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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Introdução
1. - Considerações Gerais
Surgiram primeiro, os Juizados de Pequenas Causas para matéria cível. Tiveram
inspiração na Pretoria do Direito Italiano, incluindo como no mesmo, também a figura do
Conciliador. A intenção foi desafogar as varas cíveis, no sentido de que as causas de
menor alçada pudessem ter solução mais breve e assim satisfazer melhor a expectativa
das partes de verem solucionado um litígio.
Pode-se conceituar princípio como regra fundamental que deve ser observada e
cumprida. O doutrinador Joel Dias Figueira Júnior assim conceitua: “princípios
processuais são um complexo de todos os preceitos que originam, fundamentam e
orientam o processo”.
2.1. - Oralidade
Nunca houve um processo nem totalmente oral nem apenas escrito. Sempre se
utilizaram atos orais e atos escritos em conjugação na atividade jurisdicional.
Pelo imediatismo deve caber ao juiz a coleta direta das provas, em contato
imediato com as partes, seus representantes, testemunhas e peritos.
A identidade física do juiz preconiza que o juiz que colhe a prova deve ser o
mesmo que decide a causa.
2.2. - Simplicidade
Porém importante se faz ressaltar que a simplicidade não pode também ser
confundida com a inexistência de autos; há necessidade de registros, ainda que
sumários, pois as partes precisam de elementos não só para a execução, como também
para possíveis recursos.
2.3. - Informalidade
2.5. - Celeridade
3. - COMPETÊNCIA
A Lei nº 9.099/95 em seu art. 3º inciso I, fixa o valor da alçada não excedente a 40
(quarenta) vezes o salário mínimo vigente à data à do ajuizamento da ação. Para
apurar-se o valor da causa, deve-se somar, o principal com os acessórios até a época
da propositura da ação.
Quanto às causas cujo valor não exceda a 40 vezes o salário mínimo, temos aí
uma competência elástica do Juizado Especial Cível para processar e julgar as causas
que não envolvam matéria de competência específica de outros órgãos jurisdicionais,
como as ações de família, ações falimentares etc., nem aquelas excluídas da
competência do Juizado, por força do § 2º do art. 3º da Lei 9.099/95.
Diz a lei, que as causas relativas ao estado e capacidade das pessoas não serão
objeto do Juizado Especial, “ainda que de cunho patrimonial”. A lei, por ser cautelosa em
demasia, estabeleceu condição que não carecia de referência. Se a lide tem por objeto o
estado ou a capacidade, nunca terá cunho patrimonial. Estado e capacidade poderão
ser questões que emergem no processo, mas, se não constituem objeto da lide, são
perfeitamente solucionáveis no Juizado Especial. O contrato de venda de coisas móveis
poderá, por exemplo, ser declarado nulo, ou anulado, por ser o vendedor, ou o
comprador, incapaz.
A capacidade pode ser de direito ou de exercício do direito. Quem tem
capacidade de direito chama-se pessoa. O atributo de gozo de direitos é a
personalidade.
Diz a lei que o Juizado Especial não é também competente para as causas
relativas a “resíduos”.
Os “resíduos” nada têm que ver com a substituição fideicomissária instituída pelo
testador e que consiste na obrigação de serem transmitidos a outra pessoa a herança ou
o legado, por ocasião da morte do herdeiro ou legatário, a certo tempo, ou sob certa
condição. Os bens ficam gravados e, se o fideicomisso não caducar, permanecem
inalienáveis. No legado com “resíduos”, os bens podem ser consumidos e alienados
incondicionalmente, só passando para o beneficiário da cláusula o remanescente, a
sobra.
Causas de natureza fiscal são todas aquelas que dizem respeito a dívidas
tributárias e não tributárias para com a Fazenda Pública, e causas de interesse desta as
que podem afetar diretamente o patrimônio da União, dos Estados e dos Municípios. As
causas referentes a empresas públicas, a fundações públicas e as sociedades de
economia mista não afetam diretamente os patrimônios referidos; logo, portal razão, não
se excluem do Juizado, se bem que as empresas públicas da União ficam excluídas em
razão da pessoa por disposição expressa, e as sociedades de economia mista só
podem atuar como rés, já que pessoas jurídicas não podem ser autoras.
