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Apresentação
É impossível viver sem os contratos. Na sua vida privada, você já parou para avaliar a relevância dos
contratos?
Quando você envia uma mensagem para um amigo ou parente por meio de um aplicativo do seu
celular, você está contratando; quando você utiliza a energia elétrica ou o serviço de fornecimento
de gás de sua residência para tomar um banho quente, está contratando; quando necessita de um
meio de transporte, seja ele ônibus, táxi, ou serviços de transporte via aplicativo, está contratando;
quando vai assistir a uma sessão de cinema, está contratando; quando assiste a uma aula, está
contratando; quando doa roupas que não usa mais para a caridade, está contratando.
Isso tudo porque os contratos possibilitam a vida em sociedade. Os contratos permitem que
negócios sejam realizados, propiciam a circulação de riquezas e fornecem maior segurança de que a
vontade manifestada seja cumprida. Em razão da proeminência dessa figura jurídica no meio social,
faz-se necessário conhecer o instituto dos contratos com mais profundidade.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar as noções gerais dos contratos, incluindo seus
aspectos relevantes e seus elementos constitutivos, além dos princípios aplicáveis à disciplina
contratual.
Bons estudos.
Relativamente à defesa de seu João: que dispositivos legais e princípios contratuais poderiam ser
invocados em defesa de seu João?
Infográfico
Para que você compreenda melhor as noções gerais de contrato, é importante categorizá-lo
juridicamente. Sendo assim, é interessante apresentar simplificada e esquematicamente a teoria do
fato jurídico.
No Infográfico a seguir, você vai poder observar o enquadramento dos contratos e dos demais
fatos de relevância jurídica, assim como as suas peculiaridades.
No capítulo Noções gerais de contrato, do livro Direito Civil III: teoria geral dos contratos, base
teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai encontrar mais subsídios para embasar o seu
estudo sobre as noções gerais de contrato. No material, constam ensinamentos acerca da
importância dos negócios jurídicos contratuais, sobre os elementos essenciais e acidentais dos
negócios jurídicos (incluindo a escada ponteana), assim como uma compilação dos mais relevantes
princípios orientadores da disciplina contratual.
Bons estudos.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
Entendidas como os negócios em geral, as trocas realizadas entre os indi-
víduos são muito anteriores à regulamentação dos negócios pelo Direito,
uma vez que fazem parte da vida em sociedade e, consequentemente,
do desenvolvimento da civilização.
Com o passar dos séculos, esses negócios tornaram-se cada vez mais
diversos e complexos. De meros escambos e contratos sem qualquer
expressão escrita, a figura do contrato evoluiu para formas contratuais de
clausulado extenso e sofisticado. Da mesma maneira, para acompanhar
a dinâmica socioeconômica, os contratos desenvolvidos paritariamente
pelas partes pouco a pouco cederam lugar aos contratos de massa,
destinados a contratantes despersonalizados. Esses contratos eram desen-
volvidos por meio de instrumentos em que o aceitante não dispunha de
qualquer grau de liberdade ou poder para deliberar acerca das cláusulas
contratuais, de modo que apenas aderia aos termos predeterminados
pelo proponente se assim fosse a sua vontade. Caso contrário, desistia
da negociação sem a possibilidade de formular uma contraproposta.
Frente a esse novo cenário, o Direito precisou adaptar a sua concepção
tradicional de contrato às modificações trazidas pela contemporaneidade
para regular as relações negociais entre as partes, evitar a supremacia dos
interesses de um contratante sobre o outro e consolidar princípios com
vistas a guiar o bom andamento das trocas.
2 Noções gerais de contrato
micas, depreendemos que não existe contrato sem conteúdo patrimonial, dada
a concepção clássica de contrato, sendo necessário que ele crie, modifique ou
extinga uma relação jurídica de natureza econômica.
Além dessas, existem outras definições que compreendem o contrato como
inevitável e inafastável, configurando-se como uma figura jurídica de grande
relevância. Mediante a inclusão dos princípios jurídicos que regem a figura
dos contratos, podemos definir o contrato como um “[...] negócio jurídico por
meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social
e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem
atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2008b, p. 11). Em sentido análogo, contrato é:
Negócio jurídico bilateral, por meio do qual as partes, visando a atingir de-
terminados interesses patrimoniais, convergem as suas vontades, criando um
dever jurídico principal (de dar, fazer ou não fazer) e, bem assim, deveres
jurídicos anexos, decorrentes da boa-fé objetiva e do superior princípio da
função social (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b, p. 14).
