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DIREITO

CIVIL
CONTRATO
S
ROTEIRO DE
ESTUDOS IV

Prof.ª Ma. Thaís


Assunção Nunes
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

DOS CONTRATOS CONSIDERADOS


EM SI MESMO

A análise dos contratos em si mesmos, ou


seja, sem qualquer relação com outros, é, sem
sombra de dúvida, a mais proveitosa a
proceder, pois importa em várias divisões e
subdivisões, por força da multiplicidade de
relações contratuais.
1. Contratos unilaterais, bilaterais ou
plurilaterais
Toda relação contratual pressupõe a existência
de duas ou mais manifestações de vontade.
Todavia, isso não quer dizer que produza,
necessariamente, efeitos de natureza
patrimonial para todas as partes.
Assim, na medida em que o contrato implique
direitos e obrigações para ambos os contratantes
ou apenas para um deles, será bilateral (ex.:
compra e venda) ou unilateral (ex.: depósito).
Nessa classificação, é possível falar, por certo,
em uma visão plurilateral (ou multilateral), desde
que haja mais de dois contratantes com
obrigações, como é o caso do contrato de
constituição de uma sociedade ou de um
condomínio.
Nessa linha, quando o contrato estabelecer
apenas uma “via de mão única”, com as partes
em posição estática de credor e devedor, pelo
fato de se estabelecer uma prestação pecuniária
apenas para uma das partes, como na doação
simples, falar-se-á em contrato unilateral.
Já no contrato bilateral (ou no plurilateral),
tem-se a produção simultânea de prestações
para todos os contratantes, pela dependência
recíproca das obrigações (sendo uma a causa de
ser da outra), o que é chamado de sinalagma,
motivo pelo qual tais contratos também são,
em geral, conhecidos como sinalagmáticos ou
de prestações correlatas.
2. Contratos onerosos ou gratuitos

O mais comum quando se estabelece uma relação


jurídica contratual é que ambas as partes experimentem
benefícios e deveres.
Nessa situação, quando a um benefício recebido
corresponder um sacrifício patrimonial, fala-se em
contrato oneroso.
Quando, porém, fica estabelecido que somente uma
das partes auferirá benefício, enquanto a outra arcará
com toda obrigação, fala-se em contrato gratuito ou
benéfico. É o caso típico, por exemplo, da doação pura
(sem encargo) e do comodato.
Porém, não é simplesmente a denominação do
contrato que fixa a sua natureza, pois é possível que
determinadas figuras contratuais sejam
estabelecidas tanto na forma gratuita quanto
onerosa, como, por exemplo, do mútuo –
empréstimo de coisa móvel e fungível (que pode ser
celebrado sem pagamento de juros – gratuito – ou o
feneratício – oneroso), do depósito ou do mandato,
que podem ser concedidas de favor (gratuita) ou
mediante remuneração (onerosa).
Há grande similitude entre a classificação dos
contratos em unilaterais/bilaterais e
gratuitos/onerosos, mas não se deve confundi-los.
Em geral, todo contrato oneroso é, também,
bilateral. E todo unilateral é, ao mesmo tempo,
gratuito. Não, porém, necessariamente.
Exemplos: o mútuo feneratício ou oneroso (em
que é convencionado o pagamento de juros) é
contrato unilateral e oneroso. Unilateral porque de
natureza real: só se aperfeiçoa com a entrega do
numerário ao mutuário, não bastando o acordo de
vontades. Feita a entrega (quando o contrato passa a
produzir efeitos), nenhuma outra obrigação resta ao
mutuante. Por isso se diz que gera obrigação
somente para o mutuário.
Como exemplo de contrato que pode ser
bilateral e gratuito menciona-se o mandato,
embora se trate de bilateral imperfeito, visto que,
para o mandante, a obrigação surge, em geral, a
posteriori (a de pagar as despesas necessárias à
sua execução, por exemplo).
3. Contratos comutativos ou aleatórios

Os contratos onerosos se subdividem em


comutativos e aleatórios.
Quando as obrigações se equivalem,
conhecendo os contratantes, ab initio (de início),
as suas respectivas prestações, como, por
exemplo, na compra e venda ou no contrato
individual de emprego, fala-se em um contrato
comutativo.
Já quando a obrigação de uma das partes
somente puder ser exigida em função de coisas
ou fatos futuros, cujo risco da não ocorrência for
assumido pelo outro contratante, fala-se em
contrato aleatório ou de esperança, previsto
nos arts. 458 a 461, como é o caso, por exemplo,
dos contratos de seguro, jogo e aposta.
É, inclusive, do art. 458 do CC/2002 que
extraímos o conceito legal de contrato aleatório:

“Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer


respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o
outro direito de receber integralmente o que lhe foi
prometido, desde que de sua parte não tenha havido
dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a
existir”.
A expressão aleatório vem de alea, expressão latina
que significa sorte.
É importante registrar, porém, que “sorte”, aqui, é
utilizada no sentido de que a parte assume o risco do
fato acontecer ou não, não sabendo, portanto, se
terá um retorno patrimonial no contrato assumido.
Por isso, se a “sorte” ficar a cargo exclusivo de um
dos contratantes (por exemplo, estabelecer que
alguém fará um pagamento para mim, se eu quiser
viajar), a hipótese não será propriamente de um
contrato aleatório, mas sim de uma condição
puramente potestativa, que impõe a nulidade absoluta
do negócio jurídico, por força do art. 123, II, c/c o art.
166, VI, do vigente Código Civil brasileiro .
Especificamente sobre o contrato de compra
e venda aleatória, ela pode-se dar de duas
formas distintas, quais sejam, compra de
coisas futuras, cujo risco se desdobra tanto em
relação à própria existência da coisa, quanto à
sua quantidade; e a compra de coisas existentes,
mas expostas a riscos de perda ou
deterioração.
Nessa mesma linha, podemos classificar os
contratos de compra e venda aleatória da
seguinte forma:
Nessa mesma linha, podemos classificar os
contratos de compra e venda aleatória da seguinte
forma:
a) Contrato de Compra de Coisa Futura, com
Assunção de Risco pela Existência (emptio spei)
b) Contrato de Compra de Coisa Futura, sem
Assunção de Risco pela Existência (emptio rei
speratae)
c) Contrato de Compra de Coisa Presente, mas
Exposta a Risco Assumido pelo Contratante
a) Contrato de Compra de Coisa Futura, com
Assunção de Risco pela Existência (emptio spei) –
nessa primeira espécie, prevista expressamente no
art. 458, o contratante assume o risco de não vir a
ganhar coisa alguma, deixando à sorte
propriamente dita o resultado da sua
contratação.
Na emptio spei o adquirente compra o risco de as
coisas adquiridas virem ou não a existir.
Assim, será aleatório o contrato no qual alguém
adquire a safra futura de um fazendeiro,
assumindo o risco de nada receber se o vendedor
nada colher.
b) Contrato de Compra de Coisa Futura, sem
Assunção de Risco pela Existência (emptio rei
speratae) – nessa segunda hipótese, prevista no art.
459 do CC/2002, não há a assunção total de riscos
pelo contratante, tendo em vista que o alienante se
comprometeu a que alguma coisa fosse
entregue.
Exemplo: máquinas eletrônicas de prêmios,
comuns em parques infantis, onde a criança, ao
depositar fichas no equipamento, pode ser
contemplada com um brinquedo bom, embora, na
maior parte das vezes, acabe ganhando somente um
pequeno “prêmio de consolação”.
c) Contrato de Compra de Coisa Presente,
mas Exposta a Risco Assumido pelo
Contratante – a última modalidade codificada é
a que versa sobre a venda de coisa atual sujeita a
riscos, prevista no art. 460.
O exemplo clássico é o da compra de
mercadoria embarcada, sem notícia do seu estado
atual, em que o adquirente assume o risco de elas
chegarem ao seu destino ou não, devendo pagar
o preço mesmo na hipótese de perecimento.
No Contrato de Compra de Coisa Presente,
mas Exposta a Risco Assumido pelo
Contratante a boa-fé de quem compra, porém, é
sempre ressalvada, motivo pelo qual tal
alienação aleatória “poderá ser anulada como
dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro
contratante não ignorava a consumação do risco,
a que no contrato se considerava exposta a coisa”
(art. 461 do CC/2002).
2.4. Contratos paritários ou por adesão

Na hipótese de as partes estarem em iguais


condições de negociação, estabelecendo
livremente as cláusulas contratuais, na fase de
puntuação, fala-se na existência de um contrato
paritário, diferentemente do contrato de adesão,
que pode ser conceituado simplesmente como o
contrato onde um dos pactuantes predetermina
(ou seja, impõe) as cláusulas do negócio
jurídico.
Quatro traços característicos dos contratos de
adesão:

a) uniformidade: o objetivo do estipulante é


obter, do maior número possível de contratantes,
o mesmo conteúdo contratual, para uma
racionalidade de sua atividade e segurança das
relações estabelecidas;
b) predeterminação unilateral: a fixação das
cláusulas é feita anteriormente a qualquer
discussão sobre a avença. De fato, a simples
uniformidade não é suficiente para se considerar
um contrato como de adesão, pois é
imprescindível que tais cláusulas uniformes
sejam impostas por somente uma das partes;
c) rigidez: além de uniformemente
predeterminadas, não é possível rediscutir as
cláusulas do contrato de adesão, sob pena de
descaracterizá-lo como tal;
d) posição de vantagem (superioridade material) de
uma das partes: embora a expressão superioridade
econômica seja a mais utilizada (até pela circunstância
de ser a mais comum), consideramos mais adequada a
concepção de superioridade material, uma vez que é
em função de tal desigualdade fática que faz com que
possa ditar as cláusulas aos interessados.
É o exemplo de alguém que, embora não sendo
considerado uma potência econômica, seja o detentor
do monopólio de exploração de determinado produto
ou serviço, pelo que, no campo dos fatos, sua vontade
prevalece sobre a dos aderentes, ainda que mais forte
economicamente.
Pela sua característica limitadora da liberdade
contratual, pelo menos na sua concepção clássica, a
interpretação do contrato de adesão não poderia
dar-se da mesma forma que em um contrato
paritário tradicional.
Por isso, não se estranha que, nas poucas
oportunidades em que os contratos de adesão foram
mencionados no Código Civil de 2002 (ante o absoluto
silêncio da codificação anterior), tenha sido justamente
para trazer regras de hermenêutica atenuadoras do
elevado poder daqueles que predeterminam
unilateralmente cláusulas uniformes e rígidas.
5. Contratos solenes ou não solenes
Quanto à imprescindibilidade de uma forma
específica para a validade da estipulação
contratual, os contratos podem ser solenes ou
não solenes.
- Forma específica: solenes.
- Forma livre: não solenes.
A forma livre é a regra no nosso país (art.
107 do CC/2002), embora haja contratos solenes
como o de compra e venda de imóvel acima do
valor legal (arts. 108 e 1.245 do CC/2002).
Assim, os negócios formais ou solenes,
definitivamente, não podem ser considerados a
regra em nosso Direito.
Nessas situações excepcionais, porém, em que
há imposição de um determinado revestimento
formal para a validade do negócio jurídico (seja
por uma forma especial ou por uma solenidade na
sua celebração), diz-se que o negócio é ad
solemnitatem.
Ex.: contratos constitutivos ou translativos de
direitos reais sobre imóveis acima do valor consignado
em lei, tendo em vista que a forma pública é
indispensável para a validade do ato.
6. Contratos consensuais ou reais
Os contratos consensuais se concretizam com a
simples declaração de vontade. Os contratos
reais exigem a entrega da coisa, para que se
reputem existentes.
São exemplos de contratos consensuais todos
aqueles não solenes, ou seja, que a ordem jurídica
não exige nenhuma forma especial para sua
celebração, tais como a compra e venda de bem
móvel, locação, parceria rural, mandato, transporte
e emprego. São exemplos de contratos reais o
comodato, o mútuo, o depósito e o penhor.
7. Contratos pessoais ou impessoais

Quanto à importância da pessoa do contratante


para a celebração e produção de efeitos do
contrato, podem tais negócios jurídicos ser
classificados em contratos pessoais ou contratos
impessoais.
- Contratos Pessoais:
Também chamados de personalíssimos, são os
realizados intuitu personae, ou seja, celebrados
em função da pessoa do contratante, que tem
influência decisiva para o consentimento do
outro, para quem interessa que a prestação seja
cumprida por ele próprio, pelas suas
características particulares (habilidade,
experiência, técnica, idoneidade etc.).
Nessas circunstâncias, é razoável se afirmar,
inclusive, que a pessoa do contratante torna-se
um elemento causal do contrato.
Exemplo: um contrato de prestação de
serviços, em que se pactue uma obrigação de
fazer infungível (encomendar um quadro feito
por um pintor famoso), em que não será possível
a atribuição de tal mister para terceiro, ainda que
às custas do devedor que deveria inicialmente
fazê-lo.
- Contratos impessoais
São aqueles em que somente interessa o
resultado da atividade contratada,
independentemente de quem seja a pessoa que
irá realizá-la.
Assim, se contrato uma sociedade empresária
para reformar um prédio, pouco me importa se o
pedreiro responsável será o empregado JOÃO ou
o empregado JOSÉ, desde que a prestação seja
cumprida da forma como pactuada.
A distinção entre contratos pessoais e
impessoais tem grande utilidade, a saber:

a) os contratos intuitu personae são


intransmissíveis, não podendo ser executados
por outrem. Por decorrência lógica, a morte do
devedor é causa extintiva de tal avença, que,
da mesma forma, não pode ser cedida a terceiro.
Caso tal cessão ocorra, o que haverá,
juridicamente, será, em verdade, a celebração de
um novo contrato;
b) os contratos intuitu personae são anuláveis,
na hipótese de erro de pessoa, na forma do art.
139, II do CC/2002, haja vista que a determinação
do sujeito contratante foi a razão básica para a
manifestação de vontade de contratar;
c) nos contratos intuitu personae, o
descumprimento culposo de obrigação de fazer
somente pode gerar perdas e danos ou, sendo
ainda possível a prestação e havendo interesse do
credor no seu cumprimento, a busca de uma tutela
específica, mas, jamais, pela sua natureza,
admitirá a prestação por terceiros, ainda que às
expensas do devedor inadimplente.
8. Contratos individuais ou coletivos

Ainda na classificação quanto à pessoa do


contratante, é possível tomar como parâmetro
também o número de sujeitos
envolvidos/atingidos.

- Contrato Individual: acordo entre partes


individualizadas, que podem ser identificadas.
- Contrato Coletivo: acordo entre pessoas
incertas, que não podem, de início, serem
individualizadas.
Todavia, ao se falar em contrato coletivo,
também chamado de contrato normativo,
tem-se uma transubjetivização da avença,
alcançando grupos não individualizados,
reunidos por uma relação jurídica ou de fato.
Em geral, ao contrário do contrato individual,
as cláusulas estipuladas no contrato coletivo
têm uma força normativa abstrata, em
situação analógica a preceitos legais,
estabelecendo normas que devem presidir a
celebração e execução dos contratos
individuais subordinados, inclusive produzindo
alterações no conteúdo dos contratos em curso.
Trata-se de uma modalidade contratual lato
sensu de grande utilização no campo do Direito
do Trabalho. Exemplos: convenção coletiva e o
acordo coletivo de trabalho.
9. O autocontrato

Como a relação contratual pressupõe a


coexistência de duas vontades, pode soar, no
mínimo, heterodoxo falar em autocontrato.
A perplexidade, porém, é meramente aparente,
uma vez que não há propriamente um contrato
consigo mesmo, mas, sim, um contrato em que
um dos sujeitos é representado por outro com
poderes para celebrar contratos e que, em vez
de pactuá-lo, estipula-o consigo próprio.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

Nessa classificação podemos subdividi-la em


duas, tomando como parâmetro ou a existência
de uma relação de dependência entre os
contratos; ou a definitividade da avença.
1. Classificação quanto à relação de dependência

Os contratos principais são os que têm


existência autônoma, independentemente de
outro. São, até mesmo por força dos princípios da
autonomia da vontade e da liberdade contratual, a
regra geral no sistema jurídico.
Por exceção, os contratos acessórios decorrem
das relações contratuais cuja existência jurídica
pressupõe a de outros contratos, a qual servem.
É o caso típico da fiança, caução, penhor, hipoteca
e anticrese.
A respeito de tal classificação, devemos
observar os seguintes princípios fundamentais
que os regem:
1.º) a nulidade da obrigação principal acarretará
a das acessórias, porém a das acessórias não
implica a da principal (CC, art. 184);
2.º) a prestação da pretensão relativa à obrigação
principal induzirá à alusiva às acessórias, mas a
recíproca não é verdadeira; assim, a prescrição
da pretensão a direitos acessórios não atinge a do
direito principal (RT, 476:155).
É importante não confundir, porém, os contratos
acessórios com os denominados contratos derivados ou
subcontratos.
Contratos derivados ou subcontratos são os que
têm por objeto direitos estabelecidos em outro
contrato, denominado básico ou principal (sublocação
e subempreitada, p. ex.).
Têm em comum com os acessórios o fato de que
ambos são dependentes de outro. Diferem, porém, pela
circunstância de o derivado participar da própria
natureza do direito versado no contrato-base.
Nessa espécie de avença, um dos contratantes
transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade
correspondente à sua posição contratual.
2. Classificação quanto à definitividade

Quanto à definitividade, podem os contratos ser


classificados em preliminares e definitivos.
Os contratos preliminares (ou pactum de
contrahendo), exceção no nosso ordenamento
jurídico, nada mais são do que negócios jurídicos
que têm por finalidade justamente a celebração
de um contrato definitivo.
Pela importância dada ao contrato preliminar no
Código Civil de 2002, sem equivalente na
codificação anterior, esse espécie já foi tratada
anteriormente.
Definitivo é o contrato que é celebrado de
forma plena e acabada, gerando deveres e
obrigações para uma ou para ambas as partes.

Por exemplo: a escritura de compra e venda de


imóvel, ou a venda de um veículo usado.

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