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O papel do advogado na mediação familiar


O papel do advogado na mediação familiar

Claudemir Bezerra de Almeida Filho| Cecília Lobo Marreiro

Publicado em 10/2020. Elaborado em 10/2020.

No Brasil, com o advento da Lei de Mediação e do Novo CPC, a


autocomposição passou a ser fase dos procedimentos comum e
de família. Diante disto, o papel do Advogado apresenta-se de
fundamental importância, pois, atuará como orientador
jurídico.

O PAPEL DO ADVOGADO NA MEDIAÇÃO JUDICIAL FAMILIAR

RESUMO

No Brasil, com o advento da Lei de Mediação e do Novo CPC, a autocomposição


passou a ser fase dos procedimentos comum e de família. Diante disto, o papel do
Advogado apresenta-se de fundamental importância, pois, atuará como orientador
jurídico do cliente durante a Mediação Judicial, auxiliando-o na tomada de
decisão informada. Todavia, considerando as peculiaridades dos métodos
consensuais como a Mediação, para que seja possível a efetivação do mecanismo,
principalmente nas ações de família, é necessário que o patrono tenha domínio
sobre as técnicas autocompositivas. Não obstante o CPC de 2015 prevê a mediação
e a conciliação como fases processuais, há ainda certo descrédito com relação a
esses institutos, principalmente pelos patronos das partes, que veem no processo a
única forma de solução do litígio. Tal fato deve ser somado ao despreparo dos
advogados com relação as técnicas autocompositivas. Eis a razão de ser do
presente trabalho, tendo como objetivo geral: Identificar o papel do advogado
durante a mediação judicial familiar do Fórum da Comarca de Pacatuba-Ce, e os

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seguintes objetivos específicos: a) analisar a predisposição dos advogados ao


acordo, apontando possíveis causas de indisposição do advogado; b) indicar os
benefícios da atuação do advogado qualificado e predisposto ao acordo na
audiência de mediação e conciliação. A metodologia empregada foi descritiva, com
a finalidade de observar e registrar a atuação do advogado na mediação judicial
familiar. A abordagem foi quantitativa. No tocante aos procedimentos foi
bibliográfica, documental, de campo e de levantamento, haja vista ter buscado
fontes legais, doutrinárias e jurisprudenciais necessários para fundamentar a
análise dos dados coletados. A população foi composta por advogados que
atuavam nas demandas de família que tramitavam no Fórum Dr. Desembargador
Raimundo Catunda, na Comarca de Pacatuba-Ceará-Brasil. Com relação a técnica
amostral foi coletada de forma incidental, mediante inclusão aleatória de
advogados que atuavam naquela comarca, no dia das visitas do aluno pesquisador,
mediante a assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). O critério de exclusão da população era o advogado que não atuava na
aérea de família. A fim de guardar o total anonimato dos advogados entrevistados
estes foram identificados por números cardinais em ordem crescente. O
instrumento de coleta de dados foi um questionário, o qual constou de questões
objetivas.

Após a análise do conteúdo coletado observou-se que boa parte dos advogados que
participaram da pesquisa acreditava que a mediação favorece a propositura de um
acordo e consequentemente na resolução do litígio. Pôde-se constatar ainda que
um dos maiores benefícios da atuação do advogado qualificado nas audiências de
conciliação e mediação, é a economia financeira que obtém, uma vez que não terá
os gastos financeiros do acompanhamento de um processo judicial. Ainda sob essa
óptica, observou-se ainda que os métodos autocompositivos promovem o
descongestionamento do judiciário, haja vista que os conflitos de interesses são
resolvidos pelas próprias partes. Não obstante, se ter demonstrado que a mediação
e conciliação promovem a resolução dos conflitos de forma mais célere e justa,
ainda é uma realidade distante da prática forense. Urge a mudança da concepção
da jurisdição contenciosa para a resolução dos conflitos pelos métodos
autocompositivos. Para tal deve ser reformulado os currículos universitários com
ênfase em disciplinas que abordem a matéria, de modo a construir entre os alunos
um raciocínio jurídico centrado na autocomposição. Uma sociedade sem conflitos
inexiste. Mas os conflitos resolvidos pelas próprias partes, de uma forma pacífica e
igualitária, demonstra o quão essa sociedade é evoluída no seu contexto humana.

INTRODUÇÃO

O Conflito interpessoal é inerente a todos os seres humanos e pôde ser notado nas
mais diversas sociedades já existentes. Desta forma, em razão da necessária
convivência entre os integrantes desses grupos sociais, mecanismos de solução de
conflito foram utilizados desde os primórdios da humanidade. Hodiernamente,

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em razão da necessidade de tornar a máquina jurisdicional mais célere, vem-se


dando maior privilégio aos métodos autocompositivos como a Conciliação a
Mediação.

Os mencionados métodos têm como princípio mor a autonomia da vontade das


partes para decidir e, além de desafogar o judiciário, podem proporcionar
inúmeros outros benefícios, como se demonstrará no decorrer desta obra.
Mediação é um método consensual de resolução de controvérsias onde um
terceiro imparcial, denominado mediador, atua na facilitação do diálogo entre as
partes, sem, contudo, impor ou propor solução. O objetivo da Medição é
possibilitar que os litigantes encontrem uma solução que satisfaça a ambos, por
meio da mutua concessão, abdicando-se de parte dos interesses em prol da
resolução pacífica do conflito.

No Brasil, os avanços na regulamentação da Mediação judicial consolidaram-se


com o advento do novo CPC, Lei. 13.105 e da Lei. 13.140 – Lei da Mediação. O
Código de Processo Civil de 2015 trouxe notórias mudanças com relação ao Códex
anterior introduzindo a Mediação como fase obrigatória do rito processual
comum, previsto a partir do art. 334 e art. 695, de modo que, no novo texto
procedimental, se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o
caso de improcedência liminar do pedido, o juiz determinará a citação do
requerido para comparecer à audiência de Mediação e Conciliação e, só após, não
havendo acordo ou ausente uma das partes, surge o termo “a quo” para a
contestação, art. 335, I, CPC 2015. Tal fato difere do procedimento comum
previsto no Código Ritualístico de 1973, onde após a aceitação da petição inicial
havia o despacho determinando a citação da parte requerida para contestar a ação.

Nos procedimentos contenciosos de família previstos no Capítulo 10 do Novo CPC,


assim como ocorre no procedimento comum, o processo se inicia com a citação do
requerido para comparecer à audiência de Mediação e Conciliação. Por ocasião da
citação o réu é orientado a comparecer à audiência acompanhado de Advogado ou
Defensor Público, como determina o art. 695, §4º.

