RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. QUEDA EM BURACO LOCALIZADO EM VIA PÚBLICA COM OCORRÊNCIA DE LESÕES. PRETENSÃO DE REPARAÇÃO CIVIL POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INCONFORMISMO MANIFESTADO PELA PARTE RÉ. 1- Responsabilidade objetiva do ente público. Inteligência do art. 37, §6º, da CRFB/88. Alegação autoral de que caiu em buraco localizado em via pública originado pelo mau estado de conservação, resultando-lhe em fratura em seu pé esquerdo; 2- Demonstrados a omissão específica do Município, em razão da violação do dever de conservação da via previsto no art. 18, II, a, de sua Lei Orgânica, e os danos sofridos pela autora, na forma de farta documentação apresentada, competiria ao ente-réu a comprovação do rompimento do nexo causal, o que não ocorreu, atraindo para o ora recorrente o dever de indenizar pelos danos causados. Precedentes; 3- Danos materiais configurados. Os recibos e notas apresentados guardam coerência tanto com as necessidades experimentadas pela autora em decorrência do acidente quanto com a data do evento danoso, ensejando assim o reconhecimento dos danos emergentes, na forma estabelecida pela sentença. Por sua vez, os lucros cessantes restaram demonstrados, ainda que sinteticamente, diante dos boletos emitidos pela autora enquanto vendedora de cosméticos e da indicação de afastamento das suas atividades laborais atestada pelo profissional que atendeu a autora; 4- Danos morais configurados. O quantum arbitrado pelo juízo sentenciante, qual seja, R$ 10.000,00 (dez mil reais), se revela proporcional em uma análise segundo o critério bifásico de arbitramento. Inteligência do verbete sumular 343-TJRJ; 5- Majoração dos honorários sucumbenciais em novos 2% (dois por cento) sobre o valor da condenação ao percentual objeto da condenação, a ser considerada quando da liquidação do valor, em decorrência da aplicação do art. 85, §11, do CPC/15; 6- Sentença mantida. Recurso desprovido.
MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO:29872 Assinado em 25/02/2022 16:55:49
Local: GAB. DES MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 293 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
Apelação Cível: 0002731-56.2018.8.19.0026
Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº
0002731-56.2018.8.19.0026, onde figuram como Apelante e Apelado as partes preambularmente epigrafadas,
A C O R D A M os Desembargadores que integram a Décima
Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso interposto, nos termos do voto do Desembargador Relator.
Cuida-se de Ação de Responsabilidade Civil ajuizada por ANDREA
DE OLIVEIRA ROCHA MORAES em face de MUNICÍPIO DE ITAPERUNA em que pleiteia a autora a reparação civil por danos materiais, referentes às despesas sofridas bem como aos lucros cessantes experimentados, e morais, estes últimos arbitrados no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Sustenta para tanto que no dia 06/01/2018, por volta de 13h,
caminhava pela Rua Pio Nascimento Soares, na altura do nº 272, em direção à residência de uma cliente, quando foi surpreendida com o abrupto afundamento das pedras da citada via pública e que, ao passar pelo referido afundamento, sofreu inúmeros ferimentos em seu pé esquerdo.
Alega ter sido encaminhada à UPA, com a imobilização de seu pé
naquela instalação. Aduz ter sido constatada a fratura de dois dedos e lesões musculares do pé esquerdo, o que motivou a realização de consulta com ortopedista e RX, além de sessões de fisioterapia, adimplidas pela parte autora. Relata ter ficado impossibilitada de laborar até o dia 20 de fevereiro de 2018, sendo a sua atividade laboral consistente na venda de pães caseiros e cosméticos. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 294 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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Foram acostados à inicial os documentos de fls. 13/79 –
00013/00043.
Decisão às fls. 124 – 00124 deferindo a gratuidade de justiça e
determinando a citação do Município-réu.
Devidamente citada, contesta a edilidade, fls. 129/139 – 00129,
arguindo a inépcia da inicial, diante da irregularidade da representação processual. No mérito, requer a improcedência do pedido, suscitando dúvida a respeito das fotos apresentadas, alegando não ser possível saber se todas elas fazem menção à mesma localidade, destacando ainda, em uma delas, a presença de funcionários estranhos à municipalidade promovendo a sua correção.
Aponta ainda que a simples existência do aludido buraco não
comprova que a autora se lesionou ao passar por ele, bem como que seria improvável que aquela não o tivesse visto ao caminhar pela rua, em razão de seu tamanho e do horário alegado para o acidente. Salienta ainda que o buraco em questão estaria na rua e não na calçada, onde a parte autora deveria de fato estar circulando.
