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Ética Aplicada aos Profissionais de Enfermagem

Introdução:

O presente trabalho pretende expor alguns conhecimentos teóricos sobre o código de ética
profissional e Bioética. Esta ciência em construção, nascida de um leque de preocupações no
seio de discussões éticas, envolvendo o domínio tecnológico no confronto com a biotecnologia,
goza de um percurso que permite atualmente distingui-la da sua ciência-mãe, a Ética, sem que
dela dependa e se inter-relacione.
Os temas da ética e da bioética interessam a toda a sociedade e tocam as preocupações de
cada indivíduo. A bioética, na sua perspectiva global, tornou-se a ciência da sobrevivência e uma
ponte para o futuro. No seu âmbito mais restrito, ela é a consciência crítica das ciências que
servem a vida e a saúde.
Sabe-se que o código de ética foi criado para instituir os direitos e deveres de cada profissional
de enfermagem. Com objetivos de organizar a classe, para assumirem responsabilidade, bem
como reconhecer os limites impostos pela profissão. O código de ética também é eficaz para
auxiliar na execução do trabalho de forma adequada e com qualidade, não pondo em risco a vida
do profissional de saúde ou da população. O profissional de enfermagem segue alguns outros
parâmetros éticos regidos pelos órgãos de classe o COFEN e os CORENs a ABEN e os
sindicatos.

ÉTICA:
Etimologicamente, a palavra Ética deriva de duas origens possíveis, sendo uma delas a palavra
grega éthos (costume) e a outra êthos (propriedade do caráter). A primeira serviu de base para
a tradução latina Moral, enquanto que a segunda é a que orienta a palavra Ética propriamente
dita (ARCHER, 1996).
Já Singer (1994) entende-a como sendo um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar
que guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar. Sendo assim o termo ética refere-se aos
padrões de conduta moral, isto é, padrão de comportamento relativos ao paciente, à instituição
e aos colegas de trabalho. Saber distinguir o que é certo e o que é errado é muito importante.
Saber proceder e ter bastante responsabilidade, dar ao paciente o bem estar físico, moral e social
do paciente. É preciso ter uma atitude moral que é a aplicação dos princípios éticos na vida
profissional. Implica o uso de liberdade controle, senso de responsabilidade supõe boa formação
de consciência, o que é indispensável para o profissional de saúde.

Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e


estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava
moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior a própria sociedade. A Moral tem
caráter obrigatório. Já a palavra Ética, Motta (1984) definiu como um “conjunto de valores que
orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive,
garantindo, igualmente, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se
comportar no seu meio social.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir
o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer
parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética
teria surgido com Sócrates, pois se exigi maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas
morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente
por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto
a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento
entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

ÉTICA PROFISSIONAL:

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem trata das leis e princípios, direitos e deveres,
responsabilidades, proibições que permeiam a conduta ética dos profissionais de enfermagem.
A Ética profissional tem relação direta com a confiança que a sociedade deposita no especialista
que executa determinado trabalho. Essa confiança decorre da diferença entre profissão e
ocupação. Tal como é concebida atualmente, a enfermagem tem como objetivo promover a
saúde, prevenir a doença e cuidar dos doentes. Assim, é exigido ao enfermeiro sólidos
conhecimentos científicos e técnicos para atender às necessidades básicas do indivíduo, família
ou comunidade.
A enfermagem é considerada como uma disciplina metade arte e metade ciência, colocando
entre a dicotomia um elo fundamental; o conhecimento, os saberes sem os quais não há cultura
nem sentido humanístico. O que é exigido para além dos saberes são os dotes ou qualidades
morais e cívicas inerentes à própria pessoa. (CARVALHO, 1996, p. 26)
Como refere Mariz
[...] a enfermagem é uma profissão que implica ciência atualizada, arte pertinente e apurado
sentido de discernimento entre o essencial e o urgente, no respeito ativo por cada pessoa e
respectiva circunstância social e ética. (MARIZ, 1995 p. 21).
Benner citado por Queirós (2001, p. 39) afirma que uma ética do cuidar tem de ser aprendida
experiencialmente, porque está dependente do reconhecimento dos comportamentos éticos em
situações específicas, no contexto de comunidades específicas, de práticas e de hábitos.
A qualidade do profissional está ligada à sua ética e, principalmente seu senso moral e seus
valores e maneira pela qual trata as pessoas. Um profissional íntegro sabe agir corretamente, as
pessoas confiam e sabem que podem contar com ele. Deve ser exercida em profundo respeito
pela liberdade das pessoas assim como pela sua identidade sociocultural e pelos valores éticos
e religiosos.

