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DIREITO

Disciplina: Direito Civil - Formação dos Contratos e


suas Espécies.

Professor Esp. Pekelman Silva.

Aula 01: Teoria Geral dos Contratos – Noção Geral.


CONCEITO DE CONTRATOS
• O contrato é a mais comum e a mais
importante fonte de obrigação, devido às suas
múl plas formas e inúmeras repercussões no
mundo jurídico.

• Os fatos humanos que o Código Civil brasileiro


considera geradores de obrigação são: a) os
contratos; b) as declarações unilaterais da
vontade; e c) os atos ilícitos, dolosos e culposos.
CONCEITO DE CONTRATOS
• O contrato é uma espécie de negócio jurídico que
depende, para a sua formação, da par cipação de
pelo menos duas partes, ou seja, o contrato é um
negócio jurídico bilateral ou plurilateral.

• Pode-se definir, dentro da teoria geral dos fatos


jurídicos, o contrato como um acordo de vontades,
na conformidade da lei, e com a finalidade de
adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar
ou ex nguir direitos.
O instrumento que efetivamente mais concretiza o direito à propriedade é
o instituto do CONTRATO porque permite a dinâmica da circulação de
bens e riquezas nas sociedades.
Diferenças entre o Código Civil de 2002 (Lei
10.406) e o CC de 1916

- Reforçar os direitos das mulheres: no Código de 1916,


algumas operações jurídicas tinham realização facultada
exclusivamente aos homens;

- Fazer prevalecer os valores coletivos sobre os individuais:


na visão do jurista Miguel Reale Junior, o novo CC houve uma
substituição do individulismo exacerbado, presente no Código
de 1916.

com a urbanização e o crescimento das relações comerciais,


temas pouco abordados no CC de 1916 ganharam espaço.
A disposição topográfica dos contratos no
Código Civil brasileiro de 2002
• Os contratos, como uma forma de obrigação, insere-se no Livro I - DO
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES, da Parte Especial do Código Civil (art. 233
ao 965).

• Vistas as regras gerais acerca das obrigações do Título I ao IV (arts. 233


ao 480) do referido Livro I, avança-se ao estudo dos contratos (Títulos
V e VI, com vinte capítulos , com o disciplinamento das regras gerais e
das normas específicas de vinte e três contratos, entre os ar gos 481
e 853).

• Além da citada matéria, calha ressaltar que o mesmo livro referente ao


Direito das Obrigações contém o regimento legal das declarações
unilaterais de vontade (Livro VII, arts. 854 ao 886), os tulos de crédito
(Livro VIII, arts. 887 ao 926) e a responsabilidade civil decorrente dos
atos ilícitos (Livro IX, arts. 927 ao 954).
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
CIVILIZAÇÕES MESOPOTÂMICAS:

Foi a primeira, historicamente comprovada, a positivar algumas práticas e


alguns limites a formação e execução dos contratos

Durante a codificação das leis, na era Hamurabi, foram gravas em pedra a


regulamentação de alguns contratos específicos, a sua forma de execução, o
preço e até mesmo os juros que poderiam ser cobrados de alguns serviços

EXEMPLO: a prescrição do § 268 do Código Hamurabi que estabelecia que


“se um homem alugou um boi para semear o grão, seu aluguel será de 2 sutu
de cevada”

As civilizações mesopotâmicas eram bastante comerciais e ao mesmo tempo


muito religiosas, daí suas regras contratuais serem pautadas nessa vivência.

Antropólogos e historiadores localizaram alguns documentos que


compunham leis ou contratos. Eles tendem a reger tanto a vida pública
quanto a privada. O interessante é o fato de que as escrituras ou acordo
parecem ser lavrados pelo que chamamos de tabelião na área do templo e
confirmados pelo governante ou deus.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
“poucos institutos sobreviveram por tanto tempo e se desenvolveram sob
formas tão diversas quanto o contrato, que se adaptou a sociedades com
estruturas e escala de valores tão distintas quanto às que existiam na
Antiguidade, na Idade Média, no mundo capitalista e no próprio regime
comunista”
(WALD, Arnold. O Contrato: Passado, Presente e Futuro, Revista Cidadania e
Justiça: 1.º Semestre de 2000, Rio de Janeiro: Publicação da Associação dos
Magistrados Brasileiros, p. 43)

Práticas contratuais sempre existiram em sociedades mais remotas, porém,


como instituto jurídico sistematizado somente a partir do direito romano.
Cumpre esclarecer que cada sociedade compõe um conceito diferente para a
ideia de contrato conforme a ideologia predominante à época.

