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Poder Judiciário 287

Estado do Rio de Janeiro


Terceira Câmara Cível
Apelação Cível nº 0036458-48.2010.8.19.0038
Apelante: Viação Vila Rica Ltda.
Apelado: Devani Couto

Relatora: Desª. RENATA SILVARES FRANÇA

A C Ó R D Ã O

Apelação Cível. Ação Reparatória por Danos Materiais e Morais.


Relação de consumo. Contrato de transporte. Passageiro que sofreu
queda no interior de veículo de propriedade da Ré, o que lhe gerou
lesão corporal leve. Prova pericial médica que atestou que a queda
no interior do veículo em movimento nas circunstâncias descritas
pode ter provocado contusão na coluna lombo-sacra do Autor, o que
lhe geraria Incapacidade Total Temporária de 7 (sete) dias. Prova
testemunhal que confirma a ocorrência do acidente, bem como a
concorrência da culpa do motorista, preposto da Ré, para sua
causação. Nexo causal comprovado entre a falha no serviço da Ré e
o efeito lesivo na pessoa do Autor. Lucros cessantes não
demonstrados. Inaplicabilidade do Enunciado nº 215 da Súmula deste
Eg. Tribunal, que faz referência a pensionamento e não a lucros
cessantes, sendo certo que as duas figuras não se confundem e
possuem funções distintas à luz do disposto no artigo 950 do Código
Civil. Jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça que indica a
impossibilidade de os lucros cessantes serem fixados
hipoteticamente, devendo ser comprovados nos autos pelo
requerente. Inexistência, no acervo probatório, de qualquer
comprovante de renda do Autor que poderia ser utilizado como
parâmetro para arbitramento de razoável lucro cessante a ser
indenizado. Reforma da sentença que se impõe para afastar a
condenação da Ré à indenização de danos materiais. Condenação da
Ré à compensação dos danos extrapatrimoniais que merece ser
mantida, mas cuja quantificação deve ser reduzida à luz dos
Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade, bem como a fim
de adequá-la aos valores normalmente atribuídos por este Eg.
Tribunal em situações análogas. Minoração da compensação para
fixá-la em R$ 3.000,00 (três mil reais), com juros de mora a incidirem
desde a citação e correção monetária a partir do presente julgamento
haja vista a readequação do quantum devido neste momento.
Reforma parcial do julgado de 1º grau que impõe a redistribuição
rateada dos encargos sucumbenciais. Artigo 86, caput, c/c artigos 85,

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RENATA SILVARES FRANCA FADEL:33925 Assinado em 15/06/2022 18:20:18
Local: GAB. DES. RENATA SILVARES FRANCA FADEL
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§§ 2º e 3º, I, e 14, do CPC. Afastamento da majoração prevista no
artigo 85, §11, do CPC. Conhecimento e provimento parcial do
recurso.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível


nº 0036458-48.2010.8.19.0038, em que é Apelante VIAÇÃO VILA RICA LTDA., e
Apelado DEVANI COUTO,

A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Terceira Câmara


Cível, por unanimidade, no sentido do CONHECIMENTO e PROVIMENTO
PARCIAL do recurso, nos termos do voto da Desembargadora Relatora.

Desª. RENATA SILVARES FRANÇA


Relatora

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RELATÓRIO

Trata-se de Ação Reparatória por Danos Materiais e Morais ajuizada por


Devani Couto em face de Viação Vila Rica Ltda. cuja causa de pedir consiste em
suposto acidente sofrido pelo Autor em ônibus de propriedade da Ré.

Narra a inicial que, no dia 07/06/2010, o Autor viajava no interior de


coletivo da Ré quando, próximo à Prefeitura de Nova Iguaçu, o motorista teria
passado em velocidade incompatível sobre quebra-molas, o que teria provocado a
projeção do Autor para o alto e sua consequente queda. Boletim Médico juntado
aos autos (fl. 117 – IE nº 000131) que indica atendimento do Autor se queixando
de lombalgia no dia do acidente. Formulados pedidos de (i) compensação por
danos morais no valor de 50 (cinquenta) salários mínimos; (ii) indenização por
danos materiais decorrentes da incapacidade total temporária; e (iii) depósitos
garantidos para o caso de pensionamento vitalício.

