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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CURSO DE PSICOLOGIA
TÓPICOS ESPECIAIS EM PSICOLOGIA
ACADÊMICAS: ADRIELI CORRÊA, ANA FLÁVIA BERTUZZI,
CRISTIANE APARECIDA DE SOUZA, FERNANDA CARDOSO DA ROSA, GABRIELA
JÚLIA DOS SANTOS, GABRIELLE KAROLINE SCALVIN
Fichamento - M1

RANCIÈRE, JACQUES. Nas margens do Político. Tradução de Vanessa Brito e João Pedro
Cachopo. Lisboa: KKYM, 2014.

69 A definição de político está relacionada com dois processos: polícia e emancipação.


O primeiro se encarrega de distribuir de maneira hierárquica os lugares e funções
dos homens, e de organizá-los em comunidade e consentimento. Este processo está
vinculado com a ideia de governo. O segundo processo, a emancipação, consiste na
ideia de igualdade entre pessoas e na verificação dessa igualdade.
O tratamento de um dano é a forma de encontro entre processo policial e o processo
igualitário. Nesse encontro é possível alegar que toda polícia nega a igualdade e que
os dois processos são imensuráveis um ao outro. No entanto, para que haja apenas a
lei da polícia e a lei da igualdade é preciso mudar a fórmula de que toda polícia
nega a igualdade para toda a polícia causa dano à igualdade.
Neste viés, existem três termos: a polícia, a emancipação e o político. O processo de
emancipação chama-se política, que tem um sentido estrito, anárquico, indica a
noção de democracia e não tem medida. Distingue-se a polícia, a política e o
político, sendo este último o encontro entre a polícia e a política no tratamento de
um dano.

70 A política do povo causa dano à distribuição policial dos lugares e das funções, pois
o povo é sempre mais ou menos que ele mesmo, é o poder de um a mais que intriga
a ordem da polícia. A dificuldade atual da ação política deve-se a identificação da
política com a manifestação do próprio de uma comunidade. Pode tratar-se da
identificação do princípio de governo e o próprio da comunidade. Pode tratar-se da
reivindicação da identidade das minorias contra a supremacia da cultura da
identidade dominante.
As comunidades grandes e pequenas podem trocar acusações e ambas podem estar
certas nas suas acusações, porém erradas nas suas pretensões. Não indica que sejam
equivalentes ou que suas consequências sejam semelhantes, mas que ambas se
baseiam na mesma identificação. É intrínseco ao princípio da polícia apresentar-se
enquanto atualização do próprio da comunidade, transforma as regras do governo
em leis naturais da sociedade. A política se difere da polícia, apresentando-se
historicamente como forma de auto emancipação dos trabalhadores. A política da
emancipação é a política de um próprio impróprio.
Logo, o processo de emancipação é a verificação da igualdade de qualquer ser que
fala com qualquer outro. É posto em prática em nome de uma categoria a qual se
nega o princípio de igualdade.

71 Deste modo, a igualdade é a parte universal do político. Esta tem efeito universal
conforme se atualiza, se molda, não está ligada a essência ou razão. Ela não é o
princípio da comunidade, é um operador de demonstração. Reside no processo
argumentativo que demonstra as suas consequências. Pode desenvolver-se graças a
mediação de categorias particulares, permitem transformar o não-lugar lógico no
lugar de uma demonstração polêmica. Essa construção de igualdade não é resultado
de uma identidade em ato, nem a demonstração de valores específica de um grupo,
ela constitui um processo de subjetivação.

72 O processo de subjetivação é a formação de um sujeito, que não ocupa o mesmo


lugar de outro indivíduo, mas existe uma relação entre os dois. Sendo assim, é um
processo de desidentificação, no qual há reivindicação no meio em que se está
inserido, deixando o espaço de identificação e agora possuindo o reconhecimento
do outro que ocupa este lugar. No entanto, a subjetivação política é a atualização da
igualdade, um cruzamento de identidades que ocorre na relação entre as pessoas.

73 A demonstração da igualdade permeia a lógica do isto ou aquilo, com a lógica do


ser ou não ser. Por sua vez, a lógica da subjetivação política refere-se a uma lógica
do outro, no qual engloba três determinações da alteridade. Primeiro, tal
subjetivação política é sempre a recusa de uma identidade imposta por um outro e
não a afirmação desta identidade. Segundo, ela é uma demonstração dirigida a um
outro, ainda que haja recusa pelo outro da consequência.

74 Não se trata de compensação de danos, mas de um lugar comum para o tratamento


deste dano e, por conseguinte, a demonstração da igualdade. Por fim, a terceira
determinação implica na lógica da subjetivação ser uma identificação impossível.
Entretanto, muitas vezes é preciso desconsiderar a complexidade da lógica da
subjetivação política para opor o passado das grandes narrativas e da vítima
universal ao presente das pequenas narrativas. A metapolítica visa compreender a
heterologia como uma ilusão, intervalos e falhas como signos da não-verdade. O
discurso metapolítico dar-se a partir do desconfortável. A metapolítica trata-se da
interpretação da política sob o ponto de vista da polícia.

75 Por fim, a identificação é se desidentificar enquanto as suas características e ocupar


uma identidade em um determinado grupo. O universalismo e o particularismo são
duas ideias da multiplicidade que se completam. Além disso, o discurso
universalista pode se mostrar tão “tribal” quanto o discurso comunitário. A política
idiomática produz um lugar do universal, um lugar de demonstração de igualdade.

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