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Noções gerais de contrato

Apresentação
É impossível viver sem os contratos. Na sua vida privada, você já parou para avaliar a relevância dos
contratos?

Quando você envia uma mensagem para um amigo ou parente por meio de um aplicativo do seu
celular, você está contratando; quando você utiliza a energia elétrica ou o serviço de fornecimento
de gás de sua residência para tomar um banho quente, está contratando; quando necessita de um
meio de transporte, seja ele ônibus, táxi, ou serviços de transporte via aplicativo, está contratando;
quando vai assistir a uma sessão de cinema, está contratando; quando assiste a uma aula, está
contratando; quando doa roupas que não usa mais para a caridade, está contratando.

Isso tudo porque os contratos possibilitam a vida em sociedade. Os contratos permitem que
negócios sejam realizados, propiciam a circulação de riquezas e fornecem maior segurança de que a
vontade manifestada seja cumprida. Em razão da proeminência dessa figura jurídica no meio social,
faz-se necessário conhecer o instituto dos contratos com mais profundidade.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar as noções gerais dos contratos, incluindo seus
aspectos relevantes e seus elementos constitutivos, além dos princípios aplicáveis à disciplina
contratual.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Explicar a relevância do estudo dos contratos.


• Analisar os elementos constitutivos dos contratos.
• Identificar os princípios aplicáveis aos contratos.
Desafio
Veja a situação apresentada no Desafio a seguir.
Como advogado de seu João da Silva, responda:
Relativamente à vontade de seu João: pode-se dizer que a vontade interna de seu João
correspondeu à vontade manifestada no instrumento contratual?

Relativamente à defesa de seu João: que dispositivos legais e princípios contratuais poderiam ser
invocados em defesa de seu João?
Infográfico
Para que você compreenda melhor as noções gerais de contrato, é importante categorizá-lo
juridicamente. Sendo assim, é interessante apresentar simplificada e esquematicamente a teoria do
fato jurídico.

No escalonamento criado para o entendimento do fato jurídico, a natureza jurídica do contrato é de


negócio jurídico bilateral, pois consiste em manifestações de vontade cujos efeitos podem ser
escolhidos pelas partes.

No Infográfico a seguir, você vai poder observar o enquadramento dos contratos e dos demais
fatos de relevância jurídica, assim como as suas peculiaridades.

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Conteúdo do livro
O contrato é uma figura jurídica que evoluiu junto com o desenvolvimento enconômico e social. De
livre manifestação da vontade das partes, passou a ser um instrumento de proveito individual e,
sempre que possível, coletivo. A máxima de que o contrato deve ser lei entre as partes encontrou
nas grandes guerras, uma justificativa para o seu abrandamento e passou a ser necessário um
esforço doutrinário e jurisprudencial para dar conta dos casos disfuncionais de contratação.

No capítulo Noções gerais de contrato, do livro Direito Civil III: teoria geral dos contratos, base
teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai encontrar mais subsídios para embasar o seu
estudo sobre as noções gerais de contrato. No material, constam ensinamentos acerca da
importância dos negócios jurídicos contratuais, sobre os elementos essenciais e acidentais dos
negócios jurídicos (incluindo a escada ponteana), assim como uma compilação dos mais relevantes
princípios orientadores da disciplina contratual.

Bons estudos.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS

Patricia Fernandes Fraga


Noções gerais de contrato
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar a relevância do estudo dos contratos.


 Analisar os elementos constitutivos dos contratos segundo a ótica
ponteana.
 Identificar os princípios fundamentais aplicáveis aos contratos.

Introdução
Entendidas como os negócios em geral, as trocas realizadas entre os indi-
víduos são muito anteriores à regulamentação dos negócios pelo Direito,
uma vez que fazem parte da vida em sociedade e, consequentemente,
do desenvolvimento da civilização.
Com o passar dos séculos, esses negócios tornaram-se cada vez mais
diversos e complexos. De meros escambos e contratos sem qualquer
expressão escrita, a figura do contrato evoluiu para formas contratuais de
clausulado extenso e sofisticado. Da mesma maneira, para acompanhar
a dinâmica socioeconômica, os contratos desenvolvidos paritariamente
pelas partes pouco a pouco cederam lugar aos contratos de massa,
destinados a contratantes despersonalizados. Esses contratos eram desen-
volvidos por meio de instrumentos em que o aceitante não dispunha de
qualquer grau de liberdade ou poder para deliberar acerca das cláusulas
contratuais, de modo que apenas aderia aos termos predeterminados
pelo proponente se assim fosse a sua vontade. Caso contrário, desistia
da negociação sem a possibilidade de formular uma contraproposta.
Frente a esse novo cenário, o Direito precisou adaptar a sua concepção
tradicional de contrato às modificações trazidas pela contemporaneidade
para regular as relações negociais entre as partes, evitar a supremacia dos
interesses de um contratante sobre o outro e consolidar princípios com
vistas a guiar o bom andamento das trocas.
2 Noções gerais de contrato

Neste capítulo, estudaremos algumas noções gerais dos contratos,


examinando a importância, o conceito, os elementos característicos e os
princípios orientadores da disciplina contratual.

Relevância social dos contratos


É inegável que o contrato é a figura jurídica de maior relevância no estudo do
Direito Civil, pois se configura como a fonte principal das obrigações (GON-
ÇALVES, 2010). Afinal, os contratos possibilitam as trocas, que permitem a
circulação de riquezas, sendo que essa circulação teoricamente possibilita que
um maior número de pessoas tenha acesso a bens e serviços. Por conseguinte,
aumentam as trocas e as riquezas, formando o que podemos chamar de um
círculo virtuoso.

Contratar faz parte da vida em sociedade.

Toda a sua vida é e provavelmente sempre será permeada por contratos,


desde os mais simples e automáticos até os mais complexos. Na vida con-
temporânea, contratar por vezes é uma contingência ou necessidade, como
podemos verificar nos contratos de fornecimento de água, gás e energia elétrica.
Contudo, eles também podem abarcar apenas uma forma de consumir lazer e
entretenimento, como no contexto dos contratos de prestação de serviços de
streaming (transmissão contínua) de vídeo e música, televisão por assinatura
ou, ainda, serviços gastronômicos ou artísticos.
Ainda no que se refere à importância da figura contratual, cumpre mencio-
narmos que o contrato é o instrumento que concretiza o direito de propriedade
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b), pois permite ao proprietário de
um bem-dispor sobre ele do modo que lhe aprouver em consonância e com
a proteção do ordenamento jurídico. Ademais, trata-se de um instituto de
conhecimento corrente, quase intuitivo, visto que ninguém vive em sociedade
sem contratar.
De modo geral, as relações de trabalho, a formação das empresas, a aquisi-
ção de bens e serviços ficariam sem regulação sem os contratos. Além disso, por
regulamentar os interesses das partes contratantes, eles estimulam os negócios,
uma vez que propiciam segurança jurídica quanto à execução da das vontades
manifestadas no instrumento contratual. Portanto, podemos concluir que os
contratos são instrumentos que reforçam a confiança e a colaboração entre
Noções gerais de contrato 3

as partes (COOTER; ULEN, 2010). Sendo assim, é evidente a necessidade de


compreender claramente o conceito, a natureza jurídica, as características, os
elementos e os princípios que norteiam as relações contratuais.

