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Contratos Internacionais

UNIDADE 4

CONTRATOS INTERNACIONAIS
4

INTRODUÇÃO
Desde a época em que o homem se aventurou nos mares e oceanos em busca de
novos horizontes e mercados, o comércio internacional vem se desenvolvendo em
escalas cada vez maiores e mais rápidas, encurtando barreiras e integralizando
diferentes nações.

O contrato internacional é o eixo central mantenedor das transações internacionais e o


comércio internacional é o foco central dessas transações.

Após a Segunda Guerra Mundial, o direito comercial passou a buscar a sua internacio-
nalização. A criação da Comissão das Nações Unidas sobre Direito Comercial Interna-
cional (UNCITRAL), em 1966, é classificada como um evento monumental no campo
do comércio exterior, pois promoveu o surgimento de uma nova lex mercatoria e do
chamado direito internacional do comércio.

Nesta unidade, estudaremos a teoria geral dos contratos, passando por conceitos bási-
cos até chegarmos nos contratos em espécie, com enfoque no mais utilizado na atuali-
dade: o contrato de compra e venda de mercadoria.

1. CONTRATOS: CONCEITO, PRINCÍPIOS E APLICABILIDADE


Contrato é o acordo de vontades livres entre sujeitos capazes destinado a vincular as
partes contratantes para um determinado fim. “É a mais comum e mais importante fonte
de obrigações” (GONÇALVES, 2010, p. 21). Assim, o contrato
[...] é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral. É um pressuposto de fato do
nascimento de relações jurídicas, senão a mais importante, uma das princi-
pais fontes ou causas geradoras das obrigações, o título de criação de nova
realidade jurídica, constituída por direitos, faculdades, pretensões, deveres e
obrigações, ônus e encargos. É o acordo de vontades que tem por fim criar,
modificar ou extinguir direitos e obrigações (VENTURA, 2002, p. 5).

Não é difícil identificar contratações em nosso cotidiano, porquanto até mesmo quando
praticamos as mais simples atividades estamos contratando. Veja-se como exemplo
fazer compras no mercado, adquirir um pacote de dados móveis da operadora de tele-
fonia, alugar um imóvel, entre outros.

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O contrato acompanha a sociedade desde os primórdios e evolui conjuntamente com
ela. Retrocedendo historicamente, Aristóteles considerava que o contrato era uma lei
feita por particulares, tendo em vista determinado negócio. Essa é a mesma linha de
entendimento de Hans Kelsen, que vê no contrato uma norma jurídica particular (CÁR-
NIO, 2009, p. 4).
4
O contractus estabelece um vínculo jurídico entre os contraentes e apresenta dois
1

elementos essenciais: (a) o acordo de vontades por meio do qual as partes convergem
a respeito do objeto do contrato e (b) a subordinação à lei.

O direito contratual, seja ele nacional ou internacional, é regido por princípios fun-
damentais, os quais nortearão o comportamento dos indivíduos componentes do
negócio jurídico.

O primeiro deles trata-se do princípio da autonomia da vontade, que significa que as


partes têm liberdade para contratar, conforme sua vontade livre e consciente. “Desde
o direito romano, as pessoas são livres para contratar” (GONÇALVES, 2010, p. 41).
Essa liberdade abrange o direito de contratar se quiserem, com quem quiserem e o
que quiserem.

Oportuno ressaltar que, segundo Tartuce (2017, p. 630), o princípio da autonomia da


vontade encontra-se superado pelo princípio da autonomia privada, diante da indecliná-
vel função social dos contratos, segundo a qual o contrato não pode, tão só, atender aos
interesses dos contraentes, sem considerar princípios consagrados pela lei.

Isso porque, nos dizeres do doutrinador, a autonomia contratual não é da vontade,


volátil e falha, mas sim da pessoa humana. Nesse aspecto, observa-se a importância
da função social do contrato, que não elimina a autonomia privada, mas apenas ate-
nua o alcance deste princípio, já que, estando presentes interesses metaindividuais ou
interesses relacionados à dignidade da pessoa humana, há evidentes fatores que se
sobrepõem à liberdade contratual conferida às partes.

O segundo diz respeito ao princípio do consensualismo, segundo o qual basta o acordo


de vontades para o aperfeiçoamento do contrato, pois este resulta do consenso das partes.

Outro princípio de suma importância no direito contratual é o da obrigatoriedade dos


contratos, que tem como pedra angular a máxima pacta sunt servanda, que significa
que os contratos têm força vinculante entre as partes e, portanto, devem ser cumpridos.

Por último, e não menos importante, temos o princípio da boa-fé, que preceitua que
os contratantes são obrigados a guardar a boa-fé entre si. Isso exige que as partes se
comportem de forma correta desde as tratativas até a execução do pacto.

Existem, inclusive, obrigações a serem cumpridas pelos contratantes até mesmo em


momento pós-contratual (post pactum finitum). Exemplo clássico é a obrigação do cre-
dor em retirar o nome do devedor dos órgãos de proteção ao crédito no prazo máximo
de cinco dias, sob pena de responsabilização, como clássica medida que aponta a bo-
a-fé contratual, que “perdura após a execução do contrato” (TARTUCE, 2017, p. 648).
1
Contractus (latim) significa contrato.

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Contratos Internacionais

Ainda, cabe ressaltar que cada ordenamento jurídico tratará especificamente dos seus
princípios, sendo que os elementos norteadores acima mencionados são gerais, aplicá-
veis a qualquer contrato, porquanto universalmente aceitos.

1.1 Principais aspectos dos contratos internacionais


4
Com o advento da globalização e desenvolvimento da economia mundial, surgiram no-
vas e complexas relações entre os sujeitos, isto é, a globalização econômico-comercial
aumentou o grau de integração e vinculação entre as pessoas no cenário internacional.

A conduta desses agentes é regida pelos contratos internacionais, que são instrumen-
tos destinados a regular os direitos e obrigações das partes.

Neste momento, é necessário classificar os contratos em dois grupos: os contratos


internos e os internacionais.

Em um contrato interno, as partes contraentes, o objeto e todos os demais elementos en-


contram-se sob a égide de um único ordenamento jurídico, de modo que tanto a formação
quanto o aperfeiçoamento e efeitos jurídicos sujeitam-se às normas deste ordenamento.

Ocorre, todavia, que o incremento das relações entre os operadores do comércio en-
sejou um aumento das relações comerciais que extrapolaram um território, ocasionan-
do o envolvimento de mais de um ordenamento jurídico apto a regular o contrato. É
justamente este envolvimento que diferencia um contrato interno de um internacional.
Vejamos a figura abaixo para diferenciação dos contratos.
Figura 01. Diferenciação entre contrato interno e internacional

Contrato Interno Contrato Internacional

Fonte: elaborada pelo autor.


Todos os elementos Possui elementos que
encontram-se sob a possibilitam sua vincu-
égide de um único lação a ordenamentos
ordenamento jurídico. jurídicos diferentes.

