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Todo contrato é um negócio jurídico. Mas nem todo negócio jurídico é um contrato.
Para NELSON NERY JUNIOR (CC comentado) Contrato é “negocio jurídico bilateral (ou
plurilateral), cuja finalidade é criar, regular, modificar ou extinguir vinculo jurídico patrimonial
entre as pessoas que o celebram”
Para PAPLO GAGLIANO (novo curso de direito civil), “contrato é um negocio jurídico por
meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé
objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das
suas próprias vontades.”
PRINCÍPIOS DO CONTRATO
Nelson Néry Junior diferencia-os, afixando a autonomia da vontade como mais ampla, originaria da
dignidade da pessoa humana(art. 1, III da CF), fazendo menção direta aos contrato para a autonomia
privada.
A autonomia privada, com base no qual o sujeito é livre para contratar com quem quiser, é o
elemento que realiza entre os sujeitos da sociedade a macro função do contrato, a circulação de
riquezas. É o aspecto jurídico puro do fenômeno jurídico-econômico da livre iniciativa. Elenca a –
liberdade de contratar b – liberdade de negociar e determinar o conteúdo do contrato c – de
celebrar contratos atípicos d – escolher o outro contratante e liberdade de modificar o
esquema legal do contrato (com restrições) f – agir por meio de substitutos g – liberdade de
forma.
à pessoa humana, enquanto ser dotado de personalidade e como cidadão livre, é dado pactuar nas
condições que julgar adequadas, contratando como, com quem e o que desejar.
Disso se cunhou as expressões antes referidas, de que o contrato faz lei entre as partes e o
combinado não é caro.
Essa premissa permitiu, por exemplo, que trabalhadores europeus, no auge da Revolução Industrial,
fossem contratados para laborar mais de doze horas por dia em troca de um salário de fome e sem
qualquer assistência social.
Logo depois a classe operária, iludida e esgotada com a situação, deflagrou conflitos por toda a
França.
A ambição burguesa leva ao extremo o papel da vontade, firmando uma falsa idéia: a de que, sendo
os homens naturalmente livres e iguais, a vontade do contratante, sendo livre e igual à do outro
contratante, é suficiente para legitimar a convenção.
Chegou um tempo em que o Estado interveio no campo dos contratos. Primeiro, fê-lo na locação de
serviços, disciplinando o contrato de trabalho para o fim de delimitar a jornada diária, estabelecer o
direito a férias, ao salário mínimo, à assistência previdenciária, dentre outros benefícios.
Num e noutro caso percebe-se a tentativa do Estado de preservar o equilíbrio contratual impondo um
contrapeso na balança.
Logo, do poder público se exigem providências para manter o equilíbrio, seja pelo dirigismo
contratual seja pela delimitação da vontade, seja, finalmente, pela criação de mecanismos
facilitadores de direitos à parte em desvantagem.
O princípio da autonomia da vontade continua válido e informa todo o sistema contratual, mas não
subsiste senão interagindo com outros princípios.
A vontade é tão importante que ela pode predominar sobre a palavra escrita (art 112,
sublinhem intenção, que é a vontade real, e sentido literal, que é a vontade declarada). Assim,
aquilo que as partes queriam dizer é mais importante do que aquilo que as partes disseram,
escreveram e assinaram. Não se trata aqui de rasgar o “preto no branco” mas sim de respeitar a
vontade das partes. Exemplos:
a) art. 1899, embora testamento não seja contrato, mas este artigo revela a importância
da vontade nos negócios jurídicos.
b) agora um exemplo contratual: José aluga a João por cem reais um quartinho nos fundos de
sua casa, mas no contrato, ao invés de escrever “aluga-se um quarto”, se escreveu “aluga-se uma
casa”, vai prevalecer a intenção que era de alugar o quarto, João não vai poder exigir a casa pois
sabia que, por aquele preço e naquelas circunstâncias, a locação era só de um aposento.
c) outro exemplo contratual: José morreu e deixou uma casa para seu filho João, só que João
precisa viajar e não pode esperar a conclusão do inventário, então João vende a Maria os seus
direitos hereditários por cem mil reais (ressalto que não se trata aqui do pacta corvina do 426, e sim
da cessão do 1793 pois José já morreu); eis que depois se descobre que José era muito rico e, além
da casa, tinha ações, outros imóveis, carros, jóias, aplicações financeiras, etc, neste caso Maria não
será dona de tudo pois só o que ela adquiriu, naquelas circunstâncias, foi uma casa, e não tantos
bens, embora no contrato constasse que João lhe cedia todos os seus direitos hereditários.
Dispõe o art. 421 do CC: A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função
social do contrato.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a
excepcionalidade da revisão contratual”.
A ninguém será dado negar o caráter essencial da vontade como elemento do negócio jurídico. Mas
há de reconhecer e compreender, também, as limitações impostas ao direito de contratar, em razão
do extremismo da autonomia da vontade levada em tempos anteriores.
Assim, manifesta a vontade de comprar e, havendo o pagando o preço, obtém-se a coisa. Este é um
negócio lícito, que satisfaz a ambas as partes, incrementa a circulação de riquezas e atende aos
escopos do Estado, que é o da felicidade das pessoas.
Mas é possível que, ao expressar a vontade e produzir um dado efeito jurídico, o contratante
desborde do comportamento razoável e produza uma lesão à ordem pública, cujos interesses então
restarão violados.
