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RESUMO: Não resta dúvida que o Direito Contratual está presente na vida de todos os
cidadãos diariamente. Este foi o meio, encontrado pelo ser humano para resguardar os seus
interesses, através da celebração de acordos pactuados entre as partes. E o ordenamento jurídico
no seu papel de intermediador, regula o negócio firmado, estabelecendo leis para que nenhuma
parte se sobreponha sobre a outra. No entanto, há de se questionar a vulnerabilidade excessiva
dos consumidores, nos contratos de adesão. Visto que são contratos, onde possuem cláusulas já
fixadas, que visam apenas o favorecimento da credora, podendo esta de forma ludibriosa, se
aproveitar da falta de conhecimento técnico do consumidor, o induzindo ao erro, fazendo-o
adquirir algum serviço/produto que não atenderá suas expectativas, bem com suas necessidades.
Tais condutas maliciosas, vem resultando na firmação de contratos, no qual está acarretando em
diversos conflitos, tendo a parte lesada (consumidor), que acionar o poder judiciário. Sendo que
grande parte destas lides poderiam ter sido evitadas, se houvesse uma maior transparência pelo
fornecedor. Isso gera insegurança para o cidadão, e um desgaste emocional muito grande, uma
vez que o consumidor se sente prejudicado e enganado, por meio de algo que estava almejando
conquistar naquele momento, confiando plenamente no fornecedor dos serviços/produtos,
podendo um sonho, simplesmente se tornar um pesadelo de um dia para o outro. Vivemos em
uma constante revolução dentro do âmbito do Direito, sempre ocorrendo uma nova casuística
que faz com que nós precisamos nos adequar, para que possamos conviver entre si sem
conflitos. Diante disso, é importante salientar as falhas e apontar o que não está mais nos
atendendo naquele momento, sempre objetivando a revolução.
ABSTRACT: There is no doubt that Contract Law is present in the lives of all citizens on a
daily basis. This was the means found by human beings to protect their interests, through the
conclusion of agreements between the parties. And the legal system, in its role as intermediary,
regulates the deal signed, establishing laws so that no party overrides the other. However, the
excessive vulnerability of consumers in adhesion contracts must be questioned. Since they are
contracts, where they have clauses already fixed, which aim only to favor the creditor, which
can, in a deceptive way, take advantage of the consumer's lack of technical knowledge, inducing
them to make mistakes, making them purchase some service/product that is not will meet your
expectations as well as your needs. Such malicious conduct has resulted in the signing of
contracts, which is leading to several conflicts, with the injured party (consumer) having to take
action to the judiciary. Most of these disputes could have been avoided if there had been greater
transparency by the supplier. This generates insecurity for the citizen, and a great deal of
emotional distress, since the consumer feels harmed and deceived, through something that he
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was aiming to achieve at that moment, fully trusting in the supplier of services/products, and a
dream could simply be become a nightmare from one day to the next. We live in a constant
revolution within the scope of Law, with a new casuistry always occurring that means we need
to adapt, so that we can live together without conflict. Given this, it is important to highlight the
flaws and point out what is no longer serving us at that moment, always aiming for revolution.
INTRODUÇÃO
Nas civilizações pré-históricas (povos sem escrita), o homem atribuía certos costumes e
religiosidades à aplicação de seu direito e senso de justiça. No entanto, certo momento, o
homem sentiu a necessidade de se organizar dentro da sociedade, e ter os seus interesses
resguardados. A partir daí, podemos dizer que começou a surgir a formação dos contratos e do
próprio Direito em si.
Na definição de Clóvis Beviláqua, entende-se por contrato qualquer acordo de vontades
que tenha por objetivo contrair, modificar, conservar ou extinguir um ou mais direitos.²
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Antes de falar do processo histórico dos contratos no Código Civil Brasileiro, vale
mencionar o que o Autor Leonardo Gomes de Aquino, trás em sua obra “Teoria Geral dos
Contratos”: (Página 31).
No que diz respeito ao direito contratual brasileiro, podemos afirmar que somente com a
promulgação do Código Civil de 1916, é que se garantiu ao sujeito de direito, certa segurança às
suas relações contratuais, trazendo em seu corpo jurídico, cláusulas conservadoras, adotadas de
um sistema fechado e individualista para a operacionalização do instrumento contratual.
