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Disciplina:

Gestão em Saúde e Redes de Atenção

Apostila destinada ao Curso Técnico de Nível Médio em Enfermagem das Escolas Estaduais
de Educação Profissional – EEEP
Material elaborado/organizado pela professora Rafaelle Alves Diógenes Pontes – 2018

Curso Técnico em Enfermagem – Gestão em Saúde e Redes de Atenção


APRESENTAÇÃO

Este Manual pedagógico integra uma série que aborda temas específicos da formação do
Técnico em Enfermagem Integrado ao Ensino Médio. Cada Manual corresponde a uma
Disciplina, sendo este referente à disciplina de Gestão em Saúde e Redes de Atenção. Este
Manual contém os objetivos de aprendizagem referentes ao tema acompanhado do conteúdo
no intuito de deixar claro o que é esperado do aluno ao final da disciplina. Propõe atividades
pedagógicas que focam o eixo cognitivo e sócio afetivo do processo de aprendizagem.
Disponibilizamos também uma bibliografia de referência do Manual. Elaborado no intuito de
qualificar o processo de ensino-aprendizagem, este Manual é um instrumento pedagógico que
se constitui como um mediador para facilitar o processo de ensino-aprendizagem em sala de
aula embasado em um método problematizador e dialógico que aborda os conteúdos de forma
lúdica, participativa tornando o aluno protagonista do seu aprendizado facilitando a
apropriação dos conceitos de forma crítica e responsável. Espera-se contribuir com a
consolidação do compromisso e envolvimento de todos (professores e alunos) na formação
desse profissional tão importante para o quadro da saúde do Ceará.

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OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da disciplina os alunos devem ser capazes de...


1. Identificar a rede de atenção à saúde e os fluxos organizacionais de gestão do cuidado nos
diversos pontos de atenção;
2. Descrever a Atenção Primária no SUS;
3. Distinguir triagem e acolhimento nos diversos níveis de atenção à saúde reconhecendo seu
papel como técnico de enfermagem;
4. Considerar a classificação de risco no acolhimento;
5. Colaborar no processo de trabalho em equipe de saúde em acordo com suas atribuições;
6. Considerar a importância do planejamento integrado ao trabalho em equipe reconhecendo
seu papel no processo de organização do serviço;

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. Rede de Atenção à saúde (pontos de atenção, referência e contra referência);


2. Política Nacional de Atenção Básica do SUS;
3. Política Nacional de Humanização - Acolhimento no SUS;
4. Trabalho em equipe;
5. Classificação de risco no acolhimento aos usuários;

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SUMÁRIO
1.GESTÃO EM SAÚDE...........................................................................................................7
2.REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE....................................................................................10
3.ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE...................................................................................15
3.1.Atenção primária no SUS.................................................................................................17
3.2.Estratégia Saúde da Família............................................................................................19
4.POLÍTICA NACIONAL DA ATENÇÃO BÁSICA.........................................................20
5.TRIAGEM E ACOLIMENTO...........................................................................................21
5.1.Parecer COREN-DF Nº005/2010.....................................................................................24
5.2.Método de Classificação de risco.....................................................................................27
6.Classificação de risco no acolhimento................................................................................30
7.Trabalho em equipe na área da saúde...............................................................................37
REFERÊNCIAS......................................................................................................................49

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1.GESTÃO EM SAÚDE
Em vários dicionários gestão e administração aparecem como sinônimos. O Houaiss –
Dicionário da Língua Portuguesa – assim define esses termos: “Ato ou efeito de administrar;
ação de governar ou gerir empresa, órgão público [...]. Exercer mando, ter poder de decisão
(sobre), dirigir, gerir” (Houaiss, 2001, grifos nossos). Os termos gestão e administração
referem-se ao ato de governar pessoas, organizações e instituições. Gestão diz respeito à
capacidade de dirigir, isto é, confunde-se com o exercício do poder. Em sua origem, na Grécia
clássica, o termo 'política' tinha exatamente esse significado. 'Polis' era a cidade, e a política
era a capacidade de fazer a gestão democrática das cidades estado.
No princípio do século XX, o engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor
publicou o livro 'Princípios da Administração Científica', considerado como marco zero de
um novo campo de conhecimento. Taylor pretendeu apresentar uma metodologia que
permitisse a existência de uma gestão técnica, com base em evidências, e não orientada por
disputas políticas entre interesses e valores distintos. Obra clássica e fundadora de um estilo
de governar que, em seus princípios gerais, não foi ainda superado. Ainda que o campo
da gestão tenha se ampliado desde 1911, a disciplina e o controle continuam sendo o eixo
central dos métodos de gestão. A centralização do poder nos gestores (dirigentes) é a pedra de
toque das múltiplas variedades de métodos de gestão ainda hoje existentes.
Alguns autores contemporâneos têm se referido, inclusive, ao 'gerencialismo' como
sendo uma nova ideologia, uma doença social, que ampliou o controle sobre o trabalho em um
grau nunca antes observado.
O método denominado 'atenção gerenciada' (managed care), que vem sendo proposto
para os serviços de saúde, é exemplar dessa tendência. Imagina diminuir custos e aumentar a
eficácia do trabalho em saúde, retirando dos profissionais, particularmente dos médicos, a
capacidade de decisão sobre o próprio trabalho clínico. Esse poder é passado aos gerentes,
que por meio de minuciosos protocolos - padronização de condutas diagnósticas e
terapêuticas - controlam e determinam o que fazer no cotidiano dos trabalhadores.
A gestão em saúde é quase tão antiga quanto a Saúde Pública. A Saúde Pública sempre
recorreu a várias especialidades e campos de conhecimento, nasceu interdisciplinar quando
esta expressão sequer fora ainda criada. A Saúde Pública baseou-se na medicina,
microbiologia, zoologia, geologia, entre outras ciências, para pensar explicações para o
processo saúde e doença. Dessa junção, nasceria tanto a administração sanitária quanto a

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epidemiologia. Foi, portanto, ainda nos primórdios da Saúde Pública que ocorreu a
constituição de um campo de conhecimentos, denominado 'administração sanitária e de
práticas em saúde'. Encarregava-se de pensar a administração de um pedaço do Estado, os
nascentes departamentos, escolas e laboratórios de saúde pública, mas, distinguia-se da
Administração de Empresas porque procurava articular a gestão às 'práticas' consideradas
eficazes para debelar os problemas coletivos de saúde. Tratava-se, portanto, de uma área que
procurava compatibilizar conhecimentos sobre administração pública com procedimentos
sanitários considerados eficazes no combate a epidemias. A administração em saúde na
medicina de mercado apresentava menos especificidades; em geral, adaptava elementos da
teoria geral a hospitais e clínicas.
A administração sanitária, em seus primórdios, importou muitos conceitos e modos de
operar do campo militar. Da gestão de conflitos armados e de guerras, a Saúde Pública
importou a idéia de considerar a doença, os germes e as condições ambientais insalubres
como inimigos. Sendo inimigos havia de erradicá-los, controlá-los e vigiá-los. Planejamento
estratégico e tático, programas sanitários e gestão operacional. Da arte da guerra importaram-
se também os conceitos de erradicação e de controle, de risco, de vigilância e de análise de
informação.
A gestão em saúde é um desdobramento contemporâneo dessa tradição. Evidente que
no lugar da guerra entraram conceitos originários da Ciência Política, da Sociologia e da
Teoria Geral da Administração. Em meados do século XX houve uma ampliação do objeto e
do campo de intervenção da gestão em saúde. Nessa época, em alguns países europeus,
inicialmente na Grã-Bretanha, Suécia e União Soviética e, mais tarde, em inúmeras outras
nações da Europa, América e Oceania, foram construídos os Sistemas Nacionais e Públicos de
Saúde. Com essa finalidade desenvolveu-se toda uma cultura sanitária voltada para a
organização de serviços e programas de saúde segundo uma nova racionalidade. O Estado foi
responsabilizado pelo financiamento e gestão de uma rede de serviços constituída segundo o
conceito de integração sanitária. Essa rede pública não executaria apenas ações de caráter
preventivo e de relevância coletiva, mas assumiria também a atenção clínica, ou seja, a
assistência individual em hospitais e outros serviços. Com essa finalidade foi cunhado o
conceito de hierarquização e regionalização dos serviços, inventando-se a modalidade de rede
denominada de atenção primária.

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O antigo arcabouço de conhecimentos da administração sanitária era claramente


insuficiente para dar conta da complexidade dessa nova política pública. Em função disso, em
vários desses países houve, ao longo do século XX, um esforço de investigação voltado para o
desenvolvimento de novos arranjos organizacionais e novos modelos de atenção à saúde. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)
estimularam tanto a produção de conhecimentos nessa área quanto trataram de sistematizar a
difusão dessas experiências e dessa tecnologia sobre organização, planejamento e gestão dos
serviços de saúde. Em decorrência desse fenômeno houve uma aproximação entre as áreas da
Clínica e o campo da Saúde Pública. São desse período o desenvolvimento de estudos sobre
sistemas locais de saúde, modelos de atenção, gestão de pessoal, atenção primária,
planejamento e programação em saúde. Observa-se como um fato curioso o pequeno
envolvimento da área de Gestão e Planejamento, no Brasil, com hospitais, talvez explicado
pelo afastamento histórico da Saúde Pública deste pedaço dos sistemas de saúde. A formação
de gestores para hospitais foi marcada por cursos compostos segundo a lógica específica das
áreas de Economia e da Administração de Empresas. Somente nos últimos anos, observa-se
um esforço da área para recompor a formação e a pesquisa em gestão hospitalar.
Buscando superar a perspectiva restrita das teorias administrativas têm sido
desenvolvidas análises que procuram ampliar e democratizar a gestão. Discute-se
a gestão participativa, o controle social dos gestores pela sociedade civil e várias formas de
co-gestão em saúde.