Contestação às fls. 47/58 (IE nº 000056) na qual, preliminarmente, a Ré


denunciou à lide a seguradora Confiança Companhia de Seguros. No mérito,
alegou que o Autor não comprovou sua condição de passageiro no coletivo de
propriedade da Ré, nem apresentou qualquer informação identificadora do veículo
no qual teria ocorrido o acidente. Aduziu que os atestados médicos apresentados
não comprovam qualquer lesão que poderia estar associada ao acidente.
Argumentou, ainda, que o Autor não demonstrou o exercício de qualquer atividade
laboral, seja formal ou informal, o que afastaria a possibilidade de indenizá-lo por
lucros cessantes decorrentes de eventual período de inatividade.

Contestação da Companhia de Seguros denunciada às fls. 79/95 (IE nº


000094) na qual afirmou aceitar a denunciação se restar comprovado que o
veículo no qual ocorreu o acidente está dentro da apólice. No mérito, reproduziu os
argumentos apresentados pela Ré.

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Laudo pericial médico juntado às fls. 143/151 (IE nº 000158) no qual se
concluiu, em síntese, que: (i) não há, nos autos, documentos oficiais que
comprovem o local e as circunstâncias do possível acidente; (ii) caso o acidente
seja comprovado por outros meios, pode-se dizer que a queda no interior do
veículo em movimento nas circunstâncias descritas pode ter provocado uma
contusão na coluna lombo-sacra do Autor; (iii) ainda caso o acidente seja
comprovado por outros meios, provocaria no Autor uma Incapacidade Total
Temporária de 7 (sete) dias; (iv) não houve evidência de fraturas e o Autor foi
liberado no mesmo dia, tendo recusado a medicação injetável prescrita com fins de
aliviar a queixa de dor; e (v) não há sequelas ou dano estético.

Certidão de Audiência de Instrução e Julgamento às fls. 194/195 (IE nº


000214) na qual se colheu depoimento testemunhal do Sr. Thiago Alves Machado,
tendo este afirmado:

“...que não conhece a vítima que seu telefone foi passado porque o pai do
depoente ajudou a vítima...”;
“...que o acidente foi depois da Prefeitura...”; “
“...que acha que quem foi culpado pelo acidente foi o motorista do ônibus; que o
ônibus estava muito rápido e quando fez uma manobra a vítima não conseguiu se
segurar...”
“...que quando o ônibus passou em cima do quebra mola o autor que estava
sentado deu um pulo para cima e quando caiu bateu com as costas; que desceram
do ônibus com a vítima e o colocaram sentado no meio fio...”
“...que a empresa é Vila Rica; que a vítima reclamava de dor nas costas; que o
motorista do ônibus não prestou auxílio e nem se preocupou...”
“...que ratifica que ele e seu pai ajudaram a vítima, que foi mais seu pai...”

Sentença de procedência dos pedidos (fls. 220/223 – IE nº 000243) para


condenar a Ré a compensar o Autor no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais) e a
pagar R$ 77,00 (setenta e sete reais) pelo período de incapacidade de 7 (sete)
dias, montante arbitrado à luz do salário mínimo nacional diante da não
comprovação, pelo Autor, de seus ganhos mensais. Sentença de procedência,
também, em relação à lide securitária para condenar a seguradora denunciada a

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ressarcir a Ré observando-se o limite da apólice.

Sentença integrada por decisão em embargos de declaração (fl. 231 - IE


nº 000254) para fazer os juros de mora fluírem a partir da data da citação e não da
data do acidente, como havia sido inicialmente determinado, tendo em vista a
natureza contratual da relação jurídica existente entre as partes.

Apelação da Ré às fls. 232/239 (IE nº 000255) na qual alega que o


conjunto probatório não admite concluir a ocorrência do evento lesivo e tampouco
do dano sofrido pelo Autor, razão pela qual entende ser necessária a reforma da
sentença de modo a julgar improcedentes os pedidos autorais. Subsidiariamente,
pugna pela redução do valor cominado a título de compensação pelos danos
extrapatrimoniais por lhe faltar proporcionalidade e razoabilidade.

A seguradora denunciada não apresentou apelação.

Contrarrazões do Autor às fls. 241/249 (IE nº 000264) nas quais defende a


preservação in totum da sentença vergastada.

É o breve Relatório.

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VOTO

Inicialmente, impende o conhecimento do Apelo em apreço por se fazerem


presentes seus requisitos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade.