Seguindo esta linha de revolução do Direito Contratual, na década de 1930, houve um
grande avanço no Código Civil, onde o Estado passou a atuar com mais interesse nas relações
cíveis, realizando a criação de novas leis, objetivando um equilíbrio social.
Na década seguinte, o principal foco da Constituição de 1946, foi inserir normas a
propriedade e os bens, visando a estabilidade e a segurança das relações civis de natureza
privada.
Por fim, na Constituição Federal promulgada em 1988, sendo esta a lei fundamental e
suprema do Brasil vigente até os dias de hoje, trouxe em seu corpo, a dignidade da pessoa
humana como elemento básico do Estado Social Democrático de Direito. Isso provocou a perda
do caráter individualista e patrimonial incorporado ao Direito Civil no século anterior.
Por fim, citando vários autores, Tartuce evidencia que seus a doutrina majoritária
entende que “o Código Civil de 2002 realmente adotou a citada teoria da imprevisão, cuja
origem está na cláusula rebus sic stantibus”. (Tartuce, 2021, p. 226). Conclui Tartuce coadunado
a estes, “Estou filiado a essa corrente, pois predomina na prática a análise do fato imprevisível a
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possibilitar a revisão por fato superveniente”. Ainda esclarece: “o Código Civil de 2002 traz a
revisão contratual por fato superveniente diante de uma imprevisibilidade somada a uma
onerosidade excessiva”.
Neste mesmo caminho Diniz Apud Tartuce (2020, p. 233) esclarece que: o Código Civil
permite a relativização do pacta sunt servanda, autorizando a alteração das condições
contratuais” e explica a possibilidade da relativização para “quando houver desequilíbrio entre
as partes, adotando assim a Teoria de Imprevisão e da Onerosidade Excessiva, decorrentes da
cláusula rebus sic stantibus e boa-fé contratual (Tartuce, 2020 p. 233).
Contudo, a promulgação da Lei no 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor),
assegurou ao consumidor no seu artigo 6º inciso V, a possibilidade de “modificação das
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas” (Brasil, 1990) destarte a lei, parte
da doutrina lecionou sobre a teoria da imprevisão e nesta toada Theodoro Júnior. esclarece a
referida teoria como nada mais que uma “roupagem atual da antiga cláusula rebus sic stantibus”
(Theodoro, Jr., 2020, p. 277).
Quando falamos de conceito contratual, no qual seja: Contrato é um negócio jurídico que
envolve a vontade consensual de duas partes (bilateral) ou mais (plurilateral), temos uma
definição genérica de tal assunto, pois, como é de conhecimento de todos, trata-se de um tema
bastante complexo, que mesmo possuindo tantas normas em nosso âmbito jurídico, objetivando
a melhor forma de condicionar algo que está cotidianamente em nossas vidas, ainda nos
deparamos com assuntos específicos, que ainda trazem conflitos, havendo um entendimento
bastante dividido entre os legisladores.
O Código de Defesa do Consumidor, é um conjunto de normas que visam a proteção aos
direitos dos consumidores, bem como, estabelece parâmetros entre as relações de
responsabilidades entre o fornecedor com o consumidor, determinando padrões de conduta,
prazos e penalidades, sendo este indispensável no momento da celebração de um contrato, seja
ele referente a prestação de serviços ou a aquisição de algum produto, pactuado formalmente ou
verbalmente.
E dentro das diversas espécies de contrato, destacamos em especial o “contrato de
adesão”, onde se trata de um tipo específico de negócio jurídico, no qual os termos e condições
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são definidos unilateralmente por uma das partes, enquanto a outra parte apenas adere a esses
termos.
Segundo a Prof.ª Cláudia Lima Marques (1992:31) apud ROSA (1995:7), Professora de
Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Unidades Universitárias de Naviraí e
Dourados:
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.
Sendo assim, o fornecedor tem uma posição mais dominante, e o consumidor tem pouca
ou nenhuma capacidade de negociar ou influenciar os termos do contrato. Não obstante, deve
existir acordo de vontades entre as partes, senão, estaremos diante de um contrato ilegítimo, e a
certo ponto inválido.