Relata, igualmente, que a parte Autora não aferiu medida a extensão
do seu dano, principalmente para os fins do cotidiano e do seu suposto negócio. Destaca, ainda, que a existência do buraco não reparado devidamente corresponde a um ato omissivo da municipalidade, salientando que, na hipótese, a responsabilidade é subjetiva e não objetiva. Salienta, ainda, a inexistência de nexo causal, a afastar a responsabilidade civil, uma vez que o acidente se deu por culpa exclusiva da vítima. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 295 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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Réplica por cota às fls. 156 – 00156, refutando as afirmações
trazidas pelo réu, que, na forma alegada pela parte autora, em nada abalam a sua pretensão.
Em provas, a parte autora requereu às fls. 160 – 00160 a produção
das provas testemunhal, depoimento pessoal e documental, enquanto que a parte ré, às fls. 165 – 00165, requereu exclusivamente a produção de prova documental.
Instado a se manifestar (fls. 167 – 00167), o parquet afirmou não
vislumbrar interesse que justifique a sua intervenção no feito, fls. 171/172 – 00171.
Decisão às fls. 175 – 00175 deferindo a produção de prova
documental e indeferindo as demais.
Processo administrativo acostado pela parte ré às fls. 200/206 –
00200/00201, a respeito do qual se manifestou a parte autora às fls. 223 – 00223.
Sentença às fls. 230/234 – 00230, julgando procedentes os pedidos
autorais para condenar o réu a compensar a parte autora pelos danos morais sofridos, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), e a indenizá-la, ainda, pelos danos materiais comprovados às fls. 20, 23, 25, 26 e 28 - 00017, e lucros cessantes, a serem apurados em sede de liquidação de sentença por arbitramento.
Condenou-se o demandado ao pagamento das custas e despesas
processuais, observada a isenção legal quanto às custas e o verbete sumular 145-TJRJ, quanto à Taxa Judiciária. Definiu o juízo, ainda, que o percentual Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 296 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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dos honorários advocatícios será estabelecido após a liquidação do julgado,
nos termos do artigo 85, §4º, II do CPC.
Inconformado, apela o Município-réu, fls. 251/264 – 00251,
requerendo a reforma da sentença, com a improcedência dos pedidos autorais, reafirmando os exatos termos de sua manifestação defensiva, quais sejam, a ausência de comprovação do fato constitutivo do direito autoral, a observância da responsabilidade civil subjetiva à hipótese e a culpa exclusiva da vítima a afastar o nexo causal.
Contrarrazões às fls. 271/276 – 00271, em prestígio ao julgado.
É o relatório. Passo ao voto.
Presentes os requisitos, conheço do recurso.
Cinge-se a controvérsia recursal em aferir a responsabilidade civil
imputada ao Município de Itaperuna bem como a extensão dos danos experimentados em razão das lesões sofridas pela autora, que ao trafegar por via local, foi surpreendida pelo afundamento de um paralelepípedo, vindo a sofrer lesões em seu pé esquerdo.
Inicialmente, faz-se oportuno salientar que a responsabilidade civil
do réu, ora recorrido, é objetiva, nos termos do disposto no artigo 37, §6º, da Constituição da República que consagra a teoria do risco administrativo, conforme abaixo transcrito:
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Nesse sentido, uma vez comprovado o Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 297 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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fato administrativo (conduta comissiva ou omissiva), bem como
a sua relação de causalidade com o dano suportado, restará configurada a responsabilidade do ente público. Somente será afastada a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortuito ou força maior ou decorrer de culpa da vítima.
Salientamos ainda que a conservação de vias públicas é de
competência da edilidade, conforme depreendemos de sua Lei Orgânica, senão vejamos:
Art. 18 – Compete ainda ao município:
(...) II – executar obras de: a) abertura, pavimentação e conservação de vias;
Destacamos, ainda, que o referido entendimento ressoa na
MARTINEZ CARVALHO LEME - Julgamento: 12/12/2018 - DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO MUNICÍPIO. QUEDA DA AUTORA EM VIA PÚBLICA. RECONHECIMENTO PELO MUNICÍPIO. COMPROVAÇÃO DO FATO, DO DANO E DO NEXO CAUSAL. DESPESAS DEMONSTRADAS. IMPOSSIBILIDADE DE RESSARCIMENTO DO VALOR RELATIVO AO APARELHO CELULAR. DANOS ESTÉTICOS. COMPROVAÇÃO. LUCROS CESSANTES E PENSIONAMENTO MENSAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO QUE A APOSENTADORIA DECORREU DO ACIDENTE EM QUESTÃO. DANO MORAL. MAJORAÇÃO EM ATENÇÃO AO ART. 944 DO CÓDIGO CIVIL. DANO ESTÉTICO DEMONSTRADO. SUCUMBÊNCIA PARCIAL. DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. 1. Pretende a autora a condenação do réu em danos materiais, estéticos, lucros cessantes e a majoração do valor atribuído aos danos morais em razão de queda em via pública. 2. O Município, no desempenho de suas atividades, responde objetivamente pelos danos causados a terceiros, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal, afastando-se o dever de indenizar apenas se ocorrer fortuito externo, fato exclusivo da vítima ou fato de terceiro, o que não foi demonstrado no caso sob exame. 3. Reconhecendo o município a queda da autora na rua de acesso à entrada da prefeitura, e sendo esta queda, que ocasionou lesões físicas significativas bem documentadas nos autos, decorrente da má Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 298 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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conservação do piso de paralelepípedos, com desníveis e buracos,
