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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 4 VARA

DA JUSTIÇA DO TRABALHO DE BRASÍLIA/DF

Processo n° 1205-1993-004-10-00-1

SANDRO NORBERTO DOS SANTOS,


devidamente qualificada nos autos epigrafados, vem, por seu
advogado legalmente constituído (documento anexado), a presença
de Vossa Excelência, opor OBJEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE,
pelos motivos fáticos e de direito que passamos a expor

I – FATOS

O executado, pessoa simples e de baixa


cognação, sempre primou em cumprir fielmente as obrigações que
lhe são impostas. Inobstante a este fato, atualmente, está
respondendo à presente ação de cobrança – que se encontra em fase
de execução - para pagamento de débitos escolares junto à
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ, ora exeqüente.
Assim, almejando satisfazer o débito
exeqüendo, o douto Magistrado mandou bloquear a conta n° 00364-7,
agência 7156, em nome do executado, penhorando o numerário lá
existente – a saber: R$ 279,74 (duzentos e setenta e nove reais e
setenta e quatro centavos)

Neste diapasão, cumpre ressaltar que, a conta


bloqueada tem natureza alimentar, pois é nesta que o executado
recebe seu salário - como corrobora documento anexado - não
podendo, destarte, haver a constrição judicial sob o mencionado
salário, sob pena de subversão e afronta ao direito positivado posto,
senão vejamos:

II – DO DIREITO

Valendo-se da sua autoridade, o Estado pode


promover qualquer ação, visando a dar cumprimento à decisão por
ele proferida, dentre elas a apreensão e venda judicial de bens de
titularidade do executado. No entanto, tal poder não lhe é absoluto,
encontrando resistência no princípio da dignidade da pessoa humana,
que veda atos do Estado ou de particulares que possam subtrair do
executado os meios necessários à manutenção digna de sua
subsistência e das pessoas que vivem sob o seu sustento.

Desse modo, para a efetividade do aludido


princípio constitucional, quis o legislador deixar fora do alcance do
poder expropriatório do Estado alguns bens que considera essenciais
para a afirmação do indivíduo como ser social. Para tanto, criou
normas protetivas que são imperativas, não admitindo qualquer
interpretação que lhe retirem o verdadeiro sentido de sua existência,
situando-se nesse grupo de normas, o salário, como preceitua o
artigo 649, IV, do CPC: “os vencimentos, subsídios, soldos,
salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor
e sua família, os ganhos do trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, observado o disposto no §3º
deste artigo”

Destarte é inadmissível em um processo


judicial o bloqueio de proventos provenientes da conta salarial de
um trabalhador. Portanto, a constrição existente nos autos é
abusiva, e malfere, reiteramos, o principio elementar, a pedra
angular, a fonte primaz de onde decorrem todos os demais direitos
estatuídos em nossa Carta Suprema, qual seja: o princípio da
dignidade humana, classificado por alguns doutrinadores como o
“principio dos princípios”.

Sob os auspícios destes fatos, é salutar


colacionarmos o posicionamento adotado pelos tribunais brasileiros
em casos semelhantes: “MANDADO DE SEGURANÇA – PENHORA DE
SALÁRIO. Se a penhora, no processo de execução, recaiu em salário
do devedor, violou direito líquido e certo do executado. Com efeito, o
art. 649, IV, do CPC, qualifica como absolutamente impenhoráveis os
salários, salvo para o pagamento de prestação alimentícia. A ordem
jurídico-positiva privilegiou a sobrevivência pessoal em prejuízo de
outros débitos ainda que decorrentes da relação de emprego.
Segurança que se concede em definitivo” (TRT 2ª Região, SDI,
Mandado de Segurança – Proc. nº 01484/2001-6, Rel. Juiz Nelson
Nazar, publ. 01.02.2002)

MANDADO DE SEGURANÇA -
PENHORA DE CONTA-SALÁRIO. Se a penhora no processo de
execução recaiu em conta-salário do devedor (servidora pública
municipal), violou direito líquido e certo do executado. Com efeito, o
artigo 649, IV, do CPC qualifica como absolutamente impenhoráveis
os vencimentos dos funcionários públicos, salvo para o pagamento de
prestação alimentícia. A ordem jurídico-positiva privilegiou a
sobrevivência pessoal em prejuízo de outros débitos, ainda que
decorrentes da relação de emprego. Segurança que se concede
parcialmente.
(Mandado de Segurança nº 10972 (Ac. 2003003558), SDI do TRT
da 2ª Região, Rel. Nelson Nazar. j. 21.11.2002, unânime, DOE
14.02.2003).

MANDADO DE SEGURANÇA -
PENHORA DE CONTA SALÁRIO - IMPENHORABILIDADE. São
absolutamente impenhoráveis, nos termos do artigo 649, IV do CPC.,
os créditos de natureza salarial, tornando a constrição ofensiva a
direito líquido e certo do impetrante. Segurança concedida. (Mandado
de Segurança nº 10829 (Ac. 2003000311), SDI do TRT da 2ª Região,
Relª. Sônia Maria Prince Franzini. j. 26.11.2002, unânime, DOE
28.02.2003).

BLOQUEIO DE CONTA CORRENTE -


PENHORA DE SALÁRIO. A conta corrente comprovadamente
destinada à movimentação para recebimento e saque de salário não
pode ser bloqueada, tampouco ser penhorado o numerário nela
existente, em face de violação ao inc. IV do art. 649 do CPC, que
dispõe serem absolutamente impenhoráveis "os vencimentos dos
magistrados, dos professores e dos funcionários públicos, o soldo e os
salários, salvo para pagamento de prestação alimentícia".
(Processo nº AP/4131/01, 1ª Turma do TRT da 3ª Região, Relª.
Juíza Denise Alves Horta. DJMG 31.08.2001, p. 06).

Tamanha a proteção dada ao salário que


a jurisprudência pátria também é pacífica no sentido de que a verba
salarial em sentido amplo – assim entendido como a verba de
natureza alimentar - é absolutamente impenhorável, ainda que este
seja depositado em uma conta corrente comum e não em uma conta-
salário. “IMPENHORABILIDADE DOS SALÁRIOS – A impenhorabilidade
do salário, nos termos do art. 649, IV do CPC, abrange também a
conta corrente onde este é depositado, sob pena de impedir a
subsistência do sócio executado, impondo-se o desbloqueio
determinado pelo Juízo Executório. (TRT 11ª R. – AP 1453/2003-911-
11-00 – (51/2004) – Rel. Juiz José dos Santos Pereira Braga – J.
16.01.2004). (sem grifo no original)

Tendo por fulcro a argumentação doutrinaria e


jurisprudencial aduzida no bojo desta peça, fica patente a ilegalidade
da penhora da pensão alimentícia da ré, pelo que se pede por
JUSTICA!

III – DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:


A) que seja DESCONSTITUIDO O ATO CONSTRITIVO QUE INCIDIU
SOBRE A CONTA CORRENTE N°. 00364-7, AGENCIA 7156, em
nome do executado, nos termos do artigo 649, IV, CPC, haja vista ter
a conta em tela natureza alimentar (docs. Anexados). Frise-se, que tal
medida deve ser atendida em caráter liminar, visto que a demora da
decisão pode acarretar danos irreversíveis àquele, pois é o único
mantedor financeiro de sua família nuclear – a qual é constituída por
quatro pessoas.

b) O estorno das verbas salariais ilegalmente penhoradas, no valor de