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DIREITO CIVIL IV

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS I

Ms. Christiane Hessler Furck [1]


[1] Mestre em Direito das Relações Sociais, Sub-área Direitos Difusos e Coletivos, pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC - SP. Especialista em Direito
Contratual, pela COGEAE – PUC-SP. Professora dos Cursos de MBA – Direito de
Seguros e Resseguros, da Escola Nacional de Seguros – FUNENSEG, em SP, RJ, GO, RS;
Professora e Coordenadora dos Cursos de Especialização em Direito Civil e Processo
Civil, da ESA – Escola Superior da Advocacia, OAB – SP; Relatora da 5ª Turma do
Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-SP; Fundadora e membro do Canal Direito com
Elas, no Youtube; Advogada e Parecerista, em São Paulo. Membro da AIDA –Brasil.
PONTO 2.

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS.


ASPECTOS HISTÓRICOS.
NOVOS CONTORNOS CONTRATUAIS E A EVOLUÇÃO DO
PENSAMENTO JURÍDICO

➢ EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO JURÍDICO

• Código Civil Francês

• Código Civil Brasileiro (1916)

• Código Civil Alemão

• Código Civil Italiano

• Código Civil Brasileiro (2002)


➢ LIBERALISMO

• Revolução Francesa.

• Idéias individualistas.

• Laissez-faire, Laissez-passer.

• Menor intervenção do Estado

• Predomínio da Livre Manifestação da Vontade.


➢ ESTADO SOCIAL

• 1ª Grande Guerra Mundial

• Declínio do Estado Liberal Individualista.

• Proteção do Bem estar social

• Luta em face da injusta distribuição de riquezas

• Maior intervenção do Estado

• Autonomia da vontade relativizada

• Função Social do Contrato e da Propriedade.

• Equilíbrio Sócio Econômico das Relações Contratuais


• CÓDIGO CIVIL 1916 • CÓDIGO CIVIL 2002

• Liberalismo Exacerbado • Socialidade, Eticidade,


• Código Civil Francês Operabilidade
• Contrato – Lei entre as Partes • Código Civil Alemão
• Pacta Sunt Servanda • Contrato – Instrumento de
• Princípio da Liberdade Cooperação
Contratual • Possibilidade de revisão do
• Função obrigatória do Contrato
Contrato • Função social do Contrato e
Equilíbrio econômico e social d
contrato
➢ EVOLUÇÃO DO DIREITO PRIVADO

• A Revolução Francesa demarcou o predomínio das idéias individualistas,


em face da máxima laissez-faire, laissez –passer, sob a ótica liberalista,
que privilegiava menor intervenção do Estado.

• Após a Primeira Grande Guerra, o Estado Liberal e Individualista declinou,


diante da miséria e desemprego, empresários e assalariados se
associaram para defesa dos interesses da coletividade e determinaram
alterações de cunho econômico que consagraram a Evolução político -
social.

• Direito privado é tomado por profundas mudanças decorrentes do Estado


Social e a sociedade clama por medidas de proteção ao bem estar social,
no sentido de diminuir a injusta distribuição de riquezas, posto que o
Estado intervém na economia.
➢ FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS

• Pacta Sunt Servanda – relativizado pelo sistema de cláusulas gerais, pois


atualmente permite-se ao julgador a revisão ou modificação do contrato.

• Art. 478 do CC.2002 – Onerosidade excessiva das prestações em virtude


de acontecimento extraordinário e imprevisíveis.

• Dirigismo Contratual – elemento mitigador das relações contratuais que


demandam controle estatal, a fim de que seja mantido o equilíbrio entre
as partes contratantes.
➢ CONTRATOS DE ADESÃO E CLAUSULAS GERAIS

• Contratos de Adesão, classificados quanto à forma, opostos àqueles


contratos de comum acordo, são contratos “cujas cláusulas tenham sido
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente
pelo fornecedor, sem que o consumidor possa discutir ou modificar o seu
conteúdo.”

• Cláusulas Gerais Contratuais são aquelas que compõe os contratos de


adesão, caracterizadas pelo pré-estabelecimento, unilateralidade,
uniformidade, rigidez e abstração.
➢ CONSUMERISMO

• O direito do consumidor foi peça chave para a renovação da teoria


contratual e determinou a derrocada do direito privado clássico.

• O contrato continuou sendo a principal fonte de circulação de riquezas,


entretanto diante do avanço capitalista e do crescimento da sociedade de
consumo, restou imperiosa a interveniência do Estado no âmbito
contratual.

