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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE PORTO AMBOIM

ISUP

CURSO DE DIREITO

UNIDADE CURRICULAR - DIREITO PROCESSUAL CIVIL I – 3º ANO

APONTAMENTOS COMPILADOS PARA AULAS


TEÓRICO/PRÁTICAS DE ACORDO COM O
PROGRAMA CURRICULAR

Ponto Prévio: Apresentação do Professor e dos Alunos. Conteúdo Programático e


Breves Considerações sobre a Disciplina

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 1 de 85


UNIDADE I – INTRODUÇÃO E NOÇÕES GERAIS

 Breve Referência sobre a evolução Histórica do Direito


Processual Civil.
 Definição do Direito Processual Civil – I;
 Importância Prática do Direito Proc. Civil;
 Características; e
 Princípios Estruturantes
 A Relação Processual – Sua Importância;
 Fontes do Direito Processual Civil;
 Integração do Direito Processual Civil no tempo e no espaço;
 Normas excepcionais;
 Interpretação do Direito Processual Civil;
 Aplicação da lei processual no tempo.
UNIDADE II – TEORIA GERAL DO PROCESSO DECLARATIVO

 Formas do Processo Declarativo (Comum e Especial)


 Acções – Noção. Classificação das Acções. Critérios de Distinção.
 Formas do Processo Comum Declarativo e Domínio de Aplicação de
cada uma delas.
 Processo Ordinário, Sumário e Sumaríssimo.
 Formas dos Processos Especiais
 Processos de Jurisdição Voluntária e de Jurisdição Contenciosa .

UNIDADE III -PROCEDIMENTOS CAUTELARES

 Definição;
 Razão da Sua Existência;
 Classificação dos Procedimentos Cautelares quanto a sua
finalidade;
 Procedimentos Cautelares especificados e não Especificados;
 Carácter Provisório dos Procedimentos Cautelares;
 Responsabilidade do requerente.

UNIDADE IV – COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS


 Noção de Jurisdição e de Competência;
 Conflitos de Jurisdição e de Competência;

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 Modalidades da Competência dos Tribunais;
 Competência Interna e Competência Internacional;
 Infracção às Normas de Competência - Modalidades
UNIDADE V: PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

 Noção de Capacidade Judiciária;


 Incapacidade Judiciária;
 Modos de Suprimento
 Dos menores
 Dos Interditos
 Dos inabilitados

LEGITIMIDADE DAS PARTES

 Noção de Legitimidade das partes


UNIDADE VI: FORMALISMO DO PROCESSO DECLARATIVO

 Fases Do Processo.
 Fase Dos Articulados
 Fase do saneamento e condensação;
 Fase de instrução;
 Fase da audiência final; e
 Fase da sentença

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:

Andrade, M.de (1979). Noções Elementares de Processo Civil. Coimbra:


Coimbra Ed.

Anselmo de Castro, A. (1992). Direito Processual Civil Declaratório.


Coimbra: Coimbra Ed.

Antunes Varela, J.M.; Bezerra, M., Sampaio. N. (1985). Manual de


Processo Civil 2.Coimbra: Coimbra Ed.

Castro Mendes, J.C. (19861987) – Direito Processual Civil. Lisboa: Ribeiro


Mendes.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

 Amaral, Jorge Augusto Pais, Direito Processual Civil, 9ª e 12ª


Edições, Almedina, Março 2010 e Abril 2016;

 João Alves, António Geraldes e Jorge Santos, Direito Civil e


Processual Civil, Tomos I e II – Projecto Apoio ao Desenvolvimento
dos Sistemas Judiciários – Formação Contínua para Magistrados.

 Prata, Ana, Dicionário Jurídico, Volume I, 5ª Edição, Almedina,


2006.

 Neto, Abílio, Código Civil Anotado, 18ª Edição Revista e


Actualizada, Janeiro 2013.

UNIDADE I – INTRODUÇÃO/NOÇÕES GERAIS

LIÇÃO Nº

DATA___/___/_____

SUMÁRIO: Noção de Processo Civil;

 Breve Referência sobre a evolução Histórica do Direito


Processual Civil.
 Definição do Direito Processual Civil – I;
 Importância Prática do Direito Proc. Civil;
 Características; e
 Princípios Estruturantes
I-Noção de Processo Civil:

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A expressão “processo” é oriunda do vocábulo latino “pró cedere” que
significa caminhar para a frente, avançar para um objectivo.

O Direito Processual Civil é o ramo de direito público que integra o Direito


Civil e este traduz o conjunto de normas que visam regular as relações
jurídicas estabelecidas entre particulares, ou entre eles e o Estado, desde
que este não actue numa função de soberania.

A regulação destas relações integradas no direito privado consiste, por


regra, na concessão de um ou vários direitos subjectivos a uma das partes, e
a consequente sujeição da outra a um dever jurídico.

O Direito Processual Civil surge da necessidade que o Estado tem de


disponibilizar aos cidadãos uma forma adequada de reintegrar o direito
violado, por via dos tribunais, uma vez que as sociedades modernas
afastaram o sistema de justiça privada, assente na auto-defesa e acção
directa.

II-Evolução Histórica do Direito Processual Civil

O Direito Processual Civil moderno surgiu em 1868, na Alemanha, com a


publicação de um livro da autoria de VON BULOW, intitulado “Teoria
das Excepções e Pressupostos processuais”

Desde esta data (1868) até 1926 (58 anos) o Direito Processual Civil estava
assente sobre uma base de concepção essencialmente privatística da relação
processual, isto é, competia às partes, por força do princípio da livre
disponibilidade da relação material levada até às suas últimas
consequências, a tarefa de impulsionar a actividade dos tribunais e de
definir as pretensões sujeitas à apreciação jurisdicional, como o encargo de
juntar ao processo todo material de prova de que ao juíz era lícito conhecer
na apreciação da matéria de facto delimitada pelas partes (autor e réu),

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limitando o juíz a assistir, numa posição passiva, para garantir a
imparcialidade do tribunal, ao desenrolar da luta que as partes
desencandeavam entre si.

O defeito fundamental deste sistema privatístico do Direito Processual


Civil, que além do mais, impedia a necessária fiscalização da actividade
instrutória desenvolvida pelas partes, era ainda agravado por outras
circunstâncias especiais, como a excessiva relevância atribuída ao
formalismo processual e às restrições impostas à livre apreciação do
tribunal na fase do julgamento.

Nessa fase, o processo era totalmente escrito e recheado de solenidades


dispensáveis. Porém, a lei fazia corresponder à violação dessas fornalidades
de sanções, como a de se perder a acção ou o direito invocado, a fim de
melhor garantir a sua observância.

Entretanto, com o decorrer do tempo se reconheceu que o antigo Direito


Adjectivo (Direito Processual Civil), baseado em postulados fundamentais
do liberalismo individualista, já não correspondia às exigências dos tempos
modernos, que reclamavam um predomínio mais seguro da justiça
material contra a pura justiça formal e, consequentemente, uma
intervenção mais activa do juíz no desenvolvimento da relação processual.

Reformas

Foram os processualistas Italianos, na sequência das novas correntes de


ideias, que proclamaram os princípios que viriam a dar ao processo uma
feição marcadamente publicista que rapidamente se propagaram para os
diferentes ordenamentos jurídicos.

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Estes princípios, não eliminaram, mas reduziram aos seus justos limites, o
chamado princípio dispositivo e ampliaram consideravelmente o domínio
da aplicação do princípio inquisitório.

III-DEFINIÇÃO:

O Direito Processual Civil é o conjunto de normas que regulam os tipos,


formas e requisitos da acção cível, assim como das formalidades que
devem ser observadas em juízo, tanto no momento da sua propositura
como durante o seu desenvolvimento.

No entender do Professor Castro Mendes, Direito Processual Civil, pode


definir-se, também, como conjunto de actos que têm por fim a justa
composição de um litígio de interesses privados comuns, pelo acolhimento
ou rejeição da pretensão de um dos litigantes através da intervenção de um
órgão imparcial da autoridade, o tribunal.

IV-IMPORTÂNCIA PRÁTICA DO PROCESSO CIVIL

A importância prática do Direito Processual Civil radica no facto de indicar


os requisitos a que deve obedecer a propositura de uma acção de natureza
cível e os formalismos a observar no seu desenvolvimento em juízo, ou
seja, os respectivos actos e a forma, a ordem e o tempo segundo o qual
devem ser praticados, o que, por outras palavras, pode-se dizer que é o
estudo das normas do processo.

V- CARACTERÍSTICAS:

O Direito Processual Civil apresenta duas características fundamentais:

1- É um direito público porque regula o exercício duma função do


Estado constitucionalmente atribuída aos tribunais – artigo 174º da
CRA;

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2- É um direito instrumental, porque estabelece os meios adequados à
tutela jurídica dos direitos subjectivos suportados pelo direito
substantivo – o Direito Civil. Porém, chama-se a atenção para o facto
de a localização da norma não determinar a sua natureza substantiva
ou adjectiva/processual, pois há normas substantivas no CPC ( ex:
artigos 1200º, 1202º, etc) e normas processuais no CC (ex: artigos
300º, 328º, 341º, etc).

IV-PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO PROCESSO CIVIL:

Os princípios - são orientações que informam o conteúdo de um conjunto


de normas e servem para conduzir a aplicação correcta das regras jurídicas.

Os princípios estruturantes do Direito Civil têm o seu reflexo na definição


do papel das partes e do tribunal na configuração do objecto da lide, na
direcção do processo, na actividade probatória e na composição do litígio.

1.PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO – determina que são as partes que dão


início ao processo, o que caracteriza ser um ramo do direito civil,
contrariamente ao direito penal – artigos 3º e 264º nº 1 CPC.

Este princípio Implica a liberdade de decisão sobre a instauração da acção,


fixação do seu objecto, partes, bem como a sua suspensão e fim.

Entretanto, apontam-se, a título exemplificativo, algumas excepções a este


princípio:

 quando cumpre ao juíz remover obstáculos que se oponham ao


andamento regular da causa, recusando o que for impertinenete ou
dilatório ou ordenando o que se mostre necessário para seguimento
do processo – artigo 266º CPC;

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 Inadmissibilidade de confissão, desistência ou transação quanto aos
direitos indisponíveis – artigo 299º nº 1, sendo apenas permitida a
desistência nas acções de divórcio e de separação de pessoas e bens –
nº 2 do artigo 299º CPC.

2. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO – É tradicionalmente entendido


como princípio de defesa perante uma pretensão de outrem e traduz a
garantia de participação real das partes no desenvolvimento da lide, que
influencia, em igualdade, os seus elementos, como os factos, as provas, etc.

Trata-se de uma estrutura dialéctica em que o impulso de uma parte confere


a outra a possibilidade de realizar outro para contrariar o primeiro.

Em suma é o princípio que orienta que cada parte tem o direito de


contradizer e fiscalizar os actos da parte contrária, contribuindo para a
descoberta da verdade material – artigos 3º, 517º, 521º nº 2 e 645º do CPC;

Excepções:

 Só nos casos excepcionais previstos na lei se podem tomar


providências contra determinada pessoa sem que esta seja
previamente ouvida (condenação à revelia, impedimento temporário)
– artigo 3º nº 2 CPC;

 A arguição de qualquer nulidade não pode ser deferida sem prévia


audiência da parte contrária – artigo 207º nº 1;

3. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO E BOA FÉ – Segundo este


princípio, as partes devem cooperar entre si para que o processo realize a
sua função em prazo razoável, sendo a sua violação passível de sanções
pecuniárias (artigo 266º nº 1 CPC).

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Caracteriza-se pelo dever das partes e terceiros em atenderem a solicitação
do tribunal, prestarem a sua colaboração, facultando objectos, submetendo-
se às inspecções necessárias, praticarem os actos que forem determinados
pelo tribunal (artº 519º nº 1 CPC), tendo como limite o respeito por direitos
fundamentais (reserva da vida privada, deveres de sigilo, etc).

4. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – Apresenta-se com duas vertentes,


sendo a primeira a da legalidade das formas de processo e a segunda de
legalidade do conteúdo da decisão.
Na primeira vertente, estabelece-se que os termos do processo são
fixados por lei, não competindo ao juiz ou às partes, decidir quais os
trâmites que o processo deve conter;

Na segunda vertente, refere-se que os tribunais estão sujeitos à lei, por


isso, o juiz na decisão final, tem que indicar, interpretar e aplicar as normas
jurídicas correspondentes aos factos considerados provados, embora na
indagação, interpretação e aplicação das normas jurídicas o juiz não esteja
sujeito às alegações das partes - artigos 138º, 201º, 659º nº 2, 664º CPC.

5. PRINCÍPIO DA PRECLUSÃO – Como o processo civil apresenta-se


como uma sucessão de actos com vista a obtenção pelo tribunal de uma
decisão que defina o direito no caso concreto, este princípio estabelece a
existência de fases e prazos processuais, cumprindo a regra segundo a qual,
ultrapassada certa fase processual, deixam as partes de poder praticar os
actos aí previstos e, extingue-se tal direito, com excepção aos articulados
supervenientes – artigos 145º, 264º nº 3, 484º, 506º e 508 nº 3 CPC .

OUTROS PRINCÍPIOS

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 PRINCÍPIO INQUISITÓRIO – estabelece que o juíz deve certificar-
se dos factos apresentados pelas partes – artigos 513º CPC (o mesmo
artigo comporta regra na lª parte e excepção na 2ª) e nº 3 do artigo
264º CPC
 PRINCÍPIO DA IGULADADE – traduz a ideia de que as partes são
iguais uma da outra – artigos 512º, 619º CPC e 23º da CRA.
Excepção:
 Fixação do montante de indemnização de acordo com a situação
económica do agente – artigo 494º do CC.

 PRINCÍPIO DA IMEDIAÇÃO – permite que o juíz tenha o contacto


pessoal com as provas das partes – artigos 647º, 652º, 642º.

Excepções:

 A correspondente aos artigos 520º e 557º do CPC;

 PRINCÍPIO DA AQUISIÇÃO PROCESSUAL – determina que as


provas aduzidas pelas partes devem constar do processo, ainda que
sejam contrárias à vontade dos seus autores – artigo 515º CPC;

 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL – procura alcançar


um resultado com o mínimo de meios, tornando pouco oneroso o
processo que, em princípio, já é caro – artigos 137º CPC;

 PRINCÍPIO DA CELERIDADE – determina que o processo deve


ser organizado dentro dos prazos estabelecidos para se evitar
julgmanto tardio – artigo 2º “in fine”, 153º, 160º, 159º.

FUNÇÃO:
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Os princípios do DPC desempenham três (3) funções:
1. Função aglutinadora – destinada a esclarecer determinadas
situações;
2. Função Prioritária – porque servem de consulta antes de se tomar
decisão sobre determinado caso;
3. Função Integradora – fazem parte do sistema de normas, sendo que
outros ramos de direito buscam normas do DPC para os subsidiar,
como ocorre com o Direito Administrativo, Direito Comercial,
Direito Fiscal, Direito Processual Penal, etc).

TAREFA

1. Defina Direito Processual Civil e aponte as suas principais


características.
2. Refira-se sobre o princípio da legalidade.
3. Em que consiste a importância prática do Direito Processual Civil?

LIÇÃO Nº_________

DATA_____/______/_______

SUMÁRIO:

1. A Relação Processual – Sua Importância;


2. Fontes do Direito Processual Civil;
3. Integração do Direito Processual Civil no tempo e no espaço;
3.1- Normas excepcionais;

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4. Interpretação do Direito Processual Civil;
5. Aplicação da lei processual no tempo.

1- A Relação Processual – Sua Importância

Como afirmamos na aula anterior, a expressão “processo” nasce do


vocábulo latino “pró cedere” que significa caminhar para a frente, avançar
para um objectivo, ou, numa só frase, avançar para frente e para um
determinado objectivo, que é o da satisfação da pretensão formulada pelo
autor – artigo 26º nº 2 CPC, através dos meios pelos quais se determina a
procedência ou improcedência da pretensão e a reintegração ou não do
direito violado, através da acção cível.

Acção cível – é a pretensão de tutela jurisdicional formulada em juízo para


uma dada relação material de direito.

Nesta perspectiva, pelo termo Processo, deve entender-se como uma


sequência de actos logicamente articulados entre si, com vista a alcançar
um fim – a solução justa da providência judiciária requerida pelo autor, ao
abrigo das normas substantivas estabelecidas pelo Código Civil.

Conclui-se, assim, que o direito susbstantivo (Direito Civil) é servido pelo


direito processual (lei processual), ou seja, o processo civil é um
instrumento ao serviço das soluções que decorrem do direito civil.

Por este facto, o Direito Processual Civil abarca um conjunto de normas


reguladoras do processo civil, isto é, a relação jurídica estabelecida entre os
particulares ou entre particulares e entes públicos, desde que estes
intervenham nesta relação desprovidos do seu poder de autoridade.

Importa referir que a má condução do processo pode ter reflexos negativos


na decisão da causa, tendo em conta que este permite conhecer os múltiplos

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aspectos que se desdobram em momentos diferentes das relações jurídico-
privadas.