Conceito e natureza jurídica


O conceito de contrato modificou-se ao longo do tempo. Inicialmente conce-
bido como expressão do liberalismo econômico, da liberdade e da autonomia
das pessoas, aos poucos se tornou um instrumento de solidariedade e ética.
Antes de discutirmos as concepções de contrato propriamente ditas, cumpre
esclarecermos alguns aspectos acerca do fenômeno jurídico. Fato jurídico é
todo ato humano ou fato da natureza que tem relevância jurídica e, portanto,
passa a ser objeto de interesse e tutela pelo Direito. Inseridos nessa imensa
gama de fatos, encontram-se os atos executados pelo homem. Quando esses atos
são realizados de forma voluntária, lícita e de modo que os sujeitos envolvidos
possam escolher os efeitos que desejam produzir com a sua manifestação de
vontade, originam os negócios jurídicos, cujos exemplos mais notáveis para
o Direito Civil são justamente os contratos.
Conforme explica Gonçalves (2010), segundo a concepção clássica, con-
trato pode ser conceituado em sentido amplo como uma espécie de negócio
jurídico formado por, no mínimo, duas partes mediante mútuo consenso. Em
sentido estrito, por outro lado, pode ser entendido como um negócio jurídico
que cria, modifica ou extingue relações jurídicas patrimoniais. No mesmo
sentido, ao apresentar a influência do Direito francês na matéria contratual,
Almeida (2014, p. 25) ensina que contrato é um “[...] acordo projetado para
o futuro, que engendra, para um ou mais das pessoas que nele tomam parte,
obrigações de dar, de fazer ou de não fazer”.
Já Roppo (2009), com uma abordagem mais pragmática da figura contra-
tual, apresenta o contrato tanto como figura jurídica quanto como fenômeno
social. O autor demonstra que, antes de ser uma figura regulada pelo Direito,
o contrato representa uma operação econômica. Concretamente, refere a “[...]
aquisição ou a troca de bens e de serviços, o ‘negócio’ em suma, entendido,
por assim dizer, na sua materialidade, fora de toda a formalização legal, de
toda a mediação operada pelo direito ou pela ciência jurídica” (ROPPO, 2009,
p. 8). Diante disso, o autor expõe que o contrato “é a veste jurídico-formal de
operações econômicas. Donde se conclui que onde não há operação econômica,
não pode haver também contrato [...]” (ROPPO, 2009, p. 11). Ao considerarmos
o contrato como um instrumento jurídico para o fluxo das operações econô-
4 Noções gerais de contrato

micas, depreendemos que não existe contrato sem conteúdo patrimonial, dada
a concepção clássica de contrato, sendo necessário que ele crie, modifique ou
extinga uma relação jurídica de natureza econômica.
Além dessas, existem outras definições que compreendem o contrato como
inevitável e inafastável, configurando-se como uma figura jurídica de grande
relevância. Mediante a inclusão dos princípios jurídicos que regem a figura
dos contratos, podemos definir o contrato como um “[...] negócio jurídico por
meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social
e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem
atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2008b, p. 11). Em sentido análogo, contrato é:

Negócio jurídico bilateral, por meio do qual as partes, visando a atingir de-
terminados interesses patrimoniais, convergem as suas vontades, criando um
dever jurídico principal (de dar, fazer ou não fazer) e, bem assim, deveres
jurídicos anexos, decorrentes da boa-fé objetiva e do superior princípio da
função social (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b, p. 14).

Por fim, devemos evidenciar a natureza jurídica dos contratos. Como


podemos deduzir a partir das considerações apresentadas até o momento,
dentre os fatos de relevância e interesse do Direito, os contratos podem ser
categorizados como atos jurídicos negociais, humanos, volitivos e lícitos. Em
outras palavras, eles possuem natureza de negócio jurídico, que é a mani-
festação de vontades direcionada aos efeitos escolhidos pelas partes e pode
ser unilateral, como os testamentos, ou bilateral, como os contratos. Dessa
forma, os contratos são classificados como bilaterais, pois para se configurarem
são necessárias manifestações de vontade contrapostas que alcançaram um
consenso acerca do ato negocial. Por conseguinte, entendemos como contrato
o negócio jurídico bilateral constituído por meio de manifestação de vontades
dirigida à criação, modificação ou extinção de obrigações, considerados os
limites do ordenamento jurídico.
Apresentados o conceito e a natureza jurídica, cumpre examinarmos, a
seguir, os elementos e os princípios que regem os contratos.
Noções gerais de contrato 5

Não podemos confundir o contrato com o meio pelo qual ele foi realizado.
Instrumento contratual — meio pelo qual o contrato é firmado. É o documento
composto por cláusulas contratuais que contém o conteúdo do negócio.
 Preâmbulo: é a parte introdutória e contém a qualificação das partes, a descrição
do objeto, a forma de cumprimento, assim como as razões e as justificativas para
a existência do contrato.
 Contexto: é o conjunto das cláusulas contratuais.
Será lícito e legítimo o contrato que respeitar o ordenamento jurídico na sua totali-
dade, ou seja, tanto os elementos exigidos pela lei quanto os princípios que validam
o seu conteúdo (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b).

Elementos constitutivos segundo


a ótica ponteana
Primeiramente, é importante esclarecermos que, a depender da doutrina,
os elementos que serão apresentados neste capítulo como constitutivos po-
dem ser referidos como pressupostos, requisitos (segundo Pereira [1997], por
exemplo) ou condições de validade dos contratos (segundo Gonçalves [2010],
por exemplo).
Para alcançarmos uma compreensão global do fenômeno contratual, ana-
lisaremos um esquema que, embora não tenha sido criado por Pontes de
Miranda, foi denominado escada ponteana, pois se fundamenta nas suas
teorias (TARTUCE, 2017). Veja esse esquema na Figura 1.
6 Noções gerais de contrato

Figura 1. Representação da escada ponteana.

Posto isso, necessitamos especificar o que são os elementos essenciais


dos negócios jurídicos mencionados na escada ponteana.