NO DIREITO ROMANO
“período em que a sua sistematização jurídica se tornou mais nítida, mais
detectável pelo estudioso do direito ou pelo investigador da história” (Stolze &
Pamplona, 2002, p. 16)
O jurisconsulto romano Gayo foi o primeiro a escrever as leis aprovadas
da época romana por volta de 150 d.C. Ele escreveu algumas obras
chamadas à época de “tractatus”.

Institutas

Editos dos Magistrados

Comentários sobre as Doze Tábuas

Lex Papia Popaea

O conceito de contrato — compreendendo as


“convenções”, as “avenças firmadas entre duas
partes”.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
• No Direito Romano a convenção era o gênero do ajuste
realizado sobre o acordo de vontades de dois agentes
capazes, esse conceito comportava, entre outras, duas
espécies, quais sejam:

• Contrato, isto é, o acordo principal e o

• Pacto que seriam acordos acessórios que eventualmente


acompanhariam o anterior (é dessa designação
romanís ca que deriva o nome de certos contratos
acessórios como pactos: antenupcial, comissório etc.)
DIREITO MEDIEVAL

- Adoção e adaptação do Direito Romano em conjunto com o Canônico


(sincretismo).

- Predominância do Direito Canônico nas relações privadas (casamento,


comportamentos, regramentos de horários do dia, o toque do sino etc.)

- Tribunais Eclesiásticos – penas de mortes (fogueira, ordálias, etc) por


pecados capitais

- Contrato de fidelidade por laços de vassalagem

- Esta submissão do vassalo ao senhor era decorrente de um contrato no


qual os sujeitos adquiriam obrigações e direitos, através da celebração de
ritos e formalidades que deveriam ser cumpridos por ambos os lados,
chamados de Investidura, Fé e Homenagem.

O ato efetivamente da auto entrega consistia na Homenagem, no qual o


vassalo dispunha da sua liberdade e se colocava a disposição do senhor.
Além disso, era necessário que o subserviente jurasse fidelidade em face da
concessão de um feudo a ele, por meio do rito chamado Fé. Por fim, havia a
entrega efetiva do feudo, no rito chamado de investidura, que poderia ser
uma porção de terra, um castelo, uma portagem, uma magistratura, etc
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
• A primeira grande codificação moderna, o Código
Napoleônico de 1804, com grande influência do Código de
Jus niano de 534, repete a fórmula romana (art. 1.101 do CC
1916 e 441 CC/2002).

• E, quanto ao conteúdo, basicamente, compreendia o


contrato como um instrumento para aquisição e preservação
da propriedade privada, especialmente a corpórea.

• Ademais, estabelecia, em conformidade com as ideias


individualistas vigentes à época, que a transferência de
propriedade se assentava exclusivamente sobre a vontade
das partes.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
• O Código Civil alemão, promulgado em 1900,
considera, assim como o Código Civil brasileiro
de 1916 e o atual, o contrato uma espécie de
negócio jurídico, com maior abrangência do
que aquisição de propriedade, mas também
outras obrigações.

• Atualmente convenção, contrato e pacto são


empregados como sinônimos.
Porém, a concepção moderna de “contrato”:

“a moderna concepção de contrato, tal qual nós o concebemos hoje,


consistente em ‘um acordo de vontades por meio do qual as pessoas
formam um vínculo jurídico a que se prendem’, somente se esclarece à luz
da ideologia individualista típica do regime capitalista de produção”
produção (Stolze
& Pamplona, 2022, citando Orlando Gomes, Contratos, 14. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 1999, p. 6).
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
•Ressalte-se que a predominância da autonomia da vontade idealizada no século
XIX, mostrou-se incompa vel com as necessidades sociais contemporâneas, haja
vista que normalmente há uma grande disparidade entre as partes do acordo.

•Para a proteção dos interesses sociais e de setores socialmente vulneráveis o


Direito caminhou no sen do de assegurar como princípio contratual a
supremacia da ordem pública que tem como mecanismo de controle o dirigismo
contratual feito pelo Estado, dentro do Direito Civil, como também nos outros
ramos do direito em que contratos estão presentes.

