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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

Quinta Câmara Cível

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002
APELANTE: MUNICÍPIO DE NITERÓI
APELADO: MARTA DIAS MIGUEL

Relatora: DESEMBARGADORA DENISE NICOLL SIMÕES

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO ADMINISTRATIVO.


RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO ESTADO
POR OMISSÃO. QUEDA DECORRENTE DE TROPEÇO
EM BURACO NA VIA. FALTA DO SERVIÇO. DEVER DE
INDENIZAR. COMPROVADA A CULPA, O DANO E O
NEXO DE CAUSALIDADE. Legitimidade passiva do Réu
para figurar no polo passivo da demanda. Teoria da
asserção. Competência do município de cuidar das vias
públicas e fiscalizar a prestação do serviço de manutenção
prestado por empresa pública por ele criada. Precedentes
STJ. Responsabilidade civil subjetiva por falta do serviço.
Omissão culposa do Município caracterizada, na medida em
que não diligenciou, de forma adequada, a manutenção da
via pública, que o torna responsável pelos danos que dessa
omissão possam advir. Conduta negligente. Artigo 30 da
Constituição Federal. Precedente STJ. Fotos tiradas no dia e
no momento do acidente demonstram o buraco na via e as
lesões que a queda sofrida em razão do tropeço lhe
ocasionaram, sendo todas corroboradas pelos laudos
médicos dos locais em que Autora foi atendida após o
acidente. Comprovação do dano e do nexo de causalidade.
Ausência de prova do Réu apta a desconstituir sua
responsabilidade. Dever de reparação. Danos morais
caracterizados. Valor da indenização de R$ 10.000,00
condizente com os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. Pequena reforma da sentença somente
para fixar que os juros sejam aplicados conforme índice de
remuneração da caderneta de poupança e correção
monetária pelo IPCA-E. PARCIAL PROVIMENTO DO
RECURSO.

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Assinado em 03/12/2020 21:05:26


DENISE NICOLL SIMOES:17538 Local: GAB. DES(A) DENISE NICOLL SIMOES
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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação cível nº 0039262-


53.2017.8.19.0002, ACORDAM, os Desembargadores que compõem esta E. 5ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em CONHECER E
DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto que segue.

RELATÓRIO

Trata-se de apelação cível interposta pelo Réu Município de Niterói,


contra sentença, que em ação de indenização por danos morais julgou procedente o
pedido, condenando o ente público a indenizar a Autora.

Na inicial (index 3), em síntese, relata a Autora que no dia 02/02/2017


caminhava no Largo da Batalha, após efetuar compras no supermercado, quando ao
atravessar a rua em direção à Rua Ver. Armando Ferreira, tropeçou em um buraco no
meio da via pública, o que resultou em sua queda.

Narra que foi socorrida por transeuntes, que entraram em contato com
sua irmã, que a levou à Policlínica Regional do largo da Batalha e após foi
encaminhada à unidade de urgência Mario monteiro, com diagnóstico de trauma no
punho e fratura distal do rádio.

Discorre que em 24/03/2017 foi internada para realização de cirurgia no


rádio do braço esquerdo, no qual foi necessário enxerto retirado de seu abdome para
enxertar na mão esquerda.

Requer, em razão da responsabilidade do município em conservar a via


pública, a procedência do pedido, com a condenação do Réu em indenização por dano
moral no valor de R$10.000,00 (dez mil reais).

Documentos que instruem a inicial (index 12).

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002

Deferimento de Gratuidade de Justiça ao Autor (index 26).

Contestação do Município (index 38), em que preliminarmente argui


ilegitimidade passiva, atribuindo que esta seria da empresa pública (EMUSA) criada
pelo município para conservação das vias públicas.

No mérito afirma que não restou comprovada a suposta omissão


específica da Municipalidade, nem o nexo causal gerador do dano, elementos estes
imprescindíveis para se ter como configurada a responsabilidade civil do Estado, lato
sensu. Alega ainda a inexistência de danos morais decorrentes do acidente. Requer a
improcedência da demanda.

Réplica (index 63).

O Juízo da 9ª Vara Cível da Comarca de Niterói prolata sentença de


procedência nos seguintes termos (índex 101):

“Isto posto, julgo procedente o pedido inicial, e condeno o


réu, ao pagamento em indenização por dano moral no valor
de R$10.000,00 (dez mil reais), acrescidos de juros da data
do fato e correção monetária desta data; mais custas e
honorários de 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação. P.R.I.”