Elementos do plano da existência — são os pressupostos para o negócio


jurídico. “Nesse plano há apenas substantivos sem adjetivos, ou seja, sem
qualquer qualificação (elementos que formam o suporte fático)” (TARTUCE,
2017, p. 15). Sem estes elementos, o negócio é inexistente:

 Agente ou parte — a vontade não se manifesta sozinha, de modo que


o sujeito ou o agente deve declará-la.
 Manifestação de vontade — não há negócio jurídico sem a manifestação
da vontade humana.
 Objeto — é a prestação da obrigação que foi acordada entre as partes e
subdivide-se em objeto imediato, que é a atividade requerida ao devedor
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da obrigação (dar, fazer ou não fazer), e objeto mediato, que compreende


o bem da vida transacionado (dinheiro, pintura, limpeza, aula, etc.).
 Forma — é o instrumento de condução da vontade (oral, escrita, ges-
tual, etc.).

Caso contenha todos esses elementos, o negócio existe juridicamente.

Elementos do plano da validade — são os elementos do plano da existência


adjetivados.

 Agente capaz e legitimado — o agente necessita de capacidade para


entabular negócios jurídicos. Nos termos do art. 166, I, do Código Civil
(BRASIL, 2002), se o agente for incapaz, o negócio é nulo. Conforme
o art. 171, I, do mesmo diploma legal, caso o agente seja relativamente
incapaz, o negócio é anulável se não for confirmado pelo representante
legal (pais, tutor, curador). Igualmente, quando a lei assim o exigir,
precisará estar legitimado para realizar determinados contratos.
 Vontade livre (consciente) e de boa-fé — a vontade livre é aquela for-
mada sem vícios de consentimento, como erro, dolo, coação, lesão ou
estado de perigo. De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2008b),
também é necessária que as partes atentem aos deveres oriundos da
boa-fé em sentido objetivo, isto é, cuidado, sigilo, informação, lealdade
etc. Da mesma forma, a vontade não deve se destinar a prejudicar a con-
traparte, como nos casos de fraude e simulação, e deve buscar cumprir
com o que foi pactuado. Nesse sentido, o art. 110 do Código Civil assim
define: “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja
feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o
destinatário tinha conhecimento” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Portanto, quando o agente não deseja de fato aquilo que manifestou,
o negócio é desconstituído somente se a outra parte conhecia as reais
intenções do manifestante.
 Objeto idôneo — o objeto do negócio deve ser: lícito, de modo que
não seja contrário ao Direito nem a moral; possível juridicamente e
fisicamente, uma vez que não é válido, por exemplo, um contrato de
compra e venda de terreno no céu ou de parte do oceano; determinado
ou determinável, ou seja, deve possuir requisitos mínimos de indivi-
duação, como espécie e quantidade. Ademais, atentemos ao art. 426
do Código Civil: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa
viva” (BRASIL, 2002).
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 Forma prescrita ou não defesa em lei — a forma de exteriorização


da vontade em regra é livre. Entretanto, quando prescrita em lei, ela
pertence à substância do negócio e deve, portanto, ser respeitada, sob
pena de nulidade do negócio (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2008b). A esse respeito, confira os arts. 108 e 166, IV e V, do Código
Civil (BRASIL, 2002).

Uma vez que existentes e válidos, os negócios tendem a produzir ime-


diatamente os seus efeitos no mundo dos fatos. Contudo, é possível que haja
elementos acidentais que limitam essa eficácia.

Elementos do plano da eficácia — são elementos acidentais, uma vez que


a eficácia dos negócios jurídicos contratuais tende a ser imediata. Contudo,
eventualmente os seguintes elementos podem limitar essa eficácia:

 Condição — evento futuro e incerto que, caso ocorra, inicia a produção


dos efeitos do negócio (condição suspensiva) ou faz cessá-los (condição
resolutiva).
 Termo — evento futuro e certo que atrasa o começo da produção dos
efeitos do negócio (termo inicial) ou faz cessá-los (termo final).
 Modo ou encargo — determinação acessória acidental de negócios
jurídicos gratuitos que impõe ao beneficiário do negócio um ônus a
ser cumprido em favor de uma liberalidade, como vantagens, bens e
direitos, maior (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008b).

Considerados os elementos essenciais e acidentais dos negócios jurídi-


cos contratuais, cumpre examinarmos os princípios que guiam o processo
contratual.

Para aprender mais acerca da concepção de obrigação e contratos como processo,


sugerimos a leitura do livro A obrigação como processo, de Clóvis do Couto e Silva
(SILVA, 2007).
Noções gerais de contrato 9

Princípios fundamentais da relação contratual

Princípio da autonomia da vontade ou do consensualismo


Não há contrato se as vontades não forem autônomas. Essa autonomia da
vontade manifesta-se de duas formas diversas:

 Liberdade para contratar — é a opção de realizar ou não determinado con-


trato e escolher com quem contratar. A liberdade para contratar relaciona-se
ao consensualismo, que é o encontro de vontades livres e contrapostas.
Afinal, o consentimento é fundamental à realização de um contrato.
 Liberdade contratual ou para estipular o conteúdo do contrato —
é a possibilidade de estabelecer o conteúdo do contrato. A liberdade
contratual é muito reduzida nos contratos realizados por adesão, nos
quais a liberdade de contratar ainda existe, mas a contratual, isto é, de
estipular as cláusulas, é praticamente nula.

Esquematicamente, podemos resumir as expressões do princípio da auto-


nomia da vontade ou do consensualismo da seguinte forma:

 liberdade de contratar (de contratar ou não e de escolher com quem


contratar);
 liberdade contratual (de estipular o conteúdo do contrato);

De maneira semelhante, Gagliano e Pamplona Filho (2008b) consideram


que o princípio da autonomia da vontade pode ser compreendido em três
liberdades diversas:

 Liberdade para contratar — é preciso que haja a vontade de contratar e


que ela seja livre, pois ninguém deve ser obrigado a firmar um contrato,
sob pena de vício de consentimento. Se a vontade não é livre, sucede a
invalidade do negócio jurídico. Uma exceção a esse tipo de liberdade
é a contratação do seguro obrigatório de veículos, por exemplo.
 Liberdade para escolher com quem contratar — os agentes devem
poder escolher com quem contratar. As exceções residem nas hipóteses
de monopólio da prestação de serviços, como nos casos de energia
elétrica e água, situações que normalmente são prejudiciais aos con-
tratantes, pois, sem concorrência, as prestadoras tendem a oferecer
serviços de mínima qualidade.
10 Noções gerais de contrato

 Liberdade para estabelecer o conteúdo do contrato — na medida do


possível, as partes devem entrar em um consenso (contratos paritários) no
que tange ao conteúdo do contrato. Quanto mais liberdade houver para a
estipulação conjunta do seu conteúdo, mais forte será o vínculo das partes
com as obrigações firmadas. Como exceções a esse tipo de liberdade,
podemos citar o contrato de trabalho, cujas cláusulas atendem ao art. 7º da
Constituição Federal (BRASIL, 1988), à Consolidação das Leis do Trabalho
(BRASIL, 1943) e demais legislações complementares. Além do contrato
de trabalho, o contrato por adesão, cujas cláusulas são preestabelecidas
por uma das partes e a outra apenas adere, também se apresenta como
uma exceção. O instrumento contratual por adesão permite facilitar as
trocas, pois reduz os custos de uma estipulação contratual pormenorizada
e possibilita o tratamento isonômico entre os aderentes. Os abusos even-
tualmente cometidos nesses contratos são objeto de controle externo do
Estado (BRASIL, 2002, arts. 423 e 424 do Código Civil; BRASIL, 1990,
arts. 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor [CDC]).