BIOÉTICA:
A Bioética atual é relativamente recente e possui já um corpo de conhecimentos que representam
de certa forma, o leque de alterações sofridas pela humanidade. É, portanto, o resultado de uma
evolução que teve o seu ponto de partida em Hipócrates, e no Juramento que ofereceu à
Medicina de sempre uma preocupação ética que ainda sobrevive na atualidade.
Segundo Neves (2001, p.12), o Juramento incluía o juramento aos deuses e às deusas gregas,
bem como a obrigatoriedade de lealdade ao mestre e a de manter secretos aos leigos todos os
conhecimentos adquiridos – princípio da confidencialidade, o juramento de conduta, ou
imperativos morais que conjuntamente constituem o que se designa por código de ética, enuncia
a proibição de cirurgia e a de ministrar drogas letais, para efeitos de aborto ou eutanásia, e ainda
o princípio hipocrático fundamental de beneficiar o paciente de acordo com a sua habilidade e
juízo – princípio da beneficência. A ética hipocrática é somente desafiada em pleno século XIX,
com Thomas Percival, autor do primeiro código ético. Para a mesma autora, o período que
intermeia ambos os acontecimentos não é, de todo vazio no tocante à reflexão ética. Esta se
debruçava essencialmente sobre a postura do médico, quer no seu relacionamento com os
doentes quer com os seus pares. Tratava-se, portanto, de uma ética reguladora de normas de
conduta, ou seja, uma deontologia ou ética profissional.
Após o contributo de Percival, que afastou timidamente as preocupações éticas da etiqueta
profissional, Archer (1996) refere que existem três fatos históricos na base do aparecimento de
uma nova bioética: abusos experimentais em seres humanos, as novas tecnologias e a
percepção da insuficiência dos referenciais éticos tradicionais.
As novas tecnologias que desde o século passado, revolucionaram o conhecimento científico,
obrigaram a reflexões profundas intimamente ligadas a aspectos éticos. A passagem inexorável
do tempo e a progressiva evolução de tudo presentearam o homem de inúmeras capacidades
que antes pertenciam à própria natureza.
Archer (1996) assinala como primeiro exemplo o aparecimento da Hemodiálise em 1960, seguido
dos estudos sobre morte cerebral da Universidade de Harvard em 1968. No primeiro caso, em
que a escassez de recursos físicos não abarcava todos os interessados em beneficiar da
hemodiálise, criou-se um comitê para selecionar os candidatos. No segundo caso, emerge uma
questão que é, atualmente, relevante: Quando desligar a respiração assistida em casos de morte
cerebral?
Mais tarde, e dado o número elevado de problemáticas que foram surgindo, adaptaram-se, com
sucesso, comissões éticas às instituições hospitalares, com o objetivo de criar condições
eticamente favoráveis à aplicação de estudos e proceder a uma tomada ética de decisões várias
perante problemas de ordem bioética.
Os fatores descritos até aqui contribuíram para o nascimento e maturação da Bioética que
atualmente existe. A par desses aspectos pode referir-se um último, relacionado com uma
tomada de consciência da insuficiência dos modelos éticos existentes até então. Para além do
código de Hipócrates, dos contributos da filosofia e da teologia:
[...] a própria ciência (...) passou a não poder fundamentar uma resposta ética (e) (...) teve de
prescindir de buscar o bem e de (...) poder fundamentar uma ética. (ARCHER, 1996, p.21).
Kuczwski (1994) entende as teorias éticas tradicionais (que dividiu em deontologia,
consequencialismo e ética da virtude) como gozando de uma natureza geral, o que dificulta a
dedução de prescrições definitivas, tornando-as pouco úteis quando em contexto de saúde. Por
isso, refere o autor, houve uma clara vitória da bioética.
Todos os avanços no conhecimento científico, no contexto do desconhecimento objetivo sobre
os resultados da aplicação das tecnologias e também do culto frenético da ficção científica mais
do que propriamente da ciência, provocaram uma proliferação de regras bioéticas de caráter
geral.
Desse modo, a bioética comunga de uma dimensão social intrínseca, fruto também dos avanços
tecno científicos e cognitivos. A Medicina de hoje não se pauta pela mera relação médico-
doente, mas passa pela prescrição de estilos de vida e determinadas condições que relevam
para nível sócio- econômico o âmbito da medicina. Os resultados que se obtêm não podem
unicamente ser interpretados pela classe médica, daí que urge apelar à dimensão social da
bioética.
É, assim, e graças a essa dimensão social necessária, que a Bioética se vem definindo, bebendo
de vários conhecimentos e áreas de saberes, o seu próprio corpo e domínio. Esse seu corpo,
resultado de um diálogo pluridisciplinar:
[...] pretende manter a autonomia e independência tanto das áreas científicas como das áreas
humanistas, respeitando e aceitando-as, mas procurando encontrar a sua complementaridade
na busca de respostas consensuais para a defesa da dignidade da pessoa humana. (ARCHER,
1996, p.25).
Finalmente, a bioética não perdeu as suas ligações com a filosofia e a teologia, mesmo quando
assistimos aos confrontos ciência- religião que pautam os nossos dias. Também a nível religioso,
tem havido a preocupação em debruçar-se sobre temáticas várias relacionadas com a bioética.
Por isso, foi criada a Academia Pontifícia para a Vida, pelo Papa João Paulo II que visa
estabelecer a ponte entre defesa da vida, dilemas bioéticos e moral cristã (ARCHER, 1996).

ÉTICA - EIS A QUESTÃO

No estudo deste capítulo, você terá oportunidade de delimitar a questão ética,


relacionando-a a produção e ao domínio das normas e dos valores que regulam a sociabilidade
ou a convivência dos homens em sociedade.

O homem é um ser social, pois vive em sociedade.

Mas o que é sociedade? Você já parou para pensar sobre isso?

Num sentido mais amplo, sociedade é a reunião de seres que vivem em grupo. Assim,
as abelhas formam uma sociedade; os homens formam uma sociedade.

Num sentido mais restrito, sociedade é um conjunto de pessoas que vivem em


determinada faixa de tempo e de espaço – seguindo normas comuns – e que são unidas pelo
sentimento de consciência do grupo. Como exemplos, podemos citar a sociedade medieval, a
sociedade moderna.

Pois bem, a partir da constatação de que vivemos em sociedade, encontramos regras,


leis e normas que regulam as relações entre os homens.

E por que existem essas regras, leis e normas? Quem as elabora?

Elas são necessárias porque a sociabilidade humana – a convivência dos homens em


sociedade – precisa acontecer dentro de certa ordem.

É importante considerar que a ordem humana não é natural como é, por exemplo, a
ordem existente na comunidade das formigas ou das abelhas. Essas comunidades desenvolvem
uma série de comportamentos de ração e adaptação à natureza. Assim criam uma ordem que
permanece ao longo do tempo, porque é produzida pelos comportamentos naturais, herdados
geneticamente e passados de geração a geração.

A ordem humana é bem diferente. Ela é artificial. O homem não a recebe pronta, como
herança genética. Ele tem que inventá-la, construí-la e reconstruí-la; dar-lhe uma forma
satisfatória ao atendimento de suas necessidades e aspirações, que mudam ao longo da história.
Por isso mesmo, na sociedade atual, a ordem é tão diferente daquela vivida pelos homens da
antiguidade.

Por ordem humana, entende-se o conjunto de normas, regras, leis, os valores, os modos de
relacionamento – seja no trabalho, na família ou entre amigos.

E, depois de inventada certa ordem, reconhecida como justa e verdadeira para uma
determinada época, são os homens que julgam seus próprios comportamentos – e o do outro –
avaliam se estão de acordo contra o que está estabelecido.

É importante compreender que esse julgamento se dá em diferentes esferas.

Uma das esferas de julgamento do comportamento humano é a das leis jurídicas, de


caráter objetivo ou positivo, porque a cada perturbação da ordem fazem corresponder,
concretamente, uma sanção ou punição.

Consideremos por exemplo, o homicídio. Trata-se de um comportamento que causa


repulsa e indignação. E a ele corresponde uma punição, objetivamente determinada pela
legislação, que varia apenas em função dos motivos e da sociedade onde se dá o crime. Estamos
no campo do Direito. Outra esfera de julgamento do comportamento humano é de ordem
subjetiva. Nesse caso, é o sujeito individual, sua consciência moral que atribui valores aos
atos humanos, pronunciando-se sobre a correção ou a incorreção da atitude tomada em
determinada situação.

