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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO DARIVAL BESERRA PRIMO

Processo: 0172662-66.2016.8.06.0001 - Apelação


Apelante: Francisco Guilherme Albuquerque Lima
Apelado: Régia Selia Santiago Freire

EMENTA: APELAÇÃO. SENTENÇA PROCEDENTE DO


PEDIDO DE RESCISÃO CONTRATUAL, COM
REPARAÇÃO MATERIAL E MORAL. NO CASO,
ADMINISTRATORA DE IMÓVEIS NÃO SE ESMEROU NO
CUMPRIMENTO DE SUAS OBRIGAÇÕES. NÃO HOUVE O
REPASSE DE ALUGUÉIS E NEM DE GARANTIA.
INOPERÂNCIAS QUANTO ÀS PROVIDÊNCIA
ATINENTES AO INADIMPLEMENTO DO LOCATÁRIO.
DÉBITO DE TAXAS DE CONDONÍNIO, CONTAS DE
ENERGIA ELÉTRICA E TRIBUTOS DO IMÓVEL. A
DEFESA NÃO SE DESINCUMBIU DO ÔNUS
PROBATÓRIO DO ART. 373, II, CPC15. DANO MATERIAL
VERTIDO APENAS NO RESSARCIMENTO DOS
QUANTITATIVOS PERDIDOS. INDENIZAÇÃO MORAL
INCIDENTE SOB O COLOR DE QUE A SITUAÇÃO
SOFRIDA PELA AUTORA SUPEROU O MERO
ABORRECIMENTO E O DESCUMPRIMENTO
CONTRATUAL E ALCANÇOU A EXCEPCIONALIDADE,
DE VEZ QUE TAL PRÁTICA NÃO ACOMETE À ROTINA
ATINENTE À ESPÉCIE. ARBITRAMENTO RAZOÁVEL.
DESPROVIMENTO.

1. Inicialmente, a Apelada contratou a empresa de


Administração de Imóveis do Apelante, tendo em vista que o
Proprietário da Administradora residia no mesmo local do
imóvel a ser alugado, a saber: o Condomínio Alphaville. Houve
uma primeira locação, a qual transcorreu em completa
regularidade. Assim, em seguida, a Promovente fez com a
Recorrente novo contrato de administração.

2. Acontece que, os Apelantes fecharam uma segunda locação


com um novo Locatário, no valor de R$ 3.800,00 (três mil e
oitocentos reais) por mês, de modo que pagou à Administradora,
a título de caução, o valor relativo a 03 (três) meses de aluguel,
totalizando R$ 11.400,00 ( onze mil e quatrocentos reais), pois
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não apresentado Fiador. Por sinal, esse foi o único valor pago
pelo locatário à administradora e tal nunca foi repassado à
Promovente. Referido Contrato de Locação foi efetivado em
janeiro/2016. Todavia, esse último locatário nunca pagou
nenhum mês de aluguel e nenhuma taxa condominial enquanto
perdurou o contrato de locação.

3. E mais, o nome da Requerente continuou como a titular da


taxa de condomínial em débito por vários meses seguidos,
inclusive, seu nome ficou com restrições perante o condomínio,
o que culminou com uma Ação de Execução das taxas
inadimplidas.

4. Ainda, há de se consignar que referidos débitos foram todos


pagos, parceladamente pela própria proprietária, a Apelada. Eis
o nascedouro da lide em que se postula a Rescisão Contratual
com Reparação de Danos Materiais e Morais.

5. Nessa perspectiva, a Autora acostou aos autos, às f. 16/21, o


contrato de administração imobiliária e dos documentos
relativos às taxas condominiais, COELCE e tributos incidentes
sobre o imóvel, comprovando a existência de vários débitos.
Com efeito, a Promovente ainda colacionou o contrato de
locação a terceiros, a notificação extrajudicial á Demandada.