Apelação do Município de Niterói (index 113), argui novamente sua


ilegitimidade passiva, com os mesmos argumentos da contestação, arguindo ainda que
seria do proprietário do imóvel a conservação do buraco que ocasionou o acidente.

No mérito, assim como na contestação, afirma que não restou


comprovada a omissão específica do Município e nem o nexo causal para a
caracterização da sua responsabilidade. Requer a improcedência dos pedidos e
subsidiariamente a redução do valor da condenação em danos morais. Requer ainda a
aplicação dos juros conforme artigo 1º F da lei 9494/2009.

Manifestação da D. Procuradoria (index 000145).

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002
VOTO

Em juízo de admissibilidade, reconheço a presença dos requisitos


extrínsecos e intrínsecos, imprescindíveis à interposição do recurso.

Trata-se de demanda em que a parte Autora objetiva compensação por


danos morais, decorrentes de queda, após tropeço em buraco na via pública, que lhe
resultou lesões, alegando conduta omissiva do Município de Niterói em preservar a via
pública.

Inicialmente necessário afastar a alegação de ilegitimidade passiva do


Município Réu, ora Apelante, vez que vez que adota o CPC, a Teoria da Asserção, que
orienta a verificação da legitimidade e do interesse conforme afirmado pelo Autor na
inicial.

In casu, segundo a teoria adotada, se a inicial aponta o Réu, como


responsáveis pelos danos sofridos, estão eles habilitados a ocupar o polo passivo da
relação processual. No decorrer do processo, caso se verifique que o direito alegado
em relação a parte apontada como Ré não existe, o Magistrado extinguirá o processo
com resolução do mérito.

Neste Sentido:

“0293202-21.2009.8.19.0004 – APELAÇÃO Des(a).


TERESA DE ANDRADE CASTRO NEVES - Julgamento:
22/08/2018 - SEXTA CÂMARA CÍVEL ADMINISTRATIVO.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. QUEDA OCASIONADA PELA
EXISTENCIA DE BURACO NA CALÇADA. LEGITIMIDADE
PASSIVA DO MUNICIPIO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA PREVISTA NO ARTIGO 37, § 6°, CRFB.
APLICAÇÃO DAS DISPOSIÇÕES CONTIDAS NO CTB.
OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DANO MORAL
CONFIGURADO. SENTENÇA DE PROCEDENCIA.
INCONFORMISMO. APELAÇÃO. 1- Afasta-se a arguição de
ilegitimidade passiva ad causam do Réu, porquanto que pela
teoria da Asserção, os fatos articulados pela Autora devem
ser aferidos de acordo com suas afirmações. 2- Rejeição da

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002
preliminar. 3- Cerceamento de defesa que também se
afasta, pois em nenhum momento o Réu ficou impedido de
produzir provas e quando questionado pelo juízo,
expressamente as dispensou. 4- Se o Réu tinha dúvida
acerca da autenticidade da filmagem constante no DVD,
deveria ter requerido a prova técnica no sentido de afastar a
sua integridade. 5- As impugnações apresentadas em
razões de recurso deveriam ter sido feitas no momento
oportuno, tendo se operado o fenômeno da preclusão. 6-
Autora pretende reparação por danos morais, em razão de
uma queda que sofreu em buraco existente no passeio
público. 7- Omissão do Município-réu, decorrente do
descumprimento do dever legal de conservação de forma
adequada e eficiente, de logradouro público destinado ao
trânsito de pessoas. 8- Responsabilidade civil do Município
que tem o dever legal de manutenção das ruas e
logradouros públicos. 9- Prevalece o art. 37. § 6º, da
Constituição da República. 10- Ainda que o Réu sustente
que se aplica aqui a teoria da responsabilidade subjetiva,
que a manutenção seria de do proprietário do imóvel
particular, por conta do que dispõe a Lei Municipal n°
040/2005, tal fato não afasta a responsabilidade do
Município que detinha o dever de fiscalizar o correto
cumprimento da referida legislação, o que está no âmbito de
atuação da Prefeitura. 11- Aplica-se às disposições do artigo
1º § 3º, do Código de Transito Brasileiro, uma vez que a
calçada é parte da via pública reservada ao trânsito de
pedestres. Precedentes do STJ. 12- Conjunto probatório dos
autos que comprovam o dano e nexo causal. Violação do
dever legal de manutenção dos logradouros públicos. 13 -
Prestação insuficiente do serviço público. 14- Conforme o
que se verifica na filmagem constante do DVD é um
acentuado buraco na calçada, em localidade facilmente
identificável pelo Réu, pois concentra intenso movimento de
pessoas, significativa área de comércio (lojas e vendedores
ambulantes), parada de coletivos e etc., representando
perigo para o trânsito de pedestres no local. 15- Dano moral

