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Temas Contemporâneos de

Direito Civil I
AULA 7: CONCEITO E FASES DE FORMAÇÃO DOS
CONTRATOS.
PRINCÍPIOS TRADICIONAIS E SOCIAIS
(MODERNOS) DO DIREITO CONTRATUAL

Profa. Me. Zélia Prates


zeliaprates@uni9.pro.br
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Conceito histórico

Código Napoleônico de 1804: com a ideia de liberdade (capitalista), com a


predominância na autonomia da vontade, fundada na crença de que os homens
poderiam realizar acordos de forma livre em suas cláusulas contratuais.

Código Civil Brasileiro de 1916: baseado no modelo napoleônico, centrado no


paradigma da completude, segurança jurídica e forma livre de contratar, dentro
dos limites da lei.
Conceito histórico
DIREITO ROMANO

Partindo do pressuposto solus consensus obligat, ou, somente o acordo de


vontades obriga, os juristas romanos entendiam que o contractus era o
vínculo jurídico originário da obligatio, da obrigação.

Após criado, tornou-se vinculante e, dependia depois de manifestadas as


vontades das partes contratantes de atos solenes (formais).
Conceito histórico
DIREITO CANÔNICO

Para os canonistas medievais, duas eram as figuras principais das relações


contratuais.

A primeira era o consenso, ou o acordo de vontades, uma vez que o Direito


canônico considerava a vontade a fonte de todas as obrigações e era menos
preocupado com as formalidades que os romanos.

A outra figura é a chamada fé jurada, o mesmo que empenhar o "fio do bigode". Era
a garantia de que as partes iriam proceder com extrema lisura do começo ao fim do
contrato. Algo que se assemelha, ainda que vagamente, ao moderno princípio da
boa-fé.
Conceito histórico
O contrato, tal qual o entendemos hoje é fruto do nascimento
do capitalismo.

Nos períodos anteriores o indivíduo era determinado pelo


grupo em que estava inserido e pela função que exercia
dentro deste grupo, com o nascimento do capitalismo, o
indivíduo passa a ser determinado por sua vontade
autônoma, sendo, o contrato o meio mais utilizado para fazer
valer essa vontade.
Conceito histórico
As ideias desenvolvidas no intuito de que a vontade exercesse um papel
ideológico naquela sociedade, se somaram àquelas desenvolvidas pela própria
teoria do direito. Alguns dogmas assentados nesse período:

1º) oposição entre o indivíduo e o Estado, que era um mal necessário,


devendo ser reduzido;

2º) princípio moral da autonomia da vontade: a vontade é o elemento


essencial na organização do Estado, na assunção de obrigações etc;

3º) princípio da liberdade econômica;


Conceito histórico

No contexto do direito contratual, a principal ideia traçada


nesse período era a da liberdade de contratar.

O sujeito era livre para escolher contratar ou não contratar,


escolher o seu parceiro contratual, além de estabelecer o
conteúdo desse contrato.
Conceito histórico

Não era dado ao Estado impor as parte um determinado tipo de contrato ou


a contratar com determinado parceiro contratual. O Estado se limitava a
fazer valer as vontades livremente estabelecidas.

Assim, a intervenção estatal só ocorreria em caso de descumprimento


contratual para fazer valer aquela vontade estabelecida no contrato, ou caso
um contrato que se perfizesse por uma vontade viciada (vícios do
consentimento) caso em que o Estado interviria por não haver vontade
livremente estabelecida.
⮚ LIBERALISMO

• Revolução Francesa.

• Ideias individualistas.

• Menor intervenção do Estado

• Predomínio da Livre Manifestação da Vontade.


⮚ ESTADO SOCIAL
• 1ª Grande Guerra Mundial

• Declínio do Estado Liberal Individualista.

• Proteção do Bem estar social

• Luta em face da injusta distribuição de riquezas

• Maior intervenção do Estado

• Autonomia da vontade relativizada

• Função Social do Contrato e da Propriedade.