Percebe-se, pois, que a “mens legislatoris” quando da elaboração do §9º, do artigo


334, e do §4º, do artigo 695, ambos do CPC, 2015 não foi objetivamente
incorporar o Advogado ao mecanismo autocompositivo para que defenda os
interesses de seu cliente usando dos métodos tradicionalmente adversariais mas
sim assegurar à parte, durante autocomposição, acompanhamento de um
profissional com conhecimentos técnico-jurídicos, capaz de lhe auxiliar nas
questões atinentes à resolução do conflito, informando-o sobre seus direitos ali
passíveis de transação, funcionando como orientador jurídico. Observa-se, assim,
que a lei promoveu maior eficácia ao artigo 133, da Constituição Federal de 1988,
na medida em que reconhece a importância do Advogado para a autocomposição,
reforçando assim, sua imprescindibilidade à administração da justiça.

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Não obstante o CPC de 2015 prevê a mediação e a conciliação como fases


processuais, há ainda certo descrédito com relação a esses institutos,
principalmente pelos patronos das partes, que veem no processo a única forma de
solução do litígio. Tal fato deve ser somado ao despreparo dos advogados com
relação as técnicas autocompositivas. Eis a razão de ser do presente trabalho,
tendo como objetivo geral: Identificar o papel do advogado durante a mediação
judicial familiar do Fórum da Comarca de Pacatuba-Ce, e os seguintes objetivos
específicos: a) analisar a predisposição dos advogados ao acordo, apontando
possíveis causas de indisposição do advogado; b) indicar os benefícios da atuação
do advogado qualificado e predisposto ao acordo na audiência de mediação e
conciliação.

Dessa forma, a metodologia empregada foi descritiva, uma vez que a pesquisa teve
a finalidade de observar e registrar a atuação do advogado na mediação judicial
familiar. Quanto à abordagem foi quantitativa, pois a pesquisa buscou demonstrar
e descrever o conteúdo coletado. No tocante aos procedimentos foi bibliográfica,
documental, de campo e de levantamento, haja vista ter buscado fontes legais,
doutrinárias e jurisprudenciais necessários para fundamentar a análise dos dados
coletados. A população foi composta por advogados que atuavam nas demandas
de família que tramitavam no Fórum Dr. Desembargador Raimundo Catunda, na
Comarca de Pacatuba-Ceará-Brasil. Com relação a técnica amostral foi coletada de
forma incidental, mediante inclusão aleatória de advogados que atuavam naquela
comarca, no dia das visitas do aluno pesquisador, mediante a assinatura prévia do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O critério de exclusão da
população era o advogado que não atuava na aérea de família. A fim de guardar o
total anonimato dos advogados entrevistados estes foram identificados por
números cardinais em ordem crescente. O instrumento de coleta de dados foi um
questionário, o qual constou de questões objetivas.

O presente trabalho abordará inicialmente o conceito de Mediação, suas


modalidades, a distinção com a Conciliação e a evolução histórica no país.
Posteriormente se delimitará às ações de família, o Advogado e a autocomposição,
a formação acadêmica do operador do Direito e o papel do Advogado na
autocomposição familiar. Logo após serão analisados os dados coletados.

Ressalta-se que o presente trabalho, não obstante ter como título o “papel do
advogado na mediação”, terá a sua essência voltada para a discussão da mediação
familiar judicial.

1. CONCEITUANDO MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

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Trata-se a Mediação de uma técnica de prevenção, administração e resolução


consensual de conflitos interpessoais com o auxílio de um terceiro isento; sem
interesse na demanda e capacitado para facilitar a conversação, ora prejudicada,
entre as partes.

A Mediação destoa do método tradicional de prestação jurisdicional pelo Estado,


onde o poder decisório é atribuído ao Magistrado, cabendo tão somente às partes
provar a prevalência do seu direito em detrimento do direito do adversário.
Percebe-se, portanto, que o mediador, diferentemente do Juiz, não decide ou
sequer, propõe soluções, age tão somente na condução da resolução do conflito
que será construída pelas próprias partes.

O Mediador ao utilizar as técnicas e empregar os princípios orientadores da


Mediação busca possibilitar um diálogo livre de animosidades ou travas que
impeçam com que as partes cheguem a um denominador comum. Desta forma, o
Facilitador estimula as partes a encontrarem uma solução para a controvérsia.

Tal técnica diverge do clássico método héterocompositivo empregado pelo Estado


na solução das demandas, pois, a decisão judicial sempre resulta em alguém que
ganha e outro que perde. Para quem perde, a justiça não foi feita e o litígio não
acabou. Daí a consolidação da Mediação como meio adequado para dar cabo, de
fato, ao conflito, diante da instauração do paradigma ganha-ganha.

Oportunizar às partes protagonizar a saída viável a pôr fim ao próprio litígio


representa a busca pelo verdadeiro sentido de justiça, o que diante do paradigma
perde/ganha, intrínseco ao método tradicional Estatal apresenta-se como inócuo.
Para Fernanda Tartuce (2018, p. 203):

“A mediação configura um meio consensual porque não


implica a imposição de decisão por uma terceira pessoa; sua
lógica, portanto, difere totalmente daquela em que um
julgador tem autoridade para impor decisões”.

À guisa das considerações feitas pela autora, nota-se que a principal característica
da Mediação é a concentração do poder decisório nas partes, atuando o terceiro
imparcial como instrumento de facilitação do dialogo.

1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA NA MEDIAÇÃO NO BRASIL

O revogado Código de Processo Civil de 1973 já tratava sobre a prática da


Conciliação de forma mais consolidada, todavia, no que concerne à Mediação
faltava regulamentação. À época, para Trícia Navarro (2017, p. 4) “havia em nosso

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ordenamento jurídico grande disparidade entre as fontes legislativas que tratavam


da conciliação e da mediação, pois esta última ainda não havia atingido uma ideal
regulamentação”.

Em 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu preâmbulo


tratou a solução pacífica das controvérsias como fundamento da sociedade, in
verbis:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em


Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL.”

No Brasil, os primeiros movimentos legislativos com intuito de regular a matéria


da Mediação iniciaram-se com o projeto de Lei número 4.827/98 proposto pela
então Deputada Federal pelo Estado de São Paulo, Zulaiê Cobra. A sucinta
proposta composta por sete artigos fazia a definição de Mediação e traçava
concisas considerações sobre o tema. No ano de 2002, após ser submetido e
aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça – CCJ - foi enviado ao Senado
para deliberações, lá recebendo o número de PLC 94/2002, tendo sido aprovado
cerca de quatro anos depois; em 2006.

O Senador Pedro Simon fez significativas alterações no texto inicial para incluir
diversos dispositivos, promovendo assim a apresentação de um substitutivo.
Diante da sistemática do processo legislativo brasileiro, considerando as
modificações feitas no Senado, o texto foi remetido à Câmara dos Deputados para
nova deliberação, tendo o Relator, o então deputado José Eduardo Cardoso,
opinado pela aprovação do substitutivo. Empós cinco anos de engavetamento, o
PL teve sua tramitação retomada em maio de 2011 quando o novo relator,
deputado Artur Maia, assim como o antecessor, se manifestou favorável à
aprovação do projeto, fazendo ressalvas com relação à inconstitucionalidade
formal no tocante à previsão de competências para o credenciamento e supervisão
da atuação dos mediadores.