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2.REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE


As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são arranjos organizativos de ações e serviços de
saúde, de diferentes densidades tecnológicas que, integradas por meio de sistemas de apoio
técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado (Ministério da
Saúde, 2010 – portaria nº 4.279, de 30/12/2010).
As redes são formas de organização que articulam serviços e sistemas de saúde, com
equipes multidisciplinares, unindo cada ponto da rede. Dessa forma o sistema é capaz de
responder às necessidades da população, encaminhando aos serviços especializados quando
houver necessidade.
Para que fique mais claro, a rede de atenção à saúde se organiza para a continuidade da
atenção (primária, secundária e terciária), compreendendo as condições crônicas e agudas (de
forma integral- promoção da saúde, cura, cuidado...) da população; o cuidado
multiprofissional faz com que o serviço seja voltado para o paciente através dos agentes de
saúde, focando no acompanhamento completo da atenção à condição ou doença.
A Portaria nº 4.279 de 30 de dezembro de 2010 estabelece diretrizes para a
organização da RAS no âmbito do SUS. Foi um acordo da Tripartite com participação do
Ministério da Saúde, do Conass e Conasems.
As RAS são sistematizadas para responder a condições específicas de saúde, por meio
de um ciclo completo de atendimentos (PORTER e TEISBERG, 2007), que implica a
continuidade e a integralidade da atenção à saúde nos diferentes níveis. A proposta de
organização de redes de atenção à saúde tem sido incluída no grande campo do "cuidado
integrado", denominação genérica que agrupa intervenções que variam muito em objetivos e
escopo, tendo em comum a busca por mecanismos e instrumentos de integração do cuidado.
Redes de Atenção em Saúde: desde quando?
 No Brasil esta proposta surgiu efetivamente com a criação do SUS e está implícita nos
princípios e diretrizes deste Sistema.
 A Lei 8.080/90 já colocava a hierarquização e a regionalização da rede de serviços de
saúde.
 NOAS 01/2002 – Regionalização – Regiões de Saúde – Módulos de Assistência.
Desde o início da construção do SUS está colocado o desafio de trabalharmos em
redes integradas de cuidado à saúde. A implementação das RAS aponta para uma maior
eficácia na produção de saúde, melhoria na eficiência da gestão do sistema de saúde no

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espaço regional, e contribui para o avanço do processo de efetivação do SUS. A transição


entre o ideário de um sistema integrado de saúde conformado em redes e a sua concretização
passam pela construção permanente nos territórios, que permita conhecer o real valor de uma
proposta de inovação na organização e na gestão do sistema de saúde.
Por que organizar Redes Regionais de Atenção em Saúde?
 Inegável: os avanços alcançados pelo SUS;
 Evidente: dificuldade em superar a intensa fragmentação das ações e serviços de saúde e
qualificar a gestão do cuidado no contexto atual:
- Modelo de atenção em saúde: curativo, médicocentrado, reativo a demanda espontânea
insuficiente p/ dar conta dos desafios sanitários atuais e insustentável para enfrentamentos
futuros.
- Diversidade de contextos regionais; marcantes diferenças sócio-econômicas e de
necessidades de saúde da população entre as regiões;
- Agravado pela elevado peso da oferta privada e seus interesses e pressões sobre a área da
saúde;
Consequência: organização da atenção e da gestão caracterizada pela fragmentação de
serviços, programas, ações e práticas clínicas;
 Atual perfil epidemiológico brasileiro: passa por uma transição epidemiológica com
persistência de doenças parasitárias, infecciosas e desnutrição; problemas de saúde
reprodutiva com óbitos maternos e infantis por causas evitáveis; o desafio das doenças
crônicas e seus fatores de risco; e o crescimento das causas externas em decorrência do
aumento da violência e dos acidentes de transito necessidade do manejo das condições
crônicas, mas atendendo, concomitantemente, as condições agudas.
Pacto pela Saúde
 O debate em torno da busca por maior integração: Pacto pela Saúde contempla o acordo
firmado entre os gestores do SUS e ressalta a relevância de aprofundar o processo de
Regionalização e de organização do SUS sob a forma de Rede, como estratégia essencial para
consolidar os princípios de Universalidade, Integralidade e Equidade.
Para assegurar resolutividade na rede de atenção, alguns fundamentos precisam ser
considerados: economia de escala, qualidade, suficiência, acesso e disponibilidade de
recursos.
Pacto pela Saúde

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 se efetiva em 3 dimensões:
- Pacto pela Vida;
- Pacto em Defesa do SUS;
- Pacto de Gestão: estabelece a necessidade de desenhar redes regionalizadas de atenção a
saúde, organizadas nos territórios das Regiões de Saúde sendo este o espaço privilegiado de
construção das responsabilidades pactuadas: permite a integração de políticas e programas por
meio da ação conjunta das esferas federal, estadual e municipal.
Regionalização
 A Regionalização é uma diretriz do Sistema Único de Saúde, um eixo estruturante do Pacto
de Gestão e orienta a descentralização das ações e serviços de saúde e a organização da Rede
Regional de Atenção à Saúde;
Para saber mais clique no link abaixo, é um video muito interessante sobre as Redes
https://www.youtube.com/watch?v=OTT6x9QOllY
A organização de redes regionalizadas de serviços de saúde constituiu a premissa
sobre a qual historicamente foram debatidas as propostas de reforma do sistema brasileiro -
tomando como referência a experiência dos países que construíram sistemas universais e a
literatura internacional -, e formou parte da bagagem do planejamento em saúde durante
décadas.
No entanto, ao longo da década de noventa, pelos próprios rumos do processo de
descentralização, a instituição de redes deixou de ser o eixo central em torno do qual se
construía a organização de serviços, voltando ao centro do debate apenas a partir da
publicação da Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS), em 2000, e especialmente
com o Pacto pela Saúde, em 2006.
Em seu retorno, a proposta de organização de redes tem assumido diferentes
significados, utilizada de forma distinta por diferentes atores. Especificamente em seu recorte
de organização de serviços de saúde, uma vertente de discussão - refletindo o debate
observado na literatura e na experiência internacional -, centra-se no "campo do cuidado
integrado".
Sob esta denominação genérica, é agrupada uma gama de intervenções com diferentes
denominações em vários países, que variam muito em objetivos, escopo e mecanismos, que
têm em comum a busca por mecanismos e instrumentos de integração, aqui incluídos os

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dirigidos à prática clínica individual, à integração organizacional horizontal ou vertical e entre


setores, como saúde e cuidado social.
Entre as experiências consideradas centrais neste campo, estão os sistemas integrados
americanos, uma grande variedade de arranjos organizacionais derivados da integração
vertical de provedores no mercado americano e as redes regionalizadas dos sistemas nacionais
de saúde, especialmente em suas recentes inovações no campo da integração do cuidado.
Para o sistema americano, por exemplo, não se coloca a questão da regionalização -
intrinsecamente derivada dos princípios de universalidade e equidade dos sistemas universais.
Os sistemas integrados americanos são, por definição, destinados aos que podem
pagar, com planos diferenciados que pressupõem acesso desigual e naturalmente não
incorporam as questões da saúde pública e da ação sobre os condicionantes sociais, próprias
do Estado.
Os sistemas nacionais, ao contrário, não podem abdicar de sua responsabilidade de
garantia do direito e a organização de redes regionalizadas constitui-se num instrumento para
ampliação do acesso e diminuição de desigualdades.
Os sistemas nacionais de saúde operam redes com populações definidas
geograficamente por que saúde é entendida como bem público e o sistema é universal e
equitativo. As redes são o instrumento de garantia do direito, ampliando acesso e diminuindo
desigualdades. A regionalização e a constituição de redes são compreendidas em suas
dimensões técnica e política. Ao mesmo tempo em que são a única forma de garantir acesso a
cuidado integral de forma igualitária, envolvem disputas de poder e requerem decisões de
política pública que certamente ferem interesses. A região é institucionalizada e tem comando
único por que, sem institucionalidade, não é possível garantir o direito e, sem comando único,
não é possível cobrar a responsabilidade sanitária.
Todos os pontos de atenção a saúde são igualmente importantes para que se cumpram
os objetivos da rede de atenção à saúde e se diferenciam, apenas, pelas distintas densidades
tecnológicas que os caracterizam. A efetividade da Rede de Atenção depende da compreensão
e apoio dos usuários do SUS para com os fluxos e articulação da rede. Os usuários precisam
ser “sujeitos” na construção das Redes.
Dentro das Redes de Atenção, o cuidado é pensado em níveis organizacionais. Esses
níveis, denominados Atenção Primária, Secundária e Terciária à saúde, possuem
possibilidades e articulações distintas, garantindo a equidade e integralidade.

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A Atenção Primária (APS) é responsável pela entrada do usuário no sistema de saúde,


pela continuidade, por manter o vínculo com o território e pela atenção em saúde a todo e
qualquer acometimento em saúde, além de aspectos preventivos.
Para questões que exigem maior densidade em tecnologia, é necessário
acompanhamento na Atenção Secundária.
A Atenção Terciária assume casos de maior especificidade e gravidade clínica e
densidade tecnológica. Ao contrário do que pode parecer, a organização em níveis de atenção
não busca uma hierarquização, mas sim uma lógica focada no indivíduo que está inserido na
Rede, sendo a Atenção Primária coordenadora desse fluxo.
Indicação:
Vídeo didático e em linguagem simples que explica a conceituação das Redes de Atenção
à Saúde (RAS).Foi elaborado para a FOP Unicamp:
https://www.youtube.com/watch?v=0N_9KKu15oM

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3. ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE


Componente estratégico do SUS, em especial, por ser desenvolvida com alto grau de
descentralização e capilaridade, próxima à vida das pessoas. Cabe às equipes de Atenção
Básica (EAB), às equipes de Saúde da Família (ESF) e às outras modalidades de equipes de
Atenção Primária (equipes Multiprofissionais de Saúde Prisional, equipes de Saúde da
Família Quilombola, por exemplo) o exercício de práticas gerenciais e sanitárias,
democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de
territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária. - papel de
coordenadora do cuidado à saúde da população adstrita e ordenadora da RAS, sendo o centro
de comunicação com toda a Rede.
ATENÇÃO BÁSICA
 Porta de Entrada e interligação com outros pontos da REDE;
 Resolutiva para 85% a 90% das necessidades dos usuários;
 INTEGRALIDADE na atenção (prevenção, promoção, cura, reabilitação, demanda
espontânea)
 Integração matricial com especialistas.
Redes temáticas
O Ministério da Saúde está priorizando a construção de três redes temáticas
prioritárias:
• Atenção obstétrica e neonatal (Rede Cegonha),
• Urgência e Emergência
• Atenção Psicossocial (Enfrentamento do Álcool, Crack, e outras Drogas) E também a
• Atenção oncológica ( a partir da intensificação da prevenção e controle do câncer de mama e
colo do útero)
Rede Materno-Infantil
Visa garantir o fluxo adequado para o atendimento ao planejamento sexual e
reprodutivo, pré-natal, parto e nascimento, puerpério e primeira infância com o objetivo de
qualificar a assistência e enfrentar a mortalidade materna, infantil e fetal. Está vinculada ao
programa federal denominado Rede Cegonha.
Rede cegonha
1.Garantia do acolhimento com classificação de risco, ampliação do acesso e melhoria da
qualidade do PRÉ‐ NATAL

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2. Garantia de VINCULAÇÃO da gestante à unidade de referência e ao transporte seguro


3. Garantia das boas práticas e segurança na atenção ao PARTO E NASCIMENTO
4. Garantia da atenção à saúde das CRIANÇAS de 0 a 24 meses com qualidade e
resolutividade
5. Garantia da ampliação do acesso ao PLANEJAMENTO REPRODUTIVO
Rede de Atenção às Urgências
Tem a finalidade de ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários
em situação de urgência e emergência de forma ágil e oportuna. A Rede está organizada em
dois componentes: o pré-hospitalar (móvel e fixo) e o hospitalar. As diretrizes da RUE estão
definidas na Portaria GM/MS no 1.600/2011.
Componentes e Interfaces da Rede de Atenção às Urgências e Emergências:
Promoção e prevenção
• Atenção primária: unidades básicas de saúde
• UPA e outros serviços com funcionamento 24 h
• SAMU 192
• Portas hospitalares de atenção às urgências
• Enfermarias de Retaguarda e Unidades de Cuidados Intensivos
• Inovações tecnológicas nas linhas de cuidado prioritárias
• Atenção domiciliar
Acolhimento com classificação de risco e resolutividade
Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Condições Crônicas
Nas últimas décadas, no estado, ocorreram diversas mudanças demográficas, e
concomitantemente, mudanças dos padrões de saúde e doença e nas interações entre seus
determinantes. Nesse processo de transição, destacam-se o aumento da prevalência das
condições crônicas não transmissíveis (DCNT) e suas complicações, muitas delas tendo como
fatores de risco aqueles associados as condições de vida, como sedentarismo e a alimentação
inadequada, alcoolismo e tabagismo. Estão estruturadas em serviços territorializados,
construídos da seguinte forma: Serviços Assistenciais em Oncologia, Linha de Cuidado de
Sobrepeso e Obesidade, Serviços Assistenciais em Cardiologia, Serviços Assistenciais em
Neurologia e Serviços Assistenciais de Alta Complexidade em Nefrologia.
Ampliação do acesso à Rede de Atenção Integral de Saúde aos usuários de álcool, crack e
outras drogas:

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1 ‐ COMPONENTES DA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ‐ ATENÇÃO


PRIMÁRIA (UBS, EQUIPE DE APOIO) ‐ CONSULTÓRIOS DE RUA ‐ CENTROS DE
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) ‐ CASAS DE ACOLHIMENTO TRANSITÓRIO
(CAT) ‐ LEITOS EM HOSPITAL GERAL ‐ URGÊNCIA E EMERGÊNCIA (SAMU, UPA)
2 ‐ COMPONENTES SUPLEMENTARES ‐ CENTROS DE REFERÊNCIA
ESPECIALIZADA EM ASSISTÊNCIA SOCIAL (CREAS) ‐ CENTROS DE REFERÊNCIA
EM ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) ‐ COMUNIDADES TERAPÊUTICAS (CT)
Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência
A Saúde da Pessoa com Deficiência (SPD) no SUS busca proporcionar atenção
integral à saúde dessa população, desde a APS até a reabilitação, incluindo o fornecimento de
órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção, quando necessário. O objetivo é proteger a
saúde e reabilitar as pessoas com deficiência em relação a suas capacidades funcionais (física,
auditiva, intelectual e visual). A criação da Política Nacional de Saúde da Pessoa com
Deficiência (Portaria MS/SAS no 1.060/2002) oportunizou a implantação das Redes
Estaduais de Assistência à Pessoa com Deficiência, em especial às ações de reabilitação,
através de legislações específicas para habilitação de Serviços de Modalidade Única, ou seja,
habilitados para atender apenas uma área de deficiência: auditiva, física, intelectual ou visual.
Governança da Rede de Atenção à Saúde
A Governança da RAS no SUS se insere no quadro institucional mais amplo de
federalismo brasileiro, que consiste numa inter-relação cooperativa entre as três esferas de
governo. As instituições nesse quadro de gestão compartilhada e participação social interagem
de forma complexa com a presença de mecanismos de controle social e de pactuação entre os
gestores, determinando a configuração da tomada de decisão das políticas públicas no país.
3.1.Atenção primária no SUS
Antes da criaçõ do SUS, na verdade, não havia um sistema e sim vários subsistemas
(excludente e de caráter curativo).
QUAIS OS PRINCÍPIOS DO SUS?
EQUIDADE
INTEGRALIDADE PRINCÍPIOS PRINCÍPIOS
UNIVERSALIDADE
E AS DIRETRIZES?
HIERARQUIZAÇÃO
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MUNICIPALIZAÇÃO
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
COMPLEMENTARIEDADE DO SETOR PRIVADO
• Todos têm o dever de se preocupar e qualificar cada vez mais a Atenção Primária à Saúde.
• Se essa política não está organizada, aumenta o custo das ações em saúde; as pessoas sofrem
mais e perdem qualidade de vida, enquanto o mercado da saúde aumenta os lucros em
detrimento dos nossos direitos.
O correto entendimento do conceito da Atenção Primária à saúde, se dará pelo
conhecimento e operacionalização de seus princípios ordenadores: o primeiro contato, a
longitudinalidade, a coordenação do cuidado, a integralidade e a orientação familiar e
comunitária.
Princípios ordenadores da Atenção Primária:
A longitudinalidade – relação pessoal entre paciente e profissionais da atenção
primária ao longo do tempo;
A Integralidade- garantia, pelo sistema de saúde, de todos os cuidados de saúde que o
usuário necessitar;
O primeiro contato – lugar a ser buscado primeiramente pelos usuários;
Orientação Familiar – Além do problema de saúde do indivíduo, a equipe tem que
conhecer a dinâmica familiar, para definir suas necessidades particulares e garantir a
assistência integral, entendendo a família como sujeito da ação;
Princípios ordenadores da Atenção Primária:
Orientação Comunitária: Reconhecer os recursos que a comunidade dispõe para
potencializar o cuidado ao individuo;
A Coordenação- a equipe se responsabiliza pelo cuidado necessário ao usuário, seja
ele feito na Unidade Básica ou em qualquer outro ponto de atenção;
O QUE SE QUERIA COM ISSO?
Um sistema de saúde de qualidade, onde todos os cidadãos tivessem acesso,
hierarquizado mas com referência e contra referência, humanizado, com participação popular
e com o setor privado participando como complementar
A primeira definição sobre a Atenção Primária à Saúde (APS) foi proposta na
Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em Alma-Ata1 . De
acordo com a declaração de Alma Ata, a APS corresponde aos cuidados essenciais à saúde,

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baseados em tecnologias acessíveis, que levam os serviços de saúde o mais próximo possível
dos lugares de vida e trabalho das pessoas, constituindo assim, o primeiro nível de contato
com o sistema nacional de saúde e o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção.
Há uma frequente discussão sobre a terminologia ideal para nomear o primeiro nível
de atenção à saúde. No Brasil, essa discussão ganha contornos especiais: a expressão Atenção
Básica foi oficializada pelo Governo Federal, embora, em documentos oficiais brasileiros,
identifique-se uma crescente utilização de Atenção Primária à Saúde.
É preciso superar o conceito equivocado de que Atenção Primária no SUS é saúde
barata e sem qualidade, para pessoas pobres. Pelo contrário:
• Ela deve ser universal e integral, envolvendo ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde.
• A atenção Primária deve ser porta de entrada preferencial do cidadão ao Sistema de Saúde.
3.2.Estratégia de Saúde da Família
No Brasil, o Programa Saúde da Família (PSF), lançado em 1994, representa
certamente a proposição de mais largo alcance para organização da Atenção Primária no
Brasil.
A atenção básica ou atenção primária em saúde é conhecida como a "porta de entrada"
dos usuários nos sistemas de saúde. Ou seja, é o atendimento inicial. Seu objetivo é orientar
sobre a prevenção de doenças, solucionar os possíveis casos de agravos e direcionar os mais
graves para níveis de atendimento superiores em complexidade. A atenção básica funciona,
portanto, como um filtro capaz de organizar o fluxo dos serviços nas redes de saúde, dos mais
simples aos mais complexos.
No Brasil, há diversos programas governamentais relacionados à atenção básica, sendo
um deles a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que leva serviços multidisciplinares às
comunidades por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), por exemplo. Consultas,
exames, vacinas, radiografias e outros procedimentos são disponibilizados aos usuários nas
UBSs.
A atenção básica também envolve outras iniciativas, como: as Equipes de Consultórios
de Rua, que atendem pessoas em situação de rua; o Programa Melhor em Casa, de
atendimento domiciliar; o Programa Brasil Sorridente, de saúde bucal; o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS), que busca alternativas para melhorar as condições de saúde
de suas comunidades etc.

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4.POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA


• A Portaria nº 648/GM de 28 de março de 2006- Aprova a Política Nacional de Atenção
Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica
para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde
(PACS).
A PNAB - define claramente as principais responsabilidades de cada esfera de
governo na Atenção Básica.
• A União tem a responsabilidade de elaborar as diretrizes da Política Nacional de Atenção
Básica em seu território.
• Ao Estado compete a responsabilidade de apoiar técnica e financeiramente a gestão da
atenção básica.
• É importante ressaltar a autonomia do Município em organizar, executar e gerenciar os
serviços e ações de Atenção Básica, dentro do seu território, a partir das diretrizes nacionais e
estaduais.
PARA ACESSAR A POLÍTICA DE ATENÇÃO BÁSICA NA ÍNTEGRA ACESSE:
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf

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5.TRIAGEM E ACOLHIMENTO
Em seu aspecto conceitual, o acolhimento é considerado uma tecnologia leve que
otimiza a demanda dos usuários e organiza o processo de cuidado da unidade local, sendo o
profissional responsável por acolher, responsabilizar, resolver e automizar, utilizando relações
de vínculo e capacidade de escuta aberta. Essa tecnologia leve do trabalho depende da
interação profissional-usuário e sua capacidade de articular e qualificar essa relação por
parâmetros humanitários de solidariedade e cidadania. Ressalta-se que é uma tecnologia em
processo de construção e reorganização diária do trabalho cotidiano das equipes da ESF, que
tem contribuído para a ampliação do acesso aos serviços de saúde e para a melhoria da oferta
dos atendimentos de acordo com a demanda dos usuários.
Estabelecido como diretriz de grande relevância para a reestruturação dos serviços de
saúde, a partir da ESF e da Política Nacional de Humanização (PNH), frente às dificuldades
encontradas no cotidiano dos serviços, tais como o aumento do livre acesso dos usuários aos
serviços de saúde; a desvalorização do trabalho em saúde; o distanciamento entre
profissionais e usuários; e a fragmentação das ações no processo de atenção, o acolhimento
ganha força como possibilidade de organização das ações pautada na integralidade do
cuidado.
Espera-se, portanto, que com um acolhimento de qualidade possa ser concretizada
mais aproximação e construção de vínculo entre profissional e usuário do serviço,
compreensão por parte do profissional da necessidade do indivíduo como ser integral e centro
da atenção. Por conseguinte, que haja mais capacidade de intervenção, possibilidade de
criação de autonomia e resolutividade, mais acesso da população aos serviços de saúde
oferecidos pela Atenção Primária à Saúde (APS) e continuidade do cuidado, ou seja, a
possibilidade de transformação nas formas de produzir e prestar serviços.
Alguns desafios encontrados pelas equipes de saúde da família no cotidiano de
trabalho e que refletem diretamente na qualidade da assistência prestada podem ser causados
pela forma mecanizada e técnica como o acolhimento é realizado, redefinido apenas como
triagem para a classificação de consultas e procedimentos específicos. Desta forma, os
sujeitos inseridos no processo de cuidado em saúde não se sentem acolhidos, bem recebidos e
satisfeitos com o atendimento. Esses desafios podem ser minimizados quando a equipe é
constituída por profissionais de saúde aptos a desenvolverem um acolhimento de qualidade,

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com diálogo aberto, escuta qualificada, capaz de reduzir as dificuldades de acesso da


população aos serviços de saúde e facilitar a organização do serviço municipal.
O acolhimento no campo da saúde deve ser entendido, ao mesmo tempo, como diretriz
ética/estética/política constitutiva dos modos de se produzir saúde e ferramenta tecnológica de
intervenção na qualificação de escuta, construção de vínculo, garantia do acesso com
responsabilização e resolutividade nos serviços.
O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde, de forma a
atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo no
serviço uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas mais adequadas aos usuários.
Ou seja, requer prestar um atendimento com resolutividade e responsabilização, orientando,
quando for o caso, o paciente e a família em relação a outros serviços de saúde, para a
continuidade da assistência, e estabelecendo articulações com esses serviços, para garantir a
eficácia desses encaminhamentos.
O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética: não pressupõe
hora ou profissional específico para fazê-lo, implica compartilhamento de saberes, angústias e
invenções, tomando para si a responsabilidade de “abrigar e agasalhar” outrem em suas
demandas, com responsabilidade e resolutividade sinalizada pelo caso em questão.
Alguns profissionais da saúde ainda tratam acolhimento como triagem, o que é um
erro. Saiba a diferença entre as duas posturas:
O acolhimento, durante um atendimento médico, não se trata de um espaço, local ou
triagem para receber paciente. Segundo o Ministério da Saúde, acolhimento é uma postura
ética e não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo. É a recepção do usuário,
desde sua chegada à unidade de saúde, com responsabilidade integral sobre ele, e inclui: ouvir
queixas, permitir que ele expresse suas preocupações, angústias, e ao mesmo tempo, fazer a
articulação de outros serviços de saúde para a continuidade da assistência, quando necessário.
Dessa forma, o acolhimento deve estar presente em todos os momentos de encontro
com outra pessoa, seja na conversa informal ou durante um atendimento individual. Para que
isso aconteça, os profissionais devem demonstrar interesse pela fala do usuário, o que
possibilitará maior vínculo e credibilidade nas propostas de ações do cuidado em saúde.
De maneira geral, o acolhimento nos serviços de saúde favorece melhorias a partir do
atendimento ético e humanizado, da interação entre os indivíduos e equipe, da organização do
serviço e processo de trabalho para atender as pessoas com qualidade e da busca de