Consciência Moral é a capacidade interna que o indivíduo tem de reagir ao certo e ao errado,
a capacidade de distinguir entre o Bem e o Mal. As normas morais são muito anteriores ao direito.
Elas desempenham uma função social vital e são cumpridas por convicção íntima, por adesão.
Diferentemente, as normas jurídicas são uma imposição do Estado e, por isso, são cumpridas mesmo
quando não estamos convencidos de que sejam justas.

Para exemplificar, tomemos o caso da mentira. Trata-se de um comportamento também


considerado indigno, mas a ele não corresponde nenhuma punição objetiva, a não ser o
desmerecimento ou descrédito do indivíduo no grupo a que pertence. E esse desmerecimento é
resultado do julgamento do grupo em relação ao comportamento inadequado do indivíduo.
Estamos aqui nos referindo a um julgamento subjetivo, ditado pelo sujeito, por sua consciência
moral. Estamos no campo da Ética.

Falar sobre Ética é falar sobre valores e virtudes. Valor e Virtude, por sua vez, se
referem a comportamento humano. Então, o campo ético é constituído, de um lado, por
comportamentos e, de outro, por juízos de valor, pela apreciação sobre esses
comportamentos.

A reflexão ética passa justamente por essa questão: o estabelecimento de juízos de


valor para o que está conforme ou contrário às normas de convivência dos homens em
sociedade. Daí serem tão comuns as expressões éticas e antiéticas, quando nos referimos a
certas atitudes dos indivíduos em sociedade.

Secretaria de obras do município de Hortalina recebe proposta de suborno da empresa responsável pela
construção do açude na cidade. Consultado sobre o episódio, o secretário declarou considerar revoltante esse tipo
de expediente utilizado por muitas firmas do ramo.
Se você leu essa notícia com atenção, deve ter observado que a primeira afirmação
expressa um juízo de fato, juízo que se refere a um acontecimento, a uma situação ocorrida
concretamente. Já a segunda expressa um juízo de valor, uma apreciação, uma avaliação sobre
o acontecimento.

A ética, enquanto estudo dos juízos de apreciação da conduta humana – os juízos de


valor – encontra-se frequentemente diante do conflito de ter de decidir entre o que é o Bem e o
que é o Mal.

E como fazer essa distinção? De que critérios ou parâmetros dispõem para decidir sobre
o Bem e o Mal?

Essa questão, de solução aparentemente difícil, pode ser esclarecida se considerarmos


a própria natureza humana.

E o que queremos dizer com isso?

Queremos dizer que os indivíduos possuem algumas características que são próprias de
todos os homens. E quando refletimos sobre estas características, podemos compreender
melhor porque ele se comporta de uma maneira ou de outra.

Vamos agora parar para refletir sobre dois casos reais que ficaram famosos na época
em que aconteceram.

Um deles é sobre um rapaz norte-americano que congelava cadáveres. Esse caso


causou repugnância às pessoas. Comer carne humana?! Matar para comer as vítimas!!! Um
horror! O fato é que o rapaz foi julgado e condenado à prisão perpétua.

O outro caso aconteceu com sobreviventes de um desastre aéreo. Enquanto


aguardavam resgate, os sobreviventes comiam carne humana. Ao tomarem conhecimento desse
fato, as pessoas sentiram pena, discutiram sobre a situação, mas ninguém condenou os
sobreviventes do desastre. A atitude deles era justificável em nome do instinto de sobrevivência,
característica natural do ser humano. O assassino norte-americano foi condenado porque seu
motivo era outro: perversão, inversão total de valores.

Ora, o homem se mostra, por natureza, um ser dividido: é racional, mas também é
animal; é consciente, mas também é inconsciente; é público, mas também tem uma dimensão
privada, particular. A questão ética apresenta-se, assim, como um conflito entre o que ele deve
fazer o que quer fazer.

Por outro lado, esse ser contraditório – o homem – tem como condição básica estar
extremamente insatisfeito com sua situação. Ele convive e vive muito mais com o que deve ser
do que com o que ele é de fato.

É justamente porque desejamos realizar um projeto de vida diferente – a busca daquilo


que queremos ser - é que recusamos a realidade de nossas imperfeições do sistema em que
vivemos. Por isso contemplamos o universo ético, o universo da construção de um homem
idealizado, bem como de uma sociedade ideal, mais humana, na qual igualdade e liberdade
prevaleçam como valores supremos.

A EXISTÊNCIA ÉTICA É, SEMPRE, UM DESAFIO, UM CONVITE PARA


REALIZARMOS O PROJETO DE NOS TORNARMOS MAIS HUMANOS.

É porque queremos nos tornar mais humanos que buscamos construir uma sociedade
possível, melhor do que a sociedade real. Por isso a dimensão moral do homem compreende,
além da esfera individual, privada, a esfera pública, a vida social, a ação do cidadão.

Pode-se concluir, então, que é somente na relação com os outros homens que os
comportamentos individuais podem ser avaliados como virtuosos ou não-virtuosos - como éticos
ou não-éticos.
EMBORA A CONSCIÊNCIA MORAL SEJA DE ORDEM INDIVIDUAL, É APENAS UM
GRUPO, EM SOCIEDADE, NUMA ORGANIZAÇÃO, NA RELAÇÃO COM OUTROS HOMENS
QUE SE PODE SER ÉTICO OU AÉTICO.

Logo, para pensar a origem da ética tem-se que pensar tanto a ordem racional como a
ordem política e social. Isso significa que a dimensão ética, apesar de orientada pela razão
individual, está sempre voltada para a vida pública dos homens.

A prática ética deve, portanto, fazer coincidir o plano do indivíduo e do coletivo, uma vez,
para ser virtuosa, a ação deve visar o bem comum, indo ao encontro do interesse da
coletividade.

Entretanto, a sociedade ocidental contemporânea tende a pensar a ética apenas na


dimensão do indivíduo particular.

Falamos em sociedade ocidental contemporânea porque essa sociedade representa nosso padrão de
cultura, o modo como nos relacionamos. Outras sociedades – a indígena, africana ou do Extremo Oriente, por
exemplo – possui outros padrões de comportamento, outros valores, outra forma de se relacionar com a
produção de bens e de serviços.
É disso que falamos quando nos

É disso que falamos quando referimos à crise dos valores humanistas: uma sociedade
marcada pelo egoísmo das relações sociais, pela valorização do “tirar vantagem”, pela ausência
da solidariedade humana, pela indiferença para com a miséria alheia e pela tolerância com a
corrupção e a impunidade.