• O pacta sunt servanda foi deposto e, por conseguinte, a autonomia da


vontade e liberdade contratual foram relativizadas, fenômeno
denominado novo “dirigismo contratual”, espécie de controle estatal que
assegura o equilíbrio entre as partes contratantes.
UBER

https://www.youtube.com/watch?v=Azxkv4WYcfk
➢ CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – NORMA DE
ORDEM PÚBLICA – INTERESSE SOCIAL – NORMA
PRINCIPIOLÓGIA E MICROSSISTEMA

• Lei de natureza principiológica, que não é nem lei especial, nem geral,
uma vez que determina princípios sobre os quais deve-se estabelecer a
relação jurídica de consumo.

• Nesse sentido, leis especiais que disciplinem matérias relacionadas às


relações de consumo, assim como banco, seguro, transportes e alimentos,
devem submeter-se aos princípios fundamentais ditados pelos Código de
Defesa do Consumidor.
• Ademais, havendo confronto entre a lei especial e o CDC, em virtude da
principiologia do diploma consumerista, prevalecerá o CDC em
detrimento da lei especial que o desrespeitou.

• CDC - Art. 1º. O presente Código estabelece normas de proteção e defesa


do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts.
5º, incisso XXXII, 170, Inciso V, da Constituição Federal e Art. 48 das
Disposições Transitórias.

• Sendo assim, dentre diversos princípios fundamentais que regem o


Código de Defesa do Consumidor, elencamos:
➢ PRINCÍPIO DA EQUIDADE E EQUILÍBRIO NAS RELAÇÕES
DE CONSUMO

• (art.4º. III); O equilíbrio nas relações de consumo é base


fundamental do diploma consumerista.

• Equilíbrio nas relações de consumo deriva do princípio constitucional da


isonomia, no sentido de que iguais devem ser tratados igualmente e
desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida das suas
desigualdades.

• Portanto, verificada a superioridade do fornecedor em face do


consumidor, em busca da igualdade das relações de consumo o CDC
estabeleceu o equilíbrio e a equidade na forma de princípios
fundamentais.
• Interessante mencionar ainda que, a 106.a. Reunião Plenária de 4.9.1985
em atenção ao artigo 1.o. da Resolução 39/248, reconheceu o
consumidor como a parte mais fraca da relação de consumo.

• Rizzato Nunes denomina o principio como principio da harmonia nas


relações de consumo que é verdadeiramente o intuito do diploma do
consumidor.

• Em contrapartida, Roberto Senise Lisboa atribui ao princípio o nome de


equilíbrio econômico e jurídico, decorrência da justeza do vínculo entre
consumidor e fornecedor para determinar equilíbrio econômico da
equação financeira e obrigações jurídicas pactuadas.
➢ RELAÇÃO DE CONSUMO

• Consumidor – Pessoa Física ou Jurídica – Destinatário Final do produto,


ou serviço, bem como o consumidor por equiparação

• Fornecedor – Produção, montagem, criação, construção, transformação,


importação, exportação, distribuição ou comercialização.

• Produto – Bem móvel ou imóvel material ou imaterial.

• Serviço – Atividade fornecida no mercado de consumo, inclusive bancária,


financeira e securitária.
➢ CONCEITO DE CONSUMIDOR
• Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final.

• Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,


ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.

• A pessoa jurídica também pode ser consumidora e os Tribunais tem


entendido que poderá ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor
quando a pessoa jurídica adquire produto ou serviço que não sirva de
insumo para o exercício da atividade empresarial.
RECURSO ESPECIAL Nº 1.195.642 - RJ (2010/0094391-6)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : EMPRESA BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES S/A EMBRATEL
RECORRIDO : JULECA 2003 VEICULOS LTDA