Dessa forma, o contrato internacional possui elementos que possibilitam sua vinculação
a sistemas jurídicos diferentes, ou seja, se os elementos constitutivos (partes, objeto,
local de celebração, local de execução) estiverem conectados a mais de um Estado, o
contrato será internacional.

Irineu Strenger (2001, p. 457) leciona que os contratos internacionais são a consequên-
cia do intercâmbio entre Estados e pessoas, apresentando características peculiares,
complementando que eles “são o motor, no sentido estrito, do comércio internacional e,
em sentido amplo, das relações internacionais, em todos os seus matizes”.

Para o professor Hee Moon Jo (2001, p. 439), “é aquele cujos elementos constitutivos
da relação transpassam duas ou mais jurisdições internacionais”.

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Por essa razão, no contrato internacional a escolha da lei aplicável é o tema mais com-
plexo a se resolver, devido à questão da multiconectividade2. Diante disso, há um esfor-
ço internacional para a solução do problema.

Vejamos algumas convenções que trataram do assunto ao longo da história (JO, 2001,
p. 443-448). 4

Convenção de Haia sobre a Lei Aplicável à Venda Internacional de Merca-


dorias (1955): foi adotada na 7ª Conferência de Direito Privado de Haia a fim de
estabelecer as regras comuns para determinação da lei aplicável em caso de
litígio3 relacionado à obrigação contratual. A Convenção adota como princípio
fundamental a livre vontade das partes contratantes e, na ausência de manifes-
tação expressa, a lei de residência habitual da parte vendedora.

Convenção de Viena (1980): também conhecida como Convenção da ONU so-


bre os contratos de compra e venda internacional de mercadorias (CISG, sigla
em inglês), estabeleceu entre os Estados Partes uma “lei” uniforme. Foi ratificada
pelo Brasil e internalizada através do Decreto nº 8.327, de 16 de outubro de 2014.

Convenção da CE sobre a Lei Aplicável às Obrigações Contratuais (1980):


os países membros da Comunidade Europeia (CE), sentindo a necessidade de
unificação das normas de determinação da lei aplicável às obrigações contratu-
ais, adotaram a referida convenção.

Convenção de Haia sobre a Lei Aplicável aos Contratos para a Venda Inter-
nacional de Mercadorias (1986): substituiu a anterior, adotando, em primeiro
lugar, a livre vontade das partes contratantes como regra principal. Em segundo,
na ausência de acordo expresso, aplica-se a lei nacional do lugar do negócio do
vendedor e, na falta desta, a lei nacional do lugar de residência do vendedor.

Convenção Interamericana sobre o Direito Aplicável aos Contratos Interna-


cionais (1994): no âmbito da OEA, houve um grande esforço para unificação das
normas, o qual foi materializado na V Conferência Especializada Interamericana
de Direito Internacional Privado, realizada no México, através da mencionada
convenção. Entre outras disposições, adota como princípio básico a autonomia
da vontade das partes.

A utilização do princípio da autonomia da vontade é regra básica e, desta forma, a lei


aplicável ao contrato poderá ser escolhida pelas partes. Assim, através da inserção de
uma cláusula será possível eleger a lei de um país para reger a relação, sem ser neces-
sariamente a lei nacional dos países contratantes.

Podemos citar como exemplo um negócio jurídico firmado entre uma empresa chinesa
e uma brasileira, em que constou no contrato que a formação, validade, construção e o
cumprimento deste serão regidos pelas leis do Paraguai.
2
O contrato que se vincula a mais de um sistema jurídico.
3
Conflito de interesses, contenda.

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Contratos Internacionais

No Código de Processo Civil brasileiro (Lei nº 13.105, de 16 de março de


2015), há um artigo que prevê que compete à autoridade judiciária brasileira,
com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no
4 Brasil;

II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à


confirmação de testamento particular e ao inventário
e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou
tenha domicílio fora do território nacional;

III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de


união estável, proceder à partilha de bens situados
no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade es-
trangeira ou tenha domicílio fora do território nacional
(BRASIL, 2015, [n. p.]).

Percebe-se que, quando a relação jurídica versar sobre imóveis situados


no Brasil, a competência da autoridade judiciária brasileira é exclusiva,
independente das partes terem convencionado cláusula de eleição de foro
exclusivo estrangeiro.

Outro assunto que também deve ser pensado quando estamos falando em contrato
internacional é a quem as partes irão recorrer em caso de conflito de interesses. No
contrato elas poderão inserir cláusula de eleição de foro ou cláusula compromissória, a
fim de decidir como será tratado eventual desentendimento futuro.

A cláusula de eleição de foro significa que as partes escolhem a jurisdição de um


Estado para dirimir futuros conflitos. Elas optam, num primeiro momento, pela via da
atuação jurisdicional pública, exercida pelo Estado através do Poder Judiciário.

Já a cláusula compromissória refere-se à escolha de um tribunal arbitral, ou seja, as


partes optam por se submeter à arbitragem internacional. Vejamos a figura abaixo para
elucidação do conteúdo.
Figura 02. Diferenciação entre cláusula de eleição de foro e cláusula com

Cláusula de eleição de foro Cláusula compromissória


Fonte: elaborada pelo autor.

Escolha da via ju-


Escolha da via privada
risdicional pública =
= Árbitros.
Juízes.

A arbitragem internacional consiste em um método alternativo de resolução de conflitos.


Assim, pela arbitragem privada
[...] as partes resolvem submeter suas lides, resultantes de determinadas rela-
ções jurídicas de direito privado, a um tribunal arbitral, composto por um árbitro

100
único ou uma maioria deles designados, em princípios pelas partes ou por uma
entidade por elas indicada. Mediante a instituição do tribunal arbitral exclui-se
a competência dos juízes estatais para julgar a mesma lide (RECHSTEINER,
2001, p. 16).

Para que houvesse maior uniformidade na prática deste método, a UNCITRAL formulou
4
a Lei Modelo sobre Arbitragem Comercial Internacional.

Cabe ressaltar que o árbitro é um terceiro em relação ao conflito e irá decidir qual das
partes têm razão. Seu papel é muito similar ao exercido pelo Juiz, que também é um
terceiro que irá “dizer o direito”. A diferença entre eles está no campo de atuação, ou
seja, o Juiz atuará em nome do Estado, enquanto o árbitro atuará na seara privada.

Então, caso surja um desentendimento quanto ao contrato internacional e as partes


não consigam chegar a um acordo por si mesmas, isto é, a autocomposição se mostra
inviável, nascerá a necessidade de submeter a contenda a um terceiro (WYPYCH,
2005, p. 417).

1.2 Os contratos internacionais e os organismos internacionais


Em razão do tema contrato internacional ser de interesse e preocupação mundiais,
imperioso se faz estudar quais os organismos ligados a ele, bem como a colaboração
destes para a facilitação do comércio exterior, rompimento de barreiras alfandegárias,
unificação das normas de interpretação, entre outros.

