seja, sem qualquer relação com outros, é, sem sombra de dúvida, a mais proveitosa a proceder, pois importa em várias divisões e subdivisões, por força da multiplicidade de relações contratuais. 1. Contratos unilaterais, bilaterais ou plurilaterais Toda relação contratual pressupõe a existência de duas ou mais manifestações de vontade. Todavia, isso não quer dizer que produza, necessariamente, efeitos de natureza patrimonial para todas as partes. Assim, na medida em que o contrato implique direitos e obrigações para ambos os contratantes ou apenas para um deles, será bilateral (ex.: compra e venda) ou unilateral (ex.: depósito). Nessa classificação, é possível falar, por certo, em uma visão plurilateral (ou multilateral), desde que haja mais de dois contratantes com obrigações, como é o caso do contrato de constituição de uma sociedade ou de um condomínio. Nessa linha, quando o contrato estabelecer apenas uma “via de mão única”, com as partes em posição estática de credor e devedor, pelo fato de se estabelecer uma prestação pecuniária apenas para uma das partes, como na doação simples, falar-se-á em contrato unilateral. Já no contrato bilateral (ou no plurilateral), tem-se a produção simultânea de prestações para todos os contratantes, pela dependência recíproca das obrigações (sendo uma a causa de ser da outra), o que é chamado de sinalagma, motivo pelo qual tais contratos também são, em geral, conhecidos como sinalagmáticos ou de prestações correlatas. 2. Contratos onerosos ou gratuitos
O mais comum quando se estabelece uma relação
jurídica contratual é que ambas as partes experimentem benefícios e deveres. Nessa situação, quando a um benefício recebido corresponder um sacrifício patrimonial, fala-se em contrato oneroso. Quando, porém, fica estabelecido que somente uma das partes auferirá benefício, enquanto a outra arcará com toda obrigação, fala-se em contrato gratuito ou benéfico. É o caso típico, por exemplo, da doação pura (sem encargo) e do comodato. Porém, não é simplesmente a denominação do contrato que fixa a sua natureza, pois é possível que determinadas figuras contratuais sejam estabelecidas tanto na forma gratuita quanto onerosa, como, por exemplo, do mútuo – empréstimo de coisa móvel e fungível (que pode ser celebrado sem pagamento de juros – gratuito – ou o feneratício – oneroso), do depósito ou do mandato, que podem ser concedidas de favor (gratuita) ou mediante remuneração (onerosa). Há grande similitude entre a classificação dos contratos em unilaterais/bilaterais e gratuitos/onerosos, mas não se deve confundi-los. Em geral, todo contrato oneroso é, também, bilateral. E todo unilateral é, ao mesmo tempo, gratuito. Não, porém, necessariamente. Exemplos: o mútuo feneratício ou oneroso (em que é convencionado o pagamento de juros) é contrato unilateral e oneroso. Unilateral porque de natureza real: só se aperfeiçoa com a entrega do numerário ao mutuário, não bastando o acordo de vontades. Feita a entrega (quando o contrato passa a produzir efeitos), nenhuma outra obrigação resta ao mutuante. Por isso se diz que gera obrigação somente para o mutuário. Como exemplo de contrato que pode ser bilateral e gratuito menciona-se o mandato, embora se trate de bilateral imperfeito, visto que, para o mandante, a obrigação surge, em geral, a posteriori (a de pagar as despesas necessárias à sua execução, por exemplo). 3. Contratos comutativos ou aleatórios
Os contratos onerosos se subdividem em
comutativos e aleatórios. Quando as obrigações se equivalem, conhecendo os contratantes, ab initio (de início), as suas respectivas prestações, como, por exemplo, na compra e venda ou no contrato individual de emprego, fala-se em um contrato comutativo. Já quando a obrigação de uma das partes somente puder ser exigida em função de coisas ou fatos futuros, cujo risco da não ocorrência for assumido pelo outro contratante, fala-se em contrato aleatório ou de esperança, previsto nos arts. 458 a 461, como é o caso, por exemplo, dos contratos de seguro, jogo e aposta. É, inclusive, do art. 458 do CC/2002 que extraímos o conceito legal de contrato aleatório:
“Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer
respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir”. A expressão aleatório vem de alea, expressão latina que significa sorte. É importante registrar, porém, que “sorte”, aqui, é utilizada no sentido de que a parte assume o risco do fato acontecer ou não, não sabendo, portanto, se terá um retorno patrimonial no contrato assumido. Por isso, se a “sorte” ficar a cargo exclusivo de um dos contratantes (por exemplo, estabelecer que alguém fará um pagamento para mim, se eu quiser viajar), a hipótese não será propriamente de um contrato aleatório, mas sim de uma condição puramente potestativa, que impõe a nulidade absoluta do negócio jurídico, por força do art. 123, II, c/c o art. 166, VI, do vigente Código Civil brasileiro . Especificamente sobre o contrato de compra e venda aleatória, ela pode-se dar de duas formas distintas, quais sejam, compra de coisas futuras, cujo risco se desdobra tanto em relação à própria existência da coisa, quanto à sua quantidade; e a compra de coisas existentes, mas expostas a riscos de perda ou deterioração. Nessa mesma linha, podemos classificar os contratos de compra e venda aleatória da seguinte forma: Nessa mesma linha, podemos classificar os contratos de compra e venda aleatória da seguinte forma: a) Contrato de Compra de Coisa Futura, com Assunção de Risco pela Existência (emptio spei) b) Contrato de Compra de Coisa Futura, sem Assunção de Risco pela Existência (emptio rei speratae) c) Contrato de Compra de Coisa Presente, mas Exposta a Risco Assumido pelo Contratante a) Contrato de Compra de Coisa Futura, com Assunção de Risco pela Existência (emptio spei) – nessa primeira espécie, prevista expressamente no art. 458, o contratante assume o risco de não vir a ganhar coisa alguma, deixando à sorte propriamente dita o resultado da sua contratação. Na emptio spei o adquirente compra o risco de as coisas adquiridas virem ou não a existir. Assim, será aleatório o contrato no qual alguém adquire a safra futura de um fazendeiro, assumindo o risco de nada receber se o vendedor nada colher. b) Contrato de Compra de Coisa Futura, sem Assunção de Risco pela Existência (emptio rei speratae) – nessa segunda hipótese, prevista no art. 459 do CC/2002, não há a assunção total de riscos pelo contratante, tendo em vista que o alienante se comprometeu a que alguma coisa fosse entregue. Exemplo: máquinas eletrônicas de prêmios, comuns em parques infantis, onde a criança, ao depositar fichas no equipamento, pode ser contemplada com um brinquedo bom, embora, na maior parte das vezes, acabe ganhando somente um pequeno “prêmio de consolação”. c) Contrato de Compra de Coisa Presente, mas Exposta a Risco Assumido pelo Contratante – a última modalidade codificada é a que versa sobre a venda de coisa atual sujeita a riscos, prevista no art. 460. O exemplo clássico é o da compra de mercadoria embarcada, sem notícia do seu estado atual, em que o adquirente assume o risco de elas chegarem ao seu destino ou não, devendo pagar o preço mesmo na hipótese de perecimento. No Contrato de Compra de Coisa Presente, mas Exposta a Risco Assumido pelo Contratante a boa-fé de quem compra, porém, é sempre ressalvada, motivo pelo qual tal alienação aleatória “poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa” (art. 461 do CC/2002). 2.4. Contratos paritários ou por adesão
Na hipótese de as partes estarem em iguais
condições de negociação, estabelecendo livremente as cláusulas contratuais, na fase de puntuação, fala-se na existência de um contrato paritário, diferentemente do contrato de adesão, que pode ser conceituado simplesmente como o contrato onde um dos pactuantes predetermina (ou seja, impõe) as cláusulas do negócio jurídico. Quatro traços característicos dos contratos de adesão:
a) uniformidade: o objetivo do estipulante é
obter, do maior número possível de contratantes, o mesmo conteúdo contratual, para uma racionalidade de sua atividade e segurança das relações estabelecidas; b) predeterminação unilateral: a fixação das cláusulas é feita anteriormente a qualquer discussão sobre a avença. De fato, a simples uniformidade não é suficiente para se considerar um contrato como de adesão, pois é imprescindível que tais cláusulas uniformes sejam impostas por somente uma das partes; c) rigidez: além de uniformemente predeterminadas, não é possível rediscutir as cláusulas do contrato de adesão, sob pena de descaracterizá-lo como tal; d) posição de vantagem (superioridade material) de uma das partes: embora a expressão superioridade econômica seja a mais utilizada (até pela circunstância de ser a mais comum), consideramos mais adequada a concepção de superioridade material, uma vez que é em função de tal desigualdade fática que faz com que possa ditar as cláusulas aos interessados. É o exemplo de alguém que, embora não sendo considerado uma potência econômica, seja o detentor do monopólio de exploração de determinado produto ou serviço, pelo que, no campo dos fatos, sua vontade prevalece sobre a dos aderentes, ainda que mais forte economicamente. Pela sua característica limitadora da liberdade contratual, pelo menos na sua concepção clássica, a interpretação do contrato de adesão não poderia dar-se da mesma forma que em um contrato paritário tradicional. Por isso, não se estranha que, nas poucas oportunidades em que os contratos de adesão foram mencionados no Código Civil de 2002 (ante o absoluto silêncio da codificação anterior), tenha sido justamente para trazer regras de hermenêutica atenuadoras do elevado poder daqueles que predeterminam unilateralmente cláusulas uniformes e rígidas. 