•Nesse sen do, é de se ressaltar que os arts. 421 e 422 do CC/02 atribuem ao
contrato uma função social,
social de tal modo que explicitam que a liberdade de
contratar só pode ser exercida em consonância com os fins sociais do contrato,
implicando os valores primordiais da boa fé e da probidade.
FUNÇÃO SOCIAL
• Como já ressaltado, o Código Civil de 2002 afasta-se das concepções
individualistas que nortearam os primeiros Códigos Civis e, inclusive, o
nosso primeiro de 1916.

• Um grande diferencial das codificações civilistas atuais é a adoção do


princípio da supremacia da ordem pública, fazendo prevalecer interesses
cole vos sobre os individuais. Desse princípio mais abrangente se
desdobra a função social:

• “CC, caput, Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da
função social do contrato.
• (...)
• Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”
FUNÇÃO SOCIAL
• A função social dos contratos determina que os contratos devem buscar
bene cios não apenas para as partes que o realizam, mas também à
sociedade, ou, no mínimo, não podem prejudicar os terceiros.

• Isto é, o contrato não pode vincular as partes de maneira leonina ou


injusta, assim como não pode violar direitos da cole vidade ou de
terceiros.

• Inserido esse princípio geral no direito posi vo pátrio ele se torna uma
cláusula geral a par r da qual o Estado-Juiz pode e deve intervir nos
contratos quando eles não cumpram esse mandamento geral.

• Recentemente, o disposi vo legal que incluiu esse princípio norteador ao


nosso sistema jurídico foi modificado com vistas a garan r uma melhor
aplicação ao direito privado e contribuir com o que foi chamado de
liberdade econômica.
• Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social
do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
• Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio
da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e
simétricos até a presença de elementos concretos que jus fiquem o
afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em
leis especiais, garan do também que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros obje vos para a
interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou
de resolução; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e
observada; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e
limitada. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
CONDIÇÕES DE VALIDADE DO CONTRATO
• Para que o negócio jurídico produza efeitos,
possibilitando a aquisição, modificação ou ex nção de
direitos, deve preencher certos requisitos,
apresentados como os de sua validade. Se os possui, é
válido e dele decorrem os mencionados efeitos.

• Os requisitos de validade do contrato podem, assim,


ser distribuídos em três grupos:
a) subje vos;
b) obje vos; e
c) formais.
Requisitos subje vos dos contratos
• Os requisitos subje vos consistem:

a) na manifestação de duas ou mais vontades e


na capacidade genérica dos contraentes;

b) na ap dão específica para contratar; e

c) no consen mento.
Capacidade genérica
• A capacidade genérica dos contratantes (que podem ser duas ou mais
pessoas) é o primeiro elemento ou condição subje va de ordem geral para
a validade dos contratos. Estes serão nulos (CC, art. 166, I) ou anuláveis
(art. 171, I) se a incapacidade, absoluta ou rela va, não for suprida pela
representação ou pela assistência (CC, arts. 1.634, V, 1.747, I, e 1.781).

• A capacidade exigida nada mais é do que a capacidade de agir em geral,


que pode inexis r em razão da menoridade, da falta do necessário
discernimento ou de causa transitória (CC, art. 3º), bem como ser reduzida
nas hipóteses mencionadas no art. 4º do Código Civil (menoridade rela va,
embriaguez habitual, dependência de tóxicos, discernimento reduzido,
prodigalidade).

• No tocante às pessoas jurídicas, exige-se a intervenção de quem os seus


estatutos indicarem para representá-las a va e passivamente, judicial e
extrajudicialmente.
Ap dão específica para contratar
• Algumas vezes, para celebrar certos contratos, requer-se uma
capacidade especial, mais intensa do que a normal, como ocorre na
doação, na transação e na alienação onerosa, que exigem a capacidade
ou poder de disposição das coisas ou dos direitos que são objeto do
contrato.

• Outras vezes, embora o agente não seja um incapaz, genericamente,


deve exibir a outorga uxória (para alienar bem imóvel, p. ex.: CC, arts.
1.647, 1.649 e 1.650) ou o consen mento dos descendentes e do
cônjuge do alienante (para a venda a outros descendentes: art. 496).

• Essas hipóteses não dizem respeito propriamente à capacidade geral,


mas à falta de legi mação ou impedimentos para a realização de
certos negócios. A capacidade de contratar deve exis r no momento da
declaração de vontade do contratante.
Consen mento
• O requisito de ordem especial, próprio dos contratos, é o consen mento
recíproco ou acordo de vontades. Deve abranger os seus três aspectos:

a) acordo sobre a existência e natureza do contrato (se um dos


contratantes quer aceitar uma doação e o outro quer vender, contrato
não há);

b) acordo sobre o objeto do contrato (se um negocia sobre um veículo e


outro sobre um cavalo, não há contrato); e

c) acordo sobre as cláusulas que o compõem (se a divergência recai sobre


ponto substancial, não poderá ter eficácia o contrato).