EMENTA
CONSUMIDOR. DEFINIÇÃO. ALCANCE. TEORIA FINALISTA. REGRA. MITIGAÇÃO. FINALISMO
APROFUNDADO. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO. VULNERABILIDADE. 1. A jurisprudência do STJ se
encontra consolidada no sentido de que a determinação da qualidade de consumidor deve, em regra,
ser feita mediante aplicação da teoria finalista, que, numa exegese restritiva do art. 2º do CDC,
considera destinatário final tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele
pessoa física ou jurídica. 2. Pela teoria finalista, fica excluído da proteção do CDC o consumo
intermediário , assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e
distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço. Vale dizer, só
pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei nº 8.078/90, aquele que exaure a função
econômica do bem ou serviço, excluindo-o de forma definitiva do mercado de consumo. 3. A
jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por equiparação previsto no art. 29
do CDC, tem evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas, num
processo que a doutrina vem denominando finalismo aprofundado , consistente em se admitir que, em
determinadas hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço pode ser equiparada à
condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que constitui o
princípio-motor da política nacional das relações de consumo, premissa expressamente fixada no art.
4º, I, do CDC, que legitima toda a proteção conferida ao consumidor.
4. A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades de vulnerabilidade: técnica
(ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta
de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de consumo) e fática
(situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca
em pé de desigualdade frente ao fornecedor). Mais recentemente, tem se incluído também a
vulnerabilidade informacional (dados insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no
processo decisório de compra). 5. A despeito da identificação in abstracto dessas espécies de
vulnerabilidade, a casuística poderá apresentar novas formas de vulnerabilidade aptas a atrair a
incidência do CDC à relação de consumo. Numa relação interempresarial, para além das hipóteses de
vulnerabilidade já consagradas pela doutrina e pela jurisprudência, a relação de dependência de uma
das partes frente à outra pode, conforme o caso, caracterizar uma vulnerabilidade legitimadora da
aplicação da Lei nº 8.078/90, mitigando os rigores da teoria finalista e autorizando a equiparação da
pessoa jurídica compradora à condição de consumidora. 6. Hipótese em que revendedora de veículos
reclama indenização por danos materiais derivados de defeito em suas linhas telefônicas, tornando
inócuo o investimento em anúncios publicitários, dada a impossibilidade de atender ligações de
potenciais clientes. A contratação do serviço de telefonia não caracteriza relação de consumo tutelável
pelo CDC, pois o referido serviço compõe a cadeia produtiva da empresa, sendo essencial à consecução
do seu negócio. Também não se verifica nenhuma vulnerabilidade apta a equipar a empresa à condição
de consumidora frente à prestadora do serviço de telefonia. Ainda assim, mediante aplicação do direito
à espécie, nos termos do art. 257 do RISTJ, fica mantida a condenação imposta a título de danos
materiais, à luz dos arts. 186 e 927 do CC/02 e tendo em vista a conclusão das instâncias ordinárias
quanto à existência de culpa da fornecedora pelo defeito apresentado nas linhas telefônicas e a relação
direta deste defeito com os prejuízos suportados pela revendedora de veículos. 7. Recurso especial a
que se nega provimento.
➢ O CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO E AS VÍTIMAS DO
ACIDENTE DE CONSUMO
• Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final.

• Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,


ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.

• Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores


todas as vítimas do evento.

• Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos


consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às
práticas nele previstas.
➢ CONCEITO DE FORNECEDOR

• Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição, ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

• Roberto Senise Lisboa define o fornecedor: “Fornecedor é toda pessoa


física ou jurídica que, no exercício de sua atividade profissional
econômica, lança produtos ou serviços no mercado de consumo” .
➢ CONCEITO DE PRODUTO E SERVIÇO

• O conceito de produto e serviço é trazido pelo parágrafo 1º e 2º, do


artigo 3º, do Código de Defesa do Consumidor, vejamos:

• Art. 3º - (...)

• § 1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

• § 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.
• Portanto, verificamos que o produto é qualquer bem, móvel, imóvel, material
ou imaterial, sendo certo que exemplo de imaterial, desde que suscetíveis a
valoração econômica.

• Patrícia Caldeira entende que produto é “qualquer bem que tenha sido
colocado em circulação no mercado de consumo, pelo fornecedor”.

• Contudo, há dificuldade para identificar o produto ou serviço que serve de


insumo da atividade empresarial e o produto ou serviço utilizado pela pessoa
jurídica como se destinatária final fosse.
➢ PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO SÓCIO ECONÔMICO E EQUIDADE

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios.
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de
consumo;

• Princípio Constitucional da Isonomia – Tratar desigualmente os desiguais;

• Superioridade do Fornecedor – Igualdade nas relações de consumo –


Manutenção do equilíbrio do contrato

• Consumidor é e sempre será a parte mais fraca da relação de consumo!!!


