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INTRODUÇÃO A TEORIA
GERAL DOS CONTRATOS
Noções gerais de contrato
APRESENTAÇÃO
É impossível viver sem os contratos. Na sua vida privada, você já parou para avaliar a
relevância dos contratos?
Quando você envia uma mensagem para um amigo ou parente por meio de um aplicativo do seu
celular, você está contratando; quando você utiliza a energia elétrica ou o serviço de
fornecimento de gás de sua residência para tomar um banho quente, está contratando; quando
necessita de um meio de transporte, seja ele ônibus, táxi, ou serviços de transporte via
aplicativo, está contratando; quando vai assistir a uma sessão de cinema, está contratando;
quando assiste a uma aula, está contratando; quando doa roupas que não usa mais para a
caridade, está contratando.
Isso tudo porque os contratos possibilitam a vida em sociedade. Os contratos permitem que
negócios sejam realizados, propiciam a circulação de riquezas e fornecem maior segurança de
que a vontade manifestada seja cumprida. Em razão da proeminência dessa figura jurídica no
meio social, faz-se necessário conhecer o instituto dos contratos com mais profundidade.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar as noções gerais dos contratos, incluindo seus
aspectos relevantes e seus elementos constitutivos, além dos princípios aplicáveis à disciplina
contratual.
Bons estudos.
DESAFIO
Relativamente à vontade de seu João: pode-se dizer que a vontade interna de seu João
correspondeu à vontade manifestada no instrumento contratual?
Relativamente à defesa de seu João: que dispositivos legais e princípios contratuais poderiam
ser invocados em defesa de seu João?
INFOGRÁFICO
Para que você compreenda melhor as noções gerais de contrato, é importante categorizá-lo
juridicamente. Sendo assim, é interessante apresentar simplificada e esquematicamente a teoria
do fato jurídico.
No Infográfico a seguir, você vai poder observar o enquadramento dos contratos e dos demais
fatos de relevância jurídica, assim como as suas peculiaridades.
CONTEÚDO DO LIVRO
O contrato é uma figura jurídica que evoluiu junto com o desenvolvimento enconômico e social.
De livre manifestação da vontade das partes, passou a ser um instrumento de proveito individual
e, sempre que possível, coletivo. A máxima de que o contrato deve ser lei entre as partes
encontrou nas grandes guerras, uma justificativa para o seu abrandamento e passou a ser
necessário um esforço doutrinário e jurisprudencial para dar conta dos casos disfuncionais de
contratação.
No capítulo Noções gerais de contrato, do livro Direito Civil III: teoria geral dos contratos,
base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai encontrar mais subsídios para embasar o
seu estudo sobre as noções gerais de contrato. No material, constam ensinamentos acerca da
importância dos negócios jurídicos contratuais, sobre os elementos essenciais e acidentais dos
negócios jurídicos (incluindo a escada ponteana), assim como uma compilação dos mais
relevantes princípios orientadores da disciplina contratual.
Bons estudos.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
Entendidas como os negócios em geral, as trocas realizadas entre os indi-
víduos são muito anteriores à regulamentação dos negócios pelo Direito,
uma vez que fazem parte da vida em sociedade e, consequentemente,
do desenvolvimento da civilização.
Com o passar dos séculos, esses negócios tornaram-se cada vez mais
diversos e complexos. De meros escambos e contratos sem qualquer
expressão escrita, a figura do contrato evoluiu para formas contratuais de
clausulado extenso e sofisticado. Da mesma maneira, para acompanhar
a dinâmica socioeconômica, os contratos desenvolvidos paritariamente
pelas partes pouco a pouco cederam lugar aos contratos de massa,
destinados a contratantes despersonalizados. Esses contratos eram desen-
volvidos por meio de instrumentos em que o aceitante não dispunha de
qualquer grau de liberdade ou poder para deliberar acerca das cláusulas
contratuais, de modo que apenas aderia aos termos predeterminados
pelo proponente se assim fosse a sua vontade. Caso contrário, desistia
da negociação sem a possibilidade de formular uma contraproposta.
Frente a esse novo cenário, o Direito precisou adaptar a sua concepção
tradicional de contrato às modificações trazidas pela contemporaneidade
para regular as relações negociais entre as partes, evitar a supremacia dos
interesses de um contratante sobre o outro e consolidar princípios com
vistas a guiar o bom andamento das trocas.
2 Noções gerais de contrato
micas, depreendemos que não existe contrato sem conteúdo patrimonial, dada
a concepção clássica de contrato, sendo necessário que ele crie, modifique ou
extinga uma relação jurídica de natureza econômica.
Além dessas, existem outras definições que compreendem o contrato como
inevitável e inafastável, configurando-se como uma figura jurídica de grande
relevância. Mediante a inclusão dos princípios jurídicos que regem a figura
dos contratos, podemos definir o contrato como um “[...] negócio jurídico por
meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social
e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem
atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2008b, p. 11). Em sentido análogo, contrato é:
Negócio jurídico bilateral, por meio do qual as partes, visando a atingir de-
terminados interesses patrimoniais, convergem as suas vontades, criando um
dever jurídico principal (de dar, fazer ou não fazer) e, bem assim, deveres
jurídicos anexos, decorrentes da boa-fé objetiva e do superior princípio da
função social (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b, p. 14).
Não podemos confundir o contrato com o meio pelo qual ele foi realizado.
Instrumento contratual — meio pelo qual o contrato é firmado. É o documento
composto por cláusulas contratuais que contém o conteúdo do negócio.
Preâmbulo: é a parte introdutória e contém a qualificação das partes, a descrição
do objeto, a forma de cumprimento, assim como as razões e as justificativas para
a existência do contrato.
Contexto: é o conjunto das cláusulas contratuais.
Será lícito e legítimo o contrato que respeitar o ordenamento jurídico na sua totali-
dade, ou seja, tanto os elementos exigidos pela lei quanto os princípios que validam
o seu conteúdo (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b).
[...] ideia que reflete o máximo de subjetivismo que a ordem legal oferece: a
palavra individual, enunciada na conformidade da lei, encerra uma centelha de
criação, tão forte e tão profunda, que não comporta retratação, e tão imperiosa
que, depois de adquirir vida, nem o Estado mesmo, a não ser excepcionalmente,
pode intervir, com o propósito de mudar o curso de seus efeitos.
As relações jurídicas contratuais já não podem ser vistas apenas sob o prisma dos
princípios da força obrigatória e da autonomia da vontade, pois exigem uma análise
sistêmica, isto é, no contexto das demais normas jurídicas, atentando aos impactos que
os contratos acarretam a terceiros ou à coletividade. Assim, um grande empreendimento
imobiliário pode causar repercussões drásticas no meio ambiente, grandes indústrias
podem estar explorando em demasia o trabalho dos seus contratados, o que os leva à
exaustão, a aquisição de ofensivos agrícolas e a sua utilização, assim como a construção
de fossas e cemitérios, podem poluir lençóis freáticos, o que representa prejuízo coletivo.
Quando alguém em uma situação de perigo conhecida pela outra parte emite
declaração de vontade contratual para salvar a si ou a alguém próximo de
morte ou grave lesão (dano), de forma a assumir obrigação excessivamente
onerosa. Segundo o art. 156 do Código Civil (BRASIL, 2002), o estado de
Noções gerais de contrato 15
Art. 113 do Código Civil: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, as-
sim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Caso dos plantadores de tomates: a empresa Cica distribuía sementes aos agricultores
gaúchos, o que gerava a expectativa de compra da futura safra sem que qualquer
contrato fosse celebrado. Os agricultores, que confiavam na empresa, investiram na
produção dos tomates e plantaram as sementes recebidas, uma vez que em outras
ocasiões a Cica havia comprado a safra decorrente das sementes doadas. Contudo,
em dado momento a empresa optou por não comprar mais a safra desses pequenos
agricultores. Frente a isso, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul responsabilizou
a empresa pelas expectativas geradas, como segue:
Caso dos casacos de pele: na Alemanha, a dona de uma loja encomendou 120
casacos de pele de uma confecção. Os casacos foram confeccionados e entregues à loja
mediante o pagamento do preço acertado. Depois de finalizada essa relação jurídica,
a mesma confecção vendeu a mesma quantidade de casacos idênticos à loja vizinha,
agindo de forma desleal e em prejuízo das duas lojas. A primeira compradora conseguiu
uma reparação pela deslealdade post factum finitum (pós-contratual) (AZEVEDO, 2000).
BRASIL. Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis
do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Quinta Câmara Cível. Apelação Cível
nº. 591028295 RS. Relator: Ruy Rosado de Aguiar Júnior. TJRS, Porto Alegre, 6 jun. 1991a.
Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5424380/apelacao-civel-
-ac-591028295-rs-tjrs>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Terceiro grupo de Câmaras Cíveis.
Embargos Infringentes nº. 591083357 RS. Relator: Juiz Adalberto Libório barros. TJRS,
Porto Alegre, 1 nov. 1991b. Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurispruden-
cia/5441553/embargos-infringentes-ei-591083357-rs-tjrs>. Acesso em: 6 ago. 2018.
COOTER, R.; ULEN, T. Direito e economia. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: parte geral. 10. ed.
São Paulo: Saraiva, 2008a. v. 1.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: contratos. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008b. v. 4.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v. 3.
LÔBO, P. Direito Civil: contratos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MARTINS-COSTA, J. A boa-fé no Direito Privado: sistema e tópica no processo obrigacional.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. 1.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 3.
ROPPO, E. O contrato. Coimbra: Almedina, 2009.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie.12. ed. São
Paulo: Forense, 2017. v. 3.
Leituras recomendadas
PENTEADO, L. C. Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium.
THESIS São Paulo, v. 8, p. 39-70, 2007. Disponível em: <http://www.cantareira.br/thesis2/
ed_8/3_luciano.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2018.
22 Noções gerais de contrato
Em uma relação contratual, estarão envolvidos muitos aspectos de interesse das partes, como os
motivos que levaram a contratar, o escopo ou causa do contrato, os quais podem, ou não, ser
juridicamente relevantes.
No estudo dos aspectos mais significativos das relações contratuais, várias teorias foram criadas.
Inicialmente, a vontade interna foi tomada como o elemento de maior relevância em uma
negociação. Contudo, percebeu-se que essa vontade, quando não manifestada, não daria ensejo
aos negócios, necessitando que os contratantes declarassem com clareza seu intento negocial.
Neste vídeo, você vai estudar algumas das mais relevantes teorias explicativas dos negócios
jurídicos — a teoria da vontade, a teoria da declaração e a teoria da confiança.
EXERCÍCIOS
1) No que diz respeito à natureza jurídica dos contratos, é correto o que se afirma em:
B) Os contratos podem ser categorizados como atos jurídicos negociais, humanos, volitivos e
lícitos.
C) São atos jurídicos em sentido estrito, pois as partes podem escolher os efeitos, mas estarão
limitadas aos dispositivos legais.
E) O objeto ilícito.
B) o pacta sunt servanda determina que os contratos são apenas relativos às partes, e não a
terceiros.
C) a autonomia privada corresponde à manifestação da vontade, independentemente dos
limites jurídicos e éticos.
D) nos contratos por adesão, em geral, a liberdade de contratar existe, porém, a liberdade
contratual resta muito prejudicada para o aderente ou aceitante do negócio.
A) o princípio da função social do contrato preocupa-se tão somente com o interesse social,
de modo que os negócios jurídicos realizados por particulares não venham a prejudicar a
coletividade.
C) a função social em seu aspecto intrínseco impõe que o contrato colabore com o
desenvolvimento social.
E) a função social, em seu aspecto extrínseco, atenta aos impactos que o contrato propicia
socialmente, evitando prejuízos a terceiros ou à coletividade.
A) Corresponde ao caráter psicológico do sujeito que age isento de malícia, ou seja, age bem-
intencionado, assim como corresponde à suposição de estar agindo em conformidade com
o Direito.
C) A função da boa-fé como criadora de deveres jurídicos anexos, faz com que o juiz deva
analisar e priorizar as situações fundadas na boa-fé dos contratantes, buscando na norma
de conduta o sentido moralmente mais recomendável e socialmente mais proveitoso, de
modo a resolver os casos concretos.
D) A boa-fé subjetiva é considerada com uma cláusula geral, ou seja, meio legislativamente
hábil para permitir o ingresso de princípios de natureza, em regra, constitucionais, de
padrões ou standards, de máximas de conduta, de modelos de comportamento, no
ordenamento das relações privadas, facilitando a sua aplicação no ordenamento jurídico.
NA PRÁTICA
O art. 422 do Código Civil determina que: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.
Pode ser concluído que a boa-fé objetiva deve pautar a conduta das partes apenas após a
conclusão do negócio jurídico contratual e durante a sua execução. Contudo, há entendimento
consolidado de que a boa-fé é norma de conduta a ser seguida durante todo o processo
contratual, desde as tratativas até depois do cumprimento do contrato (III Jornada de Direito
Civil — Enunciado 170: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de
negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da
natureza do contrato).
Neste Na prática, você vai aprender como as instâncias superiores aplicam um dos mais
importantes consectários do princípio da boa-fé objetiva, o nemo potest venire contra factum
proprium, ou seja, a proibição do comportamento contraditório pelos partícipes da relação
contratual.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Leia o seguinte artigo do professor Antônio Junqueira de Azevedo sobre a boa-fé nos contratos.
Leia o breve artigo do professor Miguel Reale, o qual esclarece o papel da função social dos
contratos no Código Civil de 2002.
No artigo a seguir você vai ver que o princípio da boa-fé é apresentado pelo Novo Código Civil
como um dos princípios norteadores, e vem sendo concretizado nas jurisprudências devido à sua
magnitude e extensão, não sendo mais visto como um simples princípio norteador.
APRESENTAÇÃO
Sua vida está cercada de contratos. Você contrata para assistir a programas e séries, para enviar
mensagens de seu smartphone, para se deslocar de um local para outro por meio do serviço de
transporte de terceiros, para realizar consultas médicas, etc. Cada contrato firmado tem
peculiaridades que repercutirão nos efeitos jurídicos que emanarão desse contrato, assim
como na tutela jurídica aplicável em caso de descumprimento. Deste modo, é de extrema
importância saber diferenciar as classes de contratos que podem ser entabulados pelas partes.
Bons estudos.
DESAFIO
Alguns contratos têm como característica o fato de apenas uma das partes ter obrigações a
cumprir. Entretanto, existem situações em que encargos podem ser exigidos. Observe uma
situação hipotética, acerca da classificação dos contratos.
Para se certificar de que suas condições seriam respeitadas, Dr. Ivo consultou você para saber
quais providências seriam cabíveis na legalização dessa situação. No papel de advogado do Dr.
Ivo, como você responderia as seguintes perguntas:
INFOGRÁFICO
Existem muitas formas de classificar os contratos. Essa grande variedade, por vezes, pode gerar
alguma confusão. Neste Infográfico, você vai ter uma visão da classificação adotada nesta
Unidade de Aprendizagem.
CONTEÚDO DO LIVRO
No capítulo Formas de classificação dos contratos, da obra Direito Civil III: teoria geral dos
contratos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a classificação dos
contratos, compreendendo as peculiaridades contratuais e suas consequências jurídicas,
assim como observar como os tribunais utilizam a classificação contratual para fundamentar as
suas decisões.
Boa leitura.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
O Direito é uno. A divisão por ramos — como Direito Penal, Constitucional
e Civil — é uma forma de facilitar, didaticamente, a compreensão do
fenômeno jurídico. No Direito dos Contratos, realiza-se a mesma técnica,
seccionando o estudo contratual pela sua natureza jurídica, definição,
características e classificação.
