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2019/2020

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

A formação dos contratos em Portugal e Inglaterra

Trabalho realizado no âmbito da cadeira de:

Direito Comparado

Docente: Miguel Câmara Machado

Discente: Madalena Vaz Bernardo nº 60858

Subturma 4TA

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Eu, Madalena Vaz Bernardo declaro que este trabalho foi feito exclusivamente por mim
e que qualquer opinião de outro(s) autor(es) está devidamente assinalado em formato
de citação. Declaro igualmente que cumpri com todas as regras científicas de autoria.

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Índice

Introdução ............................................................................................................... 4
Contrato................................................................................................................... 5
➢ O que é o contrato................................................................................................. 5
➢ Enquadramento e Origem Histórica ...................................................................... 6
A Formação do contrato em Portugal ....................................................................... 8
➢ Declarações............................................................................................................ 8
Declarações Expressas ou Tácitas ............................................................................. 8
Declarações Recipiendas e Não Recipiendas ............................................................ 9
➢ Proposta Contratual ............................................................................................ 10
Aceitação ou rejeição .............................................................................................. 11
➢ A Forma da Declaração........................................................................................ 12
Forma ad substantiam e ad probationem.............................................................. 12
A Formação do contrato em Inglaterra ................................................................... 14
➢ Oferta e Aceitação ............................................................................................... 15
➢ Consideração ....................................................................................................... 17
➢ Meeting of the Minds .......................................................................................... 17
➢ Capacidade .......................................................................................................... 18
➢ Legalidade/Forma ................................................................................................ 18
➢ Grelha Comparativa e Conclusão ..................................................................... 20
➢ Bibliografia ...................................................................................................... 22

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Introdução

Neste trabalho tenho como objetivo abordar o tema da formação dos contratos em
dois ordenamentos jurídicos distintos, o Português e o Inglês. Decidi tratar este tema,
primeiro porque direito privado é algo que me cativa, e depois porque no ano passado,
na cadeira de Teoria Geral do Direito Civil l, tratei “O Negócio Jurídico”, matéria pela
qual tive muito interesse, desejando então aprofundá-la mais com este trabalho.

Tal projeto irá consistir em perceber as diferenças e semelhanças que foram existindo
ao longo do tempo, ou que existem na doutrina, mas também na jurisprudência destes
dois sistemas jurídicos, tendo como objetivo, exatamente, fazer uma comparação entre
os dois ordenamentos, percebendo onde é que eles se aproximam e onde se distanciam.
Como o tema da formação dos contratos pode ser um objecto de estudo muito amplo,
irei focar-me, então, na parte das propostas, declarações e a sua forma, e, por
conseguinte, a sua aceitação, que tem como resultado, precisamente, o
contrato/negócio jurídico.

Irei começar por explicar o que é um contrato, seguindo-se de uma pequena origem
histórica, de onde veio e como se foi modificando, evoluindo e distanciando-se da sua
origem. Depois, com muito mais pormenor, irei analisar como se forma um contrato
primeiro no sistema jurídico português, e de seguida no inglês.

De forma a concluir o trabalho, irei fazer uma tabela comparativa entre os dois
ordenamentos, para perceber e dar a entender quais são as maiores diferenças, e
semelhanças entre os dois, ou seja, fazer uma análise comparativa.

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Contrato

➢ O que é o contrato

O contrato é um instrumento jurídico por excelência da circulação de bens e serviços,


assim como o da cooperação entre os agentes económicos para a consecução de
finalidades comuns1, sendo que dentro dos diferentes regimes jurídicos os elementos
constitutivos ou requisitos de existência, podem variar.

Os contratos pressupõem pessoas que os tenham celebrado e que sejam partes


deles, pessoas essas que podem ser coletivas ou singulares, e que são elas os seus
autores. Estas partes devem ter capacidade e legitimidade para celebrar o contrato, e
em tais contratos deve sempre existir um objeto, um “quid”, pelo qual as partes regem
sempre os seus interesses.

