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1. APRESENTAÇÃO
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, conceituada como Constituição Cidadã, o
Estado brasileiro, para administrar a coisa pública, foi compelido a exigir de suas Instituições um serviço
público de qualidade e eficiente.
De igual forma, as Polícias Militares passaram a buscar o desenvolvimento e e a modernização de
suas ações, visando cumprir com sua função constitucional.
Nesta vertente, a Lei nº. 9.099/95, Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, conferiu à
autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência, a possibilidade de confeccionar o Termo
Circunstanciado no local do fato ocorrido, com o compromisso de que posteriormente as partes se
apresentassem ao Juizado Especial Criminal.
Consequentemente, as Polícias Militares viram a possibilidade de evoluir em sua missão institucional
de policiamento ostensivo e preservação da ordem pública, progredindo na diminuição do tempo de resposta
e dos gastos públicos, além da melhoria do serviço prestado e na mediação dos conflitos sociais, em respeito
à dignidade da pessoa humana.
Estudaremos neste curso, os aspectos gerais do Termo Circunstanciado de Ocorrência, bem como os
procedimentos técnicos para sua confecção, visando aperfeiçoar os serviços prestados pela Polícia Militar de
Goiás. É um curso de aperfeiçoamento profissional com carga horária de 30h.
2. OBJETIVOS
2.1 Gerais
Transmitir os conhecimentos necessários aos Policiais Militares para a confecção do Termo
Circunstanciado de Ocorrência.
Apresentar os conceitos gerais e os procedimentos que auxiliam na compreensão e aprendizado sobre
o Termo Circunstanciado.
2.1 Específicos
INSTRUÇÕES METODOLÓGICAS
Conteúdo apresentado pela plataforma de Ensino da Distância na qual o discente deverá efetivar a
leitura do material apresentado em módulos, realizar as atividades previstas no plano de tutoria, incluindo a
avaliação via sistema que exige aproveitamento mínimo de 70%, a fim de validar a aplicação da prova escrita
presencial referente ao conteúdo ministrado.
Trabalhar os aspectos procedimentais e atitudinais dando ênfase na análise crítica do conhecimento
produzido, visando à compreensão do Termo Circunstanciado de Ocorrência e suas fundamentações legais
vinculadas a Policia Militar do Estado de Goiás, através de aulas expositivas e estudo de textos pertinentes ao
tema.
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Dado o primeiro passo, qual seja, a previsão constitucional dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais, a etapa seguinte seria a edição de uma lei que regulamentasse a matéria.
Nesse diapasão é que surgiu a Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995, que por sua vez, revogou
a Lei 7.244, de 7 de novembro de 1984. Agora, enfim, os Juizados Especiais passam a apreciar
também matérias relacionadas ao direito penal.
Pois bem, antes de discutir sobre os princípios aplicáveis à Lei 9.099/95, convém buscar uma
definição do significado de princípios no direito. Assim, destaca-se a definição do renomado jurista
Miguel Reale, em sua obra Lições Preliminares de Direito (2003):
Trazem a ideia de objetivos a serem alcançados por aquela norma, ou seja, o ideal pretendido,
a essência legislativa.
Analisando a Lei 9.099/95, temos em seu artigo 2° a seguinte previsão: “Art. 2º O processo
orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”. (BRASIL, 1995).
Complementando o tema, o artigo 62, que está inserido no Capítulo III (que trata dos Juizados
Especiais Criminais), estabelece:
2.2.1 Oralidade
Não significa dizer que todos os atos do processo serão produzidos oralmente, mas sim que a
predominância se dará desta forma, alcançando assim a agilidade pretendida pela lei. Tal princípio se
comunica diretamente com diversos outros, como o da identidade física do juiz, o princípio da
concentração, do imediatismo e da irrecorribilidade.
Consiste em admitir eventuais supressões de atos que não gerem prejuízo às partes envolvidas,
concentrando os esforços naquilo que for essencial à prestação jurisdicional.