3.5. - Da absorção das matérias dos Juizados de Pequenas causas pela Lei nº 9.099/95
Insta ressaltar inicialmente que a ação colocada à disposição do devedor que está
sendo cobrado em valor superior ao devido para compelir o credor a receber o débito
real é a ação de consignação em pagamento, para a qual, é adotado um rito processual
especial, regulado no Código de Processo Civil. Portanto, não cabe no âmbito do
Juizado a propositura de tal tipo de ação, tendo em vista a especialidade do rito
processual adotado.
Por outro lado, para amenizar essa situação e atrair a competência do Juizado
Especial Cível, o devedor, na prática, que pague o valor cobrado a maior e promova
perante o órgão jurisdicional citado ima ação de repetição de indébito, a fim de obrigar a
parte contrária ao reembolso da importância cobrada a maior, atualizada
monetariamente. Nesse caso, o objeto da ação é uma condenação ao pagamento de
quantia em dinheiro, cuja competência está declinada pelo inciso I, do art. 3º da Lei nº
9.099/95.
Na forma do art. 4º, da lei que regulamente o procedimento das ações propostas
perante o Juizado Especial Cível, a competência ratione loci, ou seja, em razão do local,
é fixada conforme a seguir:
1) Pelo Juizado do foro do domicílio do réu ou a critério do autor, do local onde aquele
exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial,
agência, sucursal ou escritório.
Essa regra alcança não apenas os Juizados Especiais como também qualquer
outro órgão jurisdicional. Para o Juizado Especial, no entanto, há particularidade
importante no que se relaciona coma competência para a execução.
4. - PARTES
O Juizado Especial Civil é uma instituição que foi criada especificamente para a
tutela das pessoas físicas, no que diz respeito às suas relações patrimoniais, tendo
como objetivo predominante a pacificação do litígio por meios negociais.
O art. 8º da lei 9.099 enumera taxativamente, as pessoas que não podem figurar
como partes em sede de Juizados Especiais.
Dessa forma, não podem figurar tanto no pólo ativo quanto no pólo passivo da
relação processual: o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as
empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
Neste caso, é plenamente viável que o réu, mesmo sendo pessoa jurídica,
promova a execução do acordo, no caso de inadimplemento, perante o órgão do Juizado
Especial no qual o mesmo foi homologado.
Entretanto, Luiz Cláudio Silva, em seu livro afirma que “Os condomínios devem
ser admitidos a reclamar no Juizado Especial Cível, mesmo porque estão
constantemente se defendendo nesse órgão jurisdicional em ações que lhe são
propostas pelos próprios condôminos. A admissibilidade de o condomínio postular
perante o órgão acima é em beneficio dos próprios condôminos, pois quando o
condomínio necessita de reclamar em juízo, as despesas com advogado e custas
processuais são rateadas entre os mesmos.”
O espólio, apesar de não ser considerado pessoa física, vem sendo admitido
tanto no pólo ativo como no passivo das ações de competência do Juizado.
O pólo passivo da relação processual pode ser ocupado tanto por pessoa natural
(desde que maior e capaz) como por pessoa jurídica, mas somente as de direito privado.
Não podem ocupar nem o pólo ativo nem o passivo as pessoas jurídicas de direito
público e as empresas públicas da União. Igual restrição aplica-se às massas
patrimoniais personalizadas pelo Código de Processo Civil, de modo que não podem
figurar no processo desenvolvido no Juizado Especial a massa falida e o insolvente civil.
