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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO OBRIGACIONAL

ANSELMO SILVA CORREA MORENO


JOSÉ FERNANDO DA SILVA SANTOS
JOSUÉ ARAÚJO DE ALMEIDA JÚNIOR
LEANDRO PETY BATISTA CRAVEIRO
RAYSSA ALVES OLIVEIRA

SUMÁRIO: 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA; 2. CARACTERÍSTICA DO DIREITO


OBRIGACIONAL PÓS- MODERNO; 3. ELEMENTOS CONSTITUNCIONAIS DA
OBRIGAÇÃO; 4. VÍNCULOS JURÍDICOS: SCHULD E HATFUNG; 5. OBRIGAÇÕES
JURÍDICAS NO DIREITO ESTRANGEIRO E BRASILEIRO; 6. CONSEQUÊNCIAS
JURÍDICAS DO DIREITO OBRIGACIONAL; 7. CONCLUSÕES; 8. REFERÊNCIAS;

RESUMO

O Direito Obrigacional também conhecido como Direito Pessoal, onde a área do direito
civil conhecida como “direitos obrigacionais” trata-se das relações jurídicas que as
partes consistem em credores e devedores. Nele, os envolvidos têm obrigações legais
de fazer, não fazer ou fornecer qualquer coisa para a outra parte. Estas obrigações
podem resultar de contratos, atos ilegais ou outras fontes legais.
Um contrato é um vínculo entre as partes que estabelece o cumprimento de uma
prestação, enquanto ações ilegais envolvem a violação de direitos de terceiros e
resultam em responsabilidade. O cumprimento e o descumprimento, a resolução do
contrato e a indenização por danos são temas contemplados no direito à obrigação.

INTRODUÇÃO

O direito das obrigações é a área básica do direito civil que trata das relações jurídicas
baseadas em obrigações entre pessoas. Esta obrigação envolve a obrigação de uma
parte, conhecida como devedor, de cumprir uma obrigação para com outra parte,
conhecida como credor. Esses pagamentos podem ser monetários, como o pagamento
de uma dívida, ou não monetários, como a entrega de um ativo ou a realização de uma
atividade específica. A lei de obrigações regula as obrigações desde a criação até a
extinção, incluindo aspectos como obrigação, inadimplência, responsabilidade civil,
forma de pagamento, etc. Esta é uma área importante para a compreensão das
relações contratuais e das obrigações legais que as acompanham na sociedade atual.
Este ramo do direito desempenha um papel importante no nosso dia a dia,
influenciando o comércio, os acordos contratuais e até mesmo as relações familiares e
sociais.

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS OBRIGAÇÕES

Durante um extenso período de milênios da civilização, atingiu-se o


entendimento de que a obrigação era um privilégio a ser exercido sobre o próximo. A
preocupação com os compromissos dada desde a criação das XII tabuas (que foram a
base do direito romano). O significado de “obrigação” foi alvo de várias modificações,
principalmente devido à sua implementação inadequada (anteriormente, aqueles que
eram obrigados a cumprir poderiam ser coagidos a fugir, sofrer mutilações na pele ou
até mesmo serem executados). Essa concepção se tornou ultrapassada desde a Lex
Poetelia Papiria de 326 d.C.
Para delinearmos a progressão do direito obrigacional, em seus marcos
históricos pode-se observar a importância das relações obrigacionais para o campo do
Direito Civil. Especialmente se considerarmos que no Direito é uma estrutura social
sujeita a mudanças, imposta à sociedade. Segundo CAENEGEM (2000) ele é afetado
por mudanças fundamentais dentro da sociedade e, em uma grande medida, é um
instrumento e um produto daqueles que detêm o poder.
Podemos traçar a história do contrato desde a herança do Direito Romano,
passando pela Antiguidade, Idade Média e Renascimento, até chegar ao Iluminismo.
Nesse período, observamos uma influência significativa no Direito privado em relação à
autonomia da vontade. É importante ressaltar que as ilustrações históricas não limitam
as contribuições para o Direito privado, embora não enfatizados, também contribuíram
para o avanço das obrigações.
Os períodos a seguir exemplificam de forma mais destacada as fases de
evoluções das relações obrigacionais.
Direito Romano: grande parte da nossa concepção contemporânea das
obrigações deriva-se do direito romano. Os romanos criaram o conceito de “obligatio”,
onde constituia um direito do credor através de uma ação de direito civil, para
concretizar prontamente o seu direito. Eles dividiram em quatro categorias principais:
Contratos, crimes, quase-contratos e quase-crimes.
Período da Antiguidade: o direito romano não utilizava o termo
“obrigação”. Essa fase pode ser dividida em quatro momentos distintos: nexum,
contractus, pactum e a Constituições Imperiais.