2.2.3 Informalidade
Por este princípio, que em nada se assemelha a ilegalidade e nem minimiza a importância da
ação do Poder Judiciário, os atos processuais não carecem de um formato pré-estabelecido,
“engessado”, o que possibilita às partes uma adequada discussão sobre a lide, e consequente
facilidade na decisão da demanda.
A economia pretendida não se limita aos valores pecuniários envoltos nas ações judiciais, mas
também no emprego de recursos humanos e materiais que são requisitados, de onde abstrai-se que
quanto menos tempo durar até que se encontre a solução da demanda, maior será a economia
resultante.
2.2.5 Celeridade
Embora não tenha sido elencado como um princípio, merece destaque a previsão existente no
artigo 2° da Lei 9.099/95, o que prevê que deve ser buscado, sempre que possível, a conciliação ou a
transação, ou, conforme especialmente trata o seu artigo 62, a reparação dos danos sofridos pela
vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
Nota-se que a expressão “autoridade policial” aqui consignada, apresenta certa omissão, haja
vista que da forma que está inserida na norma, reflete uma generalidade, o que, pela relevância do
tema, não atinge a totalidade dos objetivos pretendidos pela lei.
Para suprir esse hiato, necessário se faz recorrer às fontes do direito, previstas no artigo 4° do
Decreto-Lei n° 4.657, de 4 de setembro de 1942, denominado de Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro, assim redigido: “Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. (BRASIL, 1942). Acrescente-se ao
citado artigo 4°, por já pacificado entendimento, a doutrina e a jurisprudência como fontes
secundárias do direito.
A Doutrina Penal Moderna menciona que são Fontes Formais Imediatas do Direito Penal, a
Lei, a Constituição Federal, os Tratados Internacionais de Direitos Humanos, a Jurisprudência, os
Princípios e os Atos Administrativos que complementam as normas penais em branco. Nesse sentido,
menciona que é Fonte Formal Mediata, a Doutrina.
Na obra Juizados Especiais Criminais, 4ª ed. São Paulo: RT, 2002, p. 109 – 110, Ada
Pellegrini Grinover, Antônio Magalhães Gomes Filho, Antônio Scarance Fernandes e Luiz Flávio
Gomes afirmam que:
Enfatizando os princípios buscados pela Lei 9.099/95, que visam, sobretudo, dar a adequada
resposta da Justiça no menor prazo possível, o Professor Damásio de Jesus, na obra Lei dos Juizados
Especiais Criminais Anotada, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 36 afirma que:
Não tem sido diferente o posicionamento de diversos tribunais espalhados pelo Brasil,
conforme exposto a seguir:
Ainda que haja uma unidade específica para estudo deste provimento, é oportuno destacar o
previsto em seus artigos 1° e 2°, assim redigidos:
Art. 1° Para os fins previstos no art. 69, da Lei 9.099/95, entende-se por
autoridade policial, apta a tomar conhecimento da ocorrência e lavrar termo
circunstanciado, o agente do Poder Público investido legalmente de atribuições
para intervir na vida da pessoa natural, atuando no policiamento ostensivo ou
investigatório.
Art. 2° Os Juízes de Direito dos Juizados Especiais Criminais e ainda os Juízes
de Direito das Comarcas do Estado de Goiás, ficam autorizados a recepcionar
os respectivos termos circunstanciados quando legalmente elaborados por
policiais militares estaduais, inclusive policiais rodoviários, e policiais
rodoviários federais, desde que assinados por oficiais das respectivas
instituições ou agentes menos graduados portadores de cursos superiores.
(GOIÁS, 2015).
Ressalta-se que o fato de o Policial Militar lavrar um TCO não implica em usurpação de
função pública, tendo em vista que a lavratura deste procedimento se constitui em mero relato de
fato, não havendo qualquer providência no sentido de exercer a atividade investigativa, servindo
tão somente de peça informativa ao Ministério Público.