• Equilíbrio Sócio Econômico das Relações Contratuais


• CÓDIGO CIVIL 1916 • CÓDIGO CIVIL 2002

• Liberalismo Exacerbado • Socialidade, Eticidade,


• Contrato – Lei entre as Partes Operabilidade
• Pacta Sunt Servanda • Contrato – Instrumento de
• Princípio da Liberdade Cooperação
Contratual • Possibilidade de revisão do
• Função obrigatória do Contrato
Contrato • Função social do Contrato e
Equilíbrio econômico e social do
contrato
Depois de um contrato de
compra e venda, firmado,
assinado pelas partes. Um
dos contratantes decide
não mais cumprir a
obrigação, alegando
motivos pessoais. Quais
princípios poderão ser
alegados pela parte lesada
em caso de ação judicial?
Princípios x Regras
Canotilho: Princípios são Canotilho: Regras são
valores fundantes da normas que impõem,
norma jurídica. permitem ou proíbem que
Miguel Reale: Princípios se faça algo.
são verdades fundantes Ronald Dworkin: Regras
de um ordenamento jurídicas = disciplina de
jurídico. hipóteses que são
+ Genéricos perfeitamente amoldadas a
fatos concretos.
Ex.: Art. 1, III, e 5º da
CRFB. Ex.: Art. 7º, VIII; 143; 229;
5º, XI; 220, § 2º; 5º, XIII;
https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-gratis/Flores-vermelhas- 226, § 6º da CRFB.
em-um-desenho-vetorial-de-%C3%A1rvore/15513.html
Princípios ➢Autonomia da vontade;
tradicionais ➢Consensualismo;
➢Relatividade dos efeitos
do direito do contrato;
contratual ➢Obrigatoriedade das
convenções.
AUTONOMIA DA VONTADE
O contrato surge por acordo de vontade livre e soberana. Essa foi a visão do
individualismo contratual, por ocasião do Código Napoleônico de 1804, porém, após
seu apogeu no século XIX, sofreu modificação, passando a sofrer intervencionismo
estatal na economia. Agora, no final do século XX e início do XXI o neoliberalismo voltou
a dar força ao princípio da autonomia da vontade, no direito brasileiro inserido no art.
421 do CC.
Portanto, princípio da autonomia da vontade como aquele que se funda na liberdade
contratual das partes, consistindo no poder de estipular livremente, como melhor
lhes convier, mediante acordo de vontades, balizada a liberdade na função
socioeconômica do contrato e na boa-fé dos contratantes.
AUTONOMIA DA VONTADE
Esse fenômeno de controle da autonomia da vontade é conhecido como dirigismo
contratual, implicando a intervenção estatal na economia, com repercussão nos
negócios jurídicos. O Estado intervém não apenas com normas públicas, mas
também adotando a revisão judicial dos contratos. Desta índole nasceu a teoria da
imprevisão ou, atualmente, onerosidade excessiva do art. 6º, V, do CDC.

Dos Direitos Básicos do Consumidor


Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;
AUTONOMIA DA VONTADE
Este princípio implica:

Liberdade de contratar – é o arbítrio de decidir, porém a liberdade não é absoluta, podendo a lei impor a
obrigações.

Liberdade de escolher o outro contrate – poder de determinar com quem quer contratar.

Liberdade de fixar o conteúdo do contrato: também chamado de poder de policitação ou pontuação, sou
seja, de livremente discutir as cláusulas contratuais, além de adotar instrumentos previstos em lei, tem
liberdade de criar novos instrumentos, respeitando os limites da lei, conforme art. 425 CC.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais
fixadas neste Código.
CONSENSUALISMO
Este princípio decorre da concepção de que o contrato
resulta do consenso, do acordo de vontades,
independentemente da entrega da coisa (tradição).
Tomemos por exemplo o contrato de Compra e Venda,
tipicamente consensual. O contrato já está perfeito e
acabado desde o momento em que o vendedor aceitar o
preço oferecido pela coisa, independente da entrega da
mesma. O pagamento e a entrega constituem outra fase, a
do cumprimento das obrigações assumidas.
PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS
DO CONTRATO
A denominação correta é Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato, e não Relatividade
dos Contratos, isso porque, a relatividade tem força nos efeitos que o contratos produz, ou
seja, o contrato somente vincula as partes contratantes. A relatividade diz respeito ao
fato de o contrato possuir eficácia inter partes, não podendo ser oponível contra todos
(erga omnes), a não ser que se transforme em direito real, como no caso do compromisso de
compra e venda, que é levado ao registro no Cartório de Registro de Imóveis. O princípio
também se aplica ao objeto, pois o contrato não vincula bens que não pertençam às partes.

Exceções:

➢ Estipulação em favor de terceiro;

➢ Contrato com pessoa a declarar.


PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DAS
CONVENÇÕES

Também chamado de Princípio da Intangibilidade dos Contratos, derivado da


máxima do Direito Romano pacta sunt servanda, "os contratos têm que ser
cumpridos". Este princípio estabelece a força vinculante daquilo que foi
convencionado. Seu entendimento desdobra-se em duas máximas:
- A necessidade de segurança nos negócios;
- Intangibilidade ou imutabilidade decorrente da convicção de que o contrato
faz lei entre as partes, não podendo ser alterado nem pelo juiz. Qualquer
modificação precisará ser bilateral.
Princípios ➢Princípio da função social
modernos do do contrato;
direito ➢Princípio da equivalência
contratual material;
➢Princípio da boa fé objetiva.
Princípio da função social do contrato e da
boa-fé objetiva

O aspecto social deve ser analisado na formação dos contratos, não


apenas os requisitos de validade.
Quais são seus aspectos ambientais, trabalhistas, sociais e morais?
São cláusulas gerais e com força principiológica.
Princípio da função social
Fruto de uma postura mais intervencionais do Estado.
A função social se manifesta em dois níveis (Paulo Nalin):
➢ Intrínseco: O contrato visto como relação jurídica entre as partes
negociais, impondo-se o respeito à lealdade negocial e à boa-fé
objetiva, buscando-se uma equivalência material entre os
contratantes;
➢ Extrínseco: o contrato em face da coletiva, ou seja, visto sob o
aspecto de seu impacto eficacial na sociedade em que fora
celebrado.
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
(Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da


intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença
de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes
jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que:
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação


das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)

II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)

III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)
Princípio da boa fé
(Lei da Palmada – Lei n° 13.010 de 2014) que
acrescentou no ECA Art. 18-A e 18-B
EXEMPLO:
Pai que, sob a alegação de educar, castiga
EXTRACONTRATUAL fisicamente seu filho , humilha, ameaça
gravemente ou ridiculariza a criança/
adolescente.

Enunciado 411 JDC


ESPÉCIES DE
DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO
ABUSO DE
(STJ, AgRg no REsp 838.127/DF de 2009)
DIREITO
VIOLAR O PRINCÍPIO DA FUNÇÃO
CONTRATUAL SOCIAL DO CONTRATO

Enunciado 26 JDC

VIOLAR O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ*

Prof. Me. Zélia Prates


Princípio Constitucional da
Solidariedade

Princípio Constitucional do
CARÁTER Devido Processo Legal

MULTIFACETÁRIO Enunciado 414 da JDC

DO ABUSO DE
Princípio Constitucional da
Proteção da Confiança
DIREITO

Todos os Ramos do Direito

Prof. Me. Zélia Prates


DIFERENÇA ENTRE BOA-FÉ SUBJETIVA E OBJETIVA

BOA-FÉ SUBJETIVA BOA-FÉ OBJETIVA


TRÍPLICE FUNÇÃO ACUMULATIVA
a) ESTADO DE IGNORÂNCIA PSICOLÓGICA:
Atua como se o titular fosse, ainda sem a I – INTERPRETATIVA (Art. 113 do CC)
titularidade e sem consequente legitimação Direcionada para o juiz interpretar o negócio
para o exercício. jurídico

II – CONTROLADORA/LIMITADORA/RESTRITIVA
(Art. 1.201 do CC)
(Art. 187 do CC) - Limitação do direito subjetivo

III – INTEGRATIVA (Art. 422 do CC)


Fonte de criação de deveres secundários da
prestação – Deveres Anexos.

Prof. Me. Zélia Prates


PRÉ-CONTRATUAL
Enunciado 25 e 170 JDC

APLICAÇÃO
CONTRATUAL

PÓS-CONTRATUAL
BOA-FÉ “post factum finitum”

OBJETIVA Enunciado 26 JDC


JUIZ PODE SUPRIR OU CORRIGIR O CONTRATO
(sem prejuízo sobre as indenizações)

Enunciado 168 JDC


Art. 422 CC DIREITO A CUMPRIR EM FAVOR DO TITULAR
PASSIVO DA OBRIGAÇÃO
Prof. Me. Zélia Prates
a) SUBJETIVO – associado à
razoabilidade;
Enunciado 413 JDC

BONS COSTUMES
b) OBJETIVO – relacionado à
proporcionalidade dos
negócios jurídicos