Considerando que os contratos são instrumentos de suma relevância
social, econômica e, por conseguinte, jurídica, a sua análise pormeno-
rizada é fundamental. O estudo da classificação dos contratos permite
desvendar peculiaridades desses instrumentos negociais que repercutirão
nos seus efeitos. Em outras palavras, as peculiaridades de cada contrato
servirão de guia para a avaliação da sua validade e eficácia.
Neste capítulo, você vai ler sobre a classificação dos contratos, conhe-
cer as formas de classificação e verificar como os tribunais se posicionam
acerca do tema para resolver as questões concretas.
Quanto ao tempo
Como ensina Pereira (2017), todo contrato é negócio jurídico bilateral, visto
que a sua constituição requer a manifestação de vontade das partes para
a formação do consenso. Essa categorização dos contratos como negócios
jurídicos bilaterais é diversa da classificação dos contratos como unilaterais,
bilaterais ou plurilaterais.
Assim, a bilateralidade dos negócios jurídicos contratuais é seu elemento
constitutivo — sem ela, não há contrato. Entretanto, os contratos, cuja natureza
jurídica é de negócios jurídicos bilaterais podem ser classificados segundo
a forma como a prestação foi acordada pelas partes ou segundo os efeitos
obrigacionais ajustados, como unilaterais, bilaterais ou plurilaterais.
[...] quando o contrato estabelecer apenas uma “via de mão única”, com as
partes em posição estática de credor e devedor, pelo fato de se estabelecer
uma prestação pecuniária apenas para uma das partes, como na doação sim-
ples, falar-se-á em contrato unilateral (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2010, p. 112).
comodato;
mútuo;
depósito;
Classificação dos contratos 5
mandato;
doação;
fiança.
contrato de sociedade;
contratos de consórcio;
contrato de condomínio.
Os contratos onerosos são aqueles que trazem vantagens para ambos os con-
tratantes, pois ambos sofrem o mencionado sacrifício patrimonial (ideia de
proveito alcançado). Ambas as partes assumem deveres obrigacionais, havendo
um direito subjetivo de exigi-lo. Há uma prestação e uma contraprestação.
A onerosidade da prestação de uma das partes não poderá ser excessiva, sob
pena de enriquecimento sem causa da outra parte. Não há responsabilidade por
vícios redibitórios ou evicção nos contratos gratuitos, somente nos onerosos,
consoante arts. 441 e 447 do Código Civil (BRASIL, 2002).
A maioria dos contratos unilaterais é gratuita, mas há exceções. No con-
trato de mútuo feneratício, mais conhecido como contrato de empréstimo
bancário, embora seja um contrato unilateral (obrigação de restituir o valor
emprestado apenas para o mutuário), o contratante deverá pagar juros, que
representam a onerosidade contratual, pela vantagem que obteve em utilizar
o dinheiro alheio pelo período contratado (TARTUCE, 2017). Portanto, é
exemplo de um contrato unilateral e oneroso.
A interpretação dos contratos gratuitos será sempre mais restritiva do que
a dos onerosos, isso porque diz respeito a uma liberalidade, conferindo maior
proteção ao contratante que agiu por generosidade, gratuitamente.
troca;
compra e venda de coisa certa;
locação.
contratos de seguro;
contrato de esperança ou de safra;
jogo (máquina de pegar bichinhos de pelúcia, entre outros);
aposta (loteria, entre outros).
Não caberá a rescisão contratual por lesão, nem mesmo ação redibitória,
nos contratos classificados como aleatórios. Ademais, a resolução ou revisão
por onerosidade excessiva apenas caberá nos casos em que o evento superve-
niente, imprevisível e extraordinário não se relacionar com o risco assumido
contratualmente (PEREIRA, 2017).
A compra e a venda, embora sejam geralmente um contrato comutativo,
podem configurar contrato aleatório, como nos seguintes exemplos:
Contratos evolutivos
civis;
consumeristas;
comerciais;
administrativos;
trabalhistas.
12 Classificação dos contratos
locação;
compra e venda;
mandato.
Reais — são reais os contratos que só se aperfeiçoam com a entrega da coisa que
constitui seu objeto, pois apenas o consentimento das partes não basta para o
contrato estar constituído. A entrega da coisa (tradição), nos contratos reais, é consi-
derada requisito de existência (VENOSA apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2010), portanto, enquanto não tiver sido entregue o bem, haverá no máximo uma
promessa de contratar. Significa dizer que, ao contratar um empréstimo bancário
(contrato de mútuo feneratício), o correntista não será considerado devedor antes
Classificação dos contratos 13
que o valor do empréstimo esteja em sua conta corrente; ou, se o sujeito contratar
um comodato, antes de sair da biblioteca com a posse do livro. São exemplos:
comodato;
mútuo;
depósito;
penhor.
Típicos — são aqueles que têm previsibilidade legal, ou seja, aqueles regulados pelo
Direito Positivo. São os contratos dispostos pela legislação em vigor. São exemplos:
compra e venda;
doação;
locação;
depósito;
seguro;
comodato;
mútuo.
14 Classificação dos contratos
Atípicos — são aqueles não regulados em lei, como, por exemplo, os contratos
de hospedagem, factoring e leasing, entre tantos outros. Atípico é um contrato
não disciplinado pelo ordenamento jurídico, embora lícito, pelo fato de restar
sujeito às normas gerais do contrato e não contrariar a lei, os bons costumes
ou os princípios gerais do Direito.
Igualmente aos contratos típicos, os contratos atípicos devem seguir as
disposições normativas dos arts. 421 e 422 do Código Civil (BRASIL, 2002,
documento on-line):
prestação de serviços;
empreitada;
corretagem.
Classificação dos contratos 17
hipoteca;
fiança;
penhor.
Preliminares (ou pactum de contrahendo) — são aqueles que têm por finalidade
a celebração de um contrato definitivo. Um exemplo é a promessa de compra e
venda — por meio dessa promessa, as partes comprometem-se a realizar o contrato
definitivo de compra e venda que irá transferir a propriedade do bem.
Definitivos — aqueles que atingem o objetivo negocial das partes, sem ne-
cessidade de outro que os complemente.
BRASIL. Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de justiça. Terceira Turma. Recurso Especial nº. 1.518.604/SP
(2013/0096653-6). Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Diário de Justiça Eletrônica,
Brasília, DF, 29 mar. 2016. Disponível em: <http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:superior.
tribunal.justica;turma.3:acordao;resp:2016-03-15;1518604-1523991>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de justiça. Terceira Turma. Recurso Especial nº. 1.548.189/SP
(2014/0173222-3). Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Diário de Justiça Eletrônica,
Brasília, DF, 6 set. 2017. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/496381992/
recurso-especial-resp-1548189-sp-2014-0173222-3/inteiro-teor-496381994>. Acesso em:
20 ago. 2018.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo Extraordinário com Agravo nº. 720643/RS. Pri-
meira Turma. Relator Ministro Luiz Fux. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, DF, 11 jun. 2013.
Disponível em: <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23365508/agreg-no-recurso-
-extraordinario-com-agravo-are-720643-rs-stf/inteiro-teor-111695903?ref=juris-tabs>. Acesso
em: 20 ago. 2108.
COOTER, R.; ULEN, T. Direito e economia. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: contratos. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v. 4.
GIRARDI, L. J. Curso elementar de Direito romano. Porto Alegre: Livraria Acadêmica, 1984.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2010. v. 3.
LÔBO, P. Direito Civil: contratos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2011
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 3.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie.12. ed. São Paulo:
Editora Forense, 2017. v. 3.
Leituras recomendadas
ALMEIDA, C. F. Contratos: conceito, fontes e formação. 5. ed. Coimbra: Edições Almedina,
2014. v. 1.
ROPPO, E. O contrato. Coimbra: Edições Almedina, 2009.
SILVA, C. V. C. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Você sabe diferenciar a categoria dos negócios jurídicos bilaterais da classificação dos contratos
como bilaterais? No estudo da classificação dos contratos é muito comum confundir algumas
categorias.
Nesta Dica do Professor, você vai poder examinar tanto os negócios jurídicos bilaterais quanto
os contratos bilaterais, compreendendo essas noções distintas.
EXERCÍCIOS
A) Os contratos onerosos são aqueles em que apenas uma das partes auferirá benefícios; a
outra, apenas os ônus.
E) os contratos onerosos são sempre unilaterais, pois os ônus são impostos apenas para um
dos contratantes.
3) Quanto aos contratos considerados de forma autônoma, ou seja, sem relações com
outros contratos, marque a alternativa correta.
A) Quanto à forma, os contratos são qualificados de acordo com o microssistema jurídico que
fazem parte, como, por exemplo, em contratos civis, consumeristas, comerciais, etc.
C) A exceção de contrato não cumprido pode ser invocada nos contratos unilaterais.
D) Serão formais, ou solenes, aqueles contratos cuja validade depende de forma estabelecida
em lei.
B) os contratos preliminares são aqueles que atingem o objetivo negocial das partes, sem
necessidade de outro que o complemente.
D) os contratos principais são aqueles que têm por finalidade a celebração de um contrato
definitivo. Exemplo: promessa de compra e venda.
E) os contratos definitivos são aqueles que se cumprem por meio de atos reiterados, como o
contrato de locação e o contrato de trabalho.
A) Nos contratos de execução continuada, a prestação de uma das partes não ocorre de pronto,
ocorre a termo. O contrato não se renova, mas sua execução é atrasada, como no caso da
compra e venda para pagamento em 30 dias.
NA PRÁTICA
Neste Na prática, você vai ver exemplos bem simplificados dos contratos instantâneos, de
execução diferida e de execução continuada, com base na doutrina de Caio Mario da Silva
Pereira, assim como na de Paulo Lôbo.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Leia mais sobre a classificação dos contratos no seguinte artigo, de autoria de Carlos Alberto
Bittar Filho.
Para saber mais sobre alguns contratos de trato sucessivo que, em virtude de sua essencialidade,
devem ser tratados de modo peculiar pelas partes e interpretados pelos julgadores levando-se em
conta o princípio da dignidade da pessoa humana, leia o seguinte artigo, de autoria de Arthur
Pinheiro Basan.
APRESENTAÇÃO
Os negócios jurídicos não se formam sem a vontade das pessoas. Essa vontade, inicialmente
interna, subjetiva, é a propulsora do contratar. Todavia, essa vontade não tem, em geral, como
ser apreendida e adequadamente tutelada pelo Direito. Assim, o mundo jurídico, normalmente,
preocupa-se com a vontade declarada, aquela objetiva, externada pelas partes de modo a chegar
em um consenso e concluir o negócio desejado. Por outro lado, mesmo que externalizem a sua
vontade, raramente as partes conseguirão exprimir, por meio dos contratos, todas as
eventualidades que poderão fazer parte do seu processo negocial. Além disso, não raro, será
necessário que se valham de ferramentas para interpretar ou complementar as disposições
contratuais por elas firmadas.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará sobre a formação dos contratos e as ferramentas
capazes de auxiliar as partes e os juízes na interpretação e integração contratual.
Bons estudos.
DESAFIO
Clara e José são vizinhos, ela é costureira; ele, serralheiro. Recentemente, Clara sofreu uma
tentativa de assalto em sua residência e, por isso, procura por alguém que realize os serviços de
serralheria. Seu José, sabendo do ocorrido, ao encontrar com Clara, no mercadinho do bairro,
coloca-se à disposição dela para realizar os serviços de serralheria, dizendo-lhe que o ideal,
nesses casos, seria colocar grades por toda a entrada de sua propriedade, e que seu serviço
custaria R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Após ouvir José, Clara apenas agradeceu sua
disponibilidade e voltou para sua residência pensando sobre a proposta do vizinho.
Dias depois, José bate à porta de Clara com todo o seu material, informando-lhe que começaria
o serviço no ato:
Você, como advogado de Clara, como poderia auxiliá-la nessa questão? A proposta de José foi
séria, concreta, a ponto de vinculá-lo? Foi celebrado contrato entre os vizinhos?
INFOGRÁFICO
Os contratos são firmados muito rapidamente, dessa forma, nem sempre é possível perceber o
seu processo de formação. Todavia, faz-se importante compreender que até a celebração do
contrato, muitos atos podem ser praticados e, mesmo que não configurem a conclusão deste,
podem repercutir na relação entre as partes, inclusive em situações excepcionais, gerando o
dever de reparar.
Entretanto, nem todos os contratos apresentarão essas fases tão bem delimitadas. Para
comprovar isso, você pode refletir acerca de um contrato de compra e venda de um livro pela
internet, por exemplo, em que um clique já configura sua aceitação e o vincula ao pagamento do
preço pelo bem desejado.
Já nos contratos mais complexos, principalmente naqueles cujo objeto são bens de maior valor,
dificilmente as partes se obrigam sem antes negociar, tirar suas dúvidas e comparar
preços com mais atenção e cuidado. Nesse tipo de contrato, calha compreender quando as partes
efetivamente estarão vinculadas, de modo a evitar conflitos e problemas futuros.
Para evitar controvérsias, faz-se necessário que o conteúdo do contrato expresse o interesse real
das partes, que seja claro e que não induza os contratantes ao erro, pois, do contrário, será
preciso um esforço de interpretação do conteúdo contratual ou de integração de lacunas
contratuais.
No capítulo Formação, interpretação e integração, da obra Direito Civil III: teoria geral dos
contratos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai examinar a formação, a
interpretação e a integração dos contratos.
Boa leitura.
DIREITO CIVIL
III: TEORIA
GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
Os negócios jurídicos não se formam sem a vontade das pessoas. Essa
vontade, inicialmente interna, subjetiva, é a propulsora do contratar.
Todavia, essa vontade não tem, em geral, como ser apreendida e adequa-
damente tutelada pelo Direito. Assim, o mundo jurídico, normalmente,
preocupa-se com a vontade declarada, aquela objetiva, externada pelas
partes de modo a chegar em um consenso e concluir o negócio desejado.
Por outro lado, mesmo que externalizem a sua vontade, raramente as
partes conseguirão exprimir, por meio dos contratos, todas as vicissitudes
ou eventualidades que poderão fazer parte do seu processo negocial.
Além disso, não raro, será necessário que se valham de ferramentas para
interpretar ou complementar as disposições contratuais por elas firmadas.
Neste capítulo, você vai ler sobre a formação dos contratos e as fer-
ramentas capazes de auxiliar as partes e os juízes na interpretação e
integração contratual.
O professor Clóvis do Couto e Silva (2007), na obra A obrigação como processo, assevera
que a obrigação não pode ser compreendida apenas como um vínculo jurídico que
une credor e devedor por meio de prestações de dar, fazer ou não fazer, mas que a
relação obrigacional é algo que se encadeia, que se desdobra em direção à satisfação
dos interesses do credor, logo, em direção ao adimplemento. Considerando que os
contratos são a fonte mais notória das obrigações, nada mais coerente do que examiná-
-los por esse prisma, isto é, compreendê-los como um processo.
422 do Código Civil: “Art. 422 Os contratantes são obrigados a guardar, assim
na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade
e boa-fé” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Significa, assim, que, em todas as fases de formação do contrato, as partes
deverão pautar sua conduta conforme a boa-fé objetivamente considerada.
Feitas essas explicações, passamos para as fases da formação do contrato.
A fase de negociações preliminares não vincula as partes a uma relação jurídica — ainda
não há nem a proposta, nem a conclusão do contrato.
A pessoa presente é aquela que mantém contato direto e simultâneo com a outra — caso
em que o aceitante toma ciência da oferta quase instantaneamente — como a comuni-
cação realizada por um chat (sala virtual de comunicação), Skype, telefone, entre outros.
A pessoa ausente é aquela que não mantém contato direto nem imediato com a outra
— há, assim, um decurso de tempo, um lapso, entre a proposta, a ciência e a resposta do
aceitante — como a comunicação realizada por cartas, telegrama, e-mail, entre outros.
