Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
UNIDADE 4
CONTRATOS INTERNACIONAIS
4
INTRODUÇÃO
Desde a época em que o homem se aventurou nos mares e oceanos em busca de
novos horizontes e mercados, o comércio internacional vem se desenvolvendo em
escalas cada vez maiores e mais rápidas, encurtando barreiras e integralizando
diferentes nações.
Após a Segunda Guerra Mundial, o direito comercial passou a buscar a sua internacio-
nalização. A criação da Comissão das Nações Unidas sobre Direito Comercial Interna-
cional (UNCITRAL), em 1966, é classificada como um evento monumental no campo
do comércio exterior, pois promoveu o surgimento de uma nova lex mercatoria e do
chamado direito internacional do comércio.
Nesta unidade, estudaremos a teoria geral dos contratos, passando por conceitos bási-
cos até chegarmos nos contratos em espécie, com enfoque no mais utilizado na atuali-
dade: o contrato de compra e venda de mercadoria.
Não é difícil identificar contratações em nosso cotidiano, porquanto até mesmo quando
praticamos as mais simples atividades estamos contratando. Veja-se como exemplo
fazer compras no mercado, adquirir um pacote de dados móveis da operadora de tele-
fonia, alugar um imóvel, entre outros.
96
O contrato acompanha a sociedade desde os primórdios e evolui conjuntamente com
ela. Retrocedendo historicamente, Aristóteles considerava que o contrato era uma lei
feita por particulares, tendo em vista determinado negócio. Essa é a mesma linha de
entendimento de Hans Kelsen, que vê no contrato uma norma jurídica particular (CÁR-
NIO, 2009, p. 4).
4
O contractus estabelece um vínculo jurídico entre os contraentes e apresenta dois
1
elementos essenciais: (a) o acordo de vontades por meio do qual as partes convergem
a respeito do objeto do contrato e (b) a subordinação à lei.
O direito contratual, seja ele nacional ou internacional, é regido por princípios fun-
damentais, os quais nortearão o comportamento dos indivíduos componentes do
negócio jurídico.
Por último, e não menos importante, temos o princípio da boa-fé, que preceitua que
os contratantes são obrigados a guardar a boa-fé entre si. Isso exige que as partes se
comportem de forma correta desde as tratativas até a execução do pacto.
Ainda, cabe ressaltar que cada ordenamento jurídico tratará especificamente dos seus
princípios, sendo que os elementos norteadores acima mencionados são gerais, aplicá-
veis a qualquer contrato, porquanto universalmente aceitos.
A conduta desses agentes é regida pelos contratos internacionais, que são instrumen-
tos destinados a regular os direitos e obrigações das partes.
Ocorre, todavia, que o incremento das relações entre os operadores do comércio en-
sejou um aumento das relações comerciais que extrapolaram um território, ocasionan-
do o envolvimento de mais de um ordenamento jurídico apto a regular o contrato. É
justamente este envolvimento que diferencia um contrato interno de um internacional.
Vejamos a figura abaixo para diferenciação dos contratos.
Figura 01. Diferenciação entre contrato interno e internacional
Dessa forma, o contrato internacional possui elementos que possibilitam sua vinculação
a sistemas jurídicos diferentes, ou seja, se os elementos constitutivos (partes, objeto,
local de celebração, local de execução) estiverem conectados a mais de um Estado, o
contrato será internacional.
Irineu Strenger (2001, p. 457) leciona que os contratos internacionais são a consequên-
cia do intercâmbio entre Estados e pessoas, apresentando características peculiares,
complementando que eles “são o motor, no sentido estrito, do comércio internacional e,
em sentido amplo, das relações internacionais, em todos os seus matizes”.
Para o professor Hee Moon Jo (2001, p. 439), “é aquele cujos elementos constitutivos
da relação transpassam duas ou mais jurisdições internacionais”.
