Você está na página 1de 21

1

A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR NOS CONTRATOS DE ADESÃO

CONSUMER VULNERABILITY IN MEMBERSHIP CONTRACTS

Orientador: Dr. Daniel Martins Sotelo


Aluna: Karla Janayna Lima de Oliveira

RESUMO: Não resta dúvida que o Direito Contratual está presente na vida de todos os
cidadãos diariamente. Este foi o meio, encontrado pelo ser humano para resguardar os seus
interesses, através da celebração de acordos pactuados entre as partes. E o ordenamento jurídico
no seu papel de intermediador, regula o negócio firmado, estabelecendo leis para que nenhuma
parte se sobreponha sobre a outra. No entanto, há de se questionar a vulnerabilidade excessiva
dos consumidores, nos contratos de adesão. Visto que são contratos, onde possuem cláusulas já
fixadas, que visam apenas o favorecimento da credora, podendo esta de forma ludibriosa, se
aproveitar da falta de conhecimento técnico do consumidor, o induzindo ao erro, fazendo-o
adquirir algum serviço/produto que não atenderá suas expectativas, bem com suas necessidades.
Tais condutas maliciosas, vem resultando na firmação de contratos, no qual está acarretando em
diversos conflitos, tendo a parte lesada (consumidor), que acionar o poder judiciário. Sendo que
grande parte destas lides poderiam ter sido evitadas, se houvesse uma maior transparência pelo
fornecedor. Isso gera insegurança para o cidadão, e um desgaste emocional muito grande, uma
vez que o consumidor se sente prejudicado e enganado, por meio de algo que estava almejando
conquistar naquele momento, confiando plenamente no fornecedor dos serviços/produtos,
podendo um sonho, simplesmente se tornar um pesadelo de um dia para o outro. Vivemos em
uma constante revolução dentro do âmbito do Direito, sempre ocorrendo uma nova casuística
que faz com que nós precisamos nos adequar, para que possamos conviver entre si sem
conflitos. Diante disso, é importante salientar as falhas e apontar o que não está mais nos
atendendo naquele momento, sempre objetivando a revolução.

PALAVRAS-CHAVE: Contratantes; Contraprestação; Princípios Contratuais; Negócio


Jurídico.

ABSTRACT: There is no doubt that Contract Law is present in the lives of all citizens on a
daily basis. This was the means found by human beings to protect their interests, through the
conclusion of agreements between the parties. And the legal system, in its role as intermediary,
regulates the deal signed, establishing laws so that no party overrides the other. However, the
excessive vulnerability of consumers in adhesion contracts must be questioned. Since they are
contracts, where they have clauses already fixed, which aim only to favor the creditor, which
can, in a deceptive way, take advantage of the consumer's lack of technical knowledge, inducing
them to make mistakes, making them purchase some service/product that is not will meet your
expectations as well as your needs. Such malicious conduct has resulted in the signing of
contracts, which is leading to several conflicts, with the injured party (consumer) having to take
action to the judiciary. Most of these disputes could have been avoided if there had been greater
transparency by the supplier. This generates insecurity for the citizen, and a great deal of
emotional distress, since the consumer feels harmed and deceived, through something that he
2

was aiming to achieve at that moment, fully trusting in the supplier of services/products, and a
dream could simply be become a nightmare from one day to the next. We live in a constant
revolution within the scope of Law, with a new casuistry always occurring that means we need
to adapt, so that we can live together without conflict. Given this, it is important to highlight the
flaws and point out what is no longer serving us at that moment, always aiming for revolution.

KEYWORDS: Contractors; Consideration; Contractual Principles; Juridic business.

INTRODUÇÃO

O assunto abordado nesse artigo trata-se da vulnerabilidade do consumidor, nos objetos


contratuais, onde o fornecedor ganha vantagem excessiva sobre o contratante, mediante
cláusulas abusivas, o induzimento ao erro, e a falta de transparência nos contratos de adesão, se
aproveitando da carência de conhecimento técnico do consumidor.
E para que possamos adentrar melhor o assunto, necessário se faz uma retomada ao
surgimento dos contratos nas civilizações antigas, seguindo uma ordem cronológica até chegar
em nosso ordenamento jurídico.

1. A EXISTÊNCIA DOS CONTRATOS NAS CIVILIZAÇÕES PRÉ-HISTÓRICAS

Muitas foram as transformações pelas quais passou o direito, em particular, destacamos


especialmente o contrato que seguiu uma trilha própria. Em razão da maior influência de
diversos fatores, no contrato pode vigorar a liberdade contratual, em seus vários sentidos: de
opção subjetiva, ou seja, na escolha de com quem contratar; e a opção objetiva (que se refere à
escolha material das prestações); a opção formal (a escolha tipológica das cláusulas); ou
reversamente, a ausência dessa autonomia com a predominância da ordem pública, e maior
imposição do Estado em qualquer das três opções, em caráter transitório ou permanente. O
contrato se baseou na influência estrutural da vontade humana.
Tendo em vista os diversos períodos históricos e as variadas civilizações com especial
destaque à civilização romana e, ipso facto, ao “contrato romano” nos períodos: pré-clássico,
clássico, no Baixo Império, o contrato medieval (feudal), o contrato na Alta Idade Média, o
contrato do Código Napoleônico e o contrato na pendência deste, até enfim as suas mais
recentes transformações vindas até a atualidade.
É relevante frisar que a evolução arrimada no atual Código Civil Brasileiro corresponde
ao desenvolvimento sofrido por todo direito privado sob o influxo da repersonificação que
3