BOA-FÉ
Enunciado 24 JDC

OBJETIVA DEVERES ANEXOS*

DESDODRAMENTOS
Enunciado 412 JDC

CONCREÇÕES*

Prof. Me. Zélia Prates


Enunciado 363 JDC
PROBIDADE E CONFIANÇA SÃO DE ORDEM PÚBLICA
DEVERES ANEXOS / (As partes apenas demonstram sua violação)
DEVERES SATELITÁRIOS /

DEVERES ACESSÓRIOS /
PROTEÇÃO

DEVERES LATERAIS /
LEALDADE
INADIMPLEMENTO POSITIVO /

ADIMPLEMENTO RUIM
COOPERAÇÃO

RAZOABILIDADE
RESPONSABILIDADE

OBJETIVA INFORMAÇÃO
Enunciado 24 JDC
(Cristiano Vieira Sobral Pinto) Prof. Me. Zélia Prates
Enunciado 362 JDC
Informa que não quer
“VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM” renovar o contrato de
locação e continua com o
(vedação contra comportamento contraditório) objeto.

“SUPRESSIO”
(renúncia tácita de determinada posição jurídica)
Proprietário não propõe
ação possessória e a outra
parte ganha por usucapião
“SURRECTIO”
CONCREÇÕES DA (surgimento de uma posição jurídica pelo costume)

BOA-FÉ OBJETIVA “TU QUOQUE” Relativamente incapaz


mente ao dizer que é
(quem viola a norma convencionada, não pode se maior de idade, mas
beneficiar desse ato) depois quer invalidar o
contrato.
Enunciado 412 JDC Enunciado 169 JDCc
“DUTY TO MITIGATE THE LOSS” Fazer três orçamentos do
seu prejuízo em locais
(dever do credor de minimizar as próprias perdas) mais caros.
Enunciado 361 JDCc
Falta duas parcelas e está
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL desempregado, sem poder
Prof. Me. Dr. Anderson Nogueira trabalhar.
O contrato é intangível, desde que observados os princípios da
autonomia da vontade, da função social e da boa-fé, não havendo
qualquer respaldo, a partir de então, para ser descumprido. Só
não haverá rescisão com a incidência de perdas e danos ou de

Hipóteses de
obrigação de fazer ou não fazer nas seguintes hipóteses:

Distrato entre as partes (art. 472 do CC)

rescisão do Resilição unilateral, ou seja, uma das partes tem poder jurídico
para desfazer o contrato em vez de cumpri-lo (art. 473 do CC)

contrato Rescisão: extinção do vínculo contratual por falta imputável ao


devedor, inadimplemento contratual;

Resolução por caso fortuito ou força maior (art. 393 do CC)

Resolução por onerosidade excessiva (art. 478 do CC).

Nestas hipóteses existe a relativização da obrigatoriedade dos


contratos.
Distrato entre as partes (art. 472 do CC) ou Resilição bilateral
Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o
contrato.
Ex.: partes de mútuo acordo resolvem por fim no contrato.
Resilição unilateral, ou seja, uma das partes tem poder
jurídico para desfazer o contrato em vez de cumpri-lo
(art. 473 do CC)

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou


implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver
feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só
produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o
vulto dos investimentos.
Ex.: contrato de prestação de serviços, art. 599, CC
Resolução por caso fortuito ou força maior (art. 393
CC).

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito
ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário,


cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
Resolução por onerosidade excessiva (art. 478 do CC)

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma


das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a
outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o
devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar
retroagirão à data da citação.
Formação dos contratos
REQUISITOS ESPECÍFICOS DOS CONTRATOS

Manifestação de é a mesma capacidade civil exigida


duas ou mais como requisito geral para todos os
vontades c/ negócios jurídicos.
capacidade genérica
capacidade especial, já que existem
certas limitações à liberdade de contratar.
Aptidão específica São as hipóteses em que é exigida a
Requisitos Subjetivos
para contratar legitimação, como no caso da autorização
marital ou outorga uxória (art. 1.647 CC).

diz respeito à manifestação de vontade


sobre as condições do contrato. A
Consentimento vontade deve ser livre e espontânea,
isenta dos vícios de consentimento e
social, como requisito genérico de
qualquer negócio jurídico.
REQUISITOS ESPECÍFICOS DOS CONTRATOS
Licitude do que não contraria a lei, a moral ou os bons
objeto costumes.