Em benefício do bem comum, há limitações da autonomia da vontade ou


do consensualismo:

 Dirigismo contratual — diz respeito ao intervencionismo do Estado


nos negócios privados. O Estado cria normas destinadas a proteger os
elementos economicamente mais fracos, como no caso dos contratos
de trabalho, locação, consumo, etc.
 Autonomia privada — semelhante à autonomia da vontade, mas nesse
caso limitada ou exercida nos limites do ordenamento jurídico, que
podem ser dados pela própria lei para garantir direitos ou impedir abusos
(BRASIL, 1990, art. 51 do CDC), pela moral em função da avaliação
ética do negócio jurídico, pela ordem pública em relação a temas de
relevante interesse do Estado relacionados ao Direito, à política, à
economia, etc. Portanto, atualmente a expressão “autonomia privada”
passa a ser mais adequada na avaliação dos negócios jurídicos em geral.

Princípio da força obrigatória do contrato


ou da obrigatoriedade
Este é o princípio que mais corresponde ao ideal liberal e à concepção clássica
dos contratos, uma vez que o contrato deve ser lei entre as partes. Segundo
Pereira (2017, p. 14), o princípio da força obrigatória do contrato tem em si uma:
Noções gerais de contrato 11

[...] ideia que reflete o máximo de subjetivismo que a ordem legal oferece: a
palavra individual, enunciada na conformidade da lei, encerra uma centelha de
criação, tão forte e tão profunda, que não comporta retratação, e tão imperiosa
que, depois de adquirir vida, nem o Estado mesmo, a não ser excepcionalmente,
pode intervir, com o propósito de mudar o curso de seus efeitos.

Em virtude do princípio da obrigatoriedade dos contratos, o contrato deve


ser cumprido conforme o estipulado pelos sujeitos envolvidos, pois, uma vez
que contratam livre e conscientemente, devem honrar as obrigações assu-
midas. Contudo, nenhum princípio possui caráter absoluto e o Código Civil
de 2002 trouxe expressamente hipóteses de moderação do princípio da força
obrigatória (BRASIL, 2002).
O pacta sunt servanda era tido como absoluto quando ainda se pressupunha
que as partes eram formalmente iguais e deliberavam de forma equilibrada sobre
o conteúdo do contrato. Entretanto, hoje em dia esse princípio tem se tornado mais
discreto nos negócios jurídicos contratuais em razão da criação de mecanismos
jurídicos de regulação do equilíbrio contratual (nulidade de cláusulas abusivas,
teoria da imprevisão, etc.). Um desses mecanismos ou instrumentos é a teoria
da imprevisão, que une o brocardo pacta sunt servanda (“o contrato deve ser
cumprido”) com rebus sic stantibus (“estando as coisas assim”). Portanto, o contrato
estabelece uma lei entre as partes e deve ser cumprido, estando as coisas como
estavam no momento de fixação do negócio. Dessa forma, quando um aconteci-
mento imprevisível e superveniente torna a prestação muito onerosa para uma das
partes, pode ser necessária a modificação ou até mesmo a extinção do contrato.
A teoria da imprevisão pura, ou não qualificada, não exige como elemento
essencial para aplicação o enriquecimento da parte contrária, pois o seu objetivo
é socorrer o contratante que, em virtude de uma situação imprevista, será lesado
pelo desequilíbrio contratual (vedação da onerosidade excessiva). Todavia, para
a teoria da imprevisão qualificada é necessária a comprovação da onerosidade
excessiva, ou seja, da imprevisão, assim como da vantagem excessiva obtida
pela outra parte. Já para a teoria da quebra da base objetiva, ou da onerosidade
excessiva pura, é preciso apenas comprovar a onerosidade excessiva, dispensada
a imprevisibilidade ou a extraordinariedade do evento superveniente.

Princípio da equivalência das prestações ou da


equivalência material
O contrato obriga as partes nos limites do equilíbrio dos direitos e deveres
entre elas. Esse equilíbrio possui dois aspectos (LÔBO, 2011, p. 71):
12 Noções gerais de contrato

 Aspecto subjetivo — considera a vulnerabilidade das partes contratan-


tes, de forma que há casos em que deve ser dado tratamento mais atento
às partes que estejam em notória desvantagem na relação contratual,
como aderentes, consumidores, trabalhadores, etc. Da mesma forma,
analisa o poder econômico dominante das partes e a sua influência na
relação contratual.
 Aspecto objetivo — diz respeito à efetiva desigualdade de direitos e
deveres estipulados no contrato ou decorrentes de evento superveniente.
Nesse caso, o ordenamento jurídico deve primar pelo equilíbrio ou
reequilíbrio (BRASIL, 1990, art. 6º do CDC) entre as prestações das
partes, evitando o abuso do poder econômico e o enriquecimento sem
causa por parte do credor às custas do empobrecimento sem causa por
parte do devedor (BRASIL, 2002, art. 478 e seguintes do Código Civil).

Assim, podemos perceber nitidamente que o princípio da equivalência


material possui estreita relação com os princípios do pacta sunt servanda e
rebus sic stantibus.

Princípio da relatividade dos efeitos do contrato


Se o contrato estabelece uma lei entre as partes, então os seus efeitos dizem respeito
apenas às partes e não a terceiros estranhos à relação jurídica originada (LÔBO,
2011, p. 64). Logo, o que foi contratado pelas partes não prejudica nem beneficia
terceiros. Todavia, as exceções residem na estipulação em favor de terceiro,
quando A contrata B para executar algo em benefício de C, como nos casos de
seguro de vida, e no contrato com pessoa a declarar. Acerca do tema, vejamos o
art. 467 do Código Civil: “No momento da conclusão do contrato, pode uma das
partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos
e assumir as obrigações dele decorrentes” (BRASIL, 2002, documento on-line).