2- Fontes do Direito Processual Civil

Segundo o entendimento dominante, a expressão “fontes de direito” –


artigo 1º CC significa os modos de formação e revelação do direito
objectivo ou das normas jurídicas, isto é, os diversos processos de gestação
das normas jurídicas.

Antigamente, (período anterior ao liberalismo) as matérias processuais


encontravam-se concentrados num dos livros das antigas ordenações que
eram compiladas sem nenhum critério sistemático válido.

No período liberal, destacaram-se três (3) diplomas:

1. A reforma judiciária que simplificou alguns termos do processo


(Decreto nº 24/1832, de 16 de Maio);
2. Nova reforma judiciária promulgada pelo Decreto nº 05/1836, de
29 de Novembro;
3. Novíssima reforma judiciária que teve lugar em 1876 de onde
resultou a existência do Código de Seabra.

Actualmente, consideram-se, dentre outras, fontes do DPC, as seguintes:

 Constituição da República – artigo 29º (acesso ao direito e tutela


jurisdicional efectiva);
 A lei;
 Os Decretos Legislativos Presidenciais;
 Os Decretos Executivos;
 Os Despachos;
 Os Regulamentos;
 A Jurisprudência;
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 A Doutrina.

Além destas, apontam-se ainda o costume – artigo 7º da CRA, segundo o


qual «é reconhecida a validade e a força jurídica do costume que não seja contrário à

Constituição nem atente contra a dignidade da pessoa humana » e os princípios gerais


do direito.

3- Integração do DPC no tempo e no espaço:

Há nas relações abrangidas pelas normas processuais em vigor vários


aspectos que o legislador não chegou a contemplar e que não podem deixar
de ser reguladas em sede do direito – é o problema das lacunas.

Entretanto, seja qual for a circunstância, o juíz não pode abster-se de julgar,
sob pretexto de falta ou obscuridade da lei – artigo 8 nº 1 CC.

O caminho a tomar é o delineado no artigo 10º do CC, cujo campo de


aplicação se estende a todos os ramos do direito.

Portanto, com excepção estabelecida no artigo 11º do CC, quanto a não


permissão do recurso a analogia, a integração do DPC faz-se por:

 Analogia que pode ser determinada não pela simples simetria formal
das situações, mas pela identidade substancial estatuída. A
aplicabilidade da lei processual por analogia funda-se em ser de
presumir que, se a lei prevê determinado caso e o regula de certa
maneira, da mesma maneira teria regulado os outros casos
relativamente aos quais procedam as razões justificativas daquela
regulamentação e em que devesse evitar-se dissonâncias no sistema
jurídico.
3.1-Normas excepcionais
A doutrina considera disposições, normas ou mesmo leis
excepcionais aquelas que regulam, por modo contrário ao

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estabelecido na lei geral, certos factos ou relações jurídicas que, por
sua natureza, estariam compreendidos nela ou aquelas que
precisamente se desviam dos princípios gerais, contrariando as
últimas consequências que de tais princípios deveriam logicamente
derivar, referindo-se a certas relações sociais que, por sua vez,
também se desviam do tipo comum, assumindo uma índole especial.

Por outras palavras, pode-se afirmar que o direito comum é o direito


de um género de relações jurídicas e o excepcional ou anómalo o de
uma espécie dentro do género.

Note-se, no entanto, que as normas incriminatórias são insusceptíveis


de integração analógica e de interpretação extensiva (artigo 1º nº 3
do C. Penal).

As normas excepcionais distinguem-se das normas especiais pelo


facto de naquelas se verificar um regime oposto ao regime regra
enquanto nestas não se consagra uma disciplina directamente oposta
à do direito comum, mas uma disciplina nova ou diferente para
círculos mais restritos de pessoas, coisas ou relações.

 Norma que o intérprete poderia criar se tivesse que legislar dentro


do espírito do sistema, de acordo com os princípios que se regem no
ordenamento jurídico – artigo 10º nº 3 CC. A formulação da norma
preliminar que o intérprete criaria quando houvesse de legislar dentro
do espírito do sistema, é o último recurso de que lança mão o
processo de integração das lacunas a que se refere o nº 3 do artigo
10º do CC que, como se verifica, o legislador não remete o intérprete
para juízos de equidade, para a justiça do caso concreto, mas

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incumbe-o, ao contrário, de elaborar uma «norma», isto é, uma regra
geral e abstracta que contemple o tipo de casos em que se integra o
caso omisso, cuja «norma» será uma simples norma «ad-hoc»,
apenas para o caso concreto «sub-judice», sem que de modo algum
adquira carácter vinculante para futuros casos ou para outros
julgadores (J.Baptista Machado).

Refira-se, no entanto, que no entender de renomados jurisconsultos,


nenhuma norma jurídica resolve, por si, problemas concretos ainda quando,
no caso considerado, ela possa surgir como o argumento decisivo no
modelo de decisão, sendo apenas a Ciência do Direito, na consideração da
ordem global, pode fazê-lo, permitindo atingir um dos níveis mais nobres e
delicados da cultura jurídica, o da correcção de leis injustas ou
inconvenientes (com realce para aquelas que contrariam o direito natural).

Nesta perspectiva, acresce-se que o controlo, com referência a critérios


superiores das normas legisladas, que podem ser imperfeitas porque
humanas, é tão antigo como o Direito e a instrumentação disponível para
esse efeito, por natureza ou por conjuntura, tem limitações conhecidas,
acabando assim por se impor, para esse efeito, o próprio direito e a sua
ciência, com fundamento de que a lei não se confunde com o direito, uma
dogmática jurídica radicada na cultura que a suporta e na segurança das
convicções científicas dos juristas que a sirvem, colocando, entre a fonte e
a solução do caso concreto, um percurso que nenhuma lei pode dispensar e
que o legislador não pode corromper.

4-Interpretação da Lei Processual:

Em matéria de interpretação, dever-se-á observar o disposto no artigo 9º


CC, que estabelece que «a interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas
reconstituir a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade

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do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do

tempo em que é aplicada».

Na interpretação da lei haverá que atender aos seguintes elementos:

 Literal – quanto ao sentido dos termos e sua correlação;

 Lógico – segundo o qual a lei que permite o mais, permite o menos¸


a que proibe o menos, proíbe o mais, a que permite o fim, permite os
meios necessários à sua consecução, a que proíbe os fins proíbe os
meios que necessariamente a ele conduzem;

 sistemático – estabelece que as leis interpretam-se umas às outras;

 Histórico – atendendo aos trabalhos preparatórios, prêambulo ou


relatório, evolução da regulamentação legal sobre a matéria, etc.

5-Aplicação da lei processual no tempo:

O pensamento fundamental de que arranca a eficácia prospectiva da lei,


tendo em linha de conta o sentido normalmente imperativo dos comandos
normativos é o de, não podendo exigir-se às pessoas o dom de preverem as
alterações legislativas do futuro, ser justo aplicar aos diferentes actos
jurídicos as normas em vigor ao tempo da sua prática, por ser com os
efeitos destas que os interessados, ao agirem, podem e razoavelmente
devem contar (Antunes Varela).

Com efeito, trata-se de saber se o processo deve ser regulado pela lei do
tempo do facto ou relação material cuja apreciação está em causa, ou,
noutro sentido, se deve ser inteiramente disciplinado pela lei do tempo da
propositura da acção, ou se para cada acto de processo não rege antes a lei
do tempo da sua realização.

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Nestes casos, deve-se procurar a solução através de:

 Disposições transitórias válidas para as leis novas ou para as leis


novas de certo tipo ou categoria;

 Disposições transitórias especiais para determinada lei processual;


 Critérios gerais formulados pela doutrina;

 Aplicar a lei nova, ao abrigo do artigo 12º CC, que estabelece que a
lei não se aplica a factos passados ou ocorridos antes da sua
vigência. Note-se que, nas leis do processo, é válido o argumento
segundo o qual, o Estado quando publica uma lei nova significa que
a anterior é impefeita e defectuosa para a administração da justiça
ou ao regular funcionamento do poder judicial.

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UNIDADE II – TEORIA GERAL DO PROCESSO DECLARATIVO

LIÇÃO Nº_______

DATA:____/_____/_____

SUMÁRIO:

1. Formas do Processo Declarativo (Comum e Especial)


2. Acções – Noção. Classificação das Acções. Critérios de Distinção.

1-Formas do Processo Declarativo

Os actos que devem ser praticados e as formalidades que devem ser observadas pelas
partes, quer no momento da propositura da acção como no decurso da mesma, não são
os mesmos ou uniformes em todos os casos.

A forma do processo é o conjunto ordenado de actos a praticar, bem como as


formalidades a cumprir, tanto na propositura como no desenvolvimento da acção, o que
se traduz na aplicação do princípio da tipicidade legal das formas de processos, segundo
o qual a lei tipifica as formas de processo que devem ser observadas e não reconhece
outras para além dessas que nele se encontram expressamente previstos.

Desta definição, destacam-se os seguintes elementos:

i. Conjunto ordenado de actos a praticar – significa que os actos processuais,


isto é, os requerimentos e respostas das partes, devem ser praticados de acordo
com a disciplina que resulta da sua inserção numa sequência de actos que
permitam a sua apreciação em conjunto – artigo 150º nº 1 CPC e, só
excepcionalmente, quando a lei não regule a forma dos actos, permite-se que os
mesmos tenham, em termos mais simples, a forma que melhor se ajuste ao fim
que visam atingir – artigo 138º CPC.
ii. Bem como as formalidades a cumprir – consiste no princípio do formalismo
segundo o qual a lei exige uma formalidade para a validade de determinado acto.

Porém, embora não seja regime regra no nosso ordenamento jurídico, existem
alguns casos que a lei exige certas formalidades para determinados actos, como

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é o caso da exigência de escritura pública para o acto de constituição de
associações civis – artigo 168º CC e venda ou doação de bens imóveis – artigos
875º e 947º nº 1 CC;

Nos termos do artigo 460º nº 1, a forma do processo pode ser comum ou especial.

1.1- FORMA DOS PROCESSOS COMUNS

Como o próprio nome indica, aplica-se a todos os casos a que não corresponda
processo especial, isto é, não correspondendo a providência pretendida pelo autor
nenhuma das formas dos processos especiais indicados nos respectivos preceitos –
artigos 944º a 1507º CPC, deve ser instaurada acção sob a forma de processo
comum, em conformidade com a regra geral.

A forma dos processos comuns desdobra-se em três outras formas: ordinário,


sumário e sumaríssimo que serão objecto de estudo específico.

1.2- FORMA DOS PROCESSOS ESPECIAIS:

O processo é especial quando a lei define, expressamente, o seu campo de


aplicação, como estabelece o artigo 460º nº 2, primeira parte.

Porém, os processos especiais não seguem todos um mesmo modelo, pois existe
uma grande diversidade de processos especiais, consoante o tipo de providências
que o autor se propõe alcançar quando instaura uma acção, ou seja, nos processos
especiais, a lei seguiu diversos modelos de tramitação, procurando adequá-los à
finalidade que em juízo se visa alcançar.

Essa grande diversidade de processos especiais podemos encontra-la no título IV do


CPC (artigos 944º a 1507º), onde se deparam, dentre outros processos especiais os
de interdição ou inabilitação – artigo 944º; cessação do arrendamento – artigo 964º;
venda e adjudicação do penhor (garantia geral de uma dívida que se constitui pela
entrega ao credor, pelo devedor de uma coisa móvel para garantir o cumprimento da
obrigação) – artigo 666º CC; da prestação de contas – artigo 1014º CPC, etc.

2-Acções – Noção. Classificação das acções.

2.1-Noção

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Acção – é um direito e ao mesmo tempo é o processo de fazer reconhecer um direito
em juízo ou de o realizar coercivamente.

Tal como estabelece o artigo 2º nº 2 do CPC, enquanto a lei não determinar o


contrário, a todo o direito ou interesse, corresponde uma acção.

Os direitos ou interesses a que não correspondem acções são aquelas que se


contrapõem a obrigações naturais – artigo 402º CC «é aquela obrigação em que o
credor não pode exigir judicialmente o seu cumprimento. É uma figura de carácter
geral, cujo cumprimento não pode ser exigida judicialmente, mas corresponde a um
dever de justiça». As obrigações naturais decorrem, muitas vezes, dos jogos e
apostas quando lícitos; das dívidas prescritas; a obrigação que os pais têm de
compensar os filhos do trabalho por eles realizado ou de lhes dar parte dos bens
produzidos.

2.2-Classificação das acções.

As acções classificam-se quanto ao fim e quanto à forma.

Consoante o seu fim, as acções são declarativas ou executivas – artigo 4º do CPC;

2.2.1- Acções Declarativas

Nas acções declarativas, o autor procura que o tribunal declare a solução para um
determinado caso, na qual o tribunal proferirá uma decisão, com fundamento no
direito civil, em que declara, naquele caso concreto, a existência ou não do direito
invocado, ou de certo facto.

Exemplo: compra de um imóvel por dois compradores ao mesmo vendedor – direito


aplicável – artigo 407º CC sobre o princípio da precedência.

As acções declarativas podem ser:

 De simples apreciação;
 De condenação; e
 Constitutivas.

2.2.2- Acções declarativas de simples apreciação:

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 22 de 85


São aquelas em que o autor vai agir contra uma acção de incerteza, pretendendo
obter a declaração da existência ou não de um direito ou de um facto.

Porém, esta incerteza tem de ser objectiva, não bastando a simples dúvida que exista
na cabeça do autor, pelo que a mesma deve projectar-se no exercício normal dos
seus direitos.

Nas acções de simples apreciação, o autor contenta-se com a declaração do


reconhecimento do direito ou do facto obtido do tribunal e fica por aí, não
pretendendo que o tribunal vá para além dessa declaração, sendo uma decisão que
não é exequível porque, na verdade, não há nada para executar.

Essas acções constituem um meio de prevenir litígios, desempenhando uma função


preventiva.

As acções de simples apreciação podem ser positivas ou negativas.

Nas positivas, o autor pretende que o tribunal declare a existência de um direito ou


de um facto. Exemplo: autor que assina o seu livro com pseudónimo e põe-se em
causa a sua autoria e recorre a este tipo de acção para demonstrar que o livro é da
sua autoria – artigo 74º CC.

Nas negativas, o autor requer que seja declarado que o direito não existe ou que
determinado facto não ocorreu, pretendendo-se que o tribunal declare a inexistência
de um direito de outrem com a finalidade de pôr termo a uma situação de incerteza
capaz de causar grave insatisfação ou dano apreciável ao autor. Exemplo: António,
proprietário de um prédio e quer vendê-lo. Bernardo, vizinho de António, faz
circular no bairro ou na Cidade a ideia de que o prédio tem uma servidão de
passagem (artº 1543º CC), que na realidade não existe. António, como quer vender o
prédio com valor alto e a alegada servidão baixaria o valor, interpõe a acção de
simples apreciação negativa de que não há servidão nenhuma alegada por B – artigo
343º nº 1 CC.

2.2.3- Acções de Condenação – quando o autor propõe uma acção de condenação


pretende não só que seja declarado o seu direito, que está a ser violado pelo
requerido, mas também que o mesmo seja condenado à reintegração desse mesmo

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direito, quer através da realização de uma prestação, quer através de uma atitude de
abstenção ou omissão – artigo 4º nº 2 alínea b) CPC.

Nestas acções, o autor quer duas coisas, contrariamente ao que se pretende nas acções
de simples apreciação, que são:

1) – O reconhecimento da existência do direito e da sua violação;


2) – Que o tribunal diga ao demandado que tem de realizar a prestação
destinada a reintegrar o direito violado, fazendo com que a situação actual
volte a posição anterior à violação do direito. Exemplo de uma acção de
reivindicação: o autor pretende que o tribunal ordene ao requerido que
devolva a coisa e que pague uma indemnização pelo tempo em que o autor
ficou privado de usufruir da coisa – artigo 1311º CC.

2.2.4-Acções Constitutivas – nas acções constitutivas, o autor pretende obter do


tribunal, um efeito jurídico novo que vai alterar a esfera jurídica do requerido,
independentemente da sua vontade.

Perante o pedido formulado pelo autor, o tribunal, ao proferir a sentença, produz


alterações na ordem jurídica, que consistem na constituição, modificação ou extinção
de uma relação jurídica ou situação jurídica, isto é, a sentença cria um novo estado
jurídico.

As acções constitutivas são, na generalidade dos casos, o meio processual adequado ao


exercício de certos direitos potestativos.

Recorda-se que direito potestativo é o poder conferido a uma pessoa de introduzir uma
alteração na esfera jurídica de outras pessoas, criando, modificando ou extinguindo
direitos, mesmo contra a vontade destas.

Nas acções constitutivas, o autor não precisa de propor uma acção executiva, porque os
efeitos jurídicos dessas acções não têm carácter executivo, ou seja, não visam a
prestação de reintegrar o direito violado, podendo consistir em três aspectos.

1) – Criação da relação jurídica entre o autor e o requerido. Ex: uma acção


de investigação da paternidade cria uma relação jurídica entre uma e
outra pessoa que passam a ser pai e filho – artigos 184º e 194º do Código
da Família.