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Destaque-se que o PL teve forte influência das legislações colombiana e argentina,


que desde os anos de 1991 e 1995, respectivamente, vinham tratando sobre a
matéria.

No decorrer dos anos seguintes à propositura do PL 4. 827/98, alguns outros


projetos foram apresentados; 517/2011, 405/2013 e 434/2013, e aglutinados no
Senado Federal, tendo os supracitados textos sido alterados resultando com
promulgação, no dia vinte e seis de junho, de 2015, da atual Lei de Mediação n.
13.140.

Antes, em 2010, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ – preocupado com a


ausência de previsão normativa sobre a Mediação e demais métodos alternativos
de solução de conflitos, com intuito de evitar a confusão entre orientações e
práticas, por meio da Resolução 125, considerando que a Mediação e a Conciliação
são instrumentos de efetiva pacificação social, ao longo de seus 19 artigos
regulamentou a prática judicial da Medição e Conciliação, trazendo em seus
anexos as diretrizes curriculares para o curso de formação de facilitadores e o
Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais. Outros dois anexos, que
dispunham sobre dados estatísticos e setores de solução de conflitos e cidadania
foram revogados pela Emenda Regimental n: 1 de 2013.

O Código de Processo Civil, promulgado no mesmo ano em que a Lei de Mediação,


em total consonância com aquele diploma reservou uma seção no capítulo
referente aos sujeitos do processo à disciplina da Mediação e Conciliação judiciais.
As previsões estão fixas nos artigos 165 a 175, tendo inclusive algumas das
previsões lá dispostas já sido abordadas pela Resolução do Conselho Nacional de
Justiça nº 125, de 2010.

Com o advento do Novo CPC e da Lei de Mediação, os métodos consensuais de


resolução de controvérsias ganharam conotação judicial, passando a integrar
efetivamente o processo.

1.3 MODALIDADES DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS DE


INTERESSES

Conforme explicado anteriormente; a Mediação favorece que as partes litigantes


encontrem a solução para a própria demanda. De acordo com a Lei 13.140/2006, a
Mediação pode ser Judicial e Extrajudicial. Segundo Fernanda Tartuce (2018, p.
314) “A mediação será judicial quando efetivada no curso de uma demanda já
instaurada, sendo conduzida por mediadores judiciais (previamente cadastrados e
habilitados segundo as regras do respectivo Tribunal) designados pelo juiz da
causa ou indicados pelos Centros (CEJUSCs)”.

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Já na Mediação Extrajudicial, também denominada de Privada, não há


participação de componentes judiciários. Pode ser institucional ou independente.
Quando institucional é realizada por instituições, tais como associações
comunitárias, câmaras privadas, centros de Mediação escolar, Defensoria Pública
e Ministério Público. Quando independente o mediador não tem vínculo com
qualquer órgão ou instituição, necessitando apenas que detenha conhecimento
sobre os métodos, princípios orientadores da Mediação e seja de confiança das
partes, de acordo com o artigo 9.º da Lei n. 13.140/2015, que assim prevê “poderá
funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a
confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de
integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele
inscrever-se”.

Nota-se, que na Mediação Extrajudicial, o princípio da informalidade está


presente de forma mais evidente, diante da dispensa de procedimentos os quais no
mecanismo judicial são imprescindíveis, como a habilitação e cadastro de
Mediadores em lista do Tribunal de Justiça.

Neste sentido, seguindo o caráter notadamente informal, o impulso para a


autocomposição é gerado pelas partes e não pelo Estado-Juiz, como no gênero
Judicial. Ademais, via de regra, a Mediação extrajudicial ocorre antes da
instauração do processo, inobstante, nas ações de família, a possibilidade de
empós o início do feito, a requerimento dos litigantes, o Juiz suspender o processo
enquanto às partes se submetem à Mediação privada (extrajudicial), de acordo
com o artigo 694, parágrafo único do código de ritos civis de 2015.

1.4. MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO: A DISTINÇÃO

A partir deste capítulo, considerando o enfoque do presente trabalho na prática


autocompositiva judicial, será abordada a diferença entre Mediação e Conciliação
no âmbito do judiciário.

A linha fronteiriça entre Mediação e Conciliação é tênue. Tal afirmação leva em


conta que os dois mecanismos são norteados pelos princípios da:
confidencialidade, imparcialidade, voluntariedade e autonomia da vontade das
partes, há a participação de um terceiro interventor visando promover a
comunicação entre os envolvidos e estimular com que os litigantes busquem as
saídas. Outrossim, em ambos os métodos autocompositivos prevalecerá
autonomia da vontade privada na elaboração das soluções para o impasse. O
Mediador/Conciliador não tem o poder de impor decisão, de acordo com o que
dispõe o parágrafo único do artigo 166, do Código de Processo Civil, in verbis:

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Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos


princípios da independência, da imparcialidade, da
autonomia da vontade, da confidencialidade, da
oralidade, da informalidade e da decisão informada.

Ao referir-se à “autonomia da vontade das partes” o dispositivo é peremptório no


sentido de que o Mediador/Conciliador não pode impor a decisão, privilegiando-a
sobremaneira.

Entretanto, a maior parte da doutrinada entende que existe distinção entre os


mecanismos (Ruiz, 2015), (Tartuce, 2018), (Zamboni, 2016), senão, vejamos.

Leciona Fernanda Tartuce (2018, p. 206) que uma das principais diferenças entre
a Mediação e a Conciliação reside na impossibilidade de o Mediador sugerir. Além
do mais, a abordagem das questões que envolvem o litígio muda em cada
mecanismo. “Na mediação, as questões subjetivas costumam ter maior espaço
porque envolvem relações continuadas, enquanto na conciliação o foco tende a ser
objetivo, porque as interações entre os envolvidos costumam ser episódicas”.

Em suma, na Mediação o objetivo é a resolução do conflito gerado, em regra, num


contexto de relações previamente existentes e duradouras, como nos casos de
família, por exemplo, enquanto que na Conciliação busca-se objetivamente
alcançar o acordo entre partes com relações eventuais, como negociais ou de
consumo.

Faz-se mister tal pontuação acerca dos tópicos antagônicos dos institutos, haja
vista que nem sempre a solução para o litígio é eficaz a por fim ao conflito, pois,
enquanto este tem como fato gerador questões substabelecidas dentro de
determinada relação, aquele é apenas o resultado da controvérsia, ou seja, o litígio
é apenas a ponta do iceberg. Por isso, tem-se a Mediação como um instrumento de
transformação das relações, o acordo alcançado seria tão somente o resultado da
reconstrução da ligação preexistente entre os mediandos através da facilitação da
conversa pelo mediador.