A lei que regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado visa a facilitar
o acesso das partes à prestação jurisdicional do órgão, sem o desembolso de custas
processuais e honorários de sucumbência, bem como a não necessidade de serem
assistidas por advogado, salvo quando o valor atribuído á causa for superior a 20 vezes
o do salário mínimo, o que na Justiça comum são os principais obstáculos ao acesso à
Justiça. Colima ainda, primordialmente, a realização da conciliação das partes por um
conciliador ou juiz leigo, a celeridade, informalidade e simplicidade dos atos processuais,
descongestionamento do Juízo comum, de forma a atender satisfatoriamente aos
interessas das partes.
Sabemos que a maioria das pessoas jurídicas privadas existentes em nosso país
é formada por microempresas, cujo suporte financeiro é ínfimo, sendo obrigadas a
abster-se de buscar a prestação jurisdicional para questionar seus direitos, seja relativo
à cobrança de dívida, indenizações etc., pelo fato de não disporem de numerários para
contratar advogados e suportar o ônus das custas processuais. Com isso, o próprio
consumidor abusa dessa situação, deixando de satisfazer pequenos débitos, pois sabe
que o ônus financeiro para efetivar a cobrança judicial é maior.
Para que ocorra a paridade entre os litigantes e para que seja prestada a tutela
aos carentes economicamente, determina a Lei nº 9.099 que, ao ser instituído o Juizado
Especial, dever-se-à, complementá-lo, com as curadorias necessárias e com o serviço
de assistência judiciária.
6. - DA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO
O art. 10 da lei que regulamenta o procedimento perante o Juizado Especial Cível
coíbe expressamente, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro, inclusive
de assistência, admitindo-se tão somente o litisconsórcio, seja ele ativo ou passivo.
Equivale o pedido acima a uma retificação da petição inicial. Como esta não
necessita de despacho do juiz para o impulso processual, o mesmo tratamento deve dar
no tocante ao referido pedido, que será apreciado oportunamente na audiência de
instrução e julgamento, momento em que o juiz decidirá todos os incidentes processuais,
até porque, quando o cartório recebe a petição inicial, esta não é levada a despacho
pelo juiz, o qual apreciará seus pressupostos, via de regra, na audiência de instrução e
julgamento.
Por outro lado, ainda que o reclamado na audiência conciliatório denuncie à lide o
verdadeiro responsável pela obrigação cobrada pelo reclamante, como não é cabível a
denunciação, deve o conciliador fazer constar o pedido na assentada da audiência,
designando-se de imediato a audiência de instrução e julgamento, momento em que o
pedido será apreciado pelo juiz, que certamente indeferirá, prosseguindo normalmente
com a audiência.
O art. 58 da Lei 9.099, finalmente, prevê que a lei local possa ampliar a
conciliação do Juizado Especial para alcançar causas que não se incluam em sua
competência específica.
8. - AÇÃO RESCISÓRIA
9. - MEDIDAS CAUTELARES
A figura do juiz leigo, uma das inovações da Lei n. 9.099/95, criada com o escopo
fundamental de funcionar na instrução processual, substituindo facultativamente o juiz
togado nesse múnus, é de avançado caráter prático. Obviamente, toda a direção da
instrução do processo ficará, em última análise, aos seus cuidados (do juiz togado),
sempre com o poder de supervisionamento do trabalho desses auxiliares, podendo
mandar repetir atos processuais ou produzi-los pessoalmente.
O juiz leigo, como mero auxiliar da justiça, responde pela fase instrutória do
processo, coletando provas e decidindo os incidentes que possam interferir no
desenvolvimento da audiência de instrução e julgamento, e como o próprio nome está a
indicar, não dispõe das garantias constitucionais inerentes aos magistrados, conferidas
pelo art. 95 da Constituição Federal, expressas na vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de vencimentos.
11. - DO PROCEDIMENTO
11.1. - Do pedido
e) Atribuição do valor da causa, o qual pode ser superior ao de alçada, que é no máximo
40 salários mínimos, uma vez que este é fixado pela Lei n.º 9.099/95, apenas para efeito
de condenação e nunca para fins de conciliação. Insta salientar que, para a fixação do
valor da causa, devemos considerar o principal e seus acessórios, atualizados
monetariamente até a data da propositura da reclamação, de acordo com o índice oficial
de atualização monetária.