consagrou a defesa da dignidade humana, da boa-fé objetiva e da função social de institutos


típicos, tais como a propriedade, o contrato, a empresa, a família e a responsabilidade civil.
A maioria dos acordos eram feitos com base na confiança e na tradição oral. Os membros
da comunidade pré-histórica confiavam uns nos outros em questões de trocas, comércio e
partilha de recursos. Os grupos pré-históricos muitas vezes participavam de trocas recíprocas de
bens e serviços, em que os membros de diferentes comunidades trocavam produtos alimentícios,
materiais, e outros recursos.
Embora não houvesse moeda como a conhecemos hoje, algumas sociedades pré-
históricas desenvolveram sistemas de crédito, onde registros de dívidas eram mantidos para
facilitar o comércio e a troca de recursos. As relações comerciais eram moldadas por normas,
valores e costumes compartilhados dentro das comunidades. Quebrar essas normas poderia
resultar em sanções sociais.
A reciprocidade, seja no formato de dádivas, trocas ou ajudas mútuas, desempenhou um
papel significativo nas relações econômicas e contratuais das civilizações pré-históricas. Em
algumas culturas, os acordos eram selados por meio de cerimônias, gestos simbólicos ou rituais
que indicavam o compromisso mútuo.
Apesar da falta de contratos escritos, as sociedades pré-históricas tinham regras e
regulamentações sociais que governavam as relações econômicas e comerciais. A violação
dessas regras podia levar a conflitos e disputas resolvidas por líderes ou conselhos tribais.
Em resumo, nas civilizações pré-históricas, os contratos eram baseados principalmente
na confiança, normas sociais e relações interpessoais. Embora esses contratos não fossem
registrados por escrito como nos tempos modernos, eles desempenharam um papel importante
nas transações comerciais e sociais dessas sociedades antigas.

1.1 A revolução do instrumento contratual no ordenamento jurídico brasileiro

Nas civilizações pré-históricas (povos sem escrita), o homem atribuía certos costumes e
religiosidades à aplicação de seu direito e senso de justiça. No entanto, certo momento, o
homem sentiu a necessidade de se organizar dentro da sociedade, e ter os seus interesses
resguardados. A partir daí, podemos dizer que começou a surgir a formação dos contratos e do
próprio Direito em si.
Na definição de Clóvis Beviláqua, entende-se por contrato qualquer acordo de vontades
que tenha por objetivo contrair, modificar, conservar ou extinguir um ou mais direitos.²
4

Antes de falar do processo histórico dos contratos no Código Civil Brasileiro, vale
mencionar o que o Autor Leonardo Gomes de Aquino, trás em sua obra “Teoria Geral dos
Contratos”: (Página 31).

As normas obrigacionais existentes no Código Comercial de 1850 foram


abolidas pela unificação das obrigações geradas pelo Código Civil ao
determinar no art. 2.045, que a primeira parte da Lei nº 556 de 1.850,
denominado Código Comercial, fora revogada de forma expressa, ou seja,
parcialmente revogada (derrogada). Assim, as questões contratuais passaram a
ser reguladas pelo Código Civil e pelas leis especiais existentes, diante desta
percepção pode-se afirmar que o “contrato antes de tudo é um conceito jurídico,
construído a partir da ciência jurídica elaborada com o fim de dotar a
linguagem jurídica de um termo capaz de resumir, designando-os de forma
sintética uma série de princípios e regras de direitos, uma disciplina jurídica
complexa.

No que diz respeito ao direito contratual brasileiro, podemos afirmar que somente com a
promulgação do Código Civil de 1916, é que se garantiu ao sujeito de direito, certa segurança às
suas relações contratuais, trazendo em seu corpo jurídico, cláusulas conservadoras, adotadas de
um sistema fechado e individualista para a operacionalização do instrumento contratual.
Seguindo esta linha de revolução do Direito Contratual, na década de 1930, houve um
grande avanço no Código Civil, onde o Estado passou a atuar com mais interesse nas relações
cíveis, realizando a criação de novas leis, objetivando um equilíbrio social.
Na década seguinte, o principal foco da Constituição de 1946, foi inserir normas a
propriedade e os bens, visando a estabilidade e a segurança das relações civis de natureza
privada.
Por fim, na Constituição Federal promulgada em 1988, sendo esta a lei fundamental e
suprema do Brasil vigente até os dias de hoje, trouxe em seu corpo, a dignidade da pessoa
humana como elemento básico do Estado Social Democrático de Direito. Isso provocou a perda
do caráter individualista e patrimonial incorporado ao Direito Civil no século anterior.
Por fim, citando vários autores, Tartuce evidencia que seus a doutrina majoritária
entende que “o Código Civil de 2002 realmente adotou a citada teoria da imprevisão, cuja
origem está na cláusula rebus sic stantibus”. (Tartuce, 2021, p. 226). Conclui Tartuce coadunado
a estes, “Estou filiado a essa corrente, pois predomina na prática a análise do fato imprevisível a
5