Aceitação e oblação
É a fase de formação ou de conclusão do contrato, ou seja, quando se dá a
celebração do contrato. Em razão da sua relevância, a fase da aceitação será
analisada em tópico específico.
Formação, interpretação e integração dos contratos 7
Aceitação
Como o próprio nome indica, a aceitação é a fase em que o oblato, aceitante
ou policitado responde afirmativamente à proposta de contratar.
No momento em que o oblato aceitar a proposta, o contrato é perfectibili-
zado. A aceitação poderá se dar de forma expressa ou tácita, como dispõe o
art. 432 do Código Civil: “Art. 432 Se o negócio for daqueles em que não seja
costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-
-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Será expressa, assim como na proposta, quando declarada pelo aceitante
por meio de gestos, palavra escrita ou sinais. Será tácita quando da conduta
do aceitante se puder concluir pela aceitação. Por exemplo, quando, embora
não tenha expressamente se manifestado, o aceitante envia o bem objeto da
compra e venda.
A aceitação, quando realizada fora do prazo ou com alterações na pro-
posta, configurará contraproposta, que necessitará de aceitação, agora, da
outra parte. Nesse sentido: “Art. 431 A aceitação fora do prazo, com adições,
restrições, ou modificações, importará nova proposta” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Outrossim, para que o aceitante consiga voltar atrás em sua aceita-
ção, deverá fazê-lo antes ou concomitantemente à aceitação, sob pena
de vincular-se ao negócio jurídico, como expressa o art. 433 do Código
Civil: “Art. 433 Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou
com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Ainda, a boa-fé objetiva deverá pautar a conduta das partes em todas as
fases da formação do contrato (bem como após sua conclusão). O art. 430 do
Código Civil corrobora essa afirmação (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2008), impondo o dever de informar ao proponente, como segue: “Art. 430
Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento
do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de
responder por perdas e danos” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Significa que, caso a aceitação, por motivos alheios à vontade das partes,
venha a ser recebida fora do prazo, é dever do proponente comunicar o aceitante
para não ser responsabilizado.
8 Formação, interpretação e integração dos contratos
Tempo da aceitação
Quando presentes as partes, não há dificuldades de determinar o momento da
aceitação, pois ela se dará no momento da resposta do aceitante. Entretanto,
estando ausentes as partes, não é tarefa tão singela determinar esse momento.
O art. 434 do Código Civil dispõe sobre o momento da aceitação, isto é,
pode-se considerar concluído o contrato quando as partes não se encontram
presentes. Segue transcrição:
Art. 434 Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação
é expedida, exceto:
I — no caso do artigo antecedente;
II — se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III — se ela não chegar no prazo convencionado. (BRASIL, 2002, documento
on-line).
Lugar da aceitação
Sobre o lugar da formação dos contratos, o Código Civil, de modo mais
simplificado, dispõe que: “Art. 435 Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar
em que foi proposto” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Diante disso, o contrato entre presentes é considerado formado no local em
que as partes se encontram (policitante e policitado). Por sua vez, o contrato
entre ausentes ou no qual as partes estejam distantes fisicamente (chat, por
exemplo) é considerado formado no local da realização da proposta — segundo
a regra do art. 435 do Código Civil — considerando não haver disposição
expressa das partes em outro sentido (PEREIRA, 2017).
O local de formação do contrato tem relevância para a determinação da
jurisdição competente e até mesmo para a fixação da lei aplicável, no caso
dos contratos internacionais. Nesse sentido, determina o § 2º do art. 9º da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB): “Art. 9º [...] § 2º A
obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir
o proponente” (BRASIL, 1942, documento on-line).
Integração
Integrar um contrato é preencher as suas lacunas e os pontos omissos (GON-
ÇALVES, 2010). Para tanto, serão utilizadas normas supletivas, aquelas que
terão lugar na ausência de deliberação das partes acerca de determinado tema
(lugar da contratação, o momento da conclusão do contrato entre ausentes,
entre outros). As normas supletivas podem ser tanto as regras contidas nas leis
(Código Civil, CDC, entre outros) quanto os princípios que regem os negócios
jurídicos, como a boa-fé objetiva, a função social, os usos e costumes. Segundo
Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 62), a integração:
Interpretação
Interpretar um negócio jurídico é “[...] precisar o sentido e alcance do conteúdo
da declaração de vontade” (GONÇALVES, 2010, p. 62). A interpretação tem
como escopo apurar a real vontade das partes, “[...] não a verdade psicológica,
mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas que nascem da sua declaração”
(GONÇALVES, 2010, p. 62).
Formação, interpretação e integração dos contratos 13
[...] o que tem de procurar o hermeneuta é a vontade das partes. Mas como
exprime pela declaração, viajará através dela, até atingir aquela [...] A segurança
social aconselha que o intérprete não despreze a manifestação de vontade ou
vontade declarada, e procure, já que o contrato resulta do consentimento,
qual terá sido a intenção comum dos contratantes, trabalho que nem por ser
difícil pode ser olvidado (PEREIRA, 2017, p. 45).
Com relação à interpretação, ainda sobre o art. 112 do Código Civil, im-
portante mencionar que esse dispositivo exprime o que se entende por regra
de caráter subjetivo ou regra relativa à manifestação de vontade, posto que
busca a compreensão adequada do que aparenta ser a vontade dos contra-
14 Formação, interpretação e integração dos contratos
Dentre as fases de formação do contrato, a fase das tratativas é aquela em que as partes ainda
não concluíram o vínculo contratual, apenas estão realizando sondagens e pesquisas, no intuito
de contratar. Sendo assim, o rompimento das tratativas não gera prejuízo para qualquer uma das
partes.
Na Dica do Professor a seguir, você vai examinar em que situações a fase das tratativas pode
gerar o dever de reparar os danos.
EXERCÍCIOS
D) trata-se da fase de tratativas negociais, nas quais as partes trocam minutas, refletem e
pesquisam, sem que tenham celebrado o negócio jurídico contratual.
2)
As fases de formação dos contratos resumem-se em: fase da puntuação, da proposta e
da aceitação. Sobre a formação de contratos, assinale a alternativa correta.
A) A fase da puntuação é a fase em que o policitante recebe a resposta do oblato que aceita
contratar.
B) A fase da puntuação, em geral, não vincula as partes, mas, excepcionalmente, poderá dar
origem à responsabilidade civil pelos danos oriundos da quebra de expectativas legítimas.
B) considera-se ausente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação
semelhante.
C) não vinculará o proponente à proposta se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a
resposta dentro do prazo dado.
E) pessoa presente é aquela que contrata por e-mail, telegrama, carta e outros meios
semelhantes.
B) O artigo 114 do Código Civil é considerado como uma regra de interpretação subjetiva.
C) A integração serve para o hermeneuta tentar alcançar a intenção das partes contratantes.
NA PRÁTICA
Todas as fases da formação do contrato dependem da manifestação das vontades das partes,
assim como do instrumento, por meio do qual essa vontade será declarada.
Nem sempre é possível expressar a legítima vontade das partes pelo vernáculo, o qual pode dar
margem a dúvidas e acabar gerando conflito entre os contratantes. Igualmente, será impossível,
pelas partes, prever todos os eventos que poderão repercutir na sua intenção de celebrar o
contrato, bem como na forma de sua conclusão e execução.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
APRESENTAÇÃO
Na sociedade de consumo, a aquisição de bens ocorre de modo extremamente rápido, até mesmo
instantâneo, a ponto de você sequer perceber que está realizando um negócio jurídico. O
processo de contratar, diariamente, impulsiona economias, desenvolve as sociedades e faz
circular as riquezas. O contrato mais célebre para o direito civil e o mais relevante para as
trocas, em um mercado capitalista, é o de compra e venda.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a compra e a venda no ordenamento jurídico
brasileiro, examinar os seus elementos constitutivos e os efeitos da contratação e, por fim,
conhecer a promessa de contratar (o compromisso de compra e venda).
Bons estudos.
DESAFIO
Em razão de ser um contrato, a compra e a venda necessitam do consenso entre as partes no que
tange ao preço e ao bem objeto a ser negociado. As partes também podem estipular que o
contrato estará condicionado a evento futuro e incerto, assim como que o contrato somente
será executado após o decurso de um prazo ou um termo.
Agora, você vai avaliar se todos os tipos de condições são válidos no negócio jurídico
de compra e venda.
INFOGRÁFICO
Você sabe como são processadas a compra e a venda de um bem? Sabe quais são os efeitos
obrigacionais que elas geram para as partes?
No Infográfico a seguir, você vai examinar os aspectos gerais da estrutura e os efeitos da compra
e da venda.
CONTEÚDO DO LIVRO
O mercado é impulsionado por trocas e compra e venda de produtos, tanto pelas pessoas
físicas quanto pelas pessoas jurídicas, por meio de particulares e do próprio Estado, o que
torna indiscutível, portanto, a relevância da modalidade contratual da compra e da venda para
instrumentar, dar segurança e elevar o nível de cooperação das partes no ato da contratação.
No capítulo Compra e venda, da obra Direito Civil III: teoria geral dos contratos, você vai
entender como o contrato de compra e venda é formado, ver quais são os seus elementos e os
seus efeitos e, ainda, conhecer o compromisso de compra e venda.
Boa leitura.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
Dos contratos tipificados no Código Civil, a compra e a venda são os
mais importantes, pois é por meio da troca de bens por dinheiro que se
movimenta a riqueza em sociedade.
Historicamente, com o desenvolvimento do comércio, junto da cria-
ção da moeda, nasceu uma forma de negociar bens diferente do mero
escambo, que nem sempre era adequado e eficiente, pela dificuldade
da equivalência dos bens envolvidos. Percebeu-se, assim, que eleger um
elemento ou coisa que pudesse representar o valor dos bens disponíveis
para comércio auxiliaria, inclusive, a negociar com outros povos e expandir
os negócios. Por consequência, o uso da moeda fez surgir a espécie de
contrato, em que o dinheiro (ou instrumentos que o representem, como
um cheque) propicia a aquisição de bens pelos sujeitos.
Contemporaneamente, com maior desenvolvimento econômico e
social, os contratos de compra e venda passaram a ter uma prevalência
e relevância ímpares no mercado de consumo, uma vez que as suas
características se ajustam perfeitamente à massificação dos negócios
(contratos instantâneos, que podem, inclusive, ser realizados por meio
eletrônico).
Neste capítulo, você vai ler sobre os aspectos principais do contrato
de compra e venda, seus elementos essenciais e seus efeitos, bem como
vai analisar a promessa de compra e venda e a legislação sobre o tema.
2 Compra e venda
O contrato translativo não é sinônimo de contrato real. Um contrato pode ser real e
não ser translativo de propriedade, como o comodato. Para ser translativo (que muda
ou transfere o domínio), o contrato tem de objetivar a modificação da titularidade de
uma coisa, como no caso da compra e venda ou da troca ou permuta, por exemplo.
A compra e a venda concluem-se pelo consenso das partes, haja vista ser contrato
consensual e não real — a entrega da coisa, na compra e venda, não é parte da
conclusão do contrato, mas da sua execução, do seu cumprimento (GONÇALVES, 2008).
Compra e venda 5
Causal — é ligado à causa que o gerou e poderá ser invalidado caso o seu
motivo determinante seja inexistente (coação absoluta), imoral ou ilícito (com-
pra apartamento para ponto de tráfico, exploração sexual) (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2008).
consentimento;
objeto da compra e venda;
preço.
6 Compra e venda
Consentimento
Art. 497 Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em
hasta pública:
I — pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens con-
fiados à sua guarda ou administração;
II — pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa
jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou
indireta;
Compra e venda 7
Art. 504 Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a
estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem
não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para
si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias,
sob pena de decadência.
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias
de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes
forem iguais, haverão a parte vendida os comproprietários, que a quiserem,
depositando previamente o preço (BRASIL, 2002, documento on-line).
Sobre essa vedação, o disposto no art. 504 do Código Civil não se aplica
ao que chamamos de condomínio edilício. O proprietário de um apartamento
poderá dispor de seu bem, propriedade exclusiva, sem a limitação do art. 504
do Código Civil.
Coisa ou objeto
O bem objeto do contrato de compra e venda deve ser coisa passível de cir-
culação no comércio (lícita, possível física e juridicamente), coisa certa e
determinada ou determinável. Ademais, o bem deverá ser de propriedade do
vendedor ou, ao menos, estar regularmente em sua posse.
O objeto da compra e venda deve possuir algumas características específicas:
Preço
de vícios ocultos da coisa que a tornem imprópria para uso ou diminuam seu
valor (art. 441 do Código Civil) (BRASIL, 2002).
Evicção — de acordo com o art. 447 do Código Civil: “Art. 447 Nos contratos
onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que
a aquisição se tenha realizado em hasta pública” (BRASIL, 2002, documento
on-line).
A evicção é a perda, pelo adquirente, chamado de evicto, da posse ou
propriedade da coisa transferida, por força de uma sentença judicial ou ato
administrativo que reconheceu o direito anterior de terceiro, chamado de
evictor. Impõe-se, assim, ao alienante garantir o uso da coisa, protegendo
do adquirente de vícios ocultos da coisa, inclusive os vícios jurídicos (GON-
ÇALVES, 2008). Depreende-se do art. 447 do Código Civil que o objetivo
da evicção é resguardar o adquirente de uma eventual compra e venda a non
domino, ou seja, de coisa não pertencente ao alienante.
Outros efeitos
A seguir, serão apresentados outros efeitos das despesas e dos riscos gerados
pela compra e venda.
Despesas
Res perit domino ou res perit domino suo — a coisa perece para o dono! De
acordo com o art. 492 do Código Civil:
Art. 492 Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do
vendedor, e os do preço por conta do comprador.
§ 1º Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou as-
sinalar coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou
assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador, correrão
por conta deste.
§ 2º Correrão também por conta do comprador os riscos das referidas coisas,
se estiver em mora de as receber, quando postas à sua disposição no tempo,
lugar e pelo modo ajustados (BRASIL, 2002, documento on-line).
A venda ad corpus (art. 500, § 3º, do Código Civil) é aquela venda por referência mera-
mente enunciativa (sem descrição), na qual o que interessa é o imóvel em si (o prédio
da Empresa X, a fazenda Dona Marieta, entre outros). Na venda ad corpus, a coisa é certa
e determinada, independentemente de sua extensão, ou dimensão, pois a medida, a
metragem, é meramente enunciativa.
Já a venda ad mensuram (art. 500 do Código Civil) é aquela por medida de extensão,
isto é, uma venda especificada, oficialmente certa e segura (a medida é detalhadamente
apresentada), na qual o que interessa ao comprador é a real dimensão do bem. O
objetivo do adquirente é a coisa de determinada dimensão, tamanho, comprimento,
para satisfazer sua finalidade ou interesse. Por exemplo, necessita de X hectares de
terra para o plantio de soja. Nesse caso, portanto, se a área do imóvel não corresponder
às dimensões dadas, o comprador terá direito de exigir o complemento da área e,
não sendo isso possível, de reclamar a resolução do contrato ou pedir o abatimento
proporcional do preço (BRASIL, 2002; GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008).
Forma — como se depreende dos arts. 1.417 e 462 do Código Civil, a forma
do compromisso de compra e venda poderá ser pública ou particular. Segundo
o art. 462 do Código Civil: “Art. 462 O contrato preliminar, exceto quanto à
forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado”
(BRASIL, 2002, documento on-line).
BRASIL. Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 23 ago. 2018.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: contratos. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008. v. 4.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v. 3.
LÔBO, P. Direito Civil: contratos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 3.
Leituras recomendadas
SILVA, C. V. C. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 12. ed. São
Paulo: Forense, 2017. v. 3.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Na Dica do Professor a seguir, você vai examinar as cláusulas de venda a contento e venda
sujeita à prova.