Por tal proposta, o mesmo órgão policial que atua preventivamente, atendendo à solicitação
do cidadão, consegue dar continuidade ao atendimento demandado, possibilitando o
encaminhamento direto ao Poder Judiciário, permitindo assim que a Justiça promova a conciliação,
transação penal ou ação requerida, o que resulta em significativa economia de tempo e custos, bem
como na satisfação daqueles que solicitaram o trabalho da Polícia Militar e da Justiça.
COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR
Núcleo de Informática e Ensino a Distância do CAPM
Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO
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Aula 2 - Atribuições da Polícia Militar
(...)
(...)
Ainda, de acordo com o Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, que reorganiza as Policias
Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, em
seu art. 3º, letra ‘a’, diz que é competência das Policias Militares, dentre outras:
Em âmbito estadual, temos a Constituição do Estado de Goiás, que em seus artigos 121 e 124
estabelece:
(...)
Já a Lei 8.125, de 18 junho de 1976, que dispõe sobre a organização básica da Polícia Militar
do Estado de Goiás, em seu artigo 2º, inciso I, também estabelece como competência da Polícia
Militar, entre outras:
Também temos a Portaria nº 23/2008-PM/1, que define conceitos, missões e atribuições, bem
como o perfil profissiográfico do chefe de polícia ostensiva da PMGO, que em seu artigo 2°, incisos
I e XI, dentre outros, informa algumas das atribuições constitucionais da Polícia Militar do Estado de
Goiás:
Art. 2º São atribuições constitucionais da Polícia Militar:
I – executar o policiamento ostensivo fiscalizando o ambiente social, de
forma a prevenir ou neutralizar os fatores de risco que possam comprometer
a ordem pública;
(...)
Tal providência tem sido adotada em várias unidades da Federação, legitimando, por si só, a
lavratura do TCO pela Polícia Militar.
Citam-se como exemplo os votos proferidos pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal
Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto e Ricardo Lewandowski, no julgamento da ADI 2862, que tinha
como Requerente o Partido da República (PR) e como Requerido o Conselho Superior da
Magistratura do TJSP e a Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais –
FENEME onde buscava-se a Inconstitucionalidade de Atos Normativos Estaduais que atribuíam à
Polícia Militar a possibilidade de elaborar Termos Circunstanciados.
(...) Todo Policial Militar tem que fazer esse boletim de ocorrência. Esse
provimento não cria competência alguma da polícia militar, senão que
explicita o que a polícia militar faz costumeiramente e tem de fazê-lo dentro
de sua atribuição.
(...)
Após diversas discussões acerca da legalidade sobre a lavratura do TCO por outras forças de
segurança que não a Polícia Civil, bem como seguindo orientações de diversos Tribunais e Conselhos
do Ministério Público e de Magistratura, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por meio de sua
Corregedoria-Geral de Justiça, decidiu por editar e publicar um provimento no qual pacifica a questão
da legalidade de lavratura do TCO pela Polícia Militar, autorizando os juízes de Direito dos Juizados
Especiais e Comarcas do Estado de Goiás a recepcionarem os TCO’s lavrados pela Polícia Militar e
Polícia Rodoviária Federal. É o Provimento n° 18/2015 da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça
do Estado de Goiás, já mencionado em outros tópicos, mas que merece um estudo especial.
Existem algumas ressalvas que visam dar maior tecnicidade à lavratura do TCO pela Polícia
Militar, quando, por exemplo, o provimento prevê a necessidade de que o Termo seja assinado por
oficiais ou agentes menos graduados portadores de cursos superiores.
Ocorre ainda a possibilidade de que, havendo urgência em exame pericial, o Policial Militar
providencie o exame e encaminhe o resultado à Justiça, o que possibilita, por exemplo, a lavratura de
TCO por porte de entorpecente para consumo.