Mas será que foi sempre assim?

Não, os valores se modificam no tempo e sofrem influência das relações de poder existentes na
sociedade. É isso que você verá a seguir, no capítulo 2, num breve percurso pela história das
ideias éticas.

EXERCÍCIOS

1. Leia com atenção, a afirmação a seguir:

No mundo animal, à semelhança do que acontece no mundo humano, as ações de cada


um dos membros de uma comunidade se desenvolvem segundo certa ordem em direção aos
objetivos perseguidos. A diferença entre uma e outra ordem é que, no mundo animal ela é natural
e, no mundo humano, é artificial.

Explique o que caracteriza a naturalidade da ordem animal e a artificialidade da ordem


humana.

2. Tanto a consciência moral como as leis jurídicas são esferas de julgamento do


comportamento humano em sociedade.

Estabeleça a distinção entre a esfera de julgamento moral e a jurídica, indicando as


características de cada uma.

3. Reflita sobre esta situação:

Isolado numa ilha deserta, sem qualquer contato com a civilização, Alfredo viveu, durante
anos, do que a natureza lhe proporcionou como meio de subsistência, até ser resgatado pela
tripulação de uma embarcação de pesquisa oceanográfica.

Agora responda:

Durante o tempo em que passou por essa experiência, seria possível a Alfredo vivenciar
o que consideramos a dimensão ética dos homens? Teria ele tido condições de manifestar
valores, comportamentos que possam ser considerados éticos?
Justifique sua opinião.

4. Leia com atenção o trecho a seguir:

Cansado e abatido, após ser liberado da prisão em Castela, na Espanha, onde esteve
em consequência do fracasso das primeiras tentativas de colonização espanhola do Novo
Mundo, Colombo encontra-se com um dos conselheiros da rainha, que sempre tramou contra
seus projetos de conquista. Mal disfarçando o rancor, o conselheiro o aborda, iniciando-se o
seguinte diálogo:

- Não és nada, diz o conselheiro da rainha. Não passas de um simples sonhador.

- Olha para fora, responde Colombo. O que vês?

- Vejo torres, igrejas, palácios, edifícios tão altos que quase encontram o céu. A
civilização!

- Essas coisas que vês, diz Colombo, não existiriam não fossem pessoas iguais a mim.
A diferença entre nós é apenas uma: eu sonhei, eu fiz. E tu? Que fizestes?

(trecho de cena do filme “1942 – A conquista do Paraíso”, que relata, de forma


romanceada, a descoberta da América)

O diálogo entre Colombo e o conselheiro da Rainha faz referência a um dos traços


humanos fundamentais ao exercício da dimensão ética. A partir do diálogo, identifique que traço
é esse.

5. Muito frequentemente tomamos certas atitudes, desenvolvemos


comportamentos que não correspondem, exatamente, aos nossos desejos,
impulsos e satisfação momentânea.

Pense sobre isto e depois responda:

Por que esse é um tipo de comportamento tão comum entre os homens? O que os levaria a agir
dessa forma?

CONCLUSÃO:

A ética, através das normas de conduta, norteia qual o caminho a ser seguido. O homem é livre;
diante de uma situação concreta é obrigado a escolher entre dois caminhos. Nesta escolha,
surge a ética surge como limitação da liberdade de cada um, em face da liberdade do outro. Uma
vez aceita a escolha, nasce a responsabilidade, que é elemento moral de qualquer conduta. A
escolha é do profissional de agir dentro da ética e da moral ou não, agindo com profissionalismo
com respeito, pois o paciente nada mais é que um ser humano com sentimentos, com problemas,
ele também sente dor, sente fome, como todos nós devendo se acima de tudo respeitado.
Agir eticamente dentro da enfermagem nada mais é do que saber decidir pelo posicionamento
correto, o profissional íntegro saberá agir corretamente, com atitude simples irá despertar a
confiança de seus pacientes e de seus colegas, pois todos saberão que se trata de um
profissional que age com responsabilidade, comprometimento e consciência moral.

CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM:

(Reformulado: Entrará em vigor a partir de 12/05/2007)


CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
ANEXO

PREÂMBULO

A Enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e


técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se
processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços à pessoa,
família e coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida.

O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de


construção de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional
configurado pela responsabilidade no plano das relações de trabalho com reflexos no campo
científico e político.

A Enfermagem Brasileira, face às transformações socioculturais, científicas e legais,


entendeu ter chegado o momento de reformular o Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem (CEPE).

A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de Enfermagem com a


participação dos Conselhos Regionais de Enfermagem, inclui discussões com a categoria de
Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem está organizado por assunto e inclui
princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes à conduta ética dos
profissionais de Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a


necessidade e o direito de assistência em Enfermagem da população, os interesses do
profissional e de sua organização. Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe
que os trabalhadores de Enfermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência
sem riscos e danos e acessível a toda população.

O presente Código teve como referência os postulados da Declaração Universal dos


Direitos do Homem, promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1948) e adotada
pela Convenção de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética do Conselho
Internacional de Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação Brasileira de
Enfermagem (1975). Teve como referência, ainda, o Código de Deontologia de Enfermagem do
Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem
(1993) e as Normas Internacionais e Nacionais sobre Pesquisa em Seres Humanos [Declaração
Helsinque (1964), revista em Tóquio (1975) e a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde,
Ministério da Saúde (1996)].

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e qualidade de vida da


pessoa, família e coletividade.

O Profissional de Enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação


da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais.

O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações


que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das
políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços
de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas,
participação da comunidade, hierarquização e descentralização político-administrativa dos
serviços de saúde.

O Profissional de Enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em


todas as suas dimensões.

O Profissional de Enfermagem exerce suas atividades com competência para a


promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da
bioética.

CAPÍTULO I

DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

DIREITOS

Art. 1º - Exercer a Enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os


pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos.

Art. 2º – Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão


sustentação a sua prática profissional.

Art. 3º - Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional e à defesa dos


direitos e interesses da categoria e da sociedade.

Art. 4º - Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do Conselho
Regional de Enfermagem.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, equidade, resolutividade,


dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade.

Art. 6º – Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito, na


solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica.

Art. 7º Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos que infrinjam dispositivos
legais e que possam prejudicar o exercício profissional.