possibilitar a revisão por fato superveniente”. Ainda esclarece: “o Código Civil de 2002 traz a
revisão contratual por fato superveniente diante de uma imprevisibilidade somada a uma
onerosidade excessiva”.
Neste mesmo caminho Diniz Apud Tartuce (2020, p. 233) esclarece que: o Código Civil
permite a relativização do pacta sunt servanda, autorizando a alteração das condições
contratuais” e explica a possibilidade da relativização para “quando houver desequilíbrio entre
as partes, adotando assim a Teoria de Imprevisão e da Onerosidade Excessiva, decorrentes da
cláusula rebus sic stantibus e boa-fé contratual (Tartuce, 2020 p. 233).
Contudo, a promulgação da Lei no 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor),
assegurou ao consumidor no seu artigo 6º inciso V, a possibilidade de “modificação das
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas” (Brasil, 1990) destarte a lei, parte
da doutrina lecionou sobre a teoria da imprevisão e nesta toada Theodoro Júnior. esclarece a
referida teoria como nada mais que uma “roupagem atual da antiga cláusula rebus sic stantibus”
(Theodoro, Jr., 2020, p. 277).

2 DEFINIÇÃO DO CONTRATO DE ADESÃO

Quando falamos de conceito contratual, no qual seja: Contrato é um negócio jurídico que
envolve a vontade consensual de duas partes (bilateral) ou mais (plurilateral), temos uma
definição genérica de tal assunto, pois, como é de conhecimento de todos, trata-se de um tema
bastante complexo, que mesmo possuindo tantas normas em nosso âmbito jurídico, objetivando
a melhor forma de condicionar algo que está cotidianamente em nossas vidas, ainda nos
deparamos com assuntos específicos, que ainda trazem conflitos, havendo um entendimento
bastante dividido entre os legisladores.
O Código de Defesa do Consumidor, é um conjunto de normas que visam a proteção aos
direitos dos consumidores, bem como, estabelece parâmetros entre as relações de
responsabilidades entre o fornecedor com o consumidor, determinando padrões de conduta,
prazos e penalidades, sendo este indispensável no momento da celebração de um contrato, seja
ele referente a prestação de serviços ou a aquisição de algum produto, pactuado formalmente ou
verbalmente.
E dentro das diversas espécies de contrato, destacamos em especial o “contrato de
adesão”, onde se trata de um tipo específico de negócio jurídico, no qual os termos e condições
6

são definidos unilateralmente por uma das partes, enquanto a outra parte apenas adere a esses
termos.
Segundo a Prof.ª Cláudia Lima Marques (1992:31) apud ROSA (1995:7), Professora de
Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Unidades Universitárias de Naviraí e
Dourados:

“Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas são preestabelecidas unilateralmente


pelo parceiro contratual economicamente mais forte fornecedor), ne varietur, isto
é, sem que o outro parceiro (consumidor) possa discutir ou modificar
substancialmente”

O Código do Consumidor, define essa modalidade de contrato da seguinte forma:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.

Sendo assim, o fornecedor tem uma posição mais dominante, e o consumidor tem pouca
ou nenhuma capacidade de negociar ou influenciar os termos do contrato. Não obstante, deve
existir acordo de vontades entre as partes, senão, estaremos diante de um contrato ilegítimo, e a
certo ponto inválido.

2.1 A vulnerabilidade do consumidor nos contratos de adesão

Não há o que se discutir, quanto a vulnerabilidade do consumidor, se tratando de


contratos de adesão. Nesse tipo de acordo contratual, é utilizado um contrato padronizado, que
deve ser formulado conforme a projeção do negócio, não existe negociação entre cliente e
contratado quanto às condições, tampouco do teor do contrato. A outra parte dessa relação,
assina o contrato aceitando o que foi estabelecido no documento.
Por essa razão, vários são os princípios, que devem ser observados, principalmente pelo
Estado na formulação de políticas que visem à proteção do consumidor, dentre eles, o da
vulnerabilidade.
7

Dentro dos aspectos jurídicos, os princípios são dotados de uma significativa


importância, clareando a compreensão de questões jurídicas, ainda que estejam em um sistema
normativo extremamente complicado.
Da mesma forma, Nunes, entende que:

O princípio jurídico é um enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua


grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos horizontes do sistema
jurídico e, por isso mesmo, vincula, de modo inexorável, o entendimento e a
aplicação das normas jurídicas que com ele se conectam. (NUNES, 2000 p.3)

Portanto vale ressaltar, o que o art. 4º do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 9.008
de 21 de março de 1995) menciona, segue:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios:
I – Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

O princípio da vulneratividade do consumidor, por compreender que o consumidor é a


parte mais fraca da relação, visto como o motivo da criação do código, pois seu objetivo é de
equilibrar a relação de consumo entre o fornecedor e o consumidor. De acordo Moraes (2021) a
vulnerabilidade é o conceito que fundamenta todo o sistema consumerista, o qual busca proteger
a parte mais frágil da relação de consumo, a fim de promover o equilíbrio contratual.
Ao citarmos o referido princípio, vale destacar o que o Autor Sérgio Leandro Carmo
Dobarro, aduz: (A Vulnerabilidade do Consumidor à Luz do Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana – Resumo):

Na sociedade de consumo todos os consumidores devem estar em igualdade, não


podendo ser diminuídos perante um sistema que naturalmente tende à
prevalência dos que possuem maior poderio econômico, razão pela qual há forte
ligação entre a vulnerabilidade do consumidor e o princípio constitucional da
dignidade da pessoa humana. Mediante a vulnerabilidade, atinge-se a igualdade
8

material, tão almejada pela Constituição de forma a colocar todos os cidadãos


em um mesmo nível nas relações jurídicos sociais, sendo este um dos principais
viés do fundamento da dignidade da pessoa humana. Com efeito, trata-se de
tema de grande relevância.