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2) – Na modificação da relação jurídica entre o autor e o requerido. Ex: a
separação jurídica de pessoas e bens ainda não é divórcio, contudo, já há
uma modificação, que resulta da providência concedida pela lei a
qualquer dos cônjuges contra o outro cônjuge, quando em virtude da má
administração deste, estiver em perigo de perder o que é seu – artigos 8º,
54º e 55º do Código da Família.
3) – Na extinção da relação jurídica entre o autor e o requerido. Ex: acção
de divórcio - a–tigo 78º do Código da Família. Lembra-se que o divórcio
é a forma de extinção do casamento em vida de ambos os cônjuges.

-Critérios de distinção das Acções:

Os três tipos de acções declarativas da forma do processo comum que acabamos de


estudar, apresentam um denominador comum que consiste no facto de todas elas
envolverem o reconhecimento da existência ou inexistência de um direito.

Vejamos:

 Nas acções de simples apreciação, pretende-se o reconhecimento da


existência ou não do direito e nada mais;
 Nas acções de condenação, pretende-se, inicialmente, o
reconhecimento ou não de um direito e depois pretende-se que o
demandando seja condenado a realizar a prestação destinada a
reintegrar o direito violado;
 Nas acções constitutivas, pretende-se o reconhecimento da
existência ou não de um direito e, depois pretende-se que tenha lugar
o efeito jurídico correspondente – criação, modificação ou extinção
de uma realidade jurídica.

2.3- Acção Executiva

Nas acções executivas, o autor tem como finalidade a realização coerciva das
providências destinadas à efectiva reparação do direito violado, usando da faculdade
que o artigo 817º CC estabelece, segundo o qual, não sendo a obrigação
voluntariamente cumprida, tem o credor o direito de exigir judicialmente o seu
cumprimento e de executar o património do devedor, através da penhora (artigo 666º

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CC) dos bens do devedor – artigo 821º CPC, e da respectiva venda será realizada a
importância com que o credor virá a ser pago.

As acções executivas têm que ter por base um título executivo que pode ser uma
sentença da acção declarativa, ou por exemplo, um cheque que vai directamente para a
execução, sem passar pela declaração do tribunal – o que se traduz no princípio da
economia processual ou do tempo.

Numa acção executiva existem três modalidades:

1ª- Acção de execução por pagamento de quantia certa, como regime regra pelo
facto de ser o que mais acontece;

2ª- A acção de execução para entrega de coisa certa, em que a parte é condenada a
entregar a coisa certa, isto é, o tribunal vai lá e pela força que tem retira a coisa em
causa.

3ª- Acção de execução para prestação de facto positivo, quase igual ao pagamento de
quantia certa, mas aqui resultante de indemnização, caso tenha perdido ou destruído a
coisa.

A distinção entre acções declarativas e acções executivas equivale à diferença entre o


simples declarar e executar ou entre o dizer e o fazer.

No processo declarativo é declarada a vontade concreta da lei, visando a execução dessa


vontade.

TAREFA

1-Distinga a forma do processo comum da forma do processo especial e dê exemplos.

2- Diga como podem ser as acções e estabeleça o critério da sua distinção.

3- Refira-se sobre as modalidades da acção executiva.

LIÇÃO Nº_____

DATA____/___/____

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SUMÁRIO: CONTINUAÇÃO

1-FORMAS DO PROCESSO COMUM DECLARATIVO E


DOMÍNIO DE APLICAÇÃO DE CADA UMA DELAS.

1.1-Processo Ordinário, Sumário e Sumaríssimo.

2-FORMAS DOS PROCESSOS ESPECIAIS (constituição de grupos de


trabalho)

2.1-Processos de Jurisdição Voluntária e de Jurisdição Contenciosa.

Preliminares:

Como foi dito no estudo das acções, o conjunto de actos que os sujeitos do
processo devem praticar, bem como as formalidades de cada um deles, na
propositura e desenvolvimento da acção não obedecem a um modelo único.

São numerosos os esquemas processuais fixados na lei, ao abrigo do


princípio da tipicidade legal das formas do processo, para a formulação e
apreciação das pretensões que podem ser deduzidas pelas partes.

A variedade das formas de processo depende:

a)- Do tipo de providência requerida: processo declarativo ou processo


de execução.

b)- Do valor dos interesses em jogo: processo ordinário, sumário ou


sumaríssimo (dependendo, além do valor, da natureza da relação
controvertida).

c)- Da natureza da relação material controvertida que serve de base à


pretensão. (exemplo: processo sumaríssimo – execução para pagamento de
quantia certa; para entrega de coisa certa ou para prestação de facto).

Entretanto, isto não quer dizer que à extrema variabilidade destes factores
corresponda uma específica e diferente forma de processo, pois a mesma

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 27 de 85


forma de processo usada, por exemplo, no processo ordinário de
declaração, pode cobrir diversos tipos de providências (acções de
condenação, constitutivas ou de simples apreciação positiva ou negativa);
ser aplicada a acções de valor muito diferente e ser posta ao serviço de
relações materiais muito diferentes (direitos de crédito, direitos reais, de
família ou sucessórios).

I-Formas do Processo Declarativo e Domínio de Aplicação de cada


uma delas:

A lei distingue três formas do processo declarativo, cuja aplicação depende


da maior ou menor complexidade e solenidade dos esquemas gerais
traçados para o formalismo da acção que são: processo ordinário,
processo sumário e processo sumaríssimo.

1.1-Processo Ordinário (artigos 462º nº 1 e de 467º a 782º do CPC):

A tramitação do processo ordinário é mais complexa e mais lenta, porém,


com ganhos de exactidão e rigor na obtenção da verdade.

Aplica-se às causas de maior valor, ou seja, áquelas causas cujo valor é


superior à alçada do Tribunal Supremo.

A alçada de um tribunal é o limite de valor da acção até ao qual certo


tribunal julga, sem que das suas decisões caibam recurso – artigo 676º nº 2
do CPC.

A lei nº 9/05, de 17 de Agosto, que actualizou as custas judiciais e da


alçada dos tribunais, estabelece no artigo 2º nº 1 que a alçada junto da
câmara do cível e administrativo do tribunal supremo é fixada em 16.000
UCF, o equivale dizer que, se cada UCF estiver no valor de Usd 180,00, a
alçada da Câmara do Civel e Administrativo do Tribunal Supremo será de

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16.000 UCF X 180,00 = 2.880.000,00 Akz, ou seja, serão da alçada do
Tribunal Supremo as acções do valor superior a 2.880.000,00 Akz.

1.2- Processo Sumário (artigo 783º a 792º do CPC):

É aplicável à todas as acções cujo valor da causa seja igual ou inferior à


alçada do Tribunal de Comarca.

De acordo com a lei nº 9/05, de 17 de Agosto, a alçcada da Sala do Cível e


Administrativo e da Sala de Trabalho é fixada em 8.000 UCF e, para
calcular o valor equivalente em Akz faz-se o mesmo tipo da operação
efectuada quanto ao valor da causa.

O formalismo do processo declarativo sumário apresenta as seguintes


características:

1- O critério estabelecido por lei para determinar se a acção deve seguir


a forma sumária é o do valor;
2- Através desta forma sumária, a acção é mais célere e menos
dispendiosa;
3- De acordo com o artigo 463º nº 1, as normas que regulam o processo
ordinário aparecem como direito subsidiário, pelo que são de aplicar,
em primeira linha, de acordo com aquela norma, preceitos próprios
desta forma de processo – artigos 783º e 486º e 792º do CPC;
4- A forma da acção sumária visa simplificar o formalismo e acelerar o
rítimo do processo, prevendo-se prazos mais curtos para a prática de
certos actos –486º CPC.
5- Com esta forma, a lei pretende uma economia de tempo e de custas.
Porém, esta forma não oferece tantas garantias na descoberta da
verdade.

1.3- Processo Sumaríssimo (artigo 793º a 800º CPC):

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 29 de 85


A forma sumaríssima do processo declarativo resulta da conjugação
simultânea de dois critérios derivados do valor e da natureza da acção
(cumprimento das obrigações pecuniárias, indemnização por danos ou para
entrega de coisas móveis).

Aplica-se às acções cujo valor da causa não ultrapasse a metade do valor do


processo sumário, o que significa que aos processos sumaríssimos são
aplicáveis às causas cujo valor da alçada seja igual ou inferior à metade do
valor da alçada do Tribunal de Comarca de competência genérica, forma
igualmente aplicável, como atrás se referiu, nas acções que se destinem ao
cumprimento das obrigações pecuniárias, à indeminização por danos e
entrega de coisa móvel.

Quanto às normas reguladoras do processo sumaríssimo, constam do artigo


464º, em primeira linha e depois às específicas dos artigos 793º a 800º do
CPC podendo estar sujeito à normas do processo sumário ou ordinário, pois
visa os mesmo objectivos ao do sumário quanto à simplificação do rigor
formal.

2- PROCESSOS ESPECIAIS

2.1-Processos de Jurisdição Voluntária e Processos de Jurisdição


Contenciosa:

Entre os processos de foma especial distinguem-se os processos de


jurisdição voluntária – artigo 1409º e ss do CPC e os processos de
Jurisdição Contenciosa – artigo 944º a 1408º CPC.

Definem-se como sendo processos de Jurisdição Voluntária, aqueles que


se caracterizam pelo facto de visarem a regulação de interesses que não se
encontram ainda em conflito ou litígio, apesar da existência de uma
divergência de opinião entre os respectivos titulares, tais como:

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 30 de 85


- Providências relativas aos filhos e aos cônjuges – artigos 1412º a 1430º
CPC;

- Alienação ou oneração de bens dotais e de bens sujeitos a fideicomisso


– artigos 1431º a 1438º CPC;

- Autorização ou confirmação de certos actos – artigos 1439º a 1441º


CPC;

- Conselho da Família – artigos 1442º a 1445º CPC;

- Verificação da Gravidez – artigos 1446º a 1449º CPC; etc.

Nos processos de jurisdição voluntária, o juiz é chamado para apresentar a


solução que julga mais indicada, havendo um interesse fundamental
tutelado pelo direito;

Nesses processos, a função do juiz não é apenas de intérprete e aplicador da


lei, mas o de verdadeiro gestor da situação destes processos especiais –
artigo 460º nº 2 CPC.

Princípios que caracterizam os processos de jurisdição voluntária:

1- O tribunal pode livremente investigar os factos – princípio do


inquisitório, segundo o qual o tribunal investiga e procede a
produção das provas necessárias à descoberta da verdade sem
necessidade de as partes requererem, o que é diferente dos processos
de jurisdição contenciosa em que o tribunal deve limitar-se aos
factos alegados pelas partes, em obediência ao princípio do
dispositivo – artigo 1409º nº 2 CPC;
2- Nas decisões, os tribunais não estão sujeitos a critérios de legalidade,
devendo antes procurar a solução mais adequada a cada caso – artigo
659º nº 2. Aponta para a solução de conveniência e de oportunidade

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 31 de 85


mais adequadas para cada situação em que a equidade prevalece
sobre a legalidade – artigo 4º CC e 1410º CPC;
3- As decisões tomadas no âmbito da jurisdição voluntária podem ser
alteradas pelo juiz que as profriu, quando as circunstâncias
supervenientes ou ignoradas pelo julgador justifiquem a sua
modificação – artigo 1411º nº 1 CPC;
4- Não admitem recurso – artigo 1411º nº 2 do CPC.

2.2-Processos de Jurisdição Contenciosa:

Constituem a regra da forma dos processos especiais.

Nestes processos há um conflito de interesses que incumbe ao tribunal


dirimir de acordo com critérios estabelecidos no direito substantivo.

Aqui, o tribunal exerce função jurisdicional própria dos órgãos judiciais,


elaborando e formando a solução concreta que decorre das normas
substantivas aplicáveis.

O juiz tem que observar normas rígidas e o poder de julgar se esgota no


momento em que é proferida a decisão – artigo1411º e 666º CPC e
admitem recurso – artigos 312 e 1411º nº 2 CPC.

Em resumo e recapitulando o que temos vindo a estudar nesta unidade, as


formas e tipos dos processos e das respectivas ascções, classificam-se:

I-Quanto às Formas de Processo:

 Comum; e
 Especial.

II-Quanto ao Tipo de Acções:

 Declarativas; e

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 32 de 85


 Executivas.

III- Quanto ao Fim das Acções:

 Simples apreciação;
 Condenação;
 Constitutivas; e
 Executivas.

IV- Quanto às Formas do Processo Declarativo:

 Ordinária;
 Sumária; e
 Sumaríssima.

IV- Quanto às Formas dos Processos Especiais:

 Jurisdição Contenciosa; e
 Jurisdição Voluntária

TAREFA

1- Estabeleça a diferença entre a forma do processo sumário e a forma


do processo ordinário.

2- O que é um processo sumaríssimo?

3- Caracterize o processo de jurisdição voluntária.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 33 de 85


UNIDADE III - PROCEDIMENTOS CAUTELARES

LIÇÃO Nº______

DATA____/____/_____.

SUMÁRIO: PROCEDIMENTOS CAUTELARES

1-Definição;

2-Razão da Sua Existência;

3-Classificação dos Procedimentos Cautelares quanto a sua finalidade;

4-Procedimentos Cautelares especificados e não Especificados;

5- Carácter Provisório dos Procedimentos Cautelares;

6-Responsabilidade do requerente.

1-Definição:
Procedimento Cautelar é o processo judicial instaurado como preliminar a uma acção
ou, na pendência desta como seu incidente, destinado a prevenir ou a afastar o perigo
resultante da demora a que está sujeito o processo principal.

Por outras palavras, Procedimento cautelar pode ser entendido como


processo destinado a evitar um prejuízo grave (periculum in mora) que
ameaça um direito subjectivo, cujo prejuízo é tão iminente que não pode

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 34 de 85


esperar pela solução final de acção declarativa ou executiva (acção
principal) instaurada ou a instaurar no curto prazo, e que exige a adopção
de medidas urgentes, depois de um breve exame e instrução da causa
(apreciação sumária pelo juiz), durante o qual o juiz tem de convencer-se
da probabilidade da existência do direito e do perigo invocados.

2-Razão da sua existência:

De acordo com o que dispõe a parte final do artigo 2º nº 2 do CPC, está


garantido o direito de acesso aos tribunais ao titular de um direito,
assegurando a possibilidade de propor a acção adequada para fazê-lo
reconhecer em juízo e a prevenir ou reparar a sua violação.

Mas, como a acção demora um período de tempo mais ou menos longo,


mesmo que todos os prazos sejam respeitados, cujo tempo de demora é
susceptível de acarretar consequências negativas, o procedimento cautelar
surge de modo a evitar que a decisão a ser proferida não seja inútil e sem
qualquer efeito.

É justamente por esta razão que a parte final do artigo 2º nº 2 do CPC,


prevê a tomada de providências necessárias para acautelar o efeito útil da
acção, estabelecendo os procedimentos a que se referem o Capítulo IV do
CPC.

Com os procedimentos cautelares tem-se em vista a emanação duma


providência provisória ou interina, destinada a durar somente enquanto não
seja proferida decisão definitiva na acção principal já proposta ou a propor
posteriormente.

Em certos casos, a providência cautelar visa garantir um direito, como


acontece quando o devedor está a dissipar os seus bens e , por isso, se torna
necessário pôr fim a essa situação para que o credor não veja como inútil a

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 35 de 85


sentença condenatória que lhe for favorável, uma vez que nessa altura
estará comprometido o património do devedor.

Noutros casos, procura-se uma decisão provisória rápida, antes da decisão


definitiva, por ser o único meio de evitar certo perigo, como por exemplo o
de atribuição de alimentos provisórios, fazendo com que o requerente tenha
de esperar pela decisão dos alimentos definitivos, o que provocaria que este
morresse de fome antes de ver proferida a decisão definitiva.

3-Classificação dos Procedimentos Cautelares quanto à sua finalidade:

Quanto à sua finalidade, os procedimentos cautelares podem ser


conservatórias e antecipatórias.

 Providências Cautelares Conservatórias – visam manter a situação


de facto anterior por forma a prevenir uma alteração que se antevê
como prejudicial. Exemplos: «o arresto, como meio conservatório
da garantia patrimonial, previsto nos artigos 402º e 491º do CPC; O
arrolamento que visa prevenir extravio de bens ou documentos, sua
ocultação ou dissipação – artigo 421º a 427º CPP; o embargo de
obra nova, quando alguém, por efeito de obra, trabalho ou serviço
novo, possa ser prejudicado e ofendido no seu direito de propriedade
– artigo 412º a 420º CPP».
 Providências Cautelares antecipatórias – têm como finalidade
impedir a que se verifiquem prejuízos ocasionados pela demora da
decisão definitiva, constituindo uma antecipação provisória dos
efeitos dessa decisão. Exemplos: «alimentos provisórios – artigo
388º CPC, sendo que, nos termos do artigo 256º nº 3 do Código da
Família, em caso algum haverá restituição dos alimentos provisórios
recebidos pelo alimentado, salvo no casos em que se coloca a
situação de enriquecimento injustificado; arbitramento de

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reparação provisória que consiste na realização de diligências
(exame, vistoria ou avaliação, por peritos nomeados que prestam ao
tribunal informações de facto – artigo 388º CC; e restituição
provisória da posse em que, se o juiz entender, depois de
produzidas as provas, que na realidade o requerente tinha a posse e
dela foi esbulhado com violência, ordena a restituição – artigo 1271º
a 1279º CC».