98
Por essa razão, no contrato internacional a escolha da lei aplicável é o tema mais com-
plexo a se resolver, devido à questão da multiconectividade2. Diante disso, há um esfor-
ço internacional para a solução do problema.
Vejamos algumas convenções que trataram do assunto ao longo da história (JO, 2001,
p. 443-448). 4
Convenção de Haia sobre a Lei Aplicável aos Contratos para a Venda Inter-
nacional de Mercadorias (1986): substituiu a anterior, adotando, em primeiro
lugar, a livre vontade das partes contratantes como regra principal. Em segundo,
na ausência de acordo expresso, aplica-se a lei nacional do lugar do negócio do
vendedor e, na falta desta, a lei nacional do lugar de residência do vendedor.
Podemos citar como exemplo um negócio jurídico firmado entre uma empresa chinesa
e uma brasileira, em que constou no contrato que a formação, validade, construção e o
cumprimento deste serão regidos pelas leis do Paraguai.
2
O contrato que se vincula a mais de um sistema jurídico.
3
Conflito de interesses, contenda.
Outro assunto que também deve ser pensado quando estamos falando em contrato
internacional é a quem as partes irão recorrer em caso de conflito de interesses. No
contrato elas poderão inserir cláusula de eleição de foro ou cláusula compromissória, a
fim de decidir como será tratado eventual desentendimento futuro.
100
único ou uma maioria deles designados, em princípios pelas partes ou por uma
entidade por elas indicada. Mediante a instituição do tribunal arbitral exclui-se
a competência dos juízes estatais para julgar a mesma lide (RECHSTEINER,
2001, p. 16).
Para que houvesse maior uniformidade na prática deste método, a UNCITRAL formulou
4
a Lei Modelo sobre Arbitragem Comercial Internacional.
Cabe ressaltar que o árbitro é um terceiro em relação ao conflito e irá decidir qual das
partes têm razão. Seu papel é muito similar ao exercido pelo Juiz, que também é um
terceiro que irá “dizer o direito”. A diferença entre eles está no campo de atuação, ou
seja, o Juiz atuará em nome do Estado, enquanto o árbitro atuará na seara privada.
Os trabalhos realizados pela UNCITRAL são relevantes à medida que a Comissão ser-
ve de foro global para debates nos quais os Estados, doutrinadores e representantes
da sociedade civil unem-se com o objetivo comum de encontrar soluções equânimes
para os mais diversos desafios apresentados ao direito do comércio internacional (PO-
LIDO; SILVA, 2017, p. 166).
Para ter acesso a mais detalhes acerca da UNCITRAL, acesse o site oficial:
4 https://uncitral.un.org/. Acesso em: 10 ago. 2020.
O UNIDROIT teve sua origem com a Sociedade das Nações (Liga das Nações), em
1926, como um órgão auxiliar, sendo reestabelecido após o término da Liga, em 1940,
com base em um acordo multilateral (Estatuto da UNIDROIT). No Brasil, o Estatuto foi
promulgado através do Decreto nº 884, de 02 de agosto de 1993.
A organização possui estrutura tripartite, composta por uma Assembleia Geral, um Con-
selho de Governo e um Secretariado.
Para a consecução dos fins a que se destina, o Instituto (BRASIL, 1993, [n. p.]):
d. interessa-se pelas iniciativas já adotadas em todas estas áreas por outras institui-
ções, com as quais ele pode, se necessário, manter contato;
e. organiza conferências e publica estudos que considere dignos de ter ampla difusão.
Ainda, podemos destacar as publicações do UNIDROIT acerca dos princípios que re-
gem o direito internacional do comércio, que são importantes instrumentos rumo à uni-
formização das regras comerciais.
Para ter acesso a mais detalhes acerca da UNIDROIT, acesse o site oficial:
https://www.unidroit.org/about-unidroit/overview. Acesso em: 10 ago. 2020.
102
[...] pode ser definida como corpo de normas criado por comerciantes na Idade
Média a fim de atender às necessidades do renascimento comercial europeu.
