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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000966999

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1003681-18.2018.8.26.0361, da Comarca de Mogi das Cruzes, em que é apelante
COLÉGIO MELLO DANTE LTDA, é apelado SENDAS DISTRIBUIDORA S/A -
ASSAI.

ACORDAM, em 30ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade
com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANDRADE


NETO (Presidente sem voto), LINO MACHADO E CARLOS RUSSO.

São Paulo, 5 de dezembro de 2018.

Maria Lúcia Pizzotti


RELATOR
Assinatura Eletrônica
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Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Seção de Direito Privado

APELAÇÃO Nº 1003681-18.2018.8.26.0361
VOTO Nº 24029

APELANTE: COLÉGIO MELLO DANTE LTDA EPP


APELADO: SENDAS DISTRIBUIDORA S.A. (ASSAI)
COMARCA: MOGI DAS CRUZES
AÇÃO INDENIZATÓRIA
MAGISTRADA PROLATOR DA DECISÃO: DR. CARLOS EDUARDO XAVIER BRITO

EMENTA
AÇÃO INDENIZATÓRIA FURTO ESTACIONAMENTO
PROVAS SUFICIENTES PARA COMPROVAÇÃO DO FURTO
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA RESPONSABILIDADE
DO FORNECEDOR RISCO DA ATIVIDADE DEVER DE
GUARDA CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
DANOS MATERIAIS COMPROVADOS
1 Trata-se de nítida relação de consumo. Em decorrência disso, é
possível a inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º, VIII),
incumbindo ao réu trazer aos autos provas capazes de infirmar as
alegações de fato do autor. Nesse sentido, poderia o réu ter trazido
registros audiovisuais captados no dia dos fatos, ou, ao menos,
pleiteado a produção de prova oral de algum funcionário que
trabalhou neste dia. Entretanto, não o fez. Diante disso, presumem-
se verdadeiras as alegações de fato do autor, de modo que deve ser
reconhecido o nexo causal entre os danos e a falha no dever de
vigilância.
2 As provas trazidas pelo autor (Boletim de Ocorrência e notas
fiscais demonstrando a compra de produtos no estabelecimento do
réu no dia dos fatos) são suficientes, à luz do conjunto probatório,
para afirmar seguramente que houve o nexo de causalidade e os
danos alegados. Precedentes;
3 - Apesar de a atividade-fim do réu não ser a guarda de veículos,
este, ao colocar tal espaço à disposição dos clientes, assumiu os
riscos de eventuais danos envolvendo os bens localizados dentro
dos veículos. Nesse sentido, aliás, o C. Superior Tribunal de
Justiça editou enunciado da súmula nº 130: “A empresa responde,
perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo
ocorridos em seu estabelecimento”. Portanto, indiscutível o dever
de indenizar.
RECURSO PROVIDO
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APELAÇÃO Nº 1003681-18.2018.8.26.0361
VOTO Nº 24029

Vistos.

Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 105/109,


cujo relatório se adota, que julgou IMPROCEDENTE a presente ação, condenando o autor
ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$
1.000,00 (mil reais).

O D. Magistrado a quo entendeu não ser o caso de responsabilidade do réu,


tendo em vista a fragilidade das provas trazidas pelo autor. Em sua análise, considerou que
apenas o Boletim de Ocorrência não é capaz de comprovar que houve, dentro do
estacionamento disponibilizado a seus clientes pelo réu, a danificação da fechadura e o furto
do estepe do veículo do autor. À vista disso, julgou improcedente a ação.

Inconformado, o autor interpôs recurso de apelação (fls. 112/115).

Alegou, em resumo, que o conjunto probatório é suficiente para provar a


existência dos danos materiais e o nexo de causalidade.

Houve contrarrazões (fls. 121/128), porém o réu pediu para que sejam
desentranhadas dos autos (fls. 129), juntando novas contrarrazões (fls. 130/137).

Defende-se das razões recursais, afirmando, em síntese, o seguinte: (i)


ausência de nexo de causalidade, pois o autor não demonstrou como o carro estava antes
de supostamente ter estacionado nas dependências do estabelecimento do réu; (ii)
excludente de ilicitude, em eventual reconhecimento da existência dos danos, tendo em vista
que o furto foi perpetrado por terceiro; (iii) ausência de prova de danos materiais.

É a síntese do necessário.

Trata-se de ação indenizatória por danos materiais, na qual o autor alega que
seu sócio, o Sr. Felipe Augusto Garcia de Souza, havia estacionado veículo do autor em
estacionamento disponibilizado pelo réu, e, na ocasião, houve danificação da fechadura do
veículo e furto do estepe.
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Pois bem.

O recurso comporta provimento.

O apelante fundamenta seu pedido nos seguintes documentos: Boletim de


Ocorrência (fls. 10), lavrado no dia seguinte ao da ocorrência, relatando o furto do estepe;
nota fiscal demonstrando a realização de compras naquele dia (fls. 12/13); e orçamento com
valores para efetuar os reparos e a aquisição de um novo estepe (fls. 11).