Contudo, um fato curioso e problemático que vem ocorrendo nas relações contratuais,
são as condutas de má-fé praticadas por parte das empresas fornecedoras/credoras, no qual não
buscam uma relação transparente com o contratante, o induzindo ao erro, se aproveitando do
carecimento de informação e termos técnicos, bem como realizam promessas que fogem do
alcance daquele objeto contratual, apenas com a intenção de ganhar vantagem excessiva, sobre o
lado vulnerável do acordo pactuado, visando lucro.

3 CONDUTAS DE MÁ-FÉ DO FORNECEDOR NOS CONTRATOS DE ADESÃO

As condutas de má-fé do fornecedor nos contratos de adesão podem incluir diversas


ações desonestas ou prejudiciais aos consumidores. Alguns exemplos dessas condutas podem
ser:

a) cláusulas abusivas: incluir cláusulas contratuais que são desvantajosas para o consumidor,
ocultas em letras miúdas ou de difícil compreensão;
b) publicidade enganosa: promover um produto ou serviço de forma enganosa, levando o
consumidor a acreditar em benefícios que não existem;
c) negativa de informações claras: não fornecer informações necessárias de forma clara e
completa, como os termos do contrato, preços, prazos e condições de cancelamento;
d) cobranças indevidas: realizar cobranças não autorizadas ou incluir taxas não acordadas no
contrato de adesão;
e) má qualidade dos produtos ou serviços: fornecer produtos ou serviços de má qualidade, que
não correspondem ao que foi prometido ou que apresentam defeitos propositais;
f) descumprimento de prazos: não cumprir os prazos estabelecidos no contrato, causando
prejuízo ao consumidor;
g) falta de assistência pós-venda: negar suporte ou assistência técnica adequada após a compra,
quando prevista no contrato;
h) pressão indevida: usar de pressão psicológica, ameaças ou intimidação para forçar o
consumidor a aceitar termos desfavoráveis;
9

i) venda casada: condicionar a compra de um produto ou serviço à aquisição de outro, prática


proibida por muitas legislações de defesa do consumidor;
j) negativa de cancelamento: dificultar ou negar o cancelamento do contrato quando o
consumidor deseja encerrá-lo.

Tais condutas são ilegais e podem resultar em ações judiciais contra o fornecedor,
bem como em penalidades, multas e indenizações para os consumidores prejudicados. É
importante que os consumidores estejam cientes de seus direitos e procurem as autoridades
competentes ou órgãos de defesa do consumidor em caso de suspeita de condutas de má-fé por
parte dos fornecedores.

3.1 Da publicidade e propaganda enganosa ou abusiva

Esse artigo frisa pontuar a vulnerabilidade do consumidor na celebração de contratos de


adesão, no qual é o assunto debatido por todo esse trabalho. Sendo assim, dentre todos as
condutas apontadas, como sendo atos de má-fé do fornecedor, em especial devemos citar o art.
37, do CDC, § 1º e 2º, que diz:

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo
por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a
que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da
deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores
ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

Cláudia Lima Marques salienta que:

“O Código de Defesa do Consumidor não se preocupa com a culpa e eventual


responsabilidade civil da agência publicitária que criou a mensagem abusiva:
10

responsabiliza apenas o fornecedor que se beneficia com a publicidade. Esta


solução advém do próprio sistema do Código de Defesa do Consumidor, que
desconsidera os problemas da cadeia de produção e concentra-se no consumo e
nos consumidores. Aos fornecedores presentes na cadeia de produção resta o
direito de regresso que lhes assegura o Direito Civil e Comercial.”¹²

Portanto, podemos afirmar que as publicidades e propagandas enganosas referem-se a


práticas em que informações falsas, exageradas ou enganosas são deliberadamente utilizadas
para promover um produto, serviço ou marca. Essas práticas são antiéticas e podem prejudicar
os consumidores, levando-os a tomar decisões de compra com base em informações incorretas.

3.2 A falta de conhecimento técnico do consumidor

A falta de conhecimento técnico do consumidor é uma situação comum que pode ser
explorada por fornecedores desonestos ou resultar em decisões de compra prejudiciais. Isso
ocorre quando um consumidor não possui informações detalhadas sobre produtos, serviços ou
tecnologias específicas, tornando-o vulnerável a práticas comerciais desleais.
Os fornecedores possuem informações técnicas detalhadas que os consumidores não tem
acesso, gerando assim, uma assimetria de informações que pode ser explorada em seu benefício.
Fornecedores inescrupulosos podem usar táticas de venda persuasivas para convencer os
consumidores a comprar produtos ou serviços que não atendem às suas necessidades, muitas
vezes com base em jargões técnicos que o consumidor não compreende, bem como o induzindo
ao erro, oferecendo uma proposta de venda/prestação de serviço, que foge totalmente do que
realmente está sendo acordado no objeto contratual.
Diante o exposto, podemos afirmar, que a falta de conhecimento técnico pode levar
os consumidores a adquirir produtos inadequados para suas necessidades, resultando em
desperdício de dinheiro, deixando vulneráveis a fraudes, podendo ser mais suscetíveis a
esquemas de fraude, como produtos falsificados ou serviços de baixa qualidade.