4-Providências Cautelares Especificadas e não Especificadas:

 Providências Cautelares Especificadas ou nominadas – são as que


se encontram indicadas no Código do Processo Civil, tais como:
Restituição Provisória de posse – artigos 393º a 395º CPC;
Suspensão de deliberações sociais – artigo 396º a 398º CPC;
Alimentos provisórios – artigo 388º a 392º CPC, dentre outros.

Note-se, no entanto, que as providências cautelares especificadas ou


nominadas não contemplam todas as situações possíveis.

Assim, para acautelar outro risco de lesão não especialmente previsto nas
providências cautelares nominadas pela lei, existe a faculdade de o titular
do direito requerer uma providência cautelar comum ou não especificada
que seja adequada à situação concreta.

 Providências Cautelares Comuns ou não especificadas – são


aquelas que não estão previstas pelo Código de Processo Civil e que
só poderão ser requeridas quando a situação não for susceptível de
ser acautelada por alguma das providências tipificadas na lei e
consistem na prática de certo acto pelo requerido; imposição de uma
abstenção ao requerido; entrega provisória de bens móveis ou
imóveis a um terceiro como fiel depositário, etc.

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De acordo com o nº 1 do artigo 400º do CPC, a providência cautelar
comum, ou não especificada, ou ainda, inominada pode ser decretada se,
além de existir a aparência do direito haja fundado receio de que outrem
cause lesão grave e dificilmente reparável a esse direito.

Entretanto, exige-se ao juiz que se recuse a decretar a providência quando o


prejuízo dela resultante para o requerido exceda consideravelmente o dano
que com ela o requerente pretende evitar – artigo 401º nº 1 CPC:

Com efeito, para que seja decretada uma providência cautelar não
especificada devem encontrar-se preenchidos os seguintes requisitos:

 Probabilidade séria da existência do direito;


 Fundado receio da sua lesão;
 Falta de providência cautelar especificada que previna o caso
concreto;
 Que o prejuízo resultante da providência não exceda o valor do
dano que com ela se pretende evitar.

5-Carácter instrumental da providência cautelar:

Consiste no facto de a decisão tomada ser provisória procurando garantir a


utilidade e a eficácia da decisão definitiva a proferir na acção principal e
afastar o “periculum in mora”.

O “periculum in mora” é um elemento constitutivo da providência


requerida, pelo que a sua inexistência obsta (impede) o seu decretamento,
ou seja, se o requerente da providência não se encontrar, pelo menos, na
iminência de sofrer qualquer lesão ou dano, não poderá ser decidida a
providência requerida.

O procedimento cautelar está sempre dependente da acção principal que


tenha como fundamento o direito acautelado e pode ser instaurado como

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preliminar – quando requerida antes de ser proposta a acção principal, ou
como incidente - quando requerida depois de instaurada a acção principal –
artigo 384º nº 1 CPC.

Assim, por exemplo, a providência em que se pede a prestação de


alimentos provisórios, deve depender da acção de alimentos definitivos e
a do arrolamento, deve depender, da acção de divórcio.

A providência cautelar pode ser requerida como preliminar ou como


incidente, nas acções declarativas e nas acções executivas.

Quando o procedimento cautelar é instaurado como preliminar, o seu autor,


ao propor a acção principal, deverá referir-se a ele, afim de ser apensado à
acção principal.

Entretanto, a decisão proferida no procedimento cautelar não se impõe à


decisão a proferir na acção principal respectiva, facto que se justifica pela
diferente dignidade e finalidade das duas decisões, pois a decisão a proferir
na acção principal visa definir o direito depois de uma averiguação com
respeito pelos princípios e garantias enquanto que a decisão a proferir no
procedimento cautelar visa salvaguardar o efeito útil da acção, baseada em
meros juízos de probabilidade.

6-Carácter Provisório

A providência cautelar tem uma vida necessariamente limitada, ou seja, só


dura enquanto não for proferida a decisão final sobre a acção principal,

Como se pode constatar, o procedimento cautelar não tem autonomia, facto


pelo qual as medidas adoptadas por este mecanismo, estejam sujeitos à
caducidade se o requerente mostrar-se negligente em procurar obter a
decisão definitiva através da acção principal, pois não faria sentido que o

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requerido estivesse obrigado a sofrer indefinidamente as consequências de
uma decisão provisória proferida com base em prova sumária.

Assim, nos termos do disposto no artigo 382º nº 1 do CPC, o procedimento


cautelar extingue-se e, quando decretada, a providência caduca.

7-Responsabilidade do requerente:

Se a providência caducar por facto imputável ao requerente ou se esta for


considerada injustificada, o mesmo responde pelos danos culposamente
causados ao requerido, quando não tenha agido com a prudência normal –
artigo 387º nº 1 CPC.

TAREFA
1- Como se faz o arresto de um imóvel?

2- Em que circunstâncias se pode concluir que o prejuízo resultante do


deferimento de uma providência cautelar pode ser superior ao do seu
indeferimento?

UNIDADE IV – COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS

LIÇÃO Nº__________

DATA____/____/______

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 40 de 85


SUMÁRIO:

1. Noção de Jurisdição e de Competência;


2. -Conflitos de Jurisdição e de Competência;
3. -Modalidades da Competência dos Tribunais;
4. -Competência Interna e Competência Internacional;
5. -Infracção às Normas de Competência - Modalidades

1-Noção de Competência e de Jurisdição:

Em geral, a competência dos tribunais é a medida de jurisdição dos diversos tribunais,


isto é, o modo como entre eles se fracciona e se reparte o poder jurisdicional que é o
conjunto dos tribunais.

A Competência dos tribunais pode ser abstrata ou concreta:

 Competência abstracta – é a medida ou fracção de jurisdição; a parte do poder


jurisdicional que lhe é atribuída; a determinação das causas ou dos processos que
lhe cabem resolver.

 Competência Concreta – é aquela defina pelas normas ou regras de


competência para certa causa em particular, ou seja, é o poder de o tribunal
julgar essa causa específica ou em particular, exercendo sobre a mesma a sua
actividade processual.

Com efeito, existem regras ou normas de competência que fazem a repartição do poder
jurisdicional (os tribunais) entre vários tribunais, as quais definem a competência
abstracta de cada tribunal e, consequentemente, a competência concreta.

2-Jurisdição e competência – distinção

O termo jurisdição refere-se à delimitação externa da actividade específica ou própria


dos tribunais considerados no seu conjunto ou totalidade e serve para distinguir os
tribunais dos outros órgãos do Estado.

O termo competência refere-se à delimitação interna da actividade dos diversos


tribunais quando confrontados entre si, conforme estabelecem os artigos 176º da
Constituição da República e 42º, 49º e ss da Lei nº 2/15, de 2 de Fevereiro.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 41 de 85


3-Conflitos de jurisdição e de competência:

 Conflitos de jurisdição – são os que se suscitam entre autoridades pertencentes


a diversas actividades do Estado ou entre tribunais de espécies diferentes,
podendo serem positivos ou negativos – artigo 115º nº 1 do CPC;
 Conflitos de competência – são aqueles que se suscitam entre tribunais da
mesma espécie que, também, podem ser positivos ou negativos – artigo 115º nº
2 do CPC.

4-Competência interna e internacional dos tribunais:

 Competência interna – visa o fraccionamento ou divisão do poder jurisdicional


entre os tribunais angolanos e desdobra-se ou subdivide-se pelas seguintes
espécies:
a)-Competência em razão da matéria;
b)-Competência em razão da hierarquia;
c)-Competência em razão do valor; e
d)-Competência em razão do território.

A competência interna pode visar a repartição dos processos em cada tribunal, entre os
diversos juízes que nele servem e entre as secções da respectiva secretaria ou cartório,
cuja competência está regulada na lei a designação de distribuição, que estudaremos
mais adiante – artigo 227º CPC.

a)-Competência em razão da matéria – artigos 66º e 67 CPC:

No plano interno, o poder judicial começa por ser dividido pelas diferentes categorias de
tribunais, de acordo com a natureza das matérias em causa – artigo 176º nº 1 da CRA:

 Tribunal Constitucional;
 Tribunal Supremo;
 Tribunal de Contas; e
 Supremo Tribunal Militar.

Deste modo, a competência em razão da matéria distribui-se por diferentes espécies ou


categorias de tribunais que se situam no mesmo plano horizontal, sem qualquer relação
de hierarquia ou de dependência entre eles.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 42 de 85


Aqui, vigora o princípio da especialização, através do qual se reconhece a vantagem de
reservar para órgãos judiciários diferenciados o conhecimento de certos sectores do
direito, dada a vastidão e complexidade técnica das questões jurídicas.

Esta classificação que assenta na competência em razão da matéria é a que é feita entre
tribunais comuns ou judiciais e os tribunais especiais (Constitucional, de Contas e
Militar).

Aos tribunais da jurisdição comum ou tribunais comuns (judiciais) – Tribunal


Supremo, Tribunais de Relação e de Comarca - compete analisar todas as causas que
não forem, por lei, da competência de alguma jurisdição especial, o que significa que a
estes tribunais especiais só compete às causas que a lei directamente lhes atribua.

A competência dos tribunais comuns constitui a regra, ou seja, é genérica, enquanto que
a competência dos tribunais especiais constitui a excepção, isto é, competência
específica.

Nos tribunais comuns estão estruturadas câmaras e salas para tratamento de matérias
especializadas (cível e administrativo, crimes comuns, família, trabalho, etc).

b)-Competência em razão da hierarquia:

Dentro de cada espécie ou categoria de tribunais, pode haver diferentes graus de


tribunais dispostos verticalmente, como numa pirâmide judiciária com funções distintas
e cada vez mais delicadas; sendo que aos tribunais superiores compete, nomeadamente,
a apreciação e eventual reforma, em via do recurso das decisões dos tribunais
hierarquicamente inferiores, pelo que o juízes dos tribunais superiores são recrutados de
entre os mais experientes, de modo a garantir um exercício mais ponderado da
actividade judicial – artigos 70º a 72º do CPC, alterado pela lei nº 2/15.

c)-Competência em razão do valor:

Esta matéria foi já estudada aquando da abordagem das formas do processo declarativo
– ordinário, sumário e sumaríssimo – Lei nº 9/05, sobre alçadas dos tribunais e artigos
68º e 69º do CPC.

d)- Competência em razão do território:

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 43 de 85


Sabendo que qualquer pretensão é da competência dos tribunais judiciais e deve ser
deduzida em tribunal de comarca, deve saber-se qual dos tribunais de comarca é
territorialmente competente.

A lei nº 2/15, de 2 de Fevereiro, sobre a Organização e Funcionamento dos Tribunais da


Jurisdição Comum, assinala a cada tribunal certa circunscrição territorial, ou seja, uma
área própria de competência para cada tribunal – artigo 73º a 95º do CPC.

Competência Internacional dos tribunais – artigo 65º CPC.

Competência Internacional – é a competência dos tribunais nacionais no se conjunto,


em face dos tribunais estrangeiros, ou seja, a competência internacional consiste, em
rigor, em definir os limites da jurisdição do Estado angolano, até onde ela se arroga ao
direito e se impõe no dever de exercer a sua função jurisdicional (artigo 65º CPC);

O problema da competência Internacional coloca-se nas situações relativamente às quais


os tribunais têm perante si acções em que alguns elementos de conexão (nacionalidade –
artigos 25 e 31º, residência artigo 52º e local da prática do acto e do objecto – artigo 46º,
todos do CC) se relaciona com outras ordens jurídicas fazendo com que os tribunais
nacionais dependam do facto de se verificar alguma das circunstâncias discriminadas no
artigo 65º do CPC.

Assim, à competência internacional estão subjacentes os seguintes princípios:

 Princípio da coincidência – consiste na correspondência entre a competência


internacional e a competência territorial – artigo 65º nº 1 alínea a) CPC;
 Princípio da causalidade – o facto que serve de causa de pedir na acção, pode
ter sido praticado em território nacional – artigo 65º nº 1 alínea b) CPC;
 Princípio da reciprocidade – consiste no facto de os tribunais tratarem de
forma igual os cidadãos dos respectivos Estados (um Angolano pode ser
demandado por um Português em Portugal, do mesmo modo que um português
pode ser demandado por angolano em Angola);
 Princípio da necessidade – É quando o tribunal interno é competente, uma vez
que o direito não pode tornar-se efectivo senão por meio da acção proposta
perante o mesmo tribunal. (Ex: lugar da situação do bem imóvel e domicílio do
réu, noutro Estado – artigo 46º CC);

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 44 de 85


Note-se que a relação entre estes princípios é de autonomia, de completa independência,
sendo cada um, por si próprio, suficiente para suscitar a competência dos tribunais
nacionais, isto é, não é necessário a sua verificação cumulativa – artigo 65º nº 2 CPC;

INFRACÇÃO DAS NORMAS DE COMPETÊNCIA

Modalidades:

1-Incompetência absoluta – corresponde à infracção das normas de competência


internacional (podendo ser relativa, se se tratar da violação de um pacto privativo de
jurisdição – artigo 99º CPC) e das normas de incompetência interna em razão da
matéria ou da hierarquia – artigo 101º CPC;

2-Incompetência relativa – está relacionada à infracção das normas de competência m


razão do valor ou do território – artigo 108º CPC;

MOMENTO DECISIVO PARA ANÁLISE DA COMPETÊNCIA OU DA


INCOMPETÊNCIA:

De acordo com o artigo 63º CPC, o momento decisivo para analisar a competência ou
incompetência é o da propositura da acção, numa consagração do princípio da
irrelevância das modificações factuais ou legais posteriores àquele momento.

Excepções: nº 2, segunda parte do mesmo artigo 63º, segundo o qual a causa pode vir a
ser atribuída ao tribunal onde a acção foi proposta, competência que inicialmente não
possuia para o conhecimento da mesma.

TRAÇOS FUNDAMENTAIS DO REGIME DA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA E


RELATIVA:

a)- A incompetência absoluta pode ser arguida pelas partes e deve ser suscitada
oficiosamente pelo tribunal, atodo tempo; não pode, em princípio, ser prevenida por
convenção das partes – artigo 99º e 100º CPC, tendo como consequência, uma vez
declarada, deixar o processo sem efeito, salvo acordo dos pleitantes no sentido de
aproveitar os articulados – artigo 105º nº 2 CPC;

Pode ser arguida ou conhecida em qualquer fase do processo, enquanto não houver
sentença transitada em julgado – artigo 102º nº 1 CPC, pois, depois de transitada em

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 45 de 85


julgado, cessa a eficácia da incompetência absoluta, visto ela não constituir, por si só,
fundamento do recurso extraordinário de revisão – artigo 771º CPC.

b)- A incompetência relativa – só pode ser arguida pelo réu dentro do prazo fixado para
a cntestação – artigo 109º CPC – pode ser prevenida por convenção das partes – artigo
100º CPC e, uma vez declarada, tem como consequência o simples reenvio do processo
para o tribunal competente – artigo 111º nº 3 CPC;

RAZÕES JUSTIFICATIVAS DA DIVERSIDADE DE REGIMES DA


INCOMPETÊNCIA:

1-O regime da incompetência absoluta é mais severo porque esta em jogo um interesse
público essencial (a boa administração da justiça, com certo prestígio da decisão);

2-O da incompetência relativa contenda somente com o interesse particular das partes
ou, com um interesse público de 2ª ordem, pelo que assim se compreende por que razão
se deixa a iniciativa do réu salvagurdada desse seu interesse particular.

TAREFA
3- O que entende por tribunais?
4- Os tribunais e o poder jurisdicional não são a mesma. Porque?

5- Distinga Competência abstracta da competência concreta.

6- Em que consiste o princípio da reciprocidade?

UNIDADE V: PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS


LIÇÃO Nº_______

DATA____/____/______

SUMÁRIO: 1- Noção de Capacidade Judiciária;

2 - Incapacidade Judiciária;
2.1- Modos de Suprimento
- Dos menores
- Dos Interditos
- Dos inabilitados
1-Noção de Capacidade Judiciária
Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 46 de 85
A capacidade judiciária – consiste na susceptibilidade de um sujeito de direito estar,
por si, em juízo, tal como dispõe o artigo 9º nº 1 do CPC.

Por outras palavras, entende-se por capacidade judiciária a aptidão para adquirir
direitos e para os exercer, ou seja, capacidade judiciária significa estar capaz de
gozar direitos e ser capaz de exercer esses direitos.

No geral, todas as pessoas têm capacidade de gozo de direitos, o que corresponde à sua
capacidade jurídica, nos termos do artigo 67º do Código Civil.

Assim, para que o Juiz possa conhecer do mérito da causa, não basta que as partes
tenham personalidade judiciária, mas também capacidade judiciária, que é a aptidão
de o sujeito de direitos exercer esses direitos por si mesmo sem qualquer intermediário.

Porém, nem todas as pessoas podem exercer pessoalmente os seus direitos, como é o
caso dos interditos, dos inabilitados e dos menores que, por não possuírem
capacidade judiciária, não podem estar por si mesmos em tribunal nem por meio
de representantes por si livre e conscientemente escolhidos, fazendo com que os
seus representantes lhes sejam impostos por lei.