• Nexum: foi a primeira forma de conectar duas partes entre si, por meio deste
contrato, caso o devedor não cumprisse com o acordado, ele poderia ser
transformado em escravo ou ficar responsável pela dívida com seu próprio
corpo.
• Contractus: surgiram com o jus civiles e demonstravam uma estrutura rígida,
dessa forma de contrato se preocupava exclusivamente com os contratos reais
ou formais, nos quais, em casos de descumprimento, o credor poderia recorrer á
actio (meio de preservar o direito utilizado pelos credores).
• Pactum: era o contrato no qual as partes não poderiam responsabilizar o
devedor se ele não cumprisse o que foi acordado. Tinha apenas um valor moral
e não era obrigatório. O pacto carecia da actio.
• Constituições Imperiais: o formalismo dos contractus foi reduzido, surgindo
assim uma teoria sobre contratos sem nome específicos e sobre os pactos mais
simples.

Período da Idade Média: que compreende os séculos V e XV, a teoria das


obrigações, na Europa teve origem nos costumes germânicos. A consequência do
descumprimento desse vínculo era confundida com a vingança pessoal e também com
a responsabilidades penal.
Período do Renascimento: a relação obrigacional passou a ser
caracterizada pelo valor atribuído às palavras estabelecidas nos contratos. Tendo a
influência da Igreja nessa questão moral foi significativa.
Iluminismo: já no século XIX, surgiu a regra da força obrigatória dos
contratos, como o Código Napoleônico, visando dar mais importância à autonomia da
vontade. Dentro desse contexto, segundo CAENEGEM (2000, pag. 178) afirma que as
filosofias do Iluminismo rejeitaram os antigos dogmas e tradições, colocando o
Indivíduo e seu bem-estar no centro de suas preocupações. Por fim, o foco principal
passou a ser a coletividade, tendo o direito à propriedade e a aquisição de bens.

O Código Civil brasileiro de 1916 teve fortemente influência pela legislação


francesa, sendo inspirado pelo liberalismo e valorizando o indivíduo, a liberdade e a
propriedade, conforme foi supracitado, buscava uma igualdade formal e estabelecia a
obrigatoriedade do cumprimento dos acordos entre as partes do cumprimento de
acordo entre as partes (pacta sunt serveranda). De acordo com essa concepção, a
imutabilidade dos contratos estava assegurada e os contratantes comemoravam um
acordo livremente, que precisava ser rigorosamente respeitado. Entretanto, a está
aplicação do pacta sunt servanda começou a ser considerada a cláusula rebus sic
stantibus, como uma forma de obter respostas às demandas sociais que não toleravam
mais a hegemonia das relações contratuais fragilizados, e as cláusulas abusivas e
principalmente a má-fé.
Dessa forma, com a chegada do novo Código Civil de 2002, houve uma
queda do enfoque individualista. As novas disposições legais desse código passam a
regular um conjunto de interesses baseando-se nos princípios da socialidade, em que,
a obrigatoriedade dos contratos é amenizada para proteger os bens comuns e as
funções sociais de um contrato.
Portanto, compreendemos que o Código de 2002 é incompatível com a
admissão de natureza existencialista do contrato, que não pode mais ser considerado
como mera criptografia dos séculos XVIII, inferiorizando o ser humano e valorizando-o
apenas como titular de uma obrigação.

2. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO OBRIGACIONAL PÓS-MODERNO


A despeito das transfigurações no decorrer do tempo, alguns pensadores
concordam que o direito a um julgamento justo é uma das áreas do direito menos
vulneráveis a mudanças sociais (mais estável o que não o torna imutável). Por ser
fonte do direito romano, tendo como resultado cobertos de cardeais.
Desenvolvimento Moderno: No século XX, observou-se uma adequação do
direito às obrigações frente às mudanças sociais e econômicas, especialmente devido
ao aumento das transações comerciais internacionais. Isso resultou em progressos em
áreas como contratos comerciais, responsabilidade civil e obrigações contratuais
internacionais.
Direito Moderno: No mundo contemporâneo, o direito às obrigações é um
elemento fundamental dos direitos civis de todos. Ele permanece em constante
evolução, como resultado de novos tipos de contratos, incluindo contratos eletrônicos,
e complexas questões de responsabilidade civil decorrentes dos avanços tecnológicos
e sociais.
Por muito tempo, acreditava-se que a obrigação era o vínculo jurídico que
conferia ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada
obrigação (Conceito estatal de obrigação). Atualmente, entende-se que tal perspectiva
é redutora, pois um contrato vai além de ser apenas um pedaço de papel. Com a
introdução da Constituição Federal de 1988 e do Código Civil de 2002, começou-se a
considerar o ponto de vista sociológico e os princípios da solidariedade, da boa-fé e da
função social do contrato. Hoje em dia, as pessoas enxergam a obrigação de forma
muito mais complexa e dinâmica (ambas as partes possuem direitos e obrigações). O
adimplemento é um conjunto de ações e comportamentos que resultam em um único
desfecho.
A maneira como as partes se comportam ao cumprir suas responsabilidades,
para com o devedor é igualmente relevante ao que está escrito. A boa-fé deve ser
aplicada tanto pelo credor quanto pelo devedor. Existem diversos deveres auxiliares,
como agir com integridade, manter padrões éticos, compartilhar informações, entre
outros, que circundam a obrigação principal (implementação). Não é necessário que
esses deveres estejam expressamente indicados no contrato. Vale ressaltar que a
obrigação se desenvolve em um contexto jurídico complexo e dinâmico, com o intuito
de atender aos interesses dos clientes.

Nesse contexto, retira-se das principais características da obrigação:


• Relação complexa;
• Transitória;
• Caráter patrimonial;
• Eficácia relativa;

2.1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA

o indivíduo quem tem a liberdade de estabelecer regras que se apliquem aos


seus negócios ou obrigações, um poder de liberdade e harmonia entre as partes. Isso
possibilita a autorregulação de seus próprios interesses. É inegável que existem
restrições por meio de normas convincentes. A decisão legal não pode ser violada, mas
aquilo que não pode ser proibido por lei ou que não viole os princípios gerais do direito,
pode ser realizado.

2.2 O PRINCÍPIO DA FÉ OBJETIVA E SUBJETIVA

Antes do início do século XX, a boa-fé era examinada apenas em seu


elemento subjetivo ou nos aspectos psicológicos dos agentes, com a intenção de não
prejudicar o outro. A boa vontade subjetiva, enquanto estado psicológico, emerge da
teoria da aparência, ou seja, acreditar que estava agindo de boa-fé, conforme o Direito.