Esses elementos de prova são suficientes para dar guarida à narrativa do


autor. Certamente, trata-se de relação de consumo, pois o autor usufruiu como destinatário
final dos serviços fornecidos pelo réu (estacionamento e compras no supermercado),
enquadrando-os, portanto, nas definições dos arts. 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor, respectivamente. Ainda que não estivesse presente na ocasião, o autor é
considerado consumidor, nos termos do art. 17, do Código de Defesa do Consumidor, pois
foi vítima da falha na prestação de serviços do réu (CDC, art. 14), em razão de o veículo ter
sofrido avaria e furto dentro das dependências do réu.

Em decorrência disso, é possível a inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º,


VIII), incumbindo ao réu trazer aos autos provas capazes de infirmar as alegações de fato do
autor. Nesse sentido, poderia o réu ter trazido registros audiovisuais captados no dia dos
fatos, ou, ao menos, pleiteado a produção de prova oral de algum funcionário que trabalhou
neste dia. Entretanto, não o fez. Diante disso, presumem-se verdadeiras as alegações de
fato do autor, de modo que deve ser reconhecido o nexo causal entre os danos e a falha no
dever de vigilância.

Essa conclusão já foi adotada por esta C. 30ª Câmara de Direito Privado, em
julgado de relatoria do I. Des. Andrade Neto:

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS FURTO DE VEÍCULO E DE OBJETOS


QUE ESTAVAM EM SEU INTERIOR OCORRIDO EM ESTACIONAMENTO
DE SUPERMERCADO RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO
ESTABELECIMENTO COMERCIAL INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO DA
SÚMULA 130 DO STJ INDENIZAÇÃO RELATIVA AO VALOR DO BEM
ADOÇÃO DA TABELA FIPE RECONHECIMENTO DANO MORAL
CONFIGURADO SENTENÇA MODIFICADA APENAS PARA REDUZIR O
VALOR DA INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANOS MATERIAIS RECURSO
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PROVIDO EM PARTE

(TJSP; Apelação 3005355-28.2013.8.26.0084; Relator (a): Andrade Neto;


Órgão Julgador: 30ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional de Vila Mimosa
- 2ª Vara; Data do Julgamento: 24/10/2018; Data de Registro: 26/10/2018)

No voto, o I. Des. Rel. Andrade Neto reafirma a tese aqui defendida de que o
Boletim de Ocorrência e as notas fiscais demonstrando a compra no dia dos fatos são
suficientes para comprovar as alegações de fato do autor, desde que o réu não traga aos
autos provas capazes de infirmá-las:

“De acordo com os elementos colhidos nos autos, o local da subtração


corresponde a espaço destinado pelo próprio estabelecimento para
estacionamento de veículos de seus clientes. O autor apresentou cupom
fiscal da compra efetuada na loja no dia do ocorrido e cópia do boletim de
ocorrência, e nada mais é necessário para se ter por demonstrados os
fatos constitutivos do direito à reparação dos danos materiais
suportados, mesmo porque, nenhum elemento concreto minimamente idôneo
trouxe o apelante em sentido contrário, não sendo razoável aceitar tenha o
autor deduzido a presente demanda com base em fato que sabe não ter
acontecido, agindo deliberadamente de maneira leviana e inconsequente”
(destaque nosso).

Em reforço a isso, conclusão evidente que se extrai é a de que, apesar de a


atividade-fim do réu não ser a guarda de veículos, este, ao colocar tal espaço à disposição
dos clientes, assumiu os riscos de eventuais danos envolvendo os bens localizados
dentro dos veículos. Nesse sentido, aliás, o C. Superior Tribunal de Justiça editou
enunciado da súmula nº 130: “A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de
dano ou furto de veículo ocorridos em seu estabelecimento”.

Portanto, à luz do conjunto probatório, é seguro afirmar que o autor sofreu os


danos alegados e que há o dever de indenizá-los, sendo incabível a alegação de excludente
de ilicitude por fato de terceiro, tendo em vista que o furto em estacionamento fornecido pelo
estabelecimento comercial réu é qualificado como fortuito interno. O quantum dos danos
materiais restou demonstrado pelo orçamento juntado às fls. 11.

Diante do exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, para reformar a r.


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sentença, julgando a ação PROCEDENTE. Em decorrência disso, condeno o réu ao


pagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$ 1.533,83 (mil quinhentos e
trinta e três reais e oitenta e três centavos), com acréscimo de correção monetária e juros
moratórios a partir do evento danoso (Súmulas 54 e 43 do STJ). Por fim, em virtude da
inversão do ônus sucumbencial, condeno o réu ao pagamento das custas, despesas
processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 500,00 (quinhentos reais).

Maria Lúcia Pizzotti


Desembargadora

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