EXERCÍCIOS
B) Não podem ser comprados, ainda que em hasta pública, os bens ou os direitos sobre que se
litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem juízes, secretários de
tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, ou lugar a
que se estender a sua autoridade.
E) Somente poderão ser comprados em hasta pública, pelos tutores, curadores, testamenteiros
e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração.
4)
Quais são as características específicas do objeto da compra e da venda?
E) Individuação e determinabilidade.
E) Gera uma obrigação de fazer (fazer o contrato definitivo de compra e venda), não tendo,
dentre os seus efeitos, a transmissão da propriedade do imóvel.
NA PRÁTICA
Veja na prática como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manifesta-se sobre as questões que
envolvem os contratos de compra e venda.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Leia mais informações sobre o contrato de compromisso de compra e venda no artigo a seguir,
de autoria de Eroulths Cortiano Junior.
Leia o artigo a seguir, de autoria de André Guerra, para saber mais informações sobre as
cláusulas especiais de compra e venda.
APRESENTAÇÃO
As obrigações contratualmente pactuadas podem dizer respeito a uma obrigação principal, como
a de entrega, do preço na compra e na venda, a de restituir o bem objeto no comodato, mas
poderão se configurar, também, como obrigações de garantia, aquelas que visam a eliminar ou a
reduzir os riscos do inadimplemento que pesam sobre o credor.
A garantia de uma obrigação pode recair sobre uma coisa ou sobre uma pessoa, um terceiro que
aceite assumir o papel de garantidor da dívida de outrem.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar a garantia pessoal, ou fidejussória, da fiança
e terá uma visão geral do instituto sob enfoque doutrinário e jurisprudencial.
Bons estudos.
DESAFIO
O contrato de fiança, como obrigação de garantia, tem por característica ser acessório e
subsidiário. Todavia, há liberdade para as partes realizarem alterações nessas características com
o intuito de reforçar ou dinamizar o cumprimento da obrigação em benefício do credor.
Neste Infográfico, você irá vislumbrar algumass possíveis conformações do contrato de fiança.
CONTEÚDO DO LIVRO
Não raro, nos contratos de maior vulto ou naqueles cuja obrigação perdurará por longo período e
em que a situação patrimonial das partes poderá sofrer alterações, exige-se, além da conclusão
do contrato, outros instrumentos que visam a dar maior garantia do cumprimento contratual ao
credor.
No capítulo Fiança, do Livro Direito Civil III: Teoria Geral dos Contratos, você
examinará detalhadamente o contrato de fiança, que corresponde a uma garantia fidejussória.
Estudará seus aspectos gerais (conceito, partes, natureza jurídica, características, requisitos),
assim como os efeitos da fiança para os sujeitos envolvidos e o posicionamento da
jurisprudência sobre o tema.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL
DOS CONTRATOS
Introdução
No contexto das trocas, em razão de as partes contratantes nem sem-
pre conseguirem, apenas pelo uso do contrato principal, a garantia do
cumprimento da obrigação, é necessário utilizar outros instrumentos
que servirão de salvaguarda a eventual inadimplemento. Esse resguardo
ao cumprimento do negócio jurídico pode ser alcançado por meio de
contratos de caução ou de garantia.
Neste capítulo, você vai ler sobre a fiança, examinando as suas no-
ções gerais e os seus efeitos, bem como a jurisprudência dos tribunais
superiores sobre esse contrato.
Conceito
O art. 818 do Código Civil dispõe sobre o contrato de fiança: “Art. 818 Pelo con-
trato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida
pelo devedor, caso este não a cumpra” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Embora o foco deste capítulo seja a fiança convencional, tratada pelo art.
818 do Código Civil, a fiança poderá estar expressa em lei, a chamada fiança
legal, assim como poderá ser imposta judicialmente a chamada fiança judicial
(PEREIRA, 2018).
Segundo Gonçalves (2010, p. 554), a fiança é “[...] o contrato pelo qual uma
pessoa se obriga a pagar ao credor o que a este deve um terceiro. Alguém
estranho à relação obrigacional originária, chamado de fiador, obriga-se
perante o credor, garantindo com o seu patrimônio a satisfação do crédito
deste, caso não o solva o credor”.
Partes
Pode parecer, em um primeiro momento, que o contrato de fiança se opera entre
o devedor da obrigação principal e o fiador, garantidor dessa obrigação, mas o
contrato de fiança ocorre, verdadeiramente, entre o credor da obrigação principal
e o fiador dessa obrigação. Corrobora essa afirmação o art. 820 do Código Civil,
que determina que a fiança, sendo contrato firmado entre credor e fiador, pode
ser prestada, inclusive, sem o consentimento ou, mesmo, contra a vontade do
devedor: “Art. 820 Pode-se estipular a fiança, ainda que sem consentimento do
devedor ou contra a sua vontade” (BRASIL, 2002, documento on-line).
A fiança tem natureza jurídica de negócio jurídico bilateral, pois é contrato, com a
peculiaridade de ser um negócio jurídico acessório e subsidiário.
Características
Segundo Gonçalves (2010) e Pereira (2017), as características da fiança são:
Requisitos da fiança
Partindo da ideia de que o contrato de fiança é realizado entre o fiador e o credor,
cumpre apresentar os requisitos subjetivos, objetivos e formais necessários à
realização do contrato.
Subjetivos
Quanto aos sujeitos ou às partes, há alguns requisitos a serem observados.
Inicialmente, a capacidade civil. A capacidade para prestar fiança é a mesma
Fiança 5
exigida para contratar. O sujeito tem de ser capaz e poder dispor, livremente,
dos seus bens. Exceto nos casamentos cujo regime seja o da separação absoluta
de bens, nenhum dos cônjuges poderá prestar fiança sem o consentimento do
outro (art. 1.647, III, do Código Civil) (BRASIL, 2002). Vale ainda mencionar
o art. 820 do Código Civil: “Art. 820 Pode-se estipular a fiança, ainda que
sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Embora não seja normal a contratação de fiança sem o consentimento ou
contra a vontade do devedor, pois, em regra, é o próprio devedor que apre-
senta o fiador ao credor, nada impede que o contrato seja realizado sem o seu
conhecimento. Assim, o contrato de fiança entabulado entre credor e fiador
resulta em uma garantia baseada na confiança do cumprimento da obrigação
— que ao fim e ao cabo é a razão de existir a fiança e, além disso, em nada
prejudica o devedor principal.
No intuito de proteger o credor, assiste-lhe o direito de recusar fiadores que
não apresentem idoneidade ou patrimônio compatível com a obrigação a ser
garantida. Ademais, o art. 826 do Código Civil determina: “Art. 826 O fiador
se tornar insolvente ou incapaz, poderá o credor exigir que seja substituído”.
Essa exigência, por lógico, será cabível nos casos em que a fiança tenha
sido estipulada com a ciência e concordância do devedor (BRASIL, 2002). Há
a possibilidade de se estipular mais de um fiador para a mesma dívida, que
serão todos cofiadores, ou ainda de se estipular um fiador do fiador, chamado
de abonador no direito português. Nessa situação, o fiador do fiador garantirá
o cumprimento da obrigação quando nem o devedor principal, nem o primeiro
fiador designado conseguirem cumprir a obrigação (GONÇALVES, 2010).
Objetivos
A fiança pode ser prestada em qualquer espécie de obrigação (dar, fazer ou
não fazer), contudo, sua eficácia ficará condicionada à validade da obrigação
principal. Assim, se nula a obrigação principal, nula será a fiança; se inexigível
a obrigação principal, inexigível será a fiança. A fiança poderá ter como objeto,
inclusive, assegurar dívida futura, mas sua exigibilidade ficará na dependência
de a dívida tornar-se certa e líquida (PEREIRA, 2017).
Como mencionado, não tendo sido a garantia prestada especificamente até
determinado valor e data, a fiança compreenderá todos os acessórios da dívida
principal, incluindo despesas judiciais, desde a citação do fiador, consoante
art. 822 do Código Civil (BRASIL, 2002).
6 Fiança
Formais
Em virtude de se tratar de contrato unilateral e gratuito, a fiança não admitirá
interpretações extensivas quanto à sua prestação e sua extensão, quão menos
poderá ser verbal. O art. 819 do Código Civil corrobora com o afirmado
quando diz: “Art. 819 A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação
extensiva” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Por outro lado, não exige solenidade para sua realização, podendo originar-
-se de contrato paritário ou, mesmo, de contrato firmado por adesão.
Não devemos confundir fiança com aval. A fiança é contrato cabível nas mais variadas
obrigações. O aval é garantia típica dos títulos de crédito. O aval também configura
garantia pessoal, mas não é contrato, é declaração unilateral, instituto do direito cam-
biário. A responsabilidade do avalista é sempre solidária.
A fiança é contrato, é garantia pessoal ampla compatível com qualquer espécie
de obrigação (convencional, legal e judicial). A responsabilidade do fiador pode, ou
não, ser solidária, mas, em regra, respeita o benefício de ordem (primeiro, busca-se
o cumprimento pelo devedor principal, somente depois, pelo fiador) (GONÇALVES,
2010; PEREIRA, 2017).
Efeitos da fiança
Quando aceita prestar fiança, o fiador assume o compromisso de cumprir a
obrigação, caso o devedor não o faça. Embora a relação contratual se concretize
entre fiador e credor, os efeitos da fiança vão além da relação entre essas partes
e atingem também o devedor. Inicialmente, cumpre apresentar os efeitos da
fiança nas relações entre fiador e credor, para depois apresentar os efeitos da
fiança entre fiador e devedor, como segue.
Art. 827 O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir,
até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor.
Parágrafo único. O fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere
este artigo, deve nomear bens do devedor, sitos no mesmo município, livres
e desembargados, quantos bastem para solver o débito (BRASIL, 2002, do-
cumento on-line).
Art. 831 O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado nos di-
reitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela
respectiva quota.
Parágrafo único. A parte do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros
(BRASIL, 2002, documento on-line).
Extinção da fiança
A fiança se extingue como o cumprimento da obrigação principal (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2008, p. 620-621):
Fiança na jurisprudência
Para enriquecer o conhecimento sobre o tema, é apropriado colacionar a forma
como os tribunais superiores tratam dos temas tangentes ao contrato de fiança.
Como esse intuito, apresentaremos alguns julgados que fazem relação com
as noções apresentadas neste capítulo.
10 Fiança
Art. 1.647 Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode,
sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
[...]
III — prestar fiança ou aval (BRASIL, 2002, documento on-line);
BRASIL. Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 28 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre as locações dos imóveis
urbanos e os procedimentos a elas pertinentes. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21
out. 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8245.htm>.
Acesso em: 28 ago. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. Agravo Interno no Agravo em
recurso especial nº. 1252047/SP, Relator Ministro Luis Felipe Salomão. Diário da Justiça
Eletrônico, Brasília, DF, 23 abr. 2018b. Disponível em: <http://portaljustica.com.br/acor-
dao/2112211>. Acesso em: 28 ago. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. Agravo Interno no Agravo em
recurso especial nº. 1564430/DF, Relator Ministro Antônio Carlos Ferreira. Diário da
Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 25 abr. 2018c. Disponível em: <http://www.portaljustica.
com.br/acordao/2112199>. Acesso em: 28 ago. 2018.
14 Fiança
Leitura recomendada
LÔBO, P. Direito Civil: contratos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
As garantias pessoais são aquelas em que uma pessoa se compromete a adimplir uma obrigação
de outrem. Essas garantias podem ser constituídas por meio de contratos, bem como por
declarações de vontade autônomas, como as utilizadas corriqueiramente no direito cambiário.
Nesta Dica do Professor, você irá examinar as semelhanças e diferenças entre as garantias
pessoais da fiança e do aval.
EXERCÍCIOS
A) é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a pagar ao devedor o que a este deve em razão
de um contrato.
2) A fiança tem como característica ser um contrato acessório, o que significa dizer que
pressupõe a existência de um contrato principal. No que concerne às demais
características do contrato de fiança, assinale a alternativa correta.
A) É contrato formal e solene, pois necessita ser manifestado por escrito.
A) Segundo o artigo 1.647, III, CC, salvo nos casamentos cujo regime seja o da separação
absoluta de bens, nenhum dos cônjuges poderá prestar fiança sem o consentimento do
outro.
C) Quando houver nomeação de mais de um fiador para uma mesma dívida, segundo o artigo
829, CC, cada um dos fiadores responderá, apenas, pela sua cota parte.
E) Segundo 819, CC, a fiança, quando realizada por escrito, admite interpretação extensiva.
A) o benefício da divisão permite que o fiador demandado pelo pagamento da dívida exija, até
a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor.
C) o fiador pode opor ao credor somente as exceções extintivas da obrigação que competem
ao devedor principal.
B) A fiança prestada por cônjuge, casado em regime de comunhão universal de bens, sem a
outorga conjugal, não gera invalidade passível de anulação da garantia.
D) A dação em pagamento, que consiste no credor aceitar como pagamento do devedor objeto
diverso do pactuado na obrigação principal, não desobriga o fiador.
Neste Na prática, você vai examinar a legislação que permite que o fiador tenha seu único bem
de moradia penhorado para adimplir dívidas oriundas do contrato de locação.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Leia mais sobre as diferenças entre o aval e o contrato de fiança no artigo Distinção entre aval e
fiança e os paradigmas relacionados ao novo Código Civil, de autoria de Renato Amoedo
Rodrigues.
O aval
Sobre os aspectos gerais do aval, leia o artigo O aval, de autoria de Rogério Tadeu Romano.
Para compreender melhor as características do aval, leia O aval nos títulos de crédito, de autoria
de Leonardo Gomes de Aquino.
APRESENTAÇÃO
O estudo a respeito do tema transporte é muito importante. Isso porque, diariamente, de uma
forma ou de outra, você é conduzido por algum meio de transporte, e a relação que se estabelece
entre o transportador e aquele que é transportado ou entre aquele e alguém que o contrata para
transportar determinado objeto gera vários tipos de responsabilidades, seja na esfera cível, seja
na esfera criminal.
A realização do contrato de seguro torna-se, assim, uma prevenção ou uma garantia de que
prováveis danos serão pelo menos amenizados no caso de ocorrência de acidentes ou até mesmo
mortes.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ter acesso às regras legais sobre o transporte de
pessoas e coisas, entender a doutrina e as decisões judiciais a respeito do tema, compreender a
definição de seguro, cosseguro, resseguro e retrocessão e, ainda, diferenciar seguro de dano de
seguro de pessoa.
Bons estudos.
DESAFIO
Marcos de Souza ofereceu carona à amiga dele, Maria da Silva, sem qualquer custo. Durante o
trajeto, Marcos, com muita pressa para chegar ao destino, acelerou e atingiu uma velocidade
muito alta, acima do permitido, até que, em certo momento, invadiu uma via preferencial e
colidiu com outro veículo. Em razão do acidente, a amiga dele sofreu graves lesões, tendo que
ficar vários dias internada e arcar com os custos da internação hospitalar.
Diante do exposto, você, como advogado, foi procurado por Maria da Silva para verificar as
medidas judiciais cabíveis para ressarcir os danos suportados por ela.
3. Qual é o tipo de relação jurídica que Marcos estabeleceu com Maria: contratual ou
extracontratual?
4. Que lei e artigo de lei poderiam ser utilizado para solucionar essa questão?
INFOGRÁFICO
No Infográfico a seguir, você vai verificar que seguro de dano e seguro de pessoa não são a
mesma coisa.
O seguro de dano serve para garantir a indenização em razão de danos que uma coisa ou um
bem móvel ou imóvel pode sofrer. Já o seguro de pessoa serve para garantir a indenização em
razão de danos que a própria vida ou a integridade física do segurado pode sofrer.
Confira.