À sociedade:
Liberação das partes no local, sem necessitar ir para a Delegacia, evitando maior
desgaste entre autor e vítima e/ou condução desnecessária;
Liberação e consequente retorno da guarnição para a atividade ostensiva de
patrulhamento de forma imediata;
Economia de tempo de trabalho e de gastos públicos, uma vez que a guarnição não
irá precisar se deslocar para a delegacia de polícia;
Otimização do serviço policial, pois atualmente é feito o Boletim de Ocorrência
pela Polícia Militar e o TCO pela Polícia Civil, sendo que os dois documentos contem praticamente
os mesmos dados, e agora far-se-á um só procedimento;
Melhoramento das investigações da Polícia Civil com crimes de maior potencial
ofensivo que demandam uma análise mais acurada, vez que não será necessário dispender tempo com
infrações de menor potencial ofensivo;
Aumento no registro de infrações penais, vez que em virtude da burocracia e
demora de se deslocar a uma Delegacia de Polícia, muitas infrações não são registradas, o que vindo
a ocorrer, fundamenta a estatística da Polícia Militar e possibilita melhor emprego do efetivo, além
da certeza da persecução penal;
Melhoria no atendimento ao cidadão, que, uma vez solicitado o Estado, ali se faz
presente por meio da Polícia Militar, e tem sua demanda diretamente encaminhada ao Poder
Judiciário. Tal situação estabelece uma relação de confiança e proximidade com a Polícia Militar;
Diminuição da sensação de impunidade, em razão do aumento do registro das
ocorrências e consequente persecução penal, além da rapidez da aplicação da pena.
À Justiça:
À Polícia Militar:
O Capítulo III da Lei 9.099/95, a partir do artigo 60, normatiza as atribuições que dizem
respeito aos Juizados Especiais Criminais, assim estabelecendo:
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados
e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das
infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de
conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal
do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-
se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para
os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da
oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando,
sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação
de pena não privativa de liberdade. (Grifo nosso). (BRASIL, 1995).
Esse é o conceito que foi dado após as alterações determinadas pela Lei nº 11.313, de 28 de
junho de 2006. Antes dessa alteração, eram considerados crimes de menor potencial ofensivo apenas
as contravenções penais e os crimes cuja lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados
os casos em que a lei preveja procedimento especial.
Todavia, pela Doutrina, Renato Brasileiro de Lima conceitua como “As infrações de menor
potencial ofensivo, assim compreendidas as contravenções penais e crimes cuja pena máxima não
seja superior a 02 (dois) anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a procedimento
especial, devem ser processadas e julgadas pelos Juizados Especiais Criminais, pelo menos em regra,
com procedimento regulamentado pela Lei nº 9.009/95.” (LIMA, 2016, p. 86).
Nessa expressão “sujeitos ou não a procedimento especial”, entende-se como as infrações que
se submetem a um procedimento próprio/específico, como são os casos de crimes de Abusos de
Autoridade, que se enquadram no conceito de infrações penais de menor potencial ofensivo.
Essa hipótese exige uma discussão mais ampla, devido à previsão existente no artigo 94 da
Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso), assim transcrito:
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de
liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto
na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que
couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
(BRASIL, 2003).
Assim, conforme decidido no julgamento da ADIN 3096 pelo STF, restou o entendimento de
que nos crimes praticados contra idosos, caso a pena máxima aplicável seja de até 2 (dois) anos, o
processo tramitará nos Juizados Especiais Criminais, portanto, sujeito à Lei 9.099/95. Por outro lado,
naqueles crimes em que a pena seja superior a 2 e inferior a 4 anos, o processo terá seu trâmite na
Justiça Comum, porém, aplica-se o procedimento sumaríssimo previsto na Lei 9.099/95.
Concluindo, o TCO será lavrado nas infrações penais praticadas contra idosos apenas quando
pena máxima não ultrapassar os 2 anos.
Existe nas hipóteses que em virtude da função exercida pelo agente exista uma prerrogativa
de julgamento distinta do habitual, como no caso de Presidente da República, governadores,
deputados, senadores, magistrados, membros do Ministério Público, dentre outros.