➢ PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências;

• Decorrente do Princípio da Isonomia – Proteção do Consumidor em face


da superioridade do fornecedor;

• Vulnerabilidade = Qualidade inerente a todo e qualquer consumidor ;

• Independe do nível social , cultural ou da situação financeira;


• O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor, na prática advém
do volume de produtos e serviços, oferecimento do crédito, marketing
exagerado e negócios em massa, de forma que cada vez mais se verificou
a superioridade do fornecedor em face da fragilidade do consumidor, e
por conseguinte a necessidade de protegê-lo.

• Nesse sentido, Claudia Lima Marques classifica a vulnerabilidade como


técnica, decorrente do desconhecimento específico sobre o objeto de
consumo, fática e jurídica, advinda da desproporção fática de força
intelectuais e financeiras.
➢ PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO Á SAÚDE E SEGURANÇA DO
CONSUMIDOR

• Teoria da Qualidade = Qualidade de Adequação e Qualidade de


Segurança;

• Dever Anexo do Fornecedor: Garantia implícita de segurança razoável e


adequação do produto ou serviço de acordo com a legítima expectativa
do consumidor;

• Admite-se nocividade e periculosidade normal e esperada;


➢ PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

• Constituição Federal – Art. 1º II, III, IV e Art. 5º XIV, XXXII, XXXIII, LXXII.

• Art. 6º, II, III do Código de Defesa do Consumidor

• Dever de informação por parte do fornecedor

• Direito de ser informado por parte do consumidor

• Decorrência do princípio da transparência

• Educação e Informação do consumidor.

• Informação deve ser necessariamente clara e precisa


➢ REVISÃO OU MODIFICAÇÃO DAS CLÁUSULAS
CONTRATUAIS

• Art. 4º. III – CDC e Art. 6º. V - CDC.

• Cláusulas Contratuais - podem ser revistas ou modificadas, no todo, ou


em parte;

• Circunstâncias supervenientes que tornam as prestações


desproporcionais permitem revisão ou modificação do contrato;

• Aplicação do princípio da conservação dos contratos para a garantia da


manutenção do equilíbrio contratual é relativizado.
• Imprevisibilidade dos fatos supervenientes, quando da celebração do
contrato é exigida quando trata-se de contrato de natureza civil.

• O instituto da revisão do contrato, estabelecido pelo CDC configura a


hipótese de aplicação do princípio da conservação dos contratos de
consumo e garante a modificação de cláusulas desproporcionais que
atuem em detrimento do consumidor.

• A possibilidade de modificação de cláusulas contratuais pode ser feita a


partir da demonstração da onerosidade excessiva em virtude de fatos
supervenientes, independentemente de terem sido previsíveis os
acontecimentos à época da contratação.
➢ INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO MAIS FAVORÁVEL AO
CONSUMIDOR

• Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais


favorável ao consumidor.

• O Código de Defesa do Consumidor, impõe que os contratos deverão ser


interpretados em favor do consumidor, pois, mais uma vez, citando a
vulnerabilidade do consumidor, importa protegê-lo, no intuito de
promover o equilíbrio da relação de consumo.
➢ PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO DA OFERTA

• Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares,


recibos e pré contratos relativos às relações de consumo vinculam o
fornecedor,ensejando inclusive execução específica, nos termos do
artigo 84 e parágrafos.

• A proposta consiste na declaração de vontade emitida com a finalidade


de realização de um contrato futuro e contem os elementos e requisitos
essenciais indispensáveis e suficientes para a celebração do negócio
jurídico.
• A validade da proposta, na esfera de direito civil, é averiguada diante da
existência de alguns requisitos e das seguintes características: seriedade,
completude, clareza, bem como direção especifica à pessoa a quem se
destina e deve ainda ser inequívoca.

• No âmbito do direito civil é indispensável a presença dos requisitos supra


mencionados, para que a manifestação da vontade possa consubstanciar-
se proposta de contrato, com força vinculante.

• Na seara do direito do consumidor, os pré contratos e escritos


preliminares vinculam o fornecedor, haja vista o espírito do legislador que
buscou proteger o consumidor diante da massificação das relações de
consumo e práticas comerciais, verificada por meio de folhetos
publicitários, folders, promessas de compra e venda de imóvel loteado,
escritos particulares.
➢ PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO CONTRA PRÁTICAS E
CLÁUSULAS ABUSIVAS

• Princípio pelo qual se estabelece a nulidade de cláusulas contratuais


notoriamente desfavoráveis ao consumidor, cláusulas opressivas,
onerosas, vexatórias ou ainda, excessivas.