PROIBIÇÕES

Art. 8º - Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação de membro da


Equipe de Enfermagem Equipe de Saúde e de trabalhadores de outras áreas, de organizações
da categoria ou instituições.

Art. 9 – Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer outro ato,
que infrinja postulados éticos e legais.

SEÇÃO I

DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E COLETIVIDADE.

DIREITOS
Art. 10- Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica,
científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, família e
coletividade.

Art. 11 - Ter acesso às informações, relacionadas à pessoa, família e coletividade,


necessárias ao exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de Enfermagem livre de


danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.

Art. 13 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e


somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para
outrem.

Art. 14 – Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e culturais, em


benefício da pessoa, família e coletividade e do desenvolvimento da profissão.

Art. 15 - Prestar Assistência de Enfermagem sem discriminação de qualquer natureza.

Art. 16 - Garantir a continuidade da Assistência de Enfermagem em condições que


ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades profissionais decorrentes de
movimentos reivindicatórios da categoria.

Art. 17 - Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito dos


direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da Assistência de Enfermagem.

Art. 18 - Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa ou de


seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento, conforto e bem estar.

Art. 19 - Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu


ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.

Art. 20 - Colaborar com a Equipe de Saúde no esclarecimento da pessoa, família e


coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca de seu estado de
saúde e tratamento.

Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de imperícia,


negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da Equipe de Saúde.

Art. 22 - Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos de


emergência, epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.

Art. 23 - Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de defesa do cidadão,


nos termos da lei.

Art. 24 – Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à preservação do meio


ambiente e denunciar aos órgãos competentes as formas de poluição e deteriorização que
comprometam a saúde e a vida.

Art. 25 – Registrar no Prontuário do Paciente as informações inerentes e indispensáveis


ao processo de cuidar.

PROIBIÇÕES
Art. 26 - Negar Assistência de Enfermagem em qualquer situação que se caracterize
como urgência ou emergência.

Art. 27 – Executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento da pessoa


ou de seu representante legal, exceto em iminente risco de morte.

Art. 28 - Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação.

Parágrafo único - Nos casos previstos em Lei, o profissional deverá decidir, de acordo
com a sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo.

Art. 29 - Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a antecipar a morte do


cliente.

Art. 30 - Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar-se


da possibilidade dos riscos.

Art. 31 - Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos casos previstos
na legislação vigente e em situação de emergência.

Art. 32 - Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a segurança da


pessoa.

Art. 33 - Prestar serviços que por sua natureza competem a outro profissional, exceto
em caso de emergência.

Art. 34 - Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma de violência.

Art. 35 - Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada.

SEÇÃO II

DAS RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM, SAÚDE E OUTROS.

DIREITOS

Art. 36 - Participar da prática profissional multi e interdisciplinar com responsabilidade,


autonomia e liberdade.

Art. 37 - Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica, onde não


conste a assinatura e o numero de registro do profissional, exceto em situações de urgência e
emergência.

Parágrafo único – O profissional de enfermagem poderá recusar-se a executar


prescrição medicamentosa e terapêutica em caso de identificação de erro ou elegibilidade.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais,


independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe.

Art. 39 - Participar da orientação sobre benefícios, riscos e conseqüências decorrentes


de exames e de outros procedimentos, na condição de membro da equipe de saúde.

Art. 40 – posicionar-se contra falta cometida durante o exercício profissional seja por
imperícia, imprudência ou negligência.
Art. 41 - Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas necessárias
para assegurar a continuidade da assistência.

PROIBIÇÕES

Art. 42 - Assinar as ações de Enfermagem que não executou, bem como permitir que
suas ações sejam assinadas por outro profissional.

Art. 43 - Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de saúde, no


descumprimento da legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização,
fecundação artificial e manipulação genética.

SEÇÃO III

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES DA CATEGORIA

DIREITOS

Art. 44 - Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido de cumprir


o presente Código, a legislação do Exercício Profissional e as Resoluções e Decisões emanadas
pelo Sistema COFEN/COREN.

Art. 45 - Associar-se, exercer cargos e participar de Entidades de Classe e Órgãos de


Fiscalização do Exercício Profissional.

Art. 46 – Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e convocações.

Art. 47 – Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, mediadas cabíveis para


obtenção de desagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 48 - Cumprir e fazer os preceitos éticos e legais da profissão.

Art. 49 – Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem, fatos que firam preceitos do


presente Código e da legislação do exercício profissional.

Art. 50 – Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que


envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego, motivado pela necessidade do
profissional em cumprir o presente Código e a legislação do exercício profissional.

Art. 51 – Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações do Conselho


Federal e Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 52 – Colaborar com a fiscalização de exercício profissional.

Art. 53 – Manter seus dados cadastrais atualizados, e regularizadas as suas obrigações


financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 54 – Apurar o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem


em assinatura, quando no exercício profissional.

Art.55 – Facilitar e incentivar a participação dos profissionais de enfermagem no


desempenho de atividades nas organizações da categoria.

PROIBIÇÕES
Art. 56 – Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e às
demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.

Art. 57 – Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos que envolvam
recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pela necessidade do profissional em
cumprir o presente código e a legislação do exercício profissional.

Art. 58 – Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou comprometam


a finalidade para a qual foram instituídas as organizações da categoria.

Art. 59 - Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o exercício


profissional quando solicitado pelo Conselho Regional de Enfermagem.

SEÇÃO IV

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES EMPREGADORAS DIREITOS

Art. 60 - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do seu


aprimoramento técnico-científico, do exercício da cidadania e das reivindicações por melhores
condições de assistência, trabalho e remuneração.

Art. 61 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição


pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições dignas para o exercício
profissional ou que desrespeite a legislação do setor saúde, ressalvadas as situações de
urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente por escrito sua decisão ao Conselho
Regional de Enfermagem.

Art. 62 - Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de formação, a jornada


de trabalho, a complexidade das ações e responsabilidade pelo exercício profissional.

Art. 63 - Desenvolver suas atividades profissionais em condições de trabalho que


promovam a própria segurança e a da pessoa, família e coletividade sob seus cuidados, e dispor
de material e equipamentos de proteção individual e coletiva, segundo as normas vigentes.

Art. 64 - Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de material ou


equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação específica.

Art. 65- Formar e participar da comissão de ética da instituição pública ou privada onde
trabalha, bem como de comissões interdisciplinares.

Art. 66 - Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu exercício


profissional e do setor saúde.