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continuidade do cuidado. O sucesso do acolhimento está relacionado aos profissionais que


sabem respeitar as diferentes demandas da população atendida e assisti-la com integralidade.
O atendimento humanizado cria ligações positivas entre a equipe e a comunidade que busca
resolver suas necessidades de saúde e os profissionais que trabalham na centrada perspectiva
do usuário.
Triagem é uma separação, escolha, seleção, ou seja, um funcionário da unidade ouve a
queixa do paciente e seleciona para qual profissional da unidade ele irá encaminhá-lo
enquanto que acolhimento é a humanização dos serviços de saúde. Acolher é dar acolhida,
admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a, agasalhar, receber, atender, admitir. O acolhimento
como ato ou efeito de acolher expressa, em suas várias definições, uma ação de aproximação,
um “estar com” e um “estar perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão.
No entanto, uma pesquisa mostrou que, quando se fala em atendimento em saúde com
acolhimento, os profissionais da área muitas vezes ainda relacionam o tema à triagem.
Triagem, diferentemente de acolhimento, é o processo pelo qual se determina a
prioridade do tratamento de pacientes com base na gravidade do seu estado. Este processo
raciona eficientemente os cuidados quando os recursos são insuficientes para tratar todos os
pacientes de imediato. Existem dois tipos de triagem:
 Simples: A triagem simples é normalmente usada no local de um acidente ou de
desastre com várias vítimas, de forma a categorizar pacientes entre aqueles que
precisam de atenção crítica e transporte imediato daqueles com lesões menos graves.
 Avançada: Na triagem avançada, os médicos podem decidir que determinados
pacientes com lesões muito graves não devem receber tratamento avançado porque é
improvável a sua sobrevivência. Os recursos devem assim ser orientados para
pacientes com lesões menos graves. Uma vez que o tratamento é intencionalmente
retirado de determinados pacientes, a triagem avançada tem implicações éticas. É
usada para desviar recursos de pacientes com poucas hipóteses de sobrevivência de
forma a aumentar a possibilidade de outros que seja mais provável sobreviverem
 O acolhimento não é triagem, é uma postura, onde se procure responder por meio de
uma escuta qualificada as demandas do usuário. Respeitando a equidade e
integralidade.
 No acolhimento a pergunta é:

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 "Quem eu preciso atender? E que resposta darei a quem eu não conseguir atender
agora?"
 Já na triagem a pergunta é:
 "Quem eu não vou atender? Quem não deveria estar aqui?"
Entretanto, o acolhimento pode ser uma estratégia de cuidado integral que propicia
aproximação entre profissionais e usuários, com a criação de vínculo, e facilita, portanto,
o acesso ao serviço.
5.1.PARECER COREN-DF Nº 005/2010
ASSUNTO: Atribuição do profissional de Enfermagem
PARECER COREN-DF Nº 005/2010
Nº 005/2010 Atribuição da enfermagem na triagem com classificação de risco em
urgência
ASSUNTO: Atribuição do profissional de enfermagem na triagem com classificação
de risco nos serviços de urgência.
ANÁLISE:
Ao analisarmos a solicitação deste Parecer devemos primeiramente observar que o
termo ”triagem” significa ”seleção, escolha, separação” (Aurélio). Na área de saúde é
usado corriqueiramente para a seleção de pacientes visando o atendimento imediato ou
mediato, segundo a gravidade da situação de cada um.
Nas Unidades Básicas de Saúde os pacientes passam inicialmente por uma “pré-
consulta” onde são aferidos sinais vitais, peso, altura, etc; sendo posteriormente atendidos
pelo Enfermeiro na Consulta de Enfermagem, e/ou pelo Médico ou outro profissional na
consulta específica.
Já no âmbito hospitalar, a triagem como classificação de risco, tem como objetivo
ordenar a fila, dando a devida prioridade no atendimento médico.
De acordo com a Portaria nº 675/GM de março de 2006 que “aprova Carta dos
Direitos dos Usuários da Saúde”, assegura em seu Princípios:
I – Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.
Estes envolvem a promoção, proteção e recuperação da saúde promovidos pelo SUS. “Nas
situações de urgência/emergência, o atendimento se dará de forma incondicional, em
qualquer unidade do sistema”.

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II – Será garantido atendimento com presteza, tecnologia apropriada e condições de


trabalho adequadas para os profissionais de saúde. Assegura ao cidadão o atendimento
acolhedor e livre de discriminação.
Agora se torna necessário dizer que o termo “triagem” vem sendo substituído pelo
termo “acolhimento”. Dependendo do serviço os termos podem se equivaler.
A análise da gestão e administração da demanda nos sistemas primários e secundários
de saúde não é nosso objeto de estudo. Entretanto, a dúvida que incita este Parecer torna-
se emergente devido estarmos em um momento em que a demanda hospitalar ultrapassa
todos os limites suportáveis pelo sistema de saúde atual.
Segundo o Decreto 94.406/1987, a consulta de enfermagem é privativa do Enfermeiro
e a Resolução COFEN 159 confirma que esta utiliza componentes do método científico
para identificar situações de saúde/doença; prescrever; implementar medidas de
enfermagem, que contribuam para promoção, prevenção e recuperação da saúde e
reabilitação do indivíduo, família e comunidade.
O Enfermeiro destaca-se pelas suas características generalistas, que permite ao
enfermeiro de triagem assumir a responsabilidade pela avaliação inicial do paciente,
iniciar a obtenção do diagnóstico, encaminhar o paciente dentro do departamento de
emergência para a área clínica adequada, supervisionar o fluxo de pacientes, ter
autonomia e dirigir os demais membros da equipe. (57º Congresso de Enfermagem/2005).
Necessitamos, no entanto, nos preocupar com as pessoas que irão ingressar para a área de
triagem: deverão ter perfil para a mesma; treinamento técnico e científico, com o objetivo
de trabalharem com segurança; deverão ser dinâmicos e saber fazer maior uso da
sensibilidade e intuição que são inerentes ao cargo.
CONSIDERANDO a Lei nº 7.498/86 que dispõe sobre a Regulamentação do
Exercício da Enfermagem e dá outras providências:
Art. 11 – O enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe:
I – privativamente:
§9º – Consulta de Enfermagem;
§11 – Cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida;
§12 – Cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam
conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas;
CONSIDERANDO o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem;

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CONSIDERANDO os Pareceres de todos os CORENS em especial o de SP, SC, PR e


RJ;
CONSIDERANDO o Protocolo de Triagem de Manchester;
CONSIDERANDO a Ordem de Enfermeiros de Portugal;
CONSIDERANDO o Protocolo para Classificação de Risco do Hospital Mario Gatti
– Campinas – SP – 2001;
CONSIDERANDO que “muitos são os desafios que aceitamos enfrentar quando
estamos lidando com a defesa da vida e com a garantia do direito à saúde” (Humaniza
SUS – 2009).
CONCLUSÃO:
Somos de parecer que de acordo com o exposto, concluímos que:
Compete a qualquer Instituição que queira ou já tenha implantado o sistema de
triagem e/ou acolhimento, estabelecer e aprovar protocolos, normas, rotinas e os fluxos de
atendimento, partindo da proposta da equipe multidisciplinar;
Compete à Instituição promover cursos e treinamento periódicos específicos para a
equipe de enfermagem que deverá atuar na triagem;
O Enfermeiro tem amparo legal privativo para realizar a Consulta de Enfermagem que
entre outros compreende o histórico de enfermagem, o exame físico do paciente e o
diagnóstico de enfermagem;
Após triagem do Enfermeiro, sempre deverá existir a disponibilidade para o
atendimento multidisciplinar imediato ou mediato;
Compete aos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem agirem de acordo com o protocolo,
rotina e normas da Instituição, sendo supervisionados pelo Enfermeiro responsável pela
Triagem. Poderão participar da triagem executando atividades descritas nas Leis citadas
anteriormente, executar atividades administrativas e proceder à assistência de
Enfermagem e prescrição médica.
Este é o nosso Parecer.
Brasília, 22 de março de 2010.
Dra. DÉBORAH MARIA ALVES GERTRUDES TAVARES
COREN-DF Nº 34534-E
Relatora e Membro da CTA

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5.2.Método de Classificação de Risco

O sistema seleciona os pacientes com maior prioridade e funciona sem fazer quaisquer
presunções sobre o diagnóstico médico, uma vez que os atendimentos nos serviços de
urgência são, na sua maioria, orientados pelos sinais e sintomas apresentados pelos pacientes.
O Grupo de Triagem de Manchester foi formado em 1994, com o intuito de
estabelecer um consenso entre médicos e enfermeiros dos Serviços de Urgência a fim de criar
normas de triagem.
Vamos abordar alguns conceitos básicos sobre triagem e o processo de tomada de
decisão nessa área para dar continuidade aos nossos estudos.
Conceitos, processo de tomada de decisão e triagem

Mas o que significa triagem? Qual seu objetivo?


A palavra triagem tem origem da palavra francesa trier que significa escolha,
seleção (GILBOY, 2005). Pelo menos alguma forma de Avaliação de Risco ou “triagem”
sempre foi feita em serviços de urgência e emergência no Brasil seguindo, contudo, uma
lógica da exclusão. Triagem significa classificar ou priorizar itens e classificação de risco não
pressupõe exclusão e sim estratificação a partir de protocolos preestabelecidos. A expectativa
de acesso rápido ao atendimento em saúde é crescente embora as unidades de saúde muitas
vezes não disponham de estrutura física, recursos humanos e equipamentos adequados para
atender tal demanda.

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A regulação desse atendimento como resposta à maior demanda de saúde constitui


instrumento necessário de ordenação e orientação da assistência.

A regulação se configura, portanto, em potente ferramenta para organização e indução


das Redes de Atenção à saúde com qualidade, efetividade, compromisso,
responsabilidade, ética e solidariedade, pois tem como objetivo único priorizar os
pacientes, consoante com a gravidade clínica com que se apresentam no serviço.

Conforme a lei do exercício profissional, o enfermeiro é o profissional habilitado para a


realização da triagem (BRASIL, 2005). Diante desse cenário e mediante as necessidades de
implantação da classificação de risco na Rede de Atenção à Saúde no Brasil, o Conselho
Federal de Enfermagem (COFEN), conforme a Resolução Nº 423/2012, ressalta que o
acolhimento com classificação de risco pode ser realizado pelo enfermeiro desde que não haja
exclusão de pacientes, que o atendimento médico seja garantido e que sejam firmados
protocolos, promovendo a agilidade do atendimento de forma digna e harmonizada (BRASIL,
2005; COFEN, 2012).

Mas então, como se faz a Metodologia de Triagem?