• Importante ressaltar que a existência de cláusulas abusivas nos contratos


de consumo não os torna inteiramente nulo.

• As cláusulas abusivas são nulas de pleno direito, pois ofendem a ordem


pública e são por exemplo, cláusulas de não indenizar, cláusula de eleição
de foro, cláusula de limitação de indenização, cláusula de renúncia a
qualquer direito entre outras.
• Cláusulas abusivas são declaradas nulas judicialmente,
independentemente da vontade das partes, porque se trata de matéria de
ordem pública.

• Importa revelar, que o rol trazido pelo artigo 51 aborda


exemplificativamente as cláusulas abusivas, de forma que é classificado
numerus apertus, ou seja, havendo hipótese de cláusula considerada
abusiva, embora não elencada no artigo 51, a nulidade poderá ser
reconhecida.
• Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

• I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do


fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou
impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo
entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização
poderá ser limitada, em situações justificáveis.

• II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga,


nos casos previstos neste código.

• III - transfiram responsabilidades a terceiros;


• IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

• VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

• VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

• VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio


jurídico pelo consumidor;

• IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,


embora obrigando o consumidor;
• X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço
de maneira unilateral;

• XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem


que igual direito seja conferido ao consumidor;

• XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua


obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

• XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou


a qualidade do contrato, após sua celebração;

• XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;


• XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

• XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias


necessárias.

• § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:

• I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que


pertence;

• II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza


do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio
contratual;
• III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,
considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das
partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

• §2º. A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o


contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de
integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

• § 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente


requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser
declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto
neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio
entre direitos e obrigações das partes.
• Vale mencionar que o artigo 39, incisos II e IX, do Código de Defesa do
Consumidor dispõe:

• Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:

• I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao


fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos;

• II – recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata


medida de suas disponibilidades de estoque, e ainda, de conformidade
com os usos e costumes;
• III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer
produto, ou fornecer qualquer serviço;

• IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em


vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impingir-lhe seus produtos ou serviços;

• V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

• VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e


autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de
práticas anteriores entre as partes;
• VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo
consumidor no exercício de seus direitos;

• VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço


em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes, ou, se normas específicas não existirem, pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo
Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
– CONMETRO

• IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a


quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento,
ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais;
• X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços;

• XI - (dispositivo incorporado pela MP-1.890-67-1999, transformado em


inciso XIII, quando da convensão na L-009.870-1999)

• XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou


deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério.

• XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou


contratualmente estabelecido.
➢ A EFETIVA REPARAÇÃO DOS DANOS MATERIAIS E
MORAIS

• O Código de Defesa do Consumidor estabelece a efetiva reparação dos


danos materiais e morais causados ao consumidor, no sentido de protegê-
lo, em face da superioridade do consumidor.

• Art. 6º. (...)

• VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos.
➢ A POSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA A
CRITÉRIO DO JUIZ

• Art. 6º (...)

• VIII - Facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz,
for verossímil a alegação OU quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiência.
SISTEMA MÓVEL
Cláusulas Gerais – Princípios Gerais do Direito Conceito Legais
indeterminados

➢ SISTEMA MÓVEL
▪ Sistema intermediário entre o sistema de rígidas previsões e o
método de cláusulas gerais
▪ Institutos que garantem mobilidade ao sistema
▪ Capazes de incorporar a unidade e garantir harmonia
▪ Insegurança Jurídica X Envelhecimento dos Códigos
▪ Inspiração na Codificação Germânica – 1900
▪ Savigny X Thibaut = Vitorioso Thibaut – Conveniência de Codificar o
Código Civil Alemão
▪ Código Civil de 2002 – Misto
➢ PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

▪ Enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade


das demais asserções que compõe um campo do saber (Reale).

▪ Regras de conduta que norteiam o Juiz na interpretação da norma,


do ato ou negócio jurídico.

▪ Previstos no ordenamento jurídico ou implícitos na norma jurídica,


são diretrizes que orientam a interpretação da norma juridica.
➢ CLÁUSULAS GERAIS

▪ Princípios Gerais que encontram-se expressos no ordenamento


jurídico;

▪ Atribuem mobilidade e garantem adequação da norma jurídica à


situação fática

▪ Acrescidas de concretude e critérios de valoração, conferidos pelo


operador do Direito, conforme a realidade sócio econômica,
garantem aplicabilidade ao caso concreto.

