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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0184437-76.2020.8.19.0001


APELANTE: MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A.
APELADA: THAMARA SANCHEZ SOUZA

RELATORA: DESEMBARGADORA LEILA ALBUQUERQUE


SESSÃO DE JULGAMENTO: 21 DE JULHO DE 2022

APELAÇÃO CÍVEL.
AÇÃO DECLARATÓRIA C/C
INDENIZATÓRIA.
DIFERENÇA DE VALOR
DEPOSITADO.
A Autora afirmou que a Ré desfez de forma
unilateral promessa de compra e venda de
imóvel em construção, a despeito do regular
pagamento das parcelas, o que lhe causou
prejuízos, razão pela qual buscou a
restituição do que foi pago e indenização
por danos morais.
Sentença de procedência condenou a Ré ao
pagamento de indenização por danos morais
e determinou a restituição do que foi pago.
Recurso com alegações genéricas e cujas
razões não impugnaram de forma específica
os fatos e fundamentos da sentença, fazendo
menção a fatos distintos daqueles narrados
nos autos, razão pela qual não deve ser
conhecido em razão da falta de
pressuposto intrínseco de admissibilidade.
RECURSO NÃO CONHECIDO.

Des. Leila Albuquerque

LEILA MARIA RODRIGUES PINTO DE CARVALHO E Assinado em 21/07/2022 11:39:28


ALBUQUERQUE:27350 Local: GAB. DES(A). LEILA MARIA R. P. DE C. E ALBUQUERQUE
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Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Apelação Cível n° 0184437-76.2020.8.19.0001 em que é
Apelante MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A. e
Apelado THAMARA SANCHEZ SOUZA;

ACORDAM os Desembargadores que


compõem a Vigésima Quinta Câmara Cível do Estado do Rio de
Janeiro, por unanimidade de votos, em não conhecer do
recurso, nos termos do voto da Desembargadora Relatora.

Trata-se de Ação de Repetição e Indenizatória


proposta por Thamara Sanchez Souza em face de MRV Engenharia e
Participações S.A., com quem celebrou negócio de compra e venda de
fração ideal de imóvel. Narra que a despeito do pagamento das parcelas
avençadas a Ré cancelou unilateralmente o negócio. Requer a restituição
doque foi pago, no total de R$ 8.245,18, e indenização por danos morais
com R$ 40.000,00.

Por sentença de fls. 244/247, os pedidos foram


julgados procedentes para condenar a Ré na restituição de R$ 8.245,18,
corrigidos e acrescidos de juros desde a citação, e ao pagamento de
indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00, com juros e
correção monetária a contar dela, além das custas e honorários de 10% da
condenação.

Apela a Ré a fls. 260/264, alegando a inexistência de


danos a serem indenizados.

Contrarrazões a fls. 276/287.

É o relatório.

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Thamara Sanchez Souza alegou que a Ré desfez de


forma unilateral promessa de compra e venda de imóvel em construção, a
despeito do regular pagamento das parcelas, o que lhe causou prejuízos,
razão pela qual buscou a restituição do que foi pago e indenização por
danos morais.

[...]

Os pedidos foram assim julgados procedentes:

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[...]

A Ré se insurge por meio de recurso com alegações


absolutamente dissociadas do caso e dos fundamentos da sentença,
fazendo menção a fatos distintos daqueles narrados nos autos.

Isso porque, a despeito de a controvérsia dos autos ser


referente ao cancelamento unilateral e indevido do negócio de compra e
venda de imóvel, mais especificamente em razão de suposta insuficiência
ou inadequação da documentação encaminhado pela Autora a Ré, a ora
Apelante embasa seu recurso na inexistência de danos morais quando há
atraso na entrega do bem.

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A própria tese do Superior Tribunal de Justiça que é


invocada pela Recorrente é pertinente à inexistência de danos morais in re
ipsa no caso de atraso na entrega de imóvel, consoante consta da própria
ementa do conhecido AgInt no AREsp: 1157238/MG: “ATRASO NA
ENTREGA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO”.

A utilização de recurso padrão e dissociado do caso


em concreto também se verifica no pedido subsidiário, eis que a Ré afirma
que o quantum indenizatório de R$ 10.000,00 é excessivo, quando a
sentença o fixou em R$ 5.000,0.

Data venia, evidente que as alegações que constam do


recurso em nada condizem com os fatos e o direito discutido nos autos.

Sabe-se que o Código de Processo Civil estabelece em


seu artigo 1.010, inciso III, que o recurso de Apelação Cível deverá conter
“as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade”, o que a
toda evidência não se verifica da petição recursal do banco.

Da simples leitura das razões do recurso da Ré é


possível se concluir que foram tecidas considerações e alegações
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absolutamente genéricas, sendo certo que não há uma linha sequer na qual
a Recorrente tenha se preocupado em enfrentar especificamente os fatos e
fundamentos da sentença proferidas nestes autos.

Cuida-se de petição recursal com razões genéricas,


que não impugnam especificamente os fundamentos da decisão recorrida,
e carece de pressuposto intrínseco de admissibilidade:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. AGRAVO REGIMENTAL.
RAZÕES DISSOCIADAS. RECURSO
MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL.
APLICAÇÃO DE MULTA. POSSIBILIDADE.
1. Sendo as razões do agravo regimental
dissociadas do decidido, não comporta ele sequer
conhecimento (Súmula 182/STJ).
2. Apresentando-se manifestamente inadmissível o
agravo regimental, impõe-se a aplicação da multa
prevista no art. 557, § 2º, do Código de Processo
Civil.
3. Agravo regimental não conhecido, com
imposição de multa de 1% sobre o valor atualizado
da causa”.
(AGRG NO AGRG NO AG 984123/RO
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO 2007/0273689-8 - MINISTRA
MARIA ISABEL GALLOTTI - QUARTA
TURMA - JULGADO EM 28/09/2010 –
PUBLICADO EM 14/10/2010).

No mesmo sentido são as decisões deste Tribunal de


Justiça:

“Processual civil. Apelação. Recurso que não


impugnou especificamente os fundamentos da
decisão recorrida. Não conhecimento do recurso.
Consequência. art. 932, III do CPC/2015. A
sentença julgou improcedente o pedido,
extinguindo o feito com resolução de mérito, nos
termos do art. 269, I do CPC, eis que o autor já
recebeu pela seguradora a verba de R$ 1.687,50.
Os fundamentos apresentados na apelação estão
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completamente dissociados da fundamentação da


decisão recorrida. Assim, estando o recurso
com fundamento dissociado da decisão recorrida,
importa em seu não conhecimento, pois não atende
ao requisito extrínseco da regularidade formal,
uma vez que não foi observado o princípio da
dialeticidade dos recursos. O recorrente não
impugnou especificamente as razões da decisão
recorrida. Recurso não conhecido. (Apelação
Cível nº 0001803-31.2013.8.19.0075 -
Desembargador Lindolpho Morais Marinho -
Julgamento: 23/05/2016 - Décima Sexta Câmara
Cível)

Honorários recursais de 5% do valor da condenação, a


serem acrescidos aos sucumbenciais.

Ante o exposto, não se conhece do recurso.

Rio de Janeiro, 21 de julho de 2022.

Desembargadora Leila Albuquerque


Relatora

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