Comissão das Nações Unidas para o Direito Internacional do Comércio


(UNCITRAL)
A Comissão das Nações Unidas para o Direito Internacional do Comércio (UNCITRAL)
é o órgão jurídico central do sistema das Nações Unidas no campo do direito interna-
cional do comércio e foi criada em 1966, através da Resolução 2205, pela Assembleia
Geral da ONU.
Ao estabelecer a Comissão, a Assembleia Geral reconheceu que as disparida-
des nas leis nacionais que regem o comércio internacional criaram obstáculos
ao fluxo do comércio e considerou a Comissão como o veículo pelo qual as
Nações Unidas poderiam desempenhar um papel mais ativo na redução ou
remoção desses obstáculos (UNCITRAL, [s. d.], [n. p.], tradução nossa).

A criação da UNCITRAL foi um marco monumental no direito internacional do comér-


cio, porquanto ela desempenha um importante papel no desenvolvimento de uma es-
trutura legal aprimorada para a facilitação do comércio e investimentos internacionais.
Além disso, ela trabalha para a progressiva harmonização e modernização do direito do
comércio internacional.

Os trabalhos realizados pela UNCITRAL são relevantes à medida que a Comissão ser-
ve de foro global para debates nos quais os Estados, doutrinadores e representantes
da sociedade civil unem-se com o objetivo comum de encontrar soluções equânimes
para os mais diversos desafios apresentados ao direito do comércio internacional (PO-
LIDO; SILVA, 2017, p. 166).

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Contratos Internacionais

Um exemplo de trabalho realizado foi a elaboração da Lei Modelo da UNCITRAL sobre


Arbitragem Comercial Internacional.

Para ter acesso a mais detalhes acerca da UNCITRAL, acesse o site oficial:
4 https://uncitral.un.org/. Acesso em: 10 ago. 2020.

Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado (UNIDROIT)


O Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado (UNIDROIT) é uma
organização intergovernamental independente, com sede na Villa Aldobrandini,
em Roma. Seu objetivo é estudar necessidades e métodos para modernizar,
harmonizar e coordenar o direito privado e, em particular, o comércio entre os
Estados e grupos de Estados, e formular instrumentos, princípios e regras uni-
formes para alcançar esses objetivos (UNIDROIT, 2020, [n. p.], tradução nossa).

O UNIDROIT teve sua origem com a Sociedade das Nações (Liga das Nações), em
1926, como um órgão auxiliar, sendo reestabelecido após o término da Liga, em 1940,
com base em um acordo multilateral (Estatuto da UNIDROIT). No Brasil, o Estatuto foi
promulgado através do Decreto nº 884, de 02 de agosto de 1993.

A organização possui estrutura tripartite, composta por uma Assembleia Geral, um Con-
selho de Governo e um Secretariado.

Para a consecução dos fins a que se destina, o Instituto (BRASIL, 1993, [n. p.]):

a. prepara projetos de leis ou de convenções visando estabelecer um direito uniforme;

b. prepara projetos de acordos com vistas a facilitar as relações internacionais em


matéria de direito privado;

c. empreende estudos de direito comparado nas matérias de direito privado;

d. interessa-se pelas iniciativas já adotadas em todas estas áreas por outras institui-
ções, com as quais ele pode, se necessário, manter contato;

e. organiza conferências e publica estudos que considere dignos de ter ampla difusão.

Ainda, podemos destacar as publicações do UNIDROIT acerca dos princípios que re-
gem o direito internacional do comércio, que são importantes instrumentos rumo à uni-
formização das regras comerciais.

Para ter acesso a mais detalhes acerca da UNIDROIT, acesse o site oficial:
https://www.unidroit.org/about-unidroit/overview. Acesso em: 10 ago. 2020.

1.3 O Direito Internacional do Comércio e a Lex Mercatoria


A Lex mercatoria foi um sistema jurídico desenvolvido pelos comerciantes da Europa
medieval através de usos e costumes, sendo aplicado mundialmente até o século XVII e

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[...] pode ser definida como corpo de normas criado por comerciantes na Idade
Média a fim de atender às necessidades do renascimento comercial europeu.
Esse sistema de normas surgiu como alternativa aos sistemas jurídicos que
criavam entraves (ou elevados custos de transação) às relações comerciais da
época, oferecendo aos agentes econômicos um sistema de solução de confli-
tos independente do Estado (PUGLIESE; SALAMA, 2008, [n. p.]).
4
Este sistema jurídico tinha como principais características: (a) o caráter transnacional;
(b) os usos e costumes do comércio; (c) a aplicação por árbitros comerciantes; (d) a
informalidade e presteza e (e) a importância do princípio da boa-fé no desempenho da
atividade mercantil.

Em que pese as divergências doutrinárias acerca da continuidade da Lex mercatoria no


Estado Moderno, filiamo-nos à corrente que entende que este sistema jurídico medieval
se recriou, nascendo a nova Lex mercatoria, adaptando-se ao dinamismo do comércio
internacional atual.

Para Sommer (2014, [n. p.]), “a nova Lex mercatoria, por não se confundir com o direito
do comércio internacional, se reveste de alto dinamismo, uma vez que seu nascedouro
se perfaz através de usos e costumes da prática do comércio internacional”, e com-
plementa que o novo cenário normativo abarca contratos-tipo e regras formadas por
entidades internacionais tais como a CISG e a UNIDROIT.
Além destas, a Lex mercatoria também encontra amparo e evolução nos lau-
dos arbitrais, formando-se, através destes, verdadeiro repertório jurispruden-
cial arbitral de forma a auxiliar a interpretar casos novos nas relações interna-
cionais, bem como adequar a aplicação destas regras apátridas à realidade
atual das relações negociais internacionais (SOMMER, 2014, [n. p.]).

Assim, diante da eficiência que o comércio exterior demanda, surge a necessidade de


regulamentar as práticas comerciais através de instrumentos dinâmicos que se adap-
tem conforme os novos usos e costumes.

1.4 Elementos de conexão e o Direito Internacional Privado


Elementos de conexão são expressões legais de conteúdo variável, de efeito indicativo,
capazes de permitir a determinação do direito que deve tutelar a relação jurídica em
questão (CÁRNIO, 2009, p. 16). Têm a finalidade precípua de indicar qual será a norma
aplicável através de uma vinculação previamente estabelecida.

Cabe ressaltar que as partes contratantes detêm autonomia para eleger a lei aplicável
a determinado negócio jurídico, em homenagem ao princípio da autonomia da von-
tade. Contudo, em determinados casos, será necessário nos socorrermos do Direito
Internacional Privado.

Não é demais relembrar que o objetivo do Direito Internacional Privado é


estabelecer qual é a norma aplicável a uma relação jurídica quando dois ou
mais sistemas jurídicos de Estados diferentes se chocam em um determinado
espaço. Para Jo (2001, p. 72), o Direito Internacional Privado “visa aplicar a lei
mais adequada escolhida dentre várias outras leis”.