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002
configurado. 16- Quantum indenizatório fixado em R$
7.000,00 (sete mil reais) atende aos aspectos, punitivo
educativo e aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. 16- NEGATIVA DE PROVIMENTO AO
RECURSO.”

Quanto a sua alegação que seria incompetente também porque a


conservação de calçadas é de competência do proprietário do imóvel, trata-se de
inovação recursal, não merecendo análise.

Passo ao mérito.

No que se refere a danos da administração pública por omissão,


necessário se faz distinguir omissão genérica da específica. A omissão é específica
quando o Estado tem o dever de evitar o dano. Já a omissão genérica é aquela em que
o Estado não tem meios de impedir, por meio de seus agentes, danos aos seus
administrados.

Neste sentido, quando há omissão específica do Estado, este responde


objetivamente pelos danos causados, independente de dolo ou culpa, conforme o
artigo 37, parágrafo 6 da Constituição Federal.

Ainda, quando não for possível a identificação do agente causador do


dano, necessário se faz, para que o Estado seja responsabilizado, que vítima
comprove que não houve serviço, que o serviço funcionou mal ou foi ineficiente. É a
chamada responsabilidade civil subjetiva por culpa anônima ou falta do serviço,
modalidade de responsabilidade subjetiva da administração pública, que é o caso dos
autos.

Assim, a faute du service não é responsabilidade objetiva e sim subjetiva,


pois fundada na culpa ou dolo. A omissão pode ser uma condição para que outro
evento cause o dano, mas ela mesma (omissão) não pode produzir o efeito danoso. O
Estado responde por omissão quando, devendo agir, não o fez, incorrendo no ilícito de
deixar obstar aquilo que podia impedir e estava obrigado a fazê-lo.

Neste sentido as lições de Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso de


Direito Administrativo 30ª edição, página 1026)

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002

(...) 3. Quando o dano foi possível em decorrência de uma


omissão do Estado (o serviço não funcionou, funcionou
tardia ou ineficientemente) é de aplicar-se a teoria da
responsabilidade subjetiva. Com efeito, se o Estado não
agiu, não pode, logicamente, ser ele o autor do dano. E, se
não foi o autor, só cabe responsabilizá-lo caso esteja
obrigado a impedir o dano. Isto é: só faz sentido
responsabilizá-lo se descumpriu dever legal que lhe impunha
obstar ao evento lesivo. Deveras, caso o Poder Público não
estivesse obrigado a impedir o acontecimento danoso,
faltaria razão para impor-lhe o encargo de suportar
patrimonialmente as consequências da lesão. Logo, a res-
ponsabilidade estatal por ato omissivo é sempre
responsabilidade por comportamento ilícito. E, sendo
responsabilidade por ilícito, é necessariamente
responsabilidade subjetiva, pois não há conduta ilícita do
Estado (embora do particular possa haver) que não seja pro-
veniente de negligência, imprudência ou imperícia (culpa)
ou, então, deliberado propósito de violar a norma que o
constituía em dada obrigação (dolo). Culpa e dolo são
justamente as modalidades de responsabilidade subjetiva.”

Caracterizada está a omissão culposa do Município in casu, na medida


em que não diligenciou, de forma adequada, a manutenção da via pública, conforme
lhe exige o artigo 30 da Constituição Federal, a caracterizar, segundo o C. Superior
Tribunal de Justiça, conduta negligente, que o torna responsável pelos danos que
dessa omissão possam advir.

Confira-se:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. BURACO


EM PASSEIO PÚBLICO. QUEDA DE MUNÍCIPE.
AUSÊNCIA DE TAMPA DE PROTEÇÃO OU SINALIZAÇÃO
NO LOCAL. DEMONSTRAÇÃO DE RELAÇÃO DE CAUSA
E EFEITO ENTRE O ATO OMISSIVO E O ACIDENTE.