CONTEÚDO DO LIVRO
Com relação ao seguro, ao cosseguro, ao resseguro e à retrocessão, além das diferenças entre
seguro de dano e seguro de vida, também é fundamental analisar as regras contidas no Código
Civil brasileiro e os entendimentos da doutrina e da jurisprudência.
No capítulo Transporte e seguro, do livro Direito Civil III: teoria geral dos contratos, você vai
entender melhor como funciona cada um desses institutos jurídicos.
Boa leitura.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL
DOS CONTRATOS
Eduardo Augusto de
Souza Massarutti
Transporte e seguro
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Diariamente, de uma forma ou de outra, nós somos conduzidos por algum
meio de transporte. A relação que se estabelece entre o transportador e
o transportado ou entre o transportador e alguém que o contrata para
transportar determinado objeto gera vários tipos de responsabilidade,
seja na esfera cível ou na esfera criminal. Por esse motivo, é fundamental
compreender as regras a respeito do contrato de transporte e as suas
implicações, para que seja possível contratar com mais segurança ou,
eventualmente, oferecer esse tipo de serviço respeitando a legislação e
evitando prejuízos mais graves.
Com relação ao seguro, a sua relevância pode ser percebida justa-
mente pelo fato de que, no caso de transporte de pessoas ou de coisas,
a contratação de um seguro pode diminuir eventuais danos ocorridos.
A realização do contrato de seguro se torna, assim, uma prevenção
ou uma garantia de que prováveis danos serão amenizados no caso de
acidentes ou mesmo mortes.
Neste capítulo, você vai ler sobre as regras legais a respeito do trans-
porte de pessoas e coisas, bem como vai avaliar o entendimento da
doutrina e das decisões judiciais sobre o tema. Também vai ler sobre a
definição de seguro, cosseguro, resseguro e retrocessão, diferenciando
seguro de dano e seguro de pessoa.
2 Transporte e seguro
Art. 753 Se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o
transportador solicitará, incontinenti, instruções ao remetente, e zelará pela
coisa, por cujo perecimento ou deterioração responderá, salvo força maior.
[...]
§ 4º Se o transportador mantiver a coisa depositada em seus próprios armazéns,
continuará a responder pela sua guarda e conservação, sendo-lhe devida,
porém, uma remuneração pela custódia, a qual poderá ser contratualmente
ajustada ou se conformará aos usos adotados em cada sistema de transporte.
[...]
Art. 756 No caso de transporte cumulativo, todos os transportadores respondem
solidariamente pelo dano causado perante o remetente, ressalvada a apuração
final da responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recaia, por
inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver
ocorrido o dano (BRASIL, 2002, documento on-line).
Se a coisa sofrer algum dano ou se apenas parte dela se perder, o destinatário mantém
o direito de ação contra o transportador, desde que informe o dano em 10 dias a
contar da entrega da coisa.
Existem transportes aparentemente gratuitos, mas que, na verdade, não são total-
mente gratuitos, pois aquele que transporta pode ter algum interesse na condução
do passageiro.
Nesse sentido, Carlos Roberto Gonçalves esclarece que, no transporte aparentemente
gratuito, o transportador pode ter algum interesse em levar o passageiro, como ocorre
na situação em que o vendedor de automóveis conduz o possível comprador em um
test drive para apresentar o automóvel. Nessa hipótese, a culpa do transportador por
eventuais danos causados ao passageiro será presumida, somente sendo excluída por
culpa exclusiva do passageiro (GONÇALVES, 2017).
8 Transporte e seguro
seguro de vida;
seguro de vida em grupo;
seguro de danos em determinada coisa.
Para fazer uma leitura atenta de todos os artigos e compreender o tema de forma
completa, acesse o link a seguir:
https://goo.gl/81GpC
https://goo.gl/ol60jo
Apesar de o art. 763 do Código Civil brasileiro estabelecer que “Não terá direito
à indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer
o sinistro antes de sua purgação” (BRASIL, 2002, documento on-line), após a
entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, não é possível admitir o
cancelamento automático do seguro pela simples ausência de pagamento, razão
pela qual seria exigível uma notificação antes do cancelamento. Também devem
ser considerados os atrasos na cobrança por meio da rede bancária e especialmente
a tese do adimplemento substancial, pela qual se entende que o cancelamento
do contrato deve ser evitado quando tiver sido cumprido quase que por inteiro,
como na hipótese em que falta apenas a última parcela do seguro (PELUSO,
2014). Inclusive, o próprio STJ já se manifestou favorável à tese do adimplemento.
https://goo.gl/G2EZgQ
https://goo.gl/UYRbr1
Transporte e seguro 13
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. Rio de Janeiro:
Forense, 2016.
Leituras recomendadas
FIGUEIRA, F. A.; BORGES, A. Os 10 anos da lei complementar 126/07: conquistas e expec-
tativas. VEIRANO Advogados, p. 49-50, 2017. Disponível em: <http://www.veirano.com.br/
upload/content_attachments/428/Veiranp_10anos_LC_126_07_original.pdf>. Acesso
em: 20 ago. 2018.
WILTGEN, J. Como saber se uma seguradora ou corretora de seguros é confiável. Genial
Seguros, São Paulo, 2017. Disponível em: <https://genialseguros.com.br/artigo/como-saber-
-se-uma-seguradora-ou-corretora-de-seguros-e-confiavel>. Acesso em: 20 ago. 2018.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
O Código Civil brasileiro estabelece, no art. 768, que o "segurado perderá o direito à garantia se
agravar intencionalmente o risco objeto do contrato".
Em razão dessa previsão legal, as seguradoras incluem cláusulas contratuais que excluem o
direito de indenização a segurados que se envolvem em sinistros quando estão conduzindo
veículo embriagados ou sob o uso de substâncias entorpecentes.
Na Dica do Professor a seguir, você vai verificar que, apesar de tais fatos, as decisões judiciais
vêm apresentando o entendimento de que as seguradoras precisam provar que a embriaguez foi
a causa determinante da ocorrência do sinistro.
EXERCÍCIOS
1) Sérgio, que é dono de uma transportadora, foi contratado por Lúcia para transportar
determinada mercadoria. Ao receber o produto, ele percebeu que se tratava de
pacotes de maconha. Com base no enunciado, assinale a alternativa correta.
B) A empresa de ônibus pode reter 50% do valor da passagem e deve devolver o restante para
Joana.
D) A empresa de ônibus pode reter uma porcentagem, mesmo que Joana comprove que outra
pessoa viajou em seu lugar.
E) Joana pode desistir da viagem, mas não terá direito a receber de volta o valor que pagou.
4) Cláudio contratou um seguro de danos para o seu automóvel. Passados alguns meses,
ele envolveu-se em um acidente com outro veículo e acionou a seguradora para cobrir
os danos que suportou. No entanto, a seguradora negou o pedido de Cláudio,
alegando que ele estava com o pagamento da última parcela do seguro atrasado,
sendo que ele havia parcelado o valor total em cinco vezes, ou seja, havia pago quatro
parcelas, faltando apenas uma, vencida há poucos dias antes do acidente. Com base
no enunciado, assinale a alternativa correta.
C) O Código Civil prevê que o segurado que atrasar o pagamento não terá direito à
indenização, mas a doutrina e a jurisprudência entendem que um pequeno atraso não faz
com que o segurado perca o direito.
A) A principal diferença entre o seguro de dano e o seguro de pessoa consiste no fato de que,
no primeiro, a indenização está limitada ao dano suportado pelo segurado.
B) A principal diferença entre o seguro de dano e o seguro de pessoa consiste no fato de que,
no segundo, a indenização está limitada ao dano suportado pelo segurado.
E) No seguro de dano, somente a vida pode ser garantida por meio da indenização oferecida
pela seguradora.
NA PRÁTICA
Veja a seguir o caso de uma transportadora que foi condenada a indenizar uma empresa que
contratou o serviço de transporte de mercadoria. A transportadora recorreu ao Tribunal de
Justiça, mas o seu recurso foi indeferido.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Veja a seguir, por meio do artigo sugerido, alguns aspectos importantes a respeito do resseguro
que estão contidos na Lei Complementar n.º 126, de 2007.
Veja a seguir, por meio do artigo sugerido, uma explicação a respeito do que é o resseguro.
Veja a seguir, por meio do artigo sugerido, algumas dicas importantes que você deve observar
na hora de contratar um seguro ou tratar com uma corretora de seguros, a fim de verificar se são
confiáveis ou não.
Seguro de danos
APRESENTAÇÃO
Os tópicos seguintes estão previstos dentro do Título VII do Código Civil Brasileiro que trata a
respeito dos atos unilaterais. Tais atos recebem essa denominação porque podem ser iniciados
por apenas uma pessoa, sem depender da vontade de um segundo ou terceiro indivíduo.
Normalmente, os negócios jurídicos são iniciados por duas partes, as quais, por meio de um
contrato verbal ou escrito, determinam previamente as regras do negócio a ser estabelecido. No
caso dos atos unilaterais, não existem duas partes combinando previamente como o negócio será
desenvolvido.
Bons estudos.
DESAFIO
A promessa de recompensa pode ser feita por somente uma pessoa e não depende da aceitação
de outro indivíduo, pois basta que ela seja feita dentro dos requisitos que o próprio Código Civil
estabelece. Da mesma forma, ocorre a gestão de negócios, que pode ser iniciada sem a
concordância ou a autorização do dono do negócio, ou o pagamento indevido, o qual é realizado
por uma pessoa apenas.
Artur contratou Rui como advogado para propor ação judicial contra um banco que lhe cobrou,
durante um ano, mensalidade referente a um cartão de crédito que não foi utilizado por ele, no
total de R$ 650,00. Artur venceu a demanda judicial, e o juiz determinou a expedição de alvará
a ser levantado pelo advogado da causa, o qual ficaria responsável por comparecer ao banco
para requerer a transferência de seus honorários advocatícios para a própria conta corrente e o
restante para a conta corrente de Artur, seu cliente.
No entanto, Rui transferiu um valor maior do que aquele que Artur tinha direito.
Neste caso, qual valor Artur deveria receber, sem considerar correção monetária? Explique sua
resposta.
No caso de Rui, qual medida judicial e com base em qual instituto jurídico ele poderia se
fundamentar para reaver o valor depositado a mais na conta de Artur, caso ele não quisesse
devolver o montante espontaneamente?
INFOGRÁFICO
[...] uma das fontes das obrigações resultantes da vontade de uma só pessoa, formando-se no
instante em que o agente se manifesta com intenção de se obrigar, independentemente da
existência ou não de uma relação creditória, que poderá surgir posteriormente. Não havendo
liberdade para se estabelecerem obrigações, que só se constituirão nos casos preordenados em
lei: títulos de crédito (CC, arts. 887 a 926), a promessa de recompensa (CC, arts. 854 a 860), a
gestão de negócios (CC, arts. 861 a 875), o pagamento indevido (CC, arts. 876 a 883) e o
enriquecimento sem causa (CC, arts. 884 a 886).
Para a autora, da manifestação de vontade de somente uma pessoa, nasce uma obrigação
jurídica, que não depende da vontade de uma segunda pessoa. É um ato unilateral que faz nascer
a obrigação.
No Infográfico a seguir, você irá visualizar um esquema com os três atos unilaterais que
estudará nesta unidade.
CONTEÚDO DO LIVRO
Leia mais sobre esses institutos jurídicos no capítulo Atos unilaterais de vontade, da obra
Direito Civil III: teoria geral dos contratos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem.
Boa leitura!
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL
DOS CONTRATOS
Eduardo Augusto de
Souza Massarutti
Atos unilaterais de vontade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Os atos unilaterais estão previstos no Título VII do Código Civil brasileiro.
Recebem essa denominação porque podem ser iniciados por apenas uma
pessoa, sem depender da vontade de uma segunda ou terceira pessoa.
Normalmente, os negócios jurídicos são iniciados por duas partes,
as quais, por meio de um contrato verbal ou escrito, estabelecem pre-
viamente as regras do negócio a ser estabelecido. No caso dos atos
unilaterais, não existem duas partes que combinam previamente como
o negócio será desenvolvido.
A promessa de recompensa pode ser feita por uma pessoa somente e
não depende de outra aceitando a promessa, pois basta que esta seja feita
dentro dos requisitos que o próprio Código Civil estabelece. Da mesma
forma, a gestão de negócios, que pode ser iniciada sem a concordância
ou autorização do dono do negócio, ou o pagamento indevido, o qual
é realizado por uma pessoa apenas.
Neste capítulo, você vai ler sobre a promessa de recompensa, a gestão
de negócios e o pagamento indevido.
Promessa de recompensa
O ato unilateral de vontade, chamado pela doutrina de declaração unilateral
de vontade, é, segundo entendimento de Maria Helena Diniz (2018, p. 829):
2 Atos unilaterais de vontade
[...] uma das fontes das obrigações resultantes da vontade de uma só pessoa,
formando-se no instante em que o agente se manifesta com intenção de se
obrigar, independentemente da existência ou não de uma relação creditória que
poderá surgir posteriormente. Não havendo liberdade para se estabelecerem
obrigações, que só se constituirão nos casos preordenados em lei: títulos de
crédito (CC, arts. 887 a 926), a promessa de recompensa (CC, arts. 854 a 860),
a gestão de negócios (CC, arts. 861 a 875), o pagamento indevido (CC, arts.
876 a 883) e o enriquecimento sem causa (CC, arts. 884 a 886).
Se, por exemplo, uma pessoa publica no jornal que pagará R$ 100,00 para quem encontrar
o seu gato de estimação, esse ato unilateral de publicar a promessa já é considerado
uma obrigação do ponto de vista jurídico, mesmo que o gato não seja encontrado.
Se determinada pessoa encontrar uma coisa perdida, que não seja em razão de uma
promessa de recompensa, mesmo assim, terá direito a uma recompensa (arts. 1.233
e 1.234 do Código Civil).
4 Atos unilaterais de vontade
Art. 1.233 Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono
ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se
não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.
Art. 1.234 Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antece-
dente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu
valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e
transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á
o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo
possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação
econômica de ambos (BRASIL, 2002, documento on-line).
Se, por exemplo, uma pessoa vir um anúncio público de uma promessa de recompensa
de R$ 500,00 para quem encontrar determinado animal perdido e o encontra, poderá
exigir o valor prometido. Caso aquele que fez a promessa não pague, a pessoa que
achou o animal poderá propor uma demanda judicial para exigir o valor da recompensa.
Atos unilaterais de vontade 5
Como mencionamos, aquele que faz a promessa deve ter capacidade civil,
ou seja, ter pelo menos 18 anos e ausência de doença mental que o impeça
de tomar ações livres. Porém, aquele que cumpre as condições da promessa
e adquire direito à recompensa não precisa ser capaz, razão pela qual até um
menor de idade (uma criança) poderia ser beneficiária da recompensa.
Por fim, é importante destacar o art. 856 do Código Civil, o qual estabelece que:
Por exemplo, João publica nas redes sociais a promessa de recompensa de R$ 1.000,00
para quem encontrar uma aliança de casamento revestida com pedras preciosas, porém,
antes de alguém encontrar o anel, ele decide revogar (cancelar) a promessa. Assim,
apenas por meio de publicação nas redes sociais João poderá excluir a promessa que
fez e deixar de ser obrigado a cumpri-la.
Gestão de negócios
As regras a respeito do instituto jurídico chamado de gestão de negócios
estão previstas nos arts. 861 a 875 do Código Civil brasileiro. O conceito vem
previsto no art. 861, que estabelece: “Art. 861 Aquele que, sem autorização
do interessado, intervém na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o
interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e às
pessoas com que tratar” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Esse tipo de gestão se verifica quando alguém, sem que tenha sido contra-
tado para tanto, começa a administrar o negócio de uma determinada pessoa,
supondo que o faz no interesse e de acordo com a vontade do dono do negócio.