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Contratos Internacionais

Observe-se que o ramo do Direito Privado, como já induz o próprio nome, refere-
se às relações jurídicas entabuladas entre particulares, pessoas físicas ou
jurídicas. O fundamento desta ciência jurídica será justamente o relacionamento
internacional, conjugado com a diversidade de ordenamentos jurídicos que
4 aparentemente podem incidir a uma determinada situação.
É composto por normas de direito interno. No Brasil, a legislação que
trata de conflitos de normas no espaço é a Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942), também
conhecida como LINDB.

Os elementos de conexão serão divididos em duas classes nesta disciplina: (a) elemen-
tos de conexão relativos à capacidade das pessoas físicas e jurídicas; (b) elementos de
conexão relacionados a aspectos extrínsecos. Vejamos cada um deles.

Elementos de conexão relativos à capacidade das pessoas


Primeiramente, torna-se imprescindível estudar a acepção jurídica do termo “pessoa”,
que é o “ente físico suscetível de direitos e obrigações, sendo sinônimo de sujeito de
direito” (DINIZ, 2008, p. 113). Liga-se a ela a ideia de personalidade, que exprime a ap-
tidão genérica de adquirir direitos e contrair obrigações. Assim, todos os seres humanos
têm personalidade jurídica.

Já a capacidade, por sua vez, é a aptidão de exercer pessoalmente os atos da vida


civil. São exemplos de atos da vida civil: casamento, firmar contrato, prestar concurso
público, obter habilitação para dirigir, entre outros.

O elemento de conexão relativo à capacidade das pessoas será o domicílio (lex do-
micilli). Dessa forma, a lei do país em que é domiciliada a pessoa determina as regras
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família
(art. 7º da LINDB).

No Brasil, o domicílio é classificado em necessário (legal) e voluntário. O primeiro é


aquele que decorre de determinação legal e suas hipóteses encontram-se elencadas
no art. 76 do Código Civil Brasileiro. Já o segundo é aquele estabelecido pela vontade
humana consciente e exercida com ânimo definitivo.

No Brasil, têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar,


o marítimo e o preso. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou
assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente
suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica,
a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do
marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que
cumprir a sentença (BRASIL, 2002, [n. p.]).

Elementos de conexão relacionados a aspectos extrínsecos


Com relação às obrigações contratuais entre pessoas presentes, o art. 9º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) acolhe o princípio tradicional da

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locus regit actum (o local rege o ato). Vejamos um caso hipotético para melhor visuali-
zação, considerando que no contrato não há cláusula de lei aplicável.

Uma sociedade brasileira, sediada em São Paulo, resolveu contratar uma sociedade
chilena, sediada em Santiago, para realizar um estudo que lhe permitisse expandir suas
atividades no exterior. Depois das negociações, o representante da sociedade chilena 4
veio ao Brasil e o contrato foi assinado na sede da sociedade brasileira, em São Paulo.
Ficou convencionado que o estudo seria concluído em dez meses, contudo, o contrato
não foi cumprido.

Diante da violação do contrato internacional, nasce para a parte inocente a pretensão


de ver o contrato cumprido coercitivamente ou de buscar reparação.

O questionamento que surge é: qual será a lei aplicada ao caso, ou seja, brasileira ou
chilena? Para solucionar o conflito buscaremos na Lei de Introdução às Normas do Di-
reito Brasileiro (LINDB) a resposta para nosso questionamento.

Segundo o art. 9º da LINDB, para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei


do país em que se constituírem (BRASIL,1942, [n. p.]), ou seja, onde se concluiu o
negócio jurídico.

Em nosso caso hipotético, a obrigação se constituiu em território brasileiro, logo, a lei


aplicável será a brasileira. Assim, vamos ao esquema abaixo para fixar o conteúdo:
Figura 03. Esquematização do art. 9º da LINDB

Fonte: elaborada
Norma aplicável
Lei do país de
aos contratos
constituição da

pelo autor.
internacionais
obrigação
privados

Frise-se que, no exemplo acima, apenas nos valemos da LINDB por conta da ausência
de cláusula de lei aplicável, ou seja, as partes não escolheram lei específica para reger
o contrato, autorizando, assim, a aplicação das normas de Direito Internacional Privado.

2. CONTRATOS EM ESPÉCIE
2.1 Contrato de compra e venda internacional
O contrato internacional de compra e venda é a pedra angular do comércio internacio-
nal. “A origem histórica e remota do contrato de compra e venda está ligada à troca”
(GONÇALVES, 2010, p. 211).

As civilizações primitivas realizavam trocas ou permutas de objetos para o fim primordial


de sobrevivência. Trocava-se o que precisava pelo que sobejava4 para o outro. Esse
sistema perdurou por vários anos na história, até que certas mercadorias começaram

4
Sobrava.

Direito Internacional e Contratos 105


Contratos Internacionais

a ser utilizadas como “moeda de troca” e, assim, instituía-se um padrão para facilitar o
intercâmbio e comércio de bens úteis ao homem.

Inicialmente, foram utilizadas as cabeças de gado (pecus, dando origem à palavra pe-
cúnia). Posteriormente, o ser humano passou a utilizar metais preciosos, até que surgiu
4 a moeda e, juntamente com ela, a compra e venda como é entendida atualmente.

Denomina-se contrato de compra e venda o acordo de vontades no qual uma das partes
(vendedor) se obriga a transferir o domínio de uma coisa à outra (comprador), mediante
a contraprestação de certo preço em dinheiro.

Assim, observe-se que para configurar esta modalidade contratual é necessário que
haja três elementos:

a. A coisa: é o objeto do contrato, que deve existir, ser individualizada, além do


vendedor possuir disponibilidade sobre ela.

b. O preço: valor em dinheiro que deve ser pago pelo comprador ao vendedor.
Vale ressaltar que a expressão “em dinheiro” não deve ser interpretada de forma
literal, porquanto é admitido pagamento através de título de crédito, cartão mag-
nético ou qualquer forma que possa ser redutível a dinheiro. Já se o pagamento
se der apenas através de objeto, teremos desconfigurado o contrato de compra
e venda, pois ele se tornará um contrato de troca ou permuta.

c. O consentimento: pressupõe a capacidade das partes para vender e comprar


e deve ser livre e espontânea.