2.3 PRINCÍPIO DO CONTRATO EM FUNÇÃO SOCIAL

O princípio da função social visa restringir a autonomia privada, de modo a


evitar conflitos com o bem comum. É uma maneira de o governo se envolver na
elaboração e interpretação dos contratos, de forma que estes atendam aos interesses
da sociedade e das partes envolvidas. No passado, o direito contratual permitia que as
partes impusessem suas próprias concepções no contrato, o que resultava em
insatisfação e frustração. A liberdade contratual tem suas raízes tanto em ideais liberais
como iliberais, que são adequadamente reflexivas no Código Civil de 1912. Com a
implementação do novo código civil em 2002, a ampla liberdade contratual foi
regulamentada e contida pelos princípios constitucionais.

2.4 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

O objetivo da obrigação, que é um relacionamento legal complexo, é


satisfazer o credor. Caso o devedor não cumpra sua obrigação, ele sofrerá as
penalidades estabelecidas por lei. Quando se trata de obrigações contratuais, essas
consequências são de natureza patrimonial: os bens do devedor serão responsáveis
pelos danos sofridos pelo credor (art. 391, CC9), tanto no aspecto patrimonial quanto
no extrapatrimonial. Entende-se que o devedor é responsável somente com seu
patrimônio. No Brasil, apenas a prisão por falta de pagamento de pensão alimentícia é
permitida.

2.5 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DAS OBRIGAÇÕES

Diz-se que a obrigação é relativa porque vincula apenas as partes


diretamente envolvidas na relação. Somente o credor da obrigação possui o direito de
exigir o cumprimento da obrigação por parte do devedor. Assim como qualquer
princípio, a relatividade das obrigações também possui exceções.

Na Alemanha, após alguns anos, a teoria da aparência foi substituída pela


teoria da confiança, e o "ser" da fé é diferente do "agir" da fé. O princípio da
solidariedade social está estabelecido no artigo 3º, III, da Constituição Federal
brasileira (1988), que declara que um dos objetivos da República Federativa do Brasil é
estabelecer uma sociedade livre, justa e solidária. Com base na definição geral de boa-
fé, objetividade, desenvolveu-se a norma social do empresário honesto, aquele em
quem se pode confiar, com um comportamento adequado, legal e honesto, sempre
cooperando para o cumprimento das obrigações.
Quando o Código de Defesa do Consumidor foi criado em 1990, o princípio
da boa-fé ganhou destaque na legislação nacional, trazendo o apelo à solidariedade e
cooperação entre fornecedor e consumidor para as relações contratuais de consumo.
A partir desse momento, a lei começou a progredir, mesmo que lentamente,
no intuito de aplicar o princípio a obrigações que não eram voltadas para o consumidor.
Por fim, em 2002, o artigo 422º do Código Civil sofreu alterações para refletir
positivamente o princípio da equidade objetiva.

3- ELEMENTOS CONSTITUCIONAIS DA OBRIGAÇÃO

3.1. ELEMENTO SUBJETIVO

As duas partes envolvidas na relação são o credor e o devedor, que


constituem a primeira parte da obrigação. O credor detém tanto o direito relativo ao
crédito quanto a obrigação jurídica conhecida como dívida ou dissidência. O sujeito
ainda pode ser alterado para outra pessoa ao longo do desenvolvimento da relação
obrigatória. A noção de sujeito do relacionamento remete ao conceito de partes
(CENTROS DE INTERESSE). Em todo relacionamento obrigatório, existem um credor
e um devedor; é comum haver uma pluralidade de credores e devedores.

3.2. ELEMENTO OBJETIVO


O foco da obrigação é a prestação, ou seja, a ação humana que o devedor é
exigido a realizar. Os direitos obrigacionais são direitos pessoais e, portanto, se
aplicam a ações humanas, não aos bens. A doutrina geralmente classifica o objeto da
obrigação em objeto imediato e objeto mediato:
• Objeto imediato ou direto: é a prestação, a ação à qual o devedor está vinculado
(dar, fazer ou não fazer).
• Quando se pergunta: dar, fazer ou não fazer o quê? A resposta indicará o objeto
mediato ou indireto: é o bem que é o objeto da prestação.

A prestação deve possuir os seguintes requisitos: ser lícita, possível,


determinável e suscetível de avaliação econômica.