A gestão de negócios ocorre, por exemplo, quando um sujeito some sem
avisar ninguém e uma terceira pessoa (o gestor), por livre e espontânea von-
tade, começa a administrar seus bens (móveis ou imóveis), sem que tenha sido
contratado ou autorizado a tomar essa atitude, inclusive, antes de formalmente
ter sido iniciado o processo de declaração de ausência do desaparecido (GA-
6 Atos unilaterais de vontade
O próprio Código Civil descreve dois exemplos que são considerados gestão
de negócios, conforme se verifica pelos arts. 871 e 872, que estabelecem,
respectivamente:
Pagamento indevido
O pagamento indevido é um pagamento feito de forma equivocada, seja porque
não era o momento adequado para se efetuar o pagamento, seja porque se
pagou mais do que devia, ou ainda porque se efetivou o pagamento a quem
não era o verdadeiro credor.
8 Atos unilaterais de vontade
Essa regra está prevista no art. 876 do Código Civil, que estabelece: “Art.
876 Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir;
obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida
a condição” (BRASIL, 2002, documento on-line).
A primeira parte do artigo é de fácil compreensão, pois simplesmente sig-
nifica que aquele que recebeu um valor que não lhe pertencia deve devolver ao
que lhe pagou. Porém, a segunda parte é um pouco mais complexa e depende
de mais esclarecimentos.
Assim, a dívida condicional é aquela que somente deve ser paga depois
que uma determinada condição se verificar.
José fez um contrato de compra e venda de animal reprodutor com Jair, no qual ficou
combinado que José entregaria um boi reprodutor a Jair, somente após o primeiro
cruzamento com as fêmeas da fazenda, o que viria a ocorrer, aproximadamente, após
um ano de contrato, razão pela qual o pagamento somente deveria ser efetuado após
esse cruzamento. Contudo, ao analisar a agenda de pagamento de Jair, o funcionário
dele acabou depositando na conta de José o valor do contrato de compra de venda
do animal, apenas um mês depois de assinado o contrato. Nesse caso, Jair poderia
exigir que José devolvesse o valor, sob pena de propor ação de cobrança para requerer
a restituição do valor referente ao pagamento indevido.
Atos unilaterais de vontade 9
[...] se determinada pessoa quitar débito sujeito à condição futura antes dessa
condição ocorrer, terá direito à restituição, uma vez que o evento futuro e
incerto, ao qual está sujeito o negócio jurídico, poderá não ocorrer, tornando-
-se indevido o pagamento, desobrigando o devedor.
imóvel o tiver alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela
quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde
por perdas e danos” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Marcos devia para Luis a quantia de R$ 250.000,00. Para saldar a dívida, ambos combinam
que o pagamento será efetuado por meio de uma casa de propriedade de Marcos,
que custa aproximadamente esse valor. Porém, quando do vencimento da dívida,
em vez de transferir o imóvel para Luis, Marcos acaba transferindo para João. João,
por sua vez, crendo que estava recebendo um pagamento devido, vende a casa para
Carlos. Nesse caso, só restará a Marcos requerer de João o valor que recebeu de Carlos.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2018.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extra-
contratuais. São Paulo: Saraiva, 2018. v. 3.
GAGLIANO, P. S; PAMPLONA FILHO, R. Manual de Direito Civil: volume único. São Paulo:
Saraiva, 2017.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. São Paulo: Saraiva,
2017.
Leituras recomendadas
PIMENTA NETO, M. D. Atos Unilaterais: Do Pagamento Indevido: Um estudo dos enten-
dimentos de alguns doutrinadores acerca do ato unilateral do pagamento indevido.
Jusbrasil, 31 mar. 2015. Disponível em: <https://marcilioberserk.jusbrasil.com.br/arti-
gos/178098553/atos-unilaterais-do-pagamento-indevido>. Acesso em: 20 ago. 2018.
PINTO, E. S. Os atos unilaterais como importante fonte de obrigações do Direito brasileiro.
Conteúdo Jurídico, Brasília, 16 dez. 2015. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.
com.br/artigo,os-atos-unilaterais-como-importante-fonte-de-obrigacoes-do-direito-
-brasileiro,54931.html>. Acesso em: 20 ago. 2018.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Esta Dica do Professor é baseada na obra do jurista Carlos Roberto Gonçalves, que aponta a
discussão existente a respeito da natureza jurídica do instituto jurídico denominado “promessa
de recompensa”.
EXERCÍCIOS
1) Luis, maior de idade e capaz civilmente, foi passear com seu cachorro no bosque da
cidade onde mora. O local estava lotado, com muita gente e vários outros animais. De
repente, ao jogar a bola para o cachorro buscar, Luis acabou perdendo-o de vista.
Ficou cerca de duas horas tentando encontrá-lo e desistiu. No dia seguinte, comentou
com seu vizinho Antônio que estava pensando em publicar no jornal da cidade que
pagaria R$ 500,00 para quem encontrasse seu animal. De acordo com o enunciado da
questão, assinale a alternativa correta.
2) Marlon, vendedor ambulante, maior de idade e capaz, estava montando sua barraca
para vender seus produtos quando, de repente, encontrou um relógio de marca
famosa que custava, aproximadamente, R$ 5.000,00. Claudio, dono do relógio,
divulgou uma foto dele junto com o acessório em alguns pontos da cidade informando
a perda do objeto, sem fazer qualquer tipo de promessa de recompensa, e começou a
procurar pelo item. Após duas semanas, ao passar em frente à barraca de Marlon, o
vendedor reconheceu o dono do relógio e chamou-o para conversar. De acordo com o
enunciado da questão, assinale a alternativa correta.
B) Marlon poderá exigir de Claudio que pague 50% do valor do relógio como condição para
devolvê-lo.
A) Jorge não poderá exigir que Jeferson devolva o valor que desembolsou, pois o fez
espontaneamente e por consideração à família de amigos.
B) Jorge poderá exigir indenização com base no instituto jurídico denominado promessa de
recompensa.
C) Jorge pode ser considerado um gestor de negócios e exigir a restituição dos valores que
pagou a favor de Caio.
D) Jeferson pode alegar pagamento indevido porque não autorizou Jorge a pagar a pensão.
E) Jeferson pode alegar que não ratifica o ato de pagamento dos valores da pensão alimentícia
realizado por Jorge.
A) É um ato bilateral que depende da vontade de ambas as partes para que fique
caracterizado.
B) É um ato unilateral que não depende da vontade de ambas as partes para ser iniciado e que
gera obrigação para somente uma delas.
E) O dono do negócio não tem obrigação de indenizar o gestor pelas despesas que esse
suportou na administração do negócio.
5) Claudia abriu uma conta corrente no Banco Crédito Fácil. Ela contratou cartão de
crédito por um valor mensal de R$ 27,00, e os serviços de saque de valor limitados a
três saques gratuitos por mês, sendo que, a partir da quarta retirada, deveria pagar
uma taxa de R$ 15,00. Passados dois meses, o Banco Central emitiu uma resolução
proibindo os bancos de cobrarem taxas pela utilização do serviço de saque de valores.
No entanto, o banco que Claudia tinha conta continuou a cobrar pelo serviço de
saque e ela continuou pagando a taxa por mais um ano. De acordo com o enunciado,
assinale a alternativa correta.
A) A atitude do banco está correta, e Claudia não terá direito de ser ressarcida, porque não
houve pagamento indevido.
B) Claudia tem direito de receber de volta em dobro o valor cobrado pelo banco.
C) O pagamento efetuado por Claudia é indevido, mas ela não tem direito à devolução porque
ficou doze meses sem reclamar.
D) O pagamento efetuado por Claudia é indevido, e ela terá direito somente à devolução do
valor, de forma simples.
NA PRÁTICA
O primeiro requisito é que a promessa de recompensa deve ser pública, ou seja, deve ser
anunciada publicamente, por meio escrito ou verbal, diante de um determinado número de
pessoas. A noção de publicidade da promessa não se refere apenas a editais em jornais ou à
divulgação semelhante, mas pode ocorrer também por meio de uma declaração pública diante de
um determinado grupo de pessoas (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Gestão de negócios
Neste artigo, conheça noções gerais a respeito da gestão de negócios, passando pela sua história
e conhecendo as regras inseridas no Código Civil de 2002.
APRESENTAÇÃO
A locação é um contrato pelo qual uma das partes (locador) se obriga a ceder à outra (locatário),
por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível (que não pode ser substituída
por outra da mesma espécie, quantidade e qualidade), mediante o pagamento de aluguel. A regra
é que essa retribuição pecuniária seja efetuada no domicílio do devedor. Porém as partes podem
convencionar de outra forma. O contrato de locação em geral é bilateral, oneroso, comutativo,
típico, consensual, não formal e de trato sucessivo.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a locação, bem como explorar seus
elementos e características, analisar as diversas espécies de locação e conhecer as regras básicas
da Lei de Locação.
Bons estudos.
DESAFIO
O contrato de locação em geral é bilateral, oneroso, comutativo, típico, consensual, não formal e
de trato sucessivo.
Gabriel, empregado de uma construtora, firmou contrato de locação com a imobiliária Beta pelo
prazo de 30 meses. No instrumento de contrato ficou acordado que, em caso de devolução
antecipada do imóvel, ele teria de pagar multa equivalente a três aluguéis. Já em vigor o
contrato, Gabriel foi transferido pela construtora para outro município. Dessa forma, precisou
entregar o imóvel alugado.
Gabriel foi até o seu escritório, pois precisava saber se terá de pagar a multa contratual. O que
você diria a ele?
INFOGRÁFICO
A locação de coisas é um contrato pelo qual o locador se obriga a ceder ao locatário, por tempo
determinado ou não, o uso e o gozo de coisa não fungível, mediante certa remuneração
(aluguel).
O Código Civil trata da locação de bens móveis e imóveis entre os artigos 565 e 578. No caso
dos bens imóveis, o CC/2002 rege as locações imobiliárias que não estão contempladas na Lei
de Locação (Lei n.º 8.245/1991), que dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os
procedimentos a elas pertinentes.
No capítulo Locações, da obra Legislação civil aplicada II, você verá o conceito de locação, irá
explorar seus elementos e características, além de analisar as diversas espécies de locação e
conhecer as regras básicas da Lei de Locação (Lei n.º 8.245/1991).
LEGISLAÇÃO CIVIL
APLICADA II
Fabiana
Hundertmarck Leal
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-428-1
CDU 347
Introdução
Conforme Tartuce (2017), alocação é um contrato no qual uma das partes
se compromete a fornecer a outra o uso de algo não fungível, a prestação
de um serviço ou a execução de uma obra por determinado período de
tempo mediante remuneração acordada entre ambas.
O Código Civil brasileiro versa sobre a locação de bens por intermédio
da Lei de Locação (Lei nº. 8.245, de 18 de outubro de 1991) e do Estatuto
da Terra (Lei nº. 4.504, de 30 de novembro de 1964). Ademais, o Código
de Defesa do Consumidor (CDC) também contribui no tocante à locação,
contudo, nesse caso, relativa a bens móveis, como alocação de veículos,
por exemplo.
Neste capítulo, estudaremos os elementos e as características da lo-
cação, bem como as diversas espécies de locação. Por fim, observaremos
as regras da Lei de Locação e como funciona o processo de extinção do
contrato de locação.
Elementos da locação
Para concretizar o conceito de locação, Pereira (2013) indica os elementos que
devem ser observados nesse tipo de contrato: coisa, preço, consentimento, prazo
e forma. A seguir, analisaremos o que são exatamente cada um desses elementos.
Coisa
Qualquer coisa não fungível pode ser objeto de locação, seja ela corpórea ou
incorpórea, móvel ou imóvel, inteira ou fracionada. Todavia, não se dispensa a
licitude do objeto. É da natureza do contrato que a coisa locada seja restituída
ao locador sem diminuição da sua substância, o que origina duas consequên-
cias básicas. A primeira determinação é que não podem ser objeto de locação
coisas que se consomem ao primeiro uso, como dinheiro ou mercadoria, a
não ser que se considerem contratualmente não fungíveis, como no caso de
Locações 129
coisas que são por natureza fungíveis e consumíveis, mas que o locatário se
compromete a conservar e devolver depois de cumprida uma finalidade de
exclusiva exibição (ad pompam vel ostentationem).
A segunda consequência relativa à substância é que pode ser objeto de
locação algo cuja utilização pelo locatário importa em função do consumo
de alguma parte ou de algum acessório, como no caso de aluguel de prédio
rústico com cláusula que permite a derrubada de árvores para a conservação
ou outras benfeitorias no próprio imóvel. Além disso, coisas inalienáveis
também podem ser objeto de locação, assim como os bens públicos marcados
por cláusula especial que os exclui do comércio.
Preço
relação à locação de imóveis urbanos, caso falte ajuste especial no pagamento, ele
recai sobre o imóvel locado, como determinado no art. 23, I, da Lei nº. 8.245/1991.
Consentimento
Prazo
Forma
O Código Civil aborda alocação de bens móveis e imóveis nos seus arts.
565 a 578. No caso dos bens imóveis, o Código Civil de 2002 rege as loca-
ções imobiliárias não contempladas na Lei de Locação (Lei nº. 8.245/1991),
que dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a elas
pertinentes. Em 2012, aconteceram alterações por causada Lei nº. 12.744, de
19 de dezembro daquele ano, que alterou o art. 4º e acrescentou o art. 54, a,
à legislação existente.
Espécies de locação
Ao iniciarmos as considerações sobre as espécies de contratos de locação,
atentemos à seguinte premissa:
O contrato de locação é aquele pelo qual uma das partes, mediante remune-
ração (aluguel, salário civil ou preço), compromete-se a fornecer à outra, por
certo tempo, o uso de uma coisa não fungível, a prestação de um serviço, ou
a execução de uma obra determinada (TARTUCE, 2017, p. 484).
A locação prevista no Código Civil pode ter como objeto coisas móveis ou
imóveis, desde que não esteja tratada pela legislação especial. Para os casos
de imóveis urbanos aplica-se a Lei nº. 8.245/1991. Para os imóveis rurais,
aplica-se o Estatuto de Terra (Lei nº. 4.504/1964), que disciplina os contratos
de arrendamento rural e parceria agrícola (TARTUCE, 2017, p. 485).
Ainda sobre o referido art. 3º da Lei de Locação, o autor entende que “[...]
não deve ser aplicado à união estável, mais uma vez por se tratar de norma
especial restritiva, que não merece aplicação analógica ou mesmo interpretação
extensiva” (BRASIL, 1991, documento on-line).
Durante o prazo convencionado em contrato, é impossível ao locador reaver
o imóvel alugado, como disposto no art. 4º da Lei nº. 8.245/1991. Todavia, o
locatário pode devolvê-lo mediante pagamento de multa previamente acordada,
que será proporcional ao período de cumprimento do contrato. Caso não exista a
previsão de multa no próprio contrato de locação, ela é judicialmente estipulada.
De acordo com Guilherme (2017, p. 13):
O parágrafo único da Lei nº. 8.245/1991 indica que o locatário fica dis-
pensado da multa se a devolução do imóvel decorrer de transferência pelo seu
empregador, privado ou público, para prestar serviços em localidades diversas
daquela do início do contrato e se, assim, notificar por escrito o locador com
prazo de, no mínimo, 30 (trinta) dias de antecedência.
138 Locações
É isento o locatário que se viu obrigado a devolver o imóvel por força alheia
à sua vontade. [...] Se o empregador, seja de qual esfera for, determinar que o
empregado deve prestar serviço em localidade diversa, este deverá fazê-lo.
Não é justo e muito menos lógico que permaneça como contrato de locação
em plena vigência sem a sua devida utilização (GUILHERME, 2017, p. 30).