Apelante que alega a inexistência de prova nos autos capaz de induzir a


conclusão acerca da ocorrência do acidente e da própria condição de passageiro
do Autor. Argumentos, porém, que devem ser afastados haja vista, em primeiro
lugar, a prova testemunhal produzida em audiência (fls. 194/195 – IE nº 000214),
que atestou a ocorrência do acidente dentro de ônibus de propriedade da Ré tal
qual narrado na inicial. E, em segundo lugar, a prova pericial produzida, que
concluiu que, se o acidente restasse comprovado por outros meios – como de fato
se deu diante do testemunho fornecido –, provocaria no Autor Incapacidade Total
Temporária de 7 (sete) dias. Comprovados, portanto, o evento lesivo e a lesão
corporal dele decorrente.

Contudo, não obstante a comprovação da lesão corporal e da potencial


incapacidade temporária do Réu, fato é que não há nos autos qualquer
comprovação de lucros cessantes sofridos pelo Autor capaz de ensejar
indenização pela Ré. Aliás, conforme constatado na própria sentença, “o Autor não
comprovou seus ganhos mensais” (fl. 222 – IE nº 000243).

De acordo com o artigo 949 do Código Civil, “No caso de lesão ou outra
ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e
dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro
prejuízo que o ofendido prove haver sofrido” (grifo nosso). O artigo 402 do
mesmo diploma, por sua vez, conceitua lucro cessante como aquilo que o credor
“razoavelmente deixou de lucrar”. Fundamental, portanto, a produção de prova,
pelo Autor, acerca daquilo que deixou de lucrar para que seja aferido valor
razoável de indenização. Não há, nos autos, qualquer comprovante de renda do

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Autor que poderia ser utilizado como parâmetro para arbitramento de razoável
lucro cessante a ser indenizado.

Observe-se, ainda, que inaplicável à espécie o Enunciado nº 215 da


Súmula deste Eg. Tribunal, segundo a qual “a falta de prova da renda auferida pela
vítima antes do evento danoso não impede o reconhecimento do direito a
pensionamento, adotando-se como parâmetro um salário mínimo mensal” (grifo
nosso). Isso porque referida orientação sumular faz referência a pensionamento e
não a lucro cessante.

Conforme se retira da leitura da legislação civil, lucro cessante e


pensionamento não se confundem. O primeiro tem por objetivo indenizar a vítima
pelo período de convalescença – isto é, em decorrência de incapacidade
temporária –, ao passo que o segundo terá lugar apenas se, mesmo depois da
convalescença, persistirem sequelas que reduzam ou impossibilitem o exercício de
atividade laborativa pela vítima – incapacidade permanente, portanto. De acordo
com o artigo 950 do Código Civil, “Se da ofensa resultar defeito pelo qual o
ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a
capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros
cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu”.

Em complemento, conforme se observa na jurisprudência do Eg. Superior


Tribunal de Justiça, diferentemente do que se dá com o pensionamento, os lucros
cessantes não podem ser fixados hipoteticamente, devendo ser comprovados nos
autos pelo requerente. Nesse sentido, vejam-se os seguintes acórdãos:

PROCESSUAL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


LESÕES E ALEIJÕES DECORRENTES DE PROCEDIMENTO MÉDICO-
HOSPITALAR. DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. SÚMULA N. 418 DO
STJ. INAPLICABILIDADE. OMISSÕES NÃO VERIFICADAS. TEMPESTIVIDADE
DAS APELAÇÕES DOS CORRÉUS. AUSÊNCIA DE JULGAMENTO EXTRA
PETITA. DOTE DISCIPLINADO NO ART. 1.538, § 2º, DO CC/1916. NATUREZA DE

