineficaz a
sentença condenatória na parte que exceder o valor de alçada.

O conciliador, quando da presidência da audiência conciliatória, percebendo que


o crédito do reclamante é bem superior ao valor de alçada, não conciliando as partes,
deve alertar o reclamante no sentido de, insistindo este no prosseguimento da
reclamação perante o Juizado, estar ele renunciando, automaticamente, ao seu crédito
excedente ao valor de alçada.

O alerta supracitado deveria ser feito pelo funcionário do Juizado ao receber a


inicial para seu tombamento, principalmente quando o reclamante propor a reclamação
sem a assistência de advogado, evitando assim causar sensível prejuízo material ao
mesmo.

Destarte, não pode o cartório deixar de receber e processar normalmente a inicial


que tenha valor da causa superior ao de alçada.

3.2. - Quanto às matérias de competência do Juizado

O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e


julgamento das causas cíveis de menor complexidade assim consideradas:

I – as causas cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo;

II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;

III – a ação de despejo para uso próprio;

IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao de


alçada.

Compete ainda ao Juizado Especial promover a execução de seus julgados, bem


como dos títulos executivos extrajudiciais, no valor não superior a 40 vezes o salário
mínimo, observando o disposto no art. 8º da Lei nº 9.099/95.

Quanto às causas cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo, temos aí
uma competência elástica do Juizado Especial Cível para processar e julgar as causas
que não envolvam matéria de competência específica de outros órgãos jurisdicionais,
como as ações de família, ações falimentares etc., nem aquelas excluídas da
competência do Juizado, por força do § 2º do art. 3º da Lei 9.099/95.

No tocante a essa competência genérica do Juizado, firmada pelo inciso I do art.


3º da lei, o valor de alçada é considerado apenas para efeito de condenação, o que não
obsta a propositura da ação mesmo quando o valor atribuído à causa, for superior ao de
alçada, sendo eficaz a sentença que homologar o acordo celebrado entre as partes em
valor superior ao de alçada, tendo em vista os fins conciliatórios colimados pelo Juizado.
Somente a sentença condenatória é ineficaz na parte que exceder a alçada estabelecida
pela lei, mesmo porque a opção pelo procedimento das ações perante o Juizado
Especial Cível importará em renúncia ao crédito excedente ao valor de alçada,
excetuada a hipótese de conciliação, como ressalva o § 3º do seu art. 3º.

Já o inciso II do aludido artigo firma a competência do Juizado Especial Cível para


processar e julgar as ações sumárias elencadas no art. 275, inciso II, do Código
Nacional de Ritos.

Assim, são de competência do Juizado Especial Cível as causas específicas de


valor não excedentes a 40 salários mínimos, para fins de condenação:

a) - de arrendamento rural e de parceria agrícola;

b) - de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;

c) - de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;

d) - de ressarcimento por danos causados em acidentes de veículos, ressalvados


os casos de processo de execução;

c) - de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de


veículo, ressalvados os casos de processo de execução;

e) - de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto


em legislação especial;

f) - nos demais casos previstos em lei.

Quanto à matéria fixada na alínea a, versa sobre arrendamento rural e de parceria


agrícola, sendo da competência do Juizado Especial Cível a apreciação dessa matéria,
e considerando a existência de diversos juizados instalados em todo o interior dos
Estados, facilitará ao homem do campo o acesso á prestação jurisdicional do órgão para
dirimir os conflitos decorrentes dos contratos de arrendamento rural e de parceria
agrícola, que são inúmeros na relação rurícola.
Em relação à alínea “b”, refere-se às ações de cobrança de quaisquer quantias
devidas pelos condôminos ao condomínio. Apesar da lei, fixar essa competência do
Juizado Especial Cível, torna-se letra morta da lei se insistirem os julgadores em não
admitir os condomínios e até mesmo as pessoas jurídicas de natureza privada figurarem
no pólo ativo das ações perante o referido órgão, pois via de regra, somente o
condomínio teria interesse em propor ações dessa natureza em face dos condôminos, e
estando ele impossibilitando de propor ações perante o Juizado, de nada adiantaria a
competência acima firmada.

Quanto à matéria abordada na alínea ‘c,” refere-se à ressarcimento por danos em


prédio urbano ou rústico. Mesmo antes da Lei nº 9.099/95, já vínhamos admitindo ações
de indenização por danos causados em imóveis, apesar de alguns juízes resistirem por
entender ser a ação de natureza complexa; na realidade, 95% dessas ações encerram-
se na fase conciliatória. É certo que, quando complexa a ação por exigir a realização de
perícia técnica, salvo a informal, apesar da fixação da competência do Juizado nessa
matéria, orientamos pela propositura da ação no juízo comum, por não recomendar o
procedimento regulado pela lei supra-epigrafada a realização de perícia técnica formal.

Na alínea “d”, está fixada a competência dos Juizados para ações de


ressarcimento de danos causados em acidentes de veículos. Mesmo antes da
transformação dos Juizados de Pequenas Causas em Juizados Especiais Cíveis, o
maior índice de ações processadas versava sobre indenização decorrente de acidente
de veículos. Com a ampliação do valor da alçada para 40 salários mínimos e a
necessidade de assistência de advogado no Juizado quando o valor atribuído à causa
for superior 20 salários mínimos, indubitavelmente, vem contribuindo para o crescente
número de ações dessa natureza perante o órgão, devendo a inicial ser instruída com os
documentos aludidos.

Na alínea “e”, cuida-se da cobrança de seguro, relativamente aos danos


causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução. As
ações de responsabilidade civil em face das seguradoras em razão de acidente de
veículo, conforme a previsão legal acima, são de competência dos Juizados Especiais
Cíveis.
Quanto à alínea “f”, prevê a cobrança de honorários dos profissionais liberais
ressalvando o disposto em legislação especial. Não importa, a natureza da atividade
profissional liberal exercida, autorizando o prestador de serviço cobrar seus honorários
não pagos pelo contratante desses serviços. São inúmeras as ações propostas perante
o Juizado por advogados, cobrando seus honorários não pagos pelos clientes.

3.2.1. - Da competência do Juizado Especial Cível nas ações de despej

O legislador limitou a competência do Juizado Especial Cível para processar e


julgar a ação de despejo que tenha por objeto a retomada do imóvel somente para uso
próprio. Assim, o locador que desejar a retomada do seu imóvel para uso de
ascendentes ou descendentes, como autoriza a Lei nº 8.245/91, não poderá promover a
ação de despejo perante o Juizado, mas sim no Juízo Cível comum. È um absurdo essa
falha da Lei 9.099/95, pois, na maioria das ações de despejo para retomada do imóvel
objeto da locação, a pretensão do autor á a retomada do imóvel para uso de
descendentes ou ascendentes e quase nunca para uso próprio.

3.2.2. - Da competência do Juizado Especial Cível nas ações possessórias

Conforme o permissivo legal insertado no inciso IV do art. 3º da Lei nº 9.099/95,


compete ao Juizado Especial Cível processar e julgar ações possessórias sobre bens
imóveis de valor não excedente ao fixado para o valor de alçada. Essa é mais uma
frustração social, podendo até considerar uma letra morta da lei, uma vez que a
limitação do valor do imóvel objeto da ação possessória ao de alçada, que é de até 40
salários mínimos, obsta a possibilidade de se promover perante o Juizado qualquer ação
possessória de bem imóvel, pois, de acordo com a realidade econômica atual e a
valorização imobiliária, nem mesmo o pior barraco construído nas favelas é vendido por
preço igual ou inferior a 40 salários mínimos. A lei deve ser realista e finalista e não
frustrante e ilusória.

Quanto às ações possessórias de bens móveis ou semoventes, são estas


também de competência do Juizado Especial Cível, para absorver as matérias de
competência do Juizado de Pequenas Causas, que era competente para essas ações.

Assim, tanto as ações possessórias como as ações vindicatórias de


domínio, que tenham como objeto um bem móvel ou semovente, em razão da absorção
pelo Juizado Especial Cível das matérias que antes eram de competência do Juizado de
Pequenas Causas, passaram a ser de competência daquele órgão jurisdicional.

3.2.3. - Quanto aos interditos possessórios

É oportuno destacar os interditos possessórios de que dispõe o possuidor, seja


ele proprietário ou simplesmente possuidor do bem móvel ou imóvel, cujos interditos
poderão ser propostos perante o Juizado Especial Cível, como ressaltamos no item
anterior. De acordo com os arts. 926 e 932, ambos do Código de Processo Civil, são
eles:

a) Ação de Reintegração de Posse; é a ação protetora da posse, sendo


cabível quando o possuidor legítimo for esbulhado de sua posse por terceiro, devendo a
ela ser reintegrado.

b) Ação de Manutenção de Posse; é a ação protetora da posse, cabível


quando o possuidor legítimo for turbado em sua posse.

c) Interdito Proibitório; é a ação possessória de que dispõe o possuidor direito


ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na sua posse, podendo propor a
ação para que o juiz o segure da turbação ou esbulho iminente.

Quando processadas as ações possessórias perante o Juizado Especial Cível,


devemos observar o procedimento especial regulado pela Lei nº 9.099/95, e não o
especial regulado no Código de Processo Civil, em seus arts. 920 e segs.

Nas ações possessórias em curso pelo Juizado Especial Cível, é cabível a


concessão de medida liminar, quando se tratar de posse nova, ou seja, de menos de
ano e dia, devendo ainda estar presente o fumus boni iuris e o periculum in mora,
pressupostos processuais que autorizam a medida liminar, evitando assim dano
irreparável ao direito do autor, apesar da celeridade do rito processual regulado pela lei
especial acima epigrafa.

3.3. - Causas excluídas do Juizado Especial em razão da matéria:

alimentar, falimentar, fiscal, e interesse da Fazenda Pública, relativas a resíduos,


estado e capacidade das pessoas
O Juizado Especial não atua em causas de natureza alimentar. Causa de
natureza alimentar é o que decorre da obrigatoriedade de prestação de alimentos, em
razão de parentesco ou afinidade. Não são causas, de natureza alimentar aquelas que
objetivam indenização por ato ilícito, sob forma idêntica à prestação de alimentos.

Também não estão sujeitas ao Juizado Especial as causas de falências e


concordatas.

O juízo de falências e concordatas, são indivisíveis e competentes, para todas as


ações e reclamações sobre interesses e negócios da massa falida, processadas na
forma da Lei de Falências. A massa falida, por outro lado, não pode ser parte no Juizado
Especial. Em conseqüência, além da própria declaração de falência, todas as causas
que envolvem a massa falida ficam excluídas do Juizado Especial.

As causas relativas a acidentes do trabalho também não podem ser julgadas no


Juizado Especial.

Causas relativas a acidentes do trabalho são todas aquelas que encontram


respaldo na Lei nº 8.213/91. O simples fato de a pessoa sofrer acidente, quando está
trabalhando, não caracteriza o acidente do trabalho, no sentido técnico-jurídico, se não
ocorrer a relação de dependência prevista na referida lei. Assim, o autônomo que,
trabalhando para alguém, vier a sofrer qualquer acidente, em decorrência de culpa de
outrem (o que não é exigido para a “ação acidentário”), pode, perfeitamente, socorrer-se
do Juizado Especial, desde que respeitem os limites determinados no art. 3º.

Diz a lei, que as causas relativas ao estado e capacidade das pessoas não serão
objeto do Juizado Especial, “ainda que de cunho patrimonial”. A lei, por ser cautelosa em
demasia, estabeleceu condição que não carecia de referência. Se a lide tem por objeto o
estado ou a capacidade, nunca terá cunho patrimonial. Estado e capacidade poderão
ser questões que emergem no processo, mas, se não constituem objeto da lide, são
perfeitamente solucionáveis no Juizado Especial. O contrato de venda de coisas móveis
poderá, por exemplo, ser declarado nulo, ou anulado, por ser o vendedor, ou o
comprador, incapaz.
A capacidade pode ser de direito ou de exercício do direito. Quem tem
capacidade de direito chama-se pessoa. O atributo de gozo de direitos é a
personalidade.

Há pessoas que têm capacidade de exercício de seus direitos, embora tenham


personalidade de direito chama-se pessoas. A incapacidade pode ser plena ou relativa.
No primeiro caso, o incapaz é representado; no segundo, simplesmente assistido.

As causas relativas ao estado da pessoa relacionam com o estado político, cuja


definição se limita a indagar se a pessoa é nacional ou estrangeira, com o estado
familiar, ou seja, a posição da pessoa em família, nela se incluindo as questões de
paternidade, maternidade, parentesco, adoção, casamento, divórcio, separação etc.

Diz a lei que o Juizado Especial não é também competente para as causas
relativas a “resíduos”.

Os “resíduos” nada têm que ver com a substituição fideicomissária instituída pelo
testador e que consiste na obrigação de serem transmitidos a outra pessoa a herança ou
o legado, por ocasião da morte do herdeiro ou legatário, a certo tempo, ou sob certa
condição. Os bens ficam gravados e, se o fideicomisso não caducar, permanecem
inalienáveis. No legado com “resíduos”, os bens podem ser consumidos e alienados
incondicionalmente, só passando para o beneficiário da cláusula o remanescente, a
sobra.