Formulada a inicial observando a forma escrita, seja pela própria parte reclamante
ou assistida por advogado constituído, deve o cartório examiná-la, fazendo uma aferição
objetiva dos seus pressupostos. Vale observar que, quando a inicial for encaminhada ao
Cartório por advogado do constituído, é necessária a presença do mesmo, no ato de seu
recebimento pelo Cartório, a fim de lhe ser dado ciência da designação da audiência
conciliatória, cuja designação é feita naquele momento pelo próprio Cartório.
Não obstante a simplicidade nos Juizados Especiais, a Lei n.º 9.099/95 permite a
formulação de pedidos alternativos e cumulados. Ressalva, apenas, que os pedidos
cumulados deverão ser conexos e que a soma de seus valores não poderá ultrapassar o
limite de alçada de 40 (quarenta) salários mínimos. Pedidos conexos devem ser
entendidos, aqui, como aqueles compatíveis entre si ou coerentes.
"As normas estabelecidas para os procedimentos dos Juizados Especiais não vedam a
possibilidade do deferimento de medidas cautelares, sejam específicas, sejam genéricas
ou inominadas. Parece claro, contudo, que as regras para a concessão de tais medidas
deverão ser adaptadas ao célere e informal procedimento que a lei estabelece"
(Juizados Especiais Cíveis, Del Rey, 1996, p.106).
Vale lembrar, ainda, que somente serão admitidos pedidos cautelares cuja a
natureza da ação principal for da competência dos Juizados Especiais. Assim, por
exemplo, incabível medida cautelar que tenha por objeto a pessoa, posto que pertinente
a ações que não são da competência do Juizado Especial.
Este pedido, pode, ser feito de forma que o responsável pelo dano possa ter uma
ou mais alternativas para poder satisfazer a pretensão que se busca, ou seja, fazer o
pedido da entrega da coisa ou o seu valor.
O pedido poderá ser genérico quando não for possível, de imediato, aferir a
extensão da obrigação.
A parte liga que comparece sozinha ao Juizado, não tem a obrigação de expor,
com precisão, os fundamentos jurídicos do seu pedido, pelo que basta que a mesma
narre os fatos e exponha as suas pretensões, cabendo ao julgador aplicar a lei a adotar
a decisão que reputar mais justa e equânime, mesmo que o pedido do autor não seja
claro, desde que não prejudicada a defesa do réu e a decisão seja coerente com a
pretensão formulada.
"Não é extra petita a sentença, no Juizado Especial Cível, que se atém aos fatos
articulados e à pretensão deduzida, visto que a precisão do pedido não constitui
requisito essencial nesse novo instituto" (1ª Turma Recursal Cível de Belo Horizonte -
Rec. 187 - Rela. Vanessa Verdolin Hudson Andrade).
No processo especial, foi abolida a citação por edital, por motivos óbvios. A
citação editalícia, se adotada no processo especial, comprometeria os ideais de
simplicidade e celeridade tão desejados. Por conseguinte, se o autor desconhecer o
domicílio do réu ou este se encontrar em lugar ignorado ou não sabido, deve procurar os
órgãos da justiça comum para instaurar sua ação. Em ocorrendo qualquer hipótese que
implique a necessidade de citação por meio de edital, o juiz deve decretar a extinção do
processo especial, com fundamento no art. 51, II.
11.4. - Da revelia
Ultima a citação válida, a ausência do réu à audiência importa no reconhecimento
da revelia, cujo efeito é a presunção de que foram aceitos pelo réu, como verdadeiros,
os fatos articulados pelo autor.
Como prevê a própria Lei dos Juizados Especiais, havendo elementos que levem
o juiz formar seu convencimento, a revelia não será decretada.