▪ Artigo 422 CC.2002. “os contratantes são obrigados a guardar, assim


na conclusão do contrato como em sua execução os princípios gerais
de probidade e boa-fé”
➢ CONCEITOS LEGAIS INDETERMINADOS

▪ Palavras ou expressões indicadas na lei, de conteúdo e extensão


altamente vagos, imprecisos e genéricos.

▪ Diferente das cláusulas gerais o preenchimento decorre de


determinação estabelecida na própria lei.

▪ Aplicador do Direito preencherá os conceito gerais indeterminados


diante da subsunção do fato à norma.

▪ Valores éticos, sociais, morais, econômicos e políticos da sociedade,


não importando o ponto de vista pessoal do julgador.
TEORIA DA BASE DO NEGÓCIO JURIDICO
▪ Base do Negócio Juridico representa as circunstâncias fáticas e
jurídicas sobre as quais as partes se pautaram no momento da
celebração do contrato.
➢ BASE SUBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
▪ compreende as representações, bem como aspectos psicológicos nos
quais as partes basearam o acordo.
▪ Frustrada a expectativa subjetiva enseja-se a não obrigatoriedade da
prestação, a anulação do negócio jurídico.
➢ BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
▪ Condicionalismos naturalmente pressupostos pelas partes.
▪ Manutenção da legislação – Cenário Econômico
▪ Frustrada a expectativa objetiva enseja-se resolução do negócio
jurídico ou revisão contrato.
1ª QUESTÃO PRÁTICA:
Joaquim Amaro, dentista, decidiu contratar seguro para resguardar os bens
que guarneciam seu consultório. O consultório estava localizado nos fundos
de sua residência, que era muito grande e portanto, comportava a instalação
do consultório odontológico. O seguro foi contratado, a apólice de seguro foi
emitida, todavia, após dois meses, pelos fundos da casa, o consultório
odontológico foi roubado, tendo a porta e as janelas significativamente
avariadas. Os ladrões levaram consigo o dinheiro que estava no caixa, uma
smart tv e o frigobar onde Joaquim armazenava alguns medicamentos e
também água e refrigerante para beber e servir aos pacientes. Ocorre que, a
Seguradora foi avisada do sinistro, tendo realizado a vistoria e analisado os
prejuízos de Joaquim. Contudo, a Seguradora negou o pagamento da
indenização sob alegação de que o dinheiro não estava inserido na cobertura
e a smart tv e o frigobar não caracterizavam objetos e itens essenciais à
prática da odontologia. Nessa linha pergunta-se:
1) Joaquim Amaro estaria protegido pelo Código de Defesa do Consumidor
ou pelo Código Civil?
2ª QUESTÃO PRÁTICA: Um empreendedor constituiu um Shopping Center
formado por 3 pavimentos, estabelecendo que nos referidos pisos, uma loja
“âncora” denominada A, de grande procura popular e de mercado, deveria
posicionar-se no sentido de aumentar o acesso aos consumidores,
fomentando as perspectivas das demais lojas que formavam o tenant mix do
empreendimento. É importante ressaltar que os lojistas ao ingressarem no
empreendimento “shopping center”, buscaram aquele empreendimento, em
razão da loja A ser notoriamente conhecida e respeitada e por estar situada
nos três pisos do empreendimento, aguardando que, com a sua clientela, os
seus negócios também teriam reflexos lucrativos. Após anos exercendo suas
atividades empresariais no Shopping Center, a loja “âncora”, em decorrência
do vencimento do seu contrato locatício estar chegando ao final, promoveu a
competente ação renovatória, no intuito de permanecer no estabelecimento,
com base nos termos da lei em vigor. Para sua surpresa, o empreendedor
apresentou a sua defesa, requerendo a exceção de retomada, por entender
que a sua atividade empresarial era “popular” e, portanto, não condizia com
a nova realidade das lojas que estão integrando o Shopping, mais sofisticadas,
não atingindo o público almejado pelas novas lojas.
• Considerando o exposto, com base nos princípios contratuais
contemporâneos comentados nas aulas anteriores, assim como os
pilares que serviram de inspiração para o CC de 2002, levando em
conta as características dos contratos de shopping center, que
segue em anexo ao presente, responda:

• 1 - Pode uma loja âncora não ter o seu contrato de locação


renovado no empreendimento “Shopping Center” em razão de
mudança de perfil do público alvo do empreendimento?

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