• O consen mento deve ser livre e espontâneo, sob pena de ter a sua
validade afetada pelos vícios ou defeitos do negócio jurídico: erro, dolo,
coação, estado de perigo, lesão e fraude.
Requisitos obje vos dos contratos
• Os requisitos obje vos dizem respeito ao objeto do contrato, que deve
ser lícito, possível, determinado ou determinável (CC, art. 104, II).

a) Licitude de seu objeto — objeto lícito é o que não atenta contra a lei,
a moral ou os bons costumes.

b) Possibilidade sica ou jurídica do objeto — o objeto deve ser,


também, possível. Quando impossível, o negócio é nulo (CC, art. 166,
II). A impossibilidade do objeto pode ser sica ou jurídica.

c) Determinação de seu objeto — o objeto do negócio jurídico deve ser,


igualmente, determinado ou determinável (indeterminado
rela vamente ou susce vel de determinação no momento da
execução).
Requisitos formais dos contratos
• A validade do negócio jurídico também depende da forma, que é o meio de
revelação da vontade. Deve ser a prescrita ou não defesa em lei. As espécies
de forma podem ser dis nguidas em três:

a) Forma livre — é a regra no direito brasileiro (CC, art. 107), sendo qualquer
meio de manifestação da vontade (palavra escrita ou falada, escrito público
ou par cular, gestos, mímicas etc.).

b) Forma especial ou solene — é a exigida pela lei como requisito de validade


de determinados negócios jurídicos (ex., bens imóveis com valor superior a
30 salários mínimos devem ter escritura pública – CC, art. 108).

c) Forma contratual — é a convencionada pelas partes. O art. 109 do Código


Civil dispõe que, “no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer
sem instrumento público, este é da substância do ato” (cf. arts. 212 e s.).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• O contrato é um negócio jurídico bilateral. O contrato empresarial
também é disciplinado pelo Código Civil através dos princípios
seguintes que terão caracterís cas um pouco diferentes no
disciplinamento destes contratos:

a) Princípio da autonomia da vontade;


b) Princípio da supremacia da ordem pública;
c) Princípio do consensualismo;
d) Princípio da rela vidade dos efeitos do contrato;
e) Princípio da força obrigatória do contrato;
f) Princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva;
g) Princípio da boa-fé e da probidade
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE: é um princípio
fundamental do direito contratual que assegura às pessoas a
liberdade de contratar se quiserem, com quem quiserem e
sobre o que quiserem, sem qualquer interferência do Estado,
nominada ou inominadamente, desde que respeitada a
chamada função social dos contratos (art. 421, CC/02).

• As partes são livres para:


I – escolher com quem contratar;
II – delimitar o que vai ser objeto da relação contratual, e;
III – fixar o conteúdo dessa relação.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE: O princípio da
autonomia da vontade também serve de fundamento para a
celebração dos contratos a picos.

• Contrato a pico é o que resulta não de um acordo de vontades


regulado no ordenamento jurídico, mas gerado pelas
necessidades e interesses das partes. Dessa forma, se as partes
são livres para contratar (CC, art. 421), esse acordo pode ser feito
dentro do já es pulado pelo legislador ou de uma outra forma
que os contratantes acharem mais conveniente:

• “CC, art. 425: É lícito às partes es pular contratos a picos,


observadas as normas gerais fixadas neste Código”.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO
DIREITO CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM
PÚBLICA: O princípio da autonomia da vontade
não é absoluto. É limitado pelo princípio da
supremacia da ordem pública, que resultou da
constatação, feita no início do século passado e
em face da crescente industrialização, de que a
ampla liberdade de contratar provocava
desequilíbrios e a exploração do
economicamente mais fraco.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA: A intervenção do
Estado na vida contratual é, hoje, tão intensa em determinados
campos (telecomunicações, consórcios, seguros etc.) que se configura
um verdadeiro dirigismo contratual. Sobre isso:

• “CC, art. 2.035: Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar


preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este
Código para assegurar a função social da propriedade e dos
contratos.”