Finda a produção de provas, deve o juiz abrir os debates orais, dando a palavra
inicialmente à parte reclamante e a seguir, à parte reclamada, a fim de que ofereçam
suas razões finais. O suprimento dessa fase processual poderá acarretar vício de
nulidade processual por cerceamento de defesa. Daí a importância de o juiz não obstar
esse direito das partes de oferecerem suas razões finais em audiência.
Serão admitidos todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não
especificados em lei, hábeis para demonstrar da veracidade dos fatos articulados pela
parte da relação processual, como autoriza o artigo 32 da Lei nº 9.099/95.
Na fase recursal, aplicamos a regra geral que não admite produção de provas
durante o recurso, salvo quando determinado pela Turma Recursal o cumprimento de
diligências, permitindo-se tão somente a transcrição da fita magnética na qual foi
gravada a audiência de produção de provas.
Quanto à prova testemunhal, cada uma das partes poderá indicar, no máximo três
testemunhas, sendo necessário o oferecimento do rol, devendo trazê-las para a
audiência de instrução e julgamento. Havendo necessidade de intimação das
testemunhas arroladas, deve a parte interessada requerer a intimação no prazo mínimo
de 5 (cinco) dias antes da audiência referida.
14. - Sentença
Define o § 1º do art. 162 do CPC, “Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao
processo, decidindo ou não o mérito da causa”. As que apreciam o mérito são
denominadas sentenças definitivas ou sentenças de mérito. As sentenças que põem fim
ao processo sem decidir a lide são denominadas terminativas.
Podemos aqui destacar mais duas situações distintas, onde será a sentença
condenatória ineficaz na parte que exceder o limite estabelecido na lei (artigo 39). Por
exemplo, havendo a condenação em quantia correspondente a quarenta e um salários
mínimos, o excesso será sempre excluído da condenação. Outra situação é de que as
sentenças em causas não autorizadas ao Juizado Especial serão totalmente ineficazes.
Já a sentença homologatória de acordo, sim, valerá além do teto legal.
Nas hipóteses em que o juiz leigo dirige a instrução probatória (art. 37), ele
mesmo profere a decisão na causa, a qual depende, sempre, da homologação pelo juiz
togado, para que adquira validade como ato jurisdicional típico. Essa nota especial com
que a lei reveste a decisão do juiz leigo, exigindo a interveniência do juiz togado para
que adquira eficácia, levou Humberto Theodoro Júnior a afirmar que se trata de uma
“decisão ad referendum”.
Já Alexandre Freitas Câmara prefere entender que o juiz leigo na verdade não
profere sentença, o que seria até mesmo inconstitucional (em razão do princípio da
indelegabilidade da jurisdição), mas tão-somente apresenta um “projeto de sentença”, ou
em outros termos, um esboço do que seria, a seu juízo, a solução da causa 1[1]. Tal
“projeto de sentença” deverá ser levado ao juiz togado, que a ele não fica vinculado,
sendo livre na formação de seu convencimento. É natural, porém, que muitas vezes tal
“projeto de sentença” seja levado em consideração pelo juiz togado, uma vez que este
não terá, nestes casos, travado contato com as provas orais, que teriam sido produzidas
em audiência realizada sob a condução do juiz leigo.
1
As sentenças homologatórias de autocomposição ou do laudo arbitral não
desafiam qualquer recurso, nem os embargos de declaração.
O recurso inominado (como vem sendo chamado por força da praxe forense) ou
apelação - na preferência de alguns autores - submete-se à satisfação dos requisitos
intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, como qualquer recurso, merecendo
destaque os seguintes aspectos: obrigatoriedade de atuação dos advogados
representando as partes; formalização em petição escrita, contendo as razões do
inconformismo; interposição no prazo de dez dias a partir da ciência da sentença;
preparo em quarenta e oito horas contadas da interposição, independente de intimação;
efeito, de regra, apenas devolutivo, admitido, excepcionalmente, o suspensivo, para
evitar dano irreparável à parte. Será julgado, na dicção do art. 41, § 1º, da Lei nº 9.099,
por uma turma recursal composta de três juízes togados, em exercício no primeiro grau
de jurisdição, reunidos na sede do Juizado, devendo as partes ser intimadas da data da
sessão de julgamento, e este, fiel ao princípio da simplicidade das formas, constará
somente da ata, indicando-se a identificação do processo, resumida fundamentação e
dispositivo, anotando-se, ainda, que, no caso de confirmação da sentença pelos próprios
fundamentos, servirá de acórdão a súmula do julgamento (art. 46 da Lei referenciada).