Esse sistema de normas surgiu como alternativa aos sistemas jurídicos que
criavam entraves (ou elevados custos de transação) às relações comerciais da
época, oferecendo aos agentes econômicos um sistema de solução de confli-
tos independente do Estado (PUGLIESE; SALAMA, 2008, [n. p.]).
4
Este sistema jurídico tinha como principais características: (a) o caráter transnacional;
(b) os usos e costumes do comércio; (c) a aplicação por árbitros comerciantes; (d) a
informalidade e presteza e (e) a importância do princípio da boa-fé no desempenho da
atividade mercantil.
Para Sommer (2014, [n. p.]), “a nova Lex mercatoria, por não se confundir com o direito
do comércio internacional, se reveste de alto dinamismo, uma vez que seu nascedouro
se perfaz através de usos e costumes da prática do comércio internacional”, e com-
plementa que o novo cenário normativo abarca contratos-tipo e regras formadas por
entidades internacionais tais como a CISG e a UNIDROIT.
Além destas, a Lex mercatoria também encontra amparo e evolução nos lau-
dos arbitrais, formando-se, através destes, verdadeiro repertório jurispruden-
cial arbitral de forma a auxiliar a interpretar casos novos nas relações interna-
cionais, bem como adequar a aplicação destas regras apátridas à realidade
atual das relações negociais internacionais (SOMMER, 2014, [n. p.]).
Cabe ressaltar que as partes contratantes detêm autonomia para eleger a lei aplicável
a determinado negócio jurídico, em homenagem ao princípio da autonomia da von-
tade. Contudo, em determinados casos, será necessário nos socorrermos do Direito
Internacional Privado.
Observe-se que o ramo do Direito Privado, como já induz o próprio nome, refere-
se às relações jurídicas entabuladas entre particulares, pessoas físicas ou
jurídicas. O fundamento desta ciência jurídica será justamente o relacionamento
internacional, conjugado com a diversidade de ordenamentos jurídicos que
4 aparentemente podem incidir a uma determinada situação.
É composto por normas de direito interno. No Brasil, a legislação que
trata de conflitos de normas no espaço é a Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942), também
conhecida como LINDB.
Os elementos de conexão serão divididos em duas classes nesta disciplina: (a) elemen-
tos de conexão relativos à capacidade das pessoas físicas e jurídicas; (b) elementos de
conexão relacionados a aspectos extrínsecos. Vejamos cada um deles.
O elemento de conexão relativo à capacidade das pessoas será o domicílio (lex do-
micilli). Dessa forma, a lei do país em que é domiciliada a pessoa determina as regras
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família
(art. 7º da LINDB).
104
locus regit actum (o local rege o ato). Vejamos um caso hipotético para melhor visuali-
zação, considerando que no contrato não há cláusula de lei aplicável.
Uma sociedade brasileira, sediada em São Paulo, resolveu contratar uma sociedade
chilena, sediada em Santiago, para realizar um estudo que lhe permitisse expandir suas
atividades no exterior. Depois das negociações, o representante da sociedade chilena 4
veio ao Brasil e o contrato foi assinado na sede da sociedade brasileira, em São Paulo.
Ficou convencionado que o estudo seria concluído em dez meses, contudo, o contrato
não foi cumprido.
O questionamento que surge é: qual será a lei aplicada ao caso, ou seja, brasileira ou
chilena? Para solucionar o conflito buscaremos na Lei de Introdução às Normas do Di-
reito Brasileiro (LINDB) a resposta para nosso questionamento.
Fonte: elaborada
Norma aplicável
Lei do país de
aos contratos
constituição da
pelo autor.
internacionais
obrigação
privados
Frise-se que, no exemplo acima, apenas nos valemos da LINDB por conta da ausência
de cláusula de lei aplicável, ou seja, as partes não escolheram lei específica para reger
o contrato, autorizando, assim, a aplicação das normas de Direito Internacional Privado.