Falando, porém, em “resíduos”, será que o legislador quis estabelecer vedação


apenas às causas referentes a legados condicionados a destino certo das sobras? Será
que a lei, dentre tantas coisas de relevância no Direito sucessório, iria preocupar-se
apenas com os “resíduos” de dificílima aplicação prática? Lógico que não! Ao que tudo
indica, o legislador entendeu “resíduos” como termo muito mais abrangente, para
significar não os “resíduos de legado”, mas tudo aquilo que pode considerar-se
remanescente (o que ficou, o que sobrou) em razão de um fato jurídico. Causas relativas
a “resíduos” seriam não apenas as referentes a sobras de legados, mas a todas as de
Direito sucessório e de herança jacente.

Causas de natureza fiscal são todas aquelas que dizem respeito a dívidas
tributárias e não tributárias para com a Fazenda Pública, e causas de interesse desta as
que podem afetar diretamente o patrimônio da União, dos Estados e dos Municípios. As
causas referentes a empresas públicas, a fundações públicas e as sociedades de
economia mista não afetam diretamente os patrimônios referidos; logo, portal razão, não
se excluem do Juizado, se bem que as empresas públicas da União ficam excluídas em
razão da pessoa por disposição expressa, e as sociedades de economia mista só
podem atuar como rés, já que pessoas jurídicas não podem ser autoras.

3.4. - Da competência do Juizado Especial Cível para a ação monitória

É perfeitamente cabível a propositura da ação monitória perante o Juizado


Especial Cível. Essa ação visa a pré-constituição do título de crédito extrajudicial
originário de uma simples confissão de obrigação de pagar determinada soma em
dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel, revestido o título das
formalidades legais que o fazem tornar hábil à execução.

A ação monitória é uma ação preparatória para a ação de execução e,


considerando a competência do Juizado Especial Cível para a execução de títulos
extrajudiciais e em vista dos fins da ação monitória de pré-constituição de um título
extrajudicial hábil á execução, tratando-se de causa de valor não superior a 40 salários
mínimos, é cabível sua propositura perante o Juizado, mesmo a lei orientando que os
embargos na ação monitória independem de prévia segurança do juízo e serão
processados nos próprios autos, pelo procedimento ordinário.

3.5. - Da absorção das matérias dos Juizados de Pequenas causas pela Lei nº 9.099/95

É oportuno ressaltar que as matérias de competência dos Juizados de Pequenas


Causas e do Consumidor foram absorvidas pelos Juizados Especiais Cíveis, tais como
as que se seguem:

1) Pedido de condenação ao pagamento de quantias em dinheiro em valor não superior


a 40 (quarenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País.

2) Pedido de condenação à entrega de coisa certa móvel ou obrigação de fazer,


a cargo de fabricantes ou fornecedor de bens e serviços.

É grande a procura do Juizado para dirimir os conflitos decorrentes da relação de


consumo, reclamando o consumidor a entrega de mercadoria prometida; visando à troca
de objetos entregues com defeito de fabricação; pleiteando a rescisão contratual com a
evolução do preço pago pela mercadoria adquirida no comércio; repetição de indébito
com o reembolso da importância para a maior, e outros conflitos sociais envolvendo uma
relação jurídica.

Cabe salientar que, tratando-se de conflitos decorrentes de defesa do


consumidor, o valor de alçada não é observado. Portanto, não há limite quanto ao valor
da causa para efeito de condenação do Juizado Especial para dirimir os conflitos
inerentes à relação de consumo, sem fazer alusão ao valor de alçada atribuído pela lei
9.099/95, que regula o procedimento perante aquele órgão jurisdicional.

1) Pedido de desconstituição e de declaração de nulidade de contrato de coisas


móveis ou semoventes.

2) Em contratos nulos, pode ser proposta a reclamação visando à decretação de


uma nulidade relativa, cujos efeitos da sentença que reconhecer os vícios são ex nunc
(ou seja, produzirá seus efeitos a partir do seu trânsito em julgado) ou a declaração de
nulidade absoluta, produzindo efeitos ex tunc, (Isto é, a partir da celebração do ato
jurídico inquinado do vício).

Cabe ainda a reclamação perante o Juizado Especial Cível, quando houver


descumprimento do contrato por qualquer das partes da relação contratual, visando,
destarte, á rescisão do contrato celebrado, desde que nas hipóteses supra – elencadas,
tenha o contrato por objeto coisas móveis ou semoventes.

3) Ação declaratória para reconhecimento de débito real

Insta ressaltar inicialmente que a ação colocada à disposição do devedor que está
sendo cobrado em valor superior ao devido para compelir o credor a receber o débito
real é a ação de consignação em pagamento, para a qual, é adotado um rito processual
especial, regulado no Código de Processo Civil. Portanto, não cabe no âmbito do
Juizado a propositura de tal tipo de ação, tendo em vista a especialidade do rito
processual adotado.

Por outro lado, para amenizar essa situação e atrair a competência do Juizado
Especial Cível, o devedor, na prática, que pague o valor cobrado a maior e promova
perante o órgão jurisdicional citado ima ação de repetição de indébito, a fim de obrigar a
parte contrária ao reembolso da importância cobrada a maior, atualizada
monetariamente. Nesse caso, o objeto da ação é uma condenação ao pagamento de
quantia em dinheiro, cuja competência está declinada pelo inciso I, do art. 3º da Lei nº
9.099/95.

Pode ainda o devedor, não pretendendo se utilizar do mecanismo prático citado, a


que muitas vezes é compelido, tendo em vista a exorbitância dos valores cobrados a
maior, buscar então a prestação jurisdicional do Juizado Especial Cível para promover
uma ação declaratória, a fim de o juiz declarar por sentença o débito real, condenando o
credor a receber tão somente o crédito reconhecido pela sentença o débito real,
condenando o credor a receber tão somente o crédito reconhecido pela sentença, que
tem a natureza declaratória e condenatória.

3.6. - Da competência em razão do local

Na forma do art. 4º, da lei que regulamente o procedimento das ações propostas
perante o Juizado Especial Cível, a competência ratione loci, ou seja, em razão do local,
é fixada conforme a seguir:

1) Pelo Juizado do foro do domicílio do réu ou a critério do autor, do local onde aquele
exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial,
agência, sucursal ou escritório.

Assim, o consumidor que adquire um produto de uma loja situada no Estado de


São Paulo, que tem filial em Belo Horizonte, onde mora o comprador, poderá propor a
reclamação perante o Juizado Especial Cível de São Paulo, onde foi adquirido o
produto, ou ante o Juizado de Belo Horizonte, onde está situada a filial da loja.

2) Pelo juizado do foro do lugar onde a obrigação deva ser cumprida.

Utilizando-se do exemplo acima, morando o comprador no rio de Janeiro, cujo


local foi destinado para a entrega do objeto adquirido, mesmo não possuindo a loja filial
no Rio, poderá ele promover a reclamação perante o Juizado de qualquer um dos três
Estados mencionados.
3) Pelo juizado do foro do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas
ações para reparação de dano de qualquer natureza.

A exemplo de um abalroamento de veículos, cujo acidente ocorreu na Comarca


de São Gonçalo (RJ), morando o causador dos danos em Niterói (RJ) e o
experimentador dos referidos danos no Rio de Janeiro, poderá este promover a
reclamação para pleitear indenização diante do juizado de qualquer uma das aludidas
Comarcas, como ressaltamos abaixo.

Em qualquer das hipóteses acima epigrafadas, poderá a ação ser proposta no


foro do domicílio do réu, como autoriza o parágrafo único do aludido art. 4º da lei que
regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado Especial Cível.

3.7. - Fixação da competência quando houver foro de eleição no contrato

Havendo previsão no contrato do foro de eleição, este deverá ser respeitado.


Portanto, o juizado competente para apreciar o conflito será o do foro eleito pelas partes.

No Juizado Especial Cível, o momento oportuno para argüir a exceção de


incompetência relativa é o da audiência de instrução e julgamento, pois é quando a parte
contrária oferece sua contestação. Nada impede, porém, seja argüida a exceção na
própria audiência conciliatória, devendo, devendo o conciliador que presidir a audiência
fazer constar do termo de assentada a argüição da exceção, recomendando a conclusão
dos autos ao juiz para apreciar o pedido.

Na prática, o ideal é que a exceção seja apreciada na audiência de instrução e


julgamento, evitando assim a dilatação do rito processual adotado.

Tratando-se de competência relativa, não pode o juiz decliná-la ex officio,


devendo ser apreciada apenas quando argüida a exceção pela parte contrária no
primeiro momento de estar no processo, que no Juizado Especial Cível ocorre na
audiência de instrução e julgamento, pois é nessa fase processual que deve ser
oferecida a contestação.

Reconhecida a incompetência do Juizado, deve então ser julgado extinto o


processo, sem julgamento do mérito, e não declinada a competência para outro Juizado,
como determina o art. 51, inciso III, da aludida lei.
Competência para execução de acordo extrajudicial homologado e para execução
de título extrajudicial de acordo referendado pelo Ministério Público

Qualquer que seja o valor do acordo extrajudicial poderá, ser homologado, no


juízo competente, independentemente de termos, valendo a sentença como título judicial
(art. 57).

Essa regra alcança não apenas os Juizados Especiais como também qualquer
outro órgão jurisdicional. Para o Juizado Especial, no entanto, há particularidade
importante no que se relaciona coma competência para a execução.

Assim como o Juizado Especial não está impedido de homologar conciliação de


valor superior a 40 (quarenta) salários mínimos, também não deve estar para a
homologação do acordo em tais condições. Tanto em um caso como no outro, porém, a
execução nunca poderá ser processada no Juizado Especial, a não ser que ocorra a
renúncia pelo excesso. De valor possível, no entanto, a execução, em qualquer das
hipóteses, se instaura, seguindo-se o procedimento específico.

Qualquer que seja o valor do acordo homologado, desde que, em razão da


matéria, o Juizado Especial seja competente para dela conhecer, a execução pode ser
instaurada, mas o acordo homologado em outro juízo não pode ser executado no
Juizado Especial, ainda que, pelo valor ou pela matéria, pudesse ser ali processado, já
que o juízo na homologação passa a ser o competente para a execução.

Em razão do valor, o acordo, assim como a conciliação, pode ser homologado em


qualquer juízo, inclusive no Juizado Especial, mas, quando se tratar de acordo
extrajudicial de natureza tal que se exclui da competência deste – e mesmo de outros
juízos – apenas valerá como título se homologado no juízo competente.

Os acordos referendados pelo Ministério Público são executáveis também no


Juizado Especial, desde que se guarde limite do valor ou haja renúncia do excesso.

4. - PARTES

4.1. - Legitimatio ad causam


Partes são as pessoas que pedem (autores) e contra as quais se pede (réus), em
nome próprio, a tutela jurisdicional.

O Juizado Especial Civil é uma instituição que foi criada especificamente para a
tutela das pessoas físicas, no que diz respeito às suas relações patrimoniais, tendo
como objetivo predominante a pacificação do litígio por meios negociais.

O art. 8º da lei 9.099 enumera taxativamente, as pessoas que não podem figurar
como partes em sede de Juizados Especiais.

Dessa forma, não podem figurar tanto no pólo ativo quanto no pólo passivo da
relação processual: o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as
empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.

Justifica-se a exclusão dessas pessoas em razão da simplicidade e informalidade


que norteiam os procedimentos nos Juizados Especiais. Nos processos em que figuram
como partes aquelas pessoas excluídas de litigarem nos Juizados Especiais devem ser
observadas algumas formalidades incompatíveis com o procedimento simplificado desta
lei.

No pólo ativo da relação processual somente são admitidas a postular nos


Juizados Especiais as pessoas físicas, excluindo-se aquelas que venham a postular
sobre direitos que constituem, inequivocamente, cessão de direito de pessoa jurídica.

A capacidade plena da pessoa física para postular perante o Juizado é atingida


após completar 18 anos de idade, independentemente de assistência; é tão somente
admitida para que o mesmo venha a ser autor, pois no pólo passivo só após completar
21 anos de idade. É de se observar que havendo formulação de pedido contraposto
contra o autor maior de 18 anos, será necessária a intervenção do Ministério Público.

Quanto à pessoa jurídica, cabe relevar que, na hipótese de figurar ré na ação,


poderá, em sua defesa, formular pedido contraposto em seu favor. Neste caso, sendo o
pedido contraposto julgado procedente, efetivamente poderá a pessoa jurídica que o
formulou promover sua execução nos Juizados Especiais.
Situação idêntica pode ocorrer no caso de, por exemplo, sendo o réu, pessoa
jurídica, haver a conciliação homologada por sentença, em que o autor assuma a
realização de uma obrigação.

Neste caso, é plenamente viável que o réu, mesmo sendo pessoa jurídica,
promova a execução do acordo, no caso de inadimplemento, perante o órgão do Juizado
Especial no qual o mesmo foi homologado.

O dispositivo em comento foi inovado com o advento da Lei 9.841 de 05.10.1999,


que instituiu o Estatuto da Microempresa e das Empresas de Pequeno Porte, dispondo
sobre o tratamento jurídico diferenciado. A inovação consiste na aplicação do disposto
no § 1º do art. 8º da lei dos Juizados Especiais às microempresas, definidas como tal,
nos moldes do sobredito diploma legal.