Nesta ordem de ideias, facilmente se conclui que a possibilidade de estar por si mesmo
em tribunal, significa também ter o poder de escolher livremente quem o representa na
acção.

A capacidade judiciária, no dizer da lei – artigo 9º nº 2 do CPC, deve ter por base e
por medida a capacidade de exercício de direitos, fazendo corresponder a capacidade
judiciária à capacidade de exercício de direitos, o que quer dizer que as pessoas que
possuam plena capacidade judiciária possuem, igualmente, total capacidade de exercício
de direitos.

Por isso é que, as pessoas que sejam declaradas judicialmente como sendo interditas,
não têm qualquer capacidade de exercício de direitos, sendo por esta razão, destituídas
de capacidade judiciária.

Mas, existem outras pessoas que têm a sua capacidade de exercício de direitos limitada
e, neste caso, a sua capacidade judiciária acompanha essa limitação – são os
inabilitados.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 47 de 85


Os inabilitados têm a sua capacidade judiciária limitada aos casos especificados na
sentença que decretou a inabilitação, como determina o artigo 954º nº 2 do CPC.

Os menores, só quando atingem a maioridade, ou seja, dezoito anos, é que adquirem


plena capacidade do exercício de direitos, ficando assim habilitados a reger a sua pessoa
e a dispor dos seus bens – artº 130º do CC.

Porém, nota-se que a influência da evolução da ciência e da técnica, como o acesso à


rádio, televisão, telefone, local de residência (cidade – aldeia) são situações a ter em
conta quanto à capacidade de exercício de direitos.

Em relação à incapacidade dos menores, o artigo 127º do CC estabelece algumas


excepções, como as que asseguram ao menor com mais de 16 anos ter plena capacidade
judiciária para litigar em acção em que estejam em causa os bens que adquiriu pelo seu
trabalho e retira aos pais o poder de administração dos mesmos bens que tenham sido
adquiridos pelo filho maior de 16 anos através do seu trabalho.

Essas limitações relativas aos inabilitados e aos menores que justificam a razão de
ser do artigo 9º nº 2 do CPC, dão consistência à afirmação segundo a qual, a
capacidade judiciária tem por base e medida a capacidade de exercício de direitos.

Portanto, quem não tiver capacidade judiciária, só pode estar em juízo através dos seus
representantes legais.

2- Incapacidade Judiciária

Incapacidade judiciária – é a situação da pessoa que não pode estar, por si, em juízo,
mas só por intermédio do seu representante ou autorização do seu curador, tendo por
base e medida a incapacidade de exercício do direito.

2.1-Modos de suprimento da incapacidade Judiciária:

Com a finalidade de proteger certas pessoas contra a sua inexperiência, incompleta


formação ou contra o seu deficiente estado mental, a lei determina que não podem
exercer, por si próprias, um direito cuja titularidade lhes é reconhecida.

Como se sabe, estão nesta situação os menores, os interditos e os inabilitados, cuja


incapacidade de exercício de direitos é suprida pelos meios adequados previstos na lei,

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 48 de 85


para que os actos jurídicos não deixem de ser praticados pelo facto de o incapaz não os
poder exercer, ele próprio.

Assim, em substituição do incapaz agirá o seu representante legal ou o próprio incapaz


com o consentimento de certa pessoa ou entidade, denominada curador – artigo 10º nº
1 CPC;

2.2-Dos menores:

A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal e, subsidiariamente pela


tutela – artigo 124º CC.

Porém, quando os pais tenham sido excluídos, inibidos ou suspensos da administração


dos bens do menor, será instituído um regime de administração de bens.

Em regra, a administração dos bens é exercida por ambos os pais, no contexto do poder
paternal, sendo que, na constância do matrimónio, o exercício das responsabilidades
parentais pertence a ambos os progenitores, devendo serem exercidas de comum acordo.

Quando os pais se encontrem divorciados, separados judicialmente de pessoas e bens,


o respectivo casamento tenha sido declarado nulo ou anulado, e não haja acordo
entre eles quanto ao exercício do poder paternal, deve o tribunal através de decisão
fundamentada, determinar que o poder seja exercido pelo progenitor a quem o filho
foi confiado.

Os menores são representados em juízo pelos seus pais, sendo necessário o acordo de
ambos para a propositura de acções – artigo 10º nº 2 CPC, porquanto nas acções
propostas contra o menor, ambos os progenitores devem ser citados – artigo 10º nº 3
CPC.

Quando o requerimento é feito por um dos progenitores, o juiz, depois de ouvir o outro
e o Ministério Público, decide de acordo com o interesse do menor, podendo a
representação ser atribuída a um dos pais ou ao Ministério Público, ou pode ser
designado curador especial – artigo 12º CPC.

2.3-Dos interditos

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 49 de 85


Nos termos do artigo 138º do CC, podem ser interditos do exercício dos seus direitos
todos aqueles que por anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira se mostrem
incapazes de governar suas pessoas e seus bens.

A incapacidade do interdito é equiparado a do menor e é suprida pela tutela –


artigo 139º CC.

A interdição é decretada em acção especial intentada com essa finalidade, nos termos
dos artigos 944º a 958º, e a sentença fixará, sempre que seja possível, a data do começo
da incapacidade e designará ainda o tutor – artigo 954º CPC.

2.4-Dos inabilitados

Podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou


cegueira, embora de carácter permanente, não seja de tal modo grave que justifique a
sua interdição, assim como aqueles que, pela sua habitual prodigalidade ou pelo uso de
bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem incapazes de reger
convenientemente o seu património – artigo 152º CC.

Tal como a interdição, a inabilitação é decretada em acção especial igualmente prevista


nos artigos 944º a 958º com a diferença de que na inabilitação, a sentença que a decretar
designará o curador e especificará os actos que devem ser autorizados ou praticados
por este – artigo 954º nºs 1 e 2 CPC.

Como se vê, a incapacidade do inabilitado é suprida pelo curador que o assiste


quando aos actos de disposição de bens entre vivos e todos os outros actos que forem
especificados na sentença de inabilitação.

Os inabilitados podem intervir em todas as acções em que sejam partes, ficando,


porém, tal intervenção subordinada à orientação do curador, que prevalece no
caso de divergência – artigo 13º nºs 1 e 2 CPC.

TAREFA

1- Dê a noção de capacidade judiciária e a sua relação com a capacidade jurídica.

2- Diga como se exerce o poder paternal no caso de os progenitores estarem


divorciados.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 50 de 85


LIÇÃO______

DATA:____/_____/_____

SUMÁRIO: LEGITIMIDADE DAS PARTES;

1-Noção de Legitimidade das partes:

A legitimidade consiste na posição das partes numa determinada acção, ou seja,


legitimidade significa que o autor é o titular do direito e que o requerido é o sujeito da
obrigação, considerando-se que o direito e a obrigação existam na verdade.

Assim, uma parte terá legitimidade como autor, se for ela a pessoa que juridicamente
pode fazer valer a pretensão perante o requerido, admitindo que ela existe enquanto
outra parte terá legitimidade como requerida, se for ela a pessoa que juridicamente se
pode opor à pretensão do autor, por ser a pessoa cuja esfera jurídica é directamente
atingida pela providência requerida, se a acção vier a proceder.

Por isso, é necessário que estejam em juízo, na posição de autor e de requerido, as


pessoas que são os titulares da relação jurídica controvertida – artigo 26º nº 1 CPC
(Exemplo: credor e devedor).

Por outro lado, há a considerar nessa relação o interesse que significa a utilidade para o
autor e o prejuízo para o requerido, pois o interesse em demandar se exprime pela
utilidade derivada da providência da acção e o interesse em contradizer, pelo prejuízo
que dessa procedência advenha – artigo 26º nº 2 CPC.

Dito de outro modo, entende-se que o interesse processual consiste no facto de o credor
possuir interesse directo em pedir ao tribunal a condenação do devedor no pagamento
da importância que este lhe deve e o devedor tem interesse directo em intervir como
réu, porque é na sua esfera jurídica que se irá repercutir o efeito da eventual condenação
no pagamento da importância peticionada pelo autor.

Sendo ambos partes legítimas, a decisão terá efeito útil, ficando a causa definitivamente
julgada.

2-Pluralidade de partes:

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 51 de 85


Na maioria parte dos casos as acções tem apenas duas partes em confronto – autor e
requerido, como acontece no caso em que o credor demanda um único devedor.

Porém, às vezes a acção é proposta por vários autores ou contra vários réus, o que se
traduz na existência de uma pluralidade de partes.

A pluralidade de partes pode ser activa ou passiva desde que se verifica do lado dos
autores ou dos réus, podendo ainda ser mista quando a acção é instaurada por vários
autores contra vários réus.

A pluralidade de partes pode ser inicial, quando acontece no momento em que é


proposta a acção, ou pode formar-se em momento posterior, como sucede no caso de
intervenção de terceiros, espontânea – artigo 320º e ss CPC ou provocada nos casos
previstos no artigo 325º e ss do CPC.

A intervenção é espontânea se o terceiro resolve intervir por sua iniciativa na causa


pendente e é provocada quando a intervenção de terceiro é requerida por qualquer das
partes da acção, sendo admissível até 30 dias depois de transitar em julgado o despacho
que, conhecendo da ilegitimidade, pôs termo ao processo e, admitido o chamamento da
pessoa em falta, a instância extinta considera-se renovada.

A natureza da pluralidade de partes pode dar origem ao litisconsórcio ou à coligação.

O termo litisconsórcio serve para exprimir a imagem de várias pessoas que, no mesmo
processo civil, correm a mesma sorte, associadas que estão no lado do ataque ou no lado
da defesa.

No litisconsórcio há uma pluralidade de partes, mas unicidade quanto à relação material


controvertida, o que significa comparticipação na lide (litígio).

O litisconsórcio pode ser voluntário ou necessário.

O litisconsórcio voluntário é quando os interessados não têm necessariamente que


intervir na acção, pois a acção pode ser intentada por um só autor contra vários réus que,
depois de proposta, o mesmo autor ou réu promove a intervenção de terceiros, como
decorre do artigo 27º do CPC e sucede, geralmente, nas obrigações solidárias, em que
o credor pode, em vez de propor a acção apenas contra um, demandar conjuntamente os
devedores para obter um título executivo (sentença) – artigo 517 nº 1 do CC.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 52 de 85


Porém, o credor da obrigação solidária não poderá obter uma decisão válida
relativamente a todos os devedores, se optar por demandar apenas um dos devedores
pela totalidade do crédito – artigo 522º, conjugado com os artigos 512º nº 1 e 518º todos
do CC.

O litisconsórcio Necessário, é aquele em que todos os interessados devem demandar ou


serem demandados.

A falta de qualquer dos interessados constitui fundamento de ilegitimidade dos que


intervieram na acção, ou seja, os intervenientes na acção não têm legitimidade, se
faltarem os restantes interessados que nela deviam figurar – artigo 28º nº 1 do CPC.

Com o litisconsórcio necessário pretende-se evitar que sejam proferidas decisões que
venham praticamente a ser inutilizadas por outras proferidas em face dos restantes
interessados, o que acontece sempre que, pela natureza da relação jurídica, não
possam ser reguladas definitivamente as posições de alguns sem que sejam reguladas
as posições de todos.

Como exemplo de litisconsórcio necessário imposto por lei podemos referir o caso das
acções que têm de ser propostas por ambos ou contra ambos os cônjuges. Assim, devem
ser propostas por ambos os cônjuges, ou por um deles com o consentimento do outro, as
acções de que possam resultar a perda ou oneração de bens que só por ambos possam
ser alienados ou perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos, incluindo as
acções que tenham por objecto, directa ou indirectamente, a casa de moradia da família.

Em síntese, no litisconsórcio voluntário a cumulação de acções depende


exclusivamente da vontade das partes e no litisconsórcio necessário a cumulação é
imposta pela lei ou resulta da prévia determinação dos interessados ou da natureza da
relação jurídica.

Na coligação (tornar-se unido) existe não só pluralidade de partes, mas também


diversidade de relações materiais controvertidas e verifica-se sempre nos seguintes
casos:

 Quando a causa de pedir que está na base dos diferentes pedidos formulados seja
a mesma e única – artigo 498º nº 4 CPC;

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 53 de 85


 Quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de
dependência.

De notar que na coligação, a causa de pedir tem de ser a mesma e ser única, o que se
verifica quando as vítimas do mesmo acidente de viação demandarem, na mesma acção,
a empresa de seguros do veículo.

Entretanto, como a coligação é sempre voluntária, a falta de alguma das vítimas na


acção não determina a ilegitimidade da outra ou outras.

A relação de prejudicialidade verifica-se entre os pedidos quando a decisão de um


pode influir na decisão do outro e a relação de dependência entre os pedidos existe
quando o conhecimento de um deles só pode ter lugar no caso de se verificar a
procedência do outro.

Nos termos do artigo 30º nº 2 do CPC, é lícita a coligação quando, sendo embora
diferente a causa de pedir, a procedência dos pedidos principais dependa essencialmente
da apreciação dos mesmos factos ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de
direito, desde que não se verifiquem nenhum dos obstáculos previstos no artigo 31º do
CPC, isto é, quando os pedidos correspondam as formas diferentes de processo ou a
cumulação ofenda competências dos tribunais.

3-Legitimidade Plural:

Quando o interesse respeite a uma pluralidade de partes principais que se unam no


mesmo processo para discutirem uma só relação jurídica material, estamos perante a
figura do litisconsórcio.

Assim, legitimidade plural é quando se verifica que tanto no lado activo como no lado
passivo estão presentes todos os interessados cuja presença se impõe e a falta de algum
dos interessados constitui ilegitimidade.

Havendo ilegitimidade, o juiz deve abster-se de conhecer do pedido e absolver o réu da


instância, por força do que dispõe o artigo 288º nº 1 alínea b) CPC.

4-Patrocínio Judiciário

Consiste na assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro, dado que,
geralmente, as partes não têm os conhecimentos indispensáveis para conduzir o pleito e,

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 54 de 85


por isso, devem estar representadas em juízo por técnicos devidamente habilitados para
o fazer – artigo 32º CPC.

O patrocínio judiciário é exercido plenamente pelos advogados e, em termos limitados,


pelos advogados estagiários e pelos solicitadores.

Os poderes de representação que o advogado exerce em juízo são conferidos pela


respectiva parte por meio de mandato judicial – artigos 35º e 36º do CPC.

Entretanto, em caso de urgência, o patrocínio judiciário pode ser exercido como gestão
de negócios – artigo 41º nº 1 do CPC.

A gestão de negócios dá-se quando uma pessoa assume a direcção de negócio alheio no
interesse e por conta do respectivo dono, sem para tal estar autorizado – artigo 464º do
Código Civil.

TAREFA

1- O que é a legitimidade das partes e em que consiste a legitimidade plural?


2- Descreva, resumidamente, com fundamento na lei, litisconsórcio voluntário e
litisconsórcio necessário.

UNIDADE VI: FORMALISMO DO PROCESSO DECLARATIVO

LIÇÃO_______

DATA____/___/_____
Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 55 de 85
SUMÁRIO:

1. FASES DO PROCESSO.
2. FASE DOS ARTICULADOS - PETIÇÃO INICIAL.

INTRODUÇÃO
Na sua tramitação normal, o processo declarativo ordinário e também o processo
sumário, pode ser dividido em cinco fases:

 Fase dos articulados;


 Fase do saneamento e condensação;
 Fase de instrução;
 Fase da audiência final; e
 Fase da sentença

Nesta unidade, estudaremos as fases do processo ordinário por ser este que constitui a
referência para as outras formas de processo.

De lembrar que forma de processo é o conjunto de actos que os sujeitos do processo


devem praticar, bem como as formalidades estabelecidas para cada um deles, como
resulta do disposto nos artigos 463º nº 1 e 464º do CPC;

Com o estudo da tramitação do processo ordinário, facilmente se conhecerá a


tramitação dos restantes processos, tendo em conta as diferenças que apresentam.

Importa fazer notar que as diversas fases referidas anteriormente, mostram um


determinado itinerário que a acção nem sempre percorre na totalidade, como veremos
no decurso do estudo que faremos, ou seja, nem toda acção começa com a fase dos
articulados e termina com a fase de sentença, pois algumas fases intermédias poderão
ser dispensadas.

No geral, toda a acção começa pela petição inicial, que é o primeiro articulado que
estará sempre presente em qualquer acção. Porém, a mesma pode terminar logo, se a
petição for liminarmente indeferida ou quando o autor desistir do pedido – artigo 293º
CPC ou desistir da instância – artigo 296º CPC.

Reconvenção – é uma pretensão autónoma formulada em acção declarativa pelo réu contra o autor.

Por sua vez, o réu pode confessar o pedido – artigo 293º nº 1 e ambas as partes podem
transigir depois de homologada por sentença – artigo 293º e 300º CPC.

Transacção - é o contrato pelo qual as partes previnem ou terminam um litígio mediante recíprocas
concessões.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 56 de 85


Se o réu, depois de citado para contestar a acção, não apresentar contestação, também o
procedimento processual será encurtado.