Vale ressaltar que essas autoridades possuem foro por prerrogativa de função, cabendo ao
órgão competente, em cada caso, adotar as providências cabíveis.
Em relação aos vereadores, não há previsão de prerrogativa de foro para os membros do Poder
Legislativo Municipal, o que se leva a concluir que é plenamente possível a lavratura de TCO quando
o autor for vereador.
É válido ressaltar que a lavratura de TCO no caso de crimes eleitorais prescinde de ajuste a
ser acordado junto à Justiça Eleitoral, que dependerá ainda do entendimento dos juízes eleitorais
quanto à recepção de tais termos.
A Lei 11.340/06, denominada Lei Maria da Penha, prevê expressamente em seu artigo 41 que:
“Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995”. O
referido artigo foi levado à apreciação do STF por meio do julgamento de um habeas corpus em
2011, sendo pacificado o entendimento de que a Lei 9.099/95 não incide sobre a Lei 11.340/06.
Assim, em crimes de violência doméstica contra a mulher não é cabível a lavratura de TCO.
Enquanto não pacificado o tema, não se aplica a referida norma (Lei 9.099/95) aos militares,
sendo impossível a lavratura do TCO.
Dessa maneira, quando o Policial Militar se deparar com uma situação onde houve o
cometimento de uma infração penal em conjunto com uma infração de menor potencial ofensivo,
orienta-se os policiais militares a deslocarem com todos os envolvidos para a Delegacia de Polícia
competente.
O artigo 28 da Lei 11.343/06, denominada Lei de Drogas, se refere às pessoas que, de alguma
forma, tenham em seu poder drogas destinas à consumo pessoal, estabelecendo uma pena máxima de
10 (dez) meses, sujeitando-as, portanto, à incidência da Lei 9.099/95.
Na prática, para que o Policial Militar possa lavrar o TCO nesses casos, faz-se necessária a
realização do laudo de constatação da droga. Essa dificuldade foi suprida pelo provimento n° 18/2015
da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, onde afirma em seu artigo 3°: “Art.
3° Havendo necessidade de confecção de exame pericial urgente, o Policial Militar ou rodoviário
federal legalmente autorizado por sua instituição, o providenciará e encaminhará o resultado à Justiça.
” (GOIÁS, 2015).
No que diz respeito aos atos infracionais cometidos por adolescentes e que se sujeitem à Lei
9.099/95, a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente
e dá outras providências, traz a previsão de confecção de um termo semelhante ao TCO, denominado
de Boletim de Ocorrência Circunstanciado – BOC, que só é lavrado nos casos de flagrante de ato
infracional, nos termos do Art. 173, § único, em substituição ao auto de apreensão em flagrante, desde
que tenha sido cometido sem emprego de violência ou grave ameaça a pessoa.
Assim como no TCO, é importante que tanto o adolescente quanto seus pais ou responsáveis
assinem o termo de compromisso de comparecimento em audiência para tratar sobre a questão.
Dada a omissão legislativa em definir o conceito de ação penal, coube à doutrina realizar esta
tarefa.
Guilherme de Souza Nucci, em sua obra Código de processo penal comentado. 4. ed. revista,
atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 121/122, assim define ação penal:
“é o direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo, solicitando a prestação
jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto".
Definido o que vem a ser ação penal, faz-se necessário distinguir ação penal de natureza
pública e privada. Convém salientar que esta distinção trata da legitimidade de iniciativa de ação,
visto que, na essência, todas as ações penais são públicas.
Oportuno salientar ainda que todas as contravenções penais se dão por meio de ação penal
pública incondicionada. Ex: Perturbação do Trabalho e Sossego Alheios (art. 42 Decreto-Lei n.º
3688/41).
Quando o crime for de Ação Penal Pública condicionada à Representação, o próprio diploma
legal vai trazer essa informação expressamente.