4 EXEMPLO DE CONTRATO DE ADESÃO QUE FERE OS DIREITOS


CONSUMERISTAS (CONSÓRCIO – A FALSA CONTEMPLAÇÃO IMEDIATA)

Um exemplo de contrato de adesão que é importante ser mencionado, que vai contra
todas os princípios que compõem o Código de Defesa do Consumidor, em especial o artigo 37,
11

§ 1º, que por conseguinte atinge o princípio da vulnerabilidade, podemos citar o contrato de
consórcio, no qual o fornecedor promete uma contemplação imediata por meio de lance, onde
infelizmente não ocorre conforme as propostas acordadas, estando este tipo de lide em alta na
esfera judicial.
Um contrato de consórcio é um acordo em que um grupo de pessoas se reúne para
contribuir com dinheiro ou bens, com o objetivo de adquirir um bem ou serviço em comum, por
meio de sorteios ou lances periódicos. A “falsa contemplação imediata” refere-se a uma situação
em que a administradora do consórcio age de forma desonesta, induzindo vários consumidores à
contratação de consórcio sob a promessa de uma contemplação imediata.
Vejamos como vêm se firmado a Jurisprudência do nosso Egrégio Tribunal de Justiça:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO C/C INDENIZAÇÃO.


CONSÓRCIO. CONTEMPLAÇÃO IMEDIATA. VÍCIO DE
CONSENTIMENTO. COMPROVAÇÃO. ANULAÇÃO DO NEGÓCIO
JURÍDICO. RESTITUIÇÃO INTEGRAL DO VALOR PAGO. DANOS
MORAIS. CONFIGURADOS. DEVER DE INDENIZAR. QUANTUM
INDENIZATÓRIO FIXADO EM r$ 4.000,00 (QUATRO MIL REAIS).
CORREÇÃO MONETÁRIA (SÚMULA 362 DO STJ). JUROS DE MORA. A
PARTIR DA CITAÇÃO. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. INTEGRALMENTE
PELA PARTE RÉ. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. I – Comprovado
que os autores foram prejudicados por preposta da administradora de
consórcio que os induziu na contratação do plano oferecido, porquanto
foram convencidos a firmar negócio sob o argumento de contemplação
imediata, deve ser mantida a sentença vergastada no que pertine à anulação
do negócio jurídico diante da caracterização de dolo (erro substancial). II –
Deve ser restituído integralmente o valor pago à parte autora, a fim de possibilitar
o retorno das partes ao status quo ante, nos termos do artigo 182 do Código Civil,
sendo inaplicável o entendimento sedimentado em recursos repetitivos (REsp
1.119.300/RS), que determina a devolução de valores até trinta dias a contar do
encerramento do grupo. III – Demonstrada a conduta abusiva e arbitrária de
funcionária da administradora de consórcio na falsa promessa de rápida
contemplação, resta patente o dever da empresa ré em indenizar a parte autora,
pelos danos morais suportados. IV – De acordo com as circunstâncias do caso
concreto, afigura-se razoável e proporcional o quantum indenizatório fixado em
12

R$ 4.000,00 (quatro mil reais), a título de danos morais, devendo incidir correção
monetária a partir do arbitramento (Súmula 362 do STJ) e juros de mora de 1%
ao mês, desde a citação (artigo 405 do Código Civil). VI – Diante da modificação
do julgado, deve a parte ré suportar integralmente os ônus sucumbenciais,
arbitrando-se os honorários advocatícios em quinze por cento sobre o valor
condenatório, nos termos do artigo 20, §3º, do Código de Processo Civil. VII –
PRIMEIRO APELO CONHECIDO E PROVIDO. SEGUNDO RECURSO
APELATÓRIO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJGO, APELAÇÃO CÍVEL 2153-59.2011.8.09.0142, Rel. DES. GERSON
SANTANA CINTRA, 3A CÂMARA CÍVEL, julgado em 01/12/2015, DJe 1929
de 14/12/2015 APELANTE: WENDER GOMES DE OLIVEIRA E OUTROS;
APELADO MULTIMARCAS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA
E OUTROS).

Portanto, essa prática é ilegal e prejudicial aos consorciados/consumidores. Os órgãos


reguladores e as leis de proteção do consumidor proíbem a falsa contemplação imediata. Os
consorciados têm o direito de exigir transparência e conformidade com as regras do contrato. Se
suspeitarem de falsa contemplação, podem denunciar a administradora às autoridades
competentes ou buscar orientação legal para proteger seus direitos.

5 A NECESSIDADE DE TRANSPARÊNCIA DO FORNECEDOR COM O


CONSUMIDOR

Infelizmente, ainda não possuímos uma lei em nosso ordenamento jurídico especifica
que regule o dever de informação. Contudo, nosso Código de Defesa do Consumidor (CDC),
abrange diversas regras capazes de proteger o sujeito em estado de vulnerabilidade nas relações
de consumo.
Nesse viés, é importante destacarmos o seguinte artigo do referido código:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.
13

A transparência de informações do fornecedor para o consumidor é essencial para


estabelecer e manter relacionamentos saudáveis e éticos no mercado. Essa transparência envolve
a divulgação aberta e honesta de informações relevantes sobre produtos, serviços, práticas
comerciais e outros aspectos que impactam os consumidores.
Elucida Fábio Ulhoa Coelho:

“De acordo com o princípio da transparência, não basta ao empresário abster-se


de falsear a verdade, deve ele transmitir ao consumidor em potencial todas as
informações indispensáveis à decisão de consumir ou não o fornecimento.”