Não podemos confundir o contrato com o meio pelo qual ele foi realizado.
Instrumento contratual — meio pelo qual o contrato é firmado. É o documento
composto por cláusulas contratuais que contém o conteúdo do negócio.
Preâmbulo: é a parte introdutória e contém a qualificação das partes, a descrição
do objeto, a forma de cumprimento, assim como as razões e as justificativas para
a existência do contrato.
Contexto: é o conjunto das cláusulas contratuais.
Será lícito e legítimo o contrato que respeitar o ordenamento jurídico na sua totali-
dade, ou seja, tanto os elementos exigidos pela lei quanto os princípios que validam
o seu conteúdo (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b).
[...] ideia que reflete o máximo de subjetivismo que a ordem legal oferece: a
palavra individual, enunciada na conformidade da lei, encerra uma centelha de
criação, tão forte e tão profunda, que não comporta retratação, e tão imperiosa
que, depois de adquirir vida, nem o Estado mesmo, a não ser excepcionalmente,
pode intervir, com o propósito de mudar o curso de seus efeitos.
As relações jurídicas contratuais já não podem ser vistas apenas sob o prisma dos
princípios da força obrigatória e da autonomia da vontade, pois exigem uma análise
sistêmica, isto é, no contexto das demais normas jurídicas, atentando aos impactos que
os contratos acarretam a terceiros ou à coletividade. Assim, um grande empreendimento
imobiliário pode causar repercussões drásticas no meio ambiente, grandes indústrias
podem estar explorando em demasia o trabalho dos seus contratados, o que os leva à
exaustão, a aquisição de ofensivos agrícolas e a sua utilização, assim como a construção
de fossas e cemitérios, podem poluir lençóis freáticos, o que representa prejuízo coletivo.
Quando alguém em uma situação de perigo conhecida pela outra parte emite
declaração de vontade contratual para salvar a si ou a alguém próximo de
morte ou grave lesão (dano), de forma a assumir obrigação excessivamente
onerosa. Segundo o art. 156 do Código Civil (BRASIL, 2002), o estado de
Noções gerais de contrato 15
Art. 113 do Código Civil: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, as-
sim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Caso dos plantadores de tomates: a empresa Cica distribuía sementes aos agricultores
gaúchos, o que gerava a expectativa de compra da futura safra sem que qualquer
contrato fosse celebrado. Os agricultores, que confiavam na empresa, investiram na
produção dos tomates e plantaram as sementes recebidas, uma vez que em outras
ocasiões a Cica havia comprado a safra decorrente das sementes doadas. Contudo,
em dado momento a empresa optou por não comprar mais a safra desses pequenos
agricultores. Frente a isso, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul responsabilizou
a empresa pelas expectativas geradas, como segue:
Caso dos casacos de pele: na Alemanha, a dona de uma loja encomendou 120
casacos de pele de uma confecção. Os casacos foram confeccionados e entregues à loja
mediante o pagamento do preço acertado. Depois de finalizada essa relação jurídica,
a mesma confecção vendeu a mesma quantidade de casacos idênticos à loja vizinha,
agindo de forma desleal e em prejuízo das duas lojas. A primeira compradora conseguiu
uma reparação pela deslealdade post factum finitum (pós-contratual) (AZEVEDO, 2000).
BRASIL. Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis
do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
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Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Quinta Câmara Cível. Apelação Cível
nº. 591028295 RS. Relator: Ruy Rosado de Aguiar Júnior. TJRS, Porto Alegre, 6 jun. 1991a.
Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5424380/apelacao-civel-
-ac-591028295-rs-tjrs>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Terceiro grupo de Câmaras Cíveis.
Embargos Infringentes nº. 591083357 RS. Relator: Juiz Adalberto Libório barros. TJRS,
Porto Alegre, 1 nov. 1991b. Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurispruden-
cia/5441553/embargos-infringentes-ei-591083357-rs-tjrs>. Acesso em: 6 ago. 2018.
COOTER, R.; ULEN, T. Direito e economia. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: parte geral. 10. ed.
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GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: contratos. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008b. v. 4.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v. 3.
LÔBO, P. Direito Civil: contratos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MARTINS-COSTA, J. A boa-fé no Direito Privado: sistema e tópica no processo obrigacional.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. 1.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 3.