Quando isso ocorrer, ao lavrar o TCO, o Policial Militar deverá preencher o Termo de
Manifestação do Ofendido.
Nesta hipótese, para que o MP possa agir faz-se necessário que a vítima se manifeste neste
sentido. A representação é compreendida como uma condição de procedibilidade da ação, sem a qual
a ação ministerial não é possível. Ela pode ser dirigida ao juiz, promotor ou delegado, e não carece
de forma específica. O prazo para representar é de 06 (seis) meses do conhecimento da autoria do
fato, o qual findo não restará mais possibilidade de oferecer denúncia por aquele crime.
Nesta modalidade de ação, o procedimento tomado pela Policial Militar vai depender da
manifestação da parte ofendida. Por exemplo, num crime de Ameaça (Artigo 147 do Código Penal,
com sanção de detenção de um a seis meses ou multa), a guarnição policial deve consignar em termo
próprio o interesse ou não que a vítima tenha de representar contra o autor. Havendo o interesse, será
lavrado o TCO e será agendada uma audiência no Juizado Especial Criminal. Caso contrário, será
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registrado um boletim de ocorrência, onde constará expressamente que a parte ofendida não tem
interesse em representar contra o autor, o que irá resguardar o Policial Militar de eventual
responsabilização posterior.
É aquela em que cabe tão somente ao particular propor a ação por meio de queixa, sendo
possível, ainda, que seus sucessores a proponham em caso de morte. Nesses casos, o Policial Militar
tem o dever de agir lavrando o TCO, sendo indispensável o termo de manifestação do ofendido no
sentido de se ver processar a outra parte.
Aqui não existe representação propriamente dita porque o próprio ofendido é quem decide
sobre ingressar em juízo ou não.
Somente o ofendido tem legitimidade para propô-la. Exemplo: crime de induzimento a erro
essencial e ocultação de impedimento ao casamento (Artigo 236 do Código Penal, com pena prevista
de detenção de seis meses a dois anos).
Na hipótese suscitada, é lavrado o TCO pela Polícia Militar, com a ressalva de que apenas a
vítima pode requerer a lavratura, vez que nesse caso a legitimidade para propositura é um direito
indisponível.
O cuidado com a inserção de tais informações se deve ao fato de que, com base naquilo que a
Polícia Militar apresenta à Justiça, é que a prestação jurisdicional será realizada. Assim, o primoroso
registro do TCO facilita a conquista dos princípios buscados pela Lei 9.099/95, sempre válido lembrar
que são a oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. Além disso,
evitam-se equívocos como o registro de homônimos ou de endereços e contatos incoerentes.
Este é o documento em que são registrados os objetos que foram eventualmente apreendidos,
como por exemplo, som, arma branca, caça níquel, etc. É importante que constem todas as
observações relativas ao estado de conservação e funcionamento do que for recolhido, local, data e
hora da ocorrência e o número do RAI que foi registrado, se possível até mesmo anexando fotos ou
vídeos do momento da apreensão no RAI, visando desta forma resguardar os policiais envolvidos na
apreensão de eventual alegação de dano ou extravio. Deve ser assinado pelo Policial Militar que fizer
o registro e também por duas testemunhas (quando possível). Além daquilo que verse sobre os objetos
apreendidos, deverá constar também todas as informações disponíveis sobre o autor, como nome
completo, filiação, data de nascimento, naturalidade, nacionalidade, RG, CPF, CNH, endereço,
telefone, Whatsapp e e-mail.
É o documento que atesta que a substância apreendida revela, pela coloração, consistência,
cheiro, bem como pelas suas características, ser positiva para a caracterização da droga, legitimando
assim a lavratura do TCO. Observação relevante diz respeito à possibilidade de que este laudo seja
feito por pessoa idônea, e não necessariamente por perito oficial (no caso do Termo constatação
preliminar, que é suficiente para a lavratura do TCO), conforme prevê a Lei de Drogas (11.343/03)
em seu artigo 50, §1°. O laudo definitivo deve ser realizado pela Polícia Técnico Científica, sendo
necessário que o Gestor da Unidade faça o encaminhamento do material para ser analisado por aquele
órgão.