A guisa de tais considerações, contata-se que o objeto da Mediação é a busca pela


restauração das relações sociais subjacentes ao caso, sendo essa sua principal
característica, essa que, outrossim, falta à Conciliação, pois a intenção deste
ultimo é alcançar o fim da controvérsia sem se preocupar em, de fato, resolver as
questões por trás daquela demanda. Leciona Fernanda Tartuce (2018, p. 207) que:

“O mediador usa estratégias (como o uso de perguntas) para


favorecer o diálogo, sendo sua função aumentar e melhorar a
comunicação entre as pessoas para que elas possam decidir o
que é melhor para si”.

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Na análise dos institutos de composição consensual no Direito Norte-Americano,


vislumbra-se a existência tão somente do termo Mediação. Nesta legislação
alienígena, a prática que mais se assemelha à Conciliação no Brasil é a intitulada
de Mediação “Avaliativa”, essa que na lição do professor Humberto Dalla (2015, p.
813), “ocorre quando o intermediador adota uma postura mais ativa” para além de
facilitar o diálogo entre as partes. Ele vai “principalmente interagir com elas,
apresentar soluções, buscar caminhos não pensados pelas mesmas, fazer
propostas, admoestá-las de que determinada proposta está muito elevada ou de
que outra proposta está muito baixa”.

No método mediativo a busca pela transformação das relações é


instrumentalizada com o estímulo à comunicação para que a solução seja sempre
originada do diálogo (facilitado pelo Mediador) entre as partes e, se necessária a
realização de tantas quantas sessões se façam necessárias ao fim a que se destina a
autocomposição. Na Conciliação, como o foco principal é o acordo com vista a
evitar o desenrolar do feito judicial, é autorizado ao Conciliador,
excepcionalmente, propor solução. Ocorrendo de forma objetiva em apenas uma
audiência em regra.

São corriqueiras as dúvidas quanto ao perfil do ato autocompositivo na prática no


ambiente Judiciário, se de fato o que ocorre é a Conciliação ou Mediação, tendo
em conta que o próprio Código de Processo Civil em algumas situações faz
referência aos termos de forma conjunta, como se nota dos artigos 334 e 695, do
NCPC, in verbis:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos


essenciais e não for o caso de improcedência liminar do
pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,
devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de
antecedência.

Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas


as providências referentes à tutela provisória, o juiz ordenará
a citação do réu para comparecer à audiência de mediação
e conciliação, observado o disposto no art. 694.

É possível ao terceiro imparcial que, diante das peculiaridades do caso concreto,


utilize o mecanismo que achar mais apropriado. Por exemplo, considerando a
natureza do conflito de uma demanda de família onde se discute a partilha de bens

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que tem como fato gerador o divórcio, pode o isento utilizar-se da técnica da
Mediação. Em se tratando de uma demanda judicial sobre relação de consumo,
diante da relação pontual e objetiva, o método possivelmente escolhido pelo
Mediador/Conciliador será a Conciliação.

Há ainda a possibilidade da prática híbrida dos métodos consensuais de Mediação


e Conciliação. Nada impede que o Mediador, vendo frustradas as tentativas de
fazer com que as partes apresentem saídas ao fim do conflito, proponha a solução
que entender adequada, todavia, a partir do momento da propositura desta
solução, resta desconfigurada a Mediação, passando então a ser denominado o ato
de Conciliação. Ressalta-se que, em ambos os mecanismos, as partes não são
obrigadas a chegar a um acordo, pois, falta à essência dos métodos consensuais
entelados o poder vinculante, ou seja, a força obrigatória – cogente característica
da jurisdição contenciosa. Todavia, obtido o acordo, este servirá como título
executivo capaz de subsidiar uma eventual Ação Cumprimento de Sentença, caso o
acordo seja homologado judicialmente, ou Execução de Título Extrajudicial
quando realizada a autocomposição fora do ambiente e sem a submissão à
chancela do judiciário. Nestes casos, a transação pode ser realizada pela
Defensoria Pública, pelo Ministério Público, pela Advocacia Pública, pelos
Advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por
tribunal, exegese do artigo 784, IV, do NCPC.

2.AS AÇÕES DE FAMÍLIA

É cediço que a família é um núcleo de elevada importância para a construção e


consolidação de uma sociedade, mas também apresenta-se como salutar à
formação de seus próprios membros. Diante do caráter continuativo, para lidar
com os conflitos inerentes ao convívio familiar, necessita-se da prática constante e
aperfeiçoada do diálogo. Todavia, em razão do nível de afetividade e sentimento
elevados, por vezes a comunicação entre os entes pode restar prejudicada e
resultar em ações judiciais.

Segundo lecionam Nery Júnior e Andrade (2016, p. 1625):

Ação de Família pode ser definida como aquela na qual as


partes lidam com questões vinculadas às relações de família,
ligadas às obrigações estipuladas pela lei ou pelas próprias
partes em decorrência dos vínculos de afetividade e/ou
consanguinidade que as conectam, e que se inicia de forma
litigiosa.

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Atento às peculiaridades das relações familiares e das ações delas originárias o


legislador processualista civil reservou um capítulo inteiro para tratar dos
procedimentos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção de
união estável, guarda divórcio, visita e filiação, partindo do artigo 693 até o 699,
que tem como título; “DAS AÇÕES DE FAMÍLIA”, onde são estabelecidas as
diretrizes a serem adotadas quando o litígio tiver como objeto relação de
parentesco, sempre com ênfase na resolução consensual das controvérsias, como
será demonstrado a seguir.

2.1 A MEDIAÇÃO JUDICIAL FAMILIAR

Corroborando com os demais dispositivos do CPC e da Lei de Mediação, que


instigam a adoção dos meios consensuais para resolução dos conflitos, o artigo
694, do Novel Códex Ritualístico Civil manifesta expressamente o pensamento que
vem sendo desenvolvido de forma evolutiva na seara judicial. O referido
dispositivo é peremptório ao afirmar que: “nas ações de família, todos os esforços
serão empreendidos para a solução consensual da controvérsia”.

Nesta esteira, exemplificativamente, no divórcio ou na dissolução de união estável


entre um casal sem filhos, o consenso, inclusive na fase judicial deve ser
estimulado, pois, o fim do vínculo conjugal pode não por termo à relação existente
entre as partes, haja vista que, em caso de dependência econômica, a obrigação de
alimentar é legitima1 (#sdfootnote1sym) , fazendo assim, perdurar o laço, agora do
ponto de vista obrigacional. Ademais, outrossim, a relação continuativa restará
ininterrupta “ad eternum” se o casal possuir filhos. Em casos como esse, somente
as partes conhecem os detalhes de suas situações e possibilidades, o que evidencia
que a potencial decisão por elas alcançada é indicada em detrimento daquela
imposta na fase vinculante do processo. Razões pelas quais as previsões legais
concernentes aos métodos autocompositivos judiciais apresentam-se como
lídimas.