O fim último do Estado é o bem-estar dos indivíduos que dele fazem parte e, assim, o contrato não
só deve satisfazer os contratantes como também deve respeitar os interesses da coletividade em
geral.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas
neste Código.
EX:
1)Contrato de transporte de entorpecentes, pode satisfazer a ambas as partes, mas não cumpre
uma função social;
2) o contrato para caça de animais selvagens também pode ser da conveniência das partes, mas
viola interesse coletivo, representado pelo ambiente sadio e equilibrado.
Logo, nem sempre a conjunção das vontades, embora do agrado de ambos, será suficiente para
legitimar e imprimir força a um contrato.
OUTRO EXEMPLO: citado por autor (GUSTAVO TEPEDINO) narra o curioso exemplo ocorrido
há poucos anos no sul da França:
num determinado bar noturno, os clientes, já animados pelo estado etílico, punham-se a arremessar
um anão de mesa em mesa, como a atirar um objeto.
A qual se convencionou chamar arremesso de anão, não se opunha o pequeno e bom homem, virou
atração do bar.
Mesmo diante da concordância do trabalhador, que não conseguia outra ocupação lucrativa, até por
sua compleição física desfavorável, ainda assim o Judiciário francês proibiu o evento.
Logo, o contrato cumpre uma função social quando, respeitando a dignidade do contratante,
não viola o interesse da coletividade, à qual não interessam nem a ilicitude do objeto nem a
ociosidade das riquezas.
Daí a regra lapidar do art. 421 do Código Civil, verificada a clara intenção de conectar os princípios
( autonomia da vontade e função social), de forma a que um princípio não exclua o outro, mas de
molde a que ambos interajam.
Princípio Da Boa-Fé
art. 422 do Código, segundo o qual os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de boa-fé e probidade.
a boa-fé, ao postular um padrão de conduta do contratante, tem força limitadora aos princípios da
autonomia da vontade e da força obrigatória das convenções
o equilíbrio em busca dos objetivos almejados por ambas as partes, sem ofensa à ordem pública.
Quando duas pessoas celebram uma avença, seu patrimônio garante, abstratamente, o cumprimento
da prestação e tal responsabilidade não pode recair nos bens de quem não contratou.
Sabe-se não estar o pai obrigado a pagar dívida do filho, a menos que por ela se tenha
responsabilizado. O pai é estranho ao contrato e seu patrimônio não pode ser agredido.
Poderá fazê-lo por amor ou por receio, mas jamais por obrigação jurídica. Também não se obriga o
herdeiro pelas dívidas do morto quando o valor do passivo excede o valor da herança.
Se o fizer, estará a pagar segundo os motivos acima expostos, mas nunca por força de norma
jurídica.
EX: 1) Se alguém, num supermercado, adquire um produto alimentício e vem a se intoxicar com sua
ingestão, poderá demandar contra o fabricante, ainda que o contrato se tenha realizado com o
supermercado apenas.
2) Se alguém adquire veículo novo em concessionária e, por defeito de fabricação, vem a se envolver
em acidente, pode exigir indenização do fabricante, embora o contrato se tenha celebrado com a
concessionária.
O princípio da força obrigatória não está expresso em nosso sistema positivo, mas isso nem é
necessário, pois a doutrina o considera um princípio geral do Direito,
Graças a ele, o credor goza de certa segurança, pois sabe do vínculo obriga legalmente o devedor,
com seu patrimônio.
Este principio também teve uma grande relativização nos últimos tempos, em especial ao equilíbrio
para com os demais princípios vistos (função social do contrato, boa-fé, probidade), buscando
sempre o equilíbrio na relação contratual
Por essa razão o sistema impõe tratamento dissimilar nos contratos de adesão art. 423 do Código
Civil: “quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente.” interpretatio contra proferentem
A respeito do último inciso do novo § 1º do art. 113 do Código Civil, valoriza-se a negociação prévia
das partes
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
A força vinculante do contrato é princípio relativo, porque cede diante de razões maiores que o
interesse das partes. (interesse social, coletivo)
Hipóteses De Revisibilidade:
- quando o devedor, em razão de um fato superveniente à contratação, cujo advento não era
possível antever, nem por ele nem pela generalidade das pessoas, tem o valor de sua prestação
substancialmente onerado.
art. 478 do Código Civil: nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma
das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato...
ninguém pode ser compelido a uma prestação cujo conteúdo se alterou por causa superveniente ao
contrato e estranha à vontade. Se o contratante soubesse que o estado de coisas sofreria substancial
alteração, decerto não teria declarado a vontade.
REBUS SIC STANTIBUS que significa basicamente que o contrato deve conservar sua base de
contratação inicial, de origem no direito romano e também da teoria da imprevisão.
A cláusula rebus sic stantibus é considerada subentendida nos contratos duradouros ou permanentes.
Uma clausula tácita, permitindo a manutenção do equilíbrio contratual, preservando a vontade
manifestada quando da celebração do contrato e face de modificação ocorrida por motivos
supervenientes e imprevistos, sem necessariamente ter previsão explicita no contrato.
Entretanto, por nem todos os países aceitarem a teoria da onerosidade excessiva e aplicação
presumida da rebus sic stantibus, aplicando com mais grau a pacta sunt servanda, a Clausula de
hardship surge com instrumento para resguardo da segurança jurídica da vontade das partes no
contrato.
O CDC também trouxe grandiosa contribuição para a afirmação do principio da revisibilidade dos
contratos:
PRINCIPIO DA VULNERABILIDADE
ART. 6º E SEGUINTES
Arts. 30 e seguintes