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CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

Segundo registra o léxico, “classificar” significa


“distribuir em classes e nos respectivos grupos, de acordo com
um sistema ou método de classificação” (HOUAISS, Antônio E
VILAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 737). A
doutrina e o legislador, quando versam sobre os contratos, não
raro mencionam a existência de grupos (classes ou categorias)
que compreendem espécies (modalidades) contratuais governadas
por regras idênticas ou semelhantes. Nesse sentido:

“Os contratos agrupam-se em diversas categorias,


suscetíveis, isoladamente, de subordinação a
regras idênticas ou afins. Daí a utilidade de sua
classificação” (GOMES, Orlando. Contratos. Rio de
Janeiro: Forense, 2008. p. 83).

Assim é que o art. 425 do Código Civil, por


exemplo, fala em “contratos atípicos”. O art. 441 alude a
“contrato comutativo”. O art. 447 se refere aos “contratos
onerosos”. Os arts. 458/461 tratam dos “contratos aleatórios”.
Já os arts. 462/466 disciplinam o “contrato preliminar”. O
art. 476 remete à categoria dos “contratos bilaterais”,
enquanto o art. 478 regula a resolução por onerosidade
excessiva, nos “contratos de execução continuada ou diferida”.

Enfim, cumpre conhecer e estudar cada uma dessas


categorias, para que se posa identificar, no caso concreto, a
possibilidade de incidência das normas antes referidas. Quanto
à importância prática do estudo dessas categorias, invoque-se,
mais uma vez, a lição de Orlando Gomes:
“Interessa distingui-las, pois o conhecimento das
suas particularidades é de considerável interesse
prático. Há quem lhes atribua valor puramente
teórico e considere que sua utilidade é a de uma
nomenclatura destinada a tornar mais simples a
linguagem do legislador, mas esse juízo não
procede em face da importância das qualificações
em Direito” (op. cit., p. 83).

CONTRATOS TÍPICOS E ATÍPICOS

A doutrina tradicional utilizava os termos


contratos nominados e contratos inominados. A raiz dessa
distinção está no fato de que nem todos os acordos de vontade
eram, no princípio do direito romano, reconhecidos como
contratos (como, v.g., a emptio-venditio). Os pacta,
inicialmente, não eram contratos e, portanto, não tinham nomes
específicos, produzindo seus efeitos apenas indiretamente. Daí
a distinção.

No direito moderno, todos os contratos são


igualmente dotados de efeitos, geram direitos e obrigações e,
portanto, dispõem de ações para defendê-los. Assim, a
distinção romana não faz mais sentido. Ainda assim, alguns
autores mantêm a nomenclatura contratos nominados e contratos
inominados.

É claro que a significação não é a mesma. Até por


isso mesmo, a doutrina tem utilizado, com maior freqüência, a
denominação contratos típicos e contratos atípicos. O Código
Civil, aliás, usa essa denominação no art. 425, que, por
sinal, positivou antiga convicção da doutrina.
Segundo Caio Mário da Silva Pereira, “Diz-se que
um contrato é típico (ou nominado) quando as suas regras
disciplinares são deduzidas de maneira precisa nos Códigos ou
nas leis”.

De acordo com Araken de Assis (com apoio na


doutrina de Roppo), várias razões de ordem histórica,
econômica e social levaram ao desenvolvimento de “modelos de
operação econômica” (Comentários ao Código Civil Brasileiro.
v. V. Coord. Arruda Alvim e Thereza Alvim. Rio de Janeiro:
Forense, 2007. p. 29). O ordenamento jurídico progressivamente
se apropria desses modelos, criando, assim, “tipos legais”,
cuja função “reside na determinação do regime jurídico
porventura aplicável ao negócio” (op. cit., p. 30).

Contratos atípicos, por sua vez, são aqueles que


não estão especificamente regulados e nascem no tráfego
jurídico como expressão de liberdade contratual (liberdade de
estabelecer o conteúdo dos contratos, ou seja, liberdade de
obrigar-se).