Art. 67 - Ser informado sobre as políticas da instituição e do Serviço de Enfermagem,


bem como participar de sua elaboração.

Art. 68 – Registrar no prontuário e em outros documentos próprios da Enfermagem


informações referentes ao processo de cuidar da pessoa.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 69 – Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento técnico, científico


e cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua orientação e supervisão.

Art. 70 - Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades de ensino,


pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias deliberativas da instituição.
Art. 71 - Incentivar e criar condições para registrar as informações inerentes e
indispensáveis ao processo de cuidar.

Art. 72 – Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de


forma clara, objetiva e completa.

PROIBIÇÕES

Art. 73 – Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas ou jurídicas que


desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profissional de Enfermagem.

Art. 74 - Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de


concorrência desleal.

Art. 75 – Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital, casa de saúde,
unidade sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso, empresa ou estabelecimento congênere
sem nele exercer as funções de Enfermagem pressupostas.

Art. 76 - Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e coletividade, além


do que lhe é devido, como forma de garantir Assistência de Enfermagem diferenciada ou
benefícios de qualquer natureza para si ou para outrem.

Art. 77 - Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com pessoas físicas ou


jurídicas para conseguir qualquer tipo de vantagem.

Art. 78 – Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo, para
impor ordens, opiniões, atentar contra o pudor, assediar sexual ou moralmente, inferiorizar
pessoas ou dificultar o exercício profissional.

Art. 79 – Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou particular de


que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de outrem.

Art. 80 - Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de Enfermagem


ou de saúde, que não seja Enfermeiro.

CAPÍTULO II

DO SIGILO PROFISSIONAL

DIREITOS

Art. 81 – Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em


razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 82 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua
atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com o consentimento
escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal.

§ 1º Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conhecimento público e em caso


de falecimento da pessoa envolvida.

§ 2º Em atividade multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado quando


necessário à prestação da assistência.
§ 3º O profissional de Enfermagem intimado como testemunha deverá comparecer
perante a autoridade e, se for o caso, declarar seu impedimento de revelar o segredo.

§ 4º - O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser mantido, mesmo


quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde que o menor tenha
capacidade de discernimento, exceto nos casos em que possa acarretar danos ou riscos ao
mesmo.

Art. 83 – Orientar, na condição de Enfermeiro, a equipe sob sua responsabilidade sobre


o dever do sigilo profissional.

PROIBIÇÕES

Art. 84 - Franquear o acesso a informações e documentos a pessoas que não estão


diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos previstos na legislação
vigente ou por ordem judicial.

Art. 85 - Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma que os


envolvidos possam ser identificados.

CAPÍTULO III

DO ENSINO, DA PESQUISA E DA PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

DIREITOS

Art. 86 - Realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, respeitadas as normas


ético-legais.

Art. 87 – Ter conhecimento acerca do ensino e da pesquisa a serem desenvolvidos com


as pessoas sob sua responsabilidade profissional ou em seu local de trabalho.

Art. 88 – Ter reconhecida sua autoria ou participação em produção técnico-científica.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 89 – Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos,


segundo a especificidade da investigação.

Art. 90 - Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade


da pessoa.

Art. 91 - Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos


autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus resultados.

Art. 92 - Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e sociedade


em geral.

Art. 93 - Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais da profissão no


ensino, na pesquisa e produções técnico-científicas.

PROIBIÇÕES

Art. 94 - Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito


inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo de
risco ou dano aos envolvidos.
Art. 95 - Eximir-se da responsabilidade por atividades executadas por alunos ou
estagiários, na condição de docente, Enfermeiro responsável ou supervisor.

Art. 96 - Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa, família ou


coletividade.

Art. 97 – Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem como, usá-los para fins
diferentes dos pré-determinados.

Art. 98 - Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do


estudo sem sua autorização.

Art. 99 – Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-científica ou instrumento


de organização formal do qual não tenha participado ou omitir nomes de co-autores e
colaboradores.

Art. 100 - Utilizar sem referência ao autor ou sem a sua autorização expressa, dados,
informações, ou opiniões ainda não publicados.

Art. 101 – Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, das quais tenha


participado como autor ou não, implantadas em serviços ou instituições sob concordância ou
concessão do autor.

Art. 102 – Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer constar seu nome como autor
ou co-autor em obra técnico-científica.

CAPÍTULO IV

DA PUBLICIDADE

DIREITOS

Art. 103 – Utilizar-se de veículo de comunicação para conceder entrevistas ou divulgar


eventos e assuntos de sua competência, com finalidade educativa e de interesse social.

Art. 104 – Anunciar a prestação de serviços para os quais está habilitado.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 105 – Resguardar os princípios da honestidade, veracidade e fidedignidade no


conteúdo e na forma publicitária.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 106 – Zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes formas de
divulgação.

PROIBIÇÕES

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 107 – Divulgar informação inverídica sobre assunto de sua área profissional.

Art. 108- Inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e instituições
sem sua prévia autorização.
Art. 109 – Anunciar título ou qualificação que não possa comprovar.

Art. 110 – Omitir, em proveito próprio, referência a pessoas ou instituições.

Art. 111 – Anunciar a prestação de serviços gratuitos ou propor honorários que


caracterizem concorrência desleal.

CAPÍTULO V

DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES

Art. 112 - A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação das


respectivas penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em
outros dispositivos legais.

Art. 113- Considera-se Infração Ética a ação, omissão ou conivência que implique em
desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem.

Art. 114 - Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos Conselhos
Federal e Regional de Enfermagem.

Art. 115 - Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática, ou
dela obtiver benefício, quando cometida por outrem.

Art. 116 - A gravidade da infração é caracterizada por meio da análise dos fatos do dano
e de suas consequências.

Art. 117 - A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos do


Código de Processo ético das Autarquias dos Profissionais de Enfermagem.

Art. 118 - As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e Regional de


Enfermagem, conforme o que determina o art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973, são
as seguintes:

I - Advertência verbal;

II - Multa;

III - Censura;

IV - Suspensão do Exercício Profissional;

V - Cassação do direito ao Exercício Profissional.

§ 1º - A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, de forma reservada, que


será registrada no Prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas.

§ 2º - A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (um) a 10 (dez) vezes o


valor da anuidade da categoria profissional à qual pertence o infrator, em vigor no ato do
pagamento.

§3º - A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais dos
Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação.
§ 4º - A suspensão consiste na proibição do exercício profissional da Enfermagem por
um período não superior a 29 (vinte e nove) dias e serão divulgados nas publicações oficiais dos
Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, jornais de grande circulação e comunicada aos
órgãos empregadores.