Possibilidade deve existir fisicamente, podendo integrar uma


física e jurídica relação jurídica e haver a permissão ou não
do pedido proibição legal sobre o objeto.
Requisitos
Objetivos é a certeza e individualização ou a possibilidade de
Determinação determinar a qualidade do objeto no momento da
do objeto execução do contrato (gênero e quantidade devem ser
determinados no momento da conclusão do negócio).

deve ter valor econômico. Conforme ensina Maria Helena


Economicidade Diniz “dever versar sobre interesse economicamente
do objeto apreci vel, capaz de converter, direta ou indiretamente,
em dinheiro.” (DINIZ; 2011, p. 38.)
REQUISITOS ESPECÍFICOS DOS CONTRATOS
Forma prescrita ou não defesa em lei.
Sistemas universais:
a) Consensualismos: liberdade de forma;
b) Formalismo: forma obrigatória
REGRA NO BRASIL: LIBERDADE DE FORMAS, ART. 107, CC.

Qualquer meio de manifestação de vontade


Livre (escrito, verbal, escrito público ou particular,
gestos etc.) será válido.

é aquela que lei exige para a validade e produção


Espécies Especial de efeitos do negócio jurídico. Ela pode ser única
(v.g. arts. 108, 1.964, 1.535 e 1.536 CC) ou
de formas ou solene múltipla, quando o ato puder ser formalizado por
diversos modos (v.g. arts. 62, 842, 1.609 e
1.806CC).

Contratual é aquela pactuada entre as partes (art. 109 C).


ESTRUTURA DO INSTRUMENTO DE CONTRATO

Identificação das qualificação (nome, nacionalidade, estado civil,


partes profissão, portador da cédula de identidade, CPF e
endereço). Contratado: qualificação (nome,
contratantes nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF e
endereço).

Objeto do Se refere à prestação de dar, fazer ou não fazer, p.


contrato ex.: entregar o imóvel, pagamento em dinheiro,
prestação de serviço, abstenção de um ato etc.

Cláusulas É a avença propriamente dita. As cláusulas


contratuais contratuais definirão o modo como as partes
cumprirão sua obrigação contratual. Elas versarão
sobre o prazo, forma de pagamento, atos a serem
cumpridos de acordo com a espécie contratual.
INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS

OBJETIVA SUBJETIVA

Cumpre observar que a interpretação objetiva é subsidiária, pois suas regras


só se invocam se falharem as que comandam a interpretação subjetiva.
Assim, o código civil brasileiro deixou a tarefa da hermenêutica contratual,
quase que por inteiro, para a doutrina e a jurisprudência.
a) Interpretação Subjetiva: É denominada pelo
princípio da interpretação da vontade real. Tal
investigação precede a qualquer outra,
devendo o intérprete indagar antes de mais
nada, qual foi a intenção comum das partes, e
não a vontade singular de cada declarante,
atendendo ainda ao comportamento coetâneo
e posterior à sua celebração. A intenção das
partes passa a ser comum com a integração das
vontades, mas não se sabe o que
verdadeiramente se deve entender com o tal
nem como conduzir a investigação para
descobri-la. Entretanto, a interpretação
subjetiva é necessária, pois o objeto da
interpretação do contrato é sempre a vontade e
a meta a ser alcançada pelo intérprete, a exata
determinação dos efeitos jurídicos que as
partes quiseram provocar.
b) Interpretação objetiva. O intérprete deve examinar o
contrato principalmente do ponto de vista da vontade das
partes, mas nem sempre se consegue saber o que
subjetivamente queriam. Assim, o legislador ajuda à medida
que dita preceitos interpretativos.
Princípios básicos para a interpretação objetiva:

a) Princípio da Boa fé: O princípio da boa-fé é uma regra que contribui


para precisar o que se deve entender como o consenso. Com isso, o que
importa o “significado objetivo” que o aceitante de proposta de
contrato “podia e devia” entender razoavelmente (boa-fé objetiva).