A rigor, parece haver uma sedimentação de usos


negociais (ou seja, contrato como “operação econômica”), que,
em princípio, não estão tipificados, não estão previstos em
lei. Na medida em que esses usos se sedimentam, o legislador
trata de positivá-los (ou de coibi-los, também por meio de
lei). Veja-se o que ocorreu com os contratos de distribuição e
de transporte, entre outros, que não tinham previsão legal até
o advento do Código Civil de 2002. No entanto, eles já eram
praticados largamente. Foi, portanto, essa sedimentação de uso
que levou o legislador a discipliná-los em lei.

Outros contratos permanecem atípicos, como, por


exemplo, o de hospedagem e o de guarda e limpeza de veículo.
A importância dessa distinção (entre contratos
típicos e atípicos) está em que, celebrando contrato típico,
as partes se submetem implicitamente às regras que o
disciplinam, ou, como quer Araken de Assis, ao regime jurídico
porventura aplicável ao negócio” (op. cit., p. 30).

Orlando Gomes divide os contratos atípicos entre


contratos atípicos propriamente ditos e contratos mistos.
Contratos propriamente atípicos seriam plenamente originais;
os contratos mistos seriam formados a partir de prestações
típicas de vários contratos.

Na verdade, essa divisão, na prática, deixa de ter


grande relevância, na medida em que dificilmente um contrato
atípico deixará de conter elementos de um contrato típico.
Pense-se, por exemplo, no contrato de hospedagem. Não seria
ele um misto de locação (dos aposentos, ainda que por uma só
noite), compra e venda (por exemplo, dos itens constantes do
frigobar), prestação de serviços (de arrumação, por exemplo) e
depósito (da bagagem)?

De qualquer modo, segundo a doutrina que aceita


essa categoria, o contrato misto é uma unidade que se forma a
partir de elementos de outros contratos. Não se confundem com
eles os contratos coligados, porque nestes últimos não haveria
unidade (embora se aponte, como o faz Rodrigo Xavier Leonardo,
uma unidade de "operação econômica supracontratual").

CONTRATOS UNILATERAIS E BILATERAIS

Todo contrato, em sua formação, é negócio jurídico


bilateral. Como diz Orlando Gomes: “O contrato é o negócio
jurídico bilateral por excelência”. Essa é a análise que se
faz do momento de sua formação, em que é necessária a
conjugação de (no mínimo) duas vontades. No mesmo sentido:

“Em si mesmo, todo contrato se forma através de


duas manifestações de vontade. Por conseguinte, se
enquadra na classe dos negócios bilaterais,
compondo-se de dois lados, ocupados por partes
diferentes” (ASSIS, Araken de. Comentários ao
Código Civil Brasileiro. v. V. Coord. Arruda Alvim
e Thereza Alvim. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p.
33).

Já se viu, quando do estudo relativo à formação


dos contratos, que, no direito brasileiro, ela (a formação) se
dá pela convergência entre proposta e aceitação, exceção feita
aos denominados “contratos reais”.

Quando se diz, todavia, contrato bilateral a


ênfase é nos efeitos dos contratos, isto é, nas obrigações
criadas. Os contratos (que se formam, insista-se, pela
conjunção de pelo menos duas vontades) podem criar obrigações
(dever de prestar) para apenas uma ou para ambas as partes. No
primeiro caso, diz-se que ele é unilateral; no segundo,
bilateral. Exemplo do primeiro: doação. Exemplo do segundo:
compra e venda.

Nos contratos bilaterais, as prestações estão em


dependência recíproca, daí falar-se em sinalagma ou contratos
sinalagmáticos. A interdependência entre as prestações é
ressaltada por alguns autores, como se vê:

“Para se configurar a bilateralidade de prestações


posta como fundamento da categoria exige-se o
seguinte: a) duas prestações; b) interdependência
das prestações” (ASSIS, Araken de. Op. cit., p.
35).

Todavia, confira-se o que afirma, acerca dessa


categoria, Orlando Gomes:

“Não é pacífica a noção de contrato bilateral.