Cumpre ressaltar, finalmente, que o art. 59 da Lei n1 9.099 veda o manejo de
ação rescisória das sentenças proferidas nos procedimentos regidos por essa lei. As
peculiaridades do caso não autorizam tal ação, salientado-se, que, de um lado, as
situações de injustiça são menos freqüentes nos juizados, e, de outro, a ação rescisória
não se presta para corrigir injustiças. Eventuais irregularidades que, normalmente,
permitiriam a rescisão do julgado (art. 485 do CPC), podem ser argüidas, como matéria
de defesa, na execução, através de embargos ou por outras ações capazes de realizar a
correção, inclusive a declaratória.
Por fim, uma breve reflexão quanto ao cabimento dos recursos especial e
extraordinário contra decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis.
No que diz respeito ao recurso especial, sua interposição, nos termos do art. 105
da Constituição Federal, só é admissível, quando a decisão recorrida for preferida em
única ou última instancia, por Tribunais, e, não constituindo as Turmas Recursais, um
Tribunal, não é o mesmo cabível nas causas que tramitam nos Juizados Especiais.
Nos Juizados Especiais Cíveis, a sentença não enseja apelação, mas “recurso”, a
ser julgado, com sucinta fundamentação, por um colégio recursal. A causa não sobe ao
Tribunal de Justiça, sendo revisada a decisão no âmbito do próprio Juizado, pelo seu
órgão competente para o julgamento dos recursos. Esse “recurso”, guardadas as
diferenças procedimentais, equivale à apelação do Código de Processo Civil, porquanto
seu manejo volta-se ao ataque das decisões terminativas de feito, com apreciação de
mérito ou não. Poderia, por conseguinte, visando à uniformização, ter sido também
denominado apelação, só com a ressalva de endereçamento ao órgão recursal do
próprio Juizado. A desnecessidade de atribuir uma denominação a esse recurso
resultou, todavia, da circunstância de que, no micro sistema criado pela Lei dos Juizados
Especiais, existe um único recurso, e não variedade deles, como ocorre no sistema
recursal codificado, em que cada um recebeu um nome exclusivo.
Neste artigo (42), o legislador consignou regras sobre prazo e preparo do recurso
que devem obrigatoriamente ser observadas, pelo recorrente, ao formular sua pretensão
recursal. Tais exigências constituem requisitos de admissibilidade do recurso no
processo especial (pressupostos objetivos), cuja regularidade procedimental está a
depender do preenchimento desses mesmos requisitos, e de outros pressupostos
recursais inerentes ao processo comum e compatíveis com a índole do especial.
Significa que, no processo especial, a exemplo do que ocorre no processo civil comum,
o órgão recorrido exerce um prévio “juízo de admissibilidade” sobre a pretensão do
recorrente, de levar a causa ao conhecimento do órgão recursal.
O preparo do recurso deve ser feito no prazo de quarenta e oito horas, após sua
interposição, sem haver necessidade do recorrente ser intimado para que o faça. Esse
prazo é preclusivo, ensejando a deserção do recurso por falta de preparo. Em caso tal, o
colégio recursal deverá, mesmo de ofício, não conhecer do recurso, em preliminar ao
mérito. A prova do preparo exige que o recorrente recolha a guia de depósito ainda
dentro das quarenta e oito horas, também sob pena de deserção.
