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PARADOXO DA CORTE
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12/02/2022 23:06 ConJur - A linguagem jurídica exige precisão técnica
Não obstante, dúvida não há de que a arbitragem é regida por textos legais específicos: lei
da arbitragem e, subsidiariamente, regulamento das câmaras de arbitragem, não sendo
aplicáveis, excetuando-se algumas específicas situações, as regras do Código de Processo
Civil.
O artigo 21 desse referido capítulo contém seis vezes o vocábulo procedimento, sendo que,
no respectivo §3º, o legislador equivocou-se ao utilizar "procedimento" ao invés de
empregar o termo "processo", que seria o correto.
O regulamento de arbitragem do CAM-CCBC, nos itens 5.2, letra "i", 7.4 e 12.11, alude
corretamente a "despesas do processo", "estado do processo" e "extinção do processo". Nos
itens 7.6, 11.3, 11.4 e 14.2, contudo, ao se referir a aspectos do objeto e aos autos do
processo arbitral, utiliza mal a locução "procedimento arbitral". Estes e muitos outros erros
plasmam também o regulamento do Centro de Arbitragem da AMCHAM.
Seja como for, na minha experiência como árbitro, observo que, possivelmente pelo supra-
aludido título do capítulo IV da Lei da Arbitragem ("Do Procedimento Arbitral"), não
apenas o regulamento da maioria das câmaras de arbitragem, mas também árbitros
especialistas, empregam, de modo errôneo e impreciso, a expressão "procedimento
arbitral" no lugar de "processo arbitral". Esse equívoco, na verdade, é comezinho!
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12/02/2022 23:06 ConJur - A linguagem jurídica exige precisão técnica
de atos coordenados — verdadeiro método —, que se vão justapondo, num espaço ideal, ou
procedimento.
E essa distinção, como se sabe, "além de ter dado o passo decisivo para a autonomia do
direito processual, ao isolar a relação material da processual, implicou igualmente postura
metodológica renovadora, abrindo caminho para passar-se a entrever o fenômeno
processual não mais como mero procedimentalismo, mas sim dentro da perspectiva da
atividade, poderes e faculdades do julgador e das partes. A sedimentação dessas ideias
obrou com que hoje se encontre pacificado o entendimento de que o procedimento não deve
ser apenas um pobre esqueleto sem alma, tornando-se imprescindível ao conceito a
regulação da atividade das partes e do órgão julgador, conexa ao contraditório paritário e
ainda ao fator temporal, a fatalmente entremear essa mesma atividade" (Carlos Alberto
Alvaro de Oliveira, "Do formalismo no processo civil", 3ª ed., São Paulo, Saraiva, 2012,
pág. 36; Salvatore Satta, Dalla procedura civile al diritto processuale civile, Rivista
trimestrale di diritto e procedura civile, Milano, Giurffrè, 1964, pág. 31 e ss).
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12/02/2022 23:06 ConJur - A linguagem jurídica exige precisão técnica
É de ter-se presente, destarte, que as atividades do árbitro e das partes nos domínios do
processo arbitral efetivam-se e se concatenam em um procedimento, no qual cada um
desses atores dispõe de poderes, deveres, faculdades e ônus, todos exercidos em
cooperação e em contraditório, numa autêntica relação jurídica processual.
José Rogério Cruz e Tucci é sócio do escritório Tucci Advogados Associados, ex-
presidente da AASP, professor titular sênior da Faculdade de Direito da USP e membro da
Academia Brasileira de Letras Jurídicas.
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