impõe-se a obrigação de indenizar com base na omissão específica do ente público. 4. Em razão da profunda e extensa cicatriz permanente no ombro da autora, justifica-se o reconhecimento do dano estético. 5. Possibilidade de cumulação de dano estético e dano moral, conforme Súmula 387 do Superior Tribunal de Justiça. 6. Dano moral evidenciado pela dor, sofrimento e abalo psicológico sofridos pela autora, tendo em conta o tipo de lesão e o longo período de tratamento, a atrair a majoração em atenção à razoabilidade e proporcionalidade, à luz do art. 944 do Código Civil e da Súmula 343 deste Tribunal. 7. Dano material, consubstanciado nas despesas com consultas e exames médicos e ainda com medicamentos e transporte, comprovado pelos documentos e notas fiscais acostados aos autos, incidindo correção monetária a contar do efetivo desembolso. 8. Descabe o pleito de pensionamento vitalício, tendo em vista a ausência de comprovação que a incapacidade da autora para o exercício de atividade laborativa decorreu do acidente em questão. 9. Sucumbência parcial da autora, a ensejar a distribuição proporcional dos ônus sucumbenciais. 10. Provimento parcial do recurso.
Passando ao caso concreto, observamos que a autora comprova
devidamente tanto a existência do buraco em questão, o que se deve à falha na conservação da via pública, atribuída ao Município-réu, quanto as lesões sofridas, das quais se destaca a fratura em seu pé esquerdo, compatíveis com o aludido acidente, na forma dos documentos que acompanham a inicial, fls. 17/28 – 00017.
Confrontado com tais elementos, que comprovam ao menos de
forma mínima a dinâmica dos fatos, o Município nada comprova no sentido do rompimento do nexo causal entre a sua conduta omissiva e os danos causados.
Salientamos, ademais, a imprestabilidade do único documento
apresentado pelo ente no sentido de comprovação das suas alegações, especialmente o relatório e foto de fls. 205/206 – 00201, produzidos após o ajuizamento da ação, que atestam a adequada conservação da via, uma vez Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 299 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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que a própria autora documenta a sua inicial com imagens que demonstram o início do trabalho de reparo no local (fls. 42 – 00040).
Desta feita, o caso é de manutenção da sentença proferida, no que
reconheceu a responsabilidade do ente réu para reparar os danos causados.
Passando aos danos materiais especificamente comprovados,
observamos, no tocante aos danos emergentes, que a autora apresenta nos documentos mencionados em sentença notas fiscais de serviços e medicamentos compatíveis tanto na especialidade (atendimento médico de Traumato-Ortopedia e sessões de fisioterapia) quanto na cronologia com os fatos narrados, ocorridos em 06/01/2018), de modo que se reputa devidamente comprovada a sua ocorrência e delimitada a indenização, na forma dos aludidos comprovantes.
Já no tocante aos lucros cessantes, observamos que a autora
comprova às fls. 43/79 – 00043 a atuação enquanto vendedora autônoma de produtos da fabricante “Natura”, ao passo que às fls. 21 – 00021 consta indicação médica de afastamento de suas atividades por 30 (trinta) dias. Assim, o comprometimento da atividade restou igualmente demonstrado, na forma da sentença que ora se mantém, inclusive quanto à determinação de liquidação do valor devido sob esta rubrica.
Passando aos danos morais, verificamos igualmente a sua presença
in re ipsa, decorrente da presumida lesão a direito da personalidade decorrente das dores, lesões físicas e da incapacidade temporária imposta à autora em razão da queda em buraco existente em via municipal. Tal entendimento igualmente se afigura confirmado na jurisprudência desta Corte, conforme precedente supra. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 300 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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Analisando a quantificação dos danos, é sabido que não deve
constituir a indenização meio de locupletamento indevido do lesado e, assim, deve ser arbitrada com moderação e prudência pelo julgador. Por outro lado, não deve ser insignificante, considerando-se a situação econômica do ofensor, eis que não pode constituir estímulo à manutenção de práticas que agridam e violem direitos do consumidor. Com efeito, a falta de parâmetro para a fixação do valor de indenização por dano moral não pode levar ao excesso, ultrapassando os limites da razoabilidade e da proporcionalidade, sobretudo no âmbito das relações de consumo, como no caso em comento, nem tampouco mostrar-se irrisório.