Para abordarmos esse conteúdo, vamos Inicialmente entender que uma
triagem/classificação de risco requer tomada de decisão. Ou seja, a tomada de decisão é parte
integrante e importante da prática clínica e de enfermagem. Uma adequada avaliação
clínica de um paciente requer tanto raciocínio como intuição, e ambos devem se basear em
conhecimentos e aptidões profissionais. Assim, como parte de seu processo de aptidão é
preciso que você aprenda a interpretar, discriminar e avaliar.

Uma adequada avaliação clínica é essencial para a tomada de decisão e prestação de


cuidados seguros e de qualidade!

Dessa forma, a tomada de decisão deve ser orientada por 05(cinco) passos de acordo
com este sistema (FREITAS, 1997*):

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A partir desta visão geral, o próximo passo é colocar em prática o método de triagem
pelo sistema de Manchester.

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6.CLASSIFICAÇÃO DE RISCO NO ACOLHIMENTO


O Ministério da Saúde tem investido na proposta de humanização nos serviços de
saúde desde o início do século XXI, sendo o acolhimento uma das metodologias utilizadas
com o propósito de classificação de risco para o atendimento que tem por objetivos: avaliar o
usuário logo na sua chegada; humanizar o atendimento; descongestionar o serviço; reduzir o
tempo para o atendimento médico; determinar a área do atendimento primário, devendo o
usuário ser encaminhado diretamente à especialidade necessária; informar o tempo de espera
e retornar informações aos familiares. A agudização de doenças já instaladas conduz o usuário
a buscar atendimento nos níveis secundários e/ou terciários, como as unidades de pronto
atendimento ou pronto-socorro, por serem serviços mais ágeis e resolutivos a essas situações.
Assim, essas unidades são referência para o atendimento da população na realização
de consultas especializadas, exames diagnósticos, procedimentos de alto custo e internações.
Ao mesmo tempo oferecem acesso fácil e garantido, assistência e tecnologia de alta
complexidade, acolhendo e atendendo casos de urgência e emergência não atendidos na
atenção primária à saúde. Portanto, estes serviços se caracterizam pela superlotação, pelo
tratamento impessoal e por atuarem somente na queixa principal do indivíduo.
O acolhimento consiste na recepção do usuário, desde sua chegada, responsabilizando-
se integralmente por ele, ouvindo sua queixa, preocupações e angústias, garantindo
resolutividade e a interação com os outros serviços de saúde para a continuidade da
assistência quando necessário. Em situações de emergência, a classificação de risco à saúde é
um instrumento de assistência utilizada no sentido de se estabelecer a prioridade do
atendimento de acordo com a gravidade de cada caso. Este método prevê que o acolhimento
seja realizado por um enfermeiro treinado e com protocolos estabelecidos internacionalmente.
O acolhimento com classificação de risco no Brasil é uma modalidade em processo de
construção e implantação, a qual faz parte da proposta do Humaniza SUS, portanto, necessita
de avaliações contínuas para melhorias.
A classificação de risco é uma ferramenta utilizada nos serviços de urgência e
emergência, que visa avaliar e identificar os pacientes que necessitam de atendimento
prioritário, de acordo com a gravidade clínica, potencial de risco, agravos à saúde ou
grau de sofrimento. Ou seja, trata-se da priorização do atendimento, após uma complexa
avaliação do paciente, realizada por um profissional devidamente capacitado, do ponto de
vista técnico e científico.

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Antigamente, a entrada dos pacientes aos Serviços de Urgência e


Emergência aconteciam por ordem de chegada ou era realizado uma seleção/triagem por
profissional não capacitado, levando a graves danos à saúde do paciente, aumentando o
risco de morbidade e mortalidade.
Assim como a forma de “selecionar” os pacientes a serem atendidos evoluiu, o termo
“Triagem” foi substituído por “Classificação de risco”, e esta, deve ser realizada por meio de
protocolos, para tornar o trabalho mais sistemático, garantindo que diferentes profissionais
obtenham o mesmo resultado na avaliação do paciente, aumentando a agilidade e a segurança
nos serviços de urgência, reduzindo mortes evitáveis, além de fornecer um respaldo legal aos
profissionais.
Essa falta de organização nos serviços de urgência e emergência não era um problema
limitado ao Brasil, mas a todo o mundo e, por isso, foram surgindo alguns protocolos para
melhorar essa Classificação de Risco.
Conforme o Grupo Brasileiro de Classificação de Risco (GBCR), os protocolos mais
utilizados mundialmente são:
 Modelo Australiano – Australian Triage Scale (ATS);
 Modelo Canadense – Canadian Triageand Acuity Scale (CTAS);
 Modelo de Manchester – Manchester Triage System (MTS);
 Modelo Americano – Emergency Severity Index ( ESI);
No Brasil, um dos mais utilizados é o Modelo de Manchester e, por isso, explicitaremos
sobre ele mais a frente.
O GBCR é o único representante legal do Manchester Triage Group (MTG), é a
associação responsável por garantir que o sistema mantenha-se seguro para o cidadão e para o
profissional de saúde que o aplica, capacitar formadores de vários estados e instituições e
treinar profissionais em todo território nacional, nas modalidades online e presencial.
Hoje, temos um olhar ampliado sobre a Classificação de Risco e o que ouvimos falar
agora é “Acolhimento com Classificação de Risco”.
Mas o que é Acolhimento com Classificação de Risco?
Podemos adotar inúmeras maneiras de estratificar o risco aos pacientes que dão
entrada aos serviços de urgência e emergência, mas não podemos esquecer que estamos
atendendo SERES HUMANOS, e o nosso trabalho precisa ser humanizado e o acolhimento
é uma das ferramentas que temos em mãos para humanizar a assistência

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Dessa forma, a Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde estabeleceu


o Acolhimento com Classificação de Risco, como um instrumento de humanização, que
visa estabelecer mudanças na forma de atendimento aos usuários que procuram os serviços
de saúde, desde a atenção primária à saúde a serviços de urgência e emergência, sendo capaz
de acolher o cidadão, garantindo que suas necessidades sejam atendidas.
E para que isso seja possível, no âmbito de serviços de urgência e emergência, é
necessário que o profissional ofereça uma escuta ativa qualificada aos problemas e
demandas dos usuários, sendo capaz de classificar, mediante protocolo, as queixas desses
pacientes, visando identificar os que necessitam de atendimento médico mediato ou imediato.
Já nos serviços de atenção primária à saúde, o acolhimento com classificação de
risco facilita a construção de vínculo entre profissional-usuário, e muitas vezes, fazendo
com que tenham melhor direcionamento e solução das demandas apresentadas, como por
meio de um acompanhamento de saúde longitudinal, e dessa forma, é possível reduzir a
procura aos serviços de urgência e emergência, desnecessariamente.
O que é Acolhimento?
Acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH), que não tem
local nem hora certa para acontecer, nem um profissional específico para fazê-lo: faz parte de
todos os encontros do serviço de saúde. O acolhimento possui uma postura ética que implica
na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo
de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de
compartilhamento de saberes. É o ato de acolher, ou recepcionar o usuário a um atendimento
que o auxilia, protege ou socorre, que nos leva a entender a mudança de relacionamento entre
o usuário e o profissional de saúde, através de parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de
solidariedade, reconhecendo o usuário como pessoa participante ativa no processo de
produção da saúde.
Acolhimento com classificação de risco:
A classificação de risco é um dispositivo da PNH, uma ferramenta de organização da “fila
de espera” no serviço de saúde, para que aqueles usuários que precisam mais sejam atendidos
com prioridade, e não por ordem de chegada.
Quais os Objetivos das Classificações?
Ela foi criada para melhor organizar o fluxo de pacientes que procuram as portas de
entradas com necessidades de urgências/emergências das Unidades Básicas, Prontos

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Atendimentos e Hospitais, garantindo um atendimento resolutivo e humanizado aqueles em


situação de sofrimento agudo ou cronico de qualquer natureza.

Quem pode realizar a Classificação de Risco?


Os profissionais aptos a aplicarem a metodologia do Sistema Manchester de
Classificação de Risco são médicos e enfermeiros certificados como classificadores pelo
Grupo Brasileiro de Classificação de Risco.
No âmbito da equipe de enfermagem, segundo Art 1º da Resolução Cofen 311/2007,
o Enfermeiro é o único profissional da equipe que pode atuar no processo de classificação
de risco e priorização da assistência à saúde, desde que tenha a devida qualificação,
conforme citado anteriormente. Ou seja, a classificação de risco é uma atividade
PRIVATIVA do Enfermeiro.
O Protocolo segundo Sistema de Classificação Manchester
A implantação do protocolo de Manchester foi realizada pela primeira vez na cidade
de Manchester em 1997, permitindo que os atendimentos fossem realizados com mais
eficiência, já que se tratando de saúde, tempo pode representar a diferença entre salvar uma
vida e perder um paciente.
Este método prevê que o tempo de chegada do paciente ao serviço até a classificação
de risco seja menor que dez minutos, e que os tempos alvos para a primeira avaliação médica
sejam cumpridos de acordo com a gravidade clínica do doente.
O Protocolo de Manchester é baseado em categorias de sinais e sintomas e contém 52
fluxogramas (sendo 50 utilizados para situações rotineiras e dois para situação de múltiplas
vítimas) que serão selecionados a partir da situação/queixa apresentada pelo paciente.
O método não propõe estabelecer diagnóstico médico e por si só não garante o bom
funcionamento do serviço de urgência. Este sistema pretende assegurar que a atenção médica
ocorra de acordo com o tempo resposta determinado pela gravidade clínica do doente, além de
ser uma ferramenta importante para o manejo seguro dos fluxos dos pacientes quando a
demanda excede a capacidade de resposta.
Como é aplicado o Protocolo de Manchester pelo Enfermeiro (ou médico)?
O paciente faz uma queixa, descreve o sintoma apresentado, por exemplo, “dor
abdominal”, o enfermeiro segue o fluxograma DOR ABDOMINAL, disponível no protocolo

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de Manchester. Cada fluxograma contém discriminadores que orientarão a coleta e análise de


informações para a definição de prioridade clínica do paciente.
Ou seja, não existe uma rotina de atendimento, por exemplo, verificar todos os sinais
vitais de todos os pacientes que dão entrada aos serviços de emergência, pelo contrário, para
cada atendimento segue-se um fluxo estabelecido no protocolo, de acordo com o sintoma
apresentado, que norteará sua conduta. Muitas vezes, por exemplo, pode ser necessário
verificar somente a pressão e a temperatura, outras, a frequência cardíaca e a pressão, para
que assim, não se perca tempo com o que não é relevante naquele momento, para aquele
quadro clínico apresentado.
De acordo com as respostas apresentadas na aplicação do protocolo, o fluxograma leva
a um resultado e o paciente é classificado em uma das cinco prioridades identificadas por
número, nome, cor e tempo alvo para a observação médica inicial:

O que devemos ter nos pontos ou salas para a classificação de risco de Manchester?
 Manual de classificação de risco (manual do serviço adquirido do GBCR);
 Termômetro (timpânico ou digital infravermelho);
 Glicosímetro;
 Monitor (saturímetro e FC);
 Relógio;
 Esfigmomanômetro e estetoscópio;
 Material para identificação da prioridade clínica do usuário (ex: pulseiras, adesivos,
etc.);
 Ficha de registro da classificação de risco (a instituição pode solicitar modelo ao
GBCR e adaptá-la preservando registros obrigatórios);

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Qual o direito do paciente frente ao Acolhimento com Classificação de Risco?