Pode ainda ser proferido despacho que determine a incompetência absoluta do tribunal –
artigos 103º e 105º CPC.

Há ainda casos em que o processo pode não ir além do despacho saneador ( despacho
proferido após a realização da audiência preliminar, após o fim dos articulados ) por ser julgado
procedente uma excepção dilatória ( invocação pelo réu de qualquer irregularidade ou vício de
natureza processual ex: competência do tribunal) que conduz à absolvição da instância
(excepção peremptória) – (serve de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do efeito jurídico
dos factos invocados pelo autor, dando lugar a improcedência da acção e absolvição do réu do pedido )
ou por ser possível conhecer imediatamente do mérito, sem mais provas, condenando ou
absolvendo o réu do pedido – artigo 510º nº 1 alíneas a) e b) do Código do Processo
Civil.

Do exposto, conclui-se que as fases processuais podem não ser inteiramente


percorridas e, por outro lado, estas fases não se mostram absolutamente diferenciadas,
pois que muitas vezes se interpenetram.

1-Fase dos articulados:

A condição indispensável para que o tribunal dirima o litígio introduzido em juízo


consiste na fixação, em concreto, dos termos da controvérsia, sendo essa a finalidade
dos articulados.

A fase dos articulados é a fase em que se definem os termos da acção onde o autor e o
réu alegam as razões de facto e de direito capazes de fundamentar a respectiva posição
que em juízo defendem.

A exposição das razões de facto é de maior importância, visto que o juiz, em regra, só
pode ter em conta os factos alegados pelas partes, e não está submetido às alegações das
partes no que toca à indagação, interpretação e aplicação do direito – artigo 664º do
CPC.

Definição:

Os articulados - são as peças em que as partes expõem os fundamentos da acção e da


defesa e formulam os pedidos correspondentes – artigo 151º nº 1 e 467º nº 1 alíneas d) e
e) CPC.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 57 de 85


Estas peças tomam a designação de articulados porque, em princípio, é obrigatória a
dedução por artigos dos factos que interessam à fundamentação do pedido ou da defesa
– artigo 151º nº 2 CPC, isto é, a narração dos factos tem de ser dividida por artigos
numerados, mesmo nos casos em que a lei dispensa a forma articulada, como acontece
no processo sumaríssimo – artigos 793º e 795º nº 1 CPC.

O articulado deve ser assinado pela parte ou pelo mandatário judicial, nos casos em que
é obrigatório a constituição de advogado – artigo 32º CPC, cuja falta pode ser objecto
de recusa na sua recepção pelo tribunal.

1.2-Função

No artigo 3º nº 1 do CPC está consagrado o princípio do pedido ou da instância como


emanação primordial do princípio mais amplo do dispositivo, segundo o qual “…o
tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a acção pressupõe sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes…”

Esta solução compreende-se a julgar pelo facto de no âmbito do direito civil se


discutirem, maioritariamente, direitos de índole privada, disponíveis pelas partes.

Assim, podendo dispor desses direitos, sobre eles recai o impulso processual, não
podendo o tribunal, oficiosamente, resolver litígios não solicitados pelos titulares dos
respectivos interesses ou direitos.

A apresentação da petição inicial tem os seguintes efeitos:

a)- Substantivos:

 Impede a caducidade (artigo 331º CC);


 Determina a contagem do prazo de 5 dias do artigo 323º nº 2 CC a partir do qual
a prescrição se interrompe.

b)- Processuais:

 Introduz o feito em juízo, dando início à instância – artigo 267º nº 1 e 467º nº 1


CPC;
 Individualiza a acção no plano subjectivo (tribunal e partes); no plano objectivo
– artº 467º nº 1 alíneas d) e e) e l51º nº 1 CPC; na exposição dos fundamentos de
facto e de direito e na formulação do pedido.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 58 de 85


 Fixa a forma de processo – artigo 142º CPC;
 Fixa o valor da causa – artigo 308 nº 1 CPC. ( intervenção principal – é um incidente de
instância que se caracteriza pela intervenção de um terceiro numa causa que se encontre

pendente, para fazer valer um direito próprio, paralelo ao do autor ou do réu)

Estes efeitos constituem excepção quanto à: reconvenção, intervenção principal,


liquidação posterior e por força de decisão do incidente de valor (artigo 315º e 319º
CPC.

1.3-Natureza:

A petição inicial traduz-se num acto processual constitutivo da relação processual e é o


único articulado absolutamente indispensável à existência do processo.

1.4- Estrutura formal:

1.4.1- Forma externa

A petição inicial deve ser elaborada em folhas de papel normalizadas, brancas ou de


cores pálidas, de formato A4 ou A5.

A lei não impõe um limite numérico de linhas, mas exige a salvaguarda da legibilidade
do documento.

Por imposição do artigo 139º nº 1 CPC, a petição inicial tem que ser escrita em língua
portuguesa, sendo de toda conveniência que o discurso utilizado seja claro, logicamente
ordenado e num estilo que, não sendo literário, seja de fácil apreensão quanto às
questões fundamentais suscitadas e a linguagem pautada por ditames de urbanidade –
artigo 154º CPC.

1.4.2-Conteúdo

No preâmbulo, o artigo 467º nº 1 impõe que o autor, na petição inicial, designe o


tribunal onde a acção é proposta, como elemento relevante na aferição do pressuposto
relativo à competência, por referência à categoria do tribunal, tendo em atenção a
existência de tribunais de categoria genérica e especializada – ( ver lei da organização
judiciária angolana, lei 2/15); sendo prática dirigir-se a petição ao Magistrado judicial do
tribunal.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 59 de 85


Seguidamente, identificam-se as partes, devendo o autor na petição inicial indicar o seu
nome, firma ou denominação social, tratando-se de pessoa singular ou colectiva; o
domicílio; a residência (quanto às pessoas físicas) – artigo 82º e ss do CC; a sede
(quanto às pessoas colectivas – artigo 159º CC); profissão e local de trabalho; dentre
outros dados.

Por força do artigo 467º nº 1 alínea c) CPC, exige-se que o autor indique a forma de
processo – artigo 460º CPC (acção declarativa de condenação sob a forma de processo
ordinário; sumário; sumaríssimo e especial), a qual constitui elemento relevante para
efeitos dos artigos 215º e 222º do CPC.

A omissão da indicação da forma de processo é motivo de recusa do recebimento da


petição inicial – artigo 474º alínea d) CPC e a errada indicação da forma de processo
constitui uma nulidade processual com regime previsto no artigo 199º CPC.

Narração:

Chama-se narração ao trecho da petição inicial em que o peticionante expõe os


fundamentos da acção – artº 467º/1 alínea d) CPC, cujos fundamentos se distribuem por
três planos seguintes:

 O plano dos factos concretos – é constituído pelas afirmações dos factos


indispensáveis à decisão da causa, isto é, os que sejam susceptíveis de preencher
a hipótese legal em que se estriba o efeito jurídico pretendido;
 O plano do clima moral – que é o circunstancialismo envolvente, explicativo do
litígio e útil à sua compreensão, ainda que não indispensável ao preenchimento
da hipótese legal relevante, mas que lhe dá vida, podendo influenciar, de algum
modo, na convicção do julgador; e
 O plano das razões de direito – que se refere à invocação das normas jurídicas
aplicáveis, incluindo as máximas da experiência, equidade ou regras de lógica.

Os factos concretos integradores da causa de pedir, como anteriormente se referiu,


devem ser deduzidos com subordinação à números ou artigos – artigo 151º nº 2 CPC,
excepto quando a lei dispense a narração sob a forma articulada, como acontece no
processo sumaríssimo – artigo 793º CPC, e visa proporcionar um exercício esclarecido
do contraditório, da parte do réu, tendo em conta o ónus de impugnação especificada
que sobre ele impende – artigo 490º CPC, bem como facilitar a condensação da matéria

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 60 de 85


de facto. Assim, é recomendável que se deduza um facto por artigo, recortando-o de
forma concisa nos seus traços essenciais, sem prejuízo, todavia, dos respectivos
elementos acidentais que relevem para a decisão (modo, tempo, lugar, etc) e proceder
uma ordenação da matéria de facto lógica e cronologicamente sequencial e coerente,
para que não saia prejudicada a sua dimensão integral.

Do clima moral fazem parte aquelas considerações que, não integrando a estrutura
fáctica da causa, favorecem o seu enquadramento no contexto comportamental dos
litigantes, tornando aquele factualismo mais explícito aos olhos do julgador.

Às alegações de direito, tanto podem consistir na mera citação das disposições legais
(artigos) como na reprodução das normas deles extraídas. Por outro lado, a alegação de
direito deve ser quanto possível sóbria, pois o desenvolvimento das teses jurídicas tem o
seu momento próprio no quadro das alegações de direito, quando da discussão da causa
ou das alegações de recurso.

Como resulta do princípio do dispositivo, incumbe ao autor que invoca a titularidade de


um direito que tem que especificar a causa de pedir (que constitui a fonte desse direito,
o facto ou o acto para que o seu direito proceda).

Assim, antes de o juiz analisar a matéria de facto, já está seleccionada numa primeira
fase, de acordo com o direito invocado (autor) ou o meio de defesa escolhido (réu), no
sentido de serem alegados e provados factos para que a pretensão ou defesa sejam
procedentes.

A necessidade da correcta alegação da matéria de facto está directamente relacionada


com a natureza dos interesses que importa assegurar, isto é, quem invoca um direito tem
o ónus de alegar factos constitutivos desse direito, enquanto quem se defende por
excepção tem de alegar os factos extintivos, modificativos ou impeditivos subjacentes.

A necessidade de alegações dos factos essenciais que integram a previsão abstracta da


norma ou normas jurídicas, relaciona-se, também, com o respeito ao princípio do
contraditório, ou seja, o direito de defesa só pode ser eficazmente exercido se o autor
expuser de forma clara a sua pretensão, por forma a que o réu responda,
especificadamente sobre cada facto articulado.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 61 de 85


Por outro lado, o ónus de alegação da matéria de facto que integra a causa de pedir está
conexionado com os limites que o artigo 664º CPC impõe ao juiz, cuja sentença, em
princípio, se deve limitar aos factos articulados pelas partes, sem prejuízo dos factos
instrumentais resultantes da discussão da causa – artigo 264º nº 2 CPC.

TAREFA

1- Descreve as fases do processo ordinário e diz em que forma de processo não se


cumprem todas as fases.

2- Que são articulados?

3- Refira-se dos elementos indispensáveis na petição inicial e diga as


consequências da sua omissão.

LIÇÃO Nº_______

DATA____/____/_____

SUMÁRIO: 1. Conclusão do Estudo sobre Petição Inicial

1. A Coligação
2-Diferentes formas de pedir:
- Cumulação de pedidos
- Pedidos Genéricos
- Pedido de Prestações Vincendas
3. Ineptidão da Petição Inicial
4. Citação do Réu – funçã
5. Contestação

1-Coligação - é quando vários autores ou vários réus demandam ou são demandados


conjuntamente – artigo 30º CPC

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 62 de 85


Entretanto, o artigo 31º nº 1 não admite a coligação quando os pedidos correspondam a
formas de processo diferentes ou a cumulação possa ofender regras de competência
diversa excepto quando esta diversidade da forma resulte unicamente do valor.

2-Diferentes Formas de Pedir

Cumulação de pedidos

De acordo com o artigo 470º do CPC, a cumulação de pedidos pressupõe que o autor
se propõe a fazer valer, simultaneamente, contra o réu vários pedidos ou diversas
pretensões; pelo contrário, quando os pedidos são alternativos ou subsidiários, o autor
apenas pretende fazer valer contra o réu um dos pedidos ou uma das pretensões.

Adiante-se, como exemplo de cumulação de pedidos, extraído de uma acção de


reivindicação, o seguinte:

“Nestes termos, nos melhores de direito e com o suprimento de V.Exª, deve a


presente acção ser julgada procedente por provada e a ré Maria Filomena, condenada
a:

a)- Reconhecer a propriedade do autor relativamente ao imóvel cuja descrição vai no


artigo I desta peça e;

b)- Entregar livre de pessoas e coisas o aludido imóvel”.

Como se vê, há neste exemplo uma cumulação de pedidos: o reconhecimento do direito


de propriedade (efeito declarativo) e a condenação na entrega (efeito executivo).

Portanto, não se cumula aqui dois pedidos substancialmente distintos, tão-só se indicam
as duas operações ou as duas espécies de actividade que o Tribunal tem de desenvolver
para atingir o fim último da acção.

Pedidos genéricos

São pedidos cujo objecto não é determinado na quantidade certa ou “no seu quantum”.

Surgem como consequência de factos ilícitos ou por o seu objecto ser uma
universalidade ou por não ser possível determinar no momento da sua formulação,
podendo ser determinada por meio do incidente de liquidação.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 63 de 85


De acordo com o artigo 471º é permitido formular pedidos genéricos, dentre outros, nos
seguintes casos:

1. Quando o objecto imediato da acção seja uma universalidade em que o autor


pede o valor correspondente à soma da totalidade dos elementos que a compõem
(ex: uma manada de gado, uma biblioteca, etc.) ou uma universalidade de facto
ou de direito (ex: mandar pintar uma casa, uma herança, etc.).

2. Quando não seja ainda possível determinar, de modo definitivo, as


consequências do facto ilícito;

3. Quando a fixação do quantitativo esteja dependente de prestação de contas ou


outro acto que deva ser praticado pelo réu;

Nestes casos, pode usar da faculdade que lhe confere o artigo 569º do CC, o que
acontece com frequência nas acções em que está em causa a responsabilidade civil
motivada por acidente de viação, quando o lesado, no momento de propor a acção,
ainda não está em condições de avaliar as consequências do facto ilícito em toda a sua
extensão.

Porém, para não protelar por mais tempo a propositura da acção, o autor, além de pedir
a parte que já seja líquida, pode pedir que o réu seja condenado a pagar-lhe a
indemnização cujo montante se vier a liquidar posteriormente – artigo 661º nº 2 CPC.

O modo e o momento em que se deve proceder à liquidação, ou seja, como se torna


líquido o pedido, consta dos artigos 378º e 379º CPC segundo os quais o autor deve
deduzir um incidente de liquidação em que relacione os objectos que constituem a
universalidade ou que especifique os danos derivados do facto ilícito, consoante o caso.

É possível deduzir-se o incidente de liquidação depois de ser proferida a sentença de


condenação genérica – artigo 661º nº 2 CPP, o que significa que o Tribunal proferirá
sentença de condenação no que vier a ser liquidado, ou seja, o apuramento do objecto
ou da quantidade da condenação fica para momento posterior.

Pedido de prestações vincendas

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São prestações periódicas em que, se o devedor deixar de pagar, podem compreender-se
no pedido e na condenação tanto as prestações já vencidas como as que se vencerem
enquanto subsistir a obrigação – artigo 472º nº 1 CPC.

Com este preceito pretende-se evitar que o autor tenha de propor sucessivas acções
declarativas contra o réu que já deixou de pagar alguma das prestações periódicas.

Assim, no caso do contrato de arrendamento, se o arrendatário deixar de pagar, o autor


pode pedir o pagamento das prestações vencidas e das que se venceram enquanto
subsistir o arrendamento.

Porém, já assim não será se estiver em causa a condenação em prestações futuras


quando nenhuma obrigação estiver vencida, o que permite ao autor pedir
antecipadamente a condenação no respectivo pagamento, para que esteja munido de
título executivo quando chegar o momento do cumprimento.

Note-se que o pedido de prestações vincendas não se confunde com o disposto no artigo
781º do CC que determina que, se a obrigação puder ser liquidada em duas ou mais
prestações, a falta de realização de uma delas importa o vencimento de todas, pois,
trata-se aqui de fracções de uma dívida, e não de dívidas distintas, como no caso
acabado de analisar acima.

3-Ineptidão da petição inicial


A ineptidão é um vício próprio da petição inicial que não pode encontrar-se em qualquer
outro articulado.

Diz-se que a petição inicial é inepta, nos termos do artigo 193º nº 2 do CPC, quando:

1. Falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou da causa de pedir;


2. Quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir;
3. Quando se cumule causas de pedir ou pedidos substancialmente incompatíveis.

O pedido é a pretensão do autor, a tutela jurisdicional que solicita e constitui o efeito


jurídico que o autor pretende obter – artigo 498º nº 3 CPC;

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Nas acções de simples apreciação negativa, o pedido consiste na declaração ou
reconhecimento da inexistência do direito.

A causa de pedir é o facto jurídico que serve de fundamento ao pedido que se enquadra
na previsão de alguma norma de direito substantivo; é o princípio gerador do direito e
da sua causa eficiente.

A causa de pedir é, portanto, o acto ou facto jurídico do qual emerge o direito que o
autor se propõe fazer valer, desde que não se trate de facto jurídico abstracto, como a lei
o configura, mas um certo facto concreto cujos contornos se enquadram na definição
legal.

A causa de pedir é, assim, o facto produtor dos efeitos jurídicos apontados pelo autor.

Através da figura da ineptidão pretende-se que o tribunal seja colocado na situação de


impossibilidade de julgar correctamente a causa, em face da inexistência de um pedido
ou de um pedido e de uma causa de pedir que estejam redigidos em termos
ininteligíveis, ou sejam entre si contraditórios, visto que só dentro dessas balizas se
pode mover o exercício da actividade jurisdicional declaratório do direito.