Seguindo o mesmo padrão dos demais termos, deverá constar todas as informações
disponíveis sobre o autor, como nome completo, filiação, data de nascimento, naturalidade,
nacionalidade, RG, CPF, CNH, endereço, telefone, Whatsapp e e-mail, além de informações sobre o
dia, hora e local da apreensão, descrevendo as características da substância apreendida (cor, formato,
embalamento, etc.), quantidade, peso (quando possível), circunstâncias e local da apreensão.
Dentre os formulários citados, este talvez seja o de maior relevância, tendo em vista ser através
dele que a ocorrência é sanada no local, resultando, dentre outras questões, na já discutida celeridade.
O termo atende o estabelecido pela Lei 9.099/95 no parágrafo único do artigo 69, afirmando que ao
autor do fato que for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. A cautela quanto à exatidão
das informações deve ser enfatizada ainda mais quando do preenchimento deste formulário, que segue
o padrão estabelecido para os demais, contendo todas as informações disponíveis sobre o autor e
testemunhas do fato (preferencialmente duas), como nome completo, filiação, data de nascimento,
naturalidade, nacionalidade, RG, CPF, CNH, endereço, telefone, Whatsapp e e-mail. Essencial que o
autor seja informado da data e hora da audiência, devendo assinar o termo se comprometendo a
comparecer em juízo no dia e hora marcados. Deve ser assinado pelo Policial Militar que fizer o
registro e também por duas testemunhas (quando possível). Atendendo ainda o disposto no artigo 68
da Lei 9.099/95, deve constar no termo de compromisso de comparecimento a informação de que o
acusado deve comparecer na audiência acompanhado de advogado, constando a advertência de que
não o fazendo, ser-lhe-á nomeado defensor público.
É meio pelo qual o ofendido registra o seu interesse em representar ou não contra o autor.
Nos crimes de ação penal privada ou pública condicionada a representação, esse termo é
indispensável. Contudo, a manifestação da parte deve ocorrer mesmo quando recusar o
prosseguimento do trabalho da Polícia Militar, vez que assim fazendo, os policiais que atenderam a
ocorrência estarão se salvaguardando de qualquer questionamento posterior quanto à omissão. Nesse
caso, havendo recusa de assinatura por razões diversas (como embriaguez), poderá ser suprida por
testemunha ou vídeo anexado ao RAI.
Assim como nos demais termos, é muito importante o correto preenchimento dos dados,
constando, obrigatoriamente, todas as informações disponíveis sobre o autor e testemunhas do fato
(preferencialmente duas), como nome completo, filiação, data de nascimento, naturalidade,
nacionalidade, RG, CPF, CNH, endereço, telefone, Whatsapp e email.
O Gestor será o Policial Militar responsável por intermediar o envio do TCO lavrado pela
Polícia Militar para os Juizados Criminais. Possui diversas atribuições, dentre as quais se destacam:
realizar a conferência de todas as informações inseridas no TCO, devendo fazer uma revisão e
validação daquilo que foi registrado, analisando a qualificação e dados de contato das partes (autor,
vítima, testemunhas), o enquadramento penal (se o entendimento dos policiais que fizeram o TCO
está coerente), o adequado preenchimento de formulários que o caso requeira, o agendamento de
audiência e o encaminhamento do TCO para o Juizado Especial Criminal via sistema eletrônico de
processo judicial, o PROJUDI.
Como dito, o PROJUDI é o sistema eletrônico de processos judiciais. É por meio dele que se
dão as ações que tramitam nos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. O Gestor do TCO deverá se
cadastrar junto ao Poder Judiciário a fim de que possua acesso ao sistema, e assim consiga anexar os
arquivos produzidos no TCO.
