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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 292

Décima Sexta Câmara Cível


Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo

Apelação Cível: 0002731-56.2018.8.19.0026

APELANTE: MUNICÍPIO DE ITAPERUNA


APELADA: ANDREA DE OLIVEIRA ROCHA MORAES

ACÓRDÃO

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO ADMINISTRATIVO.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. QUEDA EM
BURACO LOCALIZADO EM VIA PÚBLICA COM
OCORRÊNCIA DE LESÕES. PRETENSÃO DE
REPARAÇÃO CIVIL POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
INCONFORMISMO MANIFESTADO PELA PARTE RÉ.
1- Responsabilidade objetiva do ente público. Inteligência
do art. 37, §6º, da CRFB/88. Alegação autoral de que
caiu em buraco localizado em via pública originado pelo
mau estado de conservação, resultando-lhe em fratura
em seu pé esquerdo;
2- Demonstrados a omissão específica do Município, em
razão da violação do dever de conservação da via
previsto no art. 18, II, a, de sua Lei Orgânica, e os danos
sofridos pela autora, na forma de farta documentação
apresentada, competiria ao ente-réu a comprovação do
rompimento do nexo causal, o que não ocorreu, atraindo
para o ora recorrente o dever de indenizar pelos danos
causados. Precedentes;
3- Danos materiais configurados. Os recibos e notas
apresentados guardam coerência tanto com as
necessidades experimentadas pela autora em
decorrência do acidente quanto com a data do evento
danoso, ensejando assim o reconhecimento dos danos
emergentes, na forma estabelecida pela sentença. Por
sua vez, os lucros cessantes restaram demonstrados,
ainda que sinteticamente, diante dos boletos emitidos
pela autora enquanto vendedora de cosméticos e da
indicação de afastamento das suas atividades laborais
atestada pelo profissional que atendeu a autora;
4- Danos morais configurados. O quantum arbitrado pelo
juízo sentenciante, qual seja, R$ 10.000,00 (dez mil
reais), se revela proporcional em uma análise segundo o
critério bifásico de arbitramento. Inteligência do verbete
sumular 343-TJRJ;
5- Majoração dos honorários sucumbenciais em novos
2% (dois por cento) sobre o valor da condenação ao
percentual objeto da condenação, a ser considerada
quando da liquidação do valor, em decorrência da
aplicação do art. 85, §11, do CPC/15;
6- Sentença mantida. Recurso desprovido.

MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO:29872 Assinado em 25/02/2022 16:55:49


Local: GAB. DES MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO
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Décima Sexta Câmara Cível
Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo

Apelação Cível: 0002731-56.2018.8.19.0026

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº


0002731-56.2018.8.19.0026, onde figuram como Apelante e Apelado as partes
preambularmente epigrafadas,

A C O R D A M os Desembargadores que integram a Décima


Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso interposto, nos termos
do voto do Desembargador Relator.

Cuida-se de Ação de Responsabilidade Civil ajuizada por ANDREA


DE OLIVEIRA ROCHA MORAES em face de MUNICÍPIO DE ITAPERUNA em
que pleiteia a autora a reparação civil por danos materiais, referentes às
despesas sofridas bem como aos lucros cessantes experimentados, e morais,
estes últimos arbitrados no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Sustenta para tanto que no dia 06/01/2018, por volta de 13h,


caminhava pela Rua Pio Nascimento Soares, na altura do nº 272, em direção à
residência de uma cliente, quando foi surpreendida com o abrupto
afundamento das pedras da citada via pública e que, ao passar pelo referido
afundamento, sofreu inúmeros ferimentos em seu pé esquerdo.

Alega ter sido encaminhada à UPA, com a imobilização de seu pé


naquela instalação. Aduz ter sido constatada a fratura de dois dedos e lesões
musculares do pé esquerdo, o que motivou a realização de consulta com
ortopedista e RX, além de sessões de fisioterapia, adimplidas pela parte
autora. Relata ter ficado impossibilitada de laborar até o dia 20 de fevereiro de
2018, sendo a sua atividade laboral consistente na venda de pães caseiros e
cosméticos.
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Foram acostados à inicial os documentos de fls. 13/79 –


00013/00043.