Desta forma, poderá as microempresas figurar no pólo ativo da relação


processual junto aos Juizados Especiais, demandando causas no âmbito de sua
competência específica, consoante disposição do art. 3º da Lei 9.099/95, se optarem por
este procedimento. Como ocorre com as pessoas físicas, a opção pelo procedimento
perante os Juizados Especiais constitui faculdade da parte.

Entretanto, é vedado ás microempresas postular direito que lhes foi transferido


por cessão de pessoa jurídica que não se enquadre na definição da nova lei.
Verificando-se a ocorrência de tal fato no curso da ação, deve ser o processo extinto.

Cabe ressaltar que, no curso de processo perante os Juizados Especiais ocorrer


o desenquadramento da microempresa postulante, passando ela à condição de empresa
de pequeno porte, é caso, também, de extinção do processo.

Alguns critérios elementares deverão ser observados quando uma empresa


propuser uma ação junto aos Juizados Especiais. Tratando-se efetivamente de pessoa
jurídica, será sempre necessário que a microempresa, ao formular seu pedido junto aos
Juizados Especiais, apresente o seu estatuto social devidamente registrado na Junta
Comercial, o qual deverá ficar acostado aos autos. Necessário verificar ainda, pelo
estatuto social, quem tem condição legal de representação da microempresa em seus
atos, especificamente para representá-la em juízo.
O condomínio, mesmo não possuindo CNPJ, não pode ser definido como pessoa
jurídica, apesar da divergência doutrinária que o considera como uma pessoa jurídica
quando inscrito no CNPJ. Na realidade, o condomínio tem a natureza jurídica de um
órgão despersonalizado, não podendo assim figurara no pólo ativo da ação.

Entretanto, Luiz Cláudio Silva, em seu livro afirma que “Os condomínios devem
ser admitidos a reclamar no Juizado Especial Cível, mesmo porque estão
constantemente se defendendo nesse órgão jurisdicional em ações que lhe são
propostas pelos próprios condôminos. A admissibilidade de o condomínio postular
perante o órgão acima é em beneficio dos próprios condôminos, pois quando o
condomínio necessita de reclamar em juízo, as despesas com advogado e custas
processuais são rateadas entre os mesmos.”

O espólio, apesar de não ser considerado pessoa física, vem sendo admitido
tanto no pólo ativo como no passivo das ações de competência do Juizado.

O pólo passivo da relação processual pode ser ocupado tanto por pessoa natural
(desde que maior e capaz) como por pessoa jurídica, mas somente as de direito privado.

Não podem ocupar nem o pólo ativo nem o passivo as pessoas jurídicas de direito
público e as empresas públicas da União. Igual restrição aplica-se às massas
patrimoniais personalizadas pelo Código de Processo Civil, de modo que não podem
figurar no processo desenvolvido no Juizado Especial a massa falida e o insolvente civil.

A respeito das sociedades de economia mista, o Supremo Tribunal Federal,


através da Súmula nº 556, fixou a competência da Justiça comum para julgar as causas
em que figure como parte esse tipo de sociedade. Portanto, não há nenhum óbice para
que sociedade de economia mista, como a exemplo a Telerj, figure no pólo passivo das
ações de competência do Juizado Especial Cível.

4.2. - Posicionamento quanto a pessoa jurídica de natureza privada reclamarem


nos juizados especiais

O art. 8ª da lei 9.099/95 é expresso quanto à proibição de serem partes: os


incapazes, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da
União, a massa falida e o insolvente civil. Portanto, não faz qualquer alusão à pessoa
jurídica de direito privado.

Já no § 1º do aludido artigo, consta que somente as pessoas físicas capazes


serão admitidas a propor ação perante o Juizado, excluídos os cessionários de direito de
pessoas jurídicas.

É com base no referido parágrafo que alguns intérpretes concluem pela


impossibilidade da pessoa jurídica propor ações perante o Juizado. Na realidade, o
legislador quis excluir apenas os incapazes e os cessionários de direito de pessoas
jurídicas de direito público, sendo totalmente omisso quanto às pessoas jurídicas de
natureza privada. Portanto, na omissão da lei, devemos nos orientar de acordo com os
princípios que norteiam sua aplicação, principalmente no tocante aos fins sociais por ela
colimados.

A lei que regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado visa a facilitar
o acesso das partes à prestação jurisdicional do órgão, sem o desembolso de custas
processuais e honorários de sucumbência, bem como a não necessidade de serem
assistidas por advogado, salvo quando o valor atribuído á causa for superior a 20 vezes
o do salário mínimo, o que na Justiça comum são os principais obstáculos ao acesso à
Justiça. Colima ainda, primordialmente, a realização da conciliação das partes por um
conciliador ou juiz leigo, a celeridade, informalidade e simplicidade dos atos processuais,
descongestionamento do Juízo comum, de forma a atender satisfatoriamente aos
interessas das partes.

Sabemos que a maioria das pessoas jurídicas privadas existentes em nosso país
é formada por microempresas, cujo suporte financeiro é ínfimo, sendo obrigadas a
abster-se de buscar a prestação jurisdicional para questionar seus direitos, seja relativo
à cobrança de dívida, indenizações etc., pelo fato de não disporem de numerários para
contratar advogados e suportar o ônus das custas processuais. Com isso, o próprio
consumidor abusa dessa situação, deixando de satisfazer pequenos débitos, pois sabe
que o ônus financeiro para efetivar a cobrança judicial é maior.

Ainda que tenhamos uma empresa de grande suporte econômico utilizando-se do


Juizado Especial Cível, essa empresa representa um mínimo dentro de um universo de
pequenas empresas que necessitam da prestação jurisdicional do órgão.
Insta salientar, ainda, que dificilmente iremos ter uma grande empresa buscando
a prestação jurisdicional do Juizado, tendo em vista que o valor de alçada é de, no
máximo, 40 salários mínimos, considerando que, em sua maioria, realiza operações
financeiras que superam esse valor de alçada.

4.3. Legitimatio ad processum

Nas causas de valor de até 20 salários mínimos, as partes podem comparecer


pessoalmente para propor a ação junto ao Juizado Especial Civil ou para respondê-la. A
representação por advogado é facultativa. Torna-se, porém, obrigatória a sua
intervenção quando o valor da causa ultrapassar o aludido limite.

Para assegurar o equilíbrio entre as partes, a lei dá ao autor que comparece


pessoalmente o direito, se esse quiser, à assistência judiciária (defensoria pública),
quando o réu for pessoa jurídica ou firma individual. Para esse fim, deverá a lei local
instituir serviço advocatício assistencial junto aos Juizados.

Qualquer das partes poderá, também, valer-se da assistência judicial oficial


sempre que a outra comparecer sob patrocínio de advogado.

Determina, outrossim, o § 2º da Lei 9.099 que o juiz alerte as partes da


conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa recomendar, o que poderá
ocorrer pela dificuldade notada na conduta de um dos litigantes na audiência de
conciliação.

A outorga do mandato judicial ao advogado não depende da forma escrita,


podendo ser verbal. Basta o comparecimento do causídico, junto com a parte à
audiência, para que se tenha como constituída a representação para a causa, mediante
simples registro na ata respectiva. No entanto, os poderes especiais a que alude o art.
38 do CPC somente podem ser conferidos por escrito.

Com ou sem assistência de advogado, o autor sempre deverá comparecer


pessoalmente à audiência de conciliação. O réu também deverá, em regra, fazer o
mesmo. Mas, quando for pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser
representado por preposto credenciado.
A busca da prestação jurisdicional do Juizado Especial Cível sem a necessidade
de assistência de advogado quando o valor da causa não exceder a 20 vezes o salário
mínimo, facultando, inclusive, a propositura da reclamação de forma oral, mediante
termos lavrado pelo cartório, veio atender a um grande anseio social, pois muitos
indivíduos que tinham seus direitos resistidos deixavam de buscar a pretensão
jurisdicional, tendo em vista as dificuldades que encontravam para ter acesso a essa
prestação, assegurada a todos pelo órgão do Poder Judiciário, competente para dizer o
direito, considerando o pesado ônus financeiro com honorários advocatícios e custas
processuais.

Indubitavelmente, os inadimplentes se beneficiavam, deixando e satisfazer suas


obrigações, na certeza de não serem compelidos pelo Judiciário, diante dos obstáculos
impostos ao titular do direito material resistido.

4.4. - Curadorias e assistência judiciária

Para que ocorra a paridade entre os litigantes e para que seja prestada a tutela
aos carentes economicamente, determina a Lei nº 9.099 que, ao ser instituído o Juizado
Especial, dever-se-à, complementá-lo, com as curadorias necessárias e com o serviço
de assistência judiciária.

4.5. - Legitimidade para a causa

A legitimidade para a causa é atribuída ao titular do direito material. Destarte, num


acidente de veículos, o legitimado para propor a reclamação visando o ressarcimento
dos danos materiais experimentados é o proprietário do veículo e nunca o motorista que
estava dirigindo o auto no momento do evento danoso, devendo a reclamação ser
proposta em face do proprietário do outro veículo causador dos danos, tendo em vista a
responsabilidade res sid abendi, ou seja, em razão da propriedade. Nada impede que a
ação seja proposta também em face do condutor do veículo, figurando este como
litisconsorte passivo, tendo em vista a solidariedade na reparação dos danos.

De outro lado, sendo a ação proposta, em face apenas, do proprietário do veículo


causador dos danos, ficando ele obrigado à indenização, caber-lhe-á cobrar em ação
regressiva a ser promovida em face do motorista causador dos danos, o que pagou a
título de indenização.
5. - INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Determina a lei, a intervenção do Ministério Público, como fiscal da lei (art.


11), nos casos previstos, que só podem ser os do art. 82 do Código de Processo Civil.

Em razão da natureza das causas e da competência dos Juizados Especiais, a


necessidade de intervenção do Ministério Público cinge-se aos casos em que o réu for
maior de 18 e menor de 21 anos, nas ações de revogação de doações, nas causas em
que o revel for citado por hora certa, nas ações que versem sobre registros públicos e
em casos de anulação de escritura em razão de vício formal.

No que diz respeito à intervenção do Ministério Público em casos de citação por


hora certa há divergências sobre a sua efetiva necessidade.

Caberá, ainda, a intervenção do Ministério Público no caso de figurarem como


parte no processo as fundações. Nesse caso, a intervenção, dar-se-á em razão do
interesse público evidenciado pela natureza da lide e qualidade da parte. Assim, quando
o interesse em litígio é público, como na hipótese de bens e obrigações de fundações
mantidas por pessoas jurídicas de direito público. Neste caso a ausência da intervenção
ministerial fulminará de nulidade absoluta todo o feito, a partir do momento em que o
Ministério Público deveria ter sido intimado a manifestar-se.

Alguns autores arriscam-se a dizer que o preceito é inútil, porque nunca, no


Juizado Especial, haverá necessidade de intervenção do Ministério Público. O incapaz
jamais poderá demandar. O maior de dezoito anos e menor de vinte e um, para efeito de
propositura da ação no Juizado Especial, equipara-se ao plenamente capaz, inclusive
com dispensa de assistência, não sendo, portanto, justificada a presença do Ministério
Público. Ações concernentes ao estado da pessoa, matéria de direito de família e
capacidade são excluídas do Juizado. Qualidade de parte também não justifica a
presença do Ministério Público, porque as matérias de interesse da Fazenda Pública e
as ações em que ela própria demandar, bem como o preso, a massa falida ou insolvente
são excluídas. A natureza das causas que poderiam justificar a intervenção a dispensa,
pois a própria lei considera apenas competência do Juizado as de menor complexidade.

6. - DA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO
O art. 10 da lei que regulamenta o procedimento perante o Juizado Especial Cível
coíbe expressamente, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro, inclusive
de assistência, admitindo-se tão somente o litisconsórcio, seja ele ativo ou passivo.

Portanto, a denunciação à lide não é cabível no procedimento dos feitos que


tramitam perante o Juizado. A recomendação prática, na hipótese de uma denunciação
à lide, como não é cabível, evitando acarretar prejuízo ao reclamado e denunciante, é no
sentido de o conciliador, na fase conciliatória, orientar a parte reclamante a requerer na
assentada da audiência, que deverá ser lavrada, o aditamento da inicial, a fim de se
fazer inserir no pólo passivo da reclamação o nome do denunciado, designado-se nova
audiência conciliatória, dando-se ciência às partes da designação.

Na própria assentada, o conciliador recomendará ao cartório a expedição de carta


citatória para o litisconsorte passivo, a qual deverá ser instruída com a cópia da inicial e
da assentada da audiência, não necessitando que se faça conclusão imediata dos autos
ao juiz processante para apreciação do pedido de inserção do nome do litisconsorte no
pólo passivo da reclamação.

Equivale o pedido acima a uma retificação da petição inicial. Como esta não
necessita de despacho do juiz para o impulso processual, o mesmo tratamento deve dar
no tocante ao referido pedido, que será apreciado oportunamente na audiência de
instrução e julgamento, momento em que o juiz decidirá todos os incidentes processuais,
até porque, quando o cartório recebe a petição inicial, esta não é levada a despacho
pelo juiz, o qual apreciará seus pressupostos, via de regra, na audiência de instrução e
julgamento.

Por outro lado, ainda que o reclamado na audiência conciliatório denuncie à lide o
verdadeiro responsável pela obrigação cobrada pelo reclamante, como não é cabível a
denunciação, deve o conciliador fazer constar o pedido na assentada da audiência,
designando-se de imediato a audiência de instrução e julgamento, momento em que o
pedido será apreciado pelo juiz, que certamente indeferirá, prosseguindo normalmente
com a audiência.