5. Contratos solenes ou não solenes Quanto à imprescindibilidade de uma forma específica para a validade da estipulação contratual, os contratos podem ser solenes ou não solenes. - Forma específica: solenes. - Forma livre: não solenes. A forma livre é a regra no nosso país (art. 107 do CC/2002), embora haja contratos solenes como o de compra e venda de imóvel acima do valor legal (arts. 108 e 1.245 do CC/2002). Assim, os negócios formais ou solenes, definitivamente, não podem ser considerados a regra em nosso Direito. Nessas situações excepcionais, porém, em que há imposição de um determinado revestimento formal para a validade do negócio jurídico (seja por uma forma especial ou por uma solenidade na sua celebração), diz-se que o negócio é ad solemnitatem. Ex.: contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis acima do valor consignado em lei, tendo em vista que a forma pública é indispensável para a validade do ato. 6. Contratos consensuais ou reais Os contratos consensuais se concretizam com a simples declaração de vontade. Os contratos reais exigem a entrega da coisa, para que se reputem existentes. São exemplos de contratos consensuais todos aqueles não solenes, ou seja, que a ordem jurídica não exige nenhuma forma especial para sua celebração, tais como a compra e venda de bem móvel, locação, parceria rural, mandato, transporte e emprego. São exemplos de contratos reais o comodato, o mútuo, o depósito e o penhor. 7. Contratos pessoais ou impessoais
Quanto à importância da pessoa do contratante
para a celebração e produção de efeitos do contrato, podem tais negócios jurídicos ser classificados em contratos pessoais ou contratos impessoais. - Contratos Pessoais: Também chamados de personalíssimos, são os realizados intuitu personae, ou seja, celebrados em função da pessoa do contratante, que tem influência decisiva para o consentimento do outro, para quem interessa que a prestação seja cumprida por ele próprio, pelas suas características particulares (habilidade, experiência, técnica, idoneidade etc.). Nessas circunstâncias, é razoável se afirmar, inclusive, que a pessoa do contratante torna-se um elemento causal do contrato. Exemplo: um contrato de prestação de serviços, em que se pactue uma obrigação de fazer infungível (encomendar um quadro feito por um pintor famoso), em que não será possível a atribuição de tal mister para terceiro, ainda que às custas do devedor que deveria inicialmente fazê-lo. - Contratos impessoais São aqueles em que somente interessa o resultado da atividade contratada, independentemente de quem seja a pessoa que irá realizá-la. Assim, se contrato uma sociedade empresária para reformar um prédio, pouco me importa se o pedreiro responsável será o empregado JOÃO ou o empregado JOSÉ, desde que a prestação seja cumprida da forma como pactuada. A distinção entre contratos pessoais e impessoais tem grande utilidade, a saber:
a) os contratos intuitu personae são
intransmissíveis, não podendo ser executados por outrem. Por decorrência lógica, a morte do devedor é causa extintiva de tal avença, que, da mesma forma, não pode ser cedida a terceiro. Caso tal cessão ocorra, o que haverá, juridicamente, será, em verdade, a celebração de um novo contrato; b) os contratos intuitu personae são anuláveis, na hipótese de erro de pessoa, na forma do art. 139, II do CC/2002, haja vista que a determinação do sujeito contratante foi a razão básica para a manifestação de vontade de contratar; c) nos contratos intuitu personae, o descumprimento culposo de obrigação de fazer somente pode gerar perdas e danos ou, sendo ainda possível a prestação e havendo interesse do credor no seu cumprimento, a busca de uma tutela específica, mas, jamais, pela sua natureza, admitirá a prestação por terceiros, ainda que às expensas do devedor inadimplente. 8. Contratos individuais ou coletivos
Ainda na classificação quanto à pessoa do
contratante, é possível tomar como parâmetro também o número de sujeitos envolvidos/atingidos.