Na condição de gestor, terá autonomia para fazer correções no TCO lavrado antes do envio
ao Juizado. Como dito anteriormente, caberá a ele o contato direto com o Poder Judiciário, sendo
responsável por organizar junto à secretaria do Juizado uma pauta de audiências em dias e horários
específicos, a fim de facilitar tanto o registro do TCO pela Polícia Militar, quanto os trabalhos do
Juizado. Como exemplo, determinada Unidade poderia reservar as audiências do período vespertino
COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR
Núcleo de Informática e Ensino a Distância do CAPM
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de toda primeira quarta e quinta-feira do mês para os TCO’s lavrados pela Polícia Militar, ficando o
controle de quais audiências que serão agendadas a cargo da Polícia Militar, onde o COPOM teria
esse controle.
Também é necessário que o Gestor mantenha uma comunicação prévia e em tempo hábil com
o Juizado, informando da pauta já agendada, a fim de que se organizem para o atendimento. Exemplo
de agendamento de audiência em que as datas e horários foram reservadas pelo Juizado, cabendo à
Polícia Militar fazer o agendamento:
Data e horário
N° RAI Natureza Parte(s)
de audiência
07/02, às João Augusto da Silva e
5014659 Ameaça
09h00min Pedro Ricardo
07/02, às
5014719 Dano simples Eva Ferreira de Souza
09h30min
07/02, às
5015120 Ato obsceno Ary Silva Amaral
10h00min
07/02, às Exercício arbitrário das
5015123 Sinomar Almeida dos Santos
10h30min próprias razões
08/02, às Maria Aparecida e
5015398 Vias de fato
09h00min Silvana Flores
08/02, às
5015411 Jogo de azar Sebastião Flores de Jesus
09h30min
08/02, às Direção não habilitada de
5015529 Lucas Correia do Nascimento
10h00min veículo
09/02, às Direção não habilitada de
5015597 Mariana Andrade Lopes
09h00min veículo
09/02, às Incêndio culposo em mata
5015813 Luís Carlos Borges da Silva
09h30min ou floresta
09/02, às Porte ilegal de arma
5015832 Alberto Roriz Medeiros
10h00min branca
São infrações penais com pena máxima de até 2 (dois) anos, bem com todas as
contravenções penais.
Nesse caso deve ser dada voz de prisão e levar o autor para a Delegacia de
Polícia.
Vários estados da federação já fazem o TCO, dentre eles São Paulo, Rio Grande
do Sul, Paraná, Sergipe, etc. Merece destaque o trabalho desenvolvido pelo Estado de Santa
Catarina, que é pioneiro na realização deste procedimento, tendo iniciado a lavratura em 1.998.
O TCO também é feito pela PM em algumas cidades de Goiás, assim como pela Polícia
Rodoviária Federal.
Neste caso, a Polícia Militar está autorizada a requerer a perícia, conforme o art.
3º do Provimento n° 18 de 2015 do TJGO, ou seja, o TCO é lavrado no local e posteriormente
é feito um requerimento pericial para a Polícia Técnico-Científica.
Visando facilitar a consulta e o entendimento, segue abaixo uma relação das principais
infrações penais de menor potencial ofensivo, separadas conforme a legislação pertinente:
___________ . Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm>. Acesso em: 09 jan. 2018.
GOMES, Antônio; GRINOVER, Ada Pellegrini e SCARANCE, Antônio; Gomes, Luis Flávio.
Juizados Especiais Criminais. São Paulo: RT, 2002.
JESUS, Damásio de. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5. ed., São Paulo: Saraiva,
2000.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
SÃO PAULO. Conselho Superior da Magistratura. Provimento 806 de 24 de julho de 2003. Normas
relativas aos Juizados Informais de Conciliação, Juizados Especiais Cíveis e Criminais e Juizados
Criminais. Disponível em:<
https://www2.oabsp.org.br/asp/clipping_jur/ClippingJurDetalhe.asp?id_noticias=14272&AnoMes=
20038>. Acesso em: 09 jan. 2018.