6. D'outra banda, o Requerido não cuidou de acostar aos autos


nenhuma prova que elidisse, de forma potente, as alegações
autorais, especialmente, no que se refere aos repasses de que se
ressente ao Demandante. A par disso, o Recorrente não se
desincumbiu do ônus de provar fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do Autor, nos termos do art. 373, II,
CPC/15. E, desta feita, o Requerido atrai para si a incidência do
art. 667, CC/02, o qual o obriga a indenizar o mandante por
quaisquer prejuízos advindos de sua conduta culposa. Confira-
se: Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua
diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar
qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer
pessoalmente.

7. Por consectário, o pedido autoral de reparação material está


consubstanciado apenas nos valores não repassados decorrentes
da locação, os quais não foram pagos e são representativos do
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custeio da locação e seus anexos, bem como das taxas de


condomínio.

8. No caso, a Parte Promovida garantiu o valor do contrato de


locação desde o início: desde janeiro de 2016 até a data da
restituição do imóvel. Porém, assim não procedeu, de modo a
incidir o art. 475, CC/02: Art. 475 - A parte lesada pelo
inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não
preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos
casos, indenização por perdas e danos.

9. Noutro viés, a indenização moral pretendida para Requerente


exorbita ao atinente ao mero descumprimento contratual, mas a
todos os embaraços pessoais, aborrecimentos, abalos,
desassossegos, dentre outros similares, que se sucederam na
malsinada locação.

10. Sem sombra de dúvida a situação, em si, ultrapassa o mero


aborrecimento ou apenas o dissabor e, por certo, não se insere na
rotina das pessoas que contratam Administradoras de Imóveis
em Fortaleza.

11. DESPROVIMENTO do Apelo, para manter a sentença.

ACÓRDÃO:

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de
Justiça do Ceará, por unanimidade, o Desprovimento do Recurso, nos termos do voto do
Relator, Desembargador Francisco Darival Beserra Primo.

Fortaleza, 21 de agosto de 2019.

DESEMBARGADOR FRANCISCO DARIVAL BESERRA PRIMO


Presidente e Relator
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RELATÓRIO

Trata-se de Apelação contra sentença cujo dispositivo segue, ipsis


litteris:

Diante do exposto, julgo procedente o pedido para:

1) declarar rescindido o contrato de administração imobiliária,


transformando o provimento antecipatório em definitivo;

2) determinar à Promovida que proceda à devolução imediata


dos valores recebidos, decorrentes de pagamento do contrato
de locação do imóvel - - caução, alugueis, encargos - -
decorrentes da referida locação do imóvel, situado na rua à
Rua Iguaçu, nº 58, Q-G1, lote , Cararu, Loteamento Alphaville
Fortaleza , a partir de janeiro de 2016 até a efetiva rescisão da
locação do referido imóvel, a ser apurada em sede de
liquidação por cálculos contábeis ou, se necessário a juntada
de documentos, que se faça através da liquidação por
arbitramento, esta última modalidade, se necessário.

3)Condeno a Promovida a pagar ao Autor danos morais,


representado pelo valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
atualizado monetariamente pelo INPC a partir deste
arbitramento, acrescido de juros moratórios de 1% ao mês.
Condeno a Demandada em pagamento de custas e despesas
processuais, e honorários advocatícios que fixo em 10% do
valor da condenação.

O valor da dívida deverá ser apurado em sede de liquidação de


sentença.

Aclaratórios rejeitados, às f. 160/161.

No caso, a Autora reclamou em juízo a rescisão do contrato de


prestação de serviços de administração imobiliária firmado com a pessoa do
apelante FRANCISCO GUILHERME ALBURQUERQUE LIMA, por considerar que
não foram observados os preceitos firmados no contrato de serviço, que tinha como
finalidade a locação do imóvel residencial de propriedade da autora/embargada,
localizado no Condomínio Alphaville Fortaleza, situado a Rua Iguaçu, nº 58, Q-G1,
Lote 04, Bairro Cararu, cidade do Eusébio/CE.
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Em sede de Apelação, às f. 164/173, a Parte Recorrente sustenta a


inexistência de má fé ou negligência na consecução do contrato subjacente.

