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Acórdão Nº 1766029
EMENTA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de Apelação interposta em face da r. sentença (Id. 49477454) proferida nos autos do processo
n. 0705203-62.2021.8.07.0011, na qual o Juízo da Vara Cível, de Família e de Órfãos e Sucessões do
Núcleo Bandeirante, julgou em parte procedentes os pedidos, para rescindir o contrato de locação do
imóvel localizado no Lote 306/A, Apto. 101, Núcleo Bandeirante e condenou ao pagamento de
indenização por danos morais.
A ré, ELIANE ARRAIS FERREIRA DA SILVA apela (49477458), requerendo a reforma da decisão,
alegando que não praticou qualquer ato arbitrário apto a justificar a saída da inquilina do imóvel, visto
que todas as tratativas referentes a locação eram realizadas via mensagem no aplicativo de WhatsApp e
todas as intervenções no imóvel foram previamente acordadas entre as partes, com o consentimento ou
ciência por parte da Apelada, não se justificando rescisão por justa causa.
Afirma que a rescisão se deu por ato da Recorrida, que se evadiu do imóvel sem qualquer notificação
prévia, surpreendendo a Apelante que somente constatou tal fato no dia 31/12/2021. Diz que a Apelada
não procedeu com a entrega formal do imóvel nas condições originárias, tampouco procedeu com a
quitação dos aluguéis, IPTU/TLP, nos termos do Art. 23, II e III, da Lei nº 8.245/90. Aduz que mero
dissabor, aborrecimento, mágoa ou irritação estão fora da órbita do dano moral, não havendo dano
moral a ser reparado.
Requer a alteração do julgado, a fim de determinar a rescisão do contrato por iniciativa da locatária,
com o pagamento dos valores locatícios, bem como, seja julgado improcedente o pedido de
indenização moral.
Contrarrazões apresentadas por VITORIA ELIZABETH DE OLIVEIRA (49477461).
É o relatório.
VOTOS
O recurso interposto é próprio, regular e tempestivo, razão pela qual dele conheço.
A apelante pretende, em apertada síntese, atribuir à autora a culpa pela resolução do contrato, o que
implica em exigir a prévia notificação e afastar a condenação por danos morais. Pretende também o
pagamento dos valores decorrentes do contrato de locação pois alega ausência de quitação dos
aluguéis e IPTU/TLP.
A autora firmou contrato de locação, como locatária, com o marido da ré, então proprietário do
imóvel. No curso da locação os locadores se divorciaram, o que, segundo a sentença, implicou em
extinção do contrato.
Da leitura do art. 8º. da Lei de Locações (8.245/1991), decorre que o contrato de locação subsiste em
caso de alienação, ressalvada a hipótese de o adquirente o denunciar. Os dispositivos legais seguintes
oferecem semelhante solução nos demais casos de transmissão da propriedade, de modo que não
poderia ser diferente no caso de alteração da titularidade do imóvel por partilha decorrente de
divórcio.
Não houve manifestação de vontade por qualquer das partes no sentido de pôr termo à locação, de
modo que a locação subsiste até a saída da locatária. Desse modo, não é correto afirmar que as partes
tinham contrato verbal de locação. O contrato escrito que os rege é aquele instrumentalizado no
id49477042.
Quanto à extinção do contrato, e, sobretudo, a responsabilidade por ela, dispõe o art. 22 da Lei n.
8.245/1991:
......................................................................
As obras realizadas no imóvel além de reduzir o tamanho do imóvel locado, geraram grande prejuízo
para a locatária, que não podem ser considerados meros aborrecimentos. Resta evidenciada a
perturbação da integridade psíquica e da pessoa que vê a rotina do seu lar alterado, no curso da
locação, sem autorização, com obras que resultam em benfeitorias meramente úteis, em favor do
locador, a pretexto de que o imóvel lhe pertence e que pode fazer dele o que entender.
Correta, pois, a sentença que fixou indenização por danos morais, bem como no patamar em que foi
fixado.
Quanto ao pedido de condenação ao pagamento dos valores locatícios, o apelante não apresentou, na
contestação, pedido certo em relação a verbas pendentes de pagamento decorrentes do contrato
extinto.
A controvérsia existente entre as partes sobre o fim da locação ensejou o pedido de depósito das
chaves feito pela autora na inicial. O ato de entrega das chaves serve para marcar o fim da locação.
Não implica em reconhecimento de responsabilidades, que depende de provimento jurisdicional. Por
essa razão, o depósito de chaves é ato que não comporta indagações. Deve ser atendido de pronto, por
conta e risco de quem a deposita. A oferta veio com a inicial em 13/12/2021, data a partir da qual o
imóvel estava à disposição do locador, e, portanto, que marca o fim da locação.
Não obstante o réu apresente, na contestação, pedido de condenação equivalente aos valores
locatícios, não apresentou pedido certo, informando pendências de aluguéis, condomínio ou IPTU.
Assim, não há como apreciar pedido incerto à luz do que dispõe o art. 322 do CPC. Presume-se, pois,
que não há dívidas pendentes.
Neste quadro, não há fundamento jurídico nem de fato que ensejo o acolhimento da pretensão
recursal. A sentença deve ser mantida.
ISTO POSTO, conheço do recurso e lhe nego provimento. Em razão da sucumbência, majoro os
honorários para 15% do valor da condenação.
DECISÃO