Para alguns, assim deve qualificar-se todo
contrato que produz obrigações para as duas
partes, enquanto para outros a sua característica
é o sinalagma, isto é, a dependência recíproca das
obrigações, razão porque preferem chamá-los
contratos sinalagmáticos ou de prestações
correlatas. Realmente, nesses contratos, uma
obrigação é a causa, a razão de ser, o pressuposto
da outra, verificando-se interdependência
essencial entre as prestações” (grifou-se).

Alguns autores falam em contratos bilaterais


imperfeitos, nos casos em que, tratando-se de contratos
unilaterais, surgem obrigações para a parte que usualmente não
as tinha. Pense-se, por exemplo, no caso das despesas
extraordinárias realizadas pelo comodatário. Elas devem ser
ressarcidas pelo comodante, gerando, inclusive, direito de
retenção. Segundo a melhor doutrina, entretanto, o contrato
bilateral imperfeito não deixa de ser unilateral.

Haveria, ainda, os contratos plurilaterais,


categoria também contestada. Seu exemplo seria o contrato de
sociedade.

A importância de distinguir com clareza entre


essas categorias (unilaterais e bilaterais) está nos seguintes
aspectos:
i) exceptio non adimpleti contractus: arts. 476 e
477;

ii) resolução por inadimplemento (“cláusula


resolutiva tácita”): art. 475;

iii) distribuição de riscos: nos contratos


bilaterais, as obrigações são uma a causa da outra. Portanto,
a existência de uma é subordinada à da outra parte. Nos
contratos unilaterais, res perit creditoris; nos contratos
bilaterais, res perit debitoris. v. art. 492.

CONTRATOS ONEROSOS E GRATUITOS

Essa distinção tem particular relevo, por exemplo,


na atividade de interpretação do contrato (art. 114).

Contrato oneroso é aquele em que cada uma das


partes visa a obter uma vantagem a que corresponde um
“sacrifício”. Isto é: ambas as partes visam a obter vantagens
ou benefícios, impondo-se, de consequência, sacrifícios
recíprocos. Ex.: compra e venda (art. 481). Nos dizeres de
Araken de Assis:

“Diz-se oneroso o contrato no qual à vantagem


derivada do negócio corresponde um sacrifício
subjetivamente equivalente” (op. cit., p. 37).

Contrato gratuito é o negócio jurídico bilateral


em que uma só das partes obtém um proveito e a outra suporta,
só, o encargo, o “sacrifício”. Ex.: doação (art. 538) e
comodato (art. 579). Curioso é notar que o “sacrifício” a que
se referiu acima nem sempre importa em efetiva diminuição
patrimonial (ou “perda de substância patrimonial”), podendo
restringir-se, por exemplo, à privação temporária da posse ou
da propriedade (como no comodato e no mútuo). Nesses casos,
haverá “contratos desinteressados”, que, segundo Orlando Gomes
(com apoio na obra de Messineo), seriam “subespécies dos
contratos gratuitos, nada apresentando de especial do ponto de
vista prático, mas teoricamente se distinguem dos que implicam
diminuição patrimonial, como a doação”.

Os contratos onerosos se dividem em comutativos e


aleatórios (arts. 458/461). Nos comutativos, a relação entre
vantagem e sacrifício é equivalente, havendo certeza quanto às
prestações, ou seja, as prestações de ambas as partes são de
antemão conhecidas, e guardam entre si uma relativa
equivalência de valores.

Nos contratos aleatórios, há incerteza para as


duas partes sobre se a vantagem esperada existirá ou se será
proporcional ao sacrifício. Em todo contrato há um risco, uma
álea. Mas, nos contratos aleatórios, esta é de sua essência e
foge ao “normal”.

Nos contratos comutativos, à prestação corresponde


necessariamente uma contraprestação (cuja equivalência é
subjetiva, mas a certeza é objetiva); nos contratos
aleatórios, uma das prestações pode falhar (art. 458), ou ser
desproporcional ao valor da prestação (art. 459).