Desta feita, roga que a decisão recorrida deve ser devidamente


adequada à realidade negocial, no sentido de enquadrar nos termos contratuais a
obrigação de restituição dos valores envolvidos no malsinado negócio, cujo relatório
foi devidamente explicitado por ocasião dos aclaratórios, sendo certo que o
Apelante, além de ter o direito de reter o primeiro aluguel pago em JAN/2016 como
comissão, tinha a responsabilidade pela garantia do aluguel limitada até o ingresso
da ação de despejo, fato ocorrido em 29/07/2016.

Todavia, ao exame do decisório às f. 127/133, observa que a


obrigação judicial imposta pela magistrada ultrapassou os limites acertados no
contrato assinado pelas partes, fixando como limite temporal o mês de JAN/2016 até
o encerramento do contrato, que se deu com a entrega das chaves na secretaria em
data de 04/05/2017.

Por fim, roga o Provimento do manejo.

Contrarrazões, às f. 179/185, pela preservação da decisão singular,


sem quaisquer retoques.

É o Relatus.

VOTO

Rememore-se.

Inicialmente, a Apelada contratou a empresa de Administração de


Imóveis do Apelante, tendo em vista que o Proprietário da Administradora residia no
mesmo local do imóvel a ser alugado, a saber: o Condomínio Alphaville.

Houve uma primeira locação, a qual transcorreu em completa


regularidade.

Assim, em seguida, a Promovente fez com a Recorrente novo


contrato de administração.

Acontece que, os APELANTES fecharam uma segunda locação


com um novo Locatário, no valor de R$ 3.800,00 (três mil e oitocentos reais) por
mês), de modo que pagou à Administradora, a título de caução, o valor relativo a 03
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(três) meses de aluguel, totalizando R$ 11.400,00 ( onze mil e quatrocentos reais),


pois não apresentado Fiador.

Por sinal, esse foi o único valor pago pelo locatário à administradora
e tal nunca foi repassado à Promovente.

Referido Contrato de Locação foi efetivado em janeiro/2016.

Todavia esse último locatário nunca pagou nenhum mês de aluguel


e nenhuma taxa condominial enquanto perdurou o contrato de locação.

E mais, o nome da Requerente continuou como a titular da taxa de


condomínio em débito por vários meses seguidos, inclusive, seu nome ficou com
restrições perante o condomínio, o que culminou com uma Ação de Execução das
taxas inadimplidas.

Ainda, há de se consignar que referidos débitos foram todos pagos,


parceladamente pela própria proprietária, a Apelada.

Eis o nascedouro da lide em que se postula a Rescisão Contratual


com Reparação de Danos Materiais e Morais.

Nessa perspectiva, a Autora acostou aos autos, às f. 16/21, o


contrato de administração imobiliária e dos documentos relativos às taxas
condominiais, COELCE e tributos incidentes sobre o imóvel, comprovando a
existência de vários débitos.

Com efeito, a Promovente ainda colacionou o contrato de locação a


terceiros, a notificação extrajudicial á Demandada.

D'outra banda, o Requerido não cuidou de acostar aos autos


nenhuma prova que elidisse, de forma potente, as alegações autorais,
especialmente, no que se refere aos repasses de que se ressente ao Demandante.

E tal circunstância foi vislumbrada na sentença, conforme se vê na


transcrição, ipsis litteris:

Doutra maneira, não há qualquer prova atestando que a parte


Demandada tenha se desobrigado de prestar contas sobre as
referidas verbas, em decorrência da obrigação contratual
firmada entre ambas. As partes contestaram a alegação de
desídia quando do cumprimento do contrato de administração,
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juntando aos autos notificação efetuada ao Locatário, bem


como, a documentação atestando o ajuizamento da ação de
despejo, porém, não se desincumbiu de comprovar de ônus
contratual de comprovar que efetuara os repasses de
numerário relativos a administração do imóvel. No entanto, o
contrato de administração prevê, além da cobrança, a
obrigação relativamente ao resultado.