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DANO MORAL. MULHER QUE, POSTERIORMENTE AO FATO, VEIO A SE
CASAR E SE SEPAROU. BIS IN IDEM NÃO CARACTERIZADO. EXCLUSÃO DE
LUCROS CESSANTES. (...) 9. Os lucros cessantes representam aquilo que, após o fato
danoso, deixou o ofendido de receber à luz de uma previsão objetiva, que não
confunde com meras hipóteses. Dependem, portanto, para sua concessão, da
preexistência de circunstâncias e de elementos seguros que, concreta e prontamente,
demonstrem que a lucratividade foi interrompida ou que não mais se iniciaria em
decorrência especificamente do infortúnio, independente de outros fatores. 10. No
presente caso, o recebimento de lucros cessantes está baseado em danos meramente
remotos, hipotéticos, vinculados a um sucesso profissional decorrente de curso
universitário no qual a autora pretendia ingressar antes do infortúnio. A ocorrência
dos respectivos danos, sem dúvida, dependeria de outras circunstâncias e fatores
alheios ao infortúnio. Em tal situação, não cabe a condenação em lucros cessantes nem,
pior ainda, como fez o Tribunal de origem, fixá-los com base nas mensalidades
(despesas) destinadas ao pagamento do pretendido curso superior. 11. Sucumbência
mínima da autora, impondo-se aos corréus arcar com as custas e com os honorários
advocatícios, como fixados na sentença. 12. Recurso especial da autora desprovido. Recurso
do corréu provido em parte para afastar a condenação em lucros cessantes.
(REsp 1.080.597/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 27/09/2021, DJe 06/10/2015)

RECURSO ESPECIAL. CURSO SUPERIOR DE FARMÁCIA. FALTA DE


RECONHECIMENTO PELO MEC. INDEFERIMENTO DA INSCRIÇÃO PELO
CONSELHO PROFISSIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DA INSTITUIÇÃO DE
ENSINO. EXCLUDENTE DA CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO.
DESCABIMENTO NA ESPÉCIE. LUCROS CESSANTES. EFETIVA
DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. AUSÊNCIA. AFASTAMENTO. DANO MORAL.
FIXAÇÃO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. POSSIBILIDADE. MONTANTE. REDUÇÃO.
1. Inexiste ofensa ao art. 535, II, do CPC quando o Tribunal de origem, ao julgar a causa,
examina e decide, com fundamentos suficientes, as questões relevantes para a solução da
lide. 2. A instituição de ensino superior responde objetivamente pelos danos causados ao
aluno em decorrência da falta de reconhecimento do curso pelo MEC, quando violado o
dever de informação ao consumidor. 3. A alegação de culpa exclusiva de terceiro em razão
da recusa indevida do registro pelo conselho profissional não tem o condão de afastar a
responsabilidade civil da instituição de ensino perante o aluno, a qual decorre do defeito na
prestação do serviço. 4. Para o deferimento de lucros cessantes, é imprescindível a
efetiva demonstração do prejuízo, que deve partir de previsão objetiva de lucro,
frustrada em decorrência direta da obrigação inadimplida. 5. A formação em curso
superior e a inscrição no respectivo conselho profissional, por si sós, não autorizam a
conclusão de ganho imediato com a atividade profissional. 6. Inexiste veto à fixação de
indenização com base no salário mínimo. O que se proibe é sua vinculação como critério de
correção monetária. Precedentes. 7. O montante fixado a título de indenização por danos
morais comporta revisão em sede de recurso especial quando manifestamente exorbitante,
circunstância reconhecida no caso. Valor reduzido para R$ 50.000,00. 8. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido.
(REsp 1232773/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 18/03/2014, DJe 03/04/2014)

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No mesmo sentido, precedente da 19ª Câmara Cível deste Eg. Tribunal:

APELAÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR. ACIDENTE EM LOJA DA RÉ. QUEDA