Decisão às fls. 124 – 00124 deferindo a gratuidade de justiça e


determinando a citação do Município-réu.

Devidamente citada, contesta a edilidade, fls. 129/139 – 00129,


arguindo a inépcia da inicial, diante da irregularidade da representação
processual. No mérito, requer a improcedência do pedido, suscitando dúvida a
respeito das fotos apresentadas, alegando não ser possível saber se todas elas
fazem menção à mesma localidade, destacando ainda, em uma delas, a
presença de funcionários estranhos à municipalidade promovendo a sua
correção.

Aponta ainda que a simples existência do aludido buraco não


comprova que a autora se lesionou ao passar por ele, bem como que seria
improvável que aquela não o tivesse visto ao caminhar pela rua, em razão de
seu tamanho e do horário alegado para o acidente. Salienta ainda que o buraco
em questão estaria na rua e não na calçada, onde a parte autora deveria de
fato estar circulando.

Relata, igualmente, que a parte Autora não aferiu medida a extensão


do seu dano, principalmente para os fins do cotidiano e do seu suposto
negócio. Destaca, ainda, que a existência do buraco não reparado
devidamente corresponde a um ato omissivo da municipalidade, salientando
que, na hipótese, a responsabilidade é subjetiva e não objetiva. Salienta, ainda,
a inexistência de nexo causal, a afastar a responsabilidade civil, uma vez que o
acidente se deu por culpa exclusiva da vítima.
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Réplica por cota às fls. 156 – 00156, refutando as afirmações


trazidas pelo réu, que, na forma alegada pela parte autora, em nada abalam a
sua pretensão.

Em provas, a parte autora requereu às fls. 160 – 00160 a produção


das provas testemunhal, depoimento pessoal e documental, enquanto que a
parte ré, às fls. 165 – 00165, requereu exclusivamente a produção de prova
documental.

Instado a se manifestar (fls. 167 – 00167), o parquet afirmou não


vislumbrar interesse que justifique a sua intervenção no feito, fls. 171/172 –
00171.

Decisão às fls. 175 – 00175 deferindo a produção de prova


documental e indeferindo as demais.

Processo administrativo acostado pela parte ré às fls. 200/206 –


00200/00201, a respeito do qual se manifestou a parte autora às fls. 223 –
00223.

Sentença às fls. 230/234 – 00230, julgando procedentes os pedidos


autorais para condenar o réu a compensar a parte autora pelos danos morais
sofridos, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), e a indenizá-la, ainda, pelos
danos materiais comprovados às fls. 20, 23, 25, 26 e 28 - 00017, e lucros
cessantes, a serem apurados em sede de liquidação de sentença por
arbitramento.

Condenou-se o demandado ao pagamento das custas e despesas


processuais, observada a isenção legal quanto às custas e o verbete sumular
145-TJRJ, quanto à Taxa Judiciária. Definiu o juízo, ainda, que o percentual
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dos honorários advocatícios será estabelecido após a liquidação do julgado,


nos termos do artigo 85, §4º, II do CPC.

Inconformado, apela o Município-réu, fls. 251/264 – 00251,


requerendo a reforma da sentença, com a improcedência dos pedidos autorais,
reafirmando os exatos termos de sua manifestação defensiva, quais sejam, a
ausência de comprovação do fato constitutivo do direito autoral, a observância
da responsabilidade civil subjetiva à hipótese e a culpa exclusiva da vítima a
afastar o nexo causal.

Contrarrazões às fls. 271/276 – 00271, em prestígio ao julgado.

É o relatório. Passo ao voto.

Presentes os requisitos, conheço do recurso.

Cinge-se a controvérsia recursal em aferir a responsabilidade civil


imputada ao Município de Itaperuna bem como a extensão dos danos
experimentados em razão das lesões sofridas pela autora, que ao trafegar por
via local, foi surpreendida pelo afundamento de um paralelepípedo, vindo a
sofrer lesões em seu pé esquerdo.