Nas demandas de família, segundo o artigo 695, do NCPC, recebida a petição


inicial o juiz tomará as medidas necessárias em caso de tutela provisória, se for o
caso, e, em seguida designará, de plano, audiência para a autocomposição entre as
partes.

Segundo MARCATO, Ana, et al. (2016), no sentido diverso do procedimento


comum do CPC, o artigo 695, não dá margem para a aplicação das mesmas
exceções, sendo designação da audiência em toda demanda familiar obrigação do
juízo.

Nesse sentido, enquanto no procedimento comum será possível a dispensa da


audiência, no procedimento especial das ações de família não haverá essa
possibilidade. Entendimento que vem também sendo adotado pela jurisprudência

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pátria da qual extrai-se recente julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do


Sul. In Verbis:

APELAÇÃO CIVIL. DIVÓRCIO. ALIMENTO E GUARDA


AOS FILHOS MENORES. JULGAMENTO ANTECIPADO.
NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE
CONCILIAÇÃO. CERCEAMENTO DO DEFESA.
NULIDADE. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. 1). Caso em que a
renda comprovada do apelante autoriza a concessão da
gratuidade de justiça. 2). a especialidade das ações de Direito
de Família torna obrigatória a audiência de mediação e
conciliação, segundo o previsto nos artigos 694 e art. 695 do
CPC. Caso em que o prazo para contestação passa a correr
somente a partir de frustrada conciliação, nos termos do
artigo 997, combinado com o 335 do CPC. No caso, para
além de no próprio mandado citatório constar a referência
de que a audiência seria designada pelo juiz titular, o
procedimento adotado na origem, ao não oportunizar a
conciliação e julgar antecipadamente o processo, gera
nulidade, seja pela falta da tentativa de conciliação, seja pelo
cerceamento de defesa do réu, que legitimamente aguardava
o início do prazo de resposta a partir da audiência.
Consequentemente, procede o pleito recursal pela nulidade
da sentença. DERAM PROVIMENTO. (Apelação Cível N°
7007569309, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 30/08/2018).

Assim, o magistrado não poderá deixar de designar audiência inaugural, sob pena
de nulidade e cerceamento de defesa. Neste ponto, ressalte-se que em razão dos
princípios da voluntariedade, orientador dos métodos autocompositivos, as partes
não devem ser obrigadas à composição consensual, sob pena de desvirtuamento
do conceito de “consensual”, que significa, em sua literalidade, a concordância de
opiniões. Ademais, posicionamento em contrário violaria a própria efetividade do
mecanismo, posto que, expressa manifestação das partes em desfavor da
realização do ato autocompositivo indica mínima possibilidade de acordo efetivo.

Fazendo previsão idêntica àquela do procedimento comum, o artigo 695, §4º, do


NCPC, determina que obrigatoriamente as partes estejam acompanhadas de
Advogado ou Defensor público. Inobstante a Mediação privilegiar a autonomia da
vontade das partes, a participação de um profissional jurídico na assistência ao
litigante apresenta-se como imprescindível, pois, embora as questões fáticas
tenham prevalência sobre os aspectos de Direito, um olhar técnico sobre os
direitos transacionáveis, despido das emoções pelas quais, em regra, estão
tomadas as partes, possibilitará a tomada da melhor decisão em prol da resolução
consensual e informada.

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3. ANÁLISE DE DADOS

No decorrer da discussão bibliográfica, demonstrou-se a importância dos meios


consensuais na resolução do litígio familiar, uma vez que proporciona aos próprios
envolvidos obterem a solução para suas demandas. É partindo dessa premissa que
será analisado os dados obtidos pela pesquisa de campo, descrita inicialmente na
metodologia.

No entanto, é válido ressaltar que a amostra obtida na presente pesquisa foi


pequena, em virtude do número reduzido de advogados na Comarca de Pacatuba
nas questões familiares, haja vista que boa parte dos litigantes serem assistidos
pela Defensoria Pública.

A análise descrita a seguir será constituída pelas seguintes temáticas: 3.1. O perfil
socioeducacional do advogado e a disciplina de mediação na grade curricular; 3.2.
A mediação durante a militância e a percepção do advogado acerca da
autocomposição; 3.3. A concepção acerca da autocomposição familiar no âmbito
do Judiciário e atuação do advogado na mediação judicial familiar.

3.1 O PERFIL SOCIOEDUCACIONAL DO ADVOGADO E A DISCIPLINA


DE MEDIAÇÃO NA GRADE CURRICULAR

É certo que o nível de qualificação influencia sobremaneira os resultados obtidos


por qualquer profissional. Com o operador do Direito não seria diferente. Dessa
forma, buscando identificar o perfil socioeducacional do advogado que atua na
seara de família formularam-se questões objetivas com o fito de identificar a
idade, o sexo, a formação acadêmica, bem como a presença da disciplina de
mediação durante a graduação.

Estudo científico desenvolvido por pesquisadora do Estado de São Paulo2


(#sdfootnote2sym) ao tratar do perfil educacional do advogado conclui que é de
homens o maior número de Mestres e Doutores, enquanto as mulheres
predominam como especialistas. Desta forma, inobstante o escasso material
doutrinário encontrado sobre a temática, demonstraram-se os resultados obtidos.

FORMAÇÃO ACADÊMICA3 (#sdfootnote3sym)

IDADE SEXO/ M SEXO/ F G P-G LS P-G SS MS DR

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18-23 0 1 1 0 0 0 0

24-29 8 5 11 1 1 0 0

30-35 5 5 3 5 2 0 0

36-41 3 0 1 2 0 0 0

42-47 2 2 3 0 1 0 0

48-53 2 2 2 2 0 0 0

54-59 0 1 0 1 0 0 0

TOTAL 20 16 21 11 4 0 0

Tabela 1. Perfil socioeducacional do advogado.

Constatou-se que dentre os 36 advogados entrevistados 20 são do sexo masculino


e 16 do sexo feminino, o que coaduna com a afirmação feito por Bonelli (2013).
Com relação à formação acadêmica, pôde-se observar um número maior restrito à
graduação, no total de 21, seguido da pós-graduação latu sensu, no número de 11.
Houve um número reduzido de Mestres, no total de 4 e nenhum Doutor, o que
denota dos profissionais do direito maior interesse pela militância do que pela
qualificação acadêmica.

O ensino jurídico no Brasil, durante muito tempo, teve suas diretrizes curriculares
voltadas com maior ênfase aos métodos essencialmente adversariais.