Portanto vale ressaltar, o que o art. 4º do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 9.008
de 21 de março de 1995) menciona, segue:
Contudo, um fato curioso e problemático que vem ocorrendo nas relações contratuais,
são as condutas de má-fé praticadas por parte das empresas fornecedoras/credoras, no qual não
buscam uma relação transparente com o contratante, o induzindo ao erro, se aproveitando do
carecimento de informação e termos técnicos, bem como realizam promessas que fogem do
alcance daquele objeto contratual, apenas com a intenção de ganhar vantagem excessiva, sobre o
lado vulnerável do acordo pactuado, visando lucro.
a) cláusulas abusivas: incluir cláusulas contratuais que são desvantajosas para o consumidor,
ocultas em letras miúdas ou de difícil compreensão;
b) publicidade enganosa: promover um produto ou serviço de forma enganosa, levando o
consumidor a acreditar em benefícios que não existem;
c) negativa de informações claras: não fornecer informações necessárias de forma clara e
completa, como os termos do contrato, preços, prazos e condições de cancelamento;
d) cobranças indevidas: realizar cobranças não autorizadas ou incluir taxas não acordadas no
contrato de adesão;
e) má qualidade dos produtos ou serviços: fornecer produtos ou serviços de má qualidade, que
não correspondem ao que foi prometido ou que apresentam defeitos propositais;
f) descumprimento de prazos: não cumprir os prazos estabelecidos no contrato, causando
prejuízo ao consumidor;
g) falta de assistência pós-venda: negar suporte ou assistência técnica adequada após a compra,
quando prevista no contrato;
h) pressão indevida: usar de pressão psicológica, ameaças ou intimidação para forçar o
consumidor a aceitar termos desfavoráveis;
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Tais condutas são ilegais e podem resultar em ações judiciais contra o fornecedor,
bem como em penalidades, multas e indenizações para os consumidores prejudicados. É
importante que os consumidores estejam cientes de seus direitos e procurem as autoridades
competentes ou órgãos de defesa do consumidor em caso de suspeita de condutas de má-fé por
parte dos fornecedores.
A falta de conhecimento técnico do consumidor é uma situação comum que pode ser
explorada por fornecedores desonestos ou resultar em decisões de compra prejudiciais. Isso
ocorre quando um consumidor não possui informações detalhadas sobre produtos, serviços ou
tecnologias específicas, tornando-o vulnerável a práticas comerciais desleais.
Os fornecedores possuem informações técnicas detalhadas que os consumidores não tem
acesso, gerando assim, uma assimetria de informações que pode ser explorada em seu benefício.
Fornecedores inescrupulosos podem usar táticas de venda persuasivas para convencer os
consumidores a comprar produtos ou serviços que não atendem às suas necessidades, muitas
vezes com base em jargões técnicos que o consumidor não compreende, bem como o induzindo
ao erro, oferecendo uma proposta de venda/prestação de serviço, que foge totalmente do que
realmente está sendo acordado no objeto contratual.
Diante o exposto, podemos afirmar, que a falta de conhecimento técnico pode levar
os consumidores a adquirir produtos inadequados para suas necessidades, resultando em
desperdício de dinheiro, deixando vulneráveis a fraudes, podendo ser mais suscetíveis a
esquemas de fraude, como produtos falsificados ou serviços de baixa qualidade.
Um exemplo de contrato de adesão que é importante ser mencionado, que vai contra
todas os princípios que compõem o Código de Defesa do Consumidor, em especial o artigo 37,
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§ 1º, que por conseguinte atinge o princípio da vulnerabilidade, podemos citar o contrato de
consórcio, no qual o fornecedor promete uma contemplação imediata por meio de lance, onde
infelizmente não ocorre conforme as propostas acordadas, estando este tipo de lide em alta na
esfera judicial.
Um contrato de consórcio é um acordo em que um grupo de pessoas se reúne para
contribuir com dinheiro ou bens, com o objetivo de adquirir um bem ou serviço em comum, por
meio de sorteios ou lances periódicos. A “falsa contemplação imediata” refere-se a uma situação
em que a administradora do consórcio age de forma desonesta, induzindo vários consumidores à
contratação de consórcio sob a promessa de uma contemplação imediata.