Portanto, podemos afirmar que a escolha do consumidor em tomar sua decisão sobre a
aquisição de qualquer tipo de serviço/produto, vai ser influenciada pela forma de abordagem do
fornecedor.
O doutrinador Kherson Maciel Gomes Soares, salienta em sua obra, Magistratura
Estadual, p. 8, que:

‘Pode-se dizer que proposta é uma declaração recepcia (endereçada) de vontade,


dirigida por uma pessoa à outra (com quem pretende celebrar um contrato), por
força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada, se a
outra parte aceitar. Em síntese, é a declaração dirigida a outrem, visando com ele
contratar, de modo que basta o seu consentimento para concluir o acordo.”

Vejamos o entendimento do Segundo o ministro do STJ Humberto Martins, quando diz:

“A autodeterminação do consumidor depende essencialmente da informação que


lhe é transmitida, pois é um dos meios de formar a opinião e produzir a tomada de
decisão daquele que consome. Logo, se a informação é adequada, o consumidor
age com mais consciência; se a informação é falsa, inexistente, incompleta ou
omissa, retira-se-lhe a liberdade de escolha consciente.”

Sendo assim, ao mencionarmos o contrato de adesão, podemos afirmar que a


transparência de informações se torna algo essencial nesse tipo de acordo, pois conforme já foi
pontuado, esse tipo de negócio, possui cláusulas fixas, não alteráveis, elaborados pelo
14

fornecedor, e oferecidos aos consumidores em uma base "take-it-or-leave-it" (pegue ou largue),


sem espaço significativo para negociações individuais.
Dispondo a respeito do princípio da transparência nas relações de consumo, Jorge
Alberto Quadros de Carvalho Silva assevera: “O princípio da transparência, essencialmente
democrático que é, ao reconhecer que, em uma sociedade, o poder não é só exercido no plano
da política, mas também da economia, surge no Código de Defesa do Consumidor, com o fim
de regulamentar o poder econômico, exigindo-lhe visibilidade, ao atuar na esfera jurídica do
consumidor. No CDC, ele fundamenta o direito à informação, encontra-se presente nos arts. 4º,
6º, III, 8º, 31, 37, § 3º, 46 e 54, §§ 3º e 4º, e implica assegurar ao consumidor a plena ciência
da exata extensão das obrigações assumidas perante o fornecedor.”
Desta forma, a balança de poder muitas vezes pende para o lado do fornecedor, uma vez
que o consumidor tem pouca ou nenhuma influência na formulação dos termos. A transparência
é uma maneira de equilibrar esse poder, garantindo que os consumidores compreendam
claramente os termos aos quais estão concordando, bem como assegura que os consumidores
deem um consentimento informado ao assinar um contrato de adesão. Eles devem estar cientes
de todas as obrigações, restrições e condições antes de concordarem.
Como ensina Cláudia Lima MARQUES, “Na formação dos contratos entre
consumidores e fornecedores o novo princípio básico norteador é aquele instituído pelo art. 4.º,
caput, do CDC, o da Transparência. A ideia central é possibilitar uma aproximação e uma
relação contratual mais sincera e menos danosa entre consumidor e fornecedor. Transparência
significa informação clara e correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser
firmado, significa lealdade e respeito nas relações entre fornecedor e consumidor, mesmo na
fase pré-contratual, isto é, na fase negocial dos contratos de consumo.”
Para promover uma conduta transparente junto ao seu cliente/consumidor nos contratos
de adesão, as empresas podem adotar práticas como, propostas que condizem com o objeto
contratual, redação clara, apresentação de informações de forma acessível, destaque para termos
importantes e oferecimento de esclarecimentos quando solicitados pelos consumidores. Isso não
apenas protege os interesses dos consumidores, mas também contribui para a construção de
relações comerciais mais éticas e sustentáveis.

5.1 Princípio da boa-fé objetiva nos contratos em geral

O princípio da boa-fé objetiva é regra de conduta na formação, execução e término de


contratos, no qual aparece no Código Civil como cláusula geral no artigo 422. Este princípio é
15

fundamentado na ideia de que as partes em um contrato devem agir de maneira justa, leal e
honesta, promovendo a confiança mútua e a equidade nas relações contratuais.
A boa-fé objetiva não é princípio dedutivo, não é argumentação dialética; é medida e
diretiva para pesquisa da norma de decisão, da regra a aplicar no caso concreto, sem hipótese
normativa preconstituída, mas que será preenchida com a mediação concretizadora do
intérprete-julgador.
Importante destacar o art. 113, § 1º, IV do Código Civil:

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os


usos do lugar de sua celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:
IV – for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável.

