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Introdução
O Direito é uno. A divisão por ramos — como Direito Penal, Constitucional
e Civil — é uma forma de facilitar, didaticamente, a compreensão do
fenômeno jurídico. No Direito dos Contratos, realiza-se a mesma técnica,
seccionando o estudo contratual pela sua natureza jurídica, definição,
características e classificação.
Considerando que os contratos são instrumentos de suma relevância
social, econômica e, por conseguinte, jurídica, a sua análise pormeno-
rizada é fundamental. O estudo da classificação dos contratos permite
desvendar peculiaridades desses instrumentos negociais que repercutirão
nos seus efeitos. Em outras palavras, as peculiaridades de cada contrato
servirão de guia para a avaliação da sua validade e eficácia.
Neste capítulo, você vai ler sobre a classificação dos contratos, conhe-
cer as formas de classificação e verificar como os tribunais se posicionam
acerca do tema para resolver as questões concretas.
Quanto ao tempo
Como ensina Pereira (2017), todo contrato é negócio jurídico bilateral, visto
que a sua constituição requer a manifestação de vontade das partes para
a formação do consenso. Essa categorização dos contratos como negócios
jurídicos bilaterais é diversa da classificação dos contratos como unilaterais,
bilaterais ou plurilaterais.
Assim, a bilateralidade dos negócios jurídicos contratuais é seu elemento
constitutivo — sem ela, não há contrato. Entretanto, os contratos, cuja natureza
jurídica é de negócios jurídicos bilaterais podem ser classificados segundo
a forma como a prestação foi acordada pelas partes ou segundo os efeitos
obrigacionais ajustados, como unilaterais, bilaterais ou plurilaterais.
[...] quando o contrato estabelecer apenas uma “via de mão única”, com as
partes em posição estática de credor e devedor, pelo fato de se estabelecer
uma prestação pecuniária apenas para uma das partes, como na doação sim-
ples, falar-se-á em contrato unilateral (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2010, p. 112).
comodato;
mútuo;
depósito;
Classificação dos contratos 5
mandato;
doação;
fiança.
contrato de sociedade;
contratos de consórcio;
contrato de condomínio.
Os contratos onerosos são aqueles que trazem vantagens para ambos os con-
tratantes, pois ambos sofrem o mencionado sacrifício patrimonial (ideia de
proveito alcançado). Ambas as partes assumem deveres obrigacionais, havendo
um direito subjetivo de exigi-lo. Há uma prestação e uma contraprestação.
A onerosidade da prestação de uma das partes não poderá ser excessiva, sob
pena de enriquecimento sem causa da outra parte. Não há responsabilidade por
vícios redibitórios ou evicção nos contratos gratuitos, somente nos onerosos,
consoante arts. 441 e 447 do Código Civil (BRASIL, 2002).
A maioria dos contratos unilaterais é gratuita, mas há exceções. No con-
trato de mútuo feneratício, mais conhecido como contrato de empréstimo
bancário, embora seja um contrato unilateral (obrigação de restituir o valor
emprestado apenas para o mutuário), o contratante deverá pagar juros, que
representam a onerosidade contratual, pela vantagem que obteve em utilizar
o dinheiro alheio pelo período contratado (TARTUCE, 2017). Portanto, é
exemplo de um contrato unilateral e oneroso.
A interpretação dos contratos gratuitos será sempre mais restritiva do que
a dos onerosos, isso porque diz respeito a uma liberalidade, conferindo maior
proteção ao contratante que agiu por generosidade, gratuitamente.
troca;
compra e venda de coisa certa;
locação.
contratos de seguro;
contrato de esperança ou de safra;
jogo (máquina de pegar bichinhos de pelúcia, entre outros);
aposta (loteria, entre outros).
Não caberá a rescisão contratual por lesão, nem mesmo ação redibitória,
nos contratos classificados como aleatórios. Ademais, a resolução ou revisão
por onerosidade excessiva apenas caberá nos casos em que o evento superve-
niente, imprevisível e extraordinário não se relacionar com o risco assumido
contratualmente (PEREIRA, 2017).
A compra e a venda, embora sejam geralmente um contrato comutativo,
podem configurar contrato aleatório, como nos seguintes exemplos:
Contratos evolutivos
civis;
consumeristas;
comerciais;
administrativos;
trabalhistas.
12 Classificação dos contratos
locação;
compra e venda;
mandato.
Reais — são reais os contratos que só se aperfeiçoam com a entrega da coisa que
constitui seu objeto, pois apenas o consentimento das partes não basta para o
contrato estar constituído. A entrega da coisa (tradição), nos contratos reais, é consi-
derada requisito de existência (VENOSA apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2010), portanto, enquanto não tiver sido entregue o bem, haverá no máximo uma
promessa de contratar. Significa dizer que, ao contratar um empréstimo bancário
(contrato de mútuo feneratício), o correntista não será considerado devedor antes
Classificação dos contratos 13
que o valor do empréstimo esteja em sua conta corrente; ou, se o sujeito contratar
um comodato, antes de sair da biblioteca com a posse do livro. São exemplos:
comodato;
mútuo;
depósito;
penhor.
Típicos — são aqueles que têm previsibilidade legal, ou seja, aqueles regulados pelo
Direito Positivo. São os contratos dispostos pela legislação em vigor. São exemplos:
compra e venda;
doação;
locação;
depósito;
seguro;
comodato;
mútuo.
14 Classificação dos contratos
Atípicos — são aqueles não regulados em lei, como, por exemplo, os contratos
de hospedagem, factoring e leasing, entre tantos outros. Atípico é um contrato
não disciplinado pelo ordenamento jurídico, embora lícito, pelo fato de restar
sujeito às normas gerais do contrato e não contrariar a lei, os bons costumes
ou os princípios gerais do Direito.
Igualmente aos contratos típicos, os contratos atípicos devem seguir as
disposições normativas dos arts. 421 e 422 do Código Civil (BRASIL, 2002,
documento on-line):
prestação de serviços;
empreitada;
corretagem.
Classificação dos contratos 17
hipoteca;
fiança;
penhor.
Preliminares (ou pactum de contrahendo) — são aqueles que têm por finalidade
a celebração de um contrato definitivo. Um exemplo é a promessa de compra e
venda — por meio dessa promessa, as partes comprometem-se a realizar o contrato
definitivo de compra e venda que irá transferir a propriedade do bem.
Definitivos — aqueles que atingem o objetivo negocial das partes, sem ne-
cessidade de outro que os complemente.
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Leituras recomendadas
ALMEIDA, C. F. Contratos: conceito, fontes e formação. 5. ed. Coimbra: Edições Almedina,
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