Como o prazo foi fixado em horas, conta-se de minuto a minuto, de acordo com a
regra do art. 125, § 4º, do Código Civil, não se incluindo o dia da interposição do recurso.
Por exemplo, se interposto ao meio-dia de uma segunda-feira, o termo final do prazo
para o preparo só ocorre no terceiro dia seguinte (quinta-feira), coincidindo exatamente
com o mesmo minuto em que foi protocolizada a petição (12h00). Interposto em sexta-
feira seguinte (exaurindo-se na quarta-feira, no minuto correspondente ao da
interposição) por ter aplicação à espécie a Súmula 310 do Supremo Tribunal Federal. Se
o dia do vencimento recair num feriado ou em dia em que não houver expediente
forense, fica prorrogado para o dia útil seguinte; se coincidir com um sábado ou
domingo, fica prorrogado para a segunda-feira seguinte.
No que tange à sentença terminativa, isto é, aquela que não contém resolução do
mérito, há que se lembrar que, além das hipóteses previstas em outras normas (dentre
as quais se destaca o artigo 267 do CPC), há casos específicos de “extinção do
processo sem julgamento do mérito” na lei dos Juizados Especiais (art. 51), e que são
os seguintes:
17. - EXECUÇÃO
- erro de cálculo;
Citado para pagar em vinte e quatro horas (24h00) e não o fazendo, passa-se á fase da
penhora, com nomeação de bens pelo executado ou por oficial de justiça.
O art. 53, § 1º, faz remissão aos embargos previstos para os títulos judiciais, mas
evidentemente, a matéria de defesa não pode resumir-se ás previsões ali constantes, já
que nenhuma lesão de direito pode ser suprimida da apreciação do Poder Judiciário. A
defesa, portanto, é ampla.
Por outro lado, se a parte vencida no recurso foi o recorrido, no tocante às custas
processuais, deverá ele reembolsar ao recorrente e vencedor os valores colhidos a título
de custas processuais, preparo do recurso, taxa judiciária e contribuição da OAB.
Gozando a parte vencida dos benefícios da Justiça gratuita e da assistência judiciária,
não estará sujeita ao pagamento dessas despesas e nem de honorários de
sucumbência. Sendo somente a parte vencedora assistida pela assistência judiciária,
deve a parte vencida ser condenada ao pagamento de honorários advocatícios, os quais
serão revertidos em favor da Defensoria Pública ou do defensor dativo, conforme o caso.
Por tudo que foi dito, resta induvidosa a importância da Lei dos Juizados
Especiais Cíveis a fim de tornar a Justiça Brasileira mais célere e sobretudo,
democrática.
Outra norma de salutar relevo foi a que possibilitou às partes de formularem suas
pretensões em juízo sem a assistência de advogado, nas causas cujo valor não
ultrapasse 40 (quarenta) salários mínimos. O jus postulandi confere efetividade ao
princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, em nossa opinião o princípio mais
importante que se encontra positivado na Carta Política de 1988. Como corolário lógico
dessa assertiva, afirmamos que a norma de maior relevo na Lei 9.099/95 foi a que
albergou o jus postulandi..
Para se saber a real importância de uma lei, não basta reverenciarmos os seus
dispositivos e finalidades. É preciso que a mesma encontre respaldo social. E nesse
ponto, a Lei dos Juizados Especiais Cíveis não deixa a dever. É tão grande o seu
acolhimento por parte da população, que os Juizados Especiais são procurados para
resolver litígios que refogem à sua competência, tais como ações trabalhistas, de
alimentos e de investigação de paternidade. Não se trata de uma lei perfeita, até porque
é fruto do labor humano, mas com grande respaldo popular.
BIBLIOGRAFIA:
ALVIM, Eduardo Arruda. Curso de Direito Processual Civil. V. 1. São Paulo: RT, 1999.
FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995.
NEGRÃO, Theotonio com a colaboração de José Roberto Ferreira Gouvêa. São Paulo:
Editora Saraiva, 2002.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. V. III. 26ª edição.
Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001