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A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS: UMA ANÁLISE SOBRE A PROPOSTA E A PUBLICIDADE

Cristina Cantú Prates*

RESUMO ABSTRACT

O presente estudo objetiva analisar a This study aims to analyze the offer as
oferta sob a ótica de elemento inicial à the initial element of the formation of contracts
formação dos contratos e diferenciá-la no que and to differentiate it in the transactions
diz respeito às relações amparadas pelo Direito sustained by Civil Law and Consumer Law. It
Civil e Direito do Consumidor. Pretende ainda, also aims to focus on the current business
dar enfoque às relações negociais atuais, as relationships, which are set up on the internet,
quais se formam e se concretizam no meio as a key feature on the current times of
eletrônico; eis que uma característica postmodernism. The relevance of the research
fundamental dos tempos recentes de pós- is the suitability of the subject on a day-to-day
modernidade. A relevância temática da of every citizen, who have hold the offering in
pesquisa se dá em razão da adequação do tema their business relationship, in several areas of
ao dia-a-dia de todo e qualquer cidadão, os law, and in any part of a negotiation.
quais vivenciam a oferta nas relações negociais
por eles perpetradas, em vários ramos do
direito e em qualquer um dos polos negociais.

Palavras-chave: Oferta. Direito Civil. Direito Keywords: Offer. Civil law. Consumer law.
do Consumidor. Proposta. Publicidade. Proposal. Advertising. Liability.
Responsabilidade.

*Mestre em Direito da Sociedade da Informação pelas FMU. Especialista em Administração de Empresas pela
FGV/Ceag. Especialista em Direito Civil e Processual Civil pela Faculdade Mater Dei. Bacharel em Direito pela
Faculdade Mater Dei. Curso de Extensão em Estratégia e Marketing pela University of La Verne – CA. USA. Advogada.
Docente nas disciplinas de Direito Civil do Centro Universitário FMU/SP.
A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS: UMA ANÁLISE SOBRE A PROPOSTA E A PUBLICIDADE Cristina Cantú Prates

muito mais ampla e global; trazendo alguns


Introdução questionamentos que esperamos ver
respondidos pelo presente estudo.
De acordo com GONÇALVES “O A pesquisa delimitou o tema, passando a
contrato resulta de duas manifestações de abordar os aspectos jurídicos da oferta sob a
vontade: a proposta e a aceitação. A primeira, ótica do Direito Civil e do Direito do
também chamada de oferta, policitação ou Consumidor, buscando trazer os conceitos, as
oblação, dá início à formação do contrato e não diferenças, a regulamentação; bem como os
depende, em regra, de forma especial”. 1 questionamentos mais atuais sobre o tema,
Neste sentido, em análise ao ensinamento numa ótica da sociedade pós-moderna.
de GONÇALVES supra, concluímos que a
proposta é o elemento inicial do negócio 1. Conceito e Diferenças entre Oferta,
jurídico, e numa interpretação strito sensu, dos Proposta e Publicidade
contratos.
A proposta cria, portanto, um vínculo O dicionário Priberam da língua
jurídico entre as pessoas do proponente e do portuguesa online define oferta como sinônimo
oblato; a qual uma vez não cumprida, gera o de promessa, a qual assume o seguinte
dever de indenizar. E é nesse sentido de significado: “declaração em que se anuncia a
obrigatoriedade que ela se diferencia das outrem ou a si mesmo uma ação futura ou
negociações preliminares; pois estas assumem intenção de dar, cumprir, fazer ou dizer algo2”.
uma natureza não vinculatória, representando Proposta, de acordo com o Dicionário
apenas meras sondagens, estudos, especulações Houaiss da língua portuguesa, em uma de suas
e debates; enquanto aquela é firme, pontual e várias definições (a mais adequada para o
clara no sentido de demonstrar a intenção de contexto em discussão), significa
finalizar um negócio jurídico. “oferecimento de dinheiro ou outro bem em
Não há que se questionar a adequação do troca de algo; oferta. Declaração de vontade
tema à realidade do leitor, pois os negócios pela qual uma pessoa propõe à outra a
jurídicos fazem parte do dia-a-dia de qualquer conclusão de um contrato3”.
cidadão, esteja ele em qualquer lugar do No transcorrer da pesquisa, passaremos a
mundo. O tema está presente em todo e verificar que os termos oferta, proposta e
qualquer tipo de negociação, seja ela publicidade, para fins de vínculo do
relacionada às relações de consumo, proponente, assumem significados muito
empresariais, trabalhistas ou civis. E, como diz próximos; muito embora, o nosso ordenamento
o brocado popular, já que “o combinado não sai jurídico passe a adotar o termo proposta como
caro”, faz-se salutar estudar os efeitos que a referência aos negócios jurídicos amparados
proposta traz às partes por ela atreladas. pelo Direito Civil e os termos oferta e
Outrossim, com o advento da sociedade publicidade, vinculados às relações de
pós-moderna e os meios massificados de consumo, mais precisamente.
comunicação, dentre os quais podemos citar as Outrossim, é de fundamental importância
ferramentas de comunicação utilizadas com o diferenciar a natureza jurídica da
acesso da internet (e-mails, canais de conversas oferta/proposta no âmbito das relações jurídicas
interativas como skype, messenger, páginas amparadas pelo Código Civil daquelas
pessoais como blogs, twiter, facebook, flirck, amparadas pelo Código de Defesa do
sites de compra coletiva, e-commerce, sites de Consumidor, pois diferenciam-se no que diz
publicidade entre outros) temos que os respeito ao momento de vinculação.
negócios jurídicos assumem uma proporção

1 3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, HOUAISS, Antônio. Dicionário brasileiro inglês-
volume 3: contratos e atos unilaterais. 7. Ed. São Paulo: português. Englewood cliffs: Prentice-Hall, 1999. 2 v.
Saraiva, 2010. p. 71. 23 cm (Encyclopaedia britannica do Brasil).
2
http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=promess
a, acesso em acesso em 15 de dezembro de 2010 à 20:30
hrs.

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O Direito Civil dispõe sobre as relações Art. 427. A proposta de contrato


jurídicas de Direito Privado, ou seja, os obriga o proponente, se o contrário
não resultar dos termos dela, da
negócios realizados entre particulares. O natureza do negócio, ou das
Código de Defesa do consumidor regula as circunstâncias do caso.
relações jurídicas de consumo, transações de Art. 428. Deixa de ser obrigatória a
produtos e serviços entre consumidores 4 e proposta: I - se, feita sem prazo a
fornecedores5. pessoa presente, não foi
imediatamente aceita. Considera-se
Enquanto a proposta no Direito Civil também presente a pessoa que
assume características de negócio jurídico contrata por telefone ou por meio
privado, anúncio restrito; a oferta no Direito do de comunicação semelhante; II - se,
Consumidor é mais ampla pois é massificada e feita sem prazo a pessoa ausente,
dirige-se ao público em geral e para a tiver decorrido tempo suficiente
para chegar a resposta ao
contratação em massa. conhecimento do proponente; III -
A nomenclatura adotada pelo Código se, feita a pessoa ausente, não tiver
Civil para fazer menção ao elemento inicial do sido expedida a resposta dentro do
negócio jurídico é “proposta” e a nomenclatura prazo dado; IV - se, antes dela, ou
adotada pelo Código de Defesa do Consumidor simultaneamente, chegar ao
conhecimento da outra parte a
é “oferta” ou “publicidade”. retratação do proponente.
Passaremos então a adotar as Art. 429. A oferta ao público
nomenclaturas de proposta para nos referirmos equivale à proposta quando encerra
ao elemento inicial do negócio jurídico nas os requisitos essenciais ao contrato,
relações civis e os termos oferta e publicidade salvo se o contrário resultar das
circunstâncias ou dos usos.
para nos referirmos ao elemento inicial nas
contratações relacionadas ao consumo. A validade da proposta deve obedecer aos
mesmos requisitos de validade dos negócios
jurídicos em geral, que são, agente capaz,
2. A Proposta no Direito Civil e seus objeto lícito, possível, determinado ou
Elementos determinável e forma adequada ou não defesa
em lei.
MONTEIRO define proposta como “o Sobre esse último requisito, verificamos
momento inicial da formação do contrato; o ato que a legislação não contempla uma
pelo qual uma das partes solicita a manifestação formalidade para a elaboração da proposta,
da vontade da outra”6. podendo ser oral ou escrita, por instrumento
E nesse mesmo sentido temos o Código público ou particular. Basta, contudo, que ela
Civil em seus artigos 427 e seguintes, o qual seja firme e segura no sentido de deixar
estabelece, na Seção II, intitulada “Da cristalina a intenção do proponente em iniciar
Formação dos Contratos”, regras sobre a um negócio jurídico.
formação dos contratos e traz a proposta como Os elementos constitutivos da proposta
passo inicial. Vejamos a redação dos artigos: são todas as informações essências sobre o
negócio jurídico proposto, tal como objeto,
Seção II. Da Formação dos preço, condições de execução, entrega,
Contratos.

4
Código de Defesa do Consumidor. Art. 2° Consumidor transformação, importação, exportação, distribuição ou
é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza comercialização de produtos ou prestação de serviços. §
produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
único. Equipara-se a consumidor a coletividade de imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive
nas relações de consumo. as de natureza bancária, financeira, de crédito e
5
Código de Defesa do Consumidor. Art. 3° Fornecedor securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, trabalhista.
6
nacional ou estrangeira, bem como os entes MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito
despersonalizados, que desenvolvem atividade de civil. 29 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1997. 2 v. p. 14.
produção, montagem, criação, construção,

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pagamento, existência de eventuais vícios Há de se ressaltar, contudo, que a função


ocultos ou jurídicos. social permanece como limitador à autonomia
Conforme interpretação da redação do da vontade, também na proposta. Ou seja, a
art. 427 supra, a proposta vincula o proponente proposta deve observar o bem comum e a
em todos os seus termos e a recusa de finalizar função social do contrato, visando resguardar a
o negócio jurídico/contrato, em todos os termos sociedade e os direitos coletivos em prol da
da proposta e gera dever de indenizar ao vontade das partes.
inadimplente. Podemos citar como exemplos da função
social do contrato alguns limites legais que são
2.1. Princípios do Direito Civil relacionados
impostos às partes contratantes com o objetivo
à proposta
de resguardar o bem comum, a coletividade, o
Dispõe o art. 244 do Código Civil, in interesse público ou ainda proteger a parte
verbis: “Art. 422. Os contratantes são obrigados considerada hiposuficiente na negociação. São
a guardar, assim na conclusão do contrato, exemplos da função social do contrato o art. 51
como em sua execução, os princípios de da Lei do Inquilinato7, o qual torna compulsória
probidade e boa-fé. a renovação do contrato de locação quando o
Verificamos, portanto, que o contrato locatário cumprir determinados requisitos
desde sua formação, ou seja, ações preliminares legais anos. Outro exemplo é o art. 504 do
à sua formação, e nesse sentido a proposta, deve Código Civil8, o qual proíbe expressamente a
observar os princípios que resguardam os venda de parte de bem em condomínio sem a
negócios jurídicos e os contratos em geral. anuência do condômino.
Nesse sentido, o proponente, no momento Finalmente, citamos o pacta sun
da manifestação da proposta, deve observar os servanda, como uma própria interpretação do
princípios de probidade, boa-fé, autonomia da art. 427 do Código Civil, supra citado, eis que a
vontade, função social e pacta sun servanda. proposta uma vez manifestada pelo proponente,
Como princípio da probidade e boa-fé deve ser cumprida, sob pena de indenização.
entende-se que o proponente deve agir com Ora, se pacta sun servanda significa que os
lealdade, confiança e transparência, pactos devem ser respeitados, por interpretação
informando ao oblato todas as condições extensiva, dúvida não há que, da mesma forma,
negociais (objeto, preço, condições de a proposta deve ser cumprida na exata extensão
execução, entrega, pagamento, vícios) de forma de que fora proferida. Ou seja, todas as
clara, sem artifícios que levem o oblato em erro condições e singularidades da proposta devem
ou desinformação no momento de manifestação ser mantidas durante o lapso temporal em que a
do aceite. legislação entenda como válido para que o
O princípio da autonomia da vontade oblato manifeste aceitação.
prevê que as pessoas são livres para contratar e, Outrossim, o entendimento atual é que
nesse sentido, determinar conjuntamente as também na proposta admite-se a flexibilização
condições negociais das contratações. Dessa em razão de eventos extraordinários que
forma, entende-se que o proponente tem a venham alterar as condições pelas quais a
liberdade de propor qualquer negócio jurídico mesma fora manifestada, de acordo, portanto,
desde que lícito e possível. com a Teoria da Imprevisão 9 ; conforme

7
Lei 8.245/91. Art. 52. O locador não estará obrigado a salvo se a locação também envolvia o fundo de comércio,
renovar o contrato se:I - por determinação do Poder com as instalações e pertences.
8
Público, tiver que realizar no imóvel obras que Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível
importarem na sua radical transformação; ou para fazer vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser,
modificações de tal natureza que aumente o valor do tanto por tanto.
9
negócio ou da propriedade;II - o imóvel vier a ser (...) teoria em virtude da qual o juiz deve restabelecer o
utilizado por ele próprio ou para transferência de fundo equilíbrio de um contrato onde as condições de execução
de comércio existente há mais de um ano, sendo detentor tenham sido modificadas em detrimento de uma das
da maioria do capital o locador, seu cônjuge, ascendente partes em seguida a acontecimentos razoavelmente
ou descendente. 1º Na hipótese do inciso II, o imóvel não imprevisível no momento da conclusão da convenção.
poderá ser destinado ao uso do mesmo ramo do locatário, ANDRADE, Shakespeare Teixeira. Comentários
Acerca da Teoria da Imprevisão no Ordenamento

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passaremos a analisar no decorrer da presente as partes mantêm um contato instantâneo e


pesquisa. direto; já, na proposta entre ausentes, as pessoas
estão separadas umas das outras, sem poder
2.2. Proposta entre presentes e entre
sentir o tom de voz, ver o olhar, sentir as
ausentes
reações e estabelecer uma comunicação
A classificação da proposta entre instantânea.
presentes e ausentes, adotada pelo Código O Código Civil adota posturas diferentes
Civil, assume fundamental relevância ao com relação às duas formas de contratação, não
analisarmos o contexto em que os negócios por valorizar uma em prejuízo da outra, mas em
jurídicos são formados na atualidade, momento razão da própria natureza jurídica de cada
em que se busca a facilidade dos meios situação, que de per si autoriza a aplicação do
eletrônicos para a negociação, favorecendo, princípio da isonomia.
consequentemente, a contratação entre pessoas Reza o Código Civil que a proposta
fisicamente distantes. vincula o proponente desde que aceita
Ainda, a classificação assume imediatamente pelo ouvinte, no caso de
importância no que diz respeito aos efeitos contrato entre presentes.
jurídicos, uma vez que cada uma das propostas, Quanto aos contratos entre ausentes,
entre presentes e entre ausentes, apresenta inexiste expressa regulamentação do prazo-
prazo distinto para fins de declaração de aceite limite para o aceite da proposta. Via de regra,
e, via de consequência; diferenciam-se no que no momento da proposição, deve ser
diz respeito ao prazo de validade da proposta. mencionado pelo proponente o prazo de
Para compreender melhor os efeitos de validade da proposta. Contudo, em havendo
cada uma, insta destacar a previsão do artigo silêncio pelo proponente quanto ao prazo de
428 do Código Civil; vejamos: aceite; o legislador considera como razoável o
tempo suficiente para a resposta chegar ao
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a
conhecimento do proponente.
proposta: I - se, feita sem prazo a
pessoa presente, não foi O inciso IV do artigo 42810 dispõe que o
imediatamente aceita. Considera-se proponente tem direito de retratação da
também presente a pessoa que proposta antes ou no mesmo momento em que
contrata por telefone ou por meio o destinatário tiver conhecimento da primeira.
de comunicação semelhante; II - se,
Esse inciso é muito importante para estabelecer
feita sem prazo a pessoa ausente,
tiver decorrido tempo suficiente o momento em que a proposta passa a gerar
para chegar a resposta ao efeitos contratuais e vincular o proponente à
conhecimento do proponente; III - obrigação por ele assumida ou ofertada.
se, feita a pessoa ausente, não tiver Assim, em análise ao respectivo
sido expedida a resposta dentro do
ordenamento jurídico, depreende-se que a
prazo dado; IV - se, antes dela, ou
simultaneamente, chegar ao proposta somente vincula o proponente após o
conhecimento da outra parte a destinatário ter conhecimento da mesma, desde
retratação do proponente. (grifo que não receba anterior ou concomitantemente
nosso.) ao seu conhecimento, uma declaração de
retratação.
O art. 428 do Código Civil, supra, traz Sobre a importância da classificação de
duas espécies de proposta: proposta entre proposta entre presentes e entre ausentes na
presentes, inciso I e proposta entre ausentes, determinação do momento da formação do
inciso II. contrato, MULHOLLAND afirma:
Ambas as propostas se diferenciam da
seguinte forma: na contratação entre presentes

Jurídico Brasileiro. Texto retirado do seguinte endereço 0no%20ordenamento%20jur%EDdico%20brasileiro.pdf


eletrônico: . Acesso em 18 de julho de 2012, às 17:30 hrs.
10
http://www.fag.edu.br/professores/ymjunior/Direito%20 Código Civil. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a
Civil- proposta: IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar
2%BAPer%EDodo/teoria%20da%20imprevis%E3o%2 ao conhecimento da outra parte a retratação do
proponente.

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As regras referentes à formação do permitir a retratação da proposta após o aceite


contrato dependem do seu da outra parte em caso fortuito ou de força
momento conclusivo, pois se
praticado entre presentes, para
maior que venha impedir ou modificar suas
tanto sob a tutela do sistema condições.
conhecido como o da cognição, o Sobre o direito de retratação da proposta,
aperfeiçoamento se consolida com no âmbito do Código Civil, convém analisar a
a mútua aceitação; se praticado decisão proferida em 8 de outubro de 2008, pela
entre ausentes, agora sob a tutela do
sistema de agnição, o
8ª Câmara de Direito Privado do Egrégio
aperfeiçoamento do contrato Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em
ocorrerá com o conhecimento da julgamento de recurso de Apelação Cível com
outra parte.11 Revisão, processo n º 251.512-4/8-00, em
conformidade com o voto do Relator
Com relação ao momento de vinculação Desembargador Luiz Antonio Ambra, em que
da proposta, destacamos a lição de LOURES e figura, como Apelante, pessoa física
GUIMARÃES: participante de um rodeio, e Apelada, pessoa
jurídica, promotora do rodeio.
Ainda não é contrato porque lhe
falta a resposta da outra parte, a
PROMESSA DE RECOMPENSA
aceitação ou o consensus, elemento
– Prêmio ao vencedor de rodeio
essencial para a sua configuração;
promovido pela apelada – Prova de
mas ainda sem a aceitação, se a
que, antes de sua realização, a
proposta é feita com seriedade e
promessa teria sido alterada, com
segurança, além de conter os
comunicação aos participantes –
elementos essenciais do contrato
Direito de o promitente assim
cujo tipo é contemplado em lei, ela
proceder, nos termos da Lei Civil –
vincula o policitante e torna-se
Improcedência bem decretada,
irretratável, ou irrevogável, se
apelo improvido.14
aceita pela outra parte.12

Em suma, a proposta entre ausentes, na Nesse mesmo diapasão citamos a lição de


ótica do Código Civil, para que vincule o GONÇALVES ao afirmar as hipóteses de
contrato, precisa da emissão da resposta pela proposta não obrigatória, vejamos:
outra parte. Nesse diapasão estão os A oferta não obriga o proponente,
ensinamentos de LISBOA, que diferencia a em primeiro lugar, se contiver
responsabilidade pré-contratual no âmbito civil cláusula expressa a respeito. É
daquela no âmbito das relações de consumo. quando o próprio proponente
Ele afirma que no âmbito civil, declara que não é definitiva e se
reserva o direito de retirá-la. Muitas
decorrente de contratos personalíssimos, vezes a aludida cláusula contém os
vincula-se somente a partir do recebimento da dizeres: “proposta sujeita a
proposta pela pessoa interessada, e a confirmação” ou “não vale como
responsabilização se dá pela não-realização do proposta”. Neste caso a ressalva se
contrato preliminar que estava sendo incrusta na proposta mesma e o
aceitante, ao recebê-la, já a conhece
negociado; e nas relações de consumo, em e sabe da sua não obrigatoriedade.
decorrência da massificação do contrato, Se ainda assim a examinar e
vincula-se a partir do momento da sua estudar, será com seu próprio risco,
veiculação e a caracterização se dá pelo mero pois não advirá nenhuma
descumprimento contratual.13 conseqüência para o proponente se
optar por revogá-la, visto que estará
Ressalta-se, contudo, que na prática os usando uma faculdade que a si
tribunais têm se posicionado no sentido de mesmo se reservou.

11 13
MULHOLLAND, Caitlin. Internet e contratação: LISBOA, Roberto Senise. Contratos difusos e
panorama das relações contratuais eletrônicas de coletivos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
consumo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p 73. 1997. p. 313 á 316.
12 14
LOURES, José Costa; GUIMARÃES, Tais Maria Íntegra do acórdão: Tribunal de Justiça do Estado de
Loures Dolabela. Novo código civil comentado. Belo São Paulo. 8ª. Câmara de Direito Privado. Apelação no.
horizonte: Del Rey, 2002. p. 187. 251512-48.

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Em segundo lugar, a proposta não Outra questão que se torna pertinente


obriga o proponente em razão da levantar são os negócios jurídicos feitos pela
natureza do negócio. É o caso, por
exemplo, das chamadas propostas
internet, sob a proteção do Direito Civil,
abertas ao público, que se excepcionando, portanto, as relações de
consideram limitadas ao estoque consumo. Seguindo a linha de raciocínio supra-
existente e encontram-se reguladas explanada, questiona-se o momento em que a
no art. 429 do novo diploma. proposta passa a surtir efeito ao destinatário,
E, por último, a oferta não vincula
o proponente em razão das
nas propostas e nos negócios jurídicos
circunstâncias do caso, realizados no meio eletrônico.
mencionadas no art. 428 do mesmo Nos dizeres de LORENZETTI:
diploma. Não são portanto,
circunstâncias quaisquer, mas Os códigos oitocentistas partiram
aquelas a que lei confere esse do pressuposto de uma contratação
efeito15. entre pessoas fisicamente presentes
ou ausentes; neste último caso,
2.3. Proposta no meio eletrônico e a validade existe uma distância geográfica
da declaração de vontade traduzida num tempo de
comunicação juridicamente
ANDRADE, sobre a formação dos relevante. Nesse aspecto, a
contratos eletrônicos, afirma: “o contrato contratação eletrônica é celebrada
entre pessoas fisicamente distantes,
eletrônico, tal como as demais maneiras de
mas o meio utilizado neutraliza a
contratar, é formado a partir da conjunção de geografia, uma vez que a
vontades das partes contratantes, que se dá comunicação é instantânea.17
quando o oblato, acendendo à proposta de
contrato expedida pelo policitante, manifesta O entendimento dos códigos supõe que,
sua aceitação”16. se duas pessoas não estão fisicamente
Sobre a contratação eletrônica, faz-se presentes, levaria um tempo para o
necessário levantar a problemática: a consentimento se aperfeiçoar. Todavia, com o
declaração de vontade realizada no meio advento das tecnologias informacionais,
eletrônico é válida? Quais requisitos devem ser primeiro com a invenção do telefone, depois do
considerados para que ela vincule os fax e da internet, essa regra passou a estar
contratantes? Trata-se de contratação entre ultrapassada, pois a distância geográfica deixa
presentes ou entre ausentes? de influenciar na contratação. Nesse sentido,
Segundo o disposto no artigo 107 do nos dizeres de ZAVALÍA apud
Código Civil, a declaração de vontade não LORENZETTI, “o que interessa não é a
depende de forma especial para ser válida: “Art. distância física, mas a jurídica”18.
107. A validade da declaração de vontade não As características da contratação no meio
dependerá de forma especial, senão quando a eletrônico são: a) as partes não estão
lei expressamente a exigir.” fisicamente presentes; b) o tempo em que se
LEAL ensina que no ordenamento transmitem as propostas pode ser instantâneo
jurídico brasileiro vigora o princípio da ou não.
liberdade de manifestação da vontade negocial, Conclui-se, portanto, que resta
a qual pode ser expressa ou tácita. prejudicada qualquer tentativa de fixar uma
Verifica-se, no entanto, que a declaração regra que classifique os contratos eletrônicos
de vontade expressa no meio eletrônico deve como celebrados entre presentes ou ausentes,
ser livre, consciente e o aceitante deve ter todas
as informações sobre os detalhes e riscos da
contratação, ou seja, deve estar resguardado de
vícios de erro, dolo e coação.

15 17
GONÇALVES, p. 75. LORENZETTI, Ricardo Luis. Comércio eletrônico.
16
ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato eletrônico no São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. ISBN
novo código civil e no código do consumidor. Barueri, 852032583, p. 314.
18
SP: Manole, 2004. p. 36. Ibid., p. 315.

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sendo mais adequada a classificação em telefone; inclusive com maior eficiência, já que
proposta instantânea ou não instantânea.19 tais tecnologias disponibilizam mais recursos,
Vejo o que dispõe o artigo 428, I do dispondo inclusive de recursos de voz, imagem,
Código Civil20 que o contrato por telefone ou envio de arquivos e criptografia, em tempo real.
por meio semelhante é considerado contratação Não resta dúvida, portanto, que as contratações
entre presentes. por esses meios ou meios semelhantes devem
MULHOLLAND justifica a posição do ser consideradas contratações entre presentes.
legislador ao afirmar: LEAL, sobre a contratação eletrônica,
afirma:
O contrato celebrado através do
telefone é considerado entre a) se a contratação for interpessoal
presentes, seguindo a orientação de simultânea, ou seja, se permitir a
que não se dá importância ao comunicação direta das partes, com
espaço existente entre os a manifestação imediata da vontade
contraentes – o fato de não estarem do aceitante e do ofertante, como no
presentes fisicamente – e preconiza sistema ICQ, videoconferência, ou
a relevância da circunstância similares, considera-se o contrato
temporal, entendendo que o que como entre presentes e formado no
tem significação para a solução do momento imediatamente posterior
problema é o fato de que os ao da oferta; b) se a contratação foi
contratantes, embora não se vejam, interpessoal não simultânea, como,
podem comunicar-se diretamente, por exemplo, por meio de correio
propor e aceitar imediatamente.21 eletrônico, o contrato deve ser entre
ausentes. Para a formação do
Sobre o advento da informática, surge o contrato entre ausentes o Código
questionamento: a proposta realizada pela Civil Brasileiro adota, nos artigos
internet é considerada proposta entre presentes 428,II e 427, caput, a Teoria da
Expedição. Assim, considerar-se-ia
ou entre ausentes? DE LUCCA, nesse sentido, formado o contrato no momento em
afirma: “por meio de comunicação semelhante que a mensagem eletrônica é
ao telefone há que se entender, entre outros, a expedida; c) se a contratação for
que se estabelece por terminais de interativa (sem a presença
computadores”22. simultânea do fornecedor e do
consumidor, mediante o que se
Ao contrário do entendimento de DE convencionou chamar de estado de
LUCCA, e em analogia ao disposto no oferta pública permanente,
ordenamento supra, art. 428, I do Código Civil, considera-se o contrato entre
conclui-se que a proposta feita pela internet, ausentes e, nessa condição,
dependendo do programa utilizado, pode ser concluído no momento em que a
aceitação é expedida pelo usuário
considerada realizada entre presentes ou entre da internet. d) em sendo
ausentes ou, na nomenclatura utilizada e intersistêmico o contrato, este se
preferida por LORENZETTI, de forma considera formado no momento em
instantânea ou não-instantânea. que as partes manifestam suas
Tome-se como ponto de partida os vontades para composição dos
sistemas auto-aplicativos que
programas de conversa como messenger, skype, posteriormente serão executados
yahoo-messenger, whatsapp entre outros. Fica fielmente ao que ficou
evidente que as conversas por meio desses programado.23
programas se equiparam às conversas por

19
Ibid., p. 320. pesquisa jurídica. In: DE LUCCA, Newton; SIMÃO
20
Código Civil. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a FILHO, Adalberto. Direito e internet: aspectos jurídicos
proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi relevantes. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin do Brasil,
imediatamente aceita. Considera-se também presente a 2005. p. 73.
23
pessoa que contrata por telefone ou por meio de LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos
comunicação semelhante; eletrônicos: validade jurídica dos contratos via Internet.
21
MULHOLLAND, op. cit, p. 73. São Paulo: Atlas, 2007. p. 115.
22
DE LUCCA, Newton. Títulos e Contratos Eletrônicos:
o advento da informática e suas conseqüências para a

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A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS: UMA ANÁLISE SOBRE A PROPOSTA E A PUBLICIDADE Cristina Cantú Prates

ANDRADE, no mesmo sentido, declara: simultâneas, embora por correio eletrônico, e os


efeitos equivalem àqueles dos canais de bate-
A comunicação on-line, que a papo. Nessa linha de raciocínio, uma vez
nosso sentir pode ser traduzida
como comunicação telemática
demonstrada a simultaneidade das mensagens
simultânea, é semelhante à eletrônicas, no mesmo intervalo de tempo, a
comunicação telefônica, na medida contratação deverá ser considerada entre
em que permite que duas ou mais presentes, e não entre ausentes.
pessoas em locais diferentes, No que se refere às propostas veiculadas
distantes ou não, mantenham
comunicação como se estivessem
em blogs, páginas da internet, facebook, e
no mesmo local, de forma que a outros canais do gênero, de regra devem ser
mensagem emitida seja consideradas propostas entre ausentes, com
imediatamente recebida e exceção dos casos em que seja demonstrada a
conhecida pelo destinatário.24 simultaneidade das mensagens entre os
contratantes, no mesmo intervalo de tempo,
Nesse sentido vale destacar os como muito bem fora explanado no parágrafo
ensinamentos de LEAL de que “as salas de anterior.
conversação ou chats permitem a comunicação Finalmente, sobre os contratos
direta das partes, em tempo real, sendo eletrônicos interativos, aqueles em que a
comparáveis à contratação via telefone, com a comunicação entre as partes é obtida por meio
diferença de que a mensagem é digitada, da interação entre uma pessoa e um sistema
podendo ou não vir acompanhada de voz, aplicativo previamente programado, como é o
dependendo do computador e do programa caso de páginas de venda pela internet; a
utilizado”25. contratação equipara-se aos contratos a
No que diz respeito às propostas distância porque são realizados com
realizadas por e-mail, via de regra devem ser intermediação do computador, sem que as
consideradas contratação entre ausentes, pois o partes possam estar presentes no momento da
e-mail se compara a uma correspondência sua conclusão.27
comum, todavia feita por meio eletrônico. Outro questionamento que surge com
LEAL, nesse sentido, afirma que “o relação aos contratos realizados através da
correio eletrônico guarda certa similitude com internet é a questão do foro e legislação
o correio convencional, em que a pessoa precisa aplicável à proposta. O questionamento se torna
receber e abrir a correspondência para ter relevante se consideramos um eventual litígio
acesso ao seu conteúdo.” 26 ou recusa do proponente em manter o teor da
Contudo, devem-se observar duas proposta manifestada.
ressalvas: a primeira delas é sobre os programas A problemática trazida deve ser analisada
de e-mail que permitem aos usuários com base na Lei de Introdução à Normas do
estabelecer uma conversação em tempo real Direito Brasileiro em seu art. 9º §2º 28 , que
quando ambos estiverem conectados ao mesmo afirma que os contratos são constituídos no
tempo, no mesmo programa de e-mail. Nesse local em que residir o proponente. Nesse
caso, essa tecnologia se equipara aos canais de sentido, devemos aplicar de forma extensiva o
bate-papo e, dessa forma, a contratação deve ser entendimento sobre a vinculação da proposta
considerada entre presentes. entendendo, portanto, em eventual litígio sobre
Outra ressalva, muito comum, se verifica a proposta, aplicar-se-á a lei do país em que o
quando duas pessoas contratantes estão proponente está situado.
conectadas aos seus e-mails no mesmo
intervalo de tempo e as mensagens enviadas são

24
ANDRADE, op. cit., p. 39. obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de
25
LEAL, op. cit., p. 86. forma essencial, será esta observada, admitidas as
26
LEAL, op. cit., p. 86. peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos
27
LEAL, op. cit., p. 87. extrínsecos do ato. § 2o A obrigação resultante do
28
Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro. Art. contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei proponente.
do país em que se constituírem. § 1o Destinando-se a

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Sobre a legislação aplicável aos contratos momento, acessando o seu perfil eletrônico ou
eletrônicos, insta destacar a lição de ainda, se terceiro estaria fazendo uso de sua
GONÇALVES: identidade (nome, foto), sem seu
conhecimento.
No entanto, o contrato de consumo O que se pretende não é questionar a
eletrônico internacional obedece ao
disposto no art. 9º, §2º, da Lei de
validade daquela proposta apresentada via
Introdução ao Código Civil, que procedimento eletrônico em que o proponente
determina a aplicação, à hipótese, faz uso de certificação digital ou assinatura
da lei do domicílio do proponente. eletrônica, pois essa é inquestionável e assume
Por essa razão, se um brasileiro faz presunção iuris et iuris de validade. A dúvida
aquisição de algum produto
oferecido pela Internet por empresa
surge quando o proponente se utiliza de um
estrangeira, o contrato então meio eletrônico ordinário, tal como e-mail,
celebrado rege-se pelas leis do país messenger, skype, blog ou outro equivalente.
do contratante que fez a oferta ou Para esses casos, o entendimento reza no
proposta. sentido de aplicar a Teoria da Aparência, ou
seja, em se fazendo o proponente se comunicar
Finalmente sobre a competência para por um meio eletrônico em que ordinariamente
julgamento, citamos a posição do STJ no Resp costuma fazer uso ou manifestar como seu, ou
804306, a qual prevê que para contratos ainda, em possuindo o canal toda as
internacionais com execução exclusiva no características de identidade pessoal do
Brasil, deverá ser respeitada a competência proponente (nome, apelido, foto ou outras
brasileira mesmo havendo eleição diversa de características), não restaria dúvidas ao oblato,
foro no contrato; vejamos: ter sido a proposta emanada pela própria pessoa
Mesmo que o contrato determine do proponente. Resta cristalino que a presunção
claramente que o foro seja no de validade da declaração de vontade realizada
estrangeiro, contratos executados por referidos meios é relativa e admite-se prova
exclusivamente no Brasil não em contrário.
podem excluir a competência da Analisaremos em capítulo próprio como
Justiça brasileira. Com esse
entendimento, a Terceira Turma do a Lei Modelo da Uncitral passa a regular o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) tema.
rejeitou o recurso da empresa
inglesa RS Components Limited 2.4. A proposta não obrigatória
contra a RS do Brasil Comércio, Os artigos 427 e 428 do Código Civil
Importação e Exportação Ltda.,
apresentam situações em que a proposta deixa
visando declarar incompetente a
Justiça brasileira para dirimir de ser obrigatória, liberando o proponente de
questões contratuais entre as vincular-se à sua manifestação de vontade.
empresas. O voto da ministra Nesse sentido temos as seguintes
relatora Nancy Andrighi foi situações de não obrigatoriedade da proposta,
seguido por unanimidade29.
vejamos:
a) Se o contrário não resultar dos termos
Outro questionamento no que tange à
da proposta. Nesse caso o proponente
proposta realizada através dos meios
em manifestar sua vontade inicial de
eletrônicos, diz respeito à segurança jurídica da
contratar, ou seja, de propor um negócio
identidade e, via de consequência, da validade
jurídico, especifica que a mesma não é
da manifestação da vontade. Parece plausível
vinculatória e poderá ser retirada pelo
que, nos meios eletrônicos, a identidade do
proponente por sua mera
proponente muitas vezes pode resultar
discricionariedade. São típicos de
duvidosa, haja vista não se poder precisar que a
propostas não vinculatórias dizeres
pessoa do próprio proponente esteja naquele

29
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.ws
p?tmp.area=398&tmp.texto=89063, acessado em 26 de
março de 2013 às 13:00 hrs.

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como “Proposta sujeita à confirmação”, através de mensagem eletrônica, podendo,


“A presente não vale como proposta”. portanto ser fonte de interpretação analógica às
b) Em razão da natureza do negócio: relações negociais sob a ótica do Direito Civil.
entende-se que propostas abertas ao De acordo com a Lei Modelo, as
público, tal como anúncios de venda de mensagens eletrônicas têm o mesmo efeito
imóvel divulgado em jornal de grande jurídico que uma declaração de vontade
circulação, por exemplo, as quais, por realizada pelos meios ordinários. Nesse sentido
sua natureza, são limitadas. mencionam o artigo 5 e artigo 11; vejamos:
c) Em razão das circunstâncias do caso:
entende-se como circunstancias do Artigo 5 – Reconhecimento
jurídico das mensagens de dados.
caso, requisitos legais que de acordo Não se negarão efeitos jurídicos,
com GONÇALVES são os requisitos do validade ou eficácia à informação
art. 428 do Código Civil30; ou seja: apenas porque esteja na forma de
d) Se, feita sem prazo a pessoa presente, mensagem eletrônica.
não foi imediatamente aceita. Artigo 11 – Formação e validade
dos contratos. 1) Salvo disposição
e) Se, feita sem prazo a pessoa ausente, em contrário das partes, na
tiver decorrido tempo suficiente para formação de um contrato, a oferta e
chegar a resposta ao conhecimento do sua aceitação podem ser expressas
proponente. por mensagens eletrônicas. Não se
f) Se, feita a pessoa ausente, não tiver sido negará validade ou eficácia a um
contrato ela simples razão de que se
expedida a resposta dentro do prazo utilizaram mensagens eletrônicas
dado. para a sua formação.
g) Se, antes dela, ou simultaneamente,
chegar ao conhecimento da outra parte a No que diz respeito à problemática
retratação do proponente. trazida sobre a dificuldade de identificação dos
2.5. Direito Internacional: a proposta e a lei contratantes através do meio eletrônico, a Lei
modelo da Uncitral sobre Comércio Modelo em seu artigo 7 é clara ao afirmar que
Eletrônico a mensagem eletrônica que utilizar qualquer
meio apropriado para identificar as partes
A Uncitral, Comissão das Nações Unidas substitui a assinatura requerida por lei.
para o Direito Comercial Internacional, em que Vejamos:
o Brasil participa como membro, editou em
1996 a Lei modelo sobre Comércio Eletrônico, Artigo 7 – Assinatura. 1) Quando a
em reconhecimento ao aumento recente das lei requeira a assinatura de uma
pessoa, este requisito considerar-
transações comercias através do meio
se-á preenchido por uma mensagem
eletrônico, e buscando a segurança jurídica no eletrônica quando: a) For utilizado
contexto dos negócios jurídicos realizados algum método para identificar a
através da internet. pessoa e indicar sua aprovação para
A Lei Modelo da Uncitral sobre a informação contida na mensagem
eletrônica; e b) Tal método seja tão
Comércio Eletrônico31 reconhece como válida
confiável quanto seja apropriado
a formação de contratos comerciais realizados para os propósitos para os quais a
por meio eletrônico, com mensagens de dados, mensagem foi gerada ou
e discute os momentos de sua formação. comunicada, levando-se em
Não obstante a legislação ser restrita às consideração todas as
circunstâncias do caso, incluindo
relações negociais comerciais, entendemos
qualquer acordo das partes a
relevante o estudo eis que regulamenta respeito. 2) Aplica-se o parágrafo
especificamente os negócios jurídicos firmados 1) tanto se o requisito nele

30
GONÇALVES, op.cit., p. 76. Comércio Eletrônico. Íntegra da legislação disponível no
31
Trata-se de uma lei modelo das Organizações das site
Nações Unidas, Comissão das Nações Unidas para o http://lanzoni.adv.br/lei%20com%E9rcio%20eletr%F4n
Direito Comercial Internacional, que objetiva fomentar, ico.pdf, acesso em 06 de julho de 2011 às 10:30 hrs.
harmonizar e unificar o Comércio Internacional e o

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mencionado esteja expresso na se falar em dúvida com relação à identidade,


forma de uma obrigação, quanto se entendendo-se que a mensagem tenha sido
a Lei simplesmente preveja
conseqüências para a ausência de
proveniente da pessoa identificada como
assinatura. remetente.
Concluímos, portanto, que no caso de
Ainda, ratificando o entendimento já erro de autoria da mensagem de dados (no caso
exposto sobre a aplicação da Teoria da de uso de e-mail de terceiros), o destinatário,
Aparência, para fins de reconhecimento da agindo com base na boa-fé e no bom senso, tem
identidade dos remetentes das mensagens o direito de reivindicar o cumprimento da
eletrônicas, temos o artigo 13, que considera proposta; exceto se o erro for grosseiro a ponto
como representativo da identidade, qualquer de ser deduzido facilmente na transmissão, ou
tipo de mensagem eletrônica programada em ainda se o destinatário for comunicado do erro
nome do remetente: de autoria da mensagem.
Outrossim, no que diz respeito ao
Artigo 13 – Atribuição de momento do recebimento da proposta,
mensagens de dados. 1) Uma
regulamenta a Lei Modelo que, caso não seja
mensagem eletrônica provém do
remetente quando haja sido enviada pactuado o contrário, será considerado o
pelo próprio remetente. 2) Nas momento em que a mensagem entra no sistema
relações entre o remetente e o de informação do destinatário.
destinatário, uma mensagem Com relação ao local, a mensagem será
eletrônica se considera proveniente
considerada expedida do local onde o remetente
do remetente se ela foi enviada: a)
Por uma pessoa autorizada a agir tenha seu estabelecimento e recebida no local
em nome do remetente no tocante onde o destinatário exercer sua atividade.
àquela mensagem eletrônica; b) Havendo mais de um endereço comercial,
Por um sistema de informação deverá ser considerado o local que tiver maior
programado por, ou em nome do
relação com a transação a que a mensagem se
remetente, para operar
automaticamente. 3) Nas relações refere ou, caso não haja transação, deverá ser
entre o remetente e o destinatário, o considerado o lugar principal onde se realizam
destinatário tem direito a considerar os negócios. Finalmente inexistindo endereço
uma mensagem eletrônica como comercial definido, como opção, a escolha
sendo do remetente e a agir de
deverá recair no endereço residencial das partes
acordo em qualquer das seguintes
hipóteses: a) Se o destinatário contratantes.
houver aplicado corretamente um Finalmente, destacamos que o Brasil, por
procedimento previamente aceito fazer parte da Uncitral, tem a obrigatoriedade
pelo remetente a fim de verificar se de adequar a Lei Modelo ao ordenamento
a mensagem eletrônica provenha do
jurídico interno.
remetente, ou b) Se a mensagem
eletrônica recebida pelo
destinatário houver resultado dos 3. A Oferta e a Publicidade no Direito
atos de uma pessoa cujas relações do Consumidor e seus Elementos
com o remetente ou com qualquer
agente do remetente lhe hajam dado 3.1. Princípios do Direito do Consumidor
acesso ao método usado pelo
remetente para identificar a relacionados à oferta e à publicidade
mensagem eletrônica como sendo O Código de Defesa do Consumidor
sua.
assume posição protetora do consumidor haja
Verificamos, portanto, que uma vez vista a hipossuficiência e vulnerabilidade nas
adotado diligência razoável por parte do relações de consumo. Dessa forma, elenca
receptor da mensagem eletrônica, quer por princípios da relação de consumo e, em
identificação do texto com os dados do especial, princípios sobre a oferta e a
remetente, quer por prática reiterada anterior ou publicidade, os quais se encontram assim
ainda quando o próprio remetente divulga o distribuídos no Código de Proteção e Defesa do
endereço como de sua propriedade; não há que Consumidor:

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a) princípio da boa-fé objetiva (artigo 4, Art. 4º A Política Nacional das


III); Relações de Consumo tem por
objetivo o atendimento das
b) princípio da transparência e necessidades dos consumidores, o
informação; respeito à sua dignidade, saúde e
c) princípio da identificação da segurança, a proteção de seus
32 interesses econômicos, a melhoria
publicidade (artigo 36 );
d) princípio da vinculação contratual da da sua qualidade de vida, bem como
a transparência e harmonia das
publicidade (artigos 3033 e 3534); relações de consumo, atendidos os
e) princípio da veracidade (artigo 37 § 1º seguintes princípios:III -
35
); harmonização dos interesses dos
f) princípio da não-abusividade da participantes das relações de
publicidade (artigo 37 § 2º36); consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a
g) princípio da inversão do ônus da prova necessidade de desenvolvimento
( artigo 3837); econômico e tecnológico, de modo
h) princípio da transparência da a viabilizar os princípios nos quais
fundamentação publicitária (artigo 36, se funda a ordem econômica (art.
parágrafo único38); 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e
i) princípio da correção do desvio equilíbrio nas relações entre
publicitário (artigo 56, XII39). consumidores e fornecedores (...).
A boa fé deve ser observada tanto na fase
pré-contratual, quanto na fase de execução e na O princípio da transparência e
fase pós-contratual. Significa a adoção de uma informação significa clareza quanto à
postura ética, leal, honesta e adequada nas qualidade, conteúdo e especificações do
relações jurídicas. Nesse sentido é a redação do produto a ser vendido, condições de
art. 4º, III, do Código de Defesa do pagamento, taxas, condições de entrega entre
Consumidor: outros. A transparência deve ser observada não
somente no momento da finalização do contrato
de compra, mas também nas campanhas

32
Código de Defesa do Consumidor. Art. 36. A qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de
publicidade deve ser veiculada de tal forma que o induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,
consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como características, qualidade, quantidade, propriedades,
tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e
seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para serviços.
36
informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, Código de Defesa do Consumidor. Art. 37, § 2° É
técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. abusiva, entre outras, a publicidade discriminatória de
33
Código de Defesa do Consumidor. Art. 30. Toda qualquer natureza, a que incite à violência, explore o
informação ou publicidade, suficientemente precisa, medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de
veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação julgamento e experiência da criança, desrespeita valores
com relação a produtos e serviços oferecidos ou ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a
apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua
dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser saúde ou segurança.
37
celebrado. Código de Defesa do Consumidor. Art. 38. O ônus da
34
Código de Defesa do Consumidor. Art. 35. Se o prova da veracidade e da correção da informação ou
fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.
38
a oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor Código de Defesa do Consumidor. Art. 36. Parágrafo
poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou
o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da serviços, manterá em seu poder, para informação dos
oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e
produto ou prestação de serviço equivalente; III - científicos que dão sustentação à mensagem.
39
rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia Código de Defesa do Consumidor. Art. 56. As
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e infrações das normas de defesa do consumidor ficam
a perdas e danos. sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções
35
Código de Defesa do Consumidor. Art. 37. É proibida administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal
toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa e das definidas em normas específicas: XII - imposição
qualquer modalidade de informação ou comunicação de de contrapropaganda.
caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou por

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publicitárias, deixando claro os efeitos que o também induzindo o consumidor a


produto pode acarretar ao consumidor (como é erro”40.
o caso de venda de cigarros, por exemplo).
Segue afirmando que a veiculação de
O princípio da identificação da
publicidade parcial ou totalmente enganosa é,
publicidade parte do pressuposto de que a
de per si, capaz de responsabilizar o fornecedor,
publicidade deve conter dados claros a respeito
independentemente de demonstração de dolo,
do fornecedor, do produto ou serviço que está
culpa ou má-fé.
sendo divulgado; de forma que não pairem
O princípio da não-abusividade da
dúvidas ao consumidor a respeito do autor da
publicidade proíbe a publicidade
publicidade. Esse princípio veda a publicidade
discriminatória de qualquer natureza: que incite
oculta, por meio de mensagens subliminares ou
à violência, explore o medo ou a superstição, se
sem declaração ostensiva da marca.
aproveite da deficiência de julgamento e
Trata-se de um princípio de fundamental
experiência da criança, desrespeita valores
importância, pois a própria publicidade, por si
ambientais, ou que seja capaz de induzir o
só, vincula o fornecedor – proponente e sua
consumidor a se comportar de forma prejudicial
inobservância implica, de per si,
ou perigosa à sua saúde ou segurança.
inadimplemento contratual. Dessa forma, visa
GONÇALVES, sobre a responsabilidade
resguardar a segurança jurídica das relações
decorrente da veiculação de publicidade
publicitárias, e por ser uma manifestação de
abusiva, diz que pelo desvio publicitário
vontade produz efeitos jurídicos que devem ser
responde, em regra, o anunciante ou quem o
protegidos.
anúncio aproveita, não se excluindo, porém, a
O princípio da vinculação da publicidade
responsabilidade da agência e do próprio
está diretamente relacionado ao momento em
veículo de comunicação.41
que a publicidade passa a surtir efeitos
Com relação à publicidade abusiva em
jurídicos. Diferentemente do Código Civil, a
anúncios publicitários veiculados na rede, em
proposta passa a ter efeitos jurídicos a partir do
analogia aos ensinamentos de GONÇALVES,
momento em que o destinatário tem
pode-se afirmar que os provedores de conteúdo,
conhecimento dela; a publicidade no
moderadores de grupos e canais, que muito
ordenamento jurídico do consumidor passa a
embora não sejam os anunciantes, também
gerar efeitos jurídicos e a vincular o proponente
respondem pelo desvio publicitário.
no momento em que é veiculada,
O princípio da inversão do ônus da prova
independentemente do conhecimento pelo
tem como pressuposto a hipossuficiência e a
destinatário.
vulnerabilidade do consumidor, que não possui
Sobre o princípio da veracidade é preciso
a mesma habilidade técnica e conhecimento
destacar a lição de GONÇALVES:
sobre o produto que tem o fornecedor; bem
O princípio da veracidade proíbe a como, na maioria das vezes, não tem acesso aos
publicidade enganosa. dados do produto, da oferta e da compra.
GONÇALVES leciona que a Esse princípio tem como fundamento o
publicidade enganosa pode ser por artigo 5º da Constituição Federal, 42 e busca
omissão ou por comissão. “Na
publicidade enganosa por
estabelecer uma posição de igualdade entre o
comissão, o fornecedor afirma consumidor fragilizado e o fornecedor.
alguma coisa capaz de induzir o MULHOLLAND nesse sentido afirma:
consumidor a erro, dizendo alguma
coisa que não é verdadeira. Na Percebeu-se que com o surgimento
forma omissiva, o patrocinador da contratação de massa,
deixa de afirmar o que é relevante, primordialmente através de
contratos de adesão, a desigualdade
entre as partes contratantes era cada

40
GONÇALVES, op. Cit., p. estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do
41
Ibid. p. direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
42
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de propriedade, nos termos seguintes:
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

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vez mais latente. A inexistência de ela ser enganosa, abusiva, discriminatória,


tratativas e a diminuição na imprecisa. Deve o fornecedor, quando da
realização de contratos paritários de
fato, e em conjunto com a
retratação, fazer uso do mesmo veículo de
imposição de uma relação informação, na mesma proporção, utilizando as
contratual onde o conteúdo já está mesmas características anteriores.
unilateralmente formulado, foram Ressalta-se, no entanto, que não obstante
fatores que impuseram a a retratação, o fornecedor tem o dever de
consideração de que, para se
alcançar o equilíbrio entre as partes
reparar os impactos da publicidade sobre os
contratuais, seria necessário consumidores, bem como de garantir o
considerá-las desiguais”43. adimplemento contratual no caso de execução
forçada pelo consumidor haja vista a natureza
NOVAIS apud MULHOLLAND afirma: jurídica da publicidade de responsabilidade pré-
contratual, conforme passaremos a expor no
A vulnerabilidade do consumidor
item a seguir.
está intrinsecamente relacionada à
sua posição de aderente, isto é, a 3.2. Oferta e publicidade entre presentes e
partir do momento em que o ausentes
consumidor se vê tolhido em seu
direito de estabelecer o conteúdo Verificamos que a oferta e a publicidade,
contratual, devendo submeter-se ao no que diz respeito às relações de consumo
que foi unilateralmente disposto
pela outra parte, ele já se encontra
assume um papel muito mais amplo do que a
em uma posição de desvantagem proposta, sob a ótica do Direito Civil, isso
que será representada por esta porque não é dirigida somente à uma pessoa
desigualdade na formação do específica, mas à coletividade e à um público
contrato.44 em geral. Da mesma forma, verificamos que a
publicidade, além de caráter de oferta, pode
O artigo 31 do Código de Defesa do assumir características de promoção
Consumidor45, que dispõe sobre o princípio da institucional, ou seja, tem a finalidade não de
transparência da fundamentação publicitária, vender um determinado produto, mas de
estabelece que a oferta e a apresentação de destacar atributos relacionados à marca ou à
produtos ou serviços devem assegurar imagem da empresa ofertante; a qual queira a
informações corretas, claras, precisas, longo prazo consolidar-se no mercado de
ostensivas e em língua portuguesa sobre suas consumo.
características, qualidades, quantidade, Não é a publicidade institucional à que a
composição, preço, garantia, prazos de validade presente pesquisa se destina, mas sim à
e origem, entre outros dados, bem como sobre publicidade que assume caráter de oferta, ou
os riscos que apresentam à saúde e à segurança seja, divulgação de um produto, em qualquer
dos consumidores. via de comunicação (televisão, rádio, panfletos,
Esse princípio tem como base a boa-fé outdoors, cartas, internet e todas as suas
contratual e possui laços estreitos com o variações, e-mail marketing, anúncios em sites
princípio da veracidade. Objetiva resguardar o de compras coletivas, pop ups, entre outros).
consumidor da má-fé do fornecedor, que por Resta claro e cristalino que, quando
possuir conhecimento técnico sobre o produto, falamos em publicidade ou oferta sob a ótica
pode omitir ou manipular dados essenciais a das relações de consumo, e nesse sentido é a
respeito dele, que se fossem informados ao principal diferença com as relações amparadas
consumidor poderiam dificultar a contratação. pelo Código Civil, temos o cenário de uma
Finalmente, o princípio da correção do oferta pública, direcionada a um público geral,
desvio publicitário busca sanar os malefícios
causados pela publicidade originária, podendo
43
MULHOLLAND, op. cit., p. 37. características, qualidade, quantidade, composição,
44
Ibid., p. 41. preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros
45
Art. 31. A oferta e a apresentação de produtos ou dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde
serviços devem assegurar informações corretas, claras, e à segurança dos consumidores.
precisas e em língua portuguesa sobre suas

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indeterminado ou determinável por uma dentro e fora do estabelecimento comercial,


categoria. para fins de exercício do direito de retratação.
É nesse sentido que o princípio da Nesse sentido vejamos:
vinculação da publicidade passa a ter sentido,
pois a mesma vincula o fornecedor no momento Art. 49. O consumidor pode desistir
do contrato, no prazo de 7 dias a
em que é divulgada; ao contrário do que contar de sua assinatura ou do ato
estudamos nas relações negociais privadas, de recebimento do produto ou
amparadas pelo Código Civil, eis que passa a serviço, sempre que a contratação
vincular o proponente somente após o de fornecimento de produtos e
recebimento da proposta pelo oblato. serviços ocorrer fora do
estabelecimento comercial,
Sob essa mesma ótica, nos parece especialmente por telefone ou a
descabida a classificação da publicidade entre domicílio. Parágrafo único. Se o
ausentes e presentes, uma vez que a mesma em consumidor exercitar o direito de
razão da amplitude e generalidade da oferta, arrependimento previsto neste
pela sua própria natureza, somente faria sentido artigo, os valores eventualmente
pagos, a qualquer título, durante o
sob a ótica de publicidade entre ausentes. prazo de reflexão, serão
Uma única hipótese que se poderia devolvidos, de imediato,
verificar de publicidade entre presentes, seria monetariamente atualizados.
aquela espécie de oferta realizada à portas
fechadas, em que as ofertas são apresentadas ao Nesse sentido, para fins de retratação,
público presente no estabelecimento comercial, verificamos que a classificação de contrato
naquele exato momento da divulgação da entre presentes e ausentes, também muito
oferta. pouco importa, uma vez que a mesma será
Verificamos, portanto, que a oferta devida sempre que o aceite se der fora do
vincula o fornecedor a partir do momento de estabelecimento comercial, mesmo que por
sua publicação, nos termos do art. 30 do Código comunicação instantânea, como o caso de
de Defesa do Consumidor; vejamos: telefone ou outros sistemas eletrônicos.
A celeuma surge no que diz respeito às
Art. 30. Toda informação ou compras adquiridas no estabelecimento
publicidade, suficientemente comercial eletrônico, ou seja, em sites de
precisa, veiculada por qualquer
forma ou meio de comunicação empresas que realizam comércio através da
com relação a produtos e serviços internet, nele dispondo seus produtos. Seria o
oferecidos ou apresentados, obriga site considerado como estabelecimento
o fornecedor que a fizer veicular ou comercial?
dela se utilizar e integra o contrato No que diz respeito às páginas de
que vier a ser celebrado.
comércio eletrônico, há aqueles que entendem
E nesse sentido surge o questionamento: representar contratação entre presentes, como
Até quando o fornecedor deve manter a COELHO, ao defender que “quando compra
publicidade? Ela tem um prazo de validade? E pela internet, o consumidor está na
no caso dos produtos se esgotarem? tranquilidade do lar e, portanto, estaria como
Ora, uma vez se tratando de uma oferta ao que presente, afastando a previsão da norma do
público, dúvida inexiste que a mesma deve ser
mantida até o prazo de validade do anúncio ou
até enquanto perdurar o estoque.
Dessa forma, nos parece, para fins de
análise dos efeitos jurídicos, mais relevante
analisarmos as condições relacionadas ao aceite
ao invés de analisarmos a proposta.
Tal justificativa de análise se dá em razão
da redação do art. 49 do Código de Defesa do
Consumidor, que diferencia o aceite dado

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artigo 49 do Código de Defesa do adquirente fora do estabelecimento físico do


Consumidor”46 47. fornecedor.50
ANDRADE compartilha o mesmo Verifica-se, no entanto, que o
entendimento ao afirmar que “o contrato on- entendimento que prevalece é o da contratação
line é contrato entre presentes e forma-se no eletrônica, considerada venda fora do
exato momento em que o oblato manifesta sua estabelecimento comercial, independentemente
aceitação, já que, em se tratando de se realizada entre presentes ou entre ausentes.
comunicação simultânea, ela será Nesse caso, o artigo 49 do Código de Defesa do
imediatamente conhecida pelo ofertante ou Consumidor sempre será aplicado. Vejamos
policitante”. sua redação:
Acrescenta que:
Art. 49. O consumidor pode desistir
Também configura contratação do contrato no prazo de 7 dias a
entre presentes a decorrente de contar de sua assinatura ou do ato
oferta pública feita em site, pois de recebimento do produto ou
nesse caso o site funciona como um serviço, sempre que a contratação
estabelecimento virtual, que dispõe de fornecimento de produtos e
em um catálogo eletrônico produtos serviços ocorrer fora do
e serviços com dupla função: a estabelecimento comercial,
primeira, de publicidade, pois quem especialmente por telefone ou em
acessa o site obrigatoriamente domicílio. Parágrafo único. Se o
visualiza o produto; a segunda, de consumidor exercitar o direito de
oferta pública, uma vez que os arrependimento previsto neste
produtos ou serviços constantes do artigo, os valores eventualmente
catálogo eletrônico podem ser pagos, a qualquer título, durante o
adquiridos, bastando para prazo de reflexão, serão
aperfeiçoamento do contrato a devolvidos, de imediato,
aceitação manifestada pelo oblato. monetariamente atualizados.
Justifica seu posicionamento
afirmando que a aceitação pode ser ANDRADE ensina que:
imediatamente recebida pelo
ofertante, já que, nesse tipo de A relação de consumo mantida por
relação jurídica, os computadores meio de contrato eletrônico, ainda
estão simultaneamente que realizada por comunicação
conectados”48. simultânea, caracterizará
fornecimento de produto ou serviço
LEAL diferentemente vislumbra que os fora do estabelecimento do
contratos eletrônicos firmados pela internet fornecedor, de acordo com o art. 49
do Código de Defesa do
equiparam-se aos contratos à distância, e a Consumidor – ou venda a distância,
aplicação do prazo de reflexão e a possibilidade uma vez que o contrato será
do exercício do direito de arrependimento concebido – formado – sem a
servem para reduzir os efeitos da presença física dos contratantes.51
impessoalidade e satisfação incerta da
contratação eletrônica.49 Justifica sua posição afirmando:
De forma também diversa, LIMA entende
Nas relações efetivadas fora do
o conceito de ausente pelo aspecto da distância estabelecimento – local físico onde
territorial e da fragilidade do consumidor está instalado o fornecedor –, o
consumidor está numa posição

46
Código de Defesa do Consumidor. Art. 49. O durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de
consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias imediato, monetariamente atualizados.
47
a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial.
produto ou serviço, sempre que a contratação de 4. ed., rev. e atual. de acordo com o novo Código. São
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do Paulo: Saraiva, 2003. V.3. p. 49.
48
estabelecimento comercial, especialmente por telefone ANDRADE, op. cit., p. 41.
49
ou em domicílio. Parágrafo único. Se o consumidor LEAL, op. cit., p. 107.
50
exercitar o direito de arrependimento previsto neste LIMA. op. cit., p. 31.
51
artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, ANDRADE. op. cit., p. 108.

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frágil e tende a realizar contrato que Vejamos a redação do artigo 30 do


normalmente não faria se estivesse Código de Defesa do Consumidor:
no local onde o produto ou serviço
é colocado à venda; pois, ao dirigir-
Art. 30. Toda informação ou
se a determinado estabelecimento
publicidade, suficientemente
comercial, refletiu na aquisição
precisa, veiculada por qualquer
antes mesmo de nele adentrar, ao
forma ou meio de comunicação
passo que, quando faz a compra de
com relação a produtos e serviços
sua residência, dada a facilidade de
oferecidos ou apresentados, obriga
processamento da aquisição,
o fornecedor que a fizer veicular ou
aumenta a possibilidade de que ela
dela se utilizar e integra o contrato
seja feita por impulso e sem
que vier a ser celebrado.
qualquer reflexão; reflexão esta que
se dará somente no momento do
recebimento do produto ou Em comentários ao citado dispositivo
serviço.52 legal; destacamos a lição de SILVA:

3.3. A publicidade como obrigação Do ponto de vista do direito das


obrigações, o conteúdo deste artigo
contratual é inovador, já que a oferta,
Conforme abordado anteriormente, a manifestada por informação ou
natureza jurídica da publicidade no âmbito civil publicidade suficientemente
precisa, passou a obrigar o
em muito se difere daquela da legislação do fornecedor, independentemente de
consumidor. O Código Civil opta pelo uso do proposta (art. 1.080 do CC/1916) e
termo proposta, enquanto o Código de Defesa desde que exposta ao consumidor,
do Consumidor utiliza o termo somente duas como se fosse cláusula não escrita.
vezes, preferindo a nomenclatura oferta ou A relação de consumidor, de que
fariam parte um fornecedor real e
publicidade. um consumidor virtual, passou a
O termo publicidade é mais amplo que existir tão logo o produto ou serviço
proposta e não fica adstrito somente à oferta fosse apresentado, divulgado e
comercial, mas engloba também a simples oferecido ao mercado, fato gerador
divulgação de uma marca ou produto. de expectativa de consumo.54
A diferença adotada pelos dois
O artigo 35, inciso I, do mesmo
dispositivos legais não se restringe somente à
dispositivo legal, tem o condão de
nomenclatura utilizada, mas se expressa
complementar o artigo supra, possibilitando
também na responsabilização pelo
meios ao consumidor para exigir o
descumprimento da matéria anunciada.
cumprimento forçado da obrigação que fora
Nesse sentido, são as lições de LISBOA,
anunciada.
ao afirmar que “a responsabilidade decorrente
do desvio publicitário equivale à Art. 35. Se o fornecedor de
responsabilidade pré-contratual” 53 . Tal produtos ou serviços recusar
assertiva se fundamenta no disposto no artigo cumprimento à oferta, à
30 do Código de Defesa do Consumidor, o qual apresentação ou à publicidade, o
consumidor poderá,
estabelece que a oferta, por meio da alternativamente e à sua livre
publicidade, inclusive, vincula seus termos e escolha: I - exigir o cumprimento
integra o contrato que vier a ser celebrado. forçado da obrigação, nos termos
De maneira diversa, o Código Civil da oferta, apresentação ou
dispõe que a oferta somente vincula o publicidade.
LISBOA diferencia a
proponente após o destinatário recebê-la, responsabilidade pré-contratual de
podendo o proponente retratá-la a qualquer âmbito civil daquela das relações de
momento, antes do seu recebimento. consumo, nos seguintes dizeres:

52
Ibid., p. 108-109. EDIÇÃO. 1. VitalSource Bookshelf. Editora Saraiva,
53
LISBOA, op. cit., p. 314. 05/2008, Monday, November 05, 2012. p.151.
54
SILVA, Jorge Alberto Quadros C. Código de Defesa
do Consumidor Anotado e Legislação Complementar. 6ª

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Esta, em decorrência da ensejando inclusive a possibilidade de


massificação do contrato, vincula- execução específica. Em outras palavras, o
se a partir do momento da sua
veiculação; aquela, decorrente de
fornecedor é obrigado a realizar o contrato de
contratos personalíssimos, veicula consumo exatamente de acordo com as
somente a partir do recebimento da informações ou publicidades veiculadas na
proposta pela pessoa interessada”. oferta”58.
E segue afirmando: “Dessa forma, FINKELSTEIN justifica tal medida ao
no âmbito civil, a responsabilização
se dá pela não-realização do
afirmar:
contrato preliminar que estava
sendo negociado, enquanto nas Não há um dever legal imposto ao
relações de consumo, a fornecedor de anunciar seus
caracterização se dá pelo mero produtos e serviços. O fornecedor
descumprimento do contrato55. anuncia os produtos à sua inteira
discricionariedade. Assim, a
publicidade é um direito do
Entendemos que o termo pré-contratual fornecedor. Porém, a partir do
para se referir ao cumprimento da obrigação momento em que o fornecedor
divulgada na publicidade não é o termo mais decide anunciar seu produto ou
oportuno. A nosso ver, seria mais adequado o serviço, ele deve exercitar seu
termo contratual para se referir à direito de forma a não violar as
disposições protetivas do Direito do
responsabilidade no âmbito do direito do Consumidor.59
consumidor, pois, como muito bem dispõe o
artigo 30 do mesmo dispositivo legal, a
publicidade integra o contrato. CARVALHO apud LEAL, sobre o tema,
E nessa mesma linha de raciocínio, o esclarece que “a retirada antecipada e
termo “responsabilidade pré-contratual” seria injustificada da oferta terá como consequência
mais adequado para se referir à não mais a mera sujeição do proponente ao
publicidade/proposta, regulada pelas relações pagamento de perdas e danos, mas a negação de
de direito civil, em razão da própria natureza quaisquer efeitos jurídicos à revogação,
jurídica. permanecendo eficaz a oferta do fornecedor e o
Verifica-se que essa visão com relação à cumprimento do dever nela contido,
publicidade é adotada também em outros obrigatório, salvo outra escolha exercida por
países. LORENZETTI, sobre o sistema jurídico parte do consumidor”60.
argentino, afirma que “a publicidade pode Nesse sentido, vale destacar a decisão
integrar um contrato quando existir uma oferta, proferida em 3 de outubro de 2008, pela 11ª
consoante a Lei Argentina 24.204, ou pode Câmara de Direito Privado do Tribunal de
constituir a causa de responsabilidade Justiça de São Paulo, em julgamento de
extracontratual de seu criador quando não Recurso de Apelação, nº 7.180.510-4, em
houver contrato ou quando a mensagem não conformidade com o voto do Relator
contiver uma oferta”56. Desembargador Paulo Jorge Scartezzini
Sobre a força vinculante da publicidade, Guimarães, em que figuram como Apelante
LEAL afirma que “a oferta é vinculatória e pessoa física e Apelado pessoa jurídica de
irretratável, obrigando o fornecedor a cumprir o capitalização, tendo como objeto de discussão a
seu conteúdo para não frustrar a expectativa do publicidade enganosa e o não-cumprimento do
consumidor de vir a concluir o negócio. Esse é anúncio veiculado. Vejamos a ementa do
o teor do artigo 30 do Código de Defesa do acórdão:
Consumidor 57 , pelo qual a oferta liga o
fornecedor ao cumprimento do seu conteúdo,

55
LISBOA, op. cit., p. 314. fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que
56
LORENZETTI, op. cit., p. 391. vier a ser celebrado.
57 58
Art. 30. Toda informação ou publicidade, LEAL, op. cit., p. 70.
59
suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou FINKELSTEIN, op. cit., p. 254-255.
60
meio de comunicação com relação a produtos e serviços LEAL, op. cit., 111.
oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a

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APELAÇÃO – INDENIZAÇÃO – Coppola, em que figuram como parte Apelante


PUBLICIDADE ENGANOSA – pessoa jurídica, empresa que comercializa
TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO
QUE PROMETE AO
aparelhos eletrônicos, e como Apelada pessoa
APLICADOR A AQUISIÇÃO DE física, consumidor, pleiteando o cumprimento
BEM. OBRIGAÇÃO DE do anúncio publicitário que havia veiculado no
CUMPRIR A OFERTA. jornal O Estado de S. Paulo a oferta de um
Caracteriza publicidade enganosa televisor de plasma, de última tecnologia, para
aquela que induz o consumidor a
erro, fazendo crer que ao final do
proporção de 1:10 de outros valores
plano adquirirá veículo 0 km. Isso encontrados no mercado. Vejamos a ementa do
ocorrendo, devem o anunciante e acórdão:
aqueles que endossaram a
promessa (no caso a Montadora) Consumidor. Ação de obrigação de
cumprir o prometido. fazer. Cumulação com pedido de
DESCUMPRIMENTO indenização por danos morais.
CONTRATUAL – DANO Anúncio veiculado em encarte de
MORAL – Cabível a indenização periódico que oferece aparelho de
por dano moral em caso de televisão em valor flagrantemente
descumprimento contratual, já que incompatível com seu valor de
o inadimplemento causa no credor mercado (Televisor de plasma, de
transtorno, abalo, aborrecimento, 42 polegadas, com tecnologia
sentimentos passíveis de serem widescreen). Invocação dos
indenizados. RECURSO princípios consumeiristas. Oferta
PROVIDO EM PARTE”61. que obrigaria o fornecedor nos
exatos termos propostos. Art. 30,
Ressalta-se, contudo, que tal dispositivo do C.D.C. Erro escusável. Poder
tem sido flexibilizado pelos Tribunais, quando vinculante da oferta que não
pode dispensar princípios da boa-
se verifica erro grosseiro na oferta publicitária. fé objetiva e vedação ao
O entendimento jurisprudencial que prevalece enriquecimento sem causa.
nesse caso é o da não-obrigação de cumprir o Anúncio que discrepa do valor real
ofertado, pois acima de qualquer coisa os do bem e que não pode ser
parâmetros do bom senso e da boa-fé contratual equiparado à publicidade enganosa.
Evidente erro na digitação do
devem prevalecer. informe publicitário que revela
É o caso em que temos, por exemplo erro inexorável ausência de seriedade na
grosseiro na divulgação de preço de proposta. Tutela antecipada
determinado produto em site da internet: uma cassada. Ação improcedente.
televisão de última tecnologia sendo divulgada Agravo retido e apelo providos.
(Íntegra do acórdão em anexo 62).
por R$ 400,00 (quatrocentos reais), quando o
mais lógico seria R$ 4.000,00 (quatro mil Vejamos a decisão proferida na data de
reais). 20 de junho de 2006, pela 3ª Câmara de Direito
Passaremos a analisar dois casos Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo,
concretos que foram recentemente apreciados em julgamento de Recurso de Apelação Cível
pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de com Revisão, nº 399.469-4/0-00, em
São Paulo, cuja decisão acatou a tese da não- conformidade com o voto do Relator
vinculação do ofertado, em razão de erro Desembargador Artur César Berreta da
grosseiro. Silveira, em que figuram como parte Apelante
Vejamos a decisão proferida em 15 de pessoa física, consumidor, e Apelada pessoa
maio de 2008, pela 32ª Câmara de Direito jurídica, fornecedor, a empresa que
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, comercializa aparelhos eletrônicos, pleiteando
em julgamento de Recurso de Apelação sem o cumprimento do anúncio publicitário que
Revisão, nº 1129594-0/2, em conformidade havia veiculado no jornal O Estado de S. Paulo
com o voto do Relator Desembargador Ruy a oferta de um televisor de plasma Philips, 42

61 62
Íntegra do acórdão: Tribunal de Justiça do Estado de Íntegra do acórdão: Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo. 11ª. Câmara de Direito Privado – E. Apelação São Paulo. 32ª. Câmara de Direito Privado. Apelação no.
no. 7380510-4. 1129594.

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polegadas, tela widescreen, no valor de R$ Verifica-se que para a aplicação da


2.199,00. Vejamos a ementa do acórdão: exceção jurisprudencial supra-analisada, se faz
fundamental a observância de três requisitos: 1.
Consumidor – Anúncio de televisão erro grosseiro da mensagem publicitária; 2. que
por preço muito inferior ao real –
Erro na propaganda, sem que tenha
esse erro possa ser perceptível a um indivíduo
havido intenção de enganar o comum (aptidão intelectual de um homem
consumidor, não tem o condão de médio); e 3. a ausência de má-fé, que se
obrigar o comerciante – Ação demonstra pela flagrável intenção do
improcedente – Recurso fornecedor em não ludibriar o consumidor.
improvido.63
Especificamente sobre o efeito vinculante
Vejamos a decisão proferida em 4 de da publicidade no meio eletrônico, destacamos
maio de 2006, pela 4ª Câmara de Direito a lição de MARQUES ao afirmar:
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Quanto à formação do contrato, a
em julgamento de Recurso de Apelação Cível doutrina destaca os vários
com Revisão, nº 248.815-4/3-00, em momentos da fase pré-contratual,
conformidade com o voto do Relator que interessam à proteção do
Desembargador Enio Santarelli Zuliani, em que consumidor, a começar pela oferta
ou proposta pública, que representa
figuram como parte Apelante pessoa física, as práticas antes analisadas de sites,
consumidor, e Apelada pessoa jurídica, links, e-mails, a publicidade, os
fabricante de bebidas, pleiteando o spams e outras manifestações
cumprimento da campanha publicitária que não virtuais de “vontade negocial” dos
fora completamente transparente sobre os fornecedores do mundo inteiro.
Considerando que essas
requisitos para a entrega do prêmio prometido. manifestações de vontade negocial
Vejamos a ementa do acórdão: dos fornecedores contêm os
elementos da oferta e despertam a
Consumidor – Propósito de se confiança dos consumidores, diante
obrigar a fabricante de bebidas a do regime especial das contratações
entregar um veículo que foi de consumo impostos pelo CDC,
prometido em campanha que valeria a declaração e a criação
publicitária, independente de de confiança e expectativas
sorteio, sob o argumento de que legítimas no “espectador”, parece-
essa era a leitura dos anúncios, pela me que são mais do que simples
ênfase que se deu à troca do prêmio “convites públicos à oferta”.
pela premiação da tampinha da Assim, serão essas praticas
garrafa (art. 30 e 35,I da Lei consideradas ofertas, no sentido do
8.078/80); hipótese, no entanto, em art. 30. do CDC. Parece-me
que o regulamento do sorteio previa também que, se realizadas perante a
troca instantânea de brindes outros fornecedores ou em relações
menores, (um outro refrigerante e puramente civis, serão
tatuagens removíveis), exigindo, consideradas “propostas”, no
para os carros e bolsas de estudos, sentido do art. 429 do
sorteios de acordo com os cupons CCBr./220265.
que seriam trocados pelas
tampinhas premiadas – Regras O último questionamento que surge é
insusceptíveis de enganar o
consumIdor considerado bônus
com relação ao direito de retratação da
parter famillae – Não campanha publicitária. Teria o fornecedor
provimento.64 direito de retratar e retirar campanha
publicitária?

63 65
Íntegra do acórdão: Tribunal de Justiça do Estado de MARQUES, Cláudia Lima. Confiança no comércio
São Paulo. 3ª. Câmara de Direito Privado. Apelação no. eletrônico e a proteção do consumidor: um estudo dos
399469-4. negócios jurídicos de consumo no comércio
64
Íntegra do acórdão: Tribunal de Justiça do Estado de eletrônico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.
São Paulo. 4ª. Câmara de Direito Privado. Apelação no. 260-261.
248815-4/3.

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Nosso entendimento é que, uma vez poderá ser invocada caso o Estado-
veiculada, a publicidade vincula o fornecedor, membro não a transpuser para a
normativa interna no prazo
até a data de validade da campanha/oferta estipulado ou, caso efetive a
publicitária. Nesse sentido, havendo divulgação transposição, faça-a de maneira
das condições da oferta, se retratada, poderá o incorreta. Tal distinção se dá tendo
consumidor que tenha incorrido em prejuízos em vista que o efeito direto não se
pleitear a indenização por perdas e danos, ou até encontra previsto nos tratados, ao
contrário da aplicabilidade direta,
mesmo a manutenção da oferta. Como exemplo mas foi uma criação da
podemos citar as diversas empresas que jurisprudência do TJCE, com apoio
divulgam determinado preço em sua prateleira da doutrina66.
e no momento do pagamento no caixa verificam
que houve erro. Deve o fornecedor manter o A Diretiva 97/7/CE 67 regulamenta a
preço divulgado ao consumidor, desde que publicidade e a oferta de bens e serviços a
razoável. distância e, de forma semelhante ao Código de
Defesa do Consumidor, dispõe sobre a
3.4. Direito Internacional: a publicidade e a possibilidade de sete dias para arrependimento
diretiva da União Europeia da compra de produtos quando realizados no
Muito embora o Brasil não seja um estado meio eletrônico, tudo a cargo do fornecedor:
membro da União Europeia, a análise da
Diretiva 97/7/CE da União Europeia se faz Considerando que o consumidor
não tem, em concreto, possibilidade
importante por regulamentar os contratos a de ver o produto ou de tomar
distância, os quais são favorecidos em razão do conhecimento das características
aumento das vendas trans-fronteira entre os do serviço antes da celebração do
países membros e pelo advento da internet. contrato; que importa prever, salvo
Não obstante o Brasil não fazer parte dos disposição em contrário da presente
directiva, um direito de rescisão;
países membros da União Europeia, e nesse que é necessário limitar quaisquer
sentido, a inaplicabilidade interna da Diretiva custos suportados pelo consumidor
97/7/CE; o seu estudo deve ser realizado sob a para o exercício do direito de
ótica do Direito Comparado, ou seja, visando a rescisão aos custos directos de
compreensão das semelhanças e distinções do devolução do bem, dado que, caso
contrário, este seria um direito
tema entre o ordenamento jurídico interno e dos meramente formal; que este direito
demais Estados. de rescisão não prejudica os direitos
Os Estados-membros da União Europeia do consumidor previstos na
estão vinculados às normas legais disciplinadas legislação nacional, nomeadamente
pelas Diretivas da União Europeia. Trata-se de em matéria de recepção de produtos
e serviços deteriorados ou de
uma norma supranacional que prevalece e produtos e serviços que não
vincula o direito nacional de cada país membro. correspondem à descrição desses
As diretivas são fontes secundárias do produtos ou serviços; que compete
Direito Comunitário Europeu e vinculam os aos Estados-membros determinar
Estados-membros da União Europeia quanto as outras condições e modalidades
que resultem do exercício do direito
aos princípios ali previstos, devendo, as de rescisão.
instâncias nacionais, regulamentar sua norma Artigo 6º. Direito de rescisão. Em
interna de acordo com o previsto nas diretivas. qualquer contrato a distância, o
Sobre a aplicabilidade da diretiva, explica consumidor disporá de um prazo
MARTINS: de, pelo menos, sete dias úteis
para rescindir o contrato sem
A diretiva possui efeito direto e não pagamento de indenização e sem
aplicabilidade direta, pois somente indicação do motivo. As únicas

66
MARTINS, Eliane Maria Octaviano. Direito rtigos/Art_Eliane.htm>. Acesso em: 10 de outubro de
Comunitário: União Europeia e Mercosul. Disponível 2008.
67
em: Íntegra da diretiva no endereço eletrônico:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_57/a http://lanzoni.adv.br/lei%20com%E9rcio%20eletr%F4n
ico.pdf.

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despesas eventualmente a seu cargo mesmas regras de relações de consumo e


decorrentes do exercício do seu publicidade.
direito de rescisão serão as despesas
directas da devolução do bem.
Considerações Finais
A diretiva também alerta sobre as
A presente pesquisa, ao abordar o tema da
técnicas invasivas de publicidade e da
proposta, como elemento inicial de formação
necessidade de proteção dos dados pessoais e
dos contratos, se preocupa em distingui-la dos
da privacidade do consumidor, bem como
conceitos de oferta e publicidade.
justifica a inversão do ônus da prova para o
Nesse sentido temos que, para fins de
fornecedor em razão da hipossuficiência do
efeitos jurídicos, a proposta sob a ótica do
consumidor, que não possui a mesma perícia no
Direito Civil se diferencia da oferta e da
controle das novas tecnologias.
publicidade sob a ótica do Direito do
O anexo I da presente diretiva prevê que
Consumidor.
contrato a distância é todo aquele firmado sem
Se, para o Direito do Consumidor, a
a presença física e simultânea do consumidor e
oferta e a publicidade possuem como
do fornecedor, listando os seguintes meios: 1.
destinatários a coletividade; para o Direito
Impresso sem endereço; 2. Impresso com
Civil, a proposta assume características de
endereço; 3. Carta normalizada; 4. Publicidade
direito privado, pois é direcionada a um
impressa com nota de encomenda; 5. Catálogo;
indivíduo em particular.
6. Telefone com intervenção humana; 7.
Com base nessa principal diferença,
Telefone sem intervenção humana (aparelho de
temos que para o Direito do Consumidor, os
chamada automática, audiotexto); 8. Rádio; 9.
efeitos jurídicos da oferta e da publicidade são
Videofone (telefone com imagem; 10.
imediatos, a partir da sua veiculação e nesse
Videotexto (microcomputador, ecrã de
sentido, vinculam o fornecedor em todos os
televisão) com teclado ou ecrã táctil; 11.
seus termos. Já, a proposta, no Direito Civil,
Correio electrónico; 12. Telefax (telecópia);13.
apresenta efeito jurídico vinculatório somente
Televisão (telecompra, televenda).
após o recebimento da mesma pelo oblato;
O artigo 4º da diretiva 68 prevê que a
admitindo-se portanto, a retratação.
publicidade deva conter informações sobre a
Outrossim, o tema é analisado no
identidade do fornecedor, características
contexto de uma economia global e
essenciais do bem ou do serviço, preço,
informatizada; abordando, portanto a
despesas de entrega, modalidade de pagamento,
problemática da veiculação da proposta, da
entrega ou execução, prazo de validade da
oferta e da publicidade no meio eletrônico.
oferta e, quando se tratar de prestação de
Não obstante as peculiaridades do meio
serviços, a duração mínima do contrato.
eletrônico, e a ausência de uma regulamentação
Verifica-se, portanto, que nosso
nacional específica sobre a internet, concluímos
ordenamento pouco se diferencia do
que os negócios jurídicos realizados pela
ordenamento europeu, pois estabelece as

68
Artigo 4º. Informações prévias. 1. Em tempo útil e prestação de serviços de execução continuada ou
antes da celebração de qualquer contrato a distância, o periódica. 2. As informações referidas no nº 1, cujo
consumidor deve dispor das seguintes informações: a) objectivo comercial deve ser inequivocamente
Identidade do fornecedor e, no caso de contratos que explicitado, devem ser fornecidas de maneira clara e
exijam pagamento adiantado, respectivo endereço; b) compreensível por qualquer meio adaptado à técnica de
Características essenciais do bem ou do serviço; c) Preço comunicação a distância utilizada, respeitando,
do bem ou do serviço, incluindo impostos; d) Despesas designadamente, os princípios da lealdade em matéria de
de entrega, se existirem; e) Modalidades de pagamento, transacções comerciais e os princípios da protecção de
entrega ou execução; f) Existência do direito de rescisão, pessoas com incapacidade jurídica em virtude da
excepto nos casos referidos no nº 3 do artigo 6º; g) Custo legislação dos Estados-membros, como os menores. 3.
da utilização da técnica de comunicação a distância, Além disso, no caso das comunicações telefónicas, a
quando calculado com base numa tarifa que não seja a de identidade do fornecedor e o objectivo comercial da
base; h) Prazo de validade da oferta ou do preço; i) chamada devem ser explicitamente definidos no início de
Sempre que necessário, a duração mínima do contrato em qualquer contacto com o consumidor.
caso de contratos de fornecimento de produtos ou

Revista FMU Direito. São Paulo, ano 27, n. 39, p.48-72, 2013. ISSN: 2316-1515. 70
A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS: UMA ANÁLISE SOBRE A PROPOSTA E A PUBLICIDADE Cristina Cantú Prates

internet são válidos e pouco se diferenciam dos


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