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Apresentação
Sua vida está cercada de contratos. Você contrata para assistir a programas e séries, para enviar
mensagens de seu smartphone, para se deslocar de um local para outro por meio do serviço de
transporte de terceiros, para realizar consultas médicas, etc. Cada contrato firmado tem
peculiaridades que repercutirão nos efeitos jurídicos que emanarão desse contrato, assim como na
tutela jurídica aplicável em caso de descumprimento. Deste modo, é de extrema importância saber
diferenciar as classes de contratos que podem ser entabulados pelas partes.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você examinará a classificação dos contratos e poderá vislumbrar
como os tribunais superiores aplicam a doutrina contratual em suas decisões.
Bons estudos.
Para se certificar de que suas condições seriam respeitadas, Dr. Ivo consultou você para saber
quais providências seriam cabíveis na legalização dessa situação. No papel de advogado do Dr. Ivo,
como você responderia as seguintes perguntas:
No capítulo Formas de classificação dos contratos, da obra Direito Civil III: teoria geral dos
contratos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a classificação dos
contratos, compreendendo as peculiaridades contratuais e suas consequências jurídicas,
assim como observar como os tribunais utilizam a classificação contratual para fundamentar as suas
decisões.
Boa leitura.
DIREITO CIVIL III:
TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
O Direito é uno. A divisão por ramos — como Direito Penal, Constitucional
e Civil — é uma forma de facilitar, didaticamente, a compreensão do
fenômeno jurídico. No Direito dos Contratos, realiza-se a mesma técnica,
seccionando o estudo contratual pela sua natureza jurídica, definição,
características e classificação.
Considerando que os contratos são instrumentos de suma relevância
social, econômica e, por conseguinte, jurídica, a sua análise pormeno-
rizada é fundamental. O estudo da classificação dos contratos permite
desvendar peculiaridades desses instrumentos negociais que repercutirão
nos seus efeitos. Em outras palavras, as peculiaridades de cada contrato
servirão de guia para a avaliação da sua validade e eficácia.
Neste capítulo, você vai ler sobre a classificação dos contratos, conhe-
cer as formas de classificação e verificar como os tribunais se posicionam
acerca do tema para resolver as questões concretas.
Quanto ao tempo
Como ensina Pereira (2017), todo contrato é negócio jurídico bilateral, visto
que a sua constituição requer a manifestação de vontade das partes para
a formação do consenso. Essa categorização dos contratos como negócios
jurídicos bilaterais é diversa da classificação dos contratos como unilaterais,
bilaterais ou plurilaterais.
Assim, a bilateralidade dos negócios jurídicos contratuais é seu elemento
constitutivo — sem ela, não há contrato. Entretanto, os contratos, cuja natureza
jurídica é de negócios jurídicos bilaterais podem ser classificados segundo
a forma como a prestação foi acordada pelas partes ou segundo os efeitos
obrigacionais ajustados, como unilaterais, bilaterais ou plurilaterais.
[...] quando o contrato estabelecer apenas uma “via de mão única”, com as
partes em posição estática de credor e devedor, pelo fato de se estabelecer
uma prestação pecuniária apenas para uma das partes, como na doação sim-
ples, falar-se-á em contrato unilateral (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2010, p. 112).
comodato;
mútuo;
depósito;
Classificação dos contratos 5
mandato;
doação;
fiança.
contrato de sociedade;
contratos de consórcio;
contrato de condomínio.
Os contratos onerosos são aqueles que trazem vantagens para ambos os con-
tratantes, pois ambos sofrem o mencionado sacrifício patrimonial (ideia de
proveito alcançado). Ambas as partes assumem deveres obrigacionais, havendo
um direito subjetivo de exigi-lo. Há uma prestação e uma contraprestação.
A onerosidade da prestação de uma das partes não poderá ser excessiva, sob
pena de enriquecimento sem causa da outra parte. Não há responsabilidade por
vícios redibitórios ou evicção nos contratos gratuitos, somente nos onerosos,
consoante arts. 441 e 447 do Código Civil (BRASIL, 2002).
A maioria dos contratos unilaterais é gratuita, mas há exceções. No con-
trato de mútuo feneratício, mais conhecido como contrato de empréstimo
bancário, embora seja um contrato unilateral (obrigação de restituir o valor
emprestado apenas para o mutuário), o contratante deverá pagar juros, que
representam a onerosidade contratual, pela vantagem que obteve em utilizar
o dinheiro alheio pelo período contratado (TARTUCE, 2017). Portanto, é
exemplo de um contrato unilateral e oneroso.
A interpretação dos contratos gratuitos será sempre mais restritiva do que
a dos onerosos, isso porque diz respeito a uma liberalidade, conferindo maior
proteção ao contratante que agiu por generosidade, gratuitamente.
troca;
compra e venda de coisa certa;
locação.
contratos de seguro;
contrato de esperança ou de safra;
jogo (máquina de pegar bichinhos de pelúcia, entre outros);
aposta (loteria, entre outros).
Não caberá a rescisão contratual por lesão, nem mesmo ação redibitória,
nos contratos classificados como aleatórios. Ademais, a resolução ou revisão
por onerosidade excessiva apenas caberá nos casos em que o evento superve-
niente, imprevisível e extraordinário não se relacionar com o risco assumido
contratualmente (PEREIRA, 2017).
A compra e a venda, embora sejam geralmente um contrato comutativo,
podem configurar contrato aleatório, como nos seguintes exemplos:
Contratos evolutivos
civis;
consumeristas;
comerciais;
administrativos;
trabalhistas.