Diante da necessidade de solidificar a educação afeta à matéria dos mecanismos


autocompositivos nos bacharelados em Direito por todo o país, um grupo de
pesquisadores se reuniu na I Jornada Prevenção e Resolução extrajudicial de
conflitos” coordenada pelo ministro do STJ Luis Felipe Salomão, resultando com a
aprovação do enunciado 24, que trouxe o seguinte texto:

“Sugere-se que as faculdades de direito instituam disciplinas autônomas e


obrigatórias e projetos de extensão destinados à mediação, à conciliação e
à arbitragem, nos termos dos arts. 2º, § 1º, VIII, e 8º, ambos da
Resolução CNE/CES n. 9, de 29 de setembro de 2004”.

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Nessa esteira, buscou-se identificar se os entrevistados cursaram a


disciplina de mediação durante a graduação e em caso positivo se era
eletiva/optativa ou mínima (obrigatória) tendo sido obtidos os seguintes
resultados:

CURSOU

A DISCIPLINA MÍNIMA NÃO


ELETIVA
CURSOU
DE (obrigatória)
MEDIAÇÃO

9 9 18

TOTAL 9 9 18

Tabela 2: A disciplina de mediação na grade curricular

Dos 36 entrevistados, 18 afirmaram ter cursado a disciplina durante a graduação,


porém, 9 destes cursaram de forma obrigatória e 9 de forma eletiva, ou seja, não
obrigatória. Observou-se dos dados coletados que 18 dos profissionais
entrevistados não cursaram a disciplina durante a academia, o que faz ratificar a
ideia de se fortalecer o contencioso na grade curricular em detrimento dos
métodos alternativos de solução de conflitos, gerando dessa forma a formação de
profissionais despreparados para atuar com essa perspectiva conciliatória.

Percebe-se, portanto, que a formação do advogado ainda é essencialmente voltada


para o sistema contencioso, onde se busca na figura do magistrado a solução
adequada. Nas palavras da professora e mediadora TARTUCE (2018, p. 111):

“A formação romanistica induz a aceitar tão somente o


magistrado investido nas funções jurisdicionais como
autoridade apta a definir as situações jurídicas, o que
acarreta certa perplexidade quando da consideração sobre
aderir à formas consideradas ‘alternativas’ de solução de
conflitos”

A mudança cultural que privilegia os métodos consensuais traz grande impacto na


formação da mentalidade dos operadores do Direito e, por tanto, depende em
grande medida da reestruturação do ensino jurídico, com inserção de

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conhecimentos e disciplinas sobre mecanismos consensuais de solução de


conflitos e o tratamento adequado deles na estrutura curricular.4
(#sdfootnote4sym)

3.2. A MEDIAÇÃO DURANTE A MILITÂNCIA E A PERCEPÇÃO DO


ADVOGADO ACERCA DA AUTOCOMPOSIÇÃO

A cultura do litígio, arraigada na sociedade, traz a falsa percepção de que a melhor


forma de se dirimir um conflito é fazendo do outro perdedor para que, via de
consequência, saia-se vitorioso. Com os advogados não seria de forma diversa. É
comum encontrar patronos que não acreditam no acordo.

Para muitos deles, abrir mão de algo objetivando a resolução consensual da


controvérsia é como desperdiçar os longos anos de academia traduzidos no vasto
conhecimento sobre leis, jurisprudências e institutos jurídicos. Ainda existe muita
resistência aos métodos consensuais de resolução de conflitos por parte dos
advogados, principalmente àqueles com mais anos de militância.

Na lição de José Renato Nalini (2015, p.42) para a mudança desse cenário será
necessário: “a) superar o judicialismo, o praxismo e o normativismo, com a adoção
de modelos mais abertos – talvez poliparadigmáticos; e b) substituir a educação
tradicional – bancária – por um modelo educacional crítico, reflexivo, interativo e
inovador”.

As questões formuladas neste tópico objetivaram justamente identificar o tempo


de militância na seara de família, bem como se o advogado participou de algum
evento ou curso voltado às práticas de família, bem como acerca se o entrevistado
experimentou vivências negativas nas audiências de mediação e conciliação no
âmbito do judiciário.

PARTICIPOU DE CURSOS
VOLTADOS ÀS PRÁTICAS
TEMPO DE MILITÂNCIA Nº DE CONSENSUAIS
NA SEARA DE FAMÍLIA ADVOGADOS

SIM NÃO

< 1 ANO 7 3 0

01 A 05 ANOS 17 12 5

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06 A 10 ANOS 8 6 4

11 A 15 ANOS 2 1 0

16 A 20 ANOS 3 3 2

21 A 25 ANOS 0 1 0

26 A 30 ANOS 0 0 0

26 A 30 ANOS 0 0 0

31 A 35 ANOS 0 0 0

36 A 40 ANOS 0 0 0

TOTAL: 36 25 11

Tabela 3. Tempo de militância na seara de participação de cursos


voltados às práticas consensuais durante a militância.

Corroborando com o dito em linhas anteriores os resultados expendidos na tabela


3, demonstra que dos 36 entrevistados 17 tem entre 01 a 05 anos de militância na
seara de família, sendo entre esses operadores do direito o maior número de
participação em cursos voltados às práticas consensuais, com 12 Advogados
indicando terem participado de formação sobre tais mecanismos.

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Gráfico 4: Experiências negativas com os métodos consensuais


durante a militância.

Pode-se observar do gráfico 4, que 22 advogados confirmaram terem vivenciado


experiências negativas com os métodos consensuais no âmbito do judiciário,
enquanto 14 responderam nunca terem experimentado dissabores na prática da
militância em audiências de mediação e conciliação.

É certo que a militância representa exercício desafiador para o Advogado, pois, o


sucesso profissional dependerá de constante atualização e aprimoramento das
técnicas jurídicas necessárias ao ramo do Direito escolhido.

Todavia, existe ainda certo misoneísmo quando o tema é mediação, conciliação ou


outro mecanismo consensual de resolução de controvérsia. Certamente, as
experiências negativas vivenciadas em audiências autocompositivas pelos
entrevistados estão atrelados a fatores como: desconfiança da sua efetividade;
preocupação de alguns advogados de que o método possa reduzir seu retorno
financeiro; inércia de alguns magistrados em alterar sua forma de atuação5
(#sdfootnote5sym) .

3.3. A CONCEPÇÃO ACERCA DA AUTOCOMPOSIÇÃO FAMILIAR NO


ÂMBITO DO JUDICIÁRIO E ATUAÇÃO DO ADVOGADO NA
MEDIAÇÃO JUDICIAL FAMILIAR

A concepção do advogado acerca da autocomposição foi questionada com objetivo


de identificar como o operador do direito, subjetivamente, com base na sua
experiência na militância, compreende a adequação dos métodos de resolução de
controvérsias. Diante das citadas premissas formularam-se as seguintes
indagações através de itens de múltiplas e simultâneas escolhas: a) qual o método
mais adequado às peculiaridades das demandas de família? b) quais os benefícios
dos métodos autocompositivos no âmbito do judiciário? c) acredita na
transformação das relações por meio da mediação? Obtiveram-se os seguintes
resultados.