3.3. ELEMENTO ABSTRATO

é o componente imaterial, também conhecido como virtual ou espiritual, que


consiste no vínculo jurídico estabelecido entre credor e devedor, obrigando o devedor a
cumprir uma determinada conduta em benefício do credor, sob a pena de
responsabilidade deste último.
Quanto ao vínculo obrigacional, a doutrina aponta para a existência de duas
teorias:

• A teoria unitária ou monista;


• A teoria dualista ou binária;

No Brasil, adotou-se a teoria dualista das obrigações, de origem alemã.


Nessa teoria, a relação obrigacional baseia-se em dois conceitos:

• Débito (Debitum) que consiste no dever de prestar efetivamente.


• Responsabilidade (Hatfung) que corresponde ao impacto financeiro decorrente
da não realização de uma prestação.

3.4. DÉBITOS NÃO EXIGÍVEIS

As obrigações naturais são aquelas em que existe um débito, mas sem


responsabilidade. Nas obrigações naturais, o direito de crédito mesmo que existente,
não pode ser exigido do devedor, pois é incapaz de gerar uma reivindicação. Dívidas
prescritas são exemplos de obrigações naturais. Essas obrigações naturais constituem
um meio-termo (entre obrigações morais e obrigações civis) que não são inteiramente
protegidas, uma vez que lhes falta exigibilidade, enfraquecendo o vínculo jurídico.
Em resumo, o direito às obrigações possui uma história rica e complexa que
se desenvolveu ao longo de milhares de anos e continua a se adaptar às
transformações na sociedade e economia. Embora suas origens estejam no sistema
jurídico romano, suas aplicações e princípios foram influenciados por diversas culturas
e épocas históricas.

4. VÍNCULOS JURÍDICOS: SCHULD E HAFTUNG


Quando analisamos os elementos da obrigação, normalmente afirmamos
que há três, embora não haja consenso sobre os termos que os designam. O aspecto
subjetivo é formado pelas partes, o objetivo pela prestação é o imaterial, ou espiritual é
o vínculo jurídico. O elemento subjetivo se caracteriza pela existência de dois sujeitos.
O sujeito ativo é o credor e o sujeito passivo é o devedor. Enquanto o primeiro exige
uma ação do segundo, este tem a obrigação de realizar essa ação. Nos contratos
unilaterais, uma das partes exerce o papel de credor e a outra o de devedor. Isso
ocorre no mútuo, onde o mutuante, como credor, pode exigir do mutuário, como
devedor, a restituição em igual qualidade e quantidade do bem emprestado. Nos
contratos bilaterais, onde há prestação e contraprestação, a relação de crédito e débito
é recíproca. É o caso da compra e venda, onde o vendedor é devedor do bem e credor
do dinheiro, e o comprador é devedor do dinheiro e credor do bem.
Para compreendermos os elementos das obrigações, precisamos fazer uma
distinção entre dois conceitos alemães: "Schuld", que significa dívida em si, e
"Haftung", que consiste na responsabilização e nas consequências do não
cumprimento da "Schuld". Dessa forma, fica claro que o que amedronta o devedor não
é a "Schuld" em si, mas sim a "Haftung".
É a "Haftung" que, na prática, diferencia uma obrigação jurídica das
demais. Por exemplo, quando um juiz determina a penhora da casa, do carro ou de
alguma obra de arte do devedor, ele está aplicando a "Haftung" e responsabilizando o
devedor pela dívida.
É possível existir uma "Schuld" sem uma "Haftung"? Isso é possível, como
no caso de uma dívida prescrita. A prescrição elimina a pretensão, mas não elimina o
direito. Isso significa que a dívida existe, mas não há responsabilização. Outro exemplo
é a dívida de jogo, em que não ocorre a repetição do indébito, pois não se trata de uma
dívida e não há obrigação de pagamento.
Para o domínio do Artigo 814 do Código Civil, mencionar que não é
possível exigir o valor que foi pago voluntariamente. E de acordo com o Artigo 189 do
CC/2002, que estabelece: "quando um direito é violado, surge para o titular uma
pretensão que se extingue pela prescrição nos prazos mencionados nos artigos 205 e
206".
“Art. 882 do Código Civil. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida
prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível”.