Todo paciente que dá entrada nos serviços de urgência e emergência tem direito a
receber atendimento médico. Ou seja, é proibido a dispensa de pacientes antes que estes
recebam atendimento médico. Este direito está previsto no Regulamento Técnico dos
Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência, aprovado pela portaria GM/MS nº 2.048 de
2002, e nas Resoluções do Conselho Federal de Medicina nº 2.077 e nº 2.079 de 2014.
Caso o paciente sinta-se prejudicado por suposta conduta antiética do profissional de
enfermagem, ele tem direito a realizar uma denúncia ao Conselho Regional de Enfermagem
(COREN), mediante apresentação formal dos fatos (por escrito ou verbal), seguindo os
requisitos descritos no artigo 22 do Código de Processo Ético-Disciplinar dos Profissionais de
Enfermagem.
Como funciona o dimensionamento de pessoal na Classificação de Risco?
A realização de qualquer atividade em enfermagem exige que o serviço de saúde
proporcione condições de trabalho adequadas para tal. Dentre essas adequadas condições, está
o dimensionamento adequado de recursos humanos para atender a demanda e
desenvolver todas as ações necessárias na assistência à população.
O Enfermeiro leva, em média, 3 (três) minutos para fazer uma classificação de risco
(CR) nos serviços de urgência e emergência, o que representa 20 CR por hora. Porém,
levando-se em conta que a capacidade máxima humana é de 80%, isso significa que por
estimativa o Enfermeiro pode fazer 16 CR por hora; sem considerar os direitos
trabalhistas (horário de refeição e uso do banheiro) e em caso que as atividades
extrapolam o protocolo como, solicitação de exames, coleta de material, entre outras,
expõem o profissional, a instituição e põe em risco a segurança e a saúde do paciente,
pois podem alterar o tempo ótimo de CR.
Além disso, a equipe mínima por sala é de 1 Enfermeiro e 1 Técnico de Enfermagem.
E caso haja demanda acima deste número, deverá ser disponibilizada uma segunda frente de
CR (sala, Enfermeiro e Técnico de Enfermagem)
Qual o papel do Técnico de Enfermagem no Acolhimento com Classificação de Risco?
Segundo a Lei 7.498/1986 que regulamenta o exercício de enfermagem, o Técnico
deverá auxiliar o Enfermeiro. Na Classificação de Risco, esse auxílio pode ser na aferição de
sinais vitais, colocação da pulseira de cor, direcionamento do paciente para os fluxos da
unidade de urgência/ emergência, entre outras atividades cabíveis de delegação.

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Como pode-se ver, a intenção deste artigo não é capacitar ninguém a aplicar o
Protocolo de Manchester, uma vez que somente o Grupo Brasileiro de Classificação de
Risco ou instituições credenciadas podem realizar, mas sim explicar sua complexidade, os
conceitos da classificação de risco e reforçar a necessidade de um atendimento
humanizado e holístico em todos os serviços de saúde. Lembrando que tempo é vida nos
serviços de urgência e emergência. E é por isso que devemos ter responsabilidade e preparo
para realizar esse tipo de atendimento.
PARA ACESSAR A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO(PNH), ACESSE:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.
pdf

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7.TRABALHO EM EQUIPE NA ÁREA DA SAÚDE


Desde os primórdios da Antiguidade, o ser humano já convivia coletivamente,
desempenhando tarefas e ações improváveis de serem alcançadas sem o apoio de seu
semelhante. Dessa maneira, as pessoas agrupavam-se no intuito de viverem em sociedade.
Sabe-se que um conjunto restrito de pessoas constitui um grupo. Assim, um grupo
agrega pessoas que, ligadas por constantes de tempo e espaços articulados com suas
representações internas, propõem-se, de forma explícita ou implícita, à realização de uma
tarefa com uma determinada finalidade.
No mundo contemporâneo a utilização de grupos como estratégia na atenção em saúde
é cada vez mais utilizado sendo até mesmo propostas oficiais do Ministério da Saúde e
Educação.
Quando os grupos se constituem em equipe, conseguem realizar tarefas que grupos
comuns não fazem, são mais criativos e eficientes na resolução de problemas, produzem mais
e com maior qualidade, desenvolvem maior autonomia e são mais motivados.
A palavra "equipe" está etimologicamente associada à realização de tarefas, de
trabalhos compartilhados entre indivíduos, que do seu conjunto coletivo extraem o sucesso
para a realização pretendida. Assim, o conceito de equipe consolida-se como um conjunto de
pessoas que têm uma vinculação entre si para a realização de um objetivo comum.
O trabalho em equipe, muitas vezes, possui uma conceituação mais técnica, em que o
trabalho de cada área profissional é apreendido como conjunto de atribuições, tarefas ou
atividades. No entanto, trabalhar em equipe significa conectar diferentes processos de
trabalhos envolvidos, com base no conhecimento sobre o trabalho do outro, valorizando a
participação deste na produção de cuidados, construindo consensos quanto aos objetivos e
resultados a alcançar coletivamente.
Na área da saúde, o trabalho em equipe implica compartilhar o planejamento e a
divisão de tarefas, cooperar, colaborar e interagir democraticamente, integrando os diferentes
atores, saberes, práticas, interesses e necessidades.
O trabalho em equipe surge da necessidade de estabelecer objetivos e metas em
comum com um plano de trabalho bem definido, por meio do qual se desenvolvam o
crescimento individual e do grupo e o cuidado centrado no usuário e na comunidade
envolvidos.

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Para que se obtenha um atendimento em saúde com qualidade e eficiência, é


fundamental compreender o real significado de equipe. Na enfermagem o termo "equipe" é
utilizado para designar um grupo formado pelo enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem.
O trabalho em equipe pode ser visto, também, como um processo de inter-relação
entre os trabalhadores como processos grupais. O trabalho em grupo relaciona-se com a forma
como esse trabalho é percebido pelos seus integrantes. Alguns estão ali porque gostam, outros
porque acham um bom emprego, outros porque é uma fonte de renda, e assim por diante
No campo da saúde o ‘trabalho em equipe’ emerge em um contexto formado por três
vertentes:
1) A noção de integração, que constitui um conceito estratégico do movimento da
medicina preventiva nos anos 50, da medicina comunitária nos anos 60 e dos programas de
extensão de cobertura implantados no Brasil nos anos 70;
2) As mudanças da abordagem de saúde e de doença que transitam entre as
concepções da unicausalidade e da multicausalidade;
3) As conseqüentes alterações nos processos de trabalho com base na busca de
ampliação dos objetos de intervenção, redefinição da finalidade do trabalho e introdução de
novos instrumentos e tecnologias.
No processo de emergência da medicina preventiva, nos anos 50, nos EUA, propõe-se
um projeto de mudanças da prática médica, com uma redefinição radical do papel do médico,
incorporando, pela primeira vez, em propostas curriculares de ensino de graduação, a idéia
de trabalho em equipe multiprofissional liderada pelo médico (Arouca, 2003; Silva, 2003).
Além da integração da medicina preventiva às demais especialidades, este movimento
adota um novo conceito de saúde e doença, no qual a saúde é um estado relativo e dinâmico
de equilíbrio e a doença é um processo de interação do homem com os agentes patogênicos e
o ambiente. Esta concepção de saúde e doença está ancorada no paradigma da história natural
das doenças, proposto por Leavell e Clark que assumem a definição de saúde preconizada
pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta organização internacional, em 1946, adota o
conceito global e multicausal de saúde que a define como o estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade. As práticas de saúde passam a
ser reorientadas no sentido da obtenção de um estado ‘global’ de saúde com a prevenção das
doenças e a recuperação ‘integral’ do paciente.

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No que se refere ao modelo de causalidade do processo saúde-doença, a medicina


preventiva liberta-se da unicausalidade, fundamentada na bacteriologia, pois se tornara
insustentável explicar a doença como o efeito da atuação de um agente patogênico, e adota o
modelo da multicausalidade. (Facchini, 1993)
Assim, a ideia de equipe de saúde aparece respaldada principalmente pela noção de
atenção integral ao paciente, tendo em conta os aspectos preventivos, curativos e de
reabilitação que deveriam ser contemplados a partir dos conceitos de processo saúde-doença,
de história natural das doenças e da estratégia de integração. Porém, mantém-se a centralidade
do trabalho médico, em torno do qual outros trabalhos especializados se agregam.
Também na área de enfermagem a proposta do ‘trabalho em equipe’ surge na década
de 1950, nos EUA, através de experiências realizadas no Teacher's College da Universidade
de Columbia, que preconizam a organização do serviço de enfermagem com base em equipes
lideradas por médicos. Esse modelo de organização do trabalho de enfermagem expressa tanto
uma crítica ao modelo funcional, centrado na tarefa em detrimento do paciente, bem como a
busca de solução para a escassez de pessoal de enfermagem nos anos pós Segunda Guerra
Mundial (Almeida & Rocha, 1986; Peduzzi & Ciampone, 2005).
Em ambas as áreas, medicina e enfermagem, buscam-se alternativas para o problema
crescente dos custos da atenção médica. Segundo Donnangelo e Pereira (1976), os custos
médicos progressivos, em grande parte decorrentes da incorporação do custo dos produtos
industriais, farmacêuticos e equipamentos ao valor do cuidado médico, introduzem um dos
elementos contraditórios da prática médica em seu processo de extensão, ou seja, ampliação
quantitativa dos serviços com a incorporação crescente da população.
A medicina comunitária emerge e se difunde como parte do processo de extensão da
prática médica e de controle dos custos e configura como objeto de intervenção as categorias
sociais até então excluídas da atenção à saúde, “a pobreza constitui, por excelência, o objeto
atribuído à medicina através desse novo projeto” (Donnangelo & Pereira, 1976, p. 72). Por
outro lado, essa extensão requer uma nova estruturação dos elementos que compõem a prática
médica, sobretudo uma forma distinta de utilização do trabalho médico, o que se fará através
da incorporação do trabalho auxiliar de outras categorias profissionais, configurando uma
prática complementar e interdependente entre os distintos trabalhadores de saúde. O processo
de divisão de trabalho por meio do qual se dá essa distribuição de tarefas ocorre no interior de
um processo social de mudanças da concepção de saúde e doença, já referido anteriormente,

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que é acompanhado de alterações introduzidas nos processos de trabalho e no modelo


assistencial.
Portanto, o ‘trabalho em equipe’ não tem na sua origem apenas o caráter de
racionalização da assistência médica, no sentido de garantir a melhor relação custo-benefício
do trabalho médico e ampliar o acesso e a cobertura da população atendida, mas também
responde à necessidade de integração das disciplinas e das profissões entendida como
imprescindível para o desenvolvimento das práticas de saúde a partir da nova concepção
biopsicossocial do processo saúde-doença.
Seu desenvolvimento histórico
As mudanças nas políticas de saúde, nos modelos assistências e nas políticas
de recursos humanos em saúde influenciaram o desenvolvimento da concepção de ‘trabalho
em equipe’.
Desde meados dos anos 70, o debate em torno das políticas de saúde e de recursos
humanos, considerando o perfil de necessidade de saúde da população brasileira, apontava a
crítica à formação especializada e curativa dos profissionais de saúde e a necessidade de
incentivar a utilização de métodos que estimulassem a atuação multiprofissional. Também
assinalavam o problema da predominância de pessoal de nível superior, em particular de
médicos, e de pessoal sem qualificação técnica formal, configurando a denominada equipe
bipolar médico-atendente. Porém, somente a partir de meados dos anos 80 a tendência à
bipolaridade das equipes de saúde é revertida, aumentando a presença de profissional de nível
médio, sobretudo auxiliares de enfermagem, e de outros profissionais de nível superior não-
médicos, configurando a possibilidade de trabalho em equipes multiprofissionais mais
complexas e qualificadas (Machado et al., 1992).
As políticas de recursos humanos em saúde, para as quais a realização da VIII
Conferência Nacional de Saúde, em 1986, representa uma inflexão importante, enfatizam
cada vez mais a ‘equipe de saúde’ como unidade produtiva em substituição ao trabalho
independente e isolado de cada profissional em separado.
Nos anos 90 voltam a se intensificar os debates sobre a atenção integral agora em
torno da noção de integralidade da saúde que aponta para uma concepção alargada no sentido
da apreensão e reposta ampliada e contextualizada para as necessidades de saúde dos usuários
e população de um dado território (Mattos, 2004). Esta noção de integralidade requer de
forma mais objetiva e intensa a atuação profissional na modalidade de trabalho em equipe,