Os contratos aleatórios apresentam as seguintes


classes:

- dizem respeito a coisas futuras, cujo risco de


não virem a existir assuma o adquirente (emptio spei);
- dizem respeito a coisas futuras, tomando o
adquirente o risco de virem a existir em qualquer quantidade
(emptio rei speratae);

- dizem respeito a coisas existentes, mas expostas


a riscos, ou a fatos que podem não suceder.

No que diz respeito à distinção dos contratos em


onerosos e gratuitos, é de se ter em mente a advertência feita
por Caio Mário:

“Os contratos onerosos comumente são bilaterais, e


os gratuitos da mesma forma unilaterais. Mas é
apenas uma coincidência. O fundamento das
classificações difere: uma tem em vista o conteúdo
das obrigações, e outra, o objetivo colimado. Não
há uma correspectividade necessária, pois existem
contatos unilaterais que não são gratuitos (e.g.,
o mútuo), e outros que são bilaterais e podem ser
gratuitos (o mandato, por exemplo)” (grifou-se).

No mesmo sentido, Araken de Assis:

“Embora evidente a proximidade dos respectivos


critérios, dos contratos unilaterais se distinguem
os contratos gratuitos... Existem contratos
unilaterais onerosos, a exmplo do mútuo
feneratício” (op. cit., p. 38).

CONTRATOS CONSENSUAIS E REAIS

Em princípio, o consentimento é suficiente para


formar o contrato. Alguns tipos contratuais exigem, no
entanto, que ele (o consentimento) se complete com a entrega
da coisa, que será objeto da restituição. Os contratos que se
formam exclusivamente pelo consentimento são contratos
consensuais (compra e venda, p. ex.), enquanto a formação dos
contratos reais depende da entrega da coisa, como no comodato,
no mútuo e no depósito.

CONTRATOS SOLENTES E
CONTRATOS DE FORMA LIVRE

Nos termos do art. 107 do Código Civil, as


declarações de vontade não exigem, em regra, forma especial
(exceções feitas a comandos expressamente derivados da própria
Lei). Daí que os contratos (negócios jurídicos que se formam
pela convergência de pelo menos duas vontades declaradas)
também têm, como regra geral, forma livre, ou seja, não exigem
solenidade ou formalidade para sua formação.

Denomina-se contrato solene (ou formal) aquele


“cuja forma não fica entregue ao alvedrio dos interessados,
mas integra a substância do negócio (ad substantiam)” (ARAKEN
Assis de, op. cit., p. 43).

É de se observar que, em certos casos, a forma é


exigida apenas para efeito de prova (ad probationem). Nesse
caso, tem-se, segundo Caio Mário, um formalismo indireto, que
não interfere na existência do negócio jurídico.

CONTRATOS DE EXECUÇÃO IMEDIATA,


DE EXECUÇÃO DIFERIDA E
DE DURAÇÃO (OU DE EXECUÇÃO CONTINUADA)

Contratos instantâneos são aqueles cujas


prestações podem ser realizadas em um só instante, seja ele
imediato à formação do próprio contrato (instantâneo de
execução imediata) ou algum tempo depois (instantâneo de
execução diferida). Neste último caso, tem-se o diferimento de
uma ou ambas as prestações, por meio de cláusulas que
interferem na eficácia do contrato (termo ou condição).

Como exemplo de contrato instantâneo de execução


imediata, pode-se pensar na doação: o contrato surge com a
transferência do bem doado e se extingue nesse mesmo momento.
Em outras modalidades de contrato, como na compra e venda, as
obrigações das partes (pagamento do preço e entrega da coisa)
podem ser cumpridas posteriormente à formação (como na compra
e venda a prazo).

Contratos de duração são aqueles cuja execução


(dada a natureza da prestação) não pode cumprir-se num só
instante. Ex.: contrato de locação, contrato de plano de
saúde.

Como observa Araken de Assis, não existe consenso


acerca da categoria dos contratos de duração:

“Respeitando, portanto, o critério afinal


escolhido, os contratos de duração, ou de trato
sucessivo, distinguem-se pela multiplicidade de
prestações, desdobradas no tempo, cada qual
autônoma em relação à outra, seja o vínculo por
tempo determinado, seja por tempo indeterminado”
(op. cit., p. 48).