• “LINDB, Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como
quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil,
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.”
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO ou CONSENTIMENTO:
Segundo esse princípio basta o consen mento para a
cons tuição do vínculo contratual (CC, art. 107), veja-se, por
exemplo, a compra e venda, em que a avença resta perfeita
e acabada com a definição do objeto e preço (CC, art. 482),
dessa forma, a entrega e o pagamento do contrato
cons tuem a fase da execução do contrato (CC, art. 481).

• Fogem a essa regra os contratos reais em que é


imprescindível a entrega de coisa (mútuo, comodato,
depósito etc.) Também foge da regra os contratos solenes
que se submetem a formalidades específicas.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATO: O
contrato somente produz efeitos entre as partes contratantes e
em relação ao objeto da avença.

• Esse princípio também surgiu sob a égide do individualismo que


fora abrandado pelo princípio da supremacia da ordem pública e
da necessidade de cumprimento da função social nos contratos.

• “Enunciado 21 da I Jornada de Direito Civil do CJF: A função


social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil,
cons tui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da
rela vidade dos efeitos do contrato em relação a terceiros,
implicando a tutela externa do crédito.”
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA: Os direitos e
deveres assumidos em contrato valem como lei entre
as partes (pacta sunt servanda). Baseia-se na
premissa da irreversibilidade da palavra emprenhada
e tem como fundamentos:
a) a necessidade de segurança nos negócios; e
b) a intangibilidade ou imutabilidade.

• Originalmente, a única limitação a esse princípio se


dava com o caso fortuito ou força maior (CC, art. 393).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA REVISÃO DOS CONTRATOS OU DA
ONEROSIDADE EXCESSIVA (rebus sic standibus ou teoria
da imprevisão): Opõe-se tal princípio ao da
obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem
ao Judiciário para obterem alteração da convenção e
condições mais humanas em determinadas situações.

• Nos casos de alterações fá cas extraordinários e


imprevisíveis, que tornem a execução do contrato
excessivamente onerosa, pode a parte prejudicada pedir,
em Juízo, a resolução do contrato, modificação ou redução
da obrigação (art. 478, 479 e 480, todos do CC/02).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA x TEORIA DA
IMPREVISÃO – DIREITO EMPRESARIAL:

• Nos contratos empresariais, essa teoria não pode ser


aplicada da mesma maneira que no contrato cível, tendo
em vista o profissionalismo que envolve a a vidade
empresarial, em via de regra, se o empresário vislumbra
a possibilidade de alterações contratuais que lhe gerem
prejuízo deve se precaver por meio de disposi vos
especiais dispostos em contrato, as chamas cláusulas
hedge ou hedging.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA x TEORIA DA
IMPREVISÃO:

• Um exemplo de diferenças entre a aplicação desse princípio


nos contratos cíveis e contratos de consumo com os
contratos empresariais é observado nas decisões judiciais
acerca desses contratos envolvendo variação cambial.

• Para contratos cíveis e de consumo é possível alteração ou


resolução contratual, para os contratos empresariais não.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA x TEORIA DA IMPREVISÃO:

• Enunciado 23 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “Em


contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer
parâmetro obje vos para a interpretação dos requisitos de
revisão e/ou resolução do pacto contratual”.

• Enunciado 25 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “A


revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código
Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato. Nas
relações empresariais, deve-se presumir a sofis cação dos
contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.”
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO
DIREITO CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA BOA-FÉ: Está relacionado com a
interpretação do contrato. Entendendo que a
intenção das partes é o obje vo final do acordo,
mesmo que a interpretação literal do contrato
eventualmente contrarie o que documento
firmado.

• Este princípio está consagrado no art. 422 do


Código Civil, através do qual também entendemos
que deve haver boa-fé entre as partes na
cons tuição e na execução do contrato.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• PRINCÍPIO DA BOA-FÉ:

• Enunciado 362, da IV Jornada de Direito Civil,


do Conselho da Jus ça Federal: “A vedação do
comportamento contraditório (venire contra
factum proprium) funda-se na proteção da
confiança, tal como se extrai dos ar gos 187
e 422 do Código Civil”
CONCEITOS CORRELATOS À BOA-FÉ OBJETIVA

Venire contra Protege uma parte contra aquela que pretende


exercer uma posição jurídica em contradição com o
factum proprium comportamento assumido anteriormente.

Suppressio Um direito não exercido durante determinado


lapso de tempo não poderá mais sê-lo, por
contrariar a boa-fé.