ROPPO, E. O contrato. Coimbra: Almedina, 2009.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie.12. ed. São
Paulo: Forense, 2017. v. 3.
Leituras recomendadas
PENTEADO, L. C. Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium.
THESIS São Paulo, v. 8, p. 39-70, 2007. Disponível em: <http://www.cantareira.br/thesis2/
ed_8/3_luciano.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2018.
22 Noções gerais de contrato
No estudo dos aspectos mais significativos das relações contratuais, várias teorias foram criadas.
Inicialmente, a vontade interna foi tomada como o elemento de maior relevância em uma
negociação. Contudo, percebeu-se que essa vontade, quando não manifestada, não daria ensejo
aos negócios, necessitando que os contratantes declarassem com clareza seu intento negocial.
Atualmente, em um mercado de massa e de elevado consumo, cujos contratos, por vezes, chegam a
ser praticamente instantâneos, não apenas a vontade interna e a vontade manifestada têm relevo
na avaliação dos negócios jurídicos contratuais, mas também outros aspectos como a necessidade
de segurança no tráfego negocial ou necessidade de lealdade, de colaboração, de clareza, entre os
contratantes, gerando deveres laterais de conduta para ambos. Outras teorias, então, necessitaram
ser desenvolvidas, como a teoria da confiança ou da autorresponsabilidade.
Neste vídeo, você vai estudar algumas das mais relevantes teorias explicativas dos negócios
jurídicos — a teoria da vontade, a teoria da declaração e a teoria da confiança.
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Exercícios
1) No que diz respeito à natureza jurídica dos contratos, é correto o que se afirma em:
B) Os contratos podem ser categorizados como atos jurídicos negociais, humanos, volitivos e
lícitos.
C) São atos jurídicos em sentido estrito, pois as partes podem escolher os efeitos, mas estarão
limitadas aos dispositivos legais.
E) O objeto ilícito.
B) o pacta sunt servanda determina que os contratos são apenas relativos às partes, e não a
terceiros.
A) o princípio da função social do contrato preocupa-se tão somente com o interesse social, de
modo que os negócios jurídicos realizados por particulares não venham a prejudicar a
coletividade.
C) a função social em seu aspecto intrínseco impõe que o contrato colabore com o
desenvolvimento social.
E) a função social, em seu aspecto extrínseco, atenta aos impactos que o contrato propicia
socialmente, evitando prejuízos a terceiros ou à coletividade.
A) Corresponde ao caráter psicológico do sujeito que age isento de malícia, ou seja, age bem-
intencionado, assim como corresponde à suposição de estar agindo em conformidade com o
Direito.
B) É cláusula geral que impõe às partes a observância de deveres laterais ou anexos apenas
durante as tratativas contratuais.
C) A função da boa-fé como criadora de deveres jurídicos anexos, faz com que o juiz deva
analisar e priorizar as situações fundadas na boa-fé dos contratantes, buscando na norma de
conduta o sentido moralmente mais recomendável e socialmente mais proveitoso, de modo a
resolver os casos concretos.
D) A boa-fé subjetiva é considerada com uma cláusula geral, ou seja, meio legislativamente hábil
para permitir o ingresso de princípios de natureza, em regra, constitucionais, de padrões ou
standards, de máximas de conduta, de modelos de comportamento, no ordenamento das
relações privadas, facilitando a sua aplicação no ordenamento jurídico.
Pode ser concluído que a boa-fé objetiva deve pautar a conduta das partes apenas após a
conclusão do negócio jurídico contratual e durante a sua execução. Contudo, há entendimento
consolidado de que a boa-fé é norma de conduta a ser seguida durante todo o processo contratual,
desde as tratativas até depois do cumprimento do contrato (III Jornada de Direito Civil —
Enunciado 170: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações
preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do
contrato).
Neste Na prática, você vai aprender como as instâncias superiores aplicam um dos mais
importantes consectários do princípio da boa-fé objetiva, o nemo potest venire contra factum
proprium, ou seja, a proibição do comportamento contraditório pelos partícipes da relação
contratual.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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Revisão de contrato no Código Civil
Considerando a sua aplicação no dia-a-dia de praticamente todas as pessoas, é razoável presumir
que, em algumas situações, as circunstâncias dos contratantes podem mudar entre a assinatura e a
execução do contrato. O que fazer nestes casos? Veja este curto vídeo sobre o tema e saiba mais
sobre a revisão de contratos.
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