CONTRATO DE ADESÃO

Contratos de adesão são aqueles que não resultam


de livre discussão entre as partes, o os distingue dos
contratos paritários. Nessa espécie, uma das partes aceita as
cláusulas e condições previamente estipuladas pela outra. Sua
participação no ato, assim, se limita a aderir ao programa
contratual já estabelecido.

Observe-se que a contratação por essa modalidade


não implica, por si só, qualquer tipo de invalidade. A
celebração de contratos de adesão é, inclusive, prevista no
Código Civil (arts. 423 e 424), e, de resto, já o era no
Código de Defesa do Consumidor.

Nem seria possível, dadas as características da


própria vida contemporânea, debater uma a uma, com cada um dos
clientes, as cláusulas de todos os contratos. Assim, a
estipulação de cláusulas gerais viabiliza a contratação em
massa e, em consequência, a própria atividade econômica, com
sua feição atual.

O que se estabelece, nesse contexto, é uma


proteção ao aderente, aquela parte a quem não é dado discutir
as cláusulas do contrato. Assim, em caso de ambigüidade ou
contradição, essas mesmas cláusulas deverão ser interpretadas
em favor do aderente (CC/2002, art. 423). Além disso, será
nula a cláusula que estabeleça renúncia antecipada do aderente
a direito resultante da natureza do negócio (CC/2002, art.
424).

AUTOCONTRATO

O autocontrato, pensado literalmente, seria uma


contradição em termos. Com efeito, se todo contrato é negócio
jurídico bilateral, haveria uma impossibilidade lógica de se
pensar em um contrato celebrado por uma única pessoa.
Na verdade, o autocontrato só é possível pela
figura da representação, em que uma determinada pessoa
manifesta a vontade de outra (na verdade, manifesta sua
própria vontade, mas em nome e por conta da outra). Então, a
rigor, não há, no autocontrato, uma única pessoa, do ponto de
vista dos centros de interesses em jogo. É como observa
Orlando Gomes:

“Na formação do autocontrato, o representante


emite duas declarações distintas que
consubstanciam os interesses dos quais se tornou o
ponto de convergência” (grifou-se).

Já se afirmou, em interpretação apressada e


equivocada, que, por meio dos arts. 117 e 119 do Código Civil
de 2002, teria sido definitivamente proibida a celebração de
autocontrato no direito brasileiro. Essa assertiva deve ser
vista com reserva, em virtude da redação do próprio art. 117:

“Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o


representado, é anulável o negócio jurídico que o
representante, no seu interesse ou por conta de
outrem, celebrar consigo mesmo”.

Note-se que a lei, em princípio, diz ser anulável


(espécie do gênero “inválido”) o negócio celebrado pelo
representante consigo mesmo. A primeira parte desse
dispositivo, no entanto, consigna duas exceções: i) permissão
legal (“Salvo se o permitir a lei”) e ii) acordo entre as
partes (i.e., permissão do representado).

Assim, pode-se ajustar (validamente) que o


autocontrato se celebre, desde que haja permissão expressa do
representado. É o que ocorre na hipótese do art. 685 do Código
Civil:

“Art. 685. Conferido o mandato com a cláusula ‘em


causa própria’, a sua revogação não terá eficácia,
nem se extinguirá pela morte de qualquer das
partes, ficando o mandatário dispensado de prestar
contas, e podendo transferir para si os bens
móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as
formalidades legais” (grifou-se).

Desse modo, é equivocada a afirmação peremptória


de que o autocontrato foi banido do direito brasileiro. Melhor
dizer que o autocontrato é, em princípio, anulável, podendo,
todavia, ser válido se houver permissão legal ou consensual
para a sua celebração.

De outro lado, cabe lembrar que a sanção imposta


pela lei ao negócio que o representante, no seu interesse ou
no interesse de outrem, celebre consigo mesmo é a
anulabilidade. Esse negócio é, portanto, passível de
confirmação, na forma dos arts. 172 e 176 do Código Civil.

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