Inicialmente, faz-se oportuno salientar que a responsabilidade civil


do réu, ora recorrido, é objetiva, nos termos do disposto no artigo 37, §6º, da
Constituição da República que consagra a teoria do risco administrativo,
conforme abaixo transcrito:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa. Nesse sentido, uma vez comprovado o
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fato administrativo (conduta comissiva ou omissiva), bem como


a sua relação de causalidade com o dano suportado, restará
configurada a responsabilidade do ente público. Somente será
afastada a responsabilidade se o evento danoso resultar de
caso fortuito ou força maior ou decorrer de culpa da vítima.

Salientamos ainda que a conservação de vias públicas é de


competência da edilidade, conforme depreendemos de sua Lei Orgânica,
senão vejamos:

Art. 18 – Compete ainda ao município:


(...)
II – executar obras de:
a) abertura, pavimentação e conservação de vias;

Destacamos, ainda, que o referido entendimento ressoa na


jurisprudência desta Corte, senão vejamos:

0011847-23.2009.8.19.0052 – APELAÇÃO - Des(a). ELTON


MARTINEZ CARVALHO LEME - Julgamento: 12/12/2018 - DÉCIMA
SÉTIMA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE
CIVIL OBJETIVA DO MUNICÍPIO. QUEDA DA AUTORA EM VIA
PÚBLICA. RECONHECIMENTO PELO MUNICÍPIO.
COMPROVAÇÃO DO FATO, DO DANO E DO NEXO CAUSAL.
DESPESAS DEMONSTRADAS. IMPOSSIBILIDADE DE
RESSARCIMENTO DO VALOR RELATIVO AO APARELHO
CELULAR. DANOS ESTÉTICOS. COMPROVAÇÃO. LUCROS
CESSANTES E PENSIONAMENTO MENSAL. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO QUE A APOSENTADORIA DECORREU DO
ACIDENTE EM QUESTÃO. DANO MORAL. MAJORAÇÃO EM
ATENÇÃO AO ART. 944 DO CÓDIGO CIVIL. DANO ESTÉTICO
DEMONSTRADO. SUCUMBÊNCIA PARCIAL. DISTRIBUIÇÃO
PROPORCIONAL DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. PROVIMENTO
PARCIAL DO RECURSO. 1. Pretende a autora a condenação do réu
em danos materiais, estéticos, lucros cessantes e a majoração do
valor atribuído aos danos morais em razão de queda em via pública.
2. O Município, no desempenho de suas atividades, responde
objetivamente pelos danos causados a terceiros, nos termos do art.
37, § 6º, da Constituição Federal, afastando-se o dever de indenizar
apenas se ocorrer fortuito externo, fato exclusivo da vítima ou fato de
terceiro, o que não foi demonstrado no caso sob exame. 3.
Reconhecendo o município a queda da autora na rua de acesso à
entrada da prefeitura, e sendo esta queda, que ocasionou lesões
físicas significativas bem documentadas nos autos, decorrente da má
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conservação do piso de paralelepípedos, com desníveis e buracos,


impõe-se a obrigação de indenizar com base na omissão específica
do ente público. 4. Em razão da profunda e extensa cicatriz
permanente no ombro da autora, justifica-se o reconhecimento do
dano estético. 5. Possibilidade de cumulação de dano estético e
dano moral, conforme Súmula 387 do Superior Tribunal de Justiça. 6.
Dano moral evidenciado pela dor, sofrimento e abalo psicológico
sofridos pela autora, tendo em conta o tipo de lesão e o longo
período de tratamento, a atrair a majoração em atenção à
razoabilidade e proporcionalidade, à luz do art. 944 do Código Civil e
da Súmula 343 deste Tribunal. 7. Dano material, consubstanciado
nas despesas com consultas e exames médicos e ainda com
medicamentos e transporte, comprovado pelos documentos e notas
fiscais acostados aos autos, incidindo correção monetária a contar do
efetivo desembolso. 8. Descabe o pleito de pensionamento vitalício,
tendo em vista a ausência de comprovação que a incapacidade da
autora para o exercício de atividade laborativa decorreu do acidente
em questão. 9. Sucumbência parcial da autora, a ensejar a
distribuição proporcional dos ônus sucumbenciais. 10. Provimento
parcial do recurso.