Para que a petição inicial seja considerada apta, o autor terá de formular um pedido
inteligível e indicar o facto genérico do direito ou da pretensão que quer fazer valer.

Nos casos em que a citação depende de prévio despacho judicial pode a ineptidão levar
o juiz a indeferir liminarmente a petição inicial enquanto noutros casos, anulará todo o
processado.

Falta ou ininteligibilidade do pedido ou da causa de pedir:

Se o autor não formular o pedido ou não alegar o facto concreto que lhe devia servir de
fundamento, falta a indicação dos parâmetros que hão-de balizar a actividade do juiz,
dado que a sentença não pode condenar em quantidade superior ou em objecto diferente
do que se pedir – artigo 661º nº 1 CPC e, só pode servir-se dos factos articulados pelas
partes – artigo 664º CPC e, por outro lado, o réu necessita de conhecer o pedido
formulado pelo autor e os factos em que assenta tal pedido para poder organizar a sua
defesa.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 66 de 85


A ineptidão verifica-se tanto nos casos em que é totalmente omitido o pedido como nos
casos em que o pedido é formulado em termos obscuros e ininteligíveis, de modo que
não se compreende qual a tutela jurídica pretendida pelo autor.

A petição é inepta e, por conseguinte nula, quando não poder descobrir-se que tipo de
providência o autor se propõe obter ou que efeito jurídico pretende alcançar por via
da acção.

A Ineptidão pode também resultar da falta ou ininteligibilidade da causa de pedir


quando não se sabe qual o acto ou facto jurídico em que o autor fundamenta o seu
pedido e não se sabe, porque não alegou os factos em que baseia o seu pedido ou
porque, embora não tenha alguns factos, estes não se tornam compreensíveis.

A falta ou ininteligibilidade do pedido gera a ineptidão de toda petição inicial, e por


conseguinte, a sua nulidade.

Pelas razões expostas, tanto o juiz – que tem de decidir – como o réu – que tem de saber
de que deve defender-se – sentem a necessidade de compreender o alcance do pedido.

No entanto, se o réu contestar, apesar de arguir a ineptidão com estes fundamentos, não
se julgará procedente a arguição quando se verificar que a petição inicial foi
convenientemente interpretada – artigo 193º nº 3 CPC.

Assim, importa ressaltar que não se deve confundir ininteligibilidade com outra
situação em que o pedido ou a causa de pedir estão redigidos de forma incorrecta ou
deficiente, casos em que o autor pode ser convidado a suprir as imprecisões, nos
termos do artigo 508º nº 2 do CPC.

Por outro lado, a ineptidão pode também resultar da falta ou ininteligibilidade da causa
de pedir quando não se sabe qual o acto ou facto jurídico em que o autor fundamenta o
seu pedido ou porque não alegou os factos em que baseia o seu pedido, ou ainda,
embora tenha alegado alguns factos, estes não se tornam compreensíveis.

A nulidade resultante de simples ininteligibilidade da causa de pedir, faz-se através de


ampliação fáctica em réplica, se o processo admitir este articulado e se respeitado o
princípio do contraditório através da possibilidade da tréplica.

Contradição entre o pedido e a causa de pedir:

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 67 de 85


Gera igualmente ineptidão quando existe contradição entre o pedido e a causa de pedir.

A petição inicial tem de reproduzir um raciocínio lógico, em que o pedido há-de conter-
se nas razões de direito e nos fundamentos de facto expostos na causa de pedir.

Existe ineptidão, por exemplo, quando é invocada a nulidade do contrato pelo autor
que, apesar disso, pede a condenação no pagamento de importância devida por força
do mesmo contrato.

Cumulação de causas de pedir ou de pedidos incompatíveis:

Nestes casos, a ineptidão pode surgir por o autor ter cumulado causas de pedir ou
pedidos substancialmente incompatíveis, isto é, o autor formula na mesma petição
diversos pedidos contra o mesmo réu, mas os pedidos não são alternativos ou
subsidiários como estabelecem os artigos 468º e 469º do CPC, visto que nestes casos,
embora se formule vários pedidos, apenas pretende-se que um deles seja satisfeito,
diferente dos casos que estamos a estudar em que o autor formula vários pedidos e
pretende que todos eles sejam reconhecidos simultaneamente,

A cumulação de pedidos só pode subsistir se os mesmos forem, entre si,


substancialmente compatíveis.

São incompatíveis os pedidos que mutuamente se excluem e os que assentam em causas


de pedir inconciliáveis.

A incompatibilidade dos pedidos é intrínseca ou substancial, isto é, a incompatibilidade


das providências que o autor solicita ao tribunal ou dos efeitos que se propõe obter.

Há incompatibilidade quando se verifica uma verdadeira ininteligibilidade do


pensamento do autor, que impossibilita determinar com segurança, o que ele pretende.

Porém, a incompatibilidade deve reportar-se exclusivamente aos pedidos e fundamentos


invocados pelo autor e de modo nenhum ao enquadramento ou qualificação verdadeira
dos factos segundo a lei.

Do disposto do artigo 193º do CPC conclui-se que a ineptidão não pode nascer de vícios
formais, sendo que, a nulidade subsiste ainda que um dos pedidos fique sem efeito por
incompetência do tribunal ou por erro na forma do processo.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 68 de 85


Por exemplo, o autor formula dois pedidos substancialmente incompatíveis, mas o
tribunal é incompetente, por hipótese em razão da matéria, para conhecer de um deles.
Mesmo que o tribunal se viesse a declarar incompetente para conhecer deste pedido, não
desapareceria o vício da petição por ficar a existir apenas o outro pedido que, na
verdade, tendo o autor formulado dois pedidos incompatíveis, não há possibilidade de
saber qual é efectivamente a sua pretensão, pelo que a nulidade subsiste ainda que um
dos pedidos fique sem efeito por incompetência do tribunal ou por erro na forma de
processo.

Como consequência da ineptidão da petição inicial gera-se a nulidade de todo o


processo nos termos do artigo 193º nº 1 que se constitui numa excepção dilatória –
artigo 494º alínea b) CPC que deve ser do conhecimento oficioso (artigos 495º e 202º
CPC) que, como obsta a que o tribunal conheça do mérito da causa, dá lugar à
absolvição do réu da instância – artigos 493º nº 2; 288º nº 1 alínea b) do CPC.

4-Citação do réu e função

A citação é o acto pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra ele
determinada acção e se chama ao processo para se defender, devendo ser-lhe entregue
cópia da petição inicial, dos documentos que a acompanham e de todos os elementos do
processo necessários à plena compreensão do seu objecto, sendo advertido do prazo
dentro do qual pode oferecer defesa – artigos 228º nº 3 e 255º CPC.

A citação emprega-se também para chamar, pela primeira vez, ao processo alguma
pessoa interessada na causa – artigo 228º nº 1 CPC.

Em quaisquer outros casos, utiliza-se a notificação, que serve para chamar alguém a
juízo ou dar conhecimento de um facto – artigo 228º CPC.

A citação comporta as seguintes modalidades:

 Citação pessoal – artigo 233º nº 1;


 Citação edital – artigo 233º nº 6 – quando há incerteza do lugar onde se encontra
o citado e quando sejam incertas as pessoas a citar.

Efeitos da citação:

A citação produz efeitos de ordem substantiva e efeitos de ordem processual.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 69 de 85


Como efeitos de ordem substantiva ou materiais referem-se os seguintes:

 Cessação da boa-fé do possuidor – artigo 481º alínea a) – a posse diz-se de


boa-fé quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito de
outrem – artigo 1260º nº 1 do CC. Porém, a partir do momento em que contra
esse possuidor é proposta acção de reivindicação dessa mesma coisa, cessa a
situação de boa-fé desde a sua citação para a acção, pois a partir desta, fica a
conhecer que está ou pode estar a lesar o direito do autor e, caso a acção vier a
ser julgada procedente, o réu é considerado como possuidor de má-fé desde o
momento da citação;

 Interrupção da prescrição contra o devedor –artigo 323º nº 1 do CC – se a


favor do réu, devedor de uma certa importância está a correr o prazo
prescricional, a prescrição considera-se interrompida a partir da citação, pois ela
exprime a intenção de exercer o direito; Porém, o tempo é um importante factor
a ter em conta na vida do direito por ser um grande modificador das relações
jurídicas. Havendo decorrido o período de tempo fixado na lei e verificando-se
as demais condições por esta exigidas, podem adquirir-se direitos pela posse,
ou podem extinguir-se obrigações por não ter sido exigido o seu cumprimento.

 Constituição do devedor em mora – se a obrigação tem prazo certo para


cumprimento, o devedor deve respeitar esse prazo e se até ao termo do prazo não
cumprir a prestação, ainda possível, por causa que lhe seja imputável, o devedor
considera-se constituído em mora – artigo 804º nº 2 CC.

Como efeitos de ordem processual, temos:

 Torna estáveis os elementos essenciais da causa nos termos dos artigos


268º e 481º alínea b) CPC – depois da citação do réu, a instância deve
manter-se a mesma quanto aos elementos essenciais: sujeitos (as partes),
pedido e causa de pedir (objecto). Porém, este princípio da estabilidade da
instância não é rígida porque não significa imutabilidade, visto que a própria
lei admite algumas modificações – artigos 269º, 270º, 271º, 320º e 325º
CPC.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 70 de 85


 Inibe o réu de propor contra o autor acção destinada à apreciação da
mesma questão jurídica – artigo 481º, alínea c) – a partir da citação do réu,
fica este vedado a propor e fazer seguir contra o autor acção que tenha a
mesma causa de pedir e o mesmo pedido, evitando litispendência prevista no
artigo 497º e ss CPC que é uma excepção dilatória, que a ser julgada
procedente, obsta a que o juiz conheça do mérito da acção proposta em
segundo lugar.

Considera-se proposta em segundo lugar a acção para a qual o réu foi citado
posteriormente – artigo 499º nº 1 CPC.

5-CONTESTAÇÃO

Como vimos no estudo sobre o nº de articulados, a contestação é o segundo articulado,


por intermédio da qual é dada oportunidade ao réu de se defender da pretensão
formulada pelo autor na petição inicial que, em suma, é a resposta do réu à petição
inicial do autor.

Este articulado, sob o ponto de vista formal, tem um conteúdo semelhante ao da


petição inicial, embora nesta o réu deva individualizar a acção, com a designação do
tribunal, identificação das partes, referir o nº do processo, a secção por onde corre a
acção, constituindo o cabeçário ou intróito – artº 488º primeira parte.

Na narração, o réu expõe as razões de facto e de direito por que se opõe à pretensão do
autor, especificando separadamente as excepções que deduza – artº 488º segunda parte.

A lei impõe que se faça a distinção de forma clara, entre a defesa por impugnação e a
defesa por excepção.

Assim, a defesa por impugnação ou defesa directa é aquela em que o réu nega
frontalmente os factos alegados pelo autor ou, sem negar a realidade desses factos,
contradiz o efeito jurídico que o autor deles pretende tirar. Por outras palavras, o réu
ataca de frente, contradizendo os factos aduzidos pelo autor ou, sem atacar esses factos,
contradiz a aplicação que o autor faz do direito aos factos.

Portanto, a defesa por impugnação é quando o réu defende-se contradizendo os factos


articulados na petição ou quando afirma que esses factos não podem produzir o efeito

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 71 de 85


jurídico pretendido pelo autor, podendo apresentar-se como impugnação dos factos ou
como impugnação do efeito jurídico.

Exemplo: se o proprietário de uma casa pretende que o réu lhe pague a importância
correspondente à renda devida pelo tempo em que a ocupou, na contestação pode o réu
defender-se negando ter ocupado esse imóvel ou, reconhecendo que o ocupou, alegar
que o fez, não por via de um contrato de arrendamento, mas a título de comodato e, por
isso, nada deve.

A defesa por excepção é quando o réu alega factos que obstam à apreciação do mérito
da acção ou que, servindo de causa impeditiva (invalidade do negócio jurídico por
erro, dolo ou coação), modificativa (mudança do percurso de uma servidão de
passagem) ou extintiva do direito invocado pelo autor, determinam à improcedência
total ou parcial do pedido – artigo 487º nº 2 segunda parte.

Na defesa por excepção o réu não nega a realidade dos factos articulados pelo autor,
nem contradiz o efeito jurídico que este procura extrair desses factos, mas opõe-lhe
contra-factos, alegando factos novos, que saem para fora do terreno em que o autor se
colocou e socorre-se de factos diversos daqueles em que se funda a petição, seguindo
uma de duas vias seguintes:

1. O réu alega factos que obstam à apreciação do mérito da causa, invocando, por
exemplo, a litispendência ou a falta de determinado pressuposto processual,
como a ilegitimidade ou a incompetência do tribunal em razão da matéria.

2. O réu alega factos que determinam a improcedência total ou parcial do pedido


quando, por exemplo, o autor pede o pagamento de uma dívida e o réu, sem
negar a existência do direito de crédito do autor, alega que a dívida está prescrita
ou já foi paga.

A defesa por excepção abrange tanto as excepções dilatórias como as excepções


peremptórias.

Num e noutro caso, a defesa é indirecta, porque o réu não ataca de frente a causa de
pedir, não procura destruí-la; o seu ataque é de flanco; serve-se de um novo facto que,
ou inutiliza a instância (excepção dilatória – dilatam, protelam, adiam a decisão do

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litígio-artº 493º nº 2 CPC) ou inutiliza o pedido (excepção peremptória – artº 493º nº 3
CPC).

Por último, a conclusão deve conter a formulação do respectivo pedido que pode ser o
de absolvição da instância ou de absolvição do pedido, indicando os documentos que
junta (procuração passada a advogado, quando o patrocínio for obrigatório – artigo 32º
CPC.

TAREFA

1-Distinga Cumulação de pedidos dos Pedidos Genéricos.

2-Em que consistem as prestações vincendas?

3-O que entende por Contestação?

4- Refira-se sobre os efeitos da Citação.

LIÇÃO Nº_______

DATA_________

SUMÁRIO: Continuação do Estudo das fases do processo:

- Fase de Saneamento e Condensação


- Fase de Instrução

I-Fase do Saneamento e Condensação

Inicia depois de terminada a fase dos articulados onde as partes expuseram as razões de
facto e de direito em que alicerçaram as respectivas posições e que permitiram delimitar
o litígio ou divergência, constituindo, de um modo geral, a primeira oportunidade com
que o juiz se depara para analisar o processo.

Esta fase consiste na identificação e tratamento das excepções e nulidades que o


processo possa apresentar e recortar a matéria de facto que há-de ser submetida à
actividade instrutória na audiência preliminar, destinada à dedução de factos
supervenientes – posteriores à fase de articulados – artigo 507º nº 2 do CPC.

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É natural que o juiz evite que prossiga a acção se o pedido formulado pelo autor se
revelar manifestamente improcedente, visto que iriam ser praticados actos inúteis que,
nos termos do artigo 137º do CPC, são proibidos.
Pela mesma razão, deve o juiz obstar ao prosseguimento da acção quando constate a
ocorrência de excepções dilatórias insupríveis de que deva conhecer oficiosamente.

Note-se, que mesmo quando a acção deva prosseguir, por vezes, torna-se necessário
expurgá-la de certos vícios, procedendo ao aperfeiçoamento dos articulados.

Portanto, o Saneamento trata de procurar eliminar os obstáculos susceptíveis de


impedir o conhecimento do mérito da causa, que é o objectivo da propositura da acção.

Para efeitos de saneamento, a lei processual prevê a prática de certos actos que se
enquadram na gestão inicial do processo – artigo 509º, a audiência prévia – artigo 508º s
e o despacho saneador-artigo 510º do CPC.

Como se pode verificar, o Saneamento significa a correcção do que necessita de ser


corrigido e a limpeza do que deve ser eliminado do processo.

Porém, a audiência preliminar ou de discussão e julgamento, pode ser dispensada


sempre que, destinando-se à fixação da base instrutória, a simplicidade da causa o
justifique ou quando a sua realização tenha como fim facultar a discussão de excepções
dilatórias já debatidas nos articulados ou quando a sua apreciação revista manifesta
simplicidade.

As principais finalidades da audiência preliminar são:

 Tentativa de conciliação (excepto nos direitos indisponíveis) – tem em vista a


solução de equidade mais adequada aos termos do litígio – artigo 509º/3 CPC. A
solução de equidade não tem que atender à norma jurídica aplicável à questão
em litígio, tendo como base a “justiça do caso concreto”, verificando-se
cedência de uma parte e de outra, com o fim de pôr termo à questão litigiosa.
Neste princípio, as partes são muitas vezes movidas pelo desejo de acabar com

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uma situação incómoda ou por não quererem correr o risco da incerteza quanto
ao desfecho da acção;

 Discussão de facto e de direito – para as partes apresentarem as suas alegações,


de facto e de direito, nos casos em que ainda não haviam tido oportunidade para
o fazer;

 Delimitação dos termos do litígio e aperfeiçoamento dos articulados;

 Saneamento do processo – destina-se a conhecer das excepções dilatórias e


nulidades processuais que hajam sido suscitadas pelas partes, ou que, face aos
elementos constantes dos autos, deve-se apreciar oficiosamente; e

 Selecção da matéria de facto - abrangem as ocorrências concretas que


consistem numa operação de seleccionar os factos relevantes para a decisão da
causa. Depois, de entre estes, uns haverá que, por não terem sido impugnados, se
têm de considerar admitidos por acordo constituindo matéria de facto provada e,
os outros factos controvertidos, que necessitam de ser provados, constituirão a
base instrutória – artigo 508º CPC.