MÉTODO ADEQUADO DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS Nº DE ADVOGADOS

NEGOCIAÇÃO 8

MEDIAÇÃO 25

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CONCILIAÇÃO 20

ARBITRAGEM 1

JURISDIÇÃO 2

TOTAL: 36 36

Tabela 5: Método adequado de solução de conflitos.

Conforme se verifica da tabela 5, onde os entrevistados puderam optar por mais de


um item, o predomínio da mediação como método indicado como mais
apropriado à resolução dos litígios judiciais na seara de família, com 25
indicações, seguida pela conciliação com 20 advogados afirmado ser o mecanismo
mais adequado de solução de controvérsias na seara de família. Os menores
números foram constatados na jurisdição, com 2 das indicações, seguido pela
arbitragem, que conteve somente 1 entrevistado, como método adequado de
solução de controvérsias na seara de família

Os números obtidos, com prevalência da Mediação, corroboram com conclusão


obtida por LOUREIRO, Antônio, et al, 2019, que considerando a especificidade
das questões de Direito de Família, destaca o procedimento da mediação familiar
como forma viável para a resolução do conflito6 (#sdfootnote6sym) .

No item a seguir procurou saber dos entrevistados os benefícios dos métodos


autocompositivos, como demonstra na tabela abaixo:

BENEFÍCIOS DOS MÉTODOS AUTOCOMPOSITIVOS Nº DE ADVOGADOS

RAPIDEZ 2

ECONOMIA FINANCEIRA 34

DESCONGESTIONAMENTO 8

MELHOR REMUNERAÇÃO 11

NENHUM BENEFÍCIO 0

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TOTAL: 36

Tabela 6: Quais os benefícios da autocomoposição.

A tabela 6, onde os entrevistados puderam optar por mais de um item, demonstra


que dos 36 entrevistados, 34 afirmaram que os métodos autocompositivos
promovem uma economia financeira, haja vista que não se terá despesas
processuais, bem como despesas adversas que se tem durante o acompanhamento
de um processo; 11 dos entrevistados vislumbraram a autocomposição como a
melhor forma de remuneração, uma vez que um acordo, que por mais que não
possibilite um honorário advocacio de valor maior, irá ser compensado pelos
gastos menores advindos do acompanhamento de um processo; 8 dos
entrevistados indicaram que os métodos autocompositivos favorecem ao
descongestamento do judiciário, uma vez evitar o excesso de demandas judiciais;
porém, 2 dos advogados entrevistados afirmaram ser os métodos
autocompositivos o meio mais rápido para a resolução dos conflitos. Dos 36
entrevistados, nenhum deles afirmaram que os métodos autocompositivos não
traziam nenhum benefício.

Nesse sentido, também se projeta LOUREIRO, Antônio, et al, 2019 acerca dos
benefícios da autocomposição, ao postular que a “informalidade traz benefícios e
agilidade à resolução do conflito (Tartuce, 2008). Nota-se que com a
informalidade da mediação há maior rapidez na solução da lide, garantindo um
procedimento mais célere e menos custoso”.

Ainda dentro do contexto das consequências da mediação, procurou-se saber se o


advogado acredita na transformação das relações por meio da mediação. O
resultado pode ser visualizado na figura abaixo:

Gráfico 7: Acredita na transformação das relações por meio da


mediação?

A maior parte dos entrevistados afirmou que acredita na mediação como forma de
transformação das relações familiares. Dos 36 advogados participantes, apenas 5
discordaram.

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Neste ponto, insta salientar que a transformação das relações, embora aqui tenha
sido abordada de forma apartada, é tratada por GRANDE, Patrícia e QUEIROZ,
Flávia, 2017 como benefício advindo da mediação. In verbis:

Cegos nessa visão, acabamos por ignorar os benefícios que


podem advir de um enfrentamento consciente. E nesse
sentido, a mediação tem conquistado seu espaço como
instrumento eficaz para solução de conflitos através da
abordagem transformativa, propondo o empoderamento dos
envolvidos, encorajando-os a protagonizar a solução do
conflito através da cultura de diálogo e responsabilidade.

Com o advento da Lei de Mediação


(https://www.migalhas.com.br/depeso/256903/o-papel-do-advogado-na-
mediacao#_blank) (lei 13.140/2015) e do novo CPC
(https://www.migalhas.com.br/depeso/256903/o-papel-do-advogado-na-
mediacao#_blank) (lei 13.105/15) que incentiva o método, a
mediação ganhou destaque e desde então, muito se fala das
características do método, sendo possível destacar inúmeros
benefícios aos envolvidos, que vão da celeridade à
transformação das relações.Esses benefícios, no entanto,
pressupõem que as pessoas participem da mediação de
forma consciente, mesmo porque, a mediação é uma
maneira de solucionar o conflito com segurança jurídica
plena.

A atuação o advogado foi explorada a partir do questionamento acerca da postura


adotada no momento da contratação. Deram-se aos entrevistados as seguintes
opções a) analisa as possibilidades de propositura de um acordo? b) orienta a
parte a não aceitar qualquer acordo? c) explica a sistemática da audiência
enfatizando que a decisão sobre a demanda caberá aos litigantes? d) instrui o
cliente para que deixe as mágoas ou sentimentos ruins de lado com vista ao
reestabelecimento da comunicação, possibilitando assim o acordo? e) não fala
nada para o cliente antes da audiência. Deixa que tudo fique por conta do
mediador e das partes durante a audiência? Obtiveram-se os seguintes resultados:

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Gráfico 8: A atuação do advogado da mediação judicial familiar

Da análise do gráfico 8, onde os entrevistados puderam optar por mais de um


item, 25 advogados indicaram que a mediação favorece a uma “analise das
possibilidades de propositura de um acordo”; já 8 entrevistados optaram em
afirmar que a mediação explica a sistemática da audiência enfatizando que a
decisão sobre a demanda caberá aos litigantes. Percebe-se ainda que 19 advogados
vêm a mediação como uma forma de instruir o cliente de deixar as mágoas ou
sentimentos ruins de lado com vista ao reestabelecimento da comunicação,
possibilitando assim o acordo. E por fim nenhum dos entrevistados assinalou que
a mediação orienta a parte a não aceitar qualquer acordo.

Para GRANDE, Patrícia e QUEIROZ, Flávia, 2017, “A presença do advogado na


mediação é fundamental e deve acontecer em todas as suas fases, que vão da
escolha pelo método ao termo de encerramento.” Dessa forma, as autoras
entendem que a atuação do advogado deve ser iniciada previamente, ainda na fase
de pré-mediação, fazendo todos os esclarecimentos necessários ao cliente, haja
vista, inclusive a pouca difusão dos métodos consensuais entre os jurisdicionados.