2. CONTRATOS EM ESPÉCIE
2.1 Contrato de compra e venda internacional
O contrato internacional de compra e venda é a pedra angular do comércio internacio-
nal. “A origem histórica e remota do contrato de compra e venda está ligada à troca”
(GONÇALVES, 2010, p. 211).
4
Sobrava.
a ser utilizadas como “moeda de troca” e, assim, instituía-se um padrão para facilitar o
intercâmbio e comércio de bens úteis ao homem.
Inicialmente, foram utilizadas as cabeças de gado (pecus, dando origem à palavra pe-
cúnia). Posteriormente, o ser humano passou a utilizar metais preciosos, até que surgiu
4 a moeda e, juntamente com ela, a compra e venda como é entendida atualmente.
Denomina-se contrato de compra e venda o acordo de vontades no qual uma das partes
(vendedor) se obriga a transferir o domínio de uma coisa à outra (comprador), mediante
a contraprestação de certo preço em dinheiro.
Assim, observe-se que para configurar esta modalidade contratual é necessário que
haja três elementos:
b. O preço: valor em dinheiro que deve ser pago pelo comprador ao vendedor.
Vale ressaltar que a expressão “em dinheiro” não deve ser interpretada de forma
literal, porquanto é admitido pagamento através de título de crédito, cartão mag-
nético ou qualquer forma que possa ser redutível a dinheiro. Já se o pagamento
se der apenas através de objeto, teremos desconfigurado o contrato de compra
e venda, pois ele se tornará um contrato de troca ou permuta.
106
O contrato de compra e venda internacional é instrumento complexo por natureza, por-
quanto inclui condições de venda, transporte, seguro e meio de pagamento, além de
estabelecer a divisão das responsabilidades sobre os riscos e custos das operações,
serviços portuários, custos alfandegários, entre outros.
Além disso, válido consignar que o direito brasileiro não contém regras de direito material 4
específicas para os contratos de venda internacional de mercadorias, distintas das normas
aplicáveis aos contratos celebrados no âmbito interno do país (GREBLER, [s. d.], p. 97).
Fonte: 123rf.
“Os Incoterms têm como finalidade definir a responsabilidade dos compradores e ven-
dedores por ocasião da entrega do produto, conforme o contrato de venda. Os termos
determinam os custos e riscos das partes” (ICC BRASIL, 2020, [n. p.]).
Cabe ressaltar que os termos sofrem atualizações periódicas, a cada dez anos. A última
atualização ocorreu em outubro de 2019, lançando os chamados Incoterms 2020, que
entraram em vigor em 1º de janeiro de 2020.
Grupo C CFR (Cost and Freight), CIF (Cost, Insurance and Freight), CPT (Carriage
Paid to), CIP (Carriage and Insurance Paid to);
Grupo D DPU (Delivered At Place Unloaded), DAP (Delivered at place), DDP (Deliv-
ered Duty Paid);
Grupo F FCA (Free Carrier), FAS (Free Alongside Ship) e FOB (Free on Board).
Vendedor
= Exportador
Comprador
= Importador
País de Origem
= País do exportador
País de Destino
= País do importador
108
Grupo C
O grupo C engloba quatro modalidades de Incoterms – CPT, CIP, CFR e CIF –, tendo
por característica comum a transferência de custos e riscos em dois momentos distin-
tos, ou seja, não ocorrem simultaneamente.
4
Figura 05. Ilustração representativa do In- CPT (Carriage Paid To): Transporte Pago
coterm CPT Até.
Fonte: 123rf.
O Incoterm CPT é utilizado normalmente
quando intervém vários meios de transporte e,
nesse caso, o exportador se responsabiliza
pelos custos de transporte até o local acor-
dado no país de destino. Já o risco é de res-
ponsabilidade do exportador até a entrega
da mercadoria para o primeiro transporta-
dor no país de origem.