Princípio da função social do contrato


Além de atender aos requisitos de validade do negócio jurídico, os contratos
também devem respeitar normas (regras e princípios) de conteúdo moral e social,
que são plenamente exigíveis por serem valoradas pelo ordenamento jurídico.
De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2008a), a origem do princípio
da função social do contrato está na função social da propriedade, momento
em que se percebeu que ela deveria ser digna de tutela somente se além dos
Noções gerais de contrato 13

interesses privados atendesse a uma finalidade social. Nesse contexto, o


contrato também passa a ser um meio de atender não só a interesses privados,
mas também a finalidades sociais, garantindo a dignidade dos contratantes.
Esse princípio expressa caráter dúplice (TARTUCE, 2017; GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2008b):

1. Intrínseco ou interno — diz respeito à análise do contrato em si, uma vez


que não pode ser vantajoso apenas para uma das partes. É o princípio da
função social que atua na relação entre as partes para manter o equilíbrio da
relação contratual, de modo que ela não seja um instrumento de submissão
de uma das partes à outra. Assim, abusos entre os contratantes são inibidos.
2. Extrínseco ou externo — o contrato não pode ser vantajoso apenas para
as partes. É o princípio da função social que atua na relação do negócio
jurídico frente à sociedade e atenta aos impactos que o contrato propi-
cia socialmente. Dessa maneira, as trocas devem ser úteis e justas e o
contrato deve colaborar com o desenvolvimento social, pois é um meio
fundamental para a circulação de riquezas e, portanto, tem implícito um
caráter de progresso, de acesso a bens e serviços, que são essenciais ao
desenvolvimento da sociedade. É por meio dos contratos que se alcança
maior segurança e colaboração no cumprimento das obrigações, de modo
a facilitar e incentivar as trocas. Além disso, em sentido socioeconômico,
é inegável a contribuição motivada pelos negócios jurídicos contratuais.

As relações jurídicas contratuais já não podem ser vistas apenas sob o prisma dos
princípios da força obrigatória e da autonomia da vontade, pois exigem uma análise
sistêmica, isto é, no contexto das demais normas jurídicas, atentando aos impactos que
os contratos acarretam a terceiros ou à coletividade. Assim, um grande empreendimento
imobiliário pode causar repercussões drásticas no meio ambiente, grandes indústrias
podem estar explorando em demasia o trabalho dos seus contratados, o que os leva à
exaustão, a aquisição de ofensivos agrícolas e a sua utilização, assim como a construção
de fossas e cemitérios, podem poluir lençóis freáticos, o que representa prejuízo coletivo.

Conforme o art. 421 do Código Civil: “A liberdade de contratar será exer-


cida em razão e nos limites da função social do contrato” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
14 Noções gerais de contrato

O legislador determinou que a liberdade de contratar deve ser exercida em


razão da função social do contrato, fundamentada na diretriz de socialidade do
Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002). Tal afirmação — que a função social
deve ser a razão de contratar — severa e limitativa deve ser compreendida
mais no sentido intrínseco da função social do contrato do que no sentido
extrínseco, ou seja, no sentido de que as partes necessitam manter um equilíbrio
de direitos e deveres para que o contrato não seja objeto ou instrumento de
injustiças ou abusos que atentem contra a dignidade das partes.
Já no que tange aos limites que a função social impõe aos contratos, o
caráter exógeno aparece com mais ênfase, uma vez que a liberdade de con-
tratar deve encontrar justo limite no interesse social, nos valores garantidos
constitucionalmente. Desse modo, negócios jurídicos que acarretem prejuízos
sociais aos consumidores, ao meio ambiente ou à dignidade da pessoa devem
ser barrados em respeito à função social do contrato.

Função social e lesão

Ocorre lesão quando alguém se obriga à prestação manifestamente despropor-


cional em relação à contraprestação. O art. 157 do Código Civil (BRASIL, 2002)
veda a ocorrência de negócio jurídico cujas prestações são manifestamente
desiguais. A lesão se faz presente em situações de premente necessidade
patrimonial ou inexperiência da parte:

 Necessidade patrimonial — o devedor é impelido a contratar para suprir


uma necessidade premente. A necessidade é patrimonial e, portanto,
não diz respeito a risco de morte ou grave lesão.
 Inexperiência — falta de conhecimento acerca do negócio, do preço
ou das condições do objeto da transação.

O ordenamento jurídico não pode permitir que negócios jurídicos sejam


firmados em situação de lesão, visto que a vontade emitida está de algum
modo prejudicada (vício de consentimento).

Função social e estado de perigo

Quando alguém em uma situação de perigo conhecida pela outra parte emite
declaração de vontade contratual para salvar a si ou a alguém próximo de
morte ou grave lesão (dano), de forma a assumir obrigação excessivamente
onerosa. Segundo o art. 156 do Código Civil (BRASIL, 2002), o estado de
Noções gerais de contrato 15

perigo vicia o consentimento, de modo que a vontade não é plenamente livre,


e pode dar margem à anulação do negócio jurídico. Como exemplo, podemos
citar o termo de responsabilidade ou caução exigidos pelos hospitais antes de
procedimentos de urgência e o aumento do valor do seguro saúde enquanto a
vítima doente está hospitalizada. Assim como na lesão, o ordenamento jurídico
não pode permitir que os contratos sejam concluídos sob estado de perigo,
de modo que a função social, sobretudo no seu aspecto intrínseco, pode ser
invocada para tutelar eventuais abusos de uma parte sobre a outra.

Princípio da boa-fé contratual


Segundo Gagliano e Pamplona Filho (2008a), o princípio da boa-fé contratual
possui duas origens:

 Direito romano ( fides ou bona fides) — fidelidade ao que foi pactuado


ou obediência, comprometimento. A expressão “boa-fé” teria como
significado honrar a palavra dada.
 Direito alemão (Treu und Glauben) — lealdade e crença, confiança,
regras que deveriam ser observadas nas relações jurídicas em geral.
A boa-fé corresponderia a uma conduta pautada na lealdade, na
confiança e na ética, pois dela decorrem os deveres de conduta a serem
seguidos pelos contratantes.

Boa-fé subjetiva (norma-regra): corresponde ao caráter psicológico do sujeito


que age isento de malícia, bem-intencionado, assim como à suposição de agir em
conformidade com o Direito. É relativa ao desconhecimento da violação e à intenção
do sujeito; contrária à má fé. Contratualmente, apenas a boa-fé subjetiva não basta.