É um instrumento jurídico classificado como consensual, bilateral, oneroso e comutati-


vo. Vamos estudar o que cada um desses termos jurídicos significa.

a. Consensual: contrato que se aperfeiçoa com o acordo de vontades, indepen-


dentemente da entrega da coisa.

b. Bilateral ou sinalagmático: significa dizer que gera obrigações recíprocas, ou


seja, para o comprador, a de pagar o preço em dinheiro e, para o vendedor, a de
transferir o domínio de certa coisa.

c. Oneroso: ambos os contraentes obtêm proveito, ao qual corresponde um


sacrifício. Para um, pagamento do preço e recebimento da coisa. Para outro,
entrega do bem e recebimento do pagamento. Faz-se por interesse e utilidade
recíproca de ambas as partes.

d. Comutativo: significa que desde o início as partes têm ciência do objeto do


contrato, ou seja, o conteúdo das prestações recíprocas se apresenta certo.
Cada parte já sabe de antemão quais as vantagens e sacrifícios, que geralmente
se equivalem.

106
O contrato de compra e venda internacional é instrumento complexo por natureza, por-
quanto inclui condições de venda, transporte, seguro e meio de pagamento, além de
estabelecer a divisão das responsabilidades sobre os riscos e custos das operações,
serviços portuários, custos alfandegários, entre outros.

Além disso, válido consignar que o direito brasileiro não contém regras de direito material 4
específicas para os contratos de venda internacional de mercadorias, distintas das normas
aplicáveis aos contratos celebrados no âmbito interno do país (GREBLER, [s. d.], p. 97).

Assim, com o ritmo do crescimento do comércio internacional, houve a imposição da


criação de uma base jurídica comum sobre compra e venda de mercadorias, de modo
a minorar as diferenças existentes entre os ordenamentos jurídicos e entre as práticas
comerciais dos países.

Incoterms (International Commercial Terms)


O Comércio Exterior possui uma série de procedimentos técnicos e regulamentações
internacionais que impactam diretamente na atuação do profissional da área. Com o fito
de evitar surpresas desagradáveis, é importante que o profissional que efetua negocia-
ções internacionais compreenda essas regulamentações (MAINÔ, 2020, p. 4).

Os Incoterms fazem parte do conjunto de regulamentos que guiam as operações de


Comércio Exterior.
Figura 04. Ilustração representativa dos Incoterms

Fonte: 123rf.

International Commercial Terms (INCOTERMS), em uma tradução literal, significa termos


internacionais do comércio. São regras, publicadas pela Câmara Internacional de Comér-
cio (ICC), aplicáveis aos contratos internacionais de compra e venda de mercadorias e
seu acolhimento é essencial para que a negociação ocorra de forma transparente.

“Os Incoterms têm como finalidade definir a responsabilidade dos compradores e ven-
dedores por ocasião da entrega do produto, conforme o contrato de venda. Os termos
determinam os custos e riscos das partes” (ICC BRASIL, 2020, [n. p.]).

O objetivo da instituição e acolhimento de termos padrão de negociação é reduzir a inse-


gurança das transações, conferindo previsibilidade e estabilidade, visto que a existência
de países distintos nos polos contratantes poderia gerar interpretações divergentes.

Direito Internacional e Contratos 107


Contratos Internacionais

[...] constituem um vocábulo de termos comerciais normatizados que objetivam


limitar as controvérsias e estabelecer critérios seguros de interpretação, verda-
deiras súmulas dos costumes internacionais concernentes à compra e venda
(GONÇALVES, 2010, p. 215).

É importante consignar que a utilização dos Incoterms é facultativa na celebração de


4
um contrato de comércio exterior, mas, uma vez acordado o seu uso, o termo escolhido
adquire força contratual, vinculando as partes.

Cabe ressaltar que os termos sofrem atualizações periódicas, a cada dez anos. A última
atualização ocorreu em outubro de 2019, lançando os chamados Incoterms 2020, que
entraram em vigor em 1º de janeiro de 2020.

Os Incoterms são reconhecidos pela UNCITRAL (Comissão das Nações


Unidas para o Direito Comercial Internacional) como o padrão global para a
interpretação dos termos mais comuns em comércio internacional.

Os Incoterms 2020 mantêm o total de 11 termos e 4 grupos, com algumas modifica-


ções. Vamos estudar um a um, mas, primeiramente, vejamos a composição dos quatro
grupos, identificados pelas siglas em inglês, expressas por três letras e agrupados pela
letra inicial do nome. Os Incoterms se diferenciam pelo local onde os custos e riscos são
divididos e passados do exportador para o importador. São eles:

Grupo C CFR (Cost and Freight), CIF (Cost, Insurance and Freight), CPT (Carriage
Paid to), CIP (Carriage and Insurance Paid to);

Grupo D DPU (Delivered At Place Unloaded), DAP (Delivered at place), DDP (Deliv-
ered Duty Paid);

Grupo E EXW (EX Works);

Grupo F FCA (Free Carrier), FAS (Free Alongside Ship) e FOB (Free on Board).

É de suma importância, ainda, entender alguns termos e expressões:

Vendedor
= Exportador

Comprador
= Importador

País de Origem
= País do exportador

País de Destino
= País do importador

108
Grupo C
O grupo C engloba quatro modalidades de Incoterms – CPT, CIP, CFR e CIF –, tendo
por característica comum a transferência de custos e riscos em dois momentos distin-
tos, ou seja, não ocorrem simultaneamente.
4
Figura 05. Ilustração representativa do In- CPT (Carriage Paid To): Transporte Pago
coterm CPT Até.

Fonte: 123rf.
O Incoterm CPT é utilizado normalmente
quando intervém vários meios de transporte e,
nesse caso, o exportador se responsabiliza
pelos custos de transporte até o local acor-
dado no país de destino. Já o risco é de res-
ponsabilidade do exportador até a entrega
da mercadoria para o primeiro transporta-
dor no país de origem.

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para


que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 01. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm CPT

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído
Preparar a mercadoria.
no contrato de transporte).
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no con-
---------------------------------------------------------------
trato de transporte).
Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 06. Ilustração representativa CIP (Carriage And Insurance Paid To): Transpor-
do Incoterm CIP te e Seguro Pago Até.
Fonte: 123rf.

O Incoterm CIP é utilizado normalmente quando in-


tervém vários modos de transporte e, nesse caso,
o exportador se responsabiliza pelos custos de
transporte até o local acordado no país de des-
tino. Já os riscos são de responsabilidade do ex-
portador até que a mercadoria esteja a bordo do
transporte principal no país de origem.

O Incoterm CIP é multimodal, ou seja, pode ser utili-


zado em transporte terrestre, aéreo e marítimo.

Direito Internacional e Contratos 109


Contratos Internacionais

Nessa modalidade, além de arcar com os custos do frete, o exportador deve pagar
também o seguro da mercadoria. Assim, se ocorrer algum problema durante o trans-
porte marítimo, o importador recorrerá diretamente à seguradora.

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
4 responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 02. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm CIP

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído no
Preparar a mercadoria.
contrato de transporte).
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Contratar uma apólice de seguro. ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no
---------------------------------------------------------------
contrato de transporte).
Fonte: elaborado pelo autor.