É de salientar, ainda, que ao juiz cabe limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao


número de litigantes, como providência salutar ao não comprometimento da celeridade
processual.
7. - ACORDOS EXTRAJUDICIAIS

Prevê o art. 57 da Lei nº 9.099 que o acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou


valor, pode ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, para
valer a sentença como título executivo judicial.

Esse direito à homologação do acordo é exercitável pelas partes junto a qualquer


juízo e não apenas perante o Juizado Especial Civil. Aliás, a nova redação dada pela Lei
nº 8.953, de 13.12.1994, art. 584, inc. II, do Código de Processo Civil já incorporou essa
sistemática à legislação codificada.

Da mesma forma, a força de título executivo extrajudicial reconhecida ao acordo


celebrado pelas partes, por instrumento escrito referendado pelo órgão competente do
Ministério Público (Lei nº 9.099, art. 57, parág. Único), também já foi incluída pela
reforma operada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994, no Código de Processo Civil (art. 585,
II).

O art. 58 da Lei 9.099, finalmente, prevê que a lei local possa ampliar a
conciliação do Juizado Especial para alcançar causas que não se incluam em sua
competência específica.

8. - AÇÃO RESCISÓRIA

A Lei nº 9.099 exclui, expressamente, a ação rescisória do âmbito das causas


sumaríssimas julgadas no Juizado Especial Civil (art. 59).

Restará, contudo, a possibilidade da ação ordinária de nulidade, quando


configurada a sentença nula ou a sentença inexistente.

9. - MEDIDAS CAUTELARES

Não há previsão de medidas cautelares no Juizado Especial. Por subsidiariedade,


porém, poderá o juiz determinar medidas provisórias que julgar adequadas, quando
houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito
da outra lesão grave e de difícil reparação. E, vigorando, no Juizado Especial, os
princípios da simplicidade e informalidade, tais medidas são concedidas
independentemente de processo cautelar, ainda que haja procedimento específico,
previsto no Código de Processo Civil.

10. - COMPOSIÇÃO DO JUIZADO - Do conciliador, do juiz leigo e do togado

10.1. - A função do conciliador

O princípio maior que rege o sistema dos Juizados Especiais é o da tentativa de


conciliação entre as partes, pela qual não só o litígio aparente, mas também o aspecto
subjetivo do conflito são resolvidos mediante concessões recíprocas.

A tentativa de conciliação, nos termos do art.22 da Lei n. 9.099/95, é conduzida


pelo juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.

Os conciliadores, que em regra atuam voluntariamente, exercem serviço público


relevante e tem a função precípua de buscar a composição entre as partes, sendo que
nesta capital do Estado de São Paulo obtêm êxito em cerca de 50% de suas tentativas
de acordo e mostram-se imprescindíveis para o bom desenvolvimento do novo sistema.

No Estado de São Paulo, onde o sistema é regido pela Lei Complementar


Estadual n. 851/98, os conciliadores são recrutados pelo juiz diretor de cada juizado,
preferentemente entre bacharéis em Direito.

A prática, entre outros recursos para a aferição da idoneidade do conciliador, que


presta compromisso antes de iniciar suas atividades, exige-se-lhe a exibição de
certidões dos distribuidores cíveis e criminais.

A experiência deixou, provado que, este o conciliador, não apenas multiplicou a


capacidade de trabalho do juiz, na realização das sessões de conciliação, mas se
mostrou como a pessoa especializada na difícil arte de serenar os ânimos dos
contendores, levando-se à composição amigável dos conflitos de interesses.

10.2. - Do Juiz Leigo

A figura do juiz leigo, uma das inovações da Lei n. 9.099/95, criada com o escopo
fundamental de funcionar na instrução processual, substituindo facultativamente o juiz
togado nesse múnus, é de avançado caráter prático. Obviamente, toda a direção da
instrução do processo ficará, em última análise, aos seus cuidados (do juiz togado),
sempre com o poder de supervisionamento do trabalho desses auxiliares, podendo
mandar repetir atos processuais ou produzi-los pessoalmente.

O juiz leigo, como mero auxiliar da justiça, responde pela fase instrutória do
processo, coletando provas e decidindo os incidentes que possam interferir no
desenvolvimento da audiência de instrução e julgamento, e como o próprio nome está a
indicar, não dispõe das garantias constitucionais inerentes aos magistrados, conferidas
pelo art. 95 da Constituição Federal, expressas na vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de vencimentos.

Tanto o juiz como o conciliador, representam, a participação popular na


administração da justiça, quebrando a tradicional e hermética estrutura do órgão
jurisdicional, com a inserção de elementos estranhos à hierarquia judiciária.

10.3. - Do juiz togado

O juiz togado terá sempre o poder de supervisionar o trabalho destes auxiliares


(juizes leigos e conciliadores), podendo mandar repetir atos processuais ou produzi-los
pessoalmente.

11. - DO PROCEDIMENTO

11.1. - Do pedido

11.1.1. - Do Procedimento da Inicial

Recebida a inicial da reclamação pela secretaria do Juizado Especial Cível, o


servidor responsável pelo expediente procederá ao tombamento e à autuação do
processo, designando de imediato a audiência conciliatória. Esta deverá ser realizada
nos 15 dias subseqüentes ao da propositura da reclamação, dando-se ciência da
designação à parte reclamante e expedindo-se de imediato a carta de citação para a
parte contrária. A carta deverá ser instruída com a cópia da petição inicial, constando a
designação da audiência.
A citação será remetida pelo correio, com a advertência de que, não
comparecendo a parte reclamada no dia e hora aprazados para a audiência, importará
na sua revelia, e conseqüente confissão ficta da matéria de fato, sendo tidos como
verdadeiros os fatos articulados na peça exordial da reclamação, conduzindo ao
julgamento antecipada da lide.

Ressalte-se ainda que, tratando-se de pessoa física, a postagem da carta citatória


no correio deve ser procedida mediante aviso de recebimento em “mãos próprias”,
considerando que a citação da pessoa física é sempre pessoal, sob pena de, recebida a
citação por terceiros e não comparecendo o reclamado em audiência, este não pode ser
considerado revel, uma vez que a citação encontra-se eivada de vício de nulidade
absoluta, o qual será espancado somente com o comparecimento espontâneo do
reclamado à audiência.

11.1.2. - Procedimento da Reclamação Verbal

A reclamação perante o Juizado Especial Cível pode ser proposta de forma


verbal. Esta modalidade, a parte reclamante se dirigirá ao cartório do juizado, sendo
entrevistada pelo funcionário ou estagiário, o qual analisará a situação jurídica cabível
na espécie, tomando por termo as declarações prestadas pela parte, isso em forma de
petição inicial da reclamação, devendo observar na aludida inicial os pressupostos a
seguir:

a) Qualificação da parte reclamante e reclamada.

b) Expedição da matéria do fato e de direito.

c) Conclusão da inicial, com o pedido de citação da parte reclamada para comparecer à


audiência conciliatória e, querendo oferecer sua contestação, sob pena de revelia.

d) Especificação da prova a ser produzida na audiência de instrução e julgamento, para


a demonstração do direito material pleiteado na inicial, aduando a esta; desde já, a
prova documental, que poderá ser produzida em qualquer fase processual, na primeira
instância.

e) Atribuição do valor da causa, o qual pode ser superior ao de alçada, que é no máximo
40 salários mínimos, uma vez que este é fixado pela Lei n.º 9.099/95, apenas para efeito
de condenação e nunca para fins de conciliação. Insta salientar que, para a fixação do
valor da causa, devemos considerar o principal e seus acessórios, atualizados
monetariamente até a data da propositura da reclamação, de acordo com o índice oficial
de atualização monetária.

f) Fechamento da inicial, datado e mandar a parte reclamante assinar a inicial. Se a


parte for assistida por um estagiário de Direito que esteja prestando estágio no Juizado,
é necessário que o estagiário assine também a inicial, a fim de comprovar suas
atividades perante o órgão fiscalizador de seu estágio, para efeito de aferição.

11.1.3. - Procedimento da Reclamação Escrita

Formulada a inicial observando a forma escrita, seja pela própria parte reclamante
ou assistida por advogado constituído, deve o cartório examiná-la, fazendo uma aferição
objetiva dos seus pressupostos. Vale observar que, quando a inicial for encaminhada ao
Cartório por advogado do constituído, é necessária a presença do mesmo, no ato de seu
recebimento pelo Cartório, a fim de lhe ser dado ciência da designação da audiência
conciliatória, cuja designação é feita naquele momento pelo próprio Cartório.

Subsidiariamente, porém, poderá o juízo deverá o cartório alertar o advogado de


que a audiência conciliatória é pessoal, devendo trazer seu cliente à mesma, ainda que
tenha poderes especiais para acordar, discordar, receber, dar recibo e quitação,
renunciar ao direito a que se funda a ação, desistir de ação etc.

Por outro lado, se a peça inaugural da reclamação veio encaminhada por


estagiário, a mesma poderá ser recebida pelo Cartório se o portador figurar no
instrumento do mandato a ela adunado, ou se subscreveu a inicial, dando ciência ao
estagiário da designação da audiência conciliatória, orientando-o a trazer na audiência
seu cliente.

Não figurando o estagiário no instrumento do mandato, nem tendo subscrito a inicial, o


Cartório não poderá receber a inicial, solicitando, na hipótese, a presença do advogado
constituído ou da parte reclamante, ou ainda quem venha figurando no mandato ou na
inicial.
É oportuno ressaltar que a lei específica admite o mandato verbal, sendo
recomendado sua ratificação na audiência pela parte outorgante. Na hipótese de
mandato judicial celebrado de forma escrita, sendo lavrado por instrumento particular,
não necessita de reconhecimento de firma, conforme a nova sistemática do Código de
Processo Civil, salvo se contiver poderes especiais.

11.1.4. - Do Pedido alternativo e cumulativo

Segundo o Código de Processo Civil, o pedido será alternativo quando, pela


natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de um ou mais modos art.
288 do CPC, e cumulados quando, num mesmo processo, o autor formular vários
pedidos art. 292 do CPC.

Não obstante a simplicidade nos Juizados Especiais, a Lei n.º 9.099/95 permite a
formulação de pedidos alternativos e cumulados. Ressalva, apenas, que os pedidos
cumulados deverão ser conexos e que a soma de seus valores não poderá ultrapassar o
limite de alçada de 40 (quarenta) salários mínimos. Pedidos conexos devem ser
entendidos, aqui, como aqueles compatíveis entre si ou coerentes.

Outro aspecto de grande relevância é a possibilidade de se pleitear provimento


cautelar em sede de Juizado Especial. Com efeito, por tratar-se de medida jurisdicional
de cunho auxiliar e subsidiário, prestando-se efetivamente à tutela do processo que
protege o direito, é perfeitamente cabível o pedido de cautelar nos procedimentos dos
Juizados Especiais.

Evidentemente que, tratando-se de medida preparatória ou incidental, haverá de


se amoldar aos procedimentos e princípios da lei em comento.

A respeito, ensina Wander Marotta:

"As normas estabelecidas para os procedimentos dos Juizados Especiais não vedam a
possibilidade do deferimento de medidas cautelares, sejam específicas, sejam genéricas
ou inominadas. Parece claro, contudo, que as regras para a concessão de tais medidas
deverão ser adaptadas ao célere e informal procedimento que a lei estabelece"
(Juizados Especiais Cíveis, Del Rey, 1996, p.106).

No mesmo sentido, a lição de Ernane Fidélis dos Santos:


"Não há previsão de medidas cautelares no Juizado Especial. Por determinar medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de uma parte, antes do
julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação art. 798
do CPC. E, vigorando no Juizado Especial os princípios da simplicidade e informalidade,
tais medidas são concedidas independentemente de processo cautelar, ainda que haja
procedimento específico, previsto no Código de Processo Civil" (Novos perfis do
processo civil brasileiro, Del Rey, 1996,p.174-175).

O deferimento da medida cautelar estará adstrito, como não poderia deixar de


ser, à demonstração do periculum in mora e do fumus boni juris, que constituem
condições especialíssimas desta espécie de provimento jurisdicional.

Vale lembrar, ainda, que somente serão admitidos pedidos cautelares cuja a
natureza da ação principal for da competência dos Juizados Especiais. Assim, por
exemplo, incabível medida cautelar que tenha por objeto a pessoa, posto que pertinente
a ações que não são da competência do Juizado Especial.

A cautela constitui-se de um poder implícito dentro da jurisdição em que a


efetividade do processo pode, muitas vezes, depender de provimento incidental ou
preparatório que o assegure. É, pois, neste peculiar aspecto que não se pode dissociar o
procedimento cautelar do processo sob o rito da Lei dos Juizados Especiais.

Este pedido, pode, ser feito de forma que o responsável pelo dano possa ter uma
ou mais alternativas para poder satisfazer a pretensão que se busca, ou seja, fazer o
pedido da entrega da coisa ou o seu valor.

11.1.5. - Do pedido simples e genérico

A informalidade da Lei dos Juizados Especiais veio, efetivamente, viabilizar ao


cidadão acesso à jurisdição às classes sociais menos favorecidas.