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002
DANOS IRREVERSÍVEIS E IRREPARÁVEIS.
INCAPACITAÇÃO PARCIAL. INDENIZAÇÃO DEVIDA.
PRECEDENTE. 1. Recurso Especial interposto contra v.
Acórdão que julgou improcedente ação de indenização por
danos sofridos com a queda da recorrente em buraco no
passeio público. 2. Para que se configure a responsabilidade
objetiva do ente público basta a prova da omissão e do fato
danoso e que deste resulte o dano material ou moral. 3. O
exame dos autos revela que está amplamente demonstrado
que o acidente ocorreu, que das sequelas dele decorreram
danos irreversíveis e irreparáveis e que não havia tampa de
proteção no buraco ou sinalização que pudesse tê-lo
evitado. 4. A ré só ficaria isenta da responsabilidade civil se
demonstrasse o que não foi feito - que o fato danoso
aconteceu por culpa exclusiva da vítima. 5. A imputação de
culpa lastreia-se na omissão da ré no seu dever de, em se
tratando de via pública (passeio público), zelar pela
segurança dos munícipes e pela prevenção de acidentes. 6.
Jurisdição sobre o passeio público de competência da ré e a
ela incumbe a sua manutenção e sinalização, advertindo,
caso não os conserte, os transeuntes dos perigos e dos
obstáculos que se apresentam. A falta no cumprimento
desse dever caracteriza a conduta negligente da
Administração Pública e a torna responsável pelos danos
que dessa omissão advenham. 7. Os tributos pagos pelos
munícipes devem ser utilizados, em contrapartida, para o
bem estar da população, o que implica, dentre outras obras,
a efetiva melhora das vias públicas (incluindo aí as calçadas
e passeios públicos). 8. Estabelecido o nexo causal entre a
conduta omissiva e o acidente ocorrido, responde a ré pela
reparação dos prejuízos daí decorrentes. 9. Precedente da
1ª Turma desta Corte Superior. 10. Recurso provido. (REsp
474986 / SP, Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA,
DJ 24/02/2003 p. 215)

Reitere-se que o fato de ter criado empresa pública para execução do


serviço por meio de descentralização administrativa não afasta sua responsabilidade,

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002
vez que a titularidade e competência para prestação permanece sua, conforme artigo
30 da Constituição Federal, tendo, portanto, o dever de fiscalizar o serviço prestado
pela empresa pública por ele criada para execução do serviço.

Neste sentido:

(AgInt no AREsp 1472956 / AM, Rel. Ministro FRANCISCO


FALCÃO, SEGUNDA TURMA, DJe: 18/11/2019)
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVA.
RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO.
INDENIZAÇÃO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO ART.373
DO CPC/15. DANOS MORAIS E MATERIAIS.
COMPROVAÇÃO. PRETENSÃO DE REEXAME FÁTICO-
PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7 DA
SÚMULA DO STJ. I - Trata-se, na origem, de ação
pretendendo indenização por danos morais e materiais em
decorrência dos prejuízos suportados na sua residência, em
razão de rompimento de tubulação de drenagem de águas
pluviais. Na sentença, julgou-se procedente o pedido
condenando a municipalidade ao pagamento de indenização
por danos morais e materiais. No Tribunal a quo, a sentença
foi mantida. Nesta Corte, conheceu-se do agravo para não
conhecer do recurso especial. II - Com relação à alegação
de violação do art. 373, I, do CPC/2015, verifica-se que o
Tribunal a quo se assentou no acervo probatório dos autos
para entender pela configuração da responsabilidade civil do
recorrente, bem como pela comprovação dos danos
pleiteados pela recorrida, senão vejamos (fl 149): "[...] 2.4.
Os elementos de prova coligidos nos autos demonstram
claramente que houve falta do serviço (culpa anônima) a
revelar responsabilidade subjetiva do ente estatal, seja por
negligência na conservação da rede de drenagem, seja pela
ausência de fiscalização da edificação sabidamente fincada
em cima do traçado do sistema, seja porque se alastram, de
maneira pública e notória, os caso de acidentes por
perecimento desassistido do antigo sistema de drenagem
de águas pluviais da cidade de Manaus. 2.5.Os danos

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materiais foram comprovados pelo Apelado na medida do
possível (fls. 20 - 22), não se constatando dentre os bens
readquiridos nada de irrazoável ou desproporcional. Além
disso, não houve impugnação específica por parte do
Apelante quanto aos objetos ou preços em si, mas apenas
contestação geral, aduzindo que o orçamento e as notas
ficais não são suficientes para demonstrar que os bens
readquiridos equivalem exatamente ao que foi perdido no
alagamento. [...].