Da mesma forma, as dívidas de jogo ou aposta, conforme o Art. 814, do CC/2002:

"Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não
se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha
por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.
§ 1o Estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva
reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade
resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé.
§ 2o O preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo
não proibido, só se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidos.
§ 3o Excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o
vencedor em competição de natureza esportiva, intelectual ou artística, desde
que os interessados se submetam às prescrições legais e regulamentares."

Existe haftung sem schuld? Pode haver uma dívida de outra pessoa, ou até
mesmo não ser dele, mas sempre haverá uma dívida. Dessa forma, é possível ocorrer
haftung de schuld alheio, como no exemplo clássico do fiador que responde até com
seu bem de família nos contratos de locação.
O Artigo 818 traz outra possibilidade, o aval (avalista) de responsabilidade
por dívida de outra pessoa. No Artigo 932, são apresentadas várias opções de haftung
por schuld alheio. Este artigo responsabiliza algumas pessoas por atos ilícitos
praticados por outros, como o patrão que responde pelo ato ilícito praticado por seu
empregado e o hotel que responde pelo ato ilícito praticado pelo hóspede.
Segundo VENOSA (2013) “obrigação é uma relação jurídica transitória de
cunho pecuniário unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (o devedor) realizar
uma prestação à outra (credor)”. O Código Civil brasileiro estabelece o conceito de
responsabilidade civil por dolo de terceiro. O dolo, como instituto jurídico, tem o poder
de invalidar um negócio jurídico válido em relação à sua forma, mas que, em relação
ao elemento subjetivo, ou seja, a vontade livre e espontânea do agente capaz, revela-
se, na verdade, uma vontade corrompida pelo vício de consentimento.
A ideia de responsabilidade civil decorrente do dolo causado por uma
terceira pessoa. O dolo, como instituto jurídico, é capaz de anular um contrato válido
em termos de sua forma, mas que, no que diz respeito ao elemento subjetivo, como a
vontade livre e espontânea de um agente competente, demonstra-se na realidade uma
vontade manchada por um defeito de consenso.

5. OBRIGAÇÕES JURÍDICAS NO DIREITO ESTRANGEIRO E BRASILEIRO

Em relação à forma dos atos jurídicos, é adotado o princípio "lex regit


actum". Além disso, sobre a forma dos atos jurídicos, o Código Bustamante, no artigo
180, estabelece que se aplica, de forma simultânea, o princípio do "locus regit actum",
a lei do local do contrato e a de sua execução, à necessidade de escritura ou
documento público para a eficácia de determinados atos e para que fique registrado
por escrito.
Bartolus de Sassoferrato, depois de afirmar que a forma do contrato e a
forma do processo são regidas, respectivamente, pela lei do local onde são feitos e
pela lex fori, estabeleceu: a) em relação às dúvidas que surgem do próprio contrato, no
momento em que é feito, aplica-se a lei do local onde é feito e não o do local da
execução (Codicem Justiniani Commentaria, tradução de Haroldo Valadão e
discípulos, 1938, §§ 15 e 16, pág. 11)."
No seu artigo 9º, a Lei de Introdução não adota o princípio da autonomia da
vontade como critério para tratar de contratos no direito internacional privado, que
devem ser regulados pela lei do local onde foram celebrados em relação à sua forma
externa. Essa ideia de autonomia da vontade foi introduzida por Carlos Dumoulin, que
seguiu a escola francesa. Dumoulin distinguia as disposições que dependem da
vontade das partes ou que podem ser alteradas por elas, ensinando que as
manifestações de vontade, expressas ou implícitas, devem ser consideradas, incluindo
a manifestação do estatuto do lugar onde o contrato foi celebrado, bem como os
domicílios antigos ou recentes das partes contratantes e circunstâncias semelhantes.
Existem países que reconhecem o local de recepção da aceitação como
válido para a formação do negócio (Projeto Húngaro, artigo 60, Projeto Português,
artigo 25; Projeto da Subcomissão Francesa, artigo 65; e também o Restatement, §
326, que defende o local da aceitação, como defendido por Clovis Beviláqua no Brasil).
Além disso, há aqueles que adotam a Lex Fori, apoiada na Itália por Diena, Balladore
Pallieri, entre outros, e no Brasil por Serpa Lopes.
Outra abordagem é a proposta da lei do domicílio como elemento
subsidiário de conexão, que pode ser a nacionalidade ou a residência comum, para fins
de estabelecimento da obrigação.
No caso das relações trabalhistas, a Convenção de Roma de 1980, no artigo
6º, trata do contrato individual de trabalho e estabelece que a aplicação da lei escolhida
não pode privar o trabalhador de sua proteção garantida por lei:

• No país em que o trabalhador costuma exercer sua profissão ao realizar o


contrato;
• No estado em que a empresa contratante está localizada, quando o empregado
não trabalha habitualmente no mesmo país, conforme destacado por Maria
Helena Diniz (obra citada, pág. 255).

Na iminência de concepção, da exequibilidade da obrigação no território


brasileiro, fala-se na possibilidade de cumprimento da obrigação no território brasileiro.
Pode-se afirmar que o artigo 9º, parágrafo 1º, busca contrastar a forma necessária com
a prova. A forma essencial, ou ad solemnitatem, é o requisito sem o qual a obrigação
não pode existir. A doutrina ensina que a exequibilidade e a acionabilidade não devem
ser confundidas. Exequível é sinônimo de exigível, realizável. A lei aplicável ao local
onde a obrigação deve ser cumprida sempre foi a mesma da lei aplicável ao local onde
a obrigação pode ser executada ou cumprida: lex loci solutionis ou lex loci
executionis. A lex loci solutionis é definida como a lei do local de execução da
obrigação, de seu cumprimento.
É o ensinamento transmitido por Teixeira de Freitas (Esboço, 1962 e 1963);
Clóvis Beviláqua (Princípios elementares de direito internacional privado, parágrafos 54
e 55); Eduardo Espínola (Elementos, 662), entre outros autores.
Quanto à acionabilidade, está relacionada à autoridade responsável por
julgar o caso, refere-se ao tribunal da ação e não ao da obrigação, pois os contratos
não executáveis no Brasil são regidos pela lei do país onde deveriam ser cumpridos,
embora possam ser julgados pelas autoridades do Brasil quando competentes. Essa é
a lição de Clóvis Beviláqua, citado no parágrafo 36, para quem "executáveis não
significa acionáveis; o contrato pode ter sido acordado para ser executado fora da
República e, ainda assim, ser acionável aqui".
A lei da República Federativa do Brasil deve ser aplicada a todos os
brasileiros e estrangeiros que se encontram em território nacional.

6. CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO DIREITO OBRIGACIONAL

O Direito das Obrigações possui várias implicações legais que moldam as


relações entre as partes envolvidas em obrigações. Destacamos algumas das
principais consequências, com referências ao Código Civil brasileiro:

• Cumprimento da Obrigação (Artigo 247 do Código Civil): Uma das principais


implicações é o dever do devedor em cumprir a obrigação, ou seja, realizar a
prestação prometida ao credor. O não cumprimento pode resultar em medidas
legais, como a busca pelo pagamento ou execução da obrigação.

• Mora e Juros de Mora (Artigos 394 e 395 do Código Civil): Se o devedor atrasar
o cumprimento da obrigação, ele pode entrar em mora, o que implica a
obrigação de pagar juros de mora. Essa é uma consequência comum em
transações comerciais e contratos.