Boa-fé objetiva (norma-princípio): cláusula geral que impõe às partes o dever


de colaborar mutuamente, determinando um comportamento ativo (positivo) de
pautar-se com lealdade, de modo a evitar atos que causem prejuízo à outra parte.
É relativa à confiança, ao comportamento probo, pois é a ética que se espera nos
contratos e no comportamento das partes, fundamentada na diretriz de eticidade do
Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002). O seu fundamento estaria no dito processo de
constitucionalização do Direito Civil, ao passo que a sua finalidade seria flexibilizar o
sistema contratual para permitir soluções adequadas em casos concretos com fulcro
na diretriz da concretude ou operabilidade do Código Civil.
16 Noções gerais de contrato

Boa-fé objetiva = norma de conduta = modelo de comportamento


= impõe deveres além dos estipulados no contrato, orienta a ativi-
dade judicial e limita o exercício de direitos subjetivos

A boa-fé objetiva é considerada uma cláusula geral, legislativamente hábil


para permitir o ingresso de princípios de natureza em regra constitucionais,
de padrões ou standards, de máximas de conduta, de modelos de compor-
tamento no ordenamento das relações privadas, facilitando a sua aplicação
no ordenamento jurídico. Essa cláusula geral impõe às partes a observância
de deveres laterais ou anexos durante todo o processo obrigacional, desde a
fase das tratativas até após a conclusão do contrato. Esses deveres anexos,
secundários, laterais ou de proteção encontram-se fora do âmbito da obrigação
principal assumida pelas partes (dar, fazer ou não fazer) e dizem respeito
aos deveres de lealdade, confiança, assistência, confidencialidade, sigilo,
informação, cooperação, cuidado, segurança, aviso, esclarecimento, etc. Os
deveres anexos são impostos a ambas as partes da relação contratual e balizam
a interpretação judicial.
Veja, a seguir, as funções da boa-fé objetiva (MARTINS-COSTA;
GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008a).

Interpretação ou integração do cânone hermenêutico. Por meio da boa-fé,


o negócio jurídico deve obedecer aos usos e costumes do lugar em que foi
constituído, uma vez que as partes contratantes não são quaisquer sujeitos de
direito, senão pessoas situadas em um contexto de circunstâncias existenciais.
Assim, a boa-fé pode ser entendida como cláusula geral, técnica legislativa
que busca garantir a adequação do Direito, que é mais estático, à realidade
social, mais dinâmica.

Art. 113 do Código Civil: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração” (BRASIL, 2002,
documento on-line).

Nesse sentido, ao interpretar o propósito dos contratantes, o juiz deve ana-


lisar e priorizar as situações fundadas na boa-fé dos contratantes, buscando na
norma de conduta o sentido moralmente mais recomendável e mais proveitoso
para a sociedade, para resolver os casos concretos. Toda cláusula contratual
deve ter os seus sentido e alcance conforme a ética que se espera das partes.
Noções gerais de contrato 17

Ética da situação. O conteúdo da boa-fé deve ser preenchido consoante os


usos do tráfico ou as práticas do mercado. Assim, a interpretação dos negócios
jurídicos não observa apenas a lei, mas também as circunstâncias fáticas, os
usos, o contexto que envolve as partes.

Integração, criação de deveres jurídicos anexos ou de proteção. A boa-fé


objetiva é uma fonte autônoma de obrigações, pois determina o aumento de
deveres além dos que a avença explicitamente constituiu, isto é, independen-
temente da vontade das partes. É endereçada a todos os partícipes da relação
jurídica e pode, inclusive, criar deveres para o credor, que é tradicionalmente
considerado apenas titular de direitos. Ela estabelece entre os partícipes do
vínculo um elo cooperativo em favor do objetivo a que visam. São exemplos de
deveres laterais, anexos, de proteção ou instrumentais a lealdade, a confiança,
a assistência, a informação, o sigilo, a confidencialidade, a colaboração, etc.

Consequência da função integrativa. Infunde a noção de obrigação ou


contratação como processo, pois os deveres laterais estão presentes desde
a fase pré-contratual (tratativas) até a pós-contratual (post factum finitum).
Como exemplos, temos a pré-eficácia da boa-fé objetiva no caso “Cica versus
plantadores de tomates” e a pós-eficácia da boa-fé objetiva no “caso dos ca-
sacos de pele” e no “caso da vista para o monte” (veja o quadro “Exemplo” a
seguir). Cumpre apresentarmos detidamente alguns desses deveres a seguir.

 Dever de lealdade. Impõe que os negócios sejam embasados na trans-


parência, de modo que a conduta das partes não se direcione ao oportu-
nismo ou à lesão dos interesses ou direitos alheios. Visar à proposição
de ação revisional de contrato antes mesmo de contrair a obrigação e
usar o contrato como meio de ganhar vantagem indevida, valendo-se
da inexperiência alheia, são exemplos de condutas desleais.
 Proteção da confiança. A confiança depositada pelas partes na crença
da regular constituição do negócio jurídico deve ser objeto de atenção
do Direito. Desse modo, a frustração imotivada da confiança legítima
pode dar ensejo à reparação civil. A confiança é digna de tutela jurídica
quando coexistem quatro elementos (ALMEIDA, 2014):
1. situação de confiança efetiva e imputável a determinado sujeito;
2. confiança justificável por dados objetivos e críveis;
3. investimento de confiança;
4. boa-fé de quem confiou.
18 Noções gerais de contrato

 Dever de assistência. É o dever de cooperação, uma vez que cabe aos


contratantes colaborar para o correto adimplemento da sua obrigação.
Portanto, é vedado às partes tornar custoso o cumprimento da obrigação,
dificultando o pagamento a ser realizado pelo devedor ou o recebimento
pelo credor.
 Dever de informação. Trata-se de dever das partes de comunicar todas
as características e as circunstâncias do negócio, bem como o objeto
de interesse das partes. O dever de informação encontra-se no CDC
da seguinte forma:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


[...]
III — a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição, quali-
dade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem
(BRASIL, 1990, documento on-line).

Esse dever de informação não é exigido apenas nas relações de consumo,


pois abrange todos os negócios jurídicos. No Código Civil, ele aparece no
art. 147 nos seguintes termos: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio
intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte
haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio
não se teria celebrado” (BRASIL, 2002, documento on-line).

 Dever de sigilo. Impõe às partes o dever de guardar confidencialidade


sobre os seus dados privados e sobre o próprio negócio realizado. Desse
modo, as partes não podem divulgar informações pessoais às quais
tiveram acesso em razão do contrato, pois feririam os deveres laterais
oriundos da boa-fé objetiva.

Delimitação do exercício de direitos subjetivos. Por essa função, a boa-fé


objetiva desempenha o papel de evitar o exercício inadmissível de direitos,
coibindo o abuso de direito (BRASIL, 2002, art. 187 do Código Civil). Afi-
nal, o abuso de direito vai de encontro à exigência de lealdade, confiança e
colaboração entre as partes, preconizadas pela boa-fé objetiva, o que impede
que a parte que tenha violado deveres contratuais exija o cumprimento pela
outra parte ou se beneficie do seu descumprimento.
Noções gerais de contrato 19

Art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, as-
sim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002, documento on-line).