Extinção da locação
A Lei de Locação discorre sobre o fim da locação de imóveis residenciais,
incluindo as locações por temporada, nos seus arts. 46 a 50. Conforme o
disposto no art. 46, nas locações ajustadas por escrito por prazo igual ou
superior a 30 meses, a resolução do contrato ocorre quando finda o prazo
estipulado, independentemente de notificação ou aviso prévio. Se, ao fim do
prazo ajustado, o locatário continua em posse do imóvel alugado por mais de
30 dias sem oposição do locador, presume-se prorrogada a locação por prazo
indeterminado, sendo mantidas as demais cláusulas e condições do contrato.
Sucedendo prorrogação, o locador pode denunciar o contrato a qualquer tempo,
concedido o prazo de 30 (trinta) dias para desocupação.
Quando ajustado verbalmente ou por escrito e com prazo inferior a 30
(trinta) meses, ao acabar o prazo estabelecido no contrato a locação se prorroga
automaticamente por prazo indeterminado, ao que se pode retomar o imóvel
somente nos seguintes casos, conforme o art. 47 da Lei de Locação:
Súmula 175 do STF: “Admite-se a retomada de imóvel alugado para uso por parte de
filho que contrairá matrimônio” (BRASIL, 1963b, documento on-line).
Súmula 409 do STF: “Ao retomante que tenha mais de 1 (um) prédio alugado, cabe
optar entre eles, salvo abuso de direito” (BRASIL, 1964b, documento on-line).
Súmula 410 do STF: se ao utilizar prédio próprio para residência ou atividade comercial
o locador solicita o imóvel locado para uso próprio e diverso do uso que tem por ele
ocupado, o locador não é obrigado a provar a necessidade da sua solicitação (BRASIL,
1964c, documento on-line).
Súmula 484 do STF: legitimamente, é possível ao proprietário solicitar o prédio para
a residência de filho, ainda que solteiro, de acordo com o art. 11, III, da Lei nº. 4.494, de
25 de novembro de 1964” (BRASIL, 1969, documento on-line).
142 Locações
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil: contratos. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2013. v. 3.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 12. ed.
São Paulo: Forense, 2017. v. 3.
TARTUCE, F. Manual de Direito Civil: volume único. 8. ed. São Paulo: Método, 2018.
VENOSA, S. S. Lei do inquilinato comentada: doutrina e prática: Lei nº. 8245, de 18-10-
1991. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
Leituras recomendadas
BRASIL. Lei nº. 12.744, de 19 de dezembro de 2012. Diário Oficial [da] República Fede-
rativa do Brasil, Brasília, DF, 20 dez. 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12744.htm#art2>. Acesso em: 8 maio 2018.
SCAVONE JUNIOR, L. A. Direito imobiliário: teoria e prática. 8. ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2014.
SOUZA, S. C. A lei do inquilinato comentada: artigo por artigo. 10. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
As garantias locatícias estão contempladas na Seção VII da Lei de Locação (Lei n.º 8.245/91). O
artigo 39, alterado pela Lei n.º 12.112/09, indica que, salvo disposição contratual em contrário,
qualquer das garantias da locação se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que
prorrogada a locação por prazo indeterminado.
EXERCÍCIOS
1) Marque a alternativa correta sobre pagamento da locação com base no Código Civil:
B) mesmo com a ocorrência de motivo grave, o Código Civil impede que o devedor efetue o
pagamento em local diverso do pactuado.
A) o contrato de locação pode ser ajustado por qualquer prazo, dependendo de vênia conjugal,
se igual ou superior a seis anos.
B) havendo mais de um locador ou mais de um locatário, entende-se que há responsabilidade
subsidiária se o contrário não se estipulou.
D) durante o prazo estipulado para a duração do contrato, o locador sempre poderá reaver o
imóvel alugado.
E) o contrato de locação pode ser ajustado por qualquer prazo, dependendo de vênia conjugal,
se igual ou superior a dez anos.
A) o locatário poderá denunciar a locação por prazo indeterminado mediante aviso por escrito
ao locador, com antecedência mínima de sessenta dias.
D) se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com
o prazo de quarenta e cinco dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo
determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver
averbado junto à matrícula do imóvel.
B) morrendo o locatário, ficarão sub-rogados nos seus direitos e obrigações nas locações com
finalidade residencial o cônjuge sobrevivente ou o companheiro e, sucessivamente, os
herdeiros necessários e as pessoas que viviam na dependência econômica do de cujus,
independentemente de morarem no mesmo imóvel.
E) não havendo acordo, o locador ou locatário, após dois anos de vigência do contrato ou do
acordo anteriormente realizado, poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de ajustá-
lo ao preço de mercado.
5) Com base na seção “Das garantias locatícias” da Lei n.º 8.245/91, marque a
alternativa correta:
C) é vedada, sob pena de nulidade, mais de uma das modalidades de garantia num mesmo
contrato de locação.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Leia essa pesquisa que visa entender a evolução e o estado atual do mercado de aluguel de
moradias nos Brasil, vinculando a evolução demográfica à dinâmica do mercado de locação.
Também pretende contribuir para a discussão sobre a importância da implantação de uma
política de aluguel no País.
Quando você vai alugar um quarto, casa ou apartamento, muitas vezes não sabe ao certo quais
são as regras básicas que deve seguir, assim como aquelas que o locador deverá cumprir. Essas
regras são convencionadas pela lei do inquilinato e devem ser seguidas, mesmo com contratos
informais entre o inquilino e o dono do imóvel. Entenda sobre o assunto lendo o artigo a seguir.
APRESENTAÇÃO
Vício redibitório consiste em um vício oculto não perceptível em um primeiro momento por
quem compra um determinado produto e que só vem a ser descoberto posteriormente. Evicção,
por sua vez, consiste na perda de um bem para um terceiro que é o verdadeiro dono da coisa.
Os institutos jurídicos vício redibitório e evicção estão previstos no Código Civil Brasileiro e
ambos possuem uma correlação baseada no princípio da garantia, o qual engloba o dever de
todo aquele que vende certo bem de assegurar que o comprador receba a coisa sem vícios
ocultos, bem como garantir que o adquirente não sofra ações judiciais propostas por terceiros e
acabe por perder o bem adquirido.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender o que é vício redibitório e evicção, bem
como analisar os elementos ou requisitos do vício redibitório e da evicção, além de seus efeitos.
Bons estudos.
DESAFIO
Quando uma pessoa compra um produto com vício redibitóriodo, poderá requerer, por meio de
uma ação judicial chamada ação redibitória, a devolução do produto mais o ressarcimento do
valor que pagou, corrigido monetariamente, ou requerer abatimento no preço que foi pago por
meio de uma ação chamada ação estimatória ou ação quanti minoris.
A distribuidora, por sua vez, apresentou defesa no processo, alegando que houve decadência do
direito de alegar vício redibitório, pois a autora tinha 30 dias para requerer esse abatimento
perante a ré, notificando-a do suposto vício. Na sentença, o juiz acatou a tese da distribuidora e
julgou a ação improcedente.
Você, na condição de advogado da autora Abasteça Barato Ltda, está no prazo para apresentar
Recurso ao Tribunal de Justiça. Nesse caso, quais seriam os argumentos do seu recurso?
INFOGRÁFICO
Evicção é a perda de um bem para um terceiro que é o verdadeiro dono da coisa. Se isso
acontecer, aquele que perdeu o bem é chamado de evicto e poderá requerer que o alienante o
indenize pelo valor que pagou. Também poderá exigir que o alienante arque com despesas
contratuais, despesas judiciais, frutos que o terceiro deixou de ganhar, além de lucros cessantes.
Vício redibitório e evicção estão baseados no princípio da garantia. Tal princípio deve ser
observado em qualquer contrato oneroso e consiste no dever que o alienante possui de garantir
que o comprador adquira produtos e bens de acordo com o que foi contratado e livres de vícios
ocultos, bem como garantir que o adquirente não sofra ações judiciais propostas por terceiros e
acabe por perder o bem adquirido.
No capítulo Dos vícios redibitórios e da evicção, da obra Direito Civil III: Teoria geral dos
contratos, você vai entender o que são cada um desses institutos jurídicos, vai compreender os
requisitos para que possam ser alegados e os seus efeitos caso venham a ocorrer na prática.
Boa leitura.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
Eduardo Augusto de
Souza Massarutti
Vício redibitório e evicção
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Os institutos jurídicos do vício redibitório e da evicção estão previstos
no Código Civil brasileiro. O vício redibitório consiste em um vício oculto
não perceptível em um primeiro momento por quem compra um deter-
minado produto, o qual somente vem a ser descoberto posteriormente.
O adquirente do produto com defeito poderá requerer, por meio de
uma ação judicial chamada de ação redibitória, a devolução do produto
mais o ressarcimento do valor que pagou, corrigido monetariamente, ou
requerer o abatimento no preço pago, por meio de uma ação chamada
de ação estimatória ou ação quanti minoris.
A evicção, por sua vez, consiste na perda de um bem para um terceiro,
que é o verdadeiro dono da coisa. Se isso acontecer, aquele que perdeu
o bem (chamado de evicto) poderá requerer que o alienante o indenize
pelo valor que pagou e ainda arque com despesas contratuais, despesas
judiciais, frutos que o terceiro deixou de ganhar, além de lucros cessantes.
Ambos os institutos possuem uma correlação baseada no princípio
da garantia, que engloba o dever de todo aquele que vende certo bem
de assegurar que o comprador receba a coisa sem vícios ocultos, bem
como de garantir que o adquirente não sofra ações judiciais propostas
por terceiros e acabe por perder o bem adquirido.
Neste capítulo, você vai ler sobre o vício redibitório e a evicção, bem
como analisar os elementos ou requisitos do vício redibitório e da evicção,
além dos seus efeitos.
2 Vício redibitório e evicção
Os vícios e defeitos ocultos devem ser tais a ponto de tornar a coisa inapta
ao uso a que é destinada, ou importar em diminuir-lhe notavelmente o seu
valor. Não ocorre tal circunstância, se a coisa for unicamente menos excelente,
menos bela, menos agradável ou se se trata de ausência de alguma qualidade,
v. g. o defeito de um quadro só porque não é ele obra do autor cujo nome traz,
pois neste e em outros casos semelhantes de erro.
4 Vício redibitório e evicção
Depois de analisar o vício redibitório e os requisitos para que possa ser ale-
gado, vamos abordar os efeitos ou as consequências jurídicas que decorrem da
constatação do vício redibitório, as quais estão presentes no próprio Código Civil.
O primeiro efeito está no art. 442, o qual estabelece que uma pessoa pode,
em vez de devolver o produto adquirido, cancelando o contrato, requerer um
abatimento no preço pago.
Por exemplo, se uma pessoa compra um carro de outra e depois descobre
que havia defeito no motor ou que o carro havia se envolvido em acidente,
poderá requer um desconto no valor que pagou, proporcional ao defeito oculto
que não havia percebido no momento da aquisição do bem.
Quem percebe um vício oculto suficiente para alegar vício redibitório possui duas
opções: rescindir o contrato e devolver o bem, recebendo o que pagou de volta,
ou manter o bem e requer o abatimento proporcional. Dependendo da escolha, o
adquirente terá duas espécies de ações judiciais para propor perante o Poder Judiciário,
caso não consiga resolver amigavelmente a situação. Se optar por devolver o bem e
rescindir o contrato, ele poderá propor uma ação chamada de ação redibitória. Por
outro lado, se optar por conservar o bem em seu poder e requerer o abatimento,
ele poderá propor uma ação chamada de ação estimatória ou ação quanti minoris.
O segundo efeito está previsto no art. 443 do Código Civil, o qual estabe-
lece que, se o vendedor conhecia o vício ou defeito do objeto vendido, deverá
devolver o valor que recebeu mais perdas e danos; se não sabia, deverá restituir
apenas o valor recebido, mais as despesas do contrato.
Nesse sentido, Maria Helena Diniz (2018, p. 143) esclarece que:
Apesar do direito que temos de alegar vício redibitório e, com base nisso,
requerer a devolução do bem ou abatimento do preço pago, é fundamental
saber que existem prazos para que esse direito seja utilizado, chamados pela
doutrina de prazos decadenciais. Esses prazos estão previstos no Código
Civil, que estabelece o seguinte:
O termo decai no art. 445 significa que aquele que adquire um determinado
bem perde o direito de demandar judicialmente, requerendo devolução ou
abatimento do preço após 30 dias ou 1 ano, dependendo da característica da
coisa, ou seja, se móvel ou imóvel.
O artigo descrito estabelece, em outras palavras, que o adquirente perde
o direito de devolver o bem defeituoso ou requerer o abatimento do preço no
prazo de 30 dias se o bem for móvel. Se for imóvel, terá 1 ano para devolver
ou requerer o abatimento. Se o bem já estava com ele e a compra se efetiva, o
prazo é contado da venda, mas reduzido à metade. Contudo, se forem vícios
que somente aparecem após um bom tempo de utilização, o prazo de 30 dias
somente correrá a partir da ciência do vício, mas desde que se manifeste o
defeito dentro de 180 dias ou 1 ano, a depender se móvel ou imóvel.
A redação do art. 445 causa uma certa confusão, pois alguns doutrinadores
entendem que, após tomar ciência do vício oculto, o adquirente teria mais 180
dias para requerer a devolução do bem ou abatimento do preço. Porém, não
é essa a melhor interpretação.
Inclusive o próprio Superior Tribunal de Justiça (STJ) já se manifestou a
respeito do tema, nos seguintes termos:
Vício redibitório e evicção 7
Os prazos de 30 dias, 180 dias ou 1 ano são para exercer o direito de ação para alegar
vício redibitório, com o fim de devolver a coisa ou requerer o abatimento do preço. Isso
não significa que após esses prazos o adquirente não possa requer o ressarcimento
dos danos que suportou, obedecendo a outros prazos.
Em relação aos frutos que o evicto teve que ressarcir ao verdadeiro dono,
para exemplificar, citamos a hipótese em que A comprou uma chácara pro-
dutiva, da qual colheu uma plantação inteira de laranjas, vendeu e obteve
um certo lucro. Nesse caso, após ser acionado judicialmente para entregar o
bem ao verdadeiro dono, este último lhe cobrará também os valores (frutos)
que deixou de ganhar com a venda da plantação de laranjas, razão pela qual
o evicto será indenizado por aquele que lhe vendeu a chácara que pertencia
ao terceiro, verdadeiro dono.
Apesar de o art. 450 do Código Civil mencionar apenas quatro efeitos da evicção, é
importante mencionar que há mais um, implícito na previsão legal, que se traduz no
direito de indenização pelos lucros, o que a doutrina chama de lucros cessantes, que
são lucros que o evicto poderia ganhar se permanecesse na posse da coisa perdida
para o verdadeiro dono. Para exemplificar, imaginemos que A compra o imóvel de
B e aluga para C, passando a receber aluguéis mensais por parte do locador C. Se
A, posteriormente, perder o imóvel para D, verdadeiro dono, por decisão judicial, A
poderá cobrar de B os valores que deixou de ganhar com os aluguéis mensais, a título
de lucros cessantes, ou seja, lucros que cessaram, até o limite do prazo do contrato de
aluguel, que poderia ser de 3 anos, por exemplo.
12 Vício redibitório e evicção
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 1.095.882 — SP. Rel. Maria Isabel
Gallotti. Julgado em: 9 dez. 2014. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1374189&num_registro=200802
169990&data=20141219&formato=PD>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BUSSATA, E. Resolução dos contratos e teoria do adimplemento substancial. São Paulo:
Saraiva, 2007. (Coleção Prof. Agostinho Alvim).
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracon-
tratuais. São Paulo: Saraiva, 2018. v. 3.