A regra é a de arbitramento judicial e o desafio continua sendo a
definição de critérios que possam nortear o juiz na fixação do quantum a ser dado em favor da vítima do dano injusto.
Em uma tentativa de reduzir a insegurança jurídica na fixação do
dano moral, conferindo ao tema um nível maior de estabilidade na jurisprudência, tem sido desenvolvido no âmbito do Superior Tribunal de Justiça o chamado método bifásico para o adequado arbitramento do dano moral.
Busca-se com esse método um nível maior de isonomia ao
jurisdicionado diante de casos que sejam semelhantes, tornando mais razoável e justo esse difícil mister do magistrado. Por ele, em um primeiro momento, o julgador deverá comparar a situação de lesão a interesse jurídico extrapatrimonial a outros equivalentes e chegar num valor que tenha sido adotado em situações análogas, sendo esta a primeira fase.
Após esse primeiro momento que pressupõe o estudo dos
precedentes judiciais, devem ser analisadas as questões específicas do caso Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 301 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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concreto como a reprovabilidade da conduta do ofensor, assim como a sua
capacidade econômica e a intensidade do sofrimento do ofendido ou, em outras palavras, a extensão do dano (art. 944, caput, do Código Civil). É a segunda fase em que, fundamentadamente, será arbitrado o dano.
Ensina o Ministro Luis Felipe Salomão, um dos defensores dessa
tese, que o método evita a arbitrariedade judicial no tocante ao subjetivismo da fixação do dano moral e, ao mesmo tempo, se evita o equívoco de um tarifamento dos valores (REsp 1.332.366/MS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 10/11/2016).
Sendo assim, em uma primeira fase, verifica-se que a jurisprudência
deste Tribunal de Justiça, em casos análogos, entendeu pela fixação de tais danos em valores de até R$ 30.000,00 (trinta mil reais), conforme depreendemos do precedente acima acostado, bem como do que se segue:
0023986-08.2006.8.19.0021 - APELACAO / REMESSA
NECESSARIA - Des(a). DANIELA BRANDÃO FERREIRA - Julgamento: 29/07/2021 - NONA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS. QUEDA EM BURACO EXISTENTE NA VIA PÚBLICA, DEVIDO A MÁ CONSERVAÇÃO. LESÕES NA COLUNA DA APELADA, QUE DEMANDARAM INTERVENÇÃO CIRÚRGICA E CAUSARAM INCAPACIDADE PARA TRABALHAR E POSTERIOR APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SENTENÇA QUE CONDENOU A RÉ AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, ESTÉTICOS E PENSIONAMENTO TEMPORÁRIO. APELO DA PARTE RÉ. Provas testemunhal, documental e pericial que comprovam as alegações da autora quanto à queda no buraco, bem como as lesões sofridas. Laudo pericial que demonstra que existe sequela em consequência ao acidente narrado na inicial, uma vez que as lesões descritas (trauma na coluna lombar com anterolistesis e hérnia discal), a despeito de haverem sido tratadas cirurgicamente de forma satisfatória e protocolar, causaram à autora severas limitações funcionais. Depoimento de testemunhas que afirmaram a ocorrência do acidente na via pública. Culpa do réu comprovada. Ocorrência de omissão e atuação deficiente do Município que foram as causas determinantes do evento, eis que o Município é o responsável pela fiscalização e manutenção das vias Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 302 Décima Sexta Câmara Cível Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo
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públicas. Pensionamento que foi proporcional à data do acidente e à
data da aposentadoria por invalidez, que se mostrou corretamente fixado. Quantum indenizatório no patamar de R$30.000,00 (trinta mil reais) e danos estéticos fixados em R$ 10.000,00 (dez mil reais) que se mantém, à míngua de recurso da parte autora. Precedentes desta e. Corte. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
Passando à segunda fase, entendemos por razoável a fixação dos
danos pelo juízo a quo em patamar inclusive módico, na forma dos precedentes retro, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em se considerando o fator agravante de o autor depender da condução de seu veículo para obtenção de renda.
Deve-se ainda invocar, por aplicável, o verbete sumular 343-TJRJ:
Nº. 343 “A verba indenizatória do dano moral somente será
modificada se não atendidos pela sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da condenação.” Referência: Processo Administrativo nº. 0013830-09.2015.8.19.0000 - Julgamento em 14/09/2015 – Relator: Desembargadora Ana Maria Pereira de Oliveira. Votação por maioria.
Por fim, em se considerando a manutenção da sentença, o caso é
de majoração da condenação ao pagamento de honorários, na forma do art. 85, §11, do CPC/15, o que se faz acrescentando 2% (dois por cento) sobre o valor da condenação ao percentual objeto da condenação, a ser considerada quando da liquidação do valor.
Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso
interposto. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2022.