12 Classificação dos contratos
locação;
compra e venda;
mandato.
Reais — são reais os contratos que só se aperfeiçoam com a entrega da coisa que
constitui seu objeto, pois apenas o consentimento das partes não basta para o
contrato estar constituído. A entrega da coisa (tradição), nos contratos reais, é consi-
derada requisito de existência (VENOSA apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2010), portanto, enquanto não tiver sido entregue o bem, haverá no máximo uma
promessa de contratar. Significa dizer que, ao contratar um empréstimo bancário
(contrato de mútuo feneratício), o correntista não será considerado devedor antes
Classificação dos contratos 13
que o valor do empréstimo esteja em sua conta corrente; ou, se o sujeito contratar
um comodato, antes de sair da biblioteca com a posse do livro. São exemplos:
comodato;
mútuo;
depósito;
penhor.
Típicos — são aqueles que têm previsibilidade legal, ou seja, aqueles regulados pelo
Direito Positivo. São os contratos dispostos pela legislação em vigor. São exemplos:
compra e venda;
doação;
locação;
depósito;
seguro;
comodato;
mútuo.
14 Classificação dos contratos
Atípicos — são aqueles não regulados em lei, como, por exemplo, os contratos
de hospedagem, factoring e leasing, entre tantos outros. Atípico é um contrato
não disciplinado pelo ordenamento jurídico, embora lícito, pelo fato de restar
sujeito às normas gerais do contrato e não contrariar a lei, os bons costumes
ou os princípios gerais do Direito.
Igualmente aos contratos típicos, os contratos atípicos devem seguir as
disposições normativas dos arts. 421 e 422 do Código Civil (BRASIL, 2002,
documento on-line):
prestação de serviços;
empreitada;
corretagem.
Classificação dos contratos 17
hipoteca;
fiança;
penhor.
Preliminares (ou pactum de contrahendo) — são aqueles que têm por finalidade
a celebração de um contrato definitivo. Um exemplo é a promessa de compra e
venda — por meio dessa promessa, as partes comprometem-se a realizar o contrato
definitivo de compra e venda que irá transferir a propriedade do bem.
Definitivos — aqueles que atingem o objetivo negocial das partes, sem ne-
cessidade de outro que os complemente.
BRASIL. Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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Disponível em: <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23365508/agreg-no-recurso-
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em: 20 ago. 2108.
COOTER, R.; ULEN, T. Direito e economia. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil: contratos. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v. 4.
GIRARDI, L. J. Curso elementar de Direito romano. Porto Alegre: Livraria Acadêmica, 1984.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2010. v. 3.
LÔBO, P. Direito Civil: contratos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2011
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 3.
TARTUCE, F. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie.12. ed. São Paulo:
Editora Forense, 2017. v. 3.
Leituras recomendadas
ALMEIDA, C. F. Contratos: conceito, fontes e formação. 5. ed. Coimbra: Edições Almedina,
2014. v. 1.
ROPPO, E. O contrato. Coimbra: Edições Almedina, 2009.
SILVA, C. V. C. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
Conteúdo:
Dica do professor
Você sabe diferenciar a categoria dos negócios jurídicos bilaterais da classificação dos contratos
como bilaterais? No estudo da classificação dos contratos é muito comum confundir algumas
categorias.
Nesta Dica do Professor, você vai poder examinar tanto os negócios jurídicos bilaterais quanto os
contratos bilaterais, compreendendo essas noções distintas.
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Exercícios
A) Os contratos onerosos são aqueles em que apenas uma das partes auferirá benefícios; a
outra, apenas os ônus.
2) Os contratos são classificados, doutrinariamente, de acordo com seus efeitos, com o tempo
de sua execução, dentre outras peculiaridades. Isso significa dizer que estes se agrupam em
classes contratuais a depender de características semelhantes.
No que diz respeito à prestação pactuada, ou à natureza da obrigação, é correto dizer que:
E) os contratos onerosos são sempre unilaterais, pois os ônus são impostos apenas para um dos
contratantes.
3) Quanto aos contratos considerados de forma autônoma, ou seja, sem relações com outros
contratos, marque a alternativa correta.
A) Quanto à forma, os contratos são qualificados de acordo com o microssistema jurídico que
fazem parte, como, por exemplo, em contratos civis, consumeristas, comerciais, etc.
C) A exceção de contrato não cumprido pode ser invocada nos contratos unilaterais.
D) Serão formais, ou solenes, aqueles contratos cuja validade depende de forma estabelecida em
lei.
B) os contratos preliminares são aqueles que atingem o objetivo negocial das partes, sem
necessidade de outro que o complemente.
D) os contratos principais são aqueles que têm por finalidade a celebração de um contrato
definitivo. Exemplo: promessa de compra e venda.
E) os contratos definitivos são aqueles que se cumprem por meio de atos reiterados, como o
contrato de locação e o contrato de trabalho.
5) Marque a alternativa correta no que diz respeito à classificação dos contratos considerados
em si mesmos.
A) Nos contratos de execução continuada, a prestação de uma das partes não ocorre de pronto,
ocorre a termo. O contrato não se renova, mas sua execução é atrasada, como no caso da
compra e venda para pagamento em 30 dias.
D) Os contratos individuais são utilizados, normalmente, nas relações entre patrão e empregado,
pois os sindicatos ou associações acabam por representar uma coletividade.
Neste Na prática, você vai ver exemplos bem simplificados dos contratos instantâneos, de
execução diferida e de execução continuada, com base na doutrina de Caio Mario da Silva Pereira,
assim como na de Paulo Lôbo.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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