LÔBO, P. L. N. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus
Navigandi, Teresina,

“No que se refere ao princípio da equivalência material o Código o incluiu, de


modo indireto, nos dois importantes artigos que disciplinam o contrato de adesão
(arts. 423 e 424), ao estabelecer a interpretação mais favorável ao aderente
(interpretatio contra stipulatorem), já prevista no art. 47 do Código de Defesa do
Consumidor, e ao declarar nula a cláusula que implique renúncia antecipada do
contratante aderente a direito resultante da natureza do negócio (cláusula geral
aberta, a ser preenchida, caso a caso, pela mediação concretizadora do aplicador
ou intérprete).”

Nas relações de consumo observa-se que o princípio da boa-fé objetiva tem larga
aplicação, nota-se que ainda é discreta na jurisprudência sua utilização nas relações regidas pelo
Direito Comum.
Com efeito, nas relações regidas pelo Código de Defesa do Consumidor, a aplicação
jurisprudencial do princípio da boa-fé objetiva se apresenta de forma recorrente, porém ainda há
poucos exemplos de sua aplicação nas relações de Direito Comum.
Vejamos um julgado, da 5ª Câmara Cível, do TJRJ:
16

AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E


VENDA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER. RÉUS QUE SE
COMPROMETERAM A ENTREGAR AO AUTOR LOTES PRONTOS E
URBANIZADOS QUE IRIAM INTEGRAR O FUTURO LOTEAMENTO DE
PROPRIEDADE COMUM DAS PARTES. SERVIÇO PARCIALMENTE
EXECUTADO. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO.
INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 476 DO CÓDIGO CIVIL. OS RÉUS ALEGAM
QUE FOI O PRÓPRIO AUTOR QUE DEU CAUSA À PARALISAÇÃO DO
EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.
PROVA PERICIAL DE ENGENHARIA QUE DEMOSTROU QUE OS RÉUS
INVESTIRAM QUANTIA SUBSTANCIAL PARA ADIMPLEMENTO DA
OBRIGAÇÃO DE FAZER. LAUDO TÉCNICO APUROU OS SEGUINTES
SERVIÇOS PRESTADOS PELOS RÉUS: IMPLANTAÇÃO DO
LOTEAMENTO, ARRUAMENTO, MEIOS FIOS, PAVIMENTAÇÃO EM
PARALELO, INSTALAÇÃO DE GALERIA DE ÁGUAS PLUVIAIS.
CONJUNTO PROBATÓRIO QUE CORROBORA A TESE DOS APELADOS
DE QUE O ATRASO DA OBRA SE DEU EM VIRTUDE DO
DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES POR PARTE DO AUTOR,
DENTRE ELAS A REGULARIZAÇÃO DO FORNECIMENTO DO SERVIÇO
DE ÁGUA, QUE FOI CORTADA EM VIRTUDE DE DÉBITO JUNTO À
CEDAE E PAGAMENTO DE IPTU. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E DA BOA-FÉ OBJETIVA. ARTIGOS
421 E 422 DO CÓDIGO CIVIL. COMO PRIMORDIAL INSTRUMENTO DA
CIRCULAÇÃO DE RIQUEZAS É INEGÁVEL QUE O CONTRATO TENHA
UMA FUNÇÃO SOCIAL A DESEMPENHAR, QUE SOMENTE PODE SER
ALCANÇADA QUANDO O INTERESSE COLETIVO SE SOBREPONHA AO
INDIVIDUAL. O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA VEDAR A CONDUTA
DO CONTRATANTE QUE DIFICULTA O ADIMPLEMENTO
CONTRATUAL. DEVER DE COLABORAÇÃO. INOBSERVÂNCIA DO
AUTOR. ACOLHIMENTO DA EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO
CUMPRIDO. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS AUTORAIS. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO.” (TJRJ – 5ª Câmara Cível – Apelação Cível nº
009676-27.2006.8.19.0205 julgada em 20.03.2012 – Rel. Desembargador
Antônio Saldanha Palheiro)
17

O princípio da boa-fé objetiva é uma parte fundamental de muitos sistemas legais e


desempenha um papel crucial na promoção de relações contratuais justas e equitativas. Sua
aplicação pode variar de acordo com as leis específicas de cada jurisdição, mas, em geral, busca
garantir que as partes ajam de maneira ética e justa durante a formação, execução e término dos
contratos.

5.2 Cláusulas contratuais que se encontram em desacordo com a lei

Algumas cláusulas podem ser consideradas abusivas, indo contra leis de proteção do
consumidor. Isso pode incluir cláusulas que isentam a empresa de responsabilidade por danos
causados, cláusulas que limitam os direitos legais dos consumidores ou cláusulas que são
excessivamente desfavoráveis para uma das partes.
Vale salientar, que os contratos de adesão, possui tratamento especial em nosso Código
Civil, nos artigos 423 e 424:

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou


contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a
renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Pois bem, a quem pense que os contratos de adesão se tratam de negócios


jurídicos, onde seu instrumento não pode ser discutido, uma vez que o consumidor aceitou e
seguiu com a sua devida assinatura, no instrumento contratual. No entanto, conforme preceitua o
nosso Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 51, são nulas de pleno direito, entre outras,
as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que infringir o exposto
nos seus incisos.
Cláusulas que buscam renunciar ou limitar os direitos legais dos consumidores podem
entrar em conflito com leis de proteção do consumidor. Por exemplo, tentar isentar a empresa de
responsabilidade por negligência grave pode ser considerado inválido em muitas jurisdições.
Conclui-se, portanto, que, conforme dispõe o artigo 54, § 4º, do CDC, o contrato de
adesão pode conter cláusulas que limitam o direito do consumidor. Contudo, tais cláusulas não
podem ser abusivas sob pena de serem consideradas nulas.
18