§ 5º - A cassação consiste na perda do direito ao exercício da Enfermagem e será


divulgada nas publicações dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de
grande circulação.

Art.119 - As penalidades, referentes à advertência verbal, multa, censura e suspensão


do exercício profissional, são da alçada do Conselho Regional de Enfermagem, serão registradas
no prontuário do profissional de Enfermagem; a pena de cassação do direito ao exercício
profissional é de competência do Conselho Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art.
18, parágrafo primeiro, da Lei n° 5.905/73. Parágrafo único - Na situação em que o processo tiver
origem no Conselho Federal de Enfermagem, terá como instância superior a Assembléia dos
Delegados Regionais.

Art. 120 - Para a graduação da penalidade e respectiva imposição consideram-se:

I - A maior ou menor gravidade da infração;

II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;

III - O dano causado e suas consequências;

IV - Os antecedentes do infrator.

Art.121 - As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, segundo a


natureza do ato e a circunstância de cada caso.

§ 1º - São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física, mental ou


moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade ou aquelas que venham a difamar
organizações da categoria ou instituições.

§ 2º - São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida, debilidade


temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa ou as que causem danos
patrimoniais ou financeiros.

§ 3º - São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte, deformidade


permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou ainda, dano moral irremediável
em qualquer pessoa.

Art. 122 - São consideradas circunstâncias atenuantes:

I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e com
eficiência, evitar ou minorar as consequências do seu ato;

II - Ter bons antecedentes profissionais;

III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação;

IV - Realizar ato sob emprego real de força física;

V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração.

Art. 123 - São consideradas circunstâncias agravantes:


I - Ser reincidente;

II - Causar danos irreparáveis;

III - Cometer infração dolosamente;

IV - Cometer a infração por motivo fútil ou torpe;

V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outra


infração;

VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima;

VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao cargo
ou função;

VIII - Ter maus antecedentes profissionais.

CAPÍTULO VI

DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES

Art. 124 - As penalidades previstas neste Código somente poderão ser aplicadas,
cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo.

Art. 125 - A pena de Advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao que está
estabelecido nos artigos: 5º a 7º; 12 a 14; 16 a 24; 27; 30; 32; 34; 35; 38 a 40; 49 a 55; 57; 69 a
71; 74; 78; 82 a 85; 89 a 95; 89; 98 a 102; 105; 106; 108 a 111 Código.

Art. 126 - A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido
nos artigos: 5º a 9º; 12; 13; 15; 16; 19; 24; 25; 26; 28 a 35; 38 a 43; 48 a 51; 53; 56 a 59; 72 a
80; 82; 84; 85; 90; 94; 96; 97 a 102; 105; 107; 108; 110; e 111 deste Código.

Art. 127 - A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido
nos artigos: 8º; 12; 13; 15; 16; 25; 30 a 35; 41 a 43; 48; 51; 54; 56 a 59 71 a 80; 82; 84; 85; 90;
91; 94 a 102; 105; 107 a 111 deste Código.

Art. 128- A pena de Suspensão do Exercício Profissional é aplicável nos casos de


infrações ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 9º; 12; 15; 16; 25; 26; 28; 29; 31; 33 a 35; 41
a 43; 48; 56; 58; 59; 72; 73; 75 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96 a 102; 105; 107 e 108 deste Código.

Art.129 - A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profissional é aplicável nos casos


de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 9º, 12; 26; 28; 29; 78 e 79 deste Código.

CAPITULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 130- Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de Enfermagem.

Art. 131- Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Enfermagem, por
iniciativa própria ou mediante proposta de Conselhos Regionais.

Parágrafo único - A alteração referida deve ser precedida de ampla discussão com a
categoria, coordenada pelos Conselhos Regionais.
Art. 132 O presente Código entrará em vigor 90 dias após sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007.

A MORTE PARA O PROFISSIONAL DA SAÚDE

INTRODUÇÃO

Os profissionais da área da saúde são freqüentemente expostos a situações de enfrentamento


da morte de pessoas sob seus cuidados, sobretudo aqueles que atuam em serviços hospitalares.

Apesar desse confronto com a morte no seu cotidiano de trabalho, esses profissionais encontram
dificuldade em encará-la como parte integrante da vida, considerando-a, com freqüência, como
resultado do fracasso terapêutico e do esforço pela cura.

Estudar as concepções culturais do processo saúde-doença-morte nas diferentes sociedades


pode possibilitar aos profissionais de enfermagem compreenderem seus próprios valores e
crenças diante do processo de morrer e da morte bem como suas atitudes e ações relacionadas
com as questões do cotidiano que influenciam na sua vida pessoal e profissional.

O sofrimento das pessoas que compõe a equipe de enfermagem parece ser mascarado pelo
cumprimento das rotinas. Este sofrimento decorrente do envolvimento emocional da equipe são
fatos vivenciados na unidade hospitalar e estão diretamente ligados aos valores pessoais, à
história de vida e à patologia que acomete o paciente.

1- CONCEITUANDO A MORTE

Não podemos falar da morte sem antes tentar conceituá-la. Para Vieira (2006, p.21) "a pergunta
'o que é morte' tem múltiplas respostas e nenhuma delas conclusiva, pois a questão transcende
os aspectos naturais ou materialistas e, até biologicamente, é difícil uma resposta unânime".
Segundo MOREIRA (2006), morrer, cientificamente, é deixar de existir; quando o corpo
acometido por uma patologia ou acidente qualquer tem a falência de seus órgãos vitais, tendo
uma parada progressiva de toda atividade do organismo, podendo ser de uma forma súbita
(doenças agudas, acidentes) ou lenta (doenças crônico-degenerativas), seguida de uma
degeneração dos tecidos.

"A situação de óbito hospitalar, ocorrência na qual se dá a materialização do processo de morrer


e da morte, é, certamente, uma experiência impregnada de significações cientificas, mas também
de significações sociais, culturais e principalmente subjetivas." (DOMINGUES DO
NASCIMENTO, 2006)

BRETAS (2006) reforça ainda que a morte não é somente um fato biológico, mas um processo
construído socialmente, que não se distingue das outras dimensões do universo das relações
sociais. Assim, a morte está presente em nosso cotidiano e, independente de suas causas ou
formas, seu grande palco continua sendo os hospitais e instituições de saúde.