Figura 07. Ilustração representativa do CFR (Cost And Freight): Custo e Frete.
Incoterm CFR
O Incoterm CFR é utilizado somente no transpor-
Fonte: 123rf.

te marítimo e significa que o exportador assume


todos os riscos de transporte até que a merca-
doria passe pela borda do navio, ou seja, até o
embarque da carga no país de origem. Até aqui
os passos são os mesmos do Incoterm FOB. A di-
ferença está no pagamento do frete, que nessa
modalidade será arcada pelo exportador, ou seja,
ele se responsabiliza pelos custos de transporte
até o porto do país de destino.

Dessa forma, se se produzir um problema durante o embarque da carga no navio, a


responsabilidade é do exportador. Se o problema ocorrer durante o transporte marítimo,
o responsável é o importador.

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 03. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm CFR

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído no
Preparar a mercadoria.
contrato de transporte).

110
RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o navio. --------------------------------------------------------------- 4
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no
---------------------------------------------------------------
contrato de transporte).
Fonte: elaborado pelo autor.

Figura 08. Ilustração representativa do Inco- CIF (Cost, Insurance And Freight): Custo,
term CIF Seguro e Frete.
Fonte: 123rf. O CIF, assim como o CFR, estabelece a en-
trega da mercadoria ao transportador a bordo
do navio designado, sendo uma modalidade
exclusivamente marítima. Quando a carga
passa a amurada do navio, o risco é trans-
ferido do exportador para o importador.

Os custos, no entanto, são de responsabili-


dade do exportador até o momento de entrega
da mercadoria no ponto combinado no porto
de destino.

Nessa modalidade, além de arcar com os custos do frete, o exportador deve pagar tam-
bém o seguro da mercadoria. Assim, se ocorrer algum problema durante o transporte
marítimo, o importador recorrerá diretamente à seguradora.

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 04. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm CIF

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Descarga no país de destino (se não for incluído no
Preparar a mercadoria.
contrato de transporte).
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o navio. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Contratar uma apólice de seguro. ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino (se for incluído no
---------------------------------------------------------------
contrato de transporte).
Fonte: elaborado pelo autor.

Direito Internacional e Contratos 111


Contratos Internacionais

Grupo D

O grupo D conta com três modalidades – DPU, DAP e DDP –, tendo sofrido a maior
transformação dos Incoterms 2020, com a substituição do termo DAT pelo DPU. Esse
grupo tem por diferencial a transferência de risco, que ocorre no país de destino. Além
4 disso, os Incoterms do grupo são aplicados para todos os modais de transporte.

Figura 09. Ilustração representativa do Inco- DAP (Delivered At Place): Entregue No


term DAP Local.

Fonte: 123rf.
No Incoterm DAP os custos e riscos são
do exportador até o momento da entrega
da carga no local de destino designado.
Vale ressaltar que a carga é deixada à dis-
posição do importador dentro do transporte
para que esta seja descarregada, ou seja, se
ocorrer um problema com a mercadoria no
momento da descarga a responsabilidade é
do importador.

Cabe ao exportador contratar o transporte


para a carga até o local de destino nomeado.
Não há obrigatoriedade de contratar seguro.

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 05. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm DAP

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Descarga no destino, se não estiver incluída no
contrato de transporte principal.
Carga e transporte local no país de origem. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte local no país de destino.
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete) até o local combinado ---------------------------------------------------------------
para descarga.
Fonte: elaborado pelo autor.

DPU (Delivered At Place Unloaded): Entregue No Local Desembarcado.

O DPU foi criado em substituição ao DAT (Delivered At Terminal), nos Incoterms 2020,
e significa que o exportador é responsável por todos os riscos e custos com trans-
porte até a entrega da mercadoria no local de desembarque acordado, incluída a
descarga no país de destino.

112
Figura 10. Ilustração representativa
do Incoterm DPU

Fonte: 123rf.
4

Esse é o único Incoterm que determina ser obrigação do exportador o desembarque da


carga. A contratação de seguro, no entanto, não é obrigatória. A grande diferença entre
o antigo DAT e o recém criado DPU é que o local de destino nomeado não precisa mais
ser necessariamente um terminal.

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 06. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm DPU

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Carga e transporte local no país de origem. Transporte local no país de destino.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. ---------------------------------------------------------------
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Descarga no país de destino. ---------------------------------------------------------------
Fonte: elaborado pelo autor.

Figura 11. Ilustração representativa do Inco- DDP (Delivered Duty Paid): Entregue com
term DDP Direitos Pagos.
Fonte: 123rf.

Assim como o DAP, o DDP determina que


os custos e riscos são do exportador até o
momento em que a carga é deixada à dis-
posição do importador, no local de destino
nomeado, pronta para ser descarregada do
meio de transporte. Assim, se ocorrer algum
problema durante o transporte principal, a
responsabilidade é do exportador. Se o pro-
blema ocorrer durante a descarga no destino,
a responsabilidade é do importador. A contra-
tação de seguro também não é obrigatória.

Direito Internacional e Contratos 113


Contratos Internacionais

No entanto, esse Incoterm se diferencia dos demais por determinar ser responsabilida-
de do exportador todos os custos referentes aos trâmites aduaneiros de exportação e
de importação, assim como demais despesas e tributos (direitos pagos).

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
4 responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 07. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm DDP

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Descarga do último transporte no país de destino.
Carga e transporte local no país de origem. Transporte local no país de destino.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. ---------------------------------------------------------------
Deslocar a carga para o transporte principal. ---------------------------------------------------------------
Transporte principal (frete). ---------------------------------------------------------------
Desembaraço aduaneiro para a importação. ---------------------------------------------------------------
Fonte: elaborado pelo autor.

Grupo E
Figura 12. Ilustração representativa do In- EXW (Ex Works): Na origem.
coterm EWX
Esse grupo conta com um único Incoterm, o
Fonte: 123rf.

EXW (Ex Works) que significa “na origem”.

Nessa modalidade, o exportador se limita a


entregar a mercadoria ao importador em
suas próprias instalações (na origem/na
fábrica), ou seja, o importador assume todos
os custos e riscos relativos à carga a partir do
momento em que esta se encontra à sua dis-
posição. Logo, o transporte e seguro internos
no país de origem e de destino, os trâmites al-
fandegários, o frete e o seguro internacionais
são custos arcados exclusivamente pelo importador.

O EXW se destaca por ser o Incoterm em que a maior parte das responsabilidades
(custos e riscos) é assumida pelo importador. Por conta disso, esse Incoterm é pouco
utilizado.

Vejamos o quadro comparativo abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.

114
Tabela 08. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm EXW

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria e a disponibilizar ao impor- Carregar a mercadoria.
tador no “chão da fábrica”. 4
--------------------------------------------------------------- Transporte local no país de origem.
--------------------------------------------------------------- Desembaraço aduaneiro para a exportação.
--------------------------------------------------------------- Deslocar a carga para o transporte principal.
--------------------------------------------------------------- Transporte principal (frete).
--------------------------------------------------------------- Descarga no local de destino.
--------------------------------------------------------------- Desembaraço aduaneiro para a importação.
--------------------------------------------------------------- Transporte no país de destino.
Fonte: elaborado pelo autor.