Constata-se uma das grandes diferenças entre a realização da jurisdição nos


Juizados Especiais e na Justiça comum: o jus postulandi, isto é, o direito de praticar
todos os atos postulatórios e de andamento do processo; a capacidade de requerer em
juízo. Esta é uma característica marcante também no processo do trabalho, tendo por
finalidade facilitar o acesso do cidadão ao Poder judiciário.
É de se notar a simplicidade da formulação do pedido, podendo ser verbalmente
ou oral, como já mencionado anteriormente.

O pedido poderá ser genérico quando não for possível, de imediato, aferir a
extensão da obrigação.

Assim, compete ao Juiz promover uma verdadeira depuração quanto à pretensão


deduzida em juízo pelo autor, de forma a verificar a real pretensão do demandante. Não
significa isto que o Juiz pode julgar além dos limites da pretensão do autor.

O julgamento deve cingir-se ao objeto do pedido do autor em consonância com o


que dispõe o art. 460 do CPC, que veda o julgamento extra e ultra petita, e com o
princípio da adstrição a que está vinculado o Juiz.

A parte liga que comparece sozinha ao Juizado, não tem a obrigação de expor,
com precisão, os fundamentos jurídicos do seu pedido, pelo que basta que a mesma
narre os fatos e exponha as suas pretensões, cabendo ao julgador aplicar a lei a adotar
a decisão que reputar mais justa e equânime, mesmo que o pedido do autor não seja
claro, desde que não prejudicada a defesa do réu e a decisão seja coerente com a
pretensão formulada.

Como poderá ser visto pela jurisprudência a seguir:

"Não é extra petita a sentença, no Juizado Especial Cível, que se atém aos fatos
articulados e à pretensão deduzida, visto que a precisão do pedido não constitui
requisito essencial nesse novo instituto" (1ª Turma Recursal Cível de Belo Horizonte -
Rec. 187 - Rela. Vanessa Verdolin Hudson Andrade).

Comparecendo as partes à secretaria do Juizado, será dispensado registro prévio do


pedido, bem como a citação, instalando-se, de imediato, a sessão de conciliação.

Neste caso, se houver pedidos contrapostos, fica também dispensada a


contestação formal, devendo ser os pedidos apreciados na mesma sentença.

11.1.6. - Do pedido contraposto


No procedimento do Juizado Especial Cível, não se admite nenhum tipo de
intervenção de terceiros. Por outro, para amenizar a situação do reclamado que está
sendo acionado quando, em algumas hipóteses, foi ele quem sofrera a lesão
patrimonial, admitir-se-á então o que conceituamos de reconvenção indireta ou de
pedido contraposto, respeitando-se para efeito de condenação o valor de alçada, que
não poderá exceder a 40 vezes o valor do salário mínimo à época da propositura da
reclamação, apesar do pedido contraposto ser formulado na própria contestação, que é
oferecida na audiência de instrução e julgamento, devendo ser apreciado pela mesma
sentença.

Formulando o reclamado pedido contraposto, como autoriza o artigo 31 da Lei nº


9.099/95, deve ele fundamentá-lo nos mesmos fatos que constituem o objeto da
controvérsia, acostando naquele momento a prova material que demonstre sua
pretensão. É facultado ao reclamante responder ao pedido do reclamado na própria
audiência ou requerer o adiamento desta, a fim de lhe ser permitido tempo para
contestar o pedido formulado pelo reclamado, recomendando-se a designação de nova
audiência, dando ciência aos presentes da designação, em respeito ao princípio da
ampla defesa.

É aconselhável, na prática, que, sendo oferecido pedido contraposto e havendo


pedido de adiamento da audiência, seja suspensa a produção de prova testemunhal,
devendo as testemunhas ser ouvidas na próxima audiência. Evita-se assim a subversão
da ordem processual, uma vez que a prova testemunhal é produzida após a fase de
contestação e o reclamante manifestou o desejo de contestar o pedido contraposto na
próxima audiência.

Sendo procedida a oitiva das testemunhas antes da contestação, certamente


eivará o processo de vícios de nulidade, por subversão da ordem processual e
cerceamento de defesa, os quais poderão ser alegados pelo reclamante.

11.2. - Das Modalidades de citação

11.2.1. - Da Citação Postal

A citação postal, de forma ampla, é atualmente a usual no direito processual civil


brasileiro, sem que se tenha notícia de prejuízo ao direito da ampla defesas, a citação
pelo correio tem-se afirmado, dentre as três formas de citação previstas na lei
processual civil comum, como a mais consentânea com os imperativos de simplicidade e
celeridade, daí por que o legislador a colocou dentro do processo especial dos Juizados
Cíveis, como a forma ordinária de citação, sobrando a que se faz por intermédio de
oficial de justiça como forma excepcional de citação, somente devendo-se recorrer a
esta última modalidade quando a primeira delas se mostrar ineficaz ou impossível de ser
realizada. Ao utilizar de expressão “sendo necessário” no inciso III do art. 18, o
legislador afasta a opcionalidade entre uma forma e outra de citação, não podendo a
parte autora requerer, ao ingressar com seu pedido junto ao Juizado, que a citação do
réu se realize por outra forma que não a postal, como ocorre no processo civil comum,
salvo em casos justificados. A citação que se perfaz por meio de oficial de justiça, como
forma excepcional, só deve ser admitida nos casos em que a citação postal se revelar
inadequada aos fins a que se propõe de dar pleno conhecimento ao réu dos termos da
demanda que contra ele está sendo movida. Somente nessas situações, portanto,
quando o chamamento pelo correio se mostrar inviável, é que o juiz deve determinar a
sua realização por intermédio de oficial de justiça, é dessa situação a circunstância de o
réu residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência.

11.2.2. - Citação através de Oficial de Justiça

A citação através de oficial de justiça independe de, mandado ou carta precatória,


como reza o inciso III do art. 18. Como se sabe, os mandados são ordens, expedidos
pelo juiz com fins específicos, e previamente identificados. No processo especial, a
citação se perfaz sem necessidade da condenação de mandado judicial em que conste
a determinação para a prática do ato de chamamento formal do demandado para
comparecer a juízo e oferecer sua resposta.

A desnecessidade do mandado judicial decorre da circunstância de que, no


processo especial, o próprio secretário do Juizado é que se encarrega de providenciar a
citação do réu (art. 16), sendo despicienda qualquer ordem judicial prévia, em forma de
despacho inicial nesse sentido. É suficiente que a Secretaria do Juizado providencie,
para a perfeição do ato citatório, a cópia do pedido inicial e qualquer impresso com
informações sobre o processamento da demanda em juízo, especialmente a indicação
para o réu comparecer em dia e hora marcados e a advertência de que, não
comparecendo, “considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais”.
11.2.3. - Citação com hora certa

Quanto à citação por hora certa, é perfeitamente cabível, apesar de alguns


doutrinadores entenderem de forma adversa, pois não será possível admitir que o
citando venha obstar a citação, através do Correio e se oculte à citação por meios de
oficial de justiça, sob pena de tornar a prestação jurisdicional desacreditada, até porque
a Lei que regulamenta o procedimento do Juizado é omissa quanto a essa modalidade
de citação, aplicando-se, destarte, a regra geral prevista nos arts. 227 a 230 do Código
de Processo Civil.

11.2.4. - Dispensa da citação

Comparecendo a parte contrária em cartório e tomando ciência dos termos da


inicial, ou comparecendo á audiência conciliatória, ficará suprida a necessidade da
citação, sanando possíveis vícios.

11.2.5. - Citação por Edital

No processo especial, foi abolida a citação por edital, por motivos óbvios. A
citação editalícia, se adotada no processo especial, comprometeria os ideais de
simplicidade e celeridade tão desejados. Por conseguinte, se o autor desconhecer o
domicílio do réu ou este se encontrar em lugar ignorado ou não sabido, deve procurar os
órgãos da justiça comum para instaurar sua ação. Em ocorrendo qualquer hipótese que
implique a necessidade de citação por meio de edital, o juiz deve decretar a extinção do
processo especial, com fundamento no art. 51, II.

11.3. - Das Intimações

As intimações se processam da mesma forma adotada para as citações, ou por


qualquer outro meio idôneo de comunicação.

Conforme a regra insertada no § 2º, do art. 19 de Lei n.º 9.099/95, as partes


comunicarão ao juízo as mudanças de endereço ocorridas no curso do processo,
reputando-se eficazes as intimações enviadas ao local anteriormente indicado, na
ausência da comunicação, que deve ser feitas antes ao do ato processual.

11.4. - Da revelia
Ultima a citação válida, a ausência do réu à audiência importa no reconhecimento
da revelia, cujo efeito é a presunção de que foram aceitos pelo réu, como verdadeiros,
os fatos articulados pelo autor.

A Lei estabelece que a ausência do demandado à audiência de conciliação ou de


instrução e julgamento importa no reconhecimento da veracidade dos fatos contidos no
pedido inicial, salvo, se o contrário resultar da convicção do juiz.

É possível que o réu citado apresente a sua contestação já na audiência de


conciliação ou a qualquer tempo, antes da realização da sessão de audiência de
instrução e julgamento, o que não será possível reputá-lo revel,. consoante dispõe o
Código de Processo Civil em seu art. 319, e o entendimento doutrinário, a revelia deve
ser, entendida como a ausência de contestação.

Desta forma, seu o réu apresentar contestação antes da audiência de instrução e


julgamento e vem a faltar a esta sessão de audiência, não há que ser considerado revel.

Poderá ocorrer, também, que o réu citado regularmente não compareça à


audiência de conciliação e, havendo necessidade de realização da audiência de
instrução e julgamento, a esta o réu compareça e apresente sua defesa, o que neste
caso também, não há que ser reconhecida a revelia, porque o réu contestou o pedido do
autor na oportunidade prevista no art.20.

Como prevê a própria Lei dos Juizados Especiais, havendo elementos que levem
o juiz formar seu convencimento, a revelia não será decretada.

11.4.1. - Na hipótese de ausência de ambas as partes

Feito o pregão da audiência e certificada a ausência de ambas as partes na


audiência conciliatória, apesar de ciente a parte reclamante e citado o reclamado, tem
como conseqüência a extinção do feito, sem o julgamento do mérito e a não decretação
da revelia do reclamado, uma vez que, ausente o reclamante, resta configurada a
desistência tácita da reclamação, lavrando-se a assentada.

11.5. - Da audiência conciliatória e do juízo arbitral


No Juizado Especial Cível a conciliação será proposta assim que aberta a sessão,
devendo o juiz togado ou leigo ou o por conciliador sob sua orientação, que deverão
esclarecer as partes sobre as vantagens e desvantagens da conciliação, mostrando-lhes
os riscos e conseqüências, inclusive quanto são limite que poderá ser cobrado, que é de
40 (quarenta) salários mínimos.

Obtida a conciliação, esta será reduzida a termo e homologada por sentença a


ser proferida por juiz togado. Não obtendo a conciliação, poderão as partes optar pela
instrução de um juízo arbitral, que deverá ser um dos juizes leigos, o número de árbitros
será ímpar, se forem dois os escolhidos, cabe a eles escolher o terceiro, demonstrando
a imparcialidade do árbitro. Logrando êxito, os árbitros devem apresentar o laudo ao juiz
togado para a devida homologação. Não instituído o juízo arbitral, e não sendo possível
de imediato a realização da audiência de instrução e julgamento, será marcada para um
dos 15 dias subseqüentes, saindo cientes todos os presentes.

12. - Da instrução e julgamento

Não logrando o conciliador êxito na conciliação das partes em litígio, designa-se a


audiência de instrução e julgamento, de acordo com a disponibilidade de pauta do juiz
de direito vinculado ao Juizado, devendo as partes comparecer à audiência
acompanhadas de suas testemunhas, podendo cada uma delas ouvir, no máximo, três
testemunhas, as quais precisam estar arroladas nos autos.

A audiência de instrução e julgamento deve ser designada para os 15 dias


subseqüentes ao da audiência conciliatória. A audiência ora aludida será realizada pelo
sistema de gravação magnética, através de fita cassete de gravador simples, sendo
presidida pelo juiz de direito ou juiz leigo. Após o trânsito em julgado da sentença a ser
prolatada em audiência, será a fita desagravada, certificando o Cartório nos autos,
reaproveitando-a para a gravação de novas audiências a serem realizadas em outros
processos em trâmite pelo Juizado Especial Cível.

Aberta a audiência, o juiz renovará a proposta de conciliação das partes e, não


logrando êxito na sua realização, dará a palavra à parte reclamada ou ao seu advogado,
quando assistida, para oferecer sua contestação oral. Nada obsta que a contestação
seja oferecida em forma de memorial, ou seja, escrita, quando então será lida em
audiência.
Encerrada a fase de contestação, passará o juiz, à produção de provas e,
entender necessário, tomará em primeiro lugar o depoimento pessoal das partes,
passando a seguir a inquirir, inicialmente, as testemunhas trazidas pela parte reclamante
e, logo após, as da parte reclamada.

Finda a produção de provas, deve o juiz abrir os debates orais, dando a palavra
inicialmente à parte reclamante e a seguir, à parte reclamada, a fim de que ofereçam
suas razões finais. O suprimento dessa fase processual poderá acarretar vício de
nulidade processual por cerceamento de defesa. Daí a importância de o juiz não obstar
esse direito das partes de oferecerem suas razões finais em audiência.