Como já referimos, embora haja omissão por parte do legislador, não


significa que as partes contratantes não devam observar os princípios da
probidade e da boa-fé nas demais fases da obrigação. Assim, em todas as fases
do processo contratual as partes devem se comportar com probidade e boa-fé.
Acerca da responsabilidade pelo descumprimento dos deveres laterais
ou pelo uso abusivo dos direitos, vejamos o Enunciado nº. 24 do Conselho
de Justiça Federal: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art.
422, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento
independentemente de culpa”. Significa que é ônus do lesante comprovar a
sua inocência, de modo que basta que o lesado comprove o prejuízo e o nexo
de causalidade para a comprovação da responsabilidade objetiva (BRASIL,
2002, art. 927, parágrafo único, do Código Civil).

Responsabilidade pré-contratual, delitual ou aquiliana (culpa in contrahendo)

Caso dos plantadores de tomates: a empresa Cica distribuía sementes aos agricultores
gaúchos, o que gerava a expectativa de compra da futura safra sem que qualquer
contrato fosse celebrado. Os agricultores, que confiavam na empresa, investiram na
produção dos tomates e plantaram as sementes recebidas, uma vez que em outras
ocasiões a Cica havia comprado a safra decorrente das sementes doadas. Contudo,
em dado momento a empresa optou por não comprar mais a safra desses pequenos
agricultores. Frente a isso, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul responsabilizou
a empresa pelas expectativas geradas, como segue:

CONTRATO. TRATATIVAS. "CULPA IN CONTRAHENDO". RES-


PONSABILIDADE CIVIL. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA
ALIMENTICIA, INDUSTRIALIZADORA DE TOMATES, QUE
DISTRIBUI SEMENTES, NO TEMPO DO PLANTIO, E ENTAO MA-
NIFESTA A INTENCAO DE ADQUIRIR O PRODUTO, MAS DEPOIS
RESOLVE, POR SUA CONVENIENCIA, NAO MAIS INDUSTRIA-
LIZA-LO, NAQUELE ANO, ASSIM CAUSANDO PREJUIZO AO
AGRICULTOR, QUE SOFRE A FRUSTRACAO DA EXPECTATIVA
DE VENDA DA SAFRA, UMA VEZ QUE O PRODUTO FICOU SEM
POSSIBILIDADE DE COLOCACAO. PROVIMENTO EM PARTE
20 Noções gerais de contrato

DO APELO, PARA REDUZIR A INDENIZACAO A METADE DA


PRODUCAO, POIS UMA PARTE DA COLHEITA FOI ABSORVIDA
POR EMPRESA CONGENERE, AS INSTANCIAS DA RE. VOTO
VENCIDO, JULGANDO IMPROCEDENTE A AÇÃO (12FLS — D.)
(BRASIL, 1991ª, documento on-line).

CONTRATO. TEORIA DA APARÊNCIA. INADIMPLEMENTO. O


trato, contido na intenção, configura contrato, porquanto os produtores,
nos anos anteriores, plantaram para a CICA e, não tinham por que
plantar, sem garantia da compra (BRASIL, 1991b, documento on-line).

Responsabilidade pós-contratual (post factum finitum)

Caso da vista para o monte: o proprietário de um imóvel o vendeu a uma compradora


e garantiu que a vista belíssima em direção a um monte jamais seria obstruída, pois o
plano diretor da cidade proibia a construção naquele local. Convencida, a compradora
fechou negócio. Posteriormente, o vendedor comprou o terreno em frente ao que havia
vendido e conseguiu uma alteração no plano diretor, o que lhe permitiu construir um
novo prédio, impedindo a visão da paisagem que dera motivo ao negócio anterior.
Lesada pelo empreendimento, a compradora conseguiu uma indenização pelos
prejuízos causados pelo descumprimento dos deveres laterais mesmo após a conclusão
do negócio entre as partes em função da afronta à boa-fé objetiva (AZEVEDO, 2000).

Caso dos casacos de pele: na Alemanha, a dona de uma loja encomendou 120
casacos de pele de uma confecção. Os casacos foram confeccionados e entregues à loja
mediante o pagamento do preço acertado. Depois de finalizada essa relação jurídica,
a mesma confecção vendeu a mesma quantidade de casacos idênticos à loja vizinha,
agindo de forma desleal e em prejuízo das duas lojas. A primeira compradora conseguiu
uma reparação pela deslealdade post factum finitum (pós-contratual) (AZEVEDO, 2000).

ALMEIDA, C. F. Contratos: conceito, fontes, formação. 5. ed. Coimbra: Edições Almedina,


2014. v. 1.
AZEVEDO, A. J. Insuficiências, deficiências e desatualização do projeto de código civil
na questão da boa-fé objetiva nos contratos. Revista Trimestral de Direito Civil, v. 1, p.
3-12, 2000.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/constituicao.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
Noções gerais de contrato 21

BRASIL. Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis
do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Quinta Câmara Cível. Apelação Cível
nº. 591028295 RS. Relator: Ruy Rosado de Aguiar Júnior. TJRS, Porto Alegre, 6 jun. 1991a.
Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5424380/apelacao-civel-
-ac-591028295-rs-tjrs>. Acesso em: 6 ago. 2018.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Terceiro grupo de Câmaras Cíveis.
Embargos Infringentes nº. 591083357 RS. Relator: Juiz Adalberto Libório barros. TJRS,
Porto Alegre, 1 nov. 1991b. Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurispruden-
cia/5441553/embargos-infringentes-ei-591083357-rs-tjrs>. Acesso em: 6 ago. 2018.
COOTER, R.; ULEN, T. Direito e economia. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: parte geral. 10. ed.
São Paulo: Saraiva, 2008a. v. 1.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: contratos. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008b. v. 4.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v. 3.
LÔBO, P. Direito Civil: contratos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MARTINS-COSTA, J. A boa-fé no Direito Privado: sistema e tópica no processo obrigacional.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. 1.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 3.
ROPPO, E. O contrato. Coimbra: Almedina, 2009.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie.12. ed. São
Paulo: Forense, 2017. v. 3.

Leituras recomendadas
PENTEADO, L. C. Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium.
THESIS São Paulo, v. 8, p. 39-70, 2007. Disponível em: <http://www.cantareira.br/thesis2/
ed_8/3_luciano.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2018.
22 Noções gerais de contrato

SCHREIBER, A. A proibição do comportamento contraditório: tutela da confiança e venire


contra factum proprium. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.
SILVA, C. V. C. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
TEODORO JÚNIOR, H. Dos efeitos do negócio jurídico no novo código civil. Revista da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, n. 40, 2001. Disponível em:
<https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/view/1215>. Acesso
em: 6 ago. 2018.
Dica do professor
Em uma relação contratual, estarão envolvidos muitos aspectos de interesse das partes, como os
motivos que levaram a contratar, o escopo ou causa do contrato, os quais podem, ou não, ser
juridicamente relevantes.