2- FASES DA MORTE

Para melhor entendimento dos vários fatores que interferem no enfrentamento da morte/morrer,
tanto pelos profissionais quanto pacientes e familiares, é preciso que antes saibamos um pouco
mais sobre as fases da morte e suas possíveis reações causadas pelo impacto da notícia.

Kübler-Ross (1994), em seu livro Sobre a Morte e o Morrer, realizou um trabalho com pacientes
terminais onde analisou os sentimentos do paciente e da família no processo e morrer. Ele
esclarece que passamos por vários estágios quando nos deparamos com a morte, sendo que a
negação é o primeiro estágio.

A negação é caracterizada como defesa temporária, onde a maioria das vezes o discurso
pronunciado é "isso não está acontecendo comigo" ou "não pode ser verdade". Outro
comportamento comum nessa fase é o agir como se nada estivesse acontecendo.

"Evidentemente, se negamos a morte, se nos recusarmos a entrar em contato com nossos


sentimentos, o luto será mal elaborado e teremos uma chance maior de adoecermos e cairmos
em melancolia ou em outros processos substitutivos." CASSORLA (1991, p.21)

Outros mecanismos de defesa que utilizamos inconscientemente ainda citando Kübler-Ross


(1994), são:

A ira nesta fase prevalece a revolta, o ressentimento, e o doente passa a atacar a equipe de
saúde e as pessoas mais próximas a ele. Questionam procedimentos e tratamentos e a pergunta
mais comum é "porque eu?". Podem ainda nesta fase, surgir períodos de total descrença.

A barganha o doente faz acordos em troca de mais um tempo de vida. Nessa fase são comuns
as promessas, Deus se torna presente em sua vida, faz promessas de mudança se for curado.

A depressão após a fase da barganha, o doente percebe sua doença como incurável e ciente da
impossibilidade ou dificuldade de cura, deprime-se, sente-se vazio e deixa de intervir no
tratamento, relaciona-se pouco com outras pessoas.

A aceitação o paciente entende e aceita sua situação e tenta dar um sentido para sua vida.

Segundo Bosco (2008), esses são estágios que sucedem, porém podem não aparecer
necessariamente nessa ordem ou alguns indivíduos não passam por todos eles. Podem inclusive
voltar a qualquer fase mais de uma vez. É um processo particular, onde muitos sentimentos estão
envolvidos e que dependem de vários fatores, como religiosidade, estrutura familiar, cultura, por
exemplo.
3- O PROFISSIONAL E A MORTE

O cuidar está inserido desde o nascer até o morrer, sendo que esta ação implica aliviar, ajudar,
pois a cura não é o fim, devendo estar presente até mesmo no processo de morrer.

A Enfermagem é uma profissão que trabalha com o ser humano, interage com ele tanto em sua
natureza física, como também social e psicológica. Desta forma, o cuidar pode ser caracterizado
pela atenção, zelo e preocupação com o outro.

"Os enfermeiros, profissionais cuja presença se faz de maneira ainda mais constante no cuidado
junto a pessoas que vivenciam a sua finitude, experimentam de maneira potencializada esses
sentimentos conflitantes, sendo este um tema recorrente de estudo". (BELLATO, 2007)

Segundo AGUIAR (2006), a formação acadêmica, no entanto, pode deixar algumas lacunas
fazendo com que o profissional acredite que somente a cura e o restabelecimento são
características de um bom cuidado. As rotinas hospitalares não permitem nem abrem espaço
para questionamentos que levem a pensar e compreender melhor a morte.

"Tem-se a considerar a sobrecarga do enfermeiro em relação ao seu trabalho, o que impede a


visão de que este cuidar com respeito, perpassa o sentido da audição, no que tange ser capaz
de ouvir, de prestar atenção às pessoas, de perceber o que pensam ou sentem". (NUNES
FERNANDES, 2006)

Partindo deste principio, AGUIAR, (2006) em seu trabalho, ressalta a necessidade que os
profissionais têm então, de quebrarem o silêncio e ousarem falar de suas dores, medos, do luto
que deve ser elaborado, a fim de que suas demandas sejam atendidas e o melhor cuidado seja
oferecido. É importante que eles se permitam entristecer e não se sintam culpados.

Segundo NUNES FERNANDES (2006), quando paramos para pensar sobre o que se é permitido
sentir o profissional enfermeiro a cerca da morte, vem o questionamento quanto ao
comportamento que deve ser assumido frente ao paciente que morre e a família, pondo dúvidas
em torno do cuidar com respeito.

De acordo com SUSAKI (2006), os profissionais de saúde acabam criando mecanismos de


defesa que os auxiliam no enfrentamento da morte e do processo de morrer. Por serem
preparados para manutenção da vida, a morte e o morrer em seu cotidiano, suscitam sentimentos
de frustração, tristeza, perda, impotência, estresse e culpa. Em geral, o despreparo leva o
profissional a afastar-se da situação.

Em MOREIRA, (2006) como um mecanismo de defesa e proteção contra o sofrimento, o


processo de morrer e morte passa a ser visto como banal, sendo o distanciamento e
endurecimento das relações frente à morte e ao paciente terminal algo tornado natural e
considerado comum e rotineiro.

CONCLUSÃO

Os profissionais de saúde sentem-se responsáveis pela manutenção da vida de seus pacientes,


e acabam por encarar a morte como resultado acidental diante do objetivo da profissão, sendo
esta considerada como insucesso de tratamentos, fracasso da equipe, causando angústia
àqueles que a presenciam.

A sensação de fracasso diante da morte não é atribuída apenas ao insucesso dos cuidados
empreendidos, mas a uma derrota diante da morte e da missão implícita das profissões de saúde:
salvar o individuo, diminuir sua dor e sofrimento, manter-lhe a vida.

Os artigos estudados tratam ainda que o despreparo acadêmico, a dificuldade de discutir sobre
o assunto e a não aceitação da morte como parte da vida, são fatores que contribuem para tal
dificuldade. A falta de preparo e a falta de diálogo sobre a morte deixam os profissionais
perplexos e distantes dos pacientes em iminência de morrer, dificultando as tomadas de decisão
e abordagem.

REFERÊNCIAS

·AGUIAR, Isabella Rocha et al. O envolvimento do enfermeiro no processo de morrer de bebês


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SINGER, Peter, Ética Prática, São Paulo: Marins Fontes, 1994;
ÉTICA PROFISSIONAL

CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM


2° período
Professora: Cláudia Simony G. S. Oliveira

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