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído
Preparar a mercadoria.
no contrato de transporte).
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no con-
---------------------------------------------------------------
trato de transporte).
Fonte: elaborada pelo autor.
Figura 06. Ilustração representativa CIP (Carriage And Insurance Paid To): Transpor-
do Incoterm CIP te e Seguro Pago Até.
Fonte: 123rf.
Nessa modalidade, além de arcar com os custos do frete, o exportador deve pagar
também o seguro da mercadoria. Assim, se ocorrer algum problema durante o trans-
porte marítimo, o importador recorrerá diretamente à seguradora.
Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
4 responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 02. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm CIP
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído no
Preparar a mercadoria.
contrato de transporte).
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Contratar uma apólice de seguro. ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no
---------------------------------------------------------------
contrato de transporte).
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 07. Ilustração representativa do CFR (Cost And Freight): Custo e Frete.
Incoterm CFR
O Incoterm CFR é utilizado somente no transpor-
Fonte: 123rf.
Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 03. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm CFR
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído no
Preparar a mercadoria.
contrato de transporte).
110
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o navio. --------------------------------------------------------------- 4
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no
---------------------------------------------------------------
contrato de transporte).
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 08. Ilustração representativa do Inco- CIF (Cost, Insurance And Freight): Custo,
term CIF Seguro e Frete.
Fonte: 123rf. O CIF, assim como o CFR, estabelece a en-
trega da mercadoria ao transportador a bordo
do navio designado, sendo uma modalidade
exclusivamente marítima. Quando a carga
passa a amurada do navio, o risco é trans-
ferido do exportador para o importador.
Nessa modalidade, além de arcar com os custos do frete, o exportador deve pagar tam-
bém o seguro da mercadoria. Assim, se ocorrer algum problema durante o transporte
marítimo, o importador recorrerá diretamente à seguradora.
Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 04. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm CIF
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído no
Preparar a mercadoria.
contrato de transporte).
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o navio. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Contratar uma apólice de seguro. ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no
---------------------------------------------------------------
contrato de transporte).
Fonte: elaborado pelo autor.
Grupo D
O grupo D conta com três modalidades – DPU, DAP e DDP –, tendo sofrido a maior
transformação dos Incoterms 2020, com a substituição do termo DAT pelo DPU. Esse
grupo tem por diferencial a transferência de risco, que ocorre no país de destino. Além
4 disso, os Incoterms do grupo são aplicados para todos os modais de transporte.
Fonte: 123rf.
No Incoterm DAP os custos e riscos são
do exportador até o momento da entrega
da carga no local de destino designado.
Vale ressaltar que a carga é deixada à dis-
posição do importador dentro do transporte
para que esta seja descarregada, ou seja, se
ocorrer um problema com a mercadoria no
momento da descarga a responsabilidade é
do importador.
Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 05. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm DAP
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Descarga no destino, se não estiver incluída no
contrato de transporte principal.
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete) até o local combinado ---------------------------------------------------------------
para descarga.
Fonte: elaborado pelo autor.
O DPU foi criado em substituição ao DAT (Delivered At Terminal), nos Incoterms 2020,
e significa que o exportador é responsável por todos os riscos e custos com trans-
porte até a entrega da mercadoria no local de desembarque acordado, incluída a
descarga no país de destino.
112
Figura 10. Ilustração representativa
do Incoterm DPU
Fonte: 123rf.
4
Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 06. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm DPU
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Carga e transporte local no país de origem. Transporte local no país de destino.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. ---------------------------------------------------------------
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino. ---------------------------------------------------------------
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 11. Ilustração representativa do Inco- DDP (Delivered Duty Paid): Entregue com
term DDP Direitos Pagos.
Fonte: 123rf.
No entanto, esse Incoterm se diferencia dos demais por determinar ser responsabilida-
de do exportador todos os custos referentes aos trâmites aduaneiros de exportação e
de importação, assim como demais despesas e tributos (direitos pagos).
Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
4 responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 07. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm DDP
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Descarga do último transporte no país de destino.
Carga e transporte local no país de origem. Transporte local no país de destino.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. ---------------------------------------------------------------
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Desembaraço aduaneiro para a importação. ---------------------------------------------------------------
Fonte: elaborado pelo autor.
Grupo E
Figura 12. Ilustração representativa do In- EXW (Ex Works): Na origem.
coterm EWX
Esse grupo conta com um único Incoterm, o
Fonte: 123rf.
O EXW se destaca por ser o Incoterm em que a maior parte das responsabilidades
(custos e riscos) é assumida pelo importador. Por conta disso, esse Incoterm é pouco
utilizado.
Vejamos o quadro comparativo abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
114
Tabela 08. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm EXW
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria e a disponibilizar ao impor- Carregar a mercadoria.
tador no “chão da fábrica”. 4
--------------------------------------------------------------- Transporte local no país de origem.
--------------------------------------------------------------- Desembaraço aduaneiro para a exportação.
--------------------------------------------------------------- Deslocar a carga para o transporte principal.
--------------------------------------------------------------- Transporte principal (frete).
--------------------------------------------------------------- Descarga no local de destino.
--------------------------------------------------------------- Desembaraço aduaneiro para a importação.
--------------------------------------------------------------- Transporte no país de destino.
Fonte: elaborado pelo autor.
Grupo F
O grupo F comporta três modalidades de Incoterms – FCA, FAS e FOB – cujo ponto
em comum é a transferência dos riscos e custos simultaneamente no país de origem.
Figura 13. Ilustração representativa do Inco- FAS (Free Alongside Ship): Livre ao lado
term FAS do navio.
Fonte: 123rf.
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Deslocar a carga para o navio.
Carga e transporte local no país de origem. Transporte principal.
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Descarga no país de destino.
--------------------------------------------------------------- Desembaraço aduaneiro para a importação.
4 --------------------------------------------------------------- Transporte local no país de destino.
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 14. Ilustração representativa do Inco- FCA (Free Carrier): Livre no transportador.
term FCA
Diferentemente dos outros Incoterms do gru-
Fonte: 123rf.
po F, o FCA é adotado em transportes marí-
timos, aéreos ou terrestres (multimodal). Em
síntese, ele determina que a transferência de
obrigações do exportador para o importador
ocorra após a entrega à transportadora.
Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 10. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm FCA
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Transporte local no país de origem, caso a entrega
Preparar a mercadoria.
tenha sido acordada nas instalações do exportador.
Carga da mercadoria, se a entrega se produz nas
Se a entrega está acordada em um armazém, a
instalações do exportador.
descarga do veículo contratado pelo exportador até
esse ponto.
116
Figura 15. Ilustração representativa do Incoterm FOB (Free On Board): Livre a bordo.
FOB
O Incoterm FOB é utilizado somente no
Fonte: 123rf.
transporte marítimo e significa que o ex-
portador assume todos os custos e ris-
cos de transporte até que a mercadoria 4
passe pela borda do navio, ou seja, até
o embarque da carga. O FOB é uma das
modalidades mais adotadas no Comércio
Exterior, porquanto distribui equitativa-
mente as obrigações entre as partes con-
traentes.
Nesse caso, o custo e a responsabilidade pelo transporte no país de origem, seu de-
sembaraço para exportação, armazenamento e embarque no navio, é assumido pelo
exportador. No tocante ao frete e seguro internacionais, desembarque, desembaraço
para importação e transporte interno no país de destino são de responsabilidade do
importador. Vejamos a tabela abaixo, que sintetiza quais as obrigações do exportador
e importador.
Tabela 11. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm FOB
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Transporte principal.
Carga e transporte local no país de origem. Descarga no país de destino.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Deslocar a carga para o navio. Transporte local no país de destino.