Quando seja manifestamente necessária a realização da audiência preliminar, a lei


processual civil – artigo 508º impõe que a mesma seja antecedida de um despacho pré-
saneador – que tem como finalidade o suprimento das excepções dilatórias supríveis ou
convidar as partes para aperfeiçoamento dos articulados e, depois do próprio despacho
saneador.

O Despacho saneador, como uma das finalidades da audiência preliminar visa conhecer
as excepções que podem conduzir à absolvição do réu da instância, das nulidades, do
pedido e de outros elementos que permitam a tomada de uma decisão justa sobre a
causa– artigo 510º CPC;

II-Fase de Instrução

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Tem por objecto os factos relevantes para o exame e decisão da causa que devam
considerar-se controvertidos ou careçam de prova – artigo 513º CPC.

Os factos controvertidos são aqueles alegados por uma das partes e impugnados pela
outra que, no entanto, necessitam de ser submetidos a prova, visto que não estão
admitidos por acordo. São factos em relação aos quais existe divergência.

Os factos que careçam de prova surgem nos casos em que a revelia é inoperante e, por
isso, o autor tem de fazer a prova dos factos por si alegados, apesar de não terem sido
contrariados pelo réu – artigo 485º CPC.

A necessidade de prova justifica-se porque se trata de factos que estão subtraídos à livre
disponibilidade das partes.

A prova serve para criar no espírito do juiz a convicção acerca da veracidade de cada
um dos factos – artigo 655º CPC, cuja função consiste na demonstração da realidade
dos factos, como define o artigo 341º do Código Civil.

Entretanto, a prova não é uma certeza lógica, mas tão só um alto grau de probabilidade,
suficiente para as necessidades práticas da vida (certeza histórico-empírica) pois não se
pode pretender uma certeza absoluta, própria das ciências matemáticas, porque os factos
sobre que versa são geralmente ocorrências da vida quotidiana que se situam no
passado, os quais dificilmente poderiam ser integralmente reconstituídos.

Portanto, a prova visa apenas, de acordo com critérios de razoabilidade essenciais à


aplicação do direito, criar no espírito do julgador um estado de convicção, assente na
certeza relativa do facto.

Factos que não carecem de prova – são os chamados factos notórios, ou seja, de
conhecimento geral assim como os que o tribunal tem conhecimento por virtude do
exercício das suas funções, sendo que, quando deles se socorra, deverá fazer juntar ao
processo documento que os comprove – artigo 514º nºs1 e 2 CPC.

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Início e termo da fase de prova – esta fase tem o seu início quando são indicados os
meios de prova, sempre que a audiência preliminar tenha lugar e sejam requeridas
quaisquer diligências probatórias e termina com a realização da audiência final.

Os meios de prova podem ser: prova por presunções – artigo 349º e ss CC; prova por
confissão – artigo 352º e ss CC; prova documental – artigo 362º e ss CC; prova pericial
– artigo 388º e ss CC; prova por inspecção – artigo 390º e ss CC e prova testemunhal –
artigo 392º e ss CC.

No CPC os meios de prova constam do artigo 513º e seguintes e ainda 518º.

Graus de aptidão dos meios de prova:

Para influenciar a convicção do juiz, os meios de prova podem ter diversos graus:

 Bastante ou suficiente – é a que chega para fundamentar a convicção do juiz a


cerca da existência de um determinado facto, mas que cede perante contraprova;
Diz-se contraprova a actividade da parte contrária capaz de lançar no espírito
do julgador a dúvida sobre o facto que foi objecto de prova. A contraprova
invalida a prova e não necessita de criar no espírito do julgador a convicção de
que o facto em causa não é verdadeiro, bastando que neutralize a respectiva
prova – artigo 346º CC. Assim, se cabe ao autor o ónus de provar determinado
facto, de modo a que fique afastada qualquer dúvida. Se, porém, o réu faz
nascer, no espírito do julgador, a dúvida acerca da existência deste facto, tanto
basta para neutralizar a prova produzida pelo autor e, havendo dúvida,
funcionará a regra do ónus da prova (quem afirma um facto deve prová-lo).

 Prova Plena – é a que só cede perante a prova do contrário, não sendo bastante
a neutralização feita através da contraprova. Uma vez produzida a prova plena é
irrelevante a situação de dúvida que se procurou criar no espírito do julgador,
tornando-se necessário convencer o juiz da existência do facto contrário – artigo
347º CC. Exemplo: os documentos autênticos fazem prova plena dos factos
que referem como praticados pela autoridade ou oficial público respectivo –
artigo 371º CC. Neste caso, a prova dos factos atestados ou certificados pelo

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notário na escritura pública, como sendo do seu conhecimento, só pode ser
destruída pela demonstração da sua falsidade – artigo 372º CC.

 Prova pleníssima – é a que não admite sequer prova do contrário, como se


verifica em relação à presunção estabelecida no artigo 1260º nº 3 CC quando
estabelece que “a posse adquirida por violência é sempre considerada de má
fé”. Trata-se de um imperativo da lei que funciona como uma espécie de sanção
contra a posse adquirida por meio violento que é sempre considerada de má fé,
ainda que seja titulada.

TAREFA

1- Em que consiste a fase de saneamento e condensação?

2- Descreve três principais finalidades da audiência preliminar.

3- Refira-se sobre os graus de aptidão dos meios de prova.

LIÇÃO Nº___________

DATA_____/_____/________

SUMÁRIO: Continuação do Estudo das Fases do Processo.

 Fase da Audiência Final; e

 Fase da Sentença

1. AUDIÊNCIA FINAL

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Designa-se por audiência a sessão realizada no tribunal em que é discutida e julgada
uma causa.

As audiências dos tribunais são públicas, salvo quando o próprio tribunal em despacho
fundamentado, decidir o contrário, para salvaguarda da dignidade das pessoas e da
moral pública ou para garantir o seu normal funcionamento – nº 4 do artigo 656º do
CPC (2ª parte).

O início da audiência final constitui o momento oportuno para a resposta às excepções


que foram deduzidas pela parte contrária no último articulado admissível, no caso de
não ter tido lugar a audiência prévia.

A audiência final tem lugar depois da tentativa de conciliação e nela realizam-se, se a


eles houver lugar, os seguintes actos:

a)- Prestação dos depoimentos de parte;

b)- Exibição de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos;

c)- Esclarecimentos verbais dos peritos;

d)- Inquirição das testemunhas; e

e)- Alegações orais, nas quais os advogados exponham as conclusões, de facto e de


direito, que hajam extraído da prova produzida.

f)- Encerramento da discussão.

Porém, o juiz pode, nos casos que tal se justifique, alterar a ordem de produção da
prova, ou ainda, quando o considere conveniente para a descoberta da verdade,
determinar a audição em simultâneo, sobre determinados factos, de testemunhas de
ambas as partes.

a)-Prestação dos depoimentos de parte:

Aberta a audiência, segue-se a produção da prova. Se o juiz não decidir alterar a ordem,
a produção da prova começa pelo depoimento de parte, como decorre do nº 2 do artigo
652º do CPC.

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Os depoimentos de parte têm lugar sempre que tiverem sido ordenados pelo tribunal ou
requeridos pela contraparte ou pela comparte – alínea a) do nº 3 do artigo 652º CPC.

Se ambas as partes tiverem de depor perante o tribunal da causa, depõe em primeiro


lugar o réu e depois o autor, razão que se justifica pela possibilidade de se obter a
confissão do réu.

b)-Exibição de reproduções cinematográficas ou registos fonográficos:

A seguir ao depoimento de parte – artigo 652º nº 3 alínea b), faz-se referência à exibição
de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos.

Incumbe-se à parte que apresente como prova qualquer reprodução cinematográfica ou


registo fonográfico a facultar ao tribunal os meios técnicos de exibir, sempre que
necessário, o que não obsta a que o tribunal ordene, oficiosamente, as diligências
necessárias para o apuramento da verdade.

As reproduções fotográficas ou cinematográficas, os registos fonográficos e, de um


modo geral, quaisquer outras reproduções mecânicas de factos ou de coisas fazem prova
plena dos factos e das coisas que representam, se a parte contra quem os documentos
são apresentados não impugnar a exactidão – artigo 368º do CC.

No caso de impugnação, isto é, se a parte puser em causa a sua conformidade com os


factos ou as coisas que se diz reproduzir, a sua veracidade terá de ser comprovada por
outros meios.

Porém, o juiz pode determinar que a exibição se faça apenas com a assistência das
partes, dos seus advogados e das pessoas cuja presença se mostre conveniente,
constituindo um desvio ao princípio da publicidade, já anteriormente referida.

c)-Esclarecimentos verbais dos peritos:

Na audiência final, têm lugar os esclarecimentos verbais dos peritos cuja comparência
tenha sido determinada oficiosamente ou a requerimento das partes – alínea c) do nº 3
do artigo 652º CPC.

Como se sabe, o resultado da perícia é expresso em relatório sendo, portanto, escrito.


No entanto, pode fazer sentir a necessidade de que o perito preste alguns
esclarecimentos verbais na audiência de discussão e julgamento.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 80 de 85


Porém, o pedido de esclarecimento feito aos peritos no decurso da audiência não se
confunde com o que lhes pode ser solicitado no decurso da perícia.

d)-Inquirição das testemunhas:

Antes das alegações orais proceder-se-á ainda a inquirição das testemunhas que, depois
de juramento – artigo 635º CPC, são interrogadas sobre a matéria dos temas da prova,
indicando a razão de ciência e quaisquer outras circunstâncias que possam justificar o
conhecimento.

À prova que for produzida pela parte sobre quem recai o ónus probatório pode a parte
contrária opor contraprova a respeito dos mesmos factos, destinada a torná-los
duvidosos; se o conseguir, é a questão decidida contra a parte sobre a qual recaia o ónus
da prova.

Trata-se da contraprova a que se alude o artigo 346º do CC.

O interrogatório é feito pelo advogado da parte que ofereceu a testemunha, podendo o


advogado da parte contrária fazer-lhe, quanto aos factos sobre que tiver deposto, as
instâncias indispensáveis para se completar ou esclarecer o depoimento.

Como se verifica, as instâncias devem conter-se dentro dos factos sobre os quais a
testemunha prestou o seu depoimento, não podendo incidir sobre factos diferentes.

O juiz avoca o interrogatório quando tal se mostre necessário para assegurar a


tranquilidade da testemunha ou pôr termo instâncias inconvenientes, podendo pedir os
esclarecimentos e fazer as perguntas que julgue convenientes para o apuramento da
verdade ou ainda determinar a audição em simultâneo, sobre determinados factos, de
testemunhas de ambas as partes, quando o considere conveniente para a descoberta da
verdade.

A testemunha não pode trazer o depoimento escrito, mas pode socorrer-se de


documentos ou apontamentos de datas ou de factos para responder às perguntas.

e)-Alegações orais:

Terminada a produção da prova, é dada a palavra aos advogados das partes para
alegações orais que são também conhecidas por debates, caracterizadas por exposições
orais em que os advogados tornam conhecida a sua posição perante a prova produzida e,

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 81 de 85


com fundamento nos factos que consideram provados, apresentam a sua conclusão
quanto ao aspecto jurídico.

As alegações orais têm por finalidade contribuir para formar a convicção do juiz
quanto à decisão a tomar sobre a matéria de facto e também quanto à aplicação do
direito aos factos provados, ou seja, quanto à sentença a proferir.

f)-Encerramento da discussão:

O termo das alegações orais determina o encerramento da discussão em lª instância,


momento que constitui o limite referido pela lei processual para a prática de
determinados actos.

Assim, todos os actos devem ser praticados até às alegações orais, porque depois destas,
considera-se encerrada a audiência final e, por isso não serão admitidos.

2. FASE DA SENTENÇA:

É a fase em que é proferida a decisão final, depois de julgada a matéria de facto e de


discutido o aspecto jurídico da causa, de forma oral ou por escrito – artigo 658º/2 CPC.

A estrutura da sentença compreende três partes, nomeadamente: o relatório, os


fundamentos e a decisão.

 No relatório, o tribunal identifica as partes, descreve o objecto do litígio de


forma sintética, fixa as questões que ao tribunal cumpre solucionar, indica o
pedido do autor, o pedido reconvencional (se houver) e a posição que a parte
contrária tomou – artigo 659º/1 CPC.

 Nos fundamentos deve o juiz discriminar os factos que considera provados e


deve indicar, interpretar e aplicar as normas jurídicas correspondentes – artigo
659º/2 CPC. Aqui, o juiz deve procurar verificar se a situação concreta,
averiguada através do julgamento da matéria de facto, se ajusta à descrição da
situação prevista na norma, fazendo um juízo de comparação entre aquela
situação real e a situação hipotética prevista nessa norma, pois, a motivação da
sentença impõe-se por duas razões: uma de ordem substancial que consiste na

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demonstração da norma abstracta formulada pelo legislador para se aferir que
o juiz soube extrair a disciplina ajustada ao caso concreto; e outra de ordem
prática em que as partes precisam de ser elucidadas a respeito dos motivos da
decisão.

 A decisão constitui a resposta que mereceu a pretensão das partes em que o


tribunal, julgando procedente ou improcedente o pedido formulado pelo autor ou
pelo réu (no caso de este ter deduzido reconvenção) proferirá sentença de
condenação ou de absolvição da contraparte em relação a esse pedido – artigo
659º/2 CPC “in fine”.

Note-se que a amplitude da sentença no que respeita a atendibilidade de factos


supervenientes entre o momento em que é proposta a acção e o seu desfecho natural,
deve tomar em consideração os factos constitutivos, modificativos ou extintivos do
direito que se produzam posteriormente à proposição da acção, de modo que a decisão
corresponda à situação existente no momento do encerramento da discussão – artigo
663º/1 CPC in fine.

Quanto aos limites da condenação, a lei impõe que a sentença não pode condenar em
quantidade superior ou em objecto diverso do que se pedir – artigos 660º e 661º nº 1
CPC;

Em consequência, a sentença enferma de nulidade não só quando o juiz deixa de


pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar, mas também quando conheça de
questões de que não podia tomar conhecimento – artigo 668º CPC;

Extinção do poder jurisdicional e suas limitações – proferida a sentença, fica


imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa, ou seja,
depois de proferida a sentença, está vedado ao juiz proceder a qualquer alteração não só
na própria decisão, mas também nos fundamentos da mesma, mantendo-se, entretanto, a
competência do juiz no que toca ao posterior desenvolvimento do processo – artigo 666º
nº 1 e 2 CPC;

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Porém, é permitido ao juiz, por despacho, rectificar erros materiais-artigo 667º CPC
(omissão do nome das partes, das custas, erros de escrita ou de cálculo, etc) suprir
nulidades, esclarecer dúvidas existentes na sentença e reforma-la.

Importa notar que se o juiz constatar que decidiu mal, a sentença só pode ser alterada
por via de recurso interposto pela parte que tenha ficado vencida ou por pessoa directa
e efectivamente prejudicada pela decisão.

As nulidades da sentença constam do artigo 668º CPC: falta da assinatura do juiz; de


especificação dos fundamentos de facto e de direito; omissão de pronúncia ou pronúncia indevida;
conhecimento de questões que não foram deduzidas pelas partes; condenação em quantidade superior ou

em objecto diverso do pedido, etc.

Efeitos da Sentença

Os nºs 2 e 3 do artigo 177º da Constituição da República, estabelece que “as decisões


dos tribunais são de cumprimento obrigatório para todos os cidadãos e demais pessoas
jurídicas e prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades e que a lei regula os
termos de execução das decisões dos tribunais, sanciona os responsáveis pelo seu
incumprimento e responsabiliza criminalmente as autoridades públicas e privadas que
concorram para a sua obstrução”.

A decisão considera-se transitada em julgado, logo que não seja susceptível de recurso
ordinário ou de reclamação – artigos 668º, 669º e 677º CPC.

Nas acções que não admitem recurso, a decisão transita em julgado se não tiver sido
arguida qualquer das causas de nulidade da sentença ou requerido esclarecimento ou
reforma da mesma.

Em resumo, podemos dizer que as decisões transitam em julgado por não serem
susceptíveis de recurso ordinário ou, sendo-o, por a parte vencida ter deixado passar o
prazo sem que o tivesse interposto, ou ainda depois de terem sido esgotados os recursos
possíveis.

Caso julgado material – forma-se sobre a decisão acerca do mérito da causa (ex:
prestação de alimentos que depois se torna desnecessária…);

Caso julgado formal – a decisão apenas diz respeito àquele processo, isto é, a decisão
incide sobre uma questão processual.

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 84 de 85


FIM

Por Lic. Joaquim Orlando – Docente Página 85 de 85

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