CONCLUSÃO

A vulnerabilidade do consumidor nos contratos de adesão é um tema de grande


importância e destaque nas discussões sobre direitos do consumidor e equidade nas relações
contratuais. Ao analisarmos essa questão, algumas conclusões podem ser destacadas:

Assimetria de poder: a relação entre fornecedor e consumidor em contratos de adesão muitas


vezes caracteriza uma assimetria de poder, onde o fornecedor, frequentemente uma entidade
comercial maior, detém maior controle sobre os termos contratuais.
Limitada capacidade de negociação: o consumidor, frequentemente em uma posição mais
frágil, muitas vezes têm limitada capacidade de negociar ou influenciar os termos do contrato,
aceitando-os tal como são apresentados.
Cláusulas abusivas: contratos de adesão podem conter cláusulas que, em alguns casos, são
consideradas abusivas, explorando a vulnerabilidade do consumidor e prejudicando seus direitos
legais.
Necessidade de proteção legal: a vulnerabilidade do consumidor ressalta a necessidade de
proteção legal robusta para garantir que os consumidores não sejam prejudicados por práticas
contratuais injustas ou cláusulas prejudiciais.
Importância de transparência: a transparência nos contratos de adesão é crucial para
empoderar os consumidores, permitindo que tomem decisões informadas e compreendam
plenamente os termos aos quais estão concordando.
Regulamentações de defesa do consumidor: regulamentações específicas de defesa do
consumidor, frequentemente presentes em muitas jurisdições, buscam mitigar a vulnerabilidade
do consumidor, proibindo práticas comerciais injustas e garantindo a aplicação de cláusulas
justas nos contratos.
Acesso à justiça: é fundamental que os consumidores tenham acesso efetivo à justiça para
contestar cláusulas contratuais que considerem abusivas. Esse acesso pode ser facilitado por
meios como ação coletiva de consumidores e procedimentos judiciais simplificados.
Educação do consumidor: promover a educação do consumidor é uma estratégia essencial para
capacitar os consumidores a entenderem seus direitos, lerem contratos com mais discernimento
e fazerem escolhas mais informadas.

Em resumo, a vulnerabilidade do consumidor nos contratos de adesão destaca a


importância de um ambiente regulatório que proteja os consumidores, promova a transparência e
19

equilibre o poder nas relações contratuais. A busca contínua por práticas contratuais mais justas
e pela promoção dos direitos do consumidor é essencial para a construção de uma sociedade
mais equitativa e justa.
20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, Leonardo Gomes. Teoria Geral dos Contratos. Belo Horizonte: Editora Expert, 2021;

BEVILÁQUA, Clóvis. Código civil anotado, vol. 4. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1916;

CÓDIGO CIVIL, Lei n° 10.406 de 10 de janeiro de 2002;

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Lei n° 8.078 de 11 de setembro de 1990;

COELHO, Fábio Ulhoa. O crédito ao consumidor e a estabilização da economia, Revista da


Escola Paulista de Magistratura, 1/96, set./dez. 1996;

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988;

DINIZ, M. H. Direito em Debate Vol. II.: Grupo Almedina (Portugal), 2020;

FARIA, Luiz Antônio. Guia para trabalhos acadêmicos. Aparecida de Goiânia: Alfredo Nasser,
2017;

GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil –
Contratos. 5ª Edição. Editora Saraiva, 2022 (revista ampliada e atualizada);

LÔBO, P. L. N. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus
Navigandi, Teresina, ano 6, n. 5, mar. 2002;

MACHADO, Humberto. Guia prático para trabalhos acadêmicos monográficos e TCCs.


Aparecida de Goiânia: Alfredo Nasser, 2014;

MARQUES, Cláudia Lima. Comentários no Código de Defesa do Consumidor. V. I, 4ª ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 379;
21

MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. O novo regime das
relações contratuais. 4.ª ed. Rev. Atual. E amp. São Paulo: RT, 2002. P. 594-595;

NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, Comentários ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor,


Direito Material, Saraiva, São Paulo: 2000, p. 3;

ROSA, Josimar Santos. Relações de consumo: a defesa dos interesses de consumidores e


fornecedores. São Paulo: Atlas, 1995;

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Código de Defesa do Consumidor Anotado e


legislação complementar, 3ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2003;

SOARES, Kherson Maciel Gomes. Magistratura Estadual. Direito Civil, Edital Mege, 2020;

(TJGO, APELAÇÃO CÍVEL 2153-59.2011.8.09.0142, Rel. DES. GERSON SANTANA


CINTRA, 3A CÂMARA CÍVEL, julgado em 01/12/2015, DJe 1929 de 14/12/2015
APELANTE: WENDER GOMES DE OLIVEIRA E OUTROS; APELADO MULTIMARCAS
ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA E OUTROS);

(TJRJ – 5ª Câmara Cível – Apelação Cível nº 009676-27.2006.8.19.0205 julgada em 20.03.2012


– Rel. Desembargador Antônio Saldanha Palheiro);

TARTUCE, F. (2021). Direito Civil. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie, Vol.
3.: Grupo GEN, 2021;

THEODORO, Júnior, H. (2020). Direitos do Consumidor. Grupo GEN.

Você também pode gostar