Grupo F

O grupo F comporta três modalidades de Incoterms – FCA, FAS e FOB – cujo ponto
em comum é a transferência dos riscos e custos simultaneamente no país de origem.
Figura 13. Ilustração representativa do Inco- FAS (Free Alongside Ship): Livre ao lado
term FAS do navio.
Fonte: 123rf.

O Incoterm FAS é utilizado somente no trans-


porte marítimo e significa que o exportador
assume todos os custos e riscos de trans-
porte até entregar a mercadoria onde está
atracado o navio contratado pelo importador,
no país de origem da mercadoria. Dessa for-
ma, se ocorrer um problema com a mercado-
ria no transporte local (no país de origem) a
responsabilidade é do exportador. Já se o pro-
blema ocorrer durante a carga no navio, quem
assumirá a responsabilidade é o importador.

Logo, nessa modalidade os custos de frete e seguro internacionais são exclusivos do


importador, bem como o risco no momento do embarque no navio. Vale ressaltar que o
desembaraço aduaneiro para a exportação é arcado pelo exportador.

Vejamos a tabela abaixo, que sintetiza quais as obrigações do exportador e importador.


Tabela 09. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm faz

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Deslocar a carga para o navio.
Carga e transporte local no país de origem. Transporte principal.

Direito Internacional e Contratos 115


Contratos Internacionais

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Descarga no país de destino.
--------------------------------------------------------------- Desembaraço aduaneiro para a importação.
4 --------------------------------------------------------------- Transporte local no país de destino.
Fonte: elaborado pelo autor.

Figura 14. Ilustração representativa do Inco- FCA (Free Carrier): Livre no transportador.
term FCA
Diferentemente dos outros Incoterms do gru-

Fonte: 123rf.
po F, o FCA é adotado em transportes marí-
timos, aéreos ou terrestres (multimodal). Em
síntese, ele determina que a transferência de
obrigações do exportador para o importador
ocorra após a entrega à transportadora.

Nessa modalidade, a responsabilidade quan-


to à carga e descarga da mercadoria antes
da exportação varia de acordo com o local
de entrega combinado. Caso seja dentro
das dependências do exportador, este é res-
ponsável pelo carregamento. Caso seja em
local determinado, cabe ao importador a responsabilidade pelo carregamento.

Vejamos a tabela comparativa abaixo, para que possamos entender e fixar a divisão de
responsabilidades quanto aos custos e riscos entre exportador e importador.
Tabela 10. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm FCA

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Transporte local no país de origem, caso a entrega
Preparar a mercadoria.
tenha sido acordada nas instalações do exportador.
Carga da mercadoria, se a entrega se produz nas
Se a entrega está acordada em um armazém, a
instalações do exportador.
descarga do veículo contratado pelo exportador até
esse ponto.

Deslocar a carga para o transporte principal.


Transporte local no país de origem, se a entrega for
acordada em um armazém.

Desembaraço aduaneiro para a exportação. Transporte principal.


--------------------------------------------------------------- Descarga no país de destino.
--------------------------------------------------------------- Desembaraço aduaneiro para a importação.
--------------------------------------------------------------- Transporte local no país de destino.
Fonte: elaborado pelo autor.

116
Figura 15. Ilustração representativa do Incoterm FOB (Free On Board): Livre a bordo.
FOB
O Incoterm FOB é utilizado somente no

Fonte: 123rf.
transporte marítimo e significa que o ex-
portador assume todos os custos e ris-
cos de transporte até que a mercadoria 4
passe pela borda do navio, ou seja, até
o embarque da carga. O FOB é uma das
modalidades mais adotadas no Comércio
Exterior, porquanto distribui equitativa-
mente as obrigações entre as partes con-
traentes.

Leciona Gonçalves (2010, p. 215) que “a


cláusula FOB (Free on board) quer dizer
que o vendedor se obriga até o embar-
que, a partir do qual todas as despesas e riscos estão a cargo do comprador”.

Nesse caso, o custo e a responsabilidade pelo transporte no país de origem, seu de-
sembaraço para exportação, armazenamento e embarque no navio, é assumido pelo
exportador. No tocante ao frete e seguro internacionais, desembarque, desembaraço
para importação e transporte interno no país de destino são de responsabilidade do
importador. Vejamos a tabela abaixo, que sintetiza quais as obrigações do exportador
e importador.
Tabela 11. Tabela comparativa das responsabilidades do exportador e importador na Incoterm FOB

RESPONSABILIDADE DO RESPONSABILIDADE DO
EXPORTADOR IMPORTADOR
Preparar a mercadoria. Transporte principal.
Carga e transporte local no país de origem. Descarga no país de destino.
Desembaraço aduaneiro para a exportação. Desembaraço aduaneiro para a importação.
Deslocar a carga para o navio. Transporte local no país de destino.
Fonte: elaborado pelo autor.

Para sintetizar o conteúdo de forma visual e didática, veja-se abaixo todos os Incoter-
ms existentes atualmente e quais os momentos da transferência dos custos e riscos.
Assim, será possível ter uma visão global e entender melhor a diferenciação entre eles.

Direito Internacional e Contratos 117


Contratos Internacionais

Figura 16. Tabela Geral dos Incoterms 2020

Fonte: Eloi (2020, p. 25).


4

Observe, ainda, a tabela abaixo, que sintetiza todas as siglas, significados e modo de
transporte da mercadoria.
Tabela 12. Quadro comparativo Incoterms 2020

INCOTERMS INCOTERMS
SIGLA
2020 2020
EXW Ex Works Multimodal
FCA Free Carrier Multimodal
FAS Free Alongside Ship Marítimo
FOB Free on Board Marítimo
CFR Cost and Freight Marítimo
Cost Insurance and
CIF Marítimo
Freight
CPT Carriage Paid To Multimodal
Carriage And Insu-
CIP Multimodal
rance Paid To
Delivered At Place
DPU Multimodal
Unloaded
DAP Delivered at Place Multimodal
DDP Delivered Duty Paid Multimodal
Fonte: Eloi (2020, p. 14).

118
2.2 Outras espécies de contrato internacional
O contrato de compra e venda é, de fato, o mais comum e conhecido, porém não é
o único existente no cenário internacional. Elencamos abaixo mais alguns contratos,
abordando cada um deles de forma sucinta.
4
Contrato de transporte aéreo internacional: por meio deste contrato a compa-
nhia aérea se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um país para outro,
pessoas ou coisas. As Convenções de Varsóvia e Montreal são muito utilizadas
no tocante ao assunto, servindo de fundamentação para diversas decisões judi-
ciais. Trata-se de um “código” que estabeleceu certas condições contratuais no
transporte aéreo, definiu e limitou os direitos de passageiros e proprietários de
mercadorias, assim como estabeleceu o respectivo regime de responsabilidade
civil do transportador.