No estudo dos aspectos mais significativos das relações contratuais, várias teorias foram criadas.
Inicialmente, a vontade interna foi tomada como o elemento de maior relevância em uma
negociação. Contudo, percebeu-se que essa vontade, quando não manifestada, não daria ensejo
aos negócios, necessitando que os contratantes declarassem com clareza seu intento negocial.

Atualmente, em um mercado de massa e de elevado consumo, cujos contratos, por vezes, chegam a
ser praticamente instantâneos, não apenas a vontade interna e a vontade manifestada têm relevo
na avaliação dos negócios jurídicos contratuais, mas também outros aspectos como a necessidade
de segurança no tráfego negocial ou necessidade de lealdade, de colaboração, de clareza, entre os
contratantes, gerando deveres laterais de conduta para ambos. Outras teorias, então, necessitaram
ser desenvolvidas, como a teoria da confiança ou da autorresponsabilidade.

Neste vídeo, você vai estudar algumas das mais relevantes teorias explicativas dos negócios
jurídicos — a teoria da vontade, a teoria da declaração e a teoria da confiança.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Exercícios

1) No que diz respeito à natureza jurídica dos contratos, é correto o que se afirma em:

A) O contrato representa uma operação econômica.

B) Os contratos podem ser categorizados como atos jurídicos negociais, humanos, volitivos e
lícitos.

C) São atos jurídicos em sentido estrito, pois as partes podem escolher os efeitos, mas estarão
limitadas aos dispositivos legais.

D) São negócios jurídicos unilaterais, prescindindo do consenso.

E) É a manifestação de vontade livre e ilimitada.

2) Quais são os elementos acidentais do negócio jurídico entre as alternativas a seguir?

A) A vontade, o agente, o objeto e a forma.

B) A vontade livre e de boa-fé, o agente legitimado e a condição suspensiva.

C) A condição, o termo e o encargo ou modo.

D) A reserva mental e a forma proibida por lei.

E) O objeto ilícito.

3) Sobre os princípios que guiam as relações contratuais, pode-se afirmar que:

A) a liberdade de contratar corresponde à liberdade de escolher as cláusulas que formarão o


conteúdo negocial.

B) o pacta sunt servanda determina que os contratos são apenas relativos às partes, e não a
terceiros.

C) a autonomia privada corresponde à manifestação da vontade, independentemente dos limites


jurídicos e éticos.
D) nos contratos por adesão, em geral, a liberdade de contratar existe, porém, a liberdade
contratual resta muito prejudicada para o aderente ou aceitante do negócio.

E) o princípio do consensualismo não tem relação com o encontro de manifestações de


vontades livres e contrapostas.

4) Pode-se afirmar sobre os princípios da função social do contrato e da equivalência das


prestações, que:

A) o princípio da função social do contrato preocupa-se tão somente com o interesse social, de
modo que os negócios jurídicos realizados por particulares não venham a prejudicar a
coletividade.

B) a equivalência das prestações impõe que as partes obtenham exatamente as mesmas


vantagens.

C) a função social em seu aspecto intrínseco impõe que o contrato colabore com o
desenvolvimento social.

D) a caução exigida pelos hospitais como condição para a realização de procedimentos de


urgência, não violando a função social do contrato.

E) a função social, em seu aspecto extrínseco, atenta aos impactos que o contrato propicia
socialmente, evitando prejuízos a terceiros ou à coletividade.

5) Assinale a alternativa correta no que diz respeito ao princípio da boa-fé objetiva.

A) Corresponde ao caráter psicológico do sujeito que age isento de malícia, ou seja, age bem-
intencionado, assim como corresponde à suposição de estar agindo em conformidade com o
Direito.

B) É cláusula geral que impõe às partes a observância de deveres laterais ou anexos apenas
durante as tratativas contratuais.

C) A função da boa-fé como criadora de deveres jurídicos anexos, faz com que o juiz deva
analisar e priorizar as situações fundadas na boa-fé dos contratantes, buscando na norma de
conduta o sentido moralmente mais recomendável e socialmente mais proveitoso, de modo a
resolver os casos concretos.

D) A boa-fé subjetiva é considerada com uma cláusula geral, ou seja, meio legislativamente hábil
para permitir o ingresso de princípios de natureza, em regra, constitucionais, de padrões ou
standards, de máximas de conduta, de modelos de comportamento, no ordenamento das
relações privadas, facilitando a sua aplicação no ordenamento jurídico.

E) A função da boa-fé como delimitadora do exercício de direitos subjetivos objetiva evitar o


exercício inadmissível de direitos, coibindo o abuso de direito (art. 187 do Código Civil).
Na prática
O art. 422 do Código Civil determina que: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

Pode ser concluído que a boa-fé objetiva deve pautar a conduta das partes apenas após a
conclusão do negócio jurídico contratual e durante a sua execução. Contudo, há entendimento
consolidado de que a boa-fé é norma de conduta a ser seguida durante todo o processo contratual,
desde as tratativas até depois do cumprimento do contrato (III Jornada de Direito Civil —
Enunciado 170: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações
preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do
contrato).

Neste Na prática, você vai aprender como as instâncias superiores aplicam um dos mais
importantes consectários do princípio da boa-fé objetiva, o nemo potest venire contra factum
proprium, ou seja, a proibição do comportamento contraditório pelos partícipes da relação
contratual.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

O princípio da boa-fé nos contratos


Leia o seguinte artigo do professor Antônio Junqueira de Azevedo sobre a boa-fé nos contratos.

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Função social do contrato


Leia o breve artigo do professor Miguel Reale, o qual esclarece o papel da função social dos
contratos no Código Civil de 2002.

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A aplicação do princípio da boa-fé nas relações contratuais


No artigo a seguir você vai ver que o princípio da boa-fé é apresentado pelo Novo Código Civil
como um dos princípios norteadores, e vem sendo concretizado nas jurisprudências devido à sua
magnitude e extensão, não sendo mais visto como um simples princípio norteador.

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Revisão de contrato no Código Civil
Considerando a sua aplicação no dia-a-dia de praticamente todas as pessoas, é razoável presumir
que, em algumas situações, as circunstâncias dos contratantes podem mudar entre a assinatura e a
execução do contrato. O que fazer nestes casos? Veja este curto vídeo sobre o tema e saiba mais
sobre a revisão de contratos.

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