Surrec o É a outra face da suppressio. Acarreta o nascimento


de um direito em razão da con nuada prá ca de
certos atos.

Tu quoque Proíbe que uma pessoa faça contra outra o que


não faria contra si mesma, consis ndo Proíbe que
uma pessoa faça contra outra o que não faria
contra si mesma, consis ndo em aplicação do
mesmo princípio inspirador da excep o non
adimple contractus.
• Jornada
• I Jornada de Direito Civil
• Coordenador-Geral
• Ministro Ruy Rosado de Aguiar
• Comissão de Trabalho
• Obrigações e Contratos
• Coordenador da Comissão de Trabalho
• Paulo Távora e Antônio Junqueira Azevedo
• Número
• 25
• Enunciado
• O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador
do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.
• Jornada
• III Jornada de Direito Civil
• Coordenador-Geral
• Ministro Ruy Rosado de Aguiar
• Comissão de Trabalho
• Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil
• Coordenador da Comissão de Trabalho
• Antônio Junqueira de Azevedo e José Osório de Azevedo Jr.
• Número
• 170
• Enunciado
• A boa-fé obje va deve ser observada pelas partes na fase de negociações
preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da
natureza do contrato.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• A teoria da exceção do contrato não cumprido
consagrada pelo Direito Civil também se aplica ao
Direito Empresarial.

• Excep o non adimple contractus: diz que uma


parte contratante não pode exigir o cumprimento
da obrigação da outra parte se não cumpriu
também a sua obrigação respec va (art. 476, do
CC/02).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• Doutra sorte, a teoria do adimplemento substancial que
tem vicejado na jurisprudência e doutrina civilista só pode
ter uma aplicação excepcional no Direito Empresarial.

• Adimplemento substancial: Segundo essa teoria, se o


contrato for substancialmente cumprido pela parte
inadimplente não caberia a ex nção do acordo, mas a
resolução da questão por perdas e danos.

• Seria o caso do não pagamento de uma úl ma parcela de um


automóvel, por exemplo.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
CONTRATUAL:
• Ainda sobre essa teoria, diz o Enunciado 361 da IV
Jornada de Direito Civil do CJF: “o adimplemento
substancial decorre dos princípios gerais contratuais,
de modo a fazer preponderar a função social do
contrato e o princípio da boa-fé obje va, balizando a
aplicação do art. 475”.

• No tocante ao direito empresarial e aos seus


contratos específicos é preciso ter cuidado com a
aplicação desse ins tuto.
EXERCÍCIOS
(Ano: 2006 Banca: ND Órgão: OAB-DF Prova: ND - 2006 - OAB-DF -
Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase) Acerca do direito dos
contratos, julgue a alterna va correta:
A) a função social do contrato, princípio contratual geral, é
exercida como um limitador da liberdade de contratar;
B) permite-se, por exceção à regra geral, que as partes possam
estabelecer, mediante acordo de vontade, o pacto sucessório;
C) evicção, existente nos contratos onerosos e gratuitos, significa
que o alienante responde pela perda da coisa;
D) o contrato aleatório tem por objeto coisas futuras e incertas,
ficando o adquirente responsável por sua existência.
Leia o seguinte parágrafo e responda:
“Ressalte-se que a predominância da autonomia da vontade
idealizada no século XIX, mostrou-se incompa vel com as
necessidades sociais contemporâneas, haja vista que
normalmente há uma grande disparidade entre as partes do
acordo”.

1. Qual a relação que passou a exis r entre os princípios da


autonomia da vontade e o princípio da função social?

2. Qual a influência da cons tucionalização das normas


civilistas para essa relação entre os princípios citados na
questão anterior?

3. Explique a relação entre o “dirigismo estatal”, a “função


social” e a “intervenção mínima” em nosso sistema
cons tucionalista dos contratos.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

GAGLIANO, Pablo S.; FILHO, Rodolfo Mario Veiga P.


Novo Curso de Direito Civil - Contratos - Vol. 4 . São
Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. 9786553622289.
Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97865
53622289/. Acesso em: 22 ago. 2022.

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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
• COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil :
parte geral, volume 1 / Fábio Ulhoa Coelho. – 8.
ed. rev., atual. e ampl.. – São Paulo : Editora
Revista dos Tribunais, 2016.

• GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil


brasileiro, volume 1 : parte geral / Carlos
Roberto Gonçalves – 15. ed. – São Paulo :
Saraiva, 2017.

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