Passando ao caso concreto, observamos que a autora comprova


devidamente tanto a existência do buraco em questão, o que se deve à falha
na conservação da via pública, atribuída ao Município-réu, quanto as lesões
sofridas, das quais se destaca a fratura em seu pé esquerdo, compatíveis com
o aludido acidente, na forma dos documentos que acompanham a inicial, fls.
17/28 – 00017.

Confrontado com tais elementos, que comprovam ao menos de


forma mínima a dinâmica dos fatos, o Município nada comprova no sentido do
rompimento do nexo causal entre a sua conduta omissiva e os danos
causados.

Salientamos, ademais, a imprestabilidade do único documento


apresentado pelo ente no sentido de comprovação das suas alegações,
especialmente o relatório e foto de fls. 205/206 – 00201, produzidos após o
ajuizamento da ação, que atestam a adequada conservação da via, uma vez
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que a própria autora documenta a sua inicial com imagens que demonstram o
início do trabalho de reparo no local (fls. 42 – 00040).

Desta feita, o caso é de manutenção da sentença proferida, no que


reconheceu a responsabilidade do ente réu para reparar os danos causados.

Passando aos danos materiais especificamente comprovados,


observamos, no tocante aos danos emergentes, que a autora apresenta nos
documentos mencionados em sentença notas fiscais de serviços e
medicamentos compatíveis tanto na especialidade (atendimento médico de
Traumato-Ortopedia e sessões de fisioterapia) quanto na cronologia com os
fatos narrados, ocorridos em 06/01/2018), de modo que se reputa devidamente
comprovada a sua ocorrência e delimitada a indenização, na forma dos
aludidos comprovantes.

Já no tocante aos lucros cessantes, observamos que a autora


comprova às fls. 43/79 – 00043 a atuação enquanto vendedora autônoma de
produtos da fabricante “Natura”, ao passo que às fls. 21 – 00021 consta
indicação médica de afastamento de suas atividades por 30 (trinta) dias. Assim,
o comprometimento da atividade restou igualmente demonstrado, na forma da
sentença que ora se mantém, inclusive quanto à determinação de liquidação do
valor devido sob esta rubrica.

Passando aos danos morais, verificamos igualmente a sua presença


in re ipsa, decorrente da presumida lesão a direito da personalidade decorrente
das dores, lesões físicas e da incapacidade temporária imposta à autora em
razão da queda em buraco existente em via municipal. Tal entendimento
igualmente se afigura confirmado na jurisprudência desta Corte, conforme
precedente supra.
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Analisando a quantificação dos danos, é sabido que não deve


constituir a indenização meio de locupletamento indevido do lesado e, assim,
deve ser arbitrada com moderação e prudência pelo julgador. Por outro lado,
não deve ser insignificante, considerando-se a situação econômica do ofensor,
eis que não pode constituir estímulo à manutenção de práticas que agridam e
violem direitos do consumidor. Com efeito, a falta de parâmetro para a fixação
do valor de indenização por dano moral não pode levar ao excesso,
ultrapassando os limites da razoabilidade e da proporcionalidade, sobretudo no
âmbito das relações de consumo, como no caso em comento, nem tampouco
mostrar-se irrisório.

A regra é a de arbitramento judicial e o desafio continua sendo a


definição de critérios que possam nortear o juiz na fixação do quantum a ser
dado em favor da vítima do dano injusto.

Em uma tentativa de reduzir a insegurança jurídica na fixação do


dano moral, conferindo ao tema um nível maior de estabilidade na
jurisprudência, tem sido desenvolvido no âmbito do Superior Tribunal de
Justiça o chamado método bifásico para o adequado arbitramento do dano
moral.

Busca-se com esse método um nível maior de isonomia ao


jurisdicionado diante de casos que sejam semelhantes, tornando mais razoável
e justo esse difícil mister do magistrado. Por ele, em um primeiro momento, o
julgador deverá comparar a situação de lesão a interesse jurídico
extrapatrimonial a outros equivalentes e chegar num valor que tenha sido
adotado em situações análogas, sendo esta a primeira fase.