Apresentadas as razões finais, o juiz passará a proferir sua sentença em


audiência; não se sentindo habilitado naquele momento, determinará a conclusão do
feito para a prolação da sentença, designando na mesma, assentada dia e hora para a
leitura e publicação da sentença a ser proferida, intimando-se os presentes para o ato,
que será realizado no Cartório do Juizado, que lavrará o termo respectivo quando da
realização do ato.

Cumpre observar que a prova testemunhal, a contestação quando oferecida


oralmente e as razões finais são feitas pelo sistema de gravação magnética, fazendo o
juiz transcrever para o termo de assentada, de forma objetiva, o ocorrido na audiência.
Será transcrita, ainda, a sentença ali proferida.

Ressalta-se que a sentença dispensa relatório, entrando o juiz diretamente na


fase decisória.

Transitada em julgado a sentença, o Cartório certificar-se-á no sentido de que foi


apagada a fita cassete na qual foi gravada a audiência, reservando a mesma para a
gravação de novas audiências em outros processos.

O trânsito em julgado da sentença ocorrerá no prazo de 10 dias, a contar do seu


ciente, e sua publicação é feita em audiência. Aplica-se a regra do Código de Processo
Civil para efeito da contagem do prazo, excluindo o dies a quo e incluindo o dies ad
quem.
Não sendo prolatada a sentença em audiência e não tendo o juiz designado dia e
hora para a sua leitura e publicação, deverão as partes ser intimadas da mesma através
do correio, postando a carta de intimação mediante aviso de recebimento. Estando as
partes assistidas por advogados basta a intimação destes. Ressalta-se que, em primeiro
grau de jurisdição, as partes e seus advogados não poderão ser intimados por via
editalícia, como ocorre nas turmas recursais.

Recebidos os autos pelo Cartório com a sentença proferida pelo juiz,


providenciará este de imediato o seu registro no livro ou na pasta própria destinada soa
registros de sentença, certificando nos autos o registro, fazendo referência ao número
do livro e da folha respectiva ao registro efetivado.

13. - DOS MEIOS DE PROVAS

Serão admitidos todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não
especificados em lei, hábeis para demonstrar da veracidade dos fatos articulados pela
parte da relação processual, como autoriza o artigo 32 da Lei nº 9.099/95.

13.1. - Da prova documental

Em relação à prova documental, deve o reclamante adunar à inicial os


documentos que visam a comprovar o direito ali articulado, não obstando a juntada aos
autos de novos documentos, mesmo no momento da audiência de instrução e
julgamento, pois é nessa fase processual que a parte contrária oferecerá sua
contestação e manifestar-se-á a respeito da documentação acostada nos autos.

Portanto, sobre qualquer documentação trazida ao processo antes da audiência


supra aludida, manifestar-se-á a outra parte no momento da audiência. Destarte, não
será ela intimada para se exprimir sobre a documentação que venha a ser acostada
durante a fluição do processo, diferentemente, como acontece no procedimento comum
regulado no artigo 398 do Código de Processo Civil, que obriga a intimação da parte
contrária para falar sobre os documentos juntados aos autos no prazo de 5 dias.

Na fase recursal, aplicamos a regra geral que não admite produção de provas
durante o recurso, salvo quando determinado pela Turma Recursal o cumprimento de
diligências, permitindo-se tão somente a transcrição da fita magnética na qual foi
gravada a audiência de produção de provas.

Tendo em vista a inviabilidade técnica de transcrição da fita magnética, uma vez


que os órgãos não dispõem de recursos mecânicos para processar a transcrição, e seu
processamento pelo meio manual põe em risco o conteúdo da gravação, considerando
ser inviável ouvir palavra por palavra e trasladar para o termo, a orientação do Tribunal é
no sentido da remessa da referida fita à Turma Recursal quando requerida a sua
transcrição.

13.2. - Da prova pericial

Esse meio de produção de prova é inviável no procedimento do Juizado Especial


Cível, tendo em vista os princípios que orientam o procedimento, principalmente os da
informalidade e celeridade dos atos processuais.

A prova pericial é complexa e morosa, pois conforme seu procedimento regulado


no processo civil, deve o juiz nomear um perito e facultar às partes a indicação de
assistentes técnicos, observando todos os prazos legais insertados no aludido diploma
processual.

A inviabilidade da produção de prova pericial nos processos em trâmite pelo


Juizado, deflui, da finalidade do órgão, que é de solucionar as causas de menor
complexidade e da forma mais célere possível, satisfazendo, de imediato a pretensão
jurisdicional assegurada.

A admissibilidade de perícia informal, a qual se processa mediante apresentação


de laudo de um técnico no assunto discutido, contratado pela parte interessada,
assumindo esta todos os ônus financeiros decorrentes da contratação. O referido laudo
deve ser acostado aos autos no momento da propositura da reclamação, ou em
qualquer fase do processo até a realização da audiência de instrução e julgamento, pois
é nessa audiência que a parte contrária manifestar-se-á sobre o laudo adunado. É
comum esse procedimento nas ações de reparações de danos provocados por
vazamento hidráulico em unidades condominiais, visando apurar a origem do vazamento
e, consequentemente, a responsabilidade de indenização pelos danos causados.
Não obstante a recomendação acima da impossibilidade de realização de perícia
técnica o Juizado Especial Cível, segundo a regra jurídica talhada no artigo 35 da lei
específica, quando a prova do fato exigir, o juiz poderá inquirir técnicos de sua
confiança, permitindo às partes a apresentação do parecer técnico.

13.3. - Da prova testemunhal

Quanto à prova testemunhal, cada uma das partes poderá indicar, no máximo três
testemunhas, sendo necessário o oferecimento do rol, devendo trazê-las para a
audiência de instrução e julgamento. Havendo necessidade de intimação das
testemunhas arroladas, deve a parte interessada requerer a intimação no prazo mínimo
de 5 (cinco) dias antes da audiência referida.

A testemunha intimada para a audiência e à ela não comparecendo sem justificar


sua ausência, ficará sujeita à condução coercitiva, que poderá ser determinada pelo juiz
processante, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública, sujeitando-se
ainda à responsabilidade criminal pelo crime de desobediência à ordem judicial.

A oitiva das testemunhas se processa pelo sistema de gravação


magnética, sendo seus depoimentos gravados através de um simples gravador de fita
cassete.

O sistema de gravação magnética adotado no procedimento do Juizado


Especial Cível representa uma grande evolução da nossa legislação processual
específica, uma vez que contribui para autenticidade dos depoimentos prestados pelos
inquiridos, registrando toda sua manifestação oral em audiência, contribuindo ainda para
a celeridade da mesma.

No procedimento comum de inquirição de testemunhas, a morosidade das


audiências é desgastante para o juiz, para as partes, para as testemunhas e para o
próprio serventuário da Justiça que traslada para o termo de declarações prestadas,
fazendo com que os advogados e seus constituintes fiquem pelos corredores do Fórum
aguardando por longo tempo, sem o mínimo conforto a realização das mesmas.

13.4. - Do depoimento pessoal


No que se refere ao depoimento pessoal, pode ele ser requerido pela parte
interessada ou tomado ex-officio, também pelo sistema de gravação magnética.

Requerido o depoimento pessoal de qualquer uma das partes, sua presença é


indispensável à audiência, sob pena de lhe ser aplicada a pena de confesso, prevista no
§ 2º do artigo 343 do Código de Processo Civil, ainda que presente à audiência se
negue a prestar o depoimento.

14. - Sentença

14.1. - Estrutura e Liquidez da Sentença.

Define o § 1º do art. 162 do CPC, “Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao
processo, decidindo ou não o mérito da causa”. As que apreciam o mérito são
denominadas sentenças definitivas ou sentenças de mérito. As sentenças que põem fim
ao processo sem decidir a lide são denominadas terminativas.

A sentença de mérito deve conter os seguintes requisitos:

I – do relatório, deve constar, o nome das partes, o resumo do pedido e da resposta,


bem como o registro das principais ocorrências, como referência aos debates;

II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

III – o dispositivo ou conclusão, que é o acolhimento ou rejeição final do pedido


formulado pelo autor.

Porém no processo especial, a estrutura da sentença é bem simplificada,


devendo compreender apenas os fundamentos e a parte dispositiva, ficando dispensado
o relatório (art. 38). Ao fundamentar a decisão, com base na prova testemunhal, o juiz
tem apenas de mencionar o que foi dito de essencial pelas testemunhas (art.36).

Poderá haver, conforme o caso, sentença condenatória, constitutiva ou


meramente declaratória, no processo especial. Em tendo caráter condenatório, será
sempre líquida. E essa exigência de que o valor da obrigação contida na sentença seja
sempre líquida decorre da circunstância de que, no processo especial dos Juizados
Cíveis, não existe uma fase própria destinada à liquidação da sentença. No processo
especial, portanto, a sentença será sempre, contendo a conversão em índice indexador
da economia (Art. 52, I). Com isso, evitam-se as complicações e demoras ocorrentes
quando se trata de implementar providências para a fixação do quantum debeatur, que,
se adotadas no processo especial, seriam sumamente prejudiciais à informalidade e
celeridade do seu procedimento.

14.2. - Sentença Ultra e Extra Petita.

É ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida


nesta Lei.

Da mesma forma como acontece no processo civil comum, no especial, a


sentença não pode ultrapassar os lindes da demanda posta em juízo, significando dizer
quer, no Juizado Especial Cível, o juiz decide a lide nos limites em que foi proposta (art.
128 do CPC). Ao proferir sua sentença, deve adstringir-se ao específico pedido de tutela
jurisdicional formulado pelo autor, sob pena de prolatar julgamento extra ou ultra petita,
ocorrendo a primeira situação, todas as vezes em que o juiz profere sentença “de
natureza diversa da pedida” ou condena em “objeto diverso” do que fora demandado, e
a segunda, quando decide além do pedido, condenando o réu “em quantidade superior”
à pleiteada pelo autor ( art. 460 do CPC).

Podemos aqui destacar mais duas situações distintas, onde será a sentença
condenatória ineficaz na parte que exceder o limite estabelecido na lei (artigo 39). Por
exemplo, havendo a condenação em quantia correspondente a quarenta e um salários
mínimos, o excesso será sempre excluído da condenação. Outra situação é de que as
sentenças em causas não autorizadas ao Juizado Especial serão totalmente ineficazes.
Já a sentença homologatória de acordo, sim, valerá além do teto legal.

14.3. - Homologação, pelo juiz togado, da decisão do juiz leigo

Nas hipóteses em que o juiz leigo dirige a instrução probatória (art. 37), ele
mesmo profere a decisão na causa, a qual depende, sempre, da homologação pelo juiz
togado, para que adquira validade como ato jurisdicional típico. Essa nota especial com
que a lei reveste a decisão do juiz leigo, exigindo a interveniência do juiz togado para
que adquira eficácia, levou Humberto Theodoro Júnior a afirmar que se trata de uma
“decisão ad referendum”.

O juiz togado pode repetir os atos processuais não se considerando seguro a


proferir um juízo de valor, pode determinar a realização de novas diligências probatórias,
para só ao depois, ao final delas, encampar a atuação do juiz leigo por meio do ato de
homologação, ou rejeitar sua decisão sobre a causa, caso em que deverá proferir
sentença substitutiva.

Já Alexandre Freitas Câmara prefere entender que o juiz leigo na verdade não
profere sentença, o que seria até mesmo inconstitucional (em razão do princípio da
indelegabilidade da jurisdição), mas tão-somente apresenta um “projeto de sentença”, ou
em outros termos, um esboço do que seria, a seu juízo, a solução da causa 1[1]. Tal
“projeto de sentença” deverá ser levado ao juiz togado, que a ele não fica vinculado,
sendo livre na formação de seu convencimento. É natural, porém, que muitas vezes tal
“projeto de sentença” seja levado em consideração pelo juiz togado, uma vez que este
não terá, nestes casos, travado contato com as provas orais, que teriam sido produzidas
em audiência realizada sob a condução do juiz leigo.

Não há previsão, ressalvada a litigância de má-fé, de condenação ao pagamento


de custas processuais e honorários de advogado (art. 55 da Lei n1 9.099). No entanto,
em caso de recurso, o recorrente deverá efetuar o preparo e, se não lograr êxito na
turma recursal, arcará com tais encargos calculados sobre o valor da condenação ou
valor corrigido da causa.

15. - CONSIDERAÇÕES ACERCA DO SISTEMA RECURSAL

Vigora nos juizados especiais cíveis a regra da irrecorribilidade imediata das


decisões interlocutórias. Em sendo assim, não é admitido o recurso de agravo, nem
mesmo quando destinado a destrancar outro recurso. As partes que se julgarem
prejudicadas, diante dos casos de relevância e urgência, podem lançar mão do
mandado de segurança, como meio excepcional de impugnação, para atacar os atos
judiciais no curso do processo.

1
As sentenças homologatórias de autocomposição ou do laudo arbitral não
desafiam qualquer recurso, nem os embargos de declaração.

O elenco recursal, dentro do espírito da celeridade processual que norteia os


juizados especiais cíveis, não permite a aplicação subsidiária do CPC e se limita a dois
recursos: embargos declaratórios e recurso inominado.

Admissível, outrossim, o recurso extraordinário, para o Supremo Tribunal Federal,


desde que preenchidos os requisitos pertinentes.