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com a inclusão de um leque variado de profissionais que podem contribuir na construção de


saberes e práticas que vão além do modelo biomédico, abarcando as múltiplas dimensões da
saúde.
A introdução do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994, como estratégia de
reorganização da atenção à saúde, destaca o trabalho em equipe como pressuposto e diretriz
operacional para a reorganização do processo de trabalho em saúde. Especificamente quanto à
atenção primária, Starfield (2002) aponta que, embora o ímpeto inicial para o trabalho em
equipe tenha sido aumentar o potencial dos médicos da atenção primária, cuja oferta era
baixa, outros imperativos agora estão à frente, pois o envelhecimento da população e o
aumento das doenças que duram mais ou recorrem mais freqüentemente têm criado a
necessidade de uma abordagem de atenção primária mais ampla e qualificada, o que sustenta
o movimento em relação ao ‘trabalho de equipe’ nos vários países.
Por outro lado, a proposta do ‘trabalho em equipe’ também é reforçada pela crítica aos
modelos clássicos de administração que se estende pelos diversos setores da produção
inclusive ao setor saúde, sobretudo a crítica à rígida e excessiva divisão do trabalho, à
fragmentação das tarefas e à despersonalização do trabalho (Martins & Dal Poz, 1998;
Campos, 2000). Cabe, contudo, apontar as especificidades do ‘trabalho em equipe’ no campo
da saúde, dado o seu caráter de prestação de serviços, e, especialmente, as características do
próprio processo de trabalho em saúde, quais sejam: a complexidade dos objetos de
intervenção, a intersubjetividade, visto que o trabalho sempre ocorre no encontro profissional-
usuário, e a interdisciplinaridade, características estas que requerem a assistência e o cuidado
em saúde organizado na lógica do ‘trabalho em equipe’ em substituição a atuação profissional
isolada e independente.
Na atualidade há um consenso em torno do ‘trabalho em equipe’ no setor saúde,
porém ainda persiste e predomina uma noção de equipe que se restringe à coexistência de
vários profissionais numa mesma situação de trabalho, compartilhando o mesmo espaço físico
e a mesma clientela, o que configura dificuldades para a prática das equipes, visto que a
equipe precisa de integração para buscar assegurar a integralidade da atenção à saúde.
Desde a segunda metade dos anos 90 tem aumentado a produção teórica sobre o tema,
no país, incluindo o desenvolvimento de pesquisas empíricas que têm contribuído com
subsídios para o debate e a prática das equipes nos serviços de saúde.

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Peduzzi (1998, 2001) conceitua ‘trabalho em equipe’ multiprofissional como uma


modalidade de trabalho coletivo que é construído por meio da relação recíproca, de dupla
mão, entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos profissionais de diferentes
áreas, configurando, através da comunicação, a articulação das ações e a cooperação.
Também estabelece uma tipologia de trabalho em equipe que não configura um modelo
estático, mas a dinâmica entre trabalho e interação que prevalece em um dado momento do
movimento contínuo da equipe: equipe integração e equipe agrupamento. No primeiro tipo
ocorre a articulação das ações e a interação dos agentes; no segundo, observa-se a
justaposição das ações e o mero agrupamento dos profissionais. A tendência para um desses
tipos de equipe pode ser analisada pelos seguintes critérios: qualidade da comunicação entre
os integrantes da equipe, especificidades dos trabalhos especializados, questionamento da
desigual valoração social dos diferentes trabalhos, flexibilização da divisão do trabalho,
autonomia profissional de caráter interdependente e construção de um projeto assistencial
comum.
Fortuna (1999) e Fortuna et al. (2005, p. 264) conceituam o ‘trabalho em equipe’
como “uma rede de relações entre pessoas, rede de relações de poderes, saberes, afetos,
interesses e desejos, onde é possível identificar processos grupais”. As autoras destacam a
dinâmica grupal das equipes e propõem o reconhecimento e a compreensão desses processos
grupais pelos seus integrantes como forma de construir a própria equipe, concebendo o
‘trabalho em equipe’ como as relações que o grupo de trabalhadores constroem no cotidiano
do trabalho.
Ao analisar o gerenciamento do ‘trabalho em equipe’ de saúde, Campos (1997) sugere
a aplicação dos conceitos de campo e de núcleo de competências e responsabilidades, o
primeiro referido a saberes e responsabilidades comuns ou confluentes a várias profissões ou
especialidades da saúde; o segundo, ao conjunto de saberes e responsabilidades específicos de
cada profissão ou especialidade, de modo que o núcleo marcaria a diferença entre os membros
de uma equipe.
Também Campos (1999) propõe a organização dos serviços de saúde segundo o
conceito de equipe de referência com apoio especializado matricial. Nessa proposta, cada
serviço (rede básica, serviços especializados, hospitais, outros) seria organizado por meio da
composição de equipes de referência segundo três critérios: o objetivo da unidade, as
características do local/território e os recursos disponíveis, de modo que um conjunto de

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usuários ou famílias seria adscrito a uma equipe básica de referência que contaria com o apoio
de especialistas reunidos em uma equipe matricial. Cada equipe matricial serve de apoio para
um determinado número de equipes de referência em uma dada localidade, ambas, com um
caráter multiprofissional. A principal função dos profissionais e das equipes de referência
seria elaborar e aplicar o projeto terapêutico individual. Esta proposta pressupõe três
diretrizes: vínculo terapêutico, gestão colegiada e transdisciplinaridade, apostando no seu
potencial para possibilitar a superação dos aspectos fundamentais sobre os quais repousa o
modelo hegemônico – biomédico.
Para finalizar, destacam-se as relações entre as temáticas do ‘trabalho em equipe’ e
a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, embora cada um desses temas tenha sua
especificidade, bem como a imprecisão na utilização dessas terminologias no campo da saúde.
De maneira geral, ora utilizam-se os prefixos multi, inter ou trans, ora os sufixos profissional
ou disciplinar, mas os autores concordam sobre a importância de não desviar o foco da
questão central que é a constituição de equipes de trabalho (Jacob Filho & Sitta, 2002;
Iribarry, 2003; Ceccim, 2005).
Norteando profissionais de diferentes áreas da saúde, a obra descreve os diferentes
tipos de equipes na saúde, seu funcionamento e as competências necessárias aos seus
membros e líderes. Completam informações sobre treinamento, avaliação, tomada de decisão,
processos de melhorias e administração de conflitos nas equipes. Confira um trecho da obra.
Aprestação de cuidados de saúde tornar-se cada vez mais especializada à medida que o
conhecimento avança. Há décadas, nos Estados Unidos, os médicos eram, em sua maioria,
clínicos gerais. Em 1940, 76% deles eram generalistas. Em 1955, a proporção caiu para 56%;
em 1969, ela chegou a 31%.
Em 2007, apenas 13,5% dos médicos eram generalistas e 34,3% atuavam em todos os
campos da atenção primária integrada: medicina de família, clínica geral, medicina interna e
pediatria (American Association of Medical Colleges, 2008). Desde então, a Associação
Médica Americana classificou 33 especialidades médicas, além dos campos de atenção
primária.
A medicina tornou-se altamente especializada. Desenvolvimentos similares ocorreram
na enfermagem. A enfermagem já tem, nos Estados Unidos, enfermeiros registrados,
enfermeiros práticos licenciados, enfermeiros clínicos especialistas em diferentes campos,
enfermeiros clínicos e doutores em enfermagem clínica.

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A farmácia estabeleceu especialidades em farmácia nuclear, farmacoterapia, farmácia


oncológica e outros campos. Os assistentes sociais e fisioterapeutas também são
especializados. Assim, o atendimento aos pacientes é proporcionado por várias pessoas
exercendo distintas profissões. Esta fragmentação requer um trabalho em equipe bem
articulado, de modo a garantir a eficácia da atividade conjunta.
A exigência de um trabalho em equipe qualificado remonta à metade da década de
1950. Contudo, por várias razões, o progresso tem sido lento. Um dos motivos é que muitos
médicos, enfermeiros e outros clínicos estão impregnados com a noção de que são
individualmente responsáveis pelo que acontece com seus pacientes.
Embora uma visão mais complexa e realista venha ganhando espaço, por mais de um
século esses profissionais concluíram sua formação acreditando que tanto os bons resultados
quanto eventuais percalços poderiam decorrer unicamente do desempenho individual. O
trabalho em equipe raramente era relacionado.
Outro motivo a ser apontado é que os profissionais de cada área da saúde são
preparados isoladamente. Os farmacêuticos formam-se em faculdades de farmácia, os
enfermeiros, em faculdades de enfermagem, os médicos, em faculdades de medicina e assim
por diante. Como eles raramente são reunidos durante a formação, acabam adotando os
valores, a terminologia e as bases conceituais de suas próprias profissões, sem qualquer
exposição ao processo de socialização experimentado por estudantes em outras profissões de
saúde.
Tais diferenças acabam dificultando o diálogo no trabalho em equipe. A segregação
durante a formação evita também que os estudantes aprendam a trabalhar em equipes
interprofissionais, levando-os a atuar individualmente quando começam a exercer a profissão.
Apesar de já ser possível perceber uma mudança nesse cenário, ainda é incomum a educação
interprofissional regular nos currículos de faculdades da área da saúde.
Por fim, vale mencionar que rivalidades entre profissões, especialmente entre
medicina e enfermagem, têm comprometido a qualidade do trabalho em equipe. A
controvérsia entre médicos e enfermeiros sobre a liderança de casas médicas (uma abordagem
de atenção primária, baseada em equipe e centrada no paciente, adotada nos Estados Unidos)
é um exemplo recente de tais rivalidades.