Após esse primeiro momento que pressupõe o estudo dos


precedentes judiciais, devem ser analisadas as questões específicas do caso
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concreto como a reprovabilidade da conduta do ofensor, assim como a sua


capacidade econômica e a intensidade do sofrimento do ofendido ou, em
outras palavras, a extensão do dano (art. 944, caput, do Código Civil). É a
segunda fase em que, fundamentadamente, será arbitrado o dano.

Ensina o Ministro Luis Felipe Salomão, um dos defensores dessa


tese, que o método evita a arbitrariedade judicial no tocante ao subjetivismo da
fixação do dano moral e, ao mesmo tempo, se evita o equívoco de um
tarifamento dos valores (REsp 1.332.366/MS, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, julgado em 10/11/2016).

Sendo assim, em uma primeira fase, verifica-se que a jurisprudência


deste Tribunal de Justiça, em casos análogos, entendeu pela fixação de tais
danos em valores de até R$ 30.000,00 (trinta mil reais), conforme
depreendemos do precedente acima acostado, bem como do que se segue:

0023986-08.2006.8.19.0021 - APELACAO / REMESSA


NECESSARIA - Des(a). DANIELA BRANDÃO FERREIRA -
Julgamento: 29/07/2021 - NONA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MUNICÍPIO DE
DUQUE DE CAXIAS. QUEDA EM BURACO EXISTENTE NA VIA
PÚBLICA, DEVIDO A MÁ CONSERVAÇÃO. LESÕES NA COLUNA
DA APELADA, QUE DEMANDARAM INTERVENÇÃO CIRÚRGICA E
CAUSARAM INCAPACIDADE PARA TRABALHAR E POSTERIOR
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SENTENÇA QUE
CONDENOU A RÉ AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS, ESTÉTICOS E PENSIONAMENTO
TEMPORÁRIO. APELO DA PARTE RÉ. Provas testemunhal,
documental e pericial que comprovam as alegações da autora quanto
à queda no buraco, bem como as lesões sofridas. Laudo pericial que
demonstra que existe sequela em consequência ao acidente narrado
na inicial, uma vez que as lesões descritas (trauma na coluna lombar
com anterolistesis e hérnia discal), a despeito de haverem sido
tratadas cirurgicamente de forma satisfatória e protocolar, causaram
à autora severas limitações funcionais. Depoimento de testemunhas
que afirmaram a ocorrência do acidente na via pública. Culpa do réu
comprovada. Ocorrência de omissão e atuação deficiente do
Município que foram as causas determinantes do evento, eis que o
Município é o responsável pela fiscalização e manutenção das vias
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públicas. Pensionamento que foi proporcional à data do acidente e à


data da aposentadoria por invalidez, que se mostrou corretamente
fixado. Quantum indenizatório no patamar de R$30.000,00 (trinta mil
reais) e danos estéticos fixados em R$ 10.000,00 (dez mil reais) que
se mantém, à míngua de recurso da parte autora. Precedentes desta
e. Corte. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Passando à segunda fase, entendemos por razoável a fixação dos


danos pelo juízo a quo em patamar inclusive módico, na forma dos
precedentes retro, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em se
considerando o fator agravante de o autor depender da condução de seu
veículo para obtenção de renda.

Deve-se ainda invocar, por aplicável, o verbete sumular 343-TJRJ:

Nº. 343 “A verba indenizatória do dano moral somente será


modificada se não atendidos pela sentença os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da
condenação.” Referência: Processo Administrativo nº.
0013830-09.2015.8.19.0000 - Julgamento em 14/09/2015 –
Relator: Desembargadora Ana Maria Pereira de Oliveira.
Votação por maioria.

Por fim, em se considerando a manutenção da sentença, o caso é


de majoração da condenação ao pagamento de honorários, na forma do art.
85, §11, do CPC/15, o que se faz acrescentando 2% (dois por cento) sobre o
valor da condenação ao percentual objeto da condenação, a ser considerada
quando da liquidação do valor.

Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso


interposto.
Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2022.

Desembargador MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELO


Relator

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