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO


ESTADO. LEGITIMIDADE ATIVA DO CONDUTOR DO
VEÍCULO. OMISSÃO DO ESTADO. RESPONSABILIDADE
SUBJETIVA. CULPA DEMONSTRADA NA ESPÉCIE.
ACIDENTE DE VEÍCULOS EM CRUZAMENTO.
SEMÁFORO DEFEITUOSO. CULPA CONCORRENTE DO
MUNICÍPIO E DO MOTORISTA QUE TRAFEGAVA NA VIA
EM QUE O SINAL ESTAVA INOPERANTE. AUSÊNCIA DE
CULPA DO CONDUTOR DO VEÍCULO QUE TRANSITAVA
PELA RUA EM QUE O SEMÁFORO ESTAVA VERDE. "Tem
legitimidade ativa ad causam para o pleito o motorista que
se achava ao volante do veículo quando do evento e
padeceu o prejuízo dele advindo, pois detém a posse do
veículo e pode responsabilizar-se perante o proprietário"
(AGA 556.138/RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 5.4.2004). No
campo da responsabilidade civil do Estado, se o prejuízo
adveio de uma omissão do Estado, ou seja, pelo não-
funcionamento do serviço, ou seu funcionamento tardio,
deficiente ou insuficiente, invoca-se a teoria da
responsabilidade subjetiva. Na espécie, a colisão entre os
veículos, ocorrida no cruzamento entre duas ruas, deveu-se
ao fato de que um dos semáforos do cruzamento estava
verde e o outro, inoperante; ausente qualquer sinalização
sobre o defeito no semáforo. Assim, como bem enfatizou a
Corte de origem, "evidente a responsabilidade do Município
pelo dever de conservar a sinaleira em regular estado de

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funcionamento. No caso dos autos, deveria ter
providenciado alguma indicação do defeito que tornou
inoperante o semáforo, porquanto há notícia de que dois
outros acidentes ocorreram no mesmo local, fato que não é
impugnado na contestação" (fl. 122). In casu, portanto,
restou caracterizada a culpa do Município recorrido ao não
ter colocado sinalização evidenciando que naquele
cruzamento um dos semáforos não estava acionado. (...)
(REsp 471606/SP Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO,
SEGUNDA TURMA, DJe 12.09.2005)

O dano e o nexo causal também restaram demonstrados pela Autora por


meio dos documentos acostados com a inicial.

As fotos (index 12) tiradas no dia e no momento do acidente demonstram


o buraco na via e as lesões que a queda sofrida em razão do tropeço lhe ocasionaram,
sendo todas corroboradas pelos laudos médicos dos locais em que Autora foi atendida
após o acidente, sendo certo que o Réu, ora Apelante, não trouxe aos autos qualquer
prova que pudesse quebrar o nexo causalidade ou desconstituir as alegações da
Autora.

Neste sentido:

“0300786-41.2015.8.19.0001 – APELAÇÃO Des(a).


HENRIQUE CARLOS DE ANDRADE FIGUEIRA -
Julgamento: 20/02/2018 - QUINTA CÂMARA CÍVEL
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO. PROCESSO CIVIL. LEGITIMIDADE. QUEDA EM
BURACO EM VIA PÚBLICA. DANO MORAL. DANO
MATERIAL. JUROS. TERMO INICIAL. Ação indenizatória de
danos causados por queda de pedestre ao cair em buraco
em via pública aberto por obra do Réu. Correta a
legitimidade passiva do Município do Rio de Janeiro como
orienta a teoria da asserção porque a causa de pedir e o
pedido o vinculam ao feito. A responsabilidade civil das
pessoas jurídicas de direito público possui apenas natureza
objetiva como regula o artigo 37, § 6º, da Constituição da