Factoring internacional: também conhecido como fomento mercantil, é uma ope-


ração financeira pela qual uma empresa vende seus direitos creditórios – que se-
riam pagos a prazo – através de títulos a um terceiro, que os compra à vista, mas
com um desconto.

Franchising ou franquia: trata-se de um contrato que envolve a cessão do uso da


marca dos serviços ou produtos e do conhecimento (know-how) do franqueador,
mediante uma remuneração paga pelo franqueado.

3. MERCOSUL (MERCADO COMUM DO SUL)


O Mercosul foi estabelecido através do Tratado de Assunção e teve por objetivo “a
concretização de um mercado comum entre seus Estados membros, isto é, uma zona
de livre comércio constituída em consequência da eliminação de entraves aduaneiros
e outras restrições ao comércio” (OCAMPO, 2009, p. 469). Assim, ele
[...] estabeleceu um modelo de integração profunda, com os objetivos centrais
de conformação de um mercado comum - com livre circulação interna de bens,
serviços e fatores produtivos - o estabelecimento de uma Tarifa Externa Co-
mum (TEC) no comércio com terceiros países e a adoção de uma política co-
mercial comum (MERCOSUL, [s. d.], [n. p.]).

Atualmente, o Mercosul é instrumento fundamental para a promoção da cooperação, do


desenvolvimento, da paz e da estabilidade na América do Sul.
Figura 17. Emblema do Mercosul
http://www.mercosul.gov.br/. Acesso
Fonte: Mercosul. Disponível em:

em: 30 jul. 2020.

Direito Internacional e Contratos 119


Contratos Internacionais

O Mercosul implica:

a. livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os Estados Partes,


mormente através da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não-tarifárias
à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente.
4
b. coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados membros,
a fim de assegurar condições adequadas de concorrência.

c. o compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, a fim de forta-


lecer o processo de integração.

d. o estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política co-


mercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a
coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacionais
(MERCOSUR, [s. d.], [n. p.]).

São países componentes a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Cabe ressaltar que
atualmente a República Bolivariana da Venezuela se encontra suspensa de todos os
direitos e obrigações inerentes à sua condição de Estado Parte (segundo parágrafo do
artigo 5° do Protocolo de Ushuaia).

Temos, ainda, a categoria dos Estados Associados, na qual fazem parte Chile, Colôm-
bia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.

“O Mercosul é um processo de integração de caráter intergovernamental, onde cada


Estado Parte tem um voto, e as decisões devem ser tomadas por consenso e com a
presença de todos os Estados Parte” (MERCOSUR, [s. d.], [n. p.]). Sua estrutura está
disposta no Protocolo de Ouro Preto, que constitui um protocolo adicional ao Tratado
de Assunção.

Você sabe o significado do emblema do Mercosul?


O emblema/logotipo do MERCOSUL contém as quatro estrelas da constelação
denominada Cruzeiro do Sul sobre uma linha curva de cor verde, que simboliza
o horizonte, sobre a palavra MERCOSUR/MERCOSUL. A constelação
Cruzeiro do Sul tem sido o principal elemento de orientação do Hemisfério
Sul e simboliza o sentido otimista desta organização de integração regional
(MERCOSUR, [s. d.], [n. p.]).

CONCLUSÃO
O contrato é um instrumento vital para uma sociedade, pois através dele ocorrem as
mais variadas interações e integrações entre indivíduos. É o acordo de vontades que
tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações.

O contrato está para a sociedade assim como o contrato internacional está para a so-
ciedade internacional. Para diferenciarmos esses instrumentos, basta a análise dos ele-
mentos constitutivos do negócio jurídico.

120
Assim, o contrato internacional possui elementos que possibilitam sua vinculação a
ordenamentos jurídicos diferentes, enquanto que o contrato interno está sob a égide de
um único ordenamento.

Quando pensamos em dois ou mais sujeitos negociando entre si, uma das primeiras
questões a serem debatidas refere-se à lei que será aplicada à relação comercial esta- 4
belecida. Em regra, há predominância do princípio da autonomia da vontade, ou seja,
as partes escolhem a legislação aplicável.

Em caso de omissão, aplicar-se-á as normas de Direito Internacional Privado, que es-


tão consubstanciadas, no Brasil, na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro
(LINDB).

É importante relembrarmos que há distinção entre cláusula de eleição de foro e cláusula


de lei aplicável. Embora incomum, não é impossível que as partes convencionem que
a lei será a de um país, enquanto o foro (local) para dirimir as controvérsias será outro.

Há, ainda, a figura da arbitragem internacional, que consiste em um método de resolu-


ção alternativa de conflitos, em geral mais célere que o julgamento realizado por juízes.
Aqui, há a figura do árbitro, terceiro alheio à contenda, que resolverá o conflito levado
ao seu conhecimento.

A instituição da arbitragem far-se-á através de cláusula compromissória a ser inserida


no contrato internacional, embora nada impeça que as partes optem pela arbitragem
após o surgimento do desentendimento, instituindo um compromisso arbitral.

Vimos, ao longo desta unidade, os organismos internacionais ligados às questões co-


merciais, bem como estudamos sua contribuição para o comércio exterior.

Navegamos mais profundamente no contrato de compra e venda de mercadorias, ana-


lisando os termos padrão que visam uniformizar e estabilizar as relações comerciais, os
Incoterms 2020.

Através destes termos, é possível delimitar os custos e riscos do negócio, atribuindo


transparência e segurança a eles.

Visualizamos, brevemente, outras espécies de contratos internacionais, tal como o


transporte aéreo internacional.

Finalizamos a unidade tratando do Mercosul (Mercado Comum do Sul), que nada mais
é do que um processo de integração de caráter intergovernamental que visa estabele-
cer uma zona de livre comércio constituída em consequência da eliminação de entraves
aduaneiros e outras restrições ao comércio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Decreto-Lei nº 4.687, de 4 de setembro 2. ______. Decreto no 884, de 02 de agosto de
de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito 1993. Promulga o Estatuto Orgânico do Instituto
Brasileiro. [S. l.], 1942. Disponível em: http://www. Internacional para a Unificação do Direito Privado
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compila- (UNIDROIT), concluído em Roma, em 15 de março
do.htm. Acesso em: 27 jul. 2020. de 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/

Direito Internacional e Contratos 121


Contratos Internacionais

ccivil_03/decreto/1990-1994/D0884.htm. Acesso em: -somos/em-poucas-palavras/. Acesso em: 30 jul.


31 jul. 2020. 2020.
3. ______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 16. OCAMPO, R. G. Direito Internacional Público
Institui o Código Civil. [S. l.], 2002. Disponível da Integração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ 17. POLIDO, F. B. P.; SILVA, L. S. O. da. Contratos
L10406compilada.htm. Acesso em: 26 jul. 2020.
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