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Apesar disso, a questão do trabalho em equipe não tem recebido a atenção necessária
nos últimos anos. O problema é que, até o começo dos anos 2000, foram adotadas ações
apenas em âmbitos restritos – por exemplo, saúde mental e pediatria do desenvolvimento.
O interesse no trabalho em equipe foi despertado quando se reconheceu que saúde de
alta qualidade é alcançada não somente pela prática competente de profissionais trabalhando
individualmente, mas também pela presença de sistemas – contextos, definições de tarefas,
processos – que permitem e estimulam boas práticas e protegem contra percalços. Um evento-
chave na construção deste reconhecimento foi a publicação de Errar é humano: construindo
um sistema de saúde mais seguro (To Err is Human: Building a Safer Health System; Institute
of Medicine, 2000).
Grupos de trabalho e equipes de trabalho
Inicialmente, é importante compreender o significado da palavra equipe. Em conversas
informais, a palavra é usada para descrever uma ampla variedade de grupos de pessoas
engajadas coletivamente em uma atividade ou outra.
Existem equipes esportivas, equipes administrativas, equipes cirúrgicas e assim por
diante. Em algumas organizações, cada empregado é visto como um membro da equipe, de
modo que esta consiste em milhares de pessoas, muitas das quais nunca se encontraram. Por
exemplo, ao acionar o serviço de atendimento ao cliente de uma determinada empresa, o
cliente sabe que em breve um membro da equipe lhe prestará ajuda.
Todos estes empregos da palavra equipe fazem sentido em seus contextos. Porém, para
compreender o trabalho em equipe no atendimento de saúde, é apropriado definir um termo
que se refira a equipes capazes de proporcionar atendimento conjunto de saúde e tomar
decisões em organizações de saúde.
De modo similar, um grupo que aparenta ser uma equipe de liderança organizacional
pode, na verdade, ser um grupo de indivíduos colaboradores. A diferença é bastante sutil.
Ainda que os membros da equipe de liderança se reúnam regularmente, eles podem ficar
limitados a desempenhar suas próprias funções, sem considerar as ações dos outros membros
da equipe e sem qualquer ajuste para garantir que suas respectivas partes na organização
trabalhem efetivamente juntas.
Uma equipe de liderança por um hospital formada por um vice-presidente para
atendimento do paciente, um diretor médico, um diretor de recursos humanos e outras pessoas

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pode funcionar deste modo. Se assim o fizerem, eles não estarão constituindo uma equipe,
mas sim algum outro tipo de grupo de trabalho.
Uma vez que uma equipe tem autoridade para executar sua tarefa, um grupo de
trabalho não é uma equipe se tiver uma supervisão externa. Assim, um grupo de enfermeiras
não é uma equipe se elas tiverem uma direção repetida e detalhada de um supervisor externo à
unidade.
Este grupo não tem liberdade para trabalhar em conjunto de modo colaborativo,
porque seus membros individualmente não têm permissão de interagir com outro para tomar
decisões juntos e influir sobre ele. Alguns grupos grandes, que às vezes são identificados
como equipes, não são equipes de trabalho.
Um time de futebol, por exemplo, não é uma equipe de trabalho. Seu tamanho grande
e a separação de jogadores em diferentes subunidades são inconsistentes com a exigência de
que uma equipe não tenha componentes operando de modo independente. Em um time de
futebol, geralmente existem três subgrupos: um grupo ofensivo, um grupo defensivo e um
intermediário (meio de campo). Um time de futebol é um agrupamento de três equipes, talvez
mais.
Por razões semelhantes, o corpo clínico de um hospital não é uma equipe de trabalho,
e o seu corpo de enfermagem igualmente não o é. Da mesma forma, os empregados de uma
determinada empresa não integram uma equipe de trabalho; em toda empresa existem
múltiplas equipes de trabalho.
Estas considerações são importantes porque a compreensão do desempenho de um
hospital ou serviço de saúde – ou de um time de futebol ou uma loja de departamentos –
requer atenção às equipes de trabalho reais na organização e aos pequenos grupos que aspiram
tornar-se equipes de trabalho, mas ainda não o são. O tratamento de um agrupamento de
equipes de trabalho como se fosse uma única equipe ocultará a função dos seus componentes
e frustrará tentativas para melhorar o desempenho das equipes.
Benefícios do trabalho em equipe
Por que equipes são utilizadas para prestar atendimento de saúde? Conforme já foi
mencionado anteriormente, os profissionais estão ficando cada vez mais especializados, sendo
necessário formar equipes que atendam às necessidades dos pacientes; afinal, nenhum dos
profissionais envolvidos é detentor de todo o conhecimento e experiência necessários.

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Para ir além desta consideração, que valor as equipes trazem, de modo geral e para
atendimento à saúde em particular? Quais são as justificativas para empregar equipes em
situações em que o trabalho poderia ser feito por indivíduos isoladamente? Existem, na
verdade, muitas razões para a utilização de equipes.
Consideremos quatro bem importantes: As equipes são mais ágeis no desempenho de
muitas tarefas. Quando o atendimento era feito em série por diversos profissionais, tudo
tomava mais tempo. A interação rápida de pessoas trabalhando em uma equipe economiza
tempo e dinheiro. As equipes também capacitam indivíduos e organizações.
Evidência da eficácia de equipes
Na manufatura, indústria do petróleo e gás, indústria do vestuário e em muitos outros
estabelecimentos tem sido demonstrado que o trabalho em equipe é mais eficaz do que o
trabalho individual.
As equipes também não são novidade no atendimento de saúde. Porém, recentemente
elas têm se tornado mais comuns, assim como tem aumentado o interesse em equipes
interprofissionais. Neste sentido, constata-se que já existe ampla evidência da eficácia de
equipes de atendimento de saúde. Conforme já observado, vários aspectos do atendimento
mostram que não é possível a prestação de serviço por indivíduos isoladamente. Nesses casos,
o atendimento é baseado em equipe por necessidade.
Estudo comprova que, no atendimento a pessoas idosas frágeis e com depressão,
equipes interprofissionais de psicogeriatria são mais eficientes do que profissionais
generalistas atuando individualmente. Em comparação com o atendimento prestado por
médicos individualmente, equipes de geriatras, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas
ocupacionais, terapeutas físicos e nutricionistas foram capazes de reduzir a mortalidade, ao
menos em curto prazo, em pacientes idosos hospitalizados (Hogen e Fox, 1990).
Em um estudo feito na Escócia, em pacientes com câncer de mama que receberam
atendimento multidisciplinar, constatou-se mortalidade mais baixa do que naqueles tratados
convencionalmente. Neste estudo, o atendimento multidisciplinar foi prestado por uma equipe
interprofissional organizada que observou os protocolos clínicos escritos, adotou decisões
coletivas sobre tratamento e auditou seus resultados; o atendimento convencional foi prestado
por cirurgiões e clínicos, sem qualquer organização de equipe formal.
O atendimento paliativo tem se mostrado mais eficiente quando prestado por uma
equipe multidisciplinar, em comparação à atenção primária (PCPs, do inglês primary care

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physicians) realizado apenas por médicos. Um estudo sobre a prescrição de antibióticos em


hospital mostrou um desempenho superior de uma equipe interprofissional em comparação
com o atendimento por médicos individualmente.
Evidentemente, nem todas as equipes são eficazes no dia a dia do atendimento de
saúde ou mesmo quando funcionam em projetos de pesquisa com fornecimento de recursos
especiais. Além disso, às vezes, as equipes são utilizadas em situações que seriam mais bem
atendidas por profissionais individuais. Todavia, existem sólidas evidências de que as equipes
podem ser eficazes em geral e são eficazes para muitos propósitos clínicos específicos em
muitos e diferentes procedimentos de saúde.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Parecer Técnico nº 016/2005 do COREN do Distrito Federal. Brasília (DF) 2005.
Disponível em: www.corendf.gov.br.
COFEN. Resolução COFEN Nº 423/2012. Normatiza, no âmbito do sistema Cofen/Conselhos
Regionais de Enfermagem, a participação do enfermeiro na atividade de classificação de
riscos. Disponível em: www.site.portalcofen.gov.br/node/8956.
FREITAS, P.. Triagem no serviço de urgência/emergência: grupo de triagem de Manchester.
Portugal: Grupo Português de Triagem – BMJ-Publishing Group, 1997. 154p.
GILBOY N, TANABE P, TRAVERS DA, ROSENAU AM, EITEL DR. Emergency Severity
Index, Version 4: Implementation Handbook. Agency for Healthcare Research and Quality.
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GOMES, Karine de Oliveira et al . Atenção Primária à Saúde - a "menina dos olhos" do SUS:
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saude/
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http://www.coren-df.gov.br/site/no-0052010-atribuicao-do-profissional-de-enfermagem-na-
triagem-com-classificacao-de-risco-nos/
http://dab.saude.gov.br/portaldab/smp_ras.php
https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/201701/11144518-redes-aps-para-
novos-gestores.pdf
http://www.saude.sp.gov.br/resources/humanizacao/institucional/apresentacao_redes_e_regio
nalizacao2.pdf
http://redehumanizasus.net/94513-voce-sabe-o-que-sao-redes-de-atencao-a-saude-ras/
http://sites.multiweb.ufsm.br/residencia/images/Disciplinas/ppt_congresso_11_ras.pdf
https://cientistasfeministas.wordpress.com/2016/08/24/o-sus-as-redes-de-atencao-e-o-direito-
a-saude/

Curso Técnico em Enfermagem – Gestão em Saúde e Redes de Atenção


Escola Estadual de Educação Profssional (E.E.E.P.) Ensino Médio Integrado à Educação Profissional
50

http://www.sindisaudevs.com/2012/08/diferenca-entre-triagem-
eacolhimento.html#ixzz5W8NXKFKU
http://aps.bvs.br/aps/qual-a-diferenca-entre-triagem-e-acolhimento/
www.saude.mt.gov.br/arquivo/2117
KUSCHINIR R, CHORNY AH. Redes de atenção à saúde: contextualizando o debate. Cien
Saude Colet 2010; 15(5):2307-2316.
www.reme.org.br/artigo/detalhes/965

Curso Técnico em Enfermagem – Gestão em Saúde e Redes de Atenção


Hino Nacional Hino do Estado do Ceará

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Poesia de Thomaz Lopes


De um povo heróico o brado retumbante, Música de Alberto Nepomuceno
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Terra do sol, do amor, terra da luz!
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Soa o clarim que tua glória conta!
Terra, o teu nome a fama aos céus remonta
Se o penhor dessa igualdade Em clarão que seduz!
Conseguimos conquistar com braço forte, Nome que brilha esplêndido luzeiro
Em teu seio, ó liberdade, Nos fulvos braços de ouro do cruzeiro!
Desafia o nosso peito a própria morte!
Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!
Ó Pátria amada, Chuvas de prata rolem das estrelas...
Idolatrada, E despertando, deslumbrada, ao vê-las
Salve! Salve! Ressoa a voz dos ninhos...
Há de florar nas rosas e nos cravos
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Rubros o sangue ardente dos escravos.
De amor e de esperança à terra desce, Seja teu verbo a voz do coração,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!
A imagem do Cruzeiro resplandece. Ruja teu peito em luta contra a morte,
Acordando a amplidão.
Gigante pela própria natureza, Peito que deu alívio a quem sofria
És belo, és forte, impávido colosso, E foi o sol iluminando o dia!
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Tua jangada afoita enfune o pano!
Terra adorada, Vento feliz conduza a vela ousada!
Entre outras mil, Que importa que no seu barco seja um nada
És tu, Brasil, Na vastidão do oceano,
Ó Pátria amada! Se à proa vão heróis e marinheiros
Dos filhos deste solo és mãe gentil, E vão no peito corações guerreiros?
Pátria amada,Brasil!
Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!
Porque esse chão que embebe a água dos rios
Deitado eternamente em berço esplêndido, Há de florar em meses, nos estios
Ao som do mar e à luz do céu profundo, E bosques, pelas águas!
Fulguras, ó Brasil, florão da América, Selvas e rios, serras e florestas
Iluminado ao sol do Novo Mundo! Brotem no solo em rumorosas festas!
Abra-se ao vento o teu pendão natal
Do que a terra, mais garrida, Sobre as revoltas águas dos teus mares!
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; E desfraldado diga aos céus e aos mares
"Nossos bosques têm mais vida", A vitória imortal!
"Nossa vida" no teu seio "mais amores." Que foi de sangue, em guerras leais e francas,
E foi na paz da cor das hóstias brancas!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,


Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!

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