Fonte: elaborado pelo autor.
Para sintetizar o conteúdo de forma visual e didática, veja-se abaixo todos os Incoter-
ms existentes atualmente e quais os momentos da transferência dos custos e riscos.
Assim, será possível ter uma visão global e entender melhor a diferenciação entre eles.
Observe, ainda, a tabela abaixo, que sintetiza todas as siglas, significados e modo de
transporte da mercadoria.
Tabela 12. Quadro comparativo Incoterms 2020
INCOTERMS INCOTERMS
SIGLA
2020 2020
EXW Ex Works Multimodal
FCA Free Carrier Multimodal
FAS Free Alongside Ship Marítimo
FOB Free on Board Marítimo
CFR Cost and Freight Marítimo
Cost Insurance and
CIF Marítimo
Freight
CPT Carriage Paid To Multimodal
Carriage And Insu-
CIP Multimodal
rance Paid To
Delivered At Place
DPU Multimodal
Unloaded
DAP Delivered at Place Multimodal
DDP Delivered Duty Paid Multimodal
Fonte: Eloi (2020, p. 14).
118
2.2 Outras espécies de contrato internacional
O contrato de compra e venda é, de fato, o mais comum e conhecido, porém não é
o único existente no cenário internacional. Elencamos abaixo mais alguns contratos,
abordando cada um deles de forma sucinta.
4
Contrato de transporte aéreo internacional: por meio deste contrato a compa-
nhia aérea se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um país para outro,
pessoas ou coisas. As Convenções de Varsóvia e Montreal são muito utilizadas
no tocante ao assunto, servindo de fundamentação para diversas decisões judi-
ciais. Trata-se de um “código” que estabeleceu certas condições contratuais no
transporte aéreo, definiu e limitou os direitos de passageiros e proprietários de
mercadorias, assim como estabeleceu o respectivo regime de responsabilidade
civil do transportador.
O Mercosul implica:
São países componentes a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Cabe ressaltar que
atualmente a República Bolivariana da Venezuela se encontra suspensa de todos os
direitos e obrigações inerentes à sua condição de Estado Parte (segundo parágrafo do
artigo 5° do Protocolo de Ushuaia).
Temos, ainda, a categoria dos Estados Associados, na qual fazem parte Chile, Colôm-
bia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.
CONCLUSÃO
O contrato é um instrumento vital para uma sociedade, pois através dele ocorrem as
mais variadas interações e integrações entre indivíduos. É o acordo de vontades que
tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações.
O contrato está para a sociedade assim como o contrato internacional está para a so-
ciedade internacional. Para diferenciarmos esses instrumentos, basta a análise dos ele-
mentos constitutivos do negócio jurídico.
120
Assim, o contrato internacional possui elementos que possibilitam sua vinculação a
ordenamentos jurídicos diferentes, enquanto que o contrato interno está sob a égide de
um único ordenamento.
Quando pensamos em dois ou mais sujeitos negociando entre si, uma das primeiras
questões a serem debatidas refere-se à lei que será aplicada à relação comercial esta- 4
belecida. Em regra, há predominância do princípio da autonomia da vontade, ou seja,
as partes escolhem a legislação aplicável.
Finalizamos a unidade tratando do Mercosul (Mercado Comum do Sul), que nada mais
é do que um processo de integração de caráter intergovernamental que visa estabele-
cer uma zona de livre comércio constituída em consequência da eliminação de entraves
aduaneiros e outras restrições ao comércio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Decreto-Lei nº 4.687, de 4 de setembro 2. ______. Decreto no 884, de 02 de agosto de
de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito 1993. Promulga o Estatuto Orgânico do Instituto
Brasileiro. [S. l.], 1942. Disponível em: http://www. Internacional para a Unificação do Direito Privado
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compila- (UNIDROIT), concluído em Roma, em 15 de março
do.htm. Acesso em: 27 jul. 2020. de 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
122