• Descumprimento e Indenização (Artigos 389 e 395 do Código Civil): Caso o


devedor não cumpra a obrigação de maneira adequada, o credor tem o direito
de buscar indenização pelos danos sofridos devido ao descumprimento.

• Cláusulas de Natureza Penal (Artigo 408 do Código Civil): Os contratos podem


conter cláusulas que estabelecem as consequências pela não execução da
obrigação. Essas cláusulas podem incluir multas ou penalidades específicas em
caso de inadimplemento contratual.

• Extinção das Obrigações (Artigos 477 e seguintes do Código Civil): Existem


diversas formas de extinguir obrigações, como pagamento, compensação,
remissão, novação, entre outras. Cada uma dessas formas de extinção possui
suas próprias implicações jurídicas.

6.1. RESPONSABILIDADE CIVIL (ARTIGOS 186 E SEGUINTES DO CÓDIGO CIVIL):


A falta de cumprimento de uma obrigação pode acarretar responsabilidade
civil, onde o devedor é obrigado a compensar o credor pelos danos causados.
Prescrição e decadência (Artigos 189 e seguintes do Código Civil):
O Direito Obrigacional também lida com questões de prazos para o
exercício de direitos. Após o período de prescrição ou decadência, o direito de buscar o
cumprimento da obrigação pode ser perdido.
Essas são apenas algumas das consequências legais do Direito
Obrigacional, sendo que o Código Civil brasileiro é uma referência essencial para a
regulamentação dessas questões no país. É importante ressaltar que o Direito
Obrigacional pode apresentar variações nas particularidades de cada país, devido às
diferenças nas leis nacionais.

7.CONCLUSÕES

Em síntese, o direito das obrigações tem uma história rica e complicada que
amplificou ao longo dos anos. Na contemporaneidade, permanece a se adaptar as
mudanças da sociedade e na economia. Embora as suas raízes remetam ao sistema
jurídico romano, as suas aplicações e preceitos foram influenciados por diversas
culturas e épocas históricas.
Observa-se que na compreensão do Direito Obrigacional não se restringe
apenas à obrigação em si, mas também abrange as complexidades das diferentes
maneiras de pagamento, das cláusulas contratuais, das garantias e das diversas
formas de extinguir as obrigações. Segundo Carlos Roberto Gonçalves "O
cumprimento da obrigação pode ocorrer de diversas maneiras, que vão desde o
pagamento em dinheiro até a prestação de um serviço ou a entrega de um bem." Essa
diversidade de possibilidades evidencia a flexibilidade e a adaptabilidade do Direito
Obrigacional para atender às necessidades das partes envolvidas no contrato.
Além disso, é essencial reconhecer que o Direito Obrigacional é uma área
em constante evolução, que se adapta às mudanças sociais e econômicas. Como
afirmou Miguel Reale, "O Direito é uma realidade que acompanha e se ajusta ao
progresso da vida". Assim, as normas relacionadas às obrigações também evoluem
para refletir as novas demandas da sociedade e as formas emergentes de contratação.
Em suma, o Direito Obrigacional possui um papel fundamental na estrutura
legal de qualquer sociedade, fornecendo a base para a celebração de contratos, a
proteção dos direitos das partes e a resolução de conflitos. Trata-se de uma disciplina
dinâmica e essencial que permeia todas as esferas da vida jurídica e comercial,
assegurando que as relações obrigacionais ocorram de forma justa e equitativa.

8.REFERÊNCIAS

LIVROS DOUTRINARIOS:

CAENEGEM, R. C. van. Uma introdução histórica ao direito privado. Tradução Carlos


Eduardo Lima Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

PINTO, Carlos Alberto de Motta. Teoria Geral do Direito Civil. Coimbra: Coimbra
Editora, 2005

GOYARD FABRE, Simone. Os princípios filosóficos do direito político moderno. São


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