DE PRODUTO DA PRATELEIRA. LESÃO NO PÉ DA CONSUMIDORA. TESE DE
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA AFASTADA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
DO FORNECEDOR. AUTORA QUE NÃO COMPROVOU PERDA DE RENDA, O
QUE IMPOSSIBILITA A CONDENAÇÃO DA RÉ EM INDENIZAÇÃO POR
AFASTAMENTO DO TRABALHO. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTIA
DE R$ 10.000,00 ARBITRADA COM EXCESSO. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS
DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE QUE IMPÕE A REDUÇÃO
PARA O VALOR DE R$ 2.000,00. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA. (...) 4.
Autora que sofreu lesão em seu pé direito, já completamente resolvida por ocasião da
perícia, não havendo sequelas funcionais permanentes, restando total e
temporariamente incapacitada, pelo período de 18/09/2010 até 03/10/2010 (16 dias). 5.
Não comprovação de desconto no salário da Demandante por seu empregador em
razão do período de ausência laboral. Atividade informal de costureira também não
comprovada, tampouco o valor auferido com a referida atividade. 6. Invocação
analógica do posicionamento assente no Superior Tribunal de Justiça de que os lucros
cessantes não podem ser caracterizados hipoteticamente, sem amparo na realidade
probatória dos autos. 7. Observadas as características do evento danoso, principalmente a
dor física própria deste tipo de acidente, bem como, o comprovado lapso temporal de
afastamento de suas atividades, temos que, certamente, impingiu à Autora constrangimento
que supera o mero incômodo ou dissabor, ressaltando-se que, na hipótese em exame, o dano
moral não depende de comprovação, posto que existe in re ipsa, ou seja, decorre do próprio
fato, sendo impositiva a reparação. 8. Valor indenizatório fixado na sentença, qual seja, R$
10.000,00, que se revela acima do adequado, não atendendo aos princípios da razoabilidade
e proporcionalidade, devendo ser minorada a quantia arbitrada pelo Juízo a quo para o valor
de R$ 2.000,00, o qual, de certo modo, surtirá, no presente caso, os efeitos desejados, quais
sejam: o de desestimular que a Ré volte a praticar esse tipo de conduta (função pedagógica);
e o de compensar a Autora pelos transtornos causados por um fato para o qual não
contribuiu, evitando-se, ainda o enriquecimento sem causa. 9. Observado o universo dos
pedidos autorais (danos materiais relativos a despesas médicas, despesas com academia,
pensionamento, dano estético e danos morais), sendo certo que apenas um deles foi tido, em
parte, como procedente, agiu com acerto o Juízo Monocrático ao estabelecer a sucumbência
recíproca. 10. Honorários advocatícios sucumbenciais fixados na sentença, a serem pagos
pela Autora em favor do patrono da Ré, que devem ser majorados para 12% sobre o valor
que aquela deixou de auferir, suspensa a execução, por ser beneficiária da gratuidade de
Justiça, nos termos do art. 98, § 1º, do C.P.C.. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO
INTERPOSTO PELA AUTORA E DADO PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO
INTERPOSTO PELA RÉ.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 0020746-31.2011.8.19.0087, DESª. MAFALDA
LUCCHESE. SEXTA CÂMARA CÍVEL, julgado em 05/04/2022, DJe 07/04/2022)

Pelo exposto – e como o presente caso diz respeito a indenização por


lucro cessante e não a pensionamento –, impõe a reforma da sentença para
afastar a condenação da Ré à indenização pelos danos patrimoniais diante da
inexistência, nos autos, de qualquer prova acerca de ganhos que o Autor teria

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razoavelmente deixado de auferir por força dos dias que ficou inabilitado
temporariamente para exercício de função laborativa.

No que concerne aos danos extrapatrimoniais, devida a compensação


tendo em vista a comprovação da falha no serviço da Ré, que provocou acidente e
consequente lesão corporal no Autor. Deve-se, no entanto, reduzir o montante
compensatório em homenagem aos Princípios da Razoabilidade e da
Proporcionalidade à luz das circunstâncias do caso concreto, tendo em vista a
natureza leve da lesão sofrida pelo Autor.

Nesse viés, sobeja patente que, já a partir da jurisprudência deste Egrégio


Tribunal de Justiça, pode-se constatar que a condenação da Ré ao pagamento da
cifra de R$ 8.000,00 (oito mil reais) para o Autor a título de reparação por danos
morais, arbitrada pelo Juízo a quo, não se coaduna com os valores normalmente
estabelecidos no âmbito deste Nobre Sodalício em hipóteses análogas, consoante
demonstram os julgados a seguir colacionados, que tratam da responsabilização
civil de empresas de transporte pela queda de passageiro no interior do veículo:

APELAÇÃO CÍVEL. SENTENÇA (INDEX 207), QUE JULGOU PROCEDENTE O


PEDIDO E CONDENOU A CONCESSIONÁRIA AO PAGAMENTO DE R$2.090,00
DE COMPENSAÇAO POR DANO MORAL. RECURSO DA RÉ AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO. Cuida-se de demanda na qual se pleiteia compensação por danos morais.
Como causa de pedir, passageira de coletivo reclamou que teria sofrido danos, em razão
de acidente envolvendo ônibus no qual trafegava. No caso em exame, foi produzida
prova pericial, cujo laudo, no index 115, confirmou que a Autora sofreu lesão
compatível com queda no ônibus (contusão em membro superior esquerdo, ao nível
do antebraço), circunstância que evidencia o nexo de causalidade. Ademais, concluiu o
Expert que a Demandante permaneceu incapacitada, total e temporariamente, por
dois dias. A condição de passageira restou demonstrada, no index 16, por intermédio do
Registro de Ocorrência (fls.19/21), que indicou a Consumidora como vítima. Em relação ao
pedido de compensação por danos morais, o evento causou dissabor à Requerente e violou
seus direitos da personalidade. Tendo em vista que a incapacidade perdurou por apenas
dois dias, conclui-se que a verba compensatória do dano moral, fixada no valor de
R$2.090,00, se afigura coerente com os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, sendo compatível com a reprovabilidade da conduta do agente. De
outro lado, não merece prosperar a alegação segundo a qual os juros de mora deveriam ser
fixados a partir do julgado, vez que, em se tratando de responsabilidade contratual, a referida
verba deverá ter como termo inicial a data da citação, nos moldes do art. 405, do Código
Civil, enquanto a correção monetária, fluir a partir do julgado que fixou a verba, tal como
decidido na r. sentença. Do mesmo modo, não merece acolhida a alegação de que deveria

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ser reconhecida a sucumbência recíproca, vez que houve procedência do único pedido
formulado na petição inicial, qual seja, de compensação por danos morais. Outrossim, nos
termos do Verbete n.º 326 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, “na ação de
indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não
implica sucumbência recíproca”. Por fim, pleiteou a Demandada fosse permitida a dedução
do seguro obrigatório, ainda que não tenha ocorrido requerimento administrativo nesse
sentido. Sobre o tema, destaca-se que, segundo a Súmula n.º 246 da Corte Superior, “o valor
do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada”. Vale notar,
todavia, que os danos não decorrem de morte, invalidez permanente ou despesas médicas,
no caso em apreço, cuja única condenação foi ao pagamento de compensação por danos
morais.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 0002936-47.2015.8.19.0202, DES. ARTHUR NARCISO.
VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL, julgado em 17/02/2022, DJe 18/02/2022)

APELAÇÕES CÍVEIS. TRANSPORTE COLETIVO. QUEDA AO EMBARCAR


EM ÔNIBUS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUTORA
IDOSA. LESÕES LEVES. Sentença de parcial procedência para condenar a parte ré
a reparar o dano moral no valor de R$8.000,00, com correção monetária desde a
publicação da sentença e juros desde a citação. Condenou o réu ao pagamento das
despesas processuais e de honorários advocatícios, que fixou em 10% sobre o valor da
condenação. Apelações da viação ré e da autora. É incontroverso a qualidade de passageira
da autora. Relação jurídica regida pelas normas do Código de Defesa do Consumidor e pelas
que regulam o contrato de transporte. Obrigação de resultado, nos termos do art. 734 do
Código Civil. A parte autora narra que caiu ao embarcar no ônibus, em razão de o motorista
ter "arrancado" com o veículo, no dia 03/02/2021. Inicial instruída com Boletim de
Ocorrência lavrado em 04/02/2021; laudo de corpo de delito, realizado em 08/02/2021;
receituário emitido pelo Hospital de Irajá em 03/02/2021; e fotografias. Parte ré não
produziu provas. Boletim de Ocorrência, lavrado no dia seguinte à queda, reitera a dinâmica
dos fatos trazida na petição inicial. Laudo do Instituto Médico Legal atesta que a autora
sofreu "equimose em cotovelo direito com cerca de 50 mm, duas escoriações com crostas
descamando em braço direito com cerca de 15 e 20 mm cada", em decorrência de queda em
coletivo. Afirma que a lesão tem como possível nexo causal o evento alegado pela vítima,
tendo sido constatada ação contundente. Diante do conjunto probatório constante dos autos,
tem-se que a ré não logrou demonstrar a existência de culpa exclusiva da vítima ou de
qualquer outra causa de exclusão da responsabilidade ou, ainda, de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito alegado pela parte autora, ônus que lhe cabia, na forma
dos artigos 14, §3º do CDC e 373, II do CPC. Dano moral configurado. O arbitramento da
indenização realmente afigura-se excessivo para o caso em tela, considerando-se que
não houve incapacidade laboral ou outros desdobramentos decorrentes da queda, mas
somente lesões de natureza leve, sem sequelas. Redução para R$ 3.000,00, valor mais
adequado, razoável e proporcional ao caso dos autos. Precedentes. Recurso autoral
prejudicado, eis que visava à majoração da indenização por danos morais. Sentença
parcialmente reformada para reduzir o valor da indenização por danos morais a
R$3.000,00, corrigidos a partir da data do Acordão e acrescidos de juros contados da
citação. Sem honorários recursais. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO DO
RECURSO DA PARTE RÉ. RECURSO AUTORAL PREJUDICADO.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 0004765-53.2021.8.19.0202, DESª. SÔNIA DE FÁTIMA
DIAS. VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, julgado em 26/04/2022, DJe
29/04/2022)