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Apelação Cível nº 0039262-53.2017.8.19.0002
República, a obstar a análise do elemento culpa, próprio da
responsabilidade subjetiva. O Município tem o dever de zelar
pela segurança das pessoas que transitam nas vias
públicas, sendo manifesta a falha no serviço ao deixar a via
esburacada por obra, o que provocou a queda da Autora. O
dano material consiste nas despesas suportadas pela Autora
e devidamente provadas nos autos. Exclui-se da
condenação o recibo sem data e sem vínculo com o
acidente. Manifesto o dano moral derivado do sofrimento
pela queda, além da angústia por se submeter ao tratamento
médico durante 6 (seis) meses. A reparação do dano moral
observa o evento lesivo e suas consequências, além da
capacidade das partes conforme orienta o princípio da
razoabilidade. Valor fixado com parcimônia na sentença, a
merecer incremento. Sem interesse recursal o Réu ao
pleitear se determine o termo inicial dos juros de mora na
data da sentença porque esta os fixou a contar do trânsito
em julgado. A correção monetária do dano moral incide da
data do arbitramento. Orientação da Súmula nº 362, do E.
Superior Tribunal de Justiça. A condenação da pessoa
jurídica de direito público em honorários de advogado
observa os parâmetros do artigo 85, § 3º, do Código de
Processo Civil. Primeiro recurso provido. Segundo recurso
provido em parte, revista em parte a sentença no reexame
necessário.”

Quanto ao dano moral, da situação comprovada decorre in re ipsa, em


razão da repercussão do dano suportado pela vítima, tanto na esfera de suas
limitações funcionais quanto em seu âmago subjetivo.

No que se refere ao valor, deve ser arbitrado de modo a representar a


justa e devida reparação, adequando-se aos limites da razoabilidade, sem, contudo,
ultrapassar a extensão do dano, já que não atua como meio de enriquecimento, sendo
certo que no caso não houve a inclusão em cadastro restritivo.

Atende-se, ao Enunciado da Súmula nº 343 do TJRJ: “A verba


indenizatória do dano moral somente será modificada se não atendidos pela sentença

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os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da
condenação".

A indenização, assim, há de representar compensação razoável pelo


sofrimento experimentado, cuja intensidade deve ser considerada para fixação do
valor, aliada a outras circunstâncias peculiares de cada conflito de interesses, sem
jamais constituir-se em fonte de enriquecimento sem causa para o ofendido, nem,
tampouco, em valor ínfimo que o faça perder o caráter pedagógico-punitivo ao ofensor.

Nesse passo, há critérios norteadores que balizam o arbitramento, como a


repercussão do dano e a possibilidade econômica do ofensor e da vítima, sem olvidar
da vedação de constituir-se em fonte de lucro.

Nesse sentido o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça,


quando do julgamento do REsp 435119, verbis:

“RESP 435119 - Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira - DJ


29/10/2002) Indenização. Danos morais. Critérios para
indenização. Não há critérios determinados para a
quantificação do dano moral. Recomendável que o
arbitramento seja feito com moderação e atendendo às
peculiaridades do caso concreto. A indenização como tenho
enfatizado em precedentes, deve ser arbitrada em termos
razoáveis, não se justificando que a reparação venha a
constituir-se em enriquecimento indevido, com manifestos
abusos e exageros, devendo o arbitramento operar-se com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e à
gravidade da lesão. A par destas considerações, tenho que a
quantia encontrada pelo acórdão impugnado não se mostra
irrisória.”

Assim, à vista dos parâmetros supramencionados, a quantia arbitrada de


R$ 10.00,00 (dez mil reais), não merece reparo, vez que se adequa aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade.

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Quanto aos juros de mora da condenação, incidem segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança (artigo 1º-F da Lei 9.494/97, com
redação dada pela Lei n. 11.960/09) e a correção monetária pelo IPCA-E.

Em tais condições, VOTO no sentido de CONHECER E DAR PARCIAL


PROVIMENTO AO RECURSO PARA DETERMINAR QUE OS JUROS DE MORA DA
CONDENAÇÃO INCIDAM SEGUNDO INDÍCE OFICIAL DA CADERNETA E
POUPANÇA E CORREÇÃO MONETÁRIA PELO IPCA-E.

Rio de Janeiro, 03 de dezembro de 2020

Desembargadora DENISE NICOLL SIMÕES


Relatora

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