b) Princípio da Conservação do Contrato: O princípio da conservação do


contrato, funda-se na razão principal de que não se deve supor que as
partes tenham celebrado um contrato inutilmente (baseado no Princípio
da Pacta Sunt Servanda).
Princípios básicos para a interpretação objetiva:
c) Princípio da “Extrema Ratio” (menor peso e equilíbrio das prestações). A
“extrema ratio” uma regra que se inspira na necessidade de atribuir ao contrato
um significado. Estas regras de interpretação objetiva são normas jurídicas ligadas
à estrutura do contrato, à sua função e à retidão das técnicas de contratação que
atualmente se empregam em certos setores econômicos, como por ex.: a do
contrato em massa. Desta forma, se a sua obscuridade permanecer a despeito da
aplicação de todos os princípios e regras de interpretação (mencionados
anteriormente), recorre o intérprete ao critério extremo que o orienta no seguinte
sentido:
c.1) entendê-lo menos gravoso para o devedor, se gratuito;
c.2.) entendê-lo equitativo equilíbrio entre os interesses das partes, se a título
oneroso.
USOS INTERPRETATIVOS
Resultam da repetição constante do modo de agir na execução de determinado
contrato. (Exemplo: dilatar por 30 dias o pagamento considerado à vista do preço de
certas mercadorias).
Os usos interpretativos apresentam duas funções:
a) uma estritamente hermenêutica: interpretação
b) outra nitidamente supletória: ao uso supletivo recorre-se para integrar lacuna do
contrato, podendo ser excluído por vontade expressa das partes, enquanto ao uso
interpretativo “stricto sensu” deve o interprete reportar-se para investigar se há
efeitos jurídicos não declarados, mas correspondentes ao que é usual em tais
contratos. O uso pode instaurar-se no curso de uma relação contratual, como se
verifica quando as duas partes observam durante muito tempo, conduta uniforme a
que se atribui habitualmente determinada significação, e não pode ser considerada
nova cláusula tacitamente admitida pelas partes.
Formação dos contratos
Proposta
Aceitação
FASES DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES / PUNTUAÇÃO: Trata-se de mera negociação que


não pode ser confundida com contrato preliminar, pois não vincula nenhuma das
partes.

PROPOSTA / OFERTA / POLICITAÇÃO: “A oferta traduz uma vontade definitiva de


contratar nas bases oferecidas, não estando mais sujeita a estudos ou discussões,
mas dirigindo-se à outra parte para que esta a aceite ou não; é, portanto, um
negócio jurídico unilateral, construindo elemento da formação contratual.”
(GONÇALVES; 2013, p. 742)

Distingue-se neste ponto das negociações preliminares, pois estas não possuem o
caráter de vontade definitiva, por isso não passam de estudos e sondagens, sem
força obrigatória.
Requisitos

Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente,


se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso

a) Todos os elementos essenciais do negócio proposto:


Ex.: preço, quantidade, tempo de entrega, forma de
pagamento etc.

b) Séria: Tendo em vista que esta proposta vincula o


proponente.
Exceções: (Propostas não obrigatórias)
I. Se contiver cláusula expressa a respeito. Neste caso, o próprio proponente declara que não é
definitiva e se reserva o direito de retirá-la. Ex.: Valor de mil reais - “proposta sujeita a
confirmação”. Neste caso, como não possui força obrigatória, se mesmo assim a outra pessoa
aceitar será por seu risco, pois não advirá nenhuma consequência para o proponente caso este
opte em revogá-la. (GONÇALVES; 2013, p. 742)

II. Em razão da natureza do negócio Art. 429. do CC -


A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato,
salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que
ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
Ex. Em caso de propostas que informam que só será válida enquanto durarem os estoques do
produto.
III. Em razão das circunstâncias do caso: Art. 428.

Deixa de ser obrigatória a proposta:


A - Se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se
também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
“Pegar ou largar, se não responde logo, dando pronta aceitação, caduca a proposta, liberando-
se o proponente.” (PEREIRA; 2008, p. 42)

B — Se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a
resposta ao conhecimento do proponente; “Cuida-se de oferta enviada, por corretor ou
correspondência, a pessoa ausente. Uma pessoa não é considerada ausente, para este fim, por
se encontrar distante do outro contratante, visto que são considerados presentes os que
contratam por telefone, mas, sim, devido a inexistência de contato direto” (GONÇALVES; 2013,
p. 744)
Neste caso, este prazo deve ser razoável, não especificando o legislador nem a doutrina o
devido prazo correto. Por este motivo, o prazo denominado de “Prazo Moral”.
C — Se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo
dado; Neste caso, na própria proposta foi fixado o prazo (pode ser via termo ou
condição).