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APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DIREITO DO CONSUMIDOR.
AUTORA QUE, NA CONDIÇÃO DE PASSAGEIRA DO ÔNIBUS, SOFREU
UMA QUEDA EM DECORRÊNCIA DA COLISÃO PROVOCADA PELO
COLETIVO DA EMPRESA RÉ. CONSUMIDORA POR EQUIPARAÇÃO.
INTELIGÊNCIA DO ART.17 DO CDC. AUTORA QUE COMPROVOU A
CONDIÇÃO DE PASSAGEIRA DIANTE DO REGISTRO DE OCORRÊNCIA EM
SEDE POLICIAL CORROBORADO PELO ATENDIMENTO NO HOSPITAL
FEDERAL CARDOSO FONTES. LESÃO LEVE COMPROVADA ATRAVÉS DO
BAM. EMPRESA RÉ QUE NÃO SE DESINCUMBIU DE COMPROVAR A
INEXISTÊNCIA DO ACIDENTE, O QUE PODERIA TER SIDO FEITO ATRAVÉS
DO REGISTRO DAS IMAGENS CAPTADAS PELAS CÂMERAS INSTALADAS NO
INTERIOR DO COLETIVO. DANO MORAL FIXADO NO PATAMAR DE R$
3.000,00 (TRÊS MIL REAIS). APELO PROVIDO.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 0003678-98.2017.8.19.0203, DES. PAULO SÉRGIO
PRESTES DOS SANTOS. SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, julgado em 11/04/2022,
DJe 13/04/2022)

Na esteira dos precedentes supra apontados, observa-se ser mais


condizente com as circunstâncias do caso concreto, bem como aos Princípios da
Razoabilidade e Proporcionalidade, a fixação da verba compensatória em
R$ 3.000,00 (três mil reais), com juros de mora de 1% (um por cento) ao mês
desde a data da citação e correção monetária a contar do presente julgamento,
haja vista a readequação do quantum devido neste momento.

Face à solução adotada, no sentido da reforma parcial do julgado para se


afastar o pleito reparatório a título de dano patrimonial, exsurge evidente que o
Autor não logrou êxito integral na demanda, razão pela qual mister proceder ao
rateio dos encargos de sucumbência, ex vi do artigo 86, caput, do CPC (“Se cada
litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas
entre eles as despesas”), observado, com relação ao Autor, o benefício da
assistência judiciária gratuita concedido à fl. 15 (IE nº 000016).

No tocante aos honorários advocatícios, inobstante mantida a proporção


de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação em razão do provimento
parcial da apelação, deve-se aplicar a regra prevista no artigo 85, §14, do CPC, a
qual veda a compensação em hipóteses de sucumbência recíproca, atribuindo-se
metade da aludida verba a cada uma das partes, de forma independente,

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Poder Judiciário 299
Estado do Rio de Janeiro
Terceira Câmara Cível
atentando-se, repise-se, para a mencionada norma do artigo 98, §3º, do CPC, no
que concerne ao Requerente.

Diante do exposto, VOTO no sentido do CONHECIMENTO e PARCIAL


PROVIMENTO do Apelo, reformando-se a sentença vergastada para afastar o
pleito reparatório a título de dano patrimonial e reduzir o valor da compensação
pelos danos extrapatrimoniais com a consequente redistribuição rateada dos
honorários de sucumbência, à razão de 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação, bem assim das despesas processuais, ressalvado, com relação ao
Autor, o benefício da assistência judiciária gratuita, na forma do artigo 98, §3º, do
CPC.

Rio de Janeiro, na data da sessão.

Desª. RENATA SILVARES FRANÇA


Relatora

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