Não são admissíveis embargos infringentes nem o recurso especial para o


Superior Tribunal de Justiça.

Os embargos declaratórios têm vez tanto da sentença de primeiro grau, como do


acórdão da turma recursal (art. 48 da Lei n1 9.099). Interposto contra sentença goza de
efeito suspensivo, apenas. Podem ser apresentados no prazo de cinco dias da ciência
da decisão que tiver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. Diferem-se dos
embargos semelhantes previstos no CPC (art. 535) quanto ao efeito (no Código,
interruptivo), contendo, ainda, um fundamento a mais, isto é, a dúvida, admitida a
interposição oralmente e por escrito.

O recurso inominado (como vem sendo chamado por força da praxe forense) ou
apelação - na preferência de alguns autores - submete-se à satisfação dos requisitos
intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, como qualquer recurso, merecendo
destaque os seguintes aspectos: obrigatoriedade de atuação dos advogados
representando as partes; formalização em petição escrita, contendo as razões do
inconformismo; interposição no prazo de dez dias a partir da ciência da sentença;
preparo em quarenta e oito horas contadas da interposição, independente de intimação;
efeito, de regra, apenas devolutivo, admitido, excepcionalmente, o suspensivo, para
evitar dano irreparável à parte. Será julgado, na dicção do art. 41, § 1º, da Lei nº 9.099,
por uma turma recursal composta de três juízes togados, em exercício no primeiro grau
de jurisdição, reunidos na sede do Juizado, devendo as partes ser intimadas da data da
sessão de julgamento, e este, fiel ao princípio da simplicidade das formas, constará
somente da ata, indicando-se a identificação do processo, resumida fundamentação e
dispositivo, anotando-se, ainda, que, no caso de confirmação da sentença pelos próprios
fundamentos, servirá de acórdão a súmula do julgamento (art. 46 da Lei referenciada).
Cumpre ressaltar, finalmente, que o art. 59 da Lei n1 9.099 veda o manejo de
ação rescisória das sentenças proferidas nos procedimentos regidos por essa lei. As
peculiaridades do caso não autorizam tal ação, salientado-se, que, de um lado, as
situações de injustiça são menos freqüentes nos juizados, e, de outro, a ação rescisória
não se presta para corrigir injustiças. Eventuais irregularidades que, normalmente,
permitiriam a rescisão do julgado (art. 485 do CPC), podem ser argüidas, como matéria
de defesa, na execução, através de embargos ou por outras ações capazes de realizar a
correção, inclusive a declaratória.

Não existe entendimento majoritário com relação se é cabível ou não o recurso


adesivo no procedimento do Juizado Especial Cível.

Por fim, uma breve reflexão quanto ao cabimento dos recursos especial e
extraordinário contra decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis.

No que diz respeito ao recurso especial, sua interposição, nos termos do art. 105
da Constituição Federal, só é admissível, quando a decisão recorrida for preferida em
única ou última instancia, por Tribunais, e, não constituindo as Turmas Recursais, um
Tribunal, não é o mesmo cabível nas causas que tramitam nos Juizados Especiais.

Quanto ao recurso extraordinário, cujo objetivo é preservar a ordem


constitucional, tem sido admitida sua interposição contra decisões proferidas pelas
Turmas Recursais, pois não se poderia deixar de submeter ao STF, questões em que
houvesse a possibilidade de violação da norma constitucional, e, ao contrário do que
acontece com o recurso especial, o legislador constituinte não especificou qual o órgão
responsável pelas decisões que seriam objeto de recurso extraordinário, pelo que,
podem ser elas oriundas das Turmas Recursais dos Juizados Especiais.

Já esposamos nosso entendimento pelo cabimento da impetração de mandado


de segurança na incidência da hipótese de decisão interlocutória, entendendo ainda pelo
seu cabimento contra a decisão do juízo de primeiro grau de jurisdição que deixar de
receber o recurso de apelo ou obstar seu seguimento, uma vez que não cabe recurso
contra essa decisão, devendo o mandado de segurança ser impetrado perante à Turma
Recursal do Juizado a quo, o mesmo acontecendo em relação à decisão da Turma
Recursal que deixar de receber ou negar seguimento aos recursos especiais e
extraordinários interpostos contra seus acórdãos, quando então o mandado de
segurança deverá ser impetrado perante o Tribunal de Justiça, por ferir direito líquido e
certo amparado pela Constituição Federal.

15.1. - Recurso Inominado

Nos Juizados Especiais Cíveis, a sentença não enseja apelação, mas “recurso”, a
ser julgado, com sucinta fundamentação, por um colégio recursal. A causa não sobe ao
Tribunal de Justiça, sendo revisada a decisão no âmbito do próprio Juizado, pelo seu
órgão competente para o julgamento dos recursos. Esse “recurso”, guardadas as
diferenças procedimentais, equivale à apelação do Código de Processo Civil, porquanto
seu manejo volta-se ao ataque das decisões terminativas de feito, com apreciação de
mérito ou não. Poderia, por conseguinte, visando à uniformização, ter sido também
denominado apelação, só com a ressalva de endereçamento ao órgão recursal do
próprio Juizado. A desnecessidade de atribuir uma denominação a esse recurso
resultou, todavia, da circunstância de que, no micro sistema criado pela Lei dos Juizados
Especiais, existe um único recurso, e não variedade deles, como ocorre no sistema
recursal codificado, em que cada um recebeu um nome exclusivo.

15.2. - Prazo Para a Interposição do Recurs

O recurso deve ser interposto no prazo de 10 (dez) dias, a contar da intimação da


sentença, em geral costuma ocorrer na própria audiência, pois é nela que o juiz deve
proferir sua decisão sobre a lide (art. 28). Aplicando-se a regra geral para a contagem do
prazo. Assim, excluímos o dia do começo e incluímos o dia final do prazo recursal. Por
exemplo, intimadas as partes da sentença numa sexta-feira, o prazo somente passará a
fluir a partir da segunda-feira, salvo se esta não for dia útil, quando então o prazo
passará a transcorrer a partir do primeiro dia útil.

Findo o prazo num sábado ou domingo, prorrogar-se-á até segunda-feira, se for


dia útil.

12.3. - Juízo de Admissibilidade

Compete ao juiz do feito, ao receber a petição em que, o recorrente manifesta sua


inconformismo com a sentença, fazer um exame prévio dos pressupostos de
admissibilidade do recurso (objetivos e subjetivos). Diz-se que o órgão recorrido exerce
o “juízo de admissibilidade” da pretensão recursal, determinando o seu processamento
negando-lhe seguimento, conforme satisfaça ou não os requisitos da lei.

Com efeito, todo ato postulatório sujeita-se ao exame de certos requisitos, de


várias condições, de determinadas exigências. Em matéria de recurso, a lei prevê certas
exigências: os chamados pressupostos recursais. São eles de duas ordens: juízos de
admissibilidade e juízos de mérito. Os primeiros “destinam-se a verificar se estão
satisfeitas as condições impostas, pela lei, para que o órgão jurisdicional possa
conhecer do pedido”.

Já os pressupostos de mérito envolvem o próprio fundamento da postulação; é o


exame da questão de fundo, para manter ou reformar a decisão atacada, se fundado ou
infundado o recurso.

Os pressupostos de admissibilidade dividem-se, por sua vez, em dois tipos:


objetivos ou extrínsecos, e subjetivos ou intrínsecos.

Os pressupostos objetivos pertinem ao próprio recurso, objetivamente


considerado; os subjetivos concernem à pessoa do recorrente.

Os pressupostos objetivos, são basicamente cinco: previsibilidade do recurso,


onde o recurso interposto deve estar previsto em lei; tempestividade, o recurso deve ser
interposto no prazo legal; adequação do recurso, a parte vencida deve interpor o recurso
adequado à espécie, porém se for interposto o recurso inadequadamente, o juiz possui a
faculdade de recebê-lo, aplicando assim o princípio da fungibilidade dos recursos, mais
um motivo para tal princípio ser aplicado nos Juizados são os princípios da simplicidade
e da informalidade dos atos processuais; recolhimento das custas processuais; e
capacidade postulatória na fase recursal, onde deverão as partes estarem assistidas por
advogados.

Já os pressupostos subjetivos são dois: interesse na interposição do recurso, que


será somente a parte vencida na sentença; e legitimidade para recorrer, onde somente
as partes da relação processual estão legitimadas a interpor recurso perante o Juizado
Especial.
O órgão prolator da decisão impugnada, ao receber a petição recursal, restringe o
exame que faz da regularidade procedimental do recurso somente quanto a estes
últimos pressupostos de admissibilidade.

Neste artigo (42), o legislador consignou regras sobre prazo e preparo do recurso
que devem obrigatoriamente ser observadas, pelo recorrente, ao formular sua pretensão
recursal. Tais exigências constituem requisitos de admissibilidade do recurso no
processo especial (pressupostos objetivos), cuja regularidade procedimental está a
depender do preenchimento desses mesmos requisitos, e de outros pressupostos
recursais inerentes ao processo comum e compatíveis com a índole do especial.
Significa que, no processo especial, a exemplo do que ocorre no processo civil comum,
o órgão recorrido exerce um prévio “juízo de admissibilidade” sobre a pretensão do
recorrente, de levar a causa ao conhecimento do órgão recursal.

15.4. - Preparo do Recurso

O preparo resume-se ao pagamento, no tempo e modo apropriados, das


despesas processuais referentes ao processamento do recurso. A sua falta leva a
deserção, que significa o trancamento do recurso. A lei presume que, se o recorrente
não efetua o preparo, no prazo certo, desiste do julgamento do recurso, que, a partir daí,
considera-se deserto.

O preparo do recurso deve ser feito no prazo de quarenta e oito horas, após sua
interposição, sem haver necessidade do recorrente ser intimado para que o faça. Esse
prazo é preclusivo, ensejando a deserção do recurso por falta de preparo. Em caso tal, o
colégio recursal deverá, mesmo de ofício, não conhecer do recurso, em preliminar ao
mérito. A prova do preparo exige que o recorrente recolha a guia de depósito ainda
dentro das quarenta e oito horas, também sob pena de deserção.

Como o prazo foi fixado em horas, conta-se de minuto a minuto, de acordo com a
regra do art. 125, § 4º, do Código Civil, não se incluindo o dia da interposição do recurso.
Por exemplo, se interposto ao meio-dia de uma segunda-feira, o termo final do prazo
para o preparo só ocorre no terceiro dia seguinte (quinta-feira), coincidindo exatamente
com o mesmo minuto em que foi protocolizada a petição (12h00). Interposto em sexta-
feira seguinte (exaurindo-se na quarta-feira, no minuto correspondente ao da
interposição) por ter aplicação à espécie a Súmula 310 do Supremo Tribunal Federal. Se
o dia do vencimento recair num feriado ou em dia em que não houver expediente
forense, fica prorrogado para o dia útil seguinte; se coincidir com um sábado ou
domingo, fica prorrogado para a segunda-feira seguinte.

16. - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO

No que tange à sentença terminativa, isto é, aquela que não contém resolução do
mérito, há que se lembrar que, além das hipóteses previstas em outras normas (dentre
as quais se destaca o artigo 267 do CPC), há casos específicos de “extinção do
processo sem julgamento do mérito” na lei dos Juizados Especiais (art. 51), e que são
os seguintes:

- Ausência do autor a qualquer audiência do processo: o comparecimento


pessoal da parte, mesmo que assistida por advogado, é indispensável, a não ser que o
réu seja pessoa jurídica ou comerciante, quando, então, poderá ser representado por
preposto credenciado. Isso também vale para o réu que formula pedido contraposto e
não comparece à audiência de continuação da anterior.

- Quando inadmissível ou inadequado o procedimento sumaríssimo: a


qualquer momento, o juiz verificando a inadmissibilidade do procedimento, antes ou
após a conciliação, pode declarar extinto o processo. É de se notar que nestas hipóteses
de inadmissibilidade ou inadequação do procedimento sumaríssimo o juiz não poderá
simplesmente determinar a remessa do feito ao juízo competente. Tal impossibilidade
decorre até mesmo do fato de não haver necessidade de autuação do processo que
tramita perante o Juizado Especial, o que torna difícil seu aproveitamento por outro juízo.

- Quando o juizado for incompetente em razão do território: a incompetência


territorial, quando reconhecida, é causa de extinção do processo e não de simples
prorrogação para o juízo que seria competente..

- Quando qualquer das partes perder capacidade processual: havendo


vedação a que determinadas pessoas sejam partes no processo, o juiz, a qualquer
momento, dela tomando conhecimento, poderá extingui-lo.
A proibição de ser parte pode ainda ser superveniente. Qualquer das partes se
tornou incapaz; o comerciante faliu; a pessoa caiu no estado de falência ou insolvência.
E tais casos, o processo se extingue, caso não se tenha ainda proferido sentença. Se a
sentença, porém, já foi proferida, o processo não se extingue, mesmo que esteja em
grau de recurso, porque a decisão final, como ato jurisdicional, já surte normalmente
seus efeitos.