- Contrato Individual: acordo entre partes
individualizadas, que podem ser identificadas. - Contrato Coletivo: acordo entre pessoas incertas, que não podem, de início, serem individualizadas. Todavia, ao se falar em contrato coletivo, também chamado de contrato normativo, tem-se uma transubjetivização da avença, alcançando grupos não individualizados, reunidos por uma relação jurídica ou de fato. Em geral, ao contrário do contrato individual, as cláusulas estipuladas no contrato coletivo têm uma força normativa abstrata, em situação analógica a preceitos legais, estabelecendo normas que devem presidir a celebração e execução dos contratos individuais subordinados, inclusive produzindo alterações no conteúdo dos contratos em curso. Trata-se de uma modalidade contratual lato sensu de grande utilização no campo do Direito do Trabalho. Exemplos: convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho. 9. O autocontrato
Como a relação contratual pressupõe a
coexistência de duas vontades, pode soar, no mínimo, heterodoxo falar em autocontrato. A perplexidade, porém, é meramente aparente, uma vez que não há propriamente um contrato consigo mesmo, mas, sim, um contrato em que um dos sujeitos é representado por outro com poderes para celebrar contratos e que, em vez de pactuá-lo, estipula-o consigo próprio. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS
Nessa classificação podemos subdividi-la em
duas, tomando como parâmetro ou a existência de uma relação de dependência entre os contratos; ou a definitividade da avença. 1. Classificação quanto à relação de dependência
Os contratos principais são os que têm
existência autônoma, independentemente de outro. São, até mesmo por força dos princípios da autonomia da vontade e da liberdade contratual, a regra geral no sistema jurídico. Por exceção, os contratos acessórios decorrem das relações contratuais cuja existência jurídica pressupõe a de outros contratos, a qual servem. É o caso típico da fiança, caução, penhor, hipoteca e anticrese. A respeito de tal classificação, devemos observar os seguintes princípios fundamentais que os regem: 1.º) a nulidade da obrigação principal acarretará a das acessórias, porém a das acessórias não implica a da principal (CC, art. 184); 2.º) a prestação da pretensão relativa à obrigação principal induzirá à alusiva às acessórias, mas a recíproca não é verdadeira; assim, a prescrição da pretensão a direitos acessórios não atinge a do direito principal (RT, 476:155). É importante não confundir, porém, os contratos acessórios com os denominados contratos derivados ou subcontratos. Contratos derivados ou subcontratos são os que têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato, denominado básico ou principal (sublocação e subempreitada, p. ex.). Têm em comum com os acessórios o fato de que ambos são dependentes de outro. Diferem, porém, pela circunstância de o derivado participar da própria natureza do direito versado no contrato-base. Nessa espécie de avença, um dos contratantes transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade correspondente à sua posição contratual. 2. Classificação quanto à definitividade
Quanto à definitividade, podem os contratos ser
classificados em preliminares e definitivos. Os contratos preliminares (ou pactum de contrahendo), exceção no nosso ordenamento jurídico, nada mais são do que negócios jurídicos que têm por finalidade justamente a celebração de um contrato definitivo. Pela importância dada ao contrato preliminar no Código Civil de 2002, sem equivalente na codificação anterior, esse espécie já foi tratada anteriormente. Definitivo é o contrato que é celebrado de forma plena e acabada, gerando deveres e obrigações para uma ou para ambas as partes.