(...)

A omissão da administradora, no sentido de agilizar condutas


com o fim de cumprir os termos do contrato, a torna
responsável pela obrigação, mormente quando se tratar de
aluguel garantido, consoante consta na cláusula sexta do
contrato. (fls. 22/27).

A par disso, o Recorrente não se desincumbiu do ônus de provar


fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do Autor, nos termos do art. 373,
II, CPC/15.

E, desta feita, o Requerido atrai para si a incidência do art. 667,


CC/02, o qual o obriga a indenizar o mandante por quaisquer prejuízos advindos de
sua conduta culposa.

Confira-se:

Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência


habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer
prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer
pessoalmente.

Por consectário, o pedido autoral de reparação material está


consubstanciado apenas nos valores não repassados decorrentes da locação, os
quais não foram pagos e são representativos do custeio da locação e seus anexos
bem como das taxas de condomínio.

No caso, a Parte Promovida garantiu o valor do contrato de locação


desde o início: desde janeiro de 2016 até a data da restituição do imóvel.

Porém, assim não procedeu, de modo a incidir o art. 475, CC/02:


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Art. 475 - A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a


resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento,
cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e
danos.

Noutro viés, a indenização moral pretendida para Requerente


exorbita ao atinente ao mero descumprimento contratual, mas a todos os embaraços
pessoais, aborrecimentos, abalos, desassossegos, dentre outros similares, que se
sucederam na malsinada locação.

Sem sombra de dúvida a situação, em si, ultrapassa o mero


aborrecimento ou apenas o dissabor e, por certo, não se insere na rotina das
pessoas que contratam Administradoras de Imóveis em Fortaleza.

Não é que se esteja ao pleitear reparação pelo dano moral


sofrido, esteja estipulando um preço para a sua dor. Procura-se somente um modo
de atenuar as consequências sofridas, não em condição de equivalência ao
patrimônio lesado, como ocorre com os danos patrimoniais, mas como função
satisfatória e também de pena ao Agente causador, sanção esta que, por menor
que seja, é consoladora e satisfativa, demonstrando que o ordenamento jurídico
reprova o Ofensor e se preocupa com o Ofendido.

Nesta perspectiva, percebe-se que está pacificado o entendimento


do colendo Superior Tribunal de Justiça - STJ quanto à diretiva do valor da
indenização por Dano Moral, o qual somente pode ser alterado na Instância
Especial quando muito Aquém, Ínfimo ou Irrisório ou, por outro lado, deveras além,
Exacerbado e Exagerado, consideradas as suas peculiaridades do caso, em
especial, a extensão do dano sofrido.

Depreende-se das decisões que o STJ tem-se utilizado do Princípio


da Razoabilidade para tentar alcançar um Arbitramento Equitativo das indenizações
por prejuízos extrapatrimoniais.

Traçados os vetores diretivos do Arbitramento da Indenização,


segundo as circunstâncias concretas.

Destarte, o caso, em voga, apresenta particularidades próprias e


variáveis, todas importantes, tais quais, a Repercussão Local, a Dificuldade da
Produção de Provas, especialmente, Testemunhal, a Culpabilidade do Autor
Mediato e Imediato do Dano, a Intensidade do Sofrimento da Vítima, a Situação
Sócio-Econômica do Responsável, dentre outros aspectos, como o Caráter
Pedagógico aliado à nota de Prevenção de acontecimentos similares e demais
pormenores de concreção que devem ser sopesados no momento do Arbitramento
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Equitativo da Indenização, de modo a atender ao Princípio da Reparação Integral.

Isso posto, mister o DESPROVIMENTO do Apelo, para manter a


sentença.

É como Voto.

Fortaleza, 21 de agosto de 2019.

DESEMBARGADOR FRANCISCO DARIVAL BESERRA PRIMO


Relator

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