- Quando falecer o autor e a habilitação depender de sentença ou demorar


mais de trinta dias: falecendo o autor no curso do processo (e não versando a demanda
sobre direitos intransmissíveis), este deverá ser sucedido no pólo ativo do processo por
seus sucessores. Determina a lei, porém, que nos casos em que tal sucessão demorar
mais de trinta dias para se realizar (ou, em outros termos, se os sucessores do autor
demorarem mais de trinta dias para se habilitar no processo) deverá o juiz proferir
sentença terminativa, extinguindo o processo sem julgamento do mérito. O mesmo
resultado se produzirá quando a habilitação dos sucessores depender de sentença.

Em tais casos, a extinção também só ocorrerá antes da sentença final, ficando,


em grau de recurso, apenas suspensa.

- Quando falecer o réu e a citação dos sucessores não for providenciada em


trinta dias da ciência do fato: o mesmo ocorrerá quando, falecido o réu, o autor não
promover a citação dos sucessores no prazo de trinta dias, a partir da ciência do fato.

A extinção do processo, em tais hipóteses, independe de prévia intimação.

17. - EXECUÇÃO

O Juizado Especial é competente para a execução de seus julgados, com uma


diferença fundamental da Justiça Comum. Os processos de conhecimento e execução,
no Juizado Especial, se amalgamam em processo único, de forma que não há
necessidade de propositura de ação executória. O procedimento e os requisitos são,
basicamente, os mesmos do processo executivo disciplinado pelo Código de Processo
Civil, aplicando-o subsidiariamente.

O art. 52 da Lei 9.099 aponta quais são os pontos em que a execução de


sentença deva sofrer alguma alteração, em face do regime codificado:
a) não há liquidação de sentença porque a condenação, no juizado, é sempre
líquida (art. 38, parag. único). Nem mesmo o cálculo do contador será cabível. No
tocante, por exemplo, á correção monetária, o art. 52, inc. I, prevê indexador oficial; e
quanto aos honorários, à conversão eventual de índices e a outras parcelas, como juros,
multas etc., o cálculo meramente aritmético será realizado por servidor da secretaria do
juizado, dispensando-se, dessa forma, a liquidação por cálculo do contador (art. 52, inc.
II);

b) a informalidade da abertura da execução: Na audiência em que a sentença


é proferida, o juiz, de oficio, instará o vencido a cumprir a condenação advertindo-o dos
efeitos de seu descumprimento (art. 52, III). Não ocorrendo o cumprimento voluntário da
sentença transitado em julgado, terá início a execução forçada, bastando que o credor a
solicite. Não há nem mesmo petição inicial. O pedido pode ser formulado verbalmente
junto à Secretaria do Juizado. O mandado executivo será expedido sem nova citação.
Desde logo, expedir-se-á a ordem de penhora, se a execução for de quantia certa. (art.
52. inc. IV);

c) na execução das obrigações de fazer ou não fazer, a


cominação de multa

pode sofrer elevação ou transformação em perdas e danos, arbitradas de imediato pelo


juiz, caso em que a execução passará a ser por quantia certa (art. 52, inc. V);

d) ainda nas obrigações de fazer, o juiz pode determinar o cumprimento por


outrem, fixado o valor que o devedor terá de depositar para as despesas, sob pena de
multa diária (art. 52, inc. V);

e) na alienação dos bens penhorados, o juiz poderá autorizar a venda


extrajudicial, por terceiro, pelo devedor ou pelo credor, a qual se aperfeiçoará em juízo
até a data fixada para a praça ou o leilão. Se o preço encontrado igualar ou superar o da
avaliação, o juiz ultimará a veda, sem mais delongas. Se for inferior, ouvirá previamente
ambas as partes. Havendo proposta de aquisição a prazo, a venda particular será
garantida por caução idônea, se móvel o bem, ou por hipoteca do próprio bem
penhorado, se imóvel (art. 52, inc. VII);
f) a publicação de editais em jornais é dispensada quando se tratar de
alienação de bens de pequeno valor, o que será aferido segundo o prudente arbítrio do
juiz (art. 52, inc. VIII);

g) os embargos do devedor, após seguro o juízo, correrão nos próprios autos


da execução (não há autuação apartada). A matéria argüível será restrita a (art. 52, inc.
IX):

- falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à revelia;

- manifesto excesso de execução;

- erro de cálculo;

- causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, superveniente à


sentença.

17.1. - Execução de título extrajudicial

Ao Juizado Especial compete também a execução de títulos extrajudiciais de


valor até quarenta vezes o salário mínimo sendo de aplicar-se, todavia, o § 3º do art. 3º,
permitindo-se ao credor, quando o título for a maior, optar pelo procedimento, desde que
renuncie ao excesso.

Os títulos executivos extrajudiciais encontram-se elencados no art. 585 do CPC,


observadas as restrições quando àqueles que são próprios de pessoas vedadas a
postular perante os Juizados Especiais, como é o caso das fazendas Públicas da União,
do Distrito Federal, dos Territórios, dos Estados e dos Municípios, os encargos de
condomínio comprovados em contrato, e ainda os títulos que representem crédito de
pessoas jurídicas. A regra, também, é a de que somente as pessoas físicas poderão
figurar no pólo ativo das ações executivas de títulos extrajudiciais, excluídas aquelas que
sejam cessionárias de direito de pessoas jurídicas (art. 8º, § 1º)

É previsto o procedimento especial na Lei do Juizado, mas o Código de Processo


Civil aplica-se subsidiariamente.
Até vinte salários mínimos a própria parte pode requerer a execução, por escrito
ou oralmente, com redução a escrito, mas o pedido deve sempre estar acompanhado do
título.

Se a execução for além de vinte salários mínimos, a assistência do advogado


será necessária, mas as custas e os honorários só serão devidos em grau de recursal, já
que a assistência da parte por advogado em primeiro grau não assegura direito à verba
advocatícia.

Citado para pagar em vinte e quatro horas (24h00) e não o fazendo, passa-se á fase da
penhora, com nomeação de bens pelo executado ou por oficial de justiça.

O devedor será intimado, após penhora, para comparecer à audiência de


conciliação (art. 53, § 1º).

Na própria audiência, quando frustrada a conciliação, tudo certamente coma


presença do exeqüente, sob pena de extinção do processo, o devedor poderá oferecer
embargos, por escrito ou oralmente.

O art. 53, § 1º, faz remissão aos embargos previstos para os títulos judiciais, mas
evidentemente, a matéria de defesa não pode resumir-se ás previsões ali constantes, já
que nenhuma lesão de direito pode ser suprimida da apreciação do Poder Judiciário. A
defesa, portanto, é ampla.

Após a tentativa de conciliação e apresentação dos embargos, o procedimento


deve ser estabelecido pelo juiz, de forma tal que se busque rápida e eficaz solução do
litígio, mas, evidentemente, sem que se afetem os princípios do contraditório e da ampla
defesa. Assim, se o credor pretender, poderá ser designada nova audiência para a
apresentação de sua impugnação, que, no entanto, poderá ser articulada de imediato.
Se possível, ainda, a produção de provas será feita também na audiência ou em fases
subseqüentes.

O conciliador deve empenhar-se para evitar alienação judicial, propondo todas as


medidas possíveis, inclusive pagamento a prazo, dação em pagamento e adjudicação
imediata.
Não havendo conciliação nem sendo apresentados embargos, ou julgados estes
improcedentes, qualquer das partes poderá requerer que o pagamento se faça por forma
especial, conforme previsto no § 3º do art. 53. Não havendo embargos, o juiz decidirá de
imediato, e sua decisão, certamente, será recorrível, já que se trata de decisão
autônoma, não excluída do âmbito recursal. Se houver embargos, com requerimento da
parte, o juiz decidirá neles.

Se a opção de execução de bens for à alienação, poderá haver dispensa de


publicação de editais, na forma da execução judicial. Não haverá, necessariamente, o
leilão ou a praça.

Não sendo encontrado o devedor nem existindo bens a penhorar, a execução se


extingue, com o desentranhamento de todos os documentos (art. 53, § 4º).

18. - DESPESAS PROCESSUAIS NO JUIZADO ESPECIAL CIVIL

As partes não estão sujeitas ao pagamento de custas processuais e honorários


advocatícios, havendo sucumbência apenas na fase de recurso. Assim, a parte vencida
que desejar recorrer da sentença deverá recolher as custas processuais, o preparo do
recurso (2%), a taxa judiciária e a contribuição da OAB, sendo as custas calculadas com
base na tabela mensal, publicada no Diário Oficial, referente às ações sumárias.
Portanto, dispensa-se a remessa dos autos ao contador judicial para apuração do
cálculo.

A sentença de primeiro grau de jurisdição, conforme ilação do disposto nos arts.


54 e 55 da Lei nº 9.099/95, não poderá condenar o vencido nas custas processuais e
honorários advocatícios, salvo nos casos de litigância de má-fé.

Já na fase recursal, a parte vencida ficará sujeita ao pagamento das custas


processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados entre 10% (dez por cento) e
20% (vinte por cento) do valor da condenação ou, não havendo condenação, do valor
corrigido da causa. É certo que esse valor não poderá exceder a 40 vezes o valor do
maior salário mínimo à época da propositura da ação, atualizado monetariamente a
partir da citação.

Por outro lado, se a parte vencida no recurso foi o recorrido, no tocante às custas
processuais, deverá ele reembolsar ao recorrente e vencedor os valores colhidos a título
de custas processuais, preparo do recurso, taxa judiciária e contribuição da OAB.
Gozando a parte vencida dos benefícios da Justiça gratuita e da assistência judiciária,
não estará sujeita ao pagamento dessas despesas e nem de honorários de
sucumbência. Sendo somente a parte vencedora assistida pela assistência judiciária,
deve a parte vencida ser condenada ao pagamento de honorários advocatícios, os quais
serão revertidos em favor da Defensoria Pública ou do defensor dativo, conforme o caso.

O requerimento da assistência judiciária gratuita somente pode ser formulado


quando da interposição do recurso, porque o preparo constitui pressuposto de
admissibilidade do procedimento recursal. O pedido de assistência judiciária será
apreciado pela Turma Recursal competente para conhecer o recurso, uma vez que o juiz
singular esgota sua jurisdição com a prolação da sentença.

De forma alguma deve o juiz monocrático obstruir o seguimento do recurso


quando o recorrente invocar a prestação jurisdicional sob o manto da gratuidade. È que
não cabe qualquer recurso contra a decisão que negar o seguimento e, neste caso, a
parte não poderá ver reexaminada a sentença impugnada.

Assim, se o recorrente, ao interpor o recurso, requerer a concessão da


assistência judiciária gratuita é de se processar regularmente o recurso, remetendo-o à
Turma Recursal, a quem compete decidir pelo deferimento ou não da pretendida
assistência.

A execução de título judicial ou extrajudicial correrá sem custas e honorários,


salvo quando:

a) for reconhecida a litigância de má-fé;

b) forem julgados improcedentes os embargos do devedor;

c) tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso


improvido do devedor.
**Conclusão

Por tudo que foi dito, resta induvidosa a importância da Lei dos Juizados
Especiais Cíveis a fim de tornar a Justiça Brasileira mais célere e sobretudo,
democrática.

A celeridade resulta da simplificação do procedimento, da instrumentalidade das


formas (repulsa ao formalismo exacerbado), da busca pela solução dos litígios de forma
amigável. Tamanha a importância que a Lei 9.099/95 deu à busca pela rápida solução
dosa conflitos que positivou o princípio da celeridade. Salvo engano, referido princípio
não se encontra expresso em nenhuma outra norma legal, nesta qualidade.

Outra norma de salutar relevo foi a que possibilitou às partes de formularem suas
pretensões em juízo sem a assistência de advogado, nas causas cujo valor não
ultrapasse 40 (quarenta) salários mínimos. O jus postulandi confere efetividade ao
princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, em nossa opinião o princípio mais
importante que se encontra positivado na Carta Política de 1988. Como corolário lógico
dessa assertiva, afirmamos que a norma de maior relevo na Lei 9.099/95 foi a que
albergou o jus postulandi..

Para se saber a real importância de uma lei, não basta reverenciarmos os seus
dispositivos e finalidades. É preciso que a mesma encontre respaldo social. E nesse
ponto, a Lei dos Juizados Especiais Cíveis não deixa a dever. É tão grande o seu
acolhimento por parte da população, que os Juizados Especiais são procurados para
resolver litígios que refogem à sua competência, tais como ações trabalhistas, de
alimentos e de investigação de paternidade. Não se trata de uma lei perfeita, até porque
é fruto do labor humano, mas com grande respaldo popular.

BIBLIOGRAFIA:

ALVIM, Eduardo Arruda. Curso de Direito Processual Civil. V. 1. São Paulo: RT, 1999.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Dos procedimentos Sumário e Sumaríssimo. 2ª edição. Rio


de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 1996.
COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais Cíveis anotada e sua interpretação
jurisprudencial. Atualizado conforme a Lei 9,841 de 05 de outubro de 1999. 2ª edição.
Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2000.

FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995.

NEGRÃO, Theotonio com a colaboração de José Roberto Ferreira Gouvêa. São Paulo:
Editora Saraiva, 2002.

NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados Especiais Cíveis e Criminais – Comentários. São


Paulo: Editora Saraiva, 1996.

SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. Processo de


Conhecimento. V. 1, 8ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2001.

SILVA, Luiz Cláudio. Os Juizados Especiais Cíveis na Doutrina e na Prática Forense. 2ª


edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1998.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. V. III. 26ª edição.
Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001

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