DONIZETTI, E.; QUINTELLA, F. Curso didático de Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2012.
FARIAS, C. C; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil: contratos: teoria geral e contratos em
espécie. Salvador: Juspodivm, 2014.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. São Paulo: Saraiva, 2017.
LOPES, M. M. S. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1962.
ROSENVALD, N. In: PELUSO, C. (Coord.). Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência.
Barueri: Manole, 2014. p. 467.
Leituras recomendadas
CAVALCANTE, F. O vício redibitório em matéria de contrato do direito civil. Revista Jus
Navigandi, Teresina, ano 19, n. 4175, 6 dez. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/
artigos/31030/o-vicio-redibitorio-em-materia-de-contratos-no-direito-civil>. Acesso
em: 20 ago. 2018.
ESCOLA BRASILEIRA DE DIREITO. Análise do vício redibitório e da evicção. Jusbrasil, 8 mar.
2017. Disponível em: <https://ebradi.jusbrasil.com.br/artigos/436737887/analise-do-vicio-
-redibitorio-e-da-eviccao>. Acesso em: 20 ago. 2018.
OAB DICAS. Entenda a diferença entre vício redibitório e evicção. Jornal Estado de
Minas, 26 out. 2017. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/direito-e-
-justica/2017/10/26/interna_direito_e_justica,911984/entenda-a-diferenca-entre-vicio-
-redibitorio-e-eviccao.shtml>. Acesso em: 20 ago. 2018.
ORTEGA, F. T. Você sabe o que é evicção? Jusbrasil, 19 nov. 2016. Disponível em: <https://
draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/406729781/voce-sabe-o-que-e-a-eviccao>.
Acesso em: 20 ago. 2018.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. Rio de Janeiro:
Forense, 2016.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
A evicção consiste na perda da posse, para um terceiro, de um determinado bem adquirido por
meio de contrato oneroso. O terceiro é o verdadeiro dono da coisa, mas o adquirente que alega
evicção não sabia disso no momento da negociação e compra do produto.
Assista.
EXERCÍCIOS
1) Sérgio doou para o seu amigo Silas uma televisão seminova em ótimo estado de
conservação. Silas agradeceu ao amigo pela doação e começou a utilizar o aparelho.
Passados 15 dias do recebimento do produto, Silas percebeu que a televisão desligava
sozinha. Então, resolveu levar para um técnico, o qual lhe informou que havia um
defeito interno e que Silas teria de pagar R$ 100,00 para consertar o aparelho de
televisão. Nesse caso, que direitos cabem a Silas em relação à doação feita por Sérgio?
A) Silas poderá propor uma demanda judicial sob alegação de vício redibitório e obrigar
Sérgio a pagar o custo para conserto da televisão, mesmo que estivesse ciente do defeito.
B) Silas poderá proporá uma demanda judicial e obrigar Sérgio a pagar o custo para conserto
da televisão, desde que comprove a existência de vício oculto que não poderia ter sido
percebido no momento em que recebeu a doação.
C) Silas poderá propor uma demanda judicial e obrigar Sérgio a pagar o custo para conserto
da televisão e mais uma indenização por danos morais, mesmo que estivesse ciente do
defeito, sob alegação de vício redibitório.
D) Silas não poderá requerer judicialmente, sob alegação de vício redibitório, que Sérgio
arque com o conserto da televisão.
E) Silas poderá devolver a televisão para Sérgio e exigir que ele pague o valor integral da
televisão, bem como indenização a favor de Silas, sob alegação de vício redibitório.
2) Marta entra em uma loja de automóveis e encontra um carro usado que é exatamente
o carro que estava procurando. Encantada com a beleza e lataria do automóvel,
renuncia à sugestão do vendedor de realizar um test drive, que não apresentava
qualquer defeito ou risco, decide levar o automóvel pagando o preço negociado com o
vendedor sem nem ao menos dar um passeio com o veículo ou dar partida.
Após 10 dias de uso, o carro começa a falhar na hora de dar partida. Imediatamente,
ela procura uma oficina e descobre que havia um defeito no motor de arranque
(motor de partida), que implicaria um custo de R$ 1.000,00 para arrumar.
A) Marta tem direito a devolver o automóvel, por meio de ação judicial, sob alegação de vício
redibitório.
B) Marta tem direito de propor ação quanti minoris e requer o abatimento do valor que pagou,
sob o argumento de vício redibitório.
C) Marta poderá ser indenizada pelos gastos com conserto se for realizado dentro do prazo de
garantia, mas não sob o argumento de vício redibitório.
E) Marta terá direito de receber de volta metade do que pagou pelo automóvel.
3) Mário comprou um caminhão vendido a ele por seu vizinho Cido, também
caminhoneiro. Após três meses de uso, Mário recebeu uma citação judicial. Tratava-
se de uma ação judicial proposta por Augusto, o qual alegava que já havia comprado
o caminhão do vizinho de Mário há um ano, conforme contrato de compra e venda
anexado no processo. Considerando este enunciado, quais atitudes Mario poderá
tomar?
B) Informar onde está o caminhão e não apresentar qualquer resposta junto ao processo.
D) Apresentar uma defesa judicial alegando que o caminhão é dele e que tem direito de
permanecer em sua posse.
E) Apresentar uma petição de denúncia da lide no processo, requerendo ao juiz que envie
uma citação para que Cido passe a fazer parte do processo e indenize Mário pelo valor que
pagou pelo caminhão.
4) Marlene recebeu R$ 100 mil de herança após o falecimento de seu pai. Com o valor,
ela comprou de Rubens uma Van com 15 lugares e fez um contrato de transporte
com um colégio de sua cidade, por 1 (um) ano), para transportar alunos da residência
para a escola e vice-versa.
No contrato, ficou acordado que Marlene receberia R$ 2 mil por mês até completar
os 12 meses, bem como que, se qualquer das partes cancelasse o contrato antes desse
prazo, a parte culpada teria de pagar uma multa de 50%. Após um mês de prestação
do serviço de transporte para o colégio, Marlene foi citada de uma ação proposta por
Rodrigo, o qual era o verdadeiro dono da Van.
B) Marlene irá perder a Van para Rodrigo e poderá requer de volta o valor que pagou para
Rubens, mas a multa de 50% terá que arcar sozinha.
C) Marlene, além de poder requerer que Rubens faça parte do processo para que devolva o
valor da Van, poderá obrigá-lo a pagar a multa de 50% do contrato de transporte e mais o
valor que ela receberia até completar 12 meses.
E) Marlene não perderá a Van e não terá de pagar qualquer tipo de multa.
C) Aquele que vende um bem que não é dele, mas de terceiro, é denominado evictor.
D) Na evicção, o evictor perde o bem para o alienante e paga uma multa para o evicto.
E) Aquele que compra um bem com vício oculto pode propor ação redibitória ou ação
estimativa.
NA PRÁTICA
Vício redibitório, instituto jurídico previsto o Código Civil Brasileiro, é um defeito oculto, não
perceptível no momento em que se vai adquirir um determinado bem, presente no momento
da transferida do bem em contratos comutativos, ou seja, que obriga ambas as partes.
Porém deve ser um defeito capaz de tornar o bem impróprio para o uso a que se destina ou que
lhe diminui do valor.
Veja um caso prático no qual uma particular entrou com ação judicial alegando vício
redibitório contra outro particular que lhe vendeu um automóvel.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Leia o artigo no site sugerido e entenda conceitos e elementos do vício redibitório e da evicção.
A partir do artigo no site a seguir, entenda como se aplica o vício redibitório nos contratos de
direito civil.
No artigo a seguir, entenda uma pouco mais, especificamente, a respeito do tema evicção.
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Direito de superfície
APRESENTAÇÃO
Bons estudos.
DESAFIO
O direito de superfície não pode ser confundido com a locação, de forma que, embora
apresentem algumas semelhanças, as diferenças entre os institutos são substanciais.
Considerando as disposições sobre o direito de superfície, discorra sobre como você poderia
orientar Jonas.
INFOGRÁFICO
O Código Civil e o Estatuto da Cidade são diplomas legais vigentes e que regulamentam o
direito de superfície. Ainda que surjam divergências em suas disposições, que podem trazer
dúvidas ao intérprete, as duas legislações devem conviver em harmonia no ordenamento
jurídico, especialmente no que se refere à aplicação prática de suas diretrizes.
Na obra Relações jurídicas de propriedade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, leia o
capítulo Direito de superfície e conheça um pouco mais sobre essas normas e seus impactos na
operacionalização do direito de superfície.
Boa leitura.
RELAÇÕES
JURÍDICAS DE
PROPRIEDADE
Introdução
A enfiteuse era um instituto jurídico que se caracterizava como direito real
e que foi substituída pelo direito de superfície, com o advento do Código
Civil de 2002, em razão de que esse instituto oferece mais vantagens e
maior segurança jurídica aos envolvidos. O direito de superfície é um
direito real por meio do qual o proprietário concede a outra pessoa o
direito de usar o seu imóvel, o qual deve ser concretizado por meio do
respectivo registro do Cartório de Imóveis.
Sob a perspectiva dos conceitos do direito de superfície, é possível
identificar algumas semelhanças com a locação imobiliária, como, por
exemplo, a previsão legal sobre o direito de preferência e o fato de que,
em ambos os institutos, a propriedade do bem imóvel não é transmitida
e se verificam o uso e o gozo do bem por terceiro. Contudo, o direito
de superfície não pode ser confundido com a locação, pois apresentam
diferenças substanciais especialmente no que se refere à natureza jurídica.
Neste capítulo, você vai ler sobre os modos de constituição e de
extinção do direito de superfície, as suas diferenças em relação à locação
e sua regulamentação no Código Civil e no Estatuto da Cidade.
2 Direito de superfície
Direito de superfície
O direito de superfície é um direito real, que se caracteriza pela concessão do
proprietário para outra pessoa — por tempo determinado ou não, de maneira
gratuita ou onerosa — do direito de construir ou plantar em seu imóvel. Assim
indica o art. 1.369 do Código Civil: “Art. 1.369 O proprietário pode conceder
a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo de-
terminado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de
Registro de Imóveis (BRASIL, 2002, documento on-line).
Já o art. 21 do Estatuto da Cidade — Lei nº. 10.257, de 10 de julho de
2001 — afirma: “Art. 21 O proprietário urbano poderá conceder a outrem o
direito de superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado,
mediante escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis”
(BRASIL, 2001, documento on-line).
O direito de superfície é, portanto, um direito real de gozo e fruição que
recai sobre bens imóveis, concretizado por meio de escritura pública registrada
no Cartório de Registro de Imóveis.
O direito de superfície surgiu no Estatuto da Cidade e no Código Civil de
2002 na intenção de substituir o instituto da enfiteuse, então banida, que se
caracterizava por permitir que o proprietário que não desejasse usar o imóvel
diretamente poderia cedê-lo a um interessado mediante a obrigação de paga-
mento de um foro para utilização do fundo. Como comenta Tartuce (2017), a
proposta do legislador era apresentar a superfície como uma alternativa mais
vantajosa do que a enfiteuse, em primeiro lugar porque a superfície pode ser
gratuita ou onerosa, enquanto a enfiteuse era sempre onerosa; em segundo,
pois a superfície é temporária ou não, enquanto a enfiteuse é necessariamente
perpétua, o que era uma grande desvantagem, pois a perpetuidade não é mais
marca dos novos tempos.
Assim, considerando que deveria ser formalizada por meio de um contrato
perpétuo, a enfiteuse firmada na vigência do Código Civil de 1916 ainda
permanecerá presente no nosso ordenamento jurídico, mesmo que não seja
mais regulamentada pelo Código Civil de 2002. Nesses casos, o diploma legal
antigo é o responsável por reger essas relações.
Feitas essas considerações iniciais, analisaremos a seguir as formas de
constituição e extinção do direito de superfície.
Direito de superfície 3
Art. 21 [...]
§ 3º O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tribu-
tos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda,
proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos
e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície,
salvo disposição em contrário do contrato respectivo (BRASIL, 2002,
documento on-line).
4 Direito de superfície
Art. 21 [...]
§ 4º O direito de superfície pode ser transferido a terceiros, obedecidos os
termos do contrato respectivo.
§ 5º Por morte do superficiário, os seus direitos transmitem-se a seus herdeiros
(BRASIL, 2001, documento on-line).
Previsão legal
Conforme comentado, o direito de superfície é regulado pelo Código Civil
e pelo Estatuto da Cidade. Ambos são diplomas legais que passaram a viger
na mesma época, o que exige do intérprete atenção e cuidado em casos de
conflito de normas.
Conforme Venosa (2018, p. 490), “[...] é de se perguntar se, no conflito
de normas, o presente Código, como lei posterior, derroga os princípios do
Estatuto. [...] o Estatuto vigorará sobranceiro no seu alcance de atuação, em
princípio, sobre as demais leis, ainda que posteriores”. Aqui, o autor ressalta
a primeira diferença entre essas normas: o Estatuto da Cidade trata do direito
de superfície aplicável apenas aos imóveis urbanos, enquanto o Código Civil
abrange os imóveis urbanos e rurais, ao mencionar “[...] o direito de construir ou
de plantar em seu terreno”, no art. 1.369 (BRASIL, 2002, documento on-line).
8 Direito de superfície
BRASIL. Lei nº. 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre as locações dos imóveis
urbanos e os procedimentos a elas pertinentes. Diário Oficial da União, 21 out. 1991. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8245.htm. Acesso em: 11 jul. 2019.
BRASIL. Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Consti-
tuição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.
Diário Oficial da União, 11 jul. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 11 jul. 2019.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406.htm. Acesso em: 11 jul. 2019.
CFJ. Enunciado no. 510. [2019]. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/enun-
ciado/579. Acesso em: 11 jul. 2019.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: direito das coisas. 31. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. v. 4.
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das coisas. 9. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017. v. 4.
VENOSA, S. S. Direito Civil: reais. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2018. v. 4.
DICA DO PROFESSOR
Constituído por meio de uma escritura pública que deve ser averbada no Registro de Imóveis, o
direito de superfície pode ser extinto por diversas razões, entre elas a desapropriação do imóvel.
Trata-se de procedimento administrativo que consiste na tomada do imóvel, pelo Poder Público,
em virtude de interesse da Administração Pública.
EXERCÍCIOS
2)
As hipóteses de extinção do direito de superfície estão previstas tanto no Código Civil
quanto no Estatuto da Cidade. Quando o superficiário adquire o imóvel e passa a ser
proprietário, o direito de superfície é extinto de que forma?
A) Pela desapropriação.
C) Pela consolidação.
D) Pelo distrato.
E) Pela renúncia.
3) A locação imobiliária e o direito de superfície são institutos que não podem ser
confundidos, embora apresentem algumas semelhanças em comum. Qual das
alternativas a seguir indica uma dessas semelhanças?
III — O Código Civil indica que o direito de superfície deve ser de prazo
determinado, enquanto o Estatuto da Cidade prevê também a possibilidade de prazo
indeterminado.
NA PRÁTICA
Uma vez regularmente constituído, o direito de superfície opera plenamente seus efeitos até que
se verifique uma das causas de extinção, como a morte do superficiário, por exemplo. Contudo,
trata-se de hipótese que ainda assim poderá ensejar a continuidade do direito de superfície, nos
termos do Código Civil e do Estatuto da Cidade.
Conheça a história do senhor Alcir e veja uma situação em que, mesmo com a morte do
superficiário, o direito de superfície permaneceu vigente.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Direito de superfície
Para saber mais sobre os conceitos do direito de superfície, leia este artigo.
Para saber mais sobre o direito de superfície, leia este artigo, que o trata como alternativa para a
locação de imóveis.
Acesse o site e veja como o Instituto de Registro Imobiliário do Brasil (IRIB) respondeu a uma
questão muito comum sobre o direito de superfície.