Não restam dúvidas que a efetividade do mecanismo consensual dependerá, em


um primeiro momento, de tais esclarecimentos, uma vez que “as pessoas ainda
estão habituadas a litigar em processos judicias”, cujos atos diferem em essência
da técnica empregada na mediação familiar, ainda que no ambiente do judiciário.

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1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma das consequências da sociabilidade humana é surgimento dos conflitos de


interesses, afinal cada pessoa tem suas próprias predileções que em algum
momento poderão colidir com a do outro. Logo, o conflito não necessariamente
demoniza o homem, mas qualifica a sua personalidade. Porém, quando esse
conflito de interesses vai além da afirmação do eu pessoal e busca agredir física ou
psicologicamente o outro, é maléfico e por tal precisa ser resolvido de uma forma
mais justa possível.

Para tal ressaltou-se ao longo desse artigo, que a resolução dos conflitos de
interesses vem sendo encorajada no decorrer dos tempos pela jurisdição
contenciosa, onde se pode ter a miragem de um ganhador e de um perdedor e
consequentemente da justiça.

Essa ideia firmou-se por muito tempo na doutrina do Direito e nos currículos
acadêmicos, de modo que o estudante de Direito só era orientado a ter uma visão
contenciosa de resolução de conflitos, o que impossibilitava as partes envolvidas
no litigio a participarem ativamente da resolução do mesmo, uma vez que essa era
deixada a encargo de um terceiro – o juiz. Tal concepção pôde ser vislumbrada na
pesquisa realizada, onde se constatou que a metade dos entrevistados não tinha
cursado, durante a vida acadêmica, nenhuma disciplina sobre os métodos
autocompositivos, o que possibilita a formação de profissionais sem o real
conhecimento das práticas e das vantagens desses métodos.

Com o fulcro de romper com o paradigma da judicialização, o nosso legislador


editou a Lei. 13.105/2015 – o novo CPC – e a Lei. 13.140 – Lei da Mediação, as
quais inovaram ao introduzir a mediação e a conciliação como pressupostos da
resolução dos conflitos. Nesse novo contexto buscou-se identificar no presente
trabalho o papel do advogado durante a mediação judicial familiar. Da pesquisa
realizada pôde-se constatar que a presença do advogado durante a mediação é
essencial para orientar as partes sobre os argumentos necessários que deverão ser
levantados na busca da resolução do conflito, bem como o esclarecimento dos seus
direitos. Observou-se ainda que boa parte dos advogados que participaram da
pesquisa acreditava que a mediação favorece a propositura de um acordo e
consequentemente na resolução do litígio.

Pôde-se constatar ainda que um dos maiores benefícios da atuação do advogado


qualificado nas audiências de conciliação e mediação, é a economia financeira que
obtém, uma vez que não terá os gastos financeiros do acompanhamento de um
processo judicial. Ainda sob essa óptica, observou-se ainda que os métodos
autocompositivos promovem o descongestionamento do judiciário, haja vista que
os conflitos de interesses são resolvidos pelas próprias partes.

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Não obstante, se ter demonstrado que a mediação e conciliação promovem a


resolução dos conflitos de forma mais célere e justa, ainda é uma realidade
distante da prática forense. Urge a mudança da concepção da jurisdição
contenciosa para a resolução dos conflitos pelos métodos autocompositivos. Para
tal deve ser reformulado os currículos universitários com ênfase em disciplinas
que abordem a matéria, de modo a construir entre os alunos um raciocínio
jurídico centrado na autocomposição.

Uma sociedade sem conflitos inexiste. Mas os conflitos resolvidos pelas próprias
partes, de uma forma pacífica e igualitária, demonstra o quão essa sociedade é
evoluída no seu contexto humana.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, André Gomma de (org). Manual de Mediação Judicial. Conselho


Nacional de Justiça, 6ª ed. Brasília, 2016.

BRASIL. I Jornada “prevenção e solução extrajudicial de litígios”, Brasília, (2016).


Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal. Enunciados
Aprovados. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/Lei/L13140.htm (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/Lei/L13140.htm#_blank) . Acesso em: 15 de abril de 2018.

BRASIL. CC (2002). Código Civil. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 01 de
junho de 2020.

BRASIL. CPC (2015). Código de Processo Civil. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#_blank) . Acesso
em: 15 de abril de 2019.

BRASIL. Lei 13.140 (2015). Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio
de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública. Disponível em:

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03/05/2021 O PAPEL DO ADVOGADO NA MEDIAÇÃO FAMILIAR - Jus.com.br | Jus Navigandi

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Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2016.

1 (#sdfootnote1anc) . BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil Brasileiro

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros
os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua
condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens
suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de
quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.

2 (#sdfootnote2anc) . BONELLI. Rev. bras. Ci. Soc. vol.28 no.83 São Paulo Oct. 2013

A literatura específica tem encontrado um predomínio da especialização entre os


homens, ficando as mulheres confinadas às áreas e atividades mais rotineiras,
formando enclaves femininos na profissão. Em pesquisa realizada em 2008,
observou-se esse padrão, mas nas informações recolhidas nos sites das sociedades
de advogados paulistas isso não se confirmou, o que demonstra uma distinção
nessa elite profissional. Entre os sócios, homens e mulheres apresentaram a
mesma proporção de estudos pós-graduados (61%), sendo que eles tinham mais
formação de mestrado e doutorado strictu senso e elas mais pós-graduação lato
senso e MBA, entre outros.

3 (#sdfootnote3anc) . G= graduação; P-G LS= Pós-Graduação Latu Sensu; P-G SS=


Pós-Graduação Stritu Sensu em direito de família; MS= Mestrado; DR=
Doutorado

4 (#sdfootnote4anc) . Alex Alckmin de Abreu. O ensino Jurídico e o tratamento


adequado de conflitos” (2016, p. 92)

5 (#sdfootnote5anc) . VALENTE, Rubem, et al. Mediação privada como solução


de conflitos, São Paulo, ano 19, julho/2019. Disponível em:
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https://jus.com.br/imprimir/85789/o-papel-do-advogado-na-mediacao-familiar 27/28
03/05/2021 O PAPEL DO ADVOGADO NA MEDIAÇÃO FAMILIAR - Jus.com.br | Jus Navigandi

6 (#sdfootnote6anc) . LOUREIRO, Antônio, et al. A Mediação Familiar como


Método Viável e Eficaz na Resolução de Conflitos Familiares, São Paulo,
ano 04/07/2019. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
civil/a-mediacao-familiar-como-metodo-viavel-e-eficaz-na-resolucao-de-
conflitos-familiares/> Acesso em: 14 de julho de 2020.

Autores
Claudemir Bezerra de Almeida Filho

Cecília Lobo Marreiro

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são divulgados na Revista Jus Navigandi.

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