Vejamos como vêm se firmado a Jurisprudência do nosso Egrégio Tribunal de Justiça:
R$ 4.000,00 (quatro mil reais), a título de danos morais, devendo incidir correção
monetária a partir do arbitramento (Súmula 362 do STJ) e juros de mora de 1%
ao mês, desde a citação (artigo 405 do Código Civil). VI – Diante da modificação
do julgado, deve a parte ré suportar integralmente os ônus sucumbenciais,
arbitrando-se os honorários advocatícios em quinze por cento sobre o valor
condenatório, nos termos do artigo 20, §3º, do Código de Processo Civil. VII –
PRIMEIRO APELO CONHECIDO E PROVIDO. SEGUNDO RECURSO
APELATÓRIO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJGO, APELAÇÃO CÍVEL 2153-59.2011.8.09.0142, Rel. DES. GERSON
SANTANA CINTRA, 3A CÂMARA CÍVEL, julgado em 01/12/2015, DJe 1929
de 14/12/2015 APELANTE: WENDER GOMES DE OLIVEIRA E OUTROS;
APELADO MULTIMARCAS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA
E OUTROS).
Infelizmente, ainda não possuímos uma lei em nosso ordenamento jurídico especifica
que regule o dever de informação. Contudo, nosso Código de Defesa do Consumidor (CDC),
abrange diversas regras capazes de proteger o sujeito em estado de vulnerabilidade nas relações
de consumo.
Nesse viés, é importante destacarmos o seguinte artigo do referido código:
Portanto, podemos afirmar que a escolha do consumidor em tomar sua decisão sobre a
aquisição de qualquer tipo de serviço/produto, vai ser influenciada pela forma de abordagem do
fornecedor.
O doutrinador Kherson Maciel Gomes Soares, salienta em sua obra, Magistratura
Estadual, p. 8, que:
fundamentado na ideia de que as partes em um contrato devem agir de maneira justa, leal e
honesta, promovendo a confiança mútua e a equidade nas relações contratuais.
A boa-fé objetiva não é princípio dedutivo, não é argumentação dialética; é medida e
diretiva para pesquisa da norma de decisão, da regra a aplicar no caso concreto, sem hipótese
normativa preconstituída, mas que será preenchida com a mediação concretizadora do
intérprete-julgador.
Importante destacar o art. 113, § 1º, IV do Código Civil:
LÔBO, P. L. N. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus
Navigandi, Teresina,
Nas relações de consumo observa-se que o princípio da boa-fé objetiva tem larga
aplicação, nota-se que ainda é discreta na jurisprudência sua utilização nas relações regidas pelo
Direito Comum.
Com efeito, nas relações regidas pelo Código de Defesa do Consumidor, a aplicação
jurisprudencial do princípio da boa-fé objetiva se apresenta de forma recorrente, porém ainda há
poucos exemplos de sua aplicação nas relações de Direito Comum.
Vejamos um julgado, da 5ª Câmara Cível, do TJRJ:
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Algumas cláusulas podem ser consideradas abusivas, indo contra leis de proteção do
consumidor. Isso pode incluir cláusulas que isentam a empresa de responsabilidade por danos
causados, cláusulas que limitam os direitos legais dos consumidores ou cláusulas que são
excessivamente desfavoráveis para uma das partes.
Vale salientar, que os contratos de adesão, possui tratamento especial em nosso Código
Civil, nos artigos 423 e 424:
CONCLUSÃO
equilibre o poder nas relações contratuais. A busca contínua por práticas contratuais mais justas
e pela promoção dos direitos do consumidor é essencial para a construção de uma sociedade
mais equitativa e justa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Leonardo Gomes. Teoria Geral dos Contratos. Belo Horizonte: Editora Expert, 2021;
BEVILÁQUA, Clóvis. Código civil anotado, vol. 4. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1916;
FARIA, Luiz Antônio. Guia para trabalhos acadêmicos. Aparecida de Goiânia: Alfredo Nasser,
2017;
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil –
Contratos. 5ª Edição. Editora Saraiva, 2022 (revista ampliada e atualizada);
LÔBO, P. L. N. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus
Navigandi, Teresina, ano 6, n. 5, mar. 2002;
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. O novo regime das
relações contratuais. 4.ª ed. Rev. Atual. E amp. São Paulo: RT, 2002. P. 594-595;
SOARES, Kherson Maciel Gomes. Magistratura Estadual. Direito Civil, Edital Mege, 2020;
TARTUCE, F. (2021). Direito Civil. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie, Vol.
3.: Grupo GEN, 2021;