D — Se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a


retratação do proponente. “Casos em que as duas declarações de vontade (proposta
e retratação), por serem contraditórias, nulificam-se e destroem-se reciprocamente.
Não importa de que via ou meio se utiliza o proponente (carta, telegrama, mensagem
por mão de próprio, etc.).” (PEREIRA; 2008, p. 44)
ACEITAÇÃO / CONCLUSÃO DO NEGÓCIO

“É manifestação de vontade, a concordância com os termos da proposta. É


imprescritível para que se repute concluído o contato, pois, somente quando se
converte em aceitante e faz aderir a sua vontade à do proponente, a oferta se
transforma em contrato.” (GONÇALVES; 2013, p. 744)
ESPÉCIES
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa,
ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não
chegando a tempo a recusa.

a) Expressa: Trata-se da regra geral, ressaltando que a aceitação expressa pode


ser escrita (privada ou instrumento público), bem como verbal ou gestual.
b) Tácita: podendo ocorrer nas seguintes hipótese:
I – Quando o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa:
Ex.: um fornecedor de produtos cosméticos envia constantemente os seus produtos a
determinado comerciante e este, sem confirmar os pedidos, efetua os pagamentos.
Observação: Para cessar o contrato: “Se o último, em dado momento, quiser
interrompê-la, terá de avisar previamente o fornecedor, sob pena de ficar obrigado ao
pagamento de nova remessa, nas mesmas bases das anteriores.” (RODRIGUES; 2008,
p. 71)

II – Quando o proponente a tiver dispensado: Ex.: um turista envia via e-mail reserva
a determinado hotel, conforme o valor informado no site, se o turista não receber
aviso contrário negando a reserva, ter-se-á a aceitação.
DIFERENÇA ENTRE RETRATAÇÃO E CONTRAPROPOSTA

a) Retratação: “declaração de vontade, que continha a aceitação, desfaz-se


antes que o proponente pudesse tomar qualquer deliberação no sentido da
conclusão do contrato” (BEVILÁQUA, 1917-1923, p. 1124) Art. 433

b) Contraproposta: “como a proposta perde a força obrigatória depois de


esgotado o prazo concedido pelo proponente, a posterior manifestação do
solicitado também não obriga o último, pois não se trata de aceitação, e sim de
nova proposta.” (GONÇALVES; 2013, p. 748) Art. 431. A aceitação fora do
prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.
NÃO HAVERÁ FORÇA VINCULANTE DA ACEITAÇÃO

a) Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar


tarde ao conhecimento do proponente: Art. 430. Se a aceitação, por circunstância
imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á
imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.

b) Se antes da aceitação ou com ela chegar ao proponente a retratação do


aceitante Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela
chegar ao proponente a retratação do aceitante.
TEORIAS DA ACEITAÇÃO

a) Entre Presentes: “A proposta pode estipular ou não prazo para a aceitação. Caso o
policitante não estabeleça nenhum prazo, esta deverá ser manifestada
imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculativa. Se, no entanto, a
policitação estipulou prazo, a aceitação deverá operar-se dentro dele, sob pena de
desvincular-se o proponente.” (GONÇALVES; 2013, p. 748)

b) Entre Ausentes I – Teoria da Informação / Cogitação Neste caso, seria realizado o


contrato com a chegada da resposta ao conhecimento do policitante/proponente.
Entretanto, basta a chegada da “correspondência” para seu aperfeiçoamento, ou
seja, exige-se que seja aberta para tomar conhecimento do teor do conteúdo.
Teoria da Declaração / Agnição (esta teoria divide-se em três)

A – Teoria da Declaração Propriamente Dita. Esta teoria é minoritária, tendo em vista a


dificuldade de identificar o momento real, pois acredita-se que o contrato é concluído
no momento da redação da “correspondência” do aceitante.

B – Teoria da Expedição Considera-se o dia da expedição da aceitação da proposta.

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é
expedida, exceto:
I no caso do artigo antecedente;
II se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III se ela não chegar no prazo convencionado.
c – Teoria da Recepção: Neste caso, além de escrita e expedida, a resposta deve ser
entregue ao seu destinatário final e, este toma conhecimento. Assim, esta teoria
difere da cognição-informação, pois aqui exige-se o efetivo conhecimento e não
somente a entrega da correspondência.

No que tange as exceções do Art. 434 (incisos I e II) e 433 (sobre a retratação):
“Ora, se sempre permitida a retratação antes de a resposta chegar as mãos do
proponente e se ainda não é considerado concluído o contrato na hipótese de a
resposta não chegar no prazo convencionado, na realidade, o referido diploma
filiou-se à teoria da recepção e não da expedição.” (GONÇALVES; 2013, p. 750)
Sugestões, dúvidas e frustrações…

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@zeliaprates

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