Como é de esperar, existem várias diferenças que separam os sistemas jurídicos


quanto a esta matéria. Nos sistemas jurídicos mais influenciados pela Pandectística-
como é o caso do alemão, e do português- estes elegem o negócio jurídico como objeto
da disciplina jurídica das distintas manifestações da autonomia privada, estando ela
inserida no Código Civil, outros sistemas- como o francês- preferem tratar apenas as
manifestações concretas da autonomia privada na vida social. Outros, como os sistemas
de Commum Law, limitam-se a disciplinar, na lei, certos contratos em especial,
reservando à jurisprudência, salvo exceções, a definição de regras gerais a que o
contrato obedece2.

1
Dário Moura Vicente, Direito Comparado vol ll, [2ª edição] página 38;
2
Dário Moura Vicente, Direito Comparado vol ll [2ª edição] páginas 37-38;
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➢ Enquadramento e Origem Histórica

Para os romanos, a ideia de negócio jurídico era estranha, não tinham nem uma
designação especifica para este, nem uma teórica, e por isso em termos de
jurisprudência clássica, tal é escassa. Conquanto, os romanistas, entre eles faziam
negócios, e no período clássico já teria sido alcançada uma ideia base de contrato,
proveniente do mútuo consenso, prestado pelas partes3. Tal conclusão pode retirar-se
das institutiones de Gaio, que apontam como fontes de obrigações, o contrato e o delito.
Depois mais tarde, no período justinianeu, o desaparecimento de várias categorias
clássicas facilitou o processo de generalização4.

A escolástica tardia, com influência de Grócio, reteve a doutrina de que a validade


dos atos depende da possibilidade de imputar ao seu autor; o que era o oposto do
racionalismo da reforma. Depois, mais tarde, Johannes Althusius retoma a ideia de
Hermann Vultejus, e distingue certos termos, que fazem com que tal doutrina seja
decisiva para se distinguir o contrato do negócio. O primeiro busca a sua jurídica
positividade, o consenso, enquanto o negócio mergulha na vontade do seu autor5, e a
partir deste instante o tema deixa as margens da filosofia e passa a ser da competência
dos juristas.

Momento mais decisivo para a generalização científica e pedagógica do negócio


jurídico foi a primeira Pandectística. Gustav Hugo explica o que é uma ocorrência, e
como esta determina as relações jurídicas. Thibaut acolhe os negócios jurídicos nas suas
Pandectae: atuações voluntárias destinadas à constituição de relações jurídicas
chamam-se negócios jurídicos6. É nesta altura que o negócio jurídico começa a funcionar
como um instrumento jurídico-científico. Pode se então afirmar que a raiz da moderna
ação de contratos como acordo de vontades vem do Direito Romano, pois
originalmente a formação de contratos em Roma estava denominada pelo formalismo.

3
Salvatore Riccobono, La formazione della teoria generale del contractus nel periodo della giurisprudenza
classica, (1930), 123-173;
4
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil II, [4ª edição] 27-29;
5
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil ll, [4ª edição] 31;
6
Ferdinand Mackeldey, Lehrbunch, 230-231;
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Os juristas, mais tarde, desenvolveram a categoria dos contratos consensuais , à qual


reconduziu a compra e venda, a locação, a sociedade e o mandato, cuja vontade
dependia apenas da existência de um acordo (consensos) entre as partes. Foi então esta
a noção de contrato que depois veio a ser acolhida nas codificações de Oitocentos.7

Com influências do BGB, o negócio jurídico foi recebido no sistema lusófono,


estando localizado no Livro III do Código Civil de Vaz Serra (1966), ocupando o núcleo na
parte geral, pois abrange dois terços dos preceitos relativos aos factos jurídicos 8. Como
o sistema português tem uma relação de parentesco com o romano-germânico, o
negócio preenche diversos aspetos relativos ao contrato: a sua formação, passando pela
interpretação, e pelas invalidades, caso as tenha.

7
Dário Moura Vicente, Direito Comparado vol 2, [2ª edição];
8
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil ll, [4ª edição] 32;
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A Formação do contrato em Portugal

➢ Declarações

O contrato assenta em declarações, uma ou mais, para depois o formar. A declaração


de vontade, é um pressuposto, dependente de uma opção humana comunicada para o
exterior9. O artigo 217º do Código Civil refere exatamente as declarações, mas este
artigo que as define é extremamente abstrato, uma vez que os negócios jurídicos têm
mais do que uma parte e por isso, mais do que uma declaração, sendo que o que importa
é a conjugação destas e não a declaração isolada.

Apesar de o Código Civil português não a definir, uma declaração negocial tem dois
elementos essenciais a vontade, e a comunicação, sendo que a mesma é:

✓ uma ação humana voluntária;


✓ uma exteriorização da vontade;
✓ um ato destinado a produzir certos efeitos.

No caso deste sistema jurídico, as declarações podem se distinguir em expressas ou


tácitas, e recipiendas ou não recipiendas.

Declarações Expressas ou Tácitas

De acordo com o artigo 217º nº1, a declaração é expressa quando seja feita por
palavras, escrito ou qualquer outro meio direto de manifestação de vontade; pelo
contrário, será tácita quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade a
revelem, sendo que em relação à última, esta veio a ser depois explicada no Supremo,
no acórdão de 5 de novembro de 1997, que afirmou que tais comportamentos devem
ser “significantes”, “positivos” e “inequívocos”10. A doutrina forma então duas teorias
para explicar a distinção entre declarações expressas e tácitas:

• Subjetiva→ a declaração é expressa quando é uma conduta destinada para


manifestar vontade, e é tácita quando deriva de uma atuação;

9
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil ll, [4º edição], 122;
10
STJ de 5 de novembro de 1997;
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• Objetiva→ a declaração é expressa quando atua de acordo com a lei e os usos ,


e a tácita quando os meios em contexto levam a tal sentido.

Declarações Recipiendas e Não Recipiendas

As declarações são recipienda ou não recipiendas se tiverem ou não um destinatário.


Normalmente as declarações que têm como objetivo um negócio contratual têm por
norma um destinatário, e por isso são recipiendas, contudo, como é de esperar, há
exceções, como por exemplo a oferta ao público que não tem destinatário, e por isso é
não recipienda.

As declarações recipiendas vêem a sua eficácia condicionada pela ligação particular


que visa estabelecer com o seu destinatário, sendo que o tipo de relacionamento exigido
tem sido equacionado com recurso a várias doutrinas11:

✓teoria da exteriorização- o negócio ficaria concluído quando a


vontade é manifestada;
✓teoria da expedição- a declaração ganha eficácia quando é
remetida, rumo o destinatário;
✓teoria da receção- a eficácia de uma declaração recipienda
dependerá se o destinatário a receber com efetividade;
✓teoria do acolhimento- os efeitos irão aparecer logo assim que
a declaração chegue a poder do remetente, mas este “poder”
não assegura que o destinatário dela tenha ou possa vir a ter
consciência;
✓teoria do conhecimento- a declaração tem eficácia quando o
destinatário tem efetivamente conhecimento desta.

11
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil ll, [4º edição], 142-143;
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➢ Proposta Contratual

Sabendo já o que é uma declaração, e quais as suas modalidades, pode-se, então,


agora, falar em proposta contratual. Uma proposta pode ser definida como a declaração
feita por uma das partes e que, uma vez aceite pela outra, dá lugar ao aparecimento de
um contrato. Tal a proposta deverá reunir três requisitos essenciais, para efetivamente
o ser, deve ser completa, firme e formal:

COMPLETA:

Completa pois→ deve abranger todos os pontos a integrar no futuro contrato: os


aspetos que devam ser precisados pelos contratantes (identidade das partes, objeto a
vender, preço), e aqueles que as partes podem moldar entre elas.

FIRME:

Firme pois→ deve revelar a intenção inequívoca de contratar, uma vez que a sua
simples aceitação dá lugar ao aparecimento do contrato.

FORMAL:

Formal pois→ deve revestir a forma requerida/adequada para o contrato.

Todos estes requisitos já enunciados para a propostas ser verdadeiramente uma


proposta contratual, são cumulativos, ou seja, caso falte qualquer um deles, não
estaremos perante uma proposta contratual, mas perante um convite a contratar
(declaração intermédia, entre a declaração e a proposta).

Emitida uma proposta contratual e tornando-se esta eficaz nos termos do artigo 224º,
pergunta-se por quanto tempo deverá ela manter-se. A duração desta pauta-se pelo
disposto no artigo 228º nº1 do Código Civil: pode ser fixado um prazo pelo próprio
proponente ou por acordo entre as partes; se não for fixado o prazo, pode o preponente
pedir resposta imediata, 228 nº1 b); e por último se nada for dito aplica-se o 228 nº c),
onde se tem de ter em conta o meio utilizado para transportar tal declaração.

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Aceitação ou rejeição

A aceitação é uma declaração recipienda, formulado pelo destinatário da proposta


contratual, cujo conteúdo exprima uma total concordância com o teor da declaração. A
aceitação deve assumir 3 características fundamentais: traduzir assentimento total e
inequívoco, tempestividade; tem de ser emitida dentro do tempo; e por fim, deve
revestir a forma exigida para o contrato. Da aceitação resulta o contrato.

A aceitação começa a produzir os seus efeitos quando proposta já não tenha eficácia,
artigo 229º:

• A aceitação foi expedida fora do tempo útil→ o proponente nada pode fazer,
o negócio não chega a surgir, se ambas as partes quiserem realizar o negócio
terão de fazer uma nova proposta;
• A aceitação foi expedida dentro do tempo útil→ o proponente deve avisar
o aceitante de que não chegou a concluir-se qualquer contrato se pretender
o contrato, basta-lhe considerar a aceitação como eficaz.

→Uma vez emitida a aceitação esta pode ser revogada nos termos do artigo 235º nº2.

→Perante uma proposta contratual o destinatário dispõe da alternativa de rejeitar,


que é um ato unilateral recipiendo pelo qual o destinatário recusa a proposta, é a
chamada rejeição de uma proposta.

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➢ A Forma da Declaração

Em Direito, diz-se forma da declaração ou do negócio o modo utilizado para


exteriorizar a vontade, desde que seja minimamente solene12. Neste sentido a lei pode
exigir uma forma especial, tratando-se de negócios formais, ou pode nada dizer à cerca
da forma, ficando ao critério das partes. Na generalidade dos sistemas contemporâneos,
sendo aquilo que acontece em Portugal, a eficácia dos contratos não esta sujeita a
observância de quaisquer formalidades: princípio da liberdade de forma, do
consensualismo, ou da consensualidade.

No sistema jurídico português existe, geralmente, o princípio da liberdade de forma,


consagrado no artigo 219º que diz que «A validade da declaração negocial não depende
da observância de forma especial, salvo quando a lei a exigir.». O porquê de a lei poder
exigir uma forma específica pode ser por motivos de solenidade (tornar o contrato mais
formal); reflexão (uma forma mais exigente determina que haja maior reflexão das
partes); e publicidade (facilita o conhecimento do negócio jurídico por terceiros, se a
ordem jurídica é “transparente”, o negócio jurídico também o deve ser). Ou seja, quando
a lei nada diz vale o princípio da liberdade de forma13.

Forma ad substantiam e ad probationem

A forma ad substantiam é aquela que é exigida pelo Direito, e é aquele que quando
não é respeitada gera a nulidade do contrato. Já a forma ad probationem requer-se
apenas para demonstrar a existência de negócio, quando tal declaração escrita não
existe, não se consegue provar que o negócio foi realizado. Para ajudar a fazer a
distinção entre estas duas possíveis formas, o artigo 364º auxilia: quando resulta
claramente da lei que uma certa forma é apenas, ad probationem, é possível
demonstrar o negócio atingido14 «… por confissão expressa, judicial ou extrajudicial,

12
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil ll, [4ª edição], 164;
13
Ana Prata, Código Civil Anotado, Vol I;
14
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil ll, [4ª edição], 168-169;
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contanto que, neste último caso, a confissão conste de documento de igual ou superior
valor probatório».

Quando não se respeita a forma no sistema jurídico português dá-se a nulidade dos
contratos por inobservância de prescrições de forma, pode ser invocada a todo o tempo,
artigo 286º, e pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal.15

Com efeito, da forma há que distinguir as formalidades: a forma não só dá corpo a


uma exteriorização da vontade, como a formalidade analisa-se em determinados
desempenhas que, embora não relevando em si, qualquer vontade, são exigidos para o
surgimento válido de certos negócios jurídicos16.

Concluindo, para se formar um contrato em Portugal, ter-se-á, primeiro de passar


pelas declarações, depois a proposta contratual, sendo que seguidamente esta deve ser
aceite, e só após de todos estes passos, que têm sempre de ir ao encontro da lei, é que
se dá a formação do contrato.

15
Dário Moura Vicente, Direito Comparado vol 2, [2ª edição];
16
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil ll, [4ª edição], 169;
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A Formação do contrato em Inglaterra

Como já foi referido, um contrato é um acordo formado por duas ou mais partes,
onde elas se prometem , expressamente ou implicitamente, a praticar, ou não,
determinados atos a pedido ou a benefício de outrem. 17.

No sistema Inglês, sob a teoria formalista do contrato, pode-se concluir que todo o
contrato deve ter seis elementos constitutivos:

✓ oferta;
✓ aceitação;
✓ consideração;
✓ meeting of the minds;
✓ capacidade;
✓ legalidade/forma.

Quanto ao objeto, nos sistemas de Common Law este apresenta contornos mais
difusos dado que o conceito de objeto contratual não se encontra autonomizado. Os
contratos que são «too indefinite» são ineficazes, mas consente-se com certa largueza
a indeterminação do valor das prestações das partes. Contudo, evidentemente que além
de determinável, o objeto do contrato tem de ser físico e juridicamente possível18.

De acordo com a doutrina de William Anson, um contrato encontra-se concluído


quando uma das partes faz a oferta, e a outra aceita-a definitivamente, e tal é o que
acontece na maioria dos contratos em Inglaterra.

17
Edward Jenks, The Book of English Law, 1928, [1ª Edição], 395-396;
18
Dário Moura Vicente, Direito Comparado vol 2, [2ª edição];
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➢ Oferta e Aceitação

Sir Guenter Treitel define oferta como “uma expressão de vontade de contratar sob
certos termos, feita com a intenção de que ela se torne vinculativa e assim que for aceita
pela pessoa a quem é dirigida”19. Uma oferta é uma declaração dos termos nos quais o
oferente está disposto a comprometer-se, onde existe uma intenção contratual de se
estar vinculado a um contrato com termos definidos e determinados comunicados ao
ofertado.20
Neste sistema, a oferta deve incluir os termos principais do contrato, caso contrário
não se poderá dizer que ela é a base de um contrato vinculativo, por exemplo, nos
contratos de compra e venda, uma oferta válida terá tratar pelos 4 termos: Data de
entrega da coisa; preço; data de pagamento; e a descrição detalhada do item em oferta.
Uma vez realizada a oferta por uma das partes, a outra poderá aceitá-la ou não. A
aceitação consiste numa promessa por parte do oferente, indicando uma disposição de
ficar vinculado pelos termos e condições contidos na oferta realizada por uma outra.
No sistema de Common Law, quando a declaração chega ao seu destinatário este
deve aceitá-la de forma a concluir o contrato, sendo que para a aceitar tem um certo
período fixado por aquele que fez a declaração ou pelas circunstâncias da declaração.
Até a declaração ser aceite, o declarante pode desistir da sua declaração a qualquer
momento desde que o declaratório ainda não a tenha aceitado21.
A razão pela qual o sistema de Common Law não impõe obrigações ao declarante,
tem o seu fundamento na doutrina da consideração: uma declaração só irá ter força
vinculativa quando esta está declarada num documento especial (deed), gerando nesse
caso uma obrigação. Como é raro uma declaração ser posta num deed, é rara aquela
que tem força vinculativa, ou seja, a regra geral é que o declarante, ao fazer a sua
proposta e apresentá-la ao declaratório, pode desistir desta enquanto este último ainda
nada disse em relação à mesma.

19
Treitel, GH. The Law of Contract (10th ed.). p. 8;
20
Retirado do site: https://en.wikipedia.org/wiki/Offer_and_acceptance#cite_note-1 , no dia 15/11/19
21
K. Zweigert e H.Kötz, An Introduction to Comparative Law [3ª Edição],
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Para realizar uma aceitação de acordo com o sistema, esta deve obedecer a pelo
menos dois requisitos:

✓ A aceitação deve ser comunicada;


✓ A oferta só pode ser aceite pelo seu destinatário;
Contudo estas regras gerais e básicas podem ser contrariadas, pode haver casos em
que elas não são aplicadas, como por exemplo, no caso Adms vs Lindsell (1818).

Adams v Lindsell (1818), é um caso sobre um contrato, sendo considerado o primeiro


caso de estabelecimento da "regra postal" para aceitação de uma oferta. Normalmente,
qualquer forma de aceitação deve ser comunicada expressamente ao oferente, como
foi referido em cima, no entanto, verificou-se que, quando uma carta de aceitação é
postada, uma oferta é aceita no “curso da postagem”. Foi o marco mais importante para
se definir a “regra postal”(é qualificada como sendo uma regra de conveniência, que
consiste em: quando a oferta é feita pelos correios, o contrato entrará em vigor a partir
do momento em que a aceitação foi lançada).

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➢ Consideração

Neste sistema de Commun Law, um conceito que dele faz parte é a consideração
(consideration), sendo um dos vários requisitos do contrato.

O primeiro caso onde as considerations foram definidas foi no caso Currie vs Misa,
onde o tribunal declarou que tal é um “direito, interesse, lucro, perda, ou
responsabilidade”, ou seja, uma consideração pode ser definida como uma promessa
de algo de valor dado por um promotor em troca de algo de valor por um prometido 22

Tal conceito, só é reconhecido como requisito nos sistemas de Commun Law, os


sistemas baseados no direito romano, como é o caso do português, não exige nem
reconhecem as considerações.

➢ Meeting of the Minds

Assim como no sistema jurídico português, no Inglês também tem de existir duas
partes ou mais no contrato, sendo que para chegar a um acordo deve haver um
consensus ad idem, ou como é dito em inglês “Meeting of the Minds”. Tal é considerado
um requisito em algumas jurisprudências para se formar um contrato, e consiste em
haver um entendimento comum entre as partes, que visam, entre elas, realizar um
contrato.

O raciocínio do Direito Inglês, é que só se formará um contrato se as partes o


quiserem plenamente, e tiverem consciência que este se pode formar.23 Tal teoria
acaba por ser desenvolvida mais tarde por William Anson, que veio estabelecer como
axioma, no seu estudo sobre Law of Contracts24

22
Retirado do site: https://en.wikipedia.org/wiki/Contract#Consideration ,no dia 17/11/2019
23
Retirado do site: https://en.wikipedia.org/wiki/Meeting_of_the_minds , no dia 16/11/19;
24
Edward Jenks, The Book of English Law, 1928, [1º Edição], 397;
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Este elemento não é considerado por todos como um elemento fundamental para se
dizer que existe deveras um contrato, depende da doutrina de cada jurisprudente,
conquanto, tal termo de consensus ad idem já foi em vários casos, como o de Adams vs
Lindsell (1818), um requisito para o contrato ser classificado como verdadeiramente um
contrato.

➢ Capacidade

Assim como acontece no ordenamento jurídico português, a capacidade para fazer


contratos é restrita, ou seja, não são todas as pessoas que podem realizar um contrato.
Por exemplo um menor não pode concretizar um contrato de compra e venda de um
imóvel, não tem capacidade jurídica para tal.
Ou seja, concluindo, e assim como em Portugal, em Inglaterra cada parte contratual
deve ser uma “pessoa competente” com capacidade legal, sendo que as partes podem
ser pessoas físicas, ou pessoas jurídicas.

➢ Legalidade/Forma

O sistema de Common Law da Inglaterra acolhe, também, o princípio de liberdade


de forma ainda que certos contratos possam ter de ser reduzidos a escrito ou objeto de
um deed.

A liberdade de forma justifica-se pela necessidade de assegurar a fluidez do tráfico


jurídico e de facilitar a circulação dos bens e dos serviços, e também porque os custos
dos contratos aumentam, e pode vezes uma escritura pública podia ser mais caro do
que o bem transacionado.

Nos sistemas de Commum Law a celebração de contratos por ato notarial é incomum,
salvo quando se destinem a ser invocados no estrageiro, e nestes casos existe um public
notary que se limita a autenticar o documento, não exerce qualquer função de controlo
da legalidade. Relativamente aos contratos gratuitos, estes sistemas jurídicos exigem a

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respetiva formalização em ordem a que possam ter-se como vinculativos. Essa


formalização pode ter lugar em Inglaterra através de um deed25.

Em vários países do continente europeu, quando a forma legal não é observado dá-
se a nulidade do contrato, uma sanção grave e que opera automaticamente, não produz
qualquer efeito. Já a solução nos sistemas de Commom Law, nos casos em que o
contrato não observe os requisitos de forma aplicáveis é tido como unenforceable, ou
seja, insuscetível de execução coativa, mas não como nulo, as prestações realizadas ao
abrigo desse contrato são, por conseguinte, irrepetíveis.

25
Dário Moura Vicente, Direito Comparado vol 2, [2ª edição];
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➢ Grelha Comparativa e Conclusão

Formação dos Contratos Portugal Inglaterra


Proposta/Oferta 3 requisitos formais 2 requisitos formais
Aceitação Firme e dentro dos prazos Firme e divergência
doutrinaria
Forma Princípio da Liberdade; Princípio da Liberdade;
Nulidade Unenforceable

De forma a concluir o trabalho irei realizar uma análise comparativa destes dois
ordenamentos jurídicos, o português e o inglês.

Como foi já referido, para se formar um contrato é necessário que existam duas ou
mais partes, onde uma delas faz uma oferta/proposta e depois a outra a/o aceita. O
processo de formação dos contratos nos dois sistemas passam ambos por uma
proposta, no caso português, e oferta no caso inglês, e a sua aceitação, tendo sempre
em conta a forma requisitada pela lei; e o que eu concluí com este trabalho, é que tanto
há as suas diferenças como semelhanças, mas penso que os ordenamentos mais se
aproximam do que distanciam.

Começando com as declarações, este é o primeiro passo, e os dois sistemas jurídicos


precisam dela para formar um contrato, contudo os requisitos destas variam. Enquanto
no sistema português, se fala numa proposta completa, firme, e formal, no sistema
inglês, a doutrina apensa refere que a oferta deve tratar dos termos principais do
contrato (preço coisa a vender, por exemplo), ou seja é muito mais abstrata no que toca
às declarações portuguesas, só que depois para se formar um contrato o sistema
português tem menos requisitos do que o inglês, por exemplo, as consideration, não
existem em nenhum sistema romano-germânico, só mesmo em sistemas de Commun
Law, já o meeting of the minds, apesar de não ser reconhecido como requisito no
sistema português, pode-se retirar a ideia de que é sempre necessário haver um
consenso entre as partes. Seguidamente às propostas, vem a aceitação, que em ambos
os sistemas funciona da mesma forma: traduzir assentimento total e inequívoco,

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tempestividade; tem de ser emitida dentro do tempo; e por fim caso a lei o exigi revestir
uma certa forma.

Para finalizar, tanto Inglaterra como Portugal rege-se pelo o principio da liberdade de
forma, ou seja, quando a lei nada diz à cerca desta pode-se celebrar o contrato por
qualquer uma, só que enquanto no sistema português a falta de forma leva à nulidade,
no sistema de Commun Law o negócio é tido como unenforceable, ou seja, não é nulo
mas é insuscetível de execução coativa.

Em suma, estes dois sistemas, apesar de não terem um passado histórico muito
comum, têm algumas semelhanças, só que por outro lado acabam também por se
distanciar, principalmente pois o negócio jurídico e o contrato são muito mais tratados
em Portugal, tendo um papel muito mais central, ocupado grande parte do código Civil
e nos sistemas de Commun Law, a doutrina foi e vai ditando as suas bases. A meu ver,
eu diria que ambos os ordenamentos têm como objetivo a segurança e confiança
jurídica, daí apesar de serem sistemas tão distintos, no que toca à formação dos
negócios até são semelhantes, têm uma “essência” muito parecida.

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➢ Bibliografia

✓ Direito Comparado volume ll, Dário Moura Vicente, 2ª Edição;


✓ Tratado do Direito Civil ll, Menezes Cordeiro, 4ª Edição;
✓ Código Civil Anotado volume ll, Ana Prata;
✓ The Book of the English Law, Edward Jenk, 1ª Edição;
✓ An Introduction to Comparative Law, K. Zweigert e H.Kötz, , 3ª Edição;
✓ https://en.wikipedia.org/wiki/Meeting_of_the_minds ;
✓ http://estadodedireito.com.br/88-semana-o-principio-do-consensualismo-nas-
relacoes-contratuais/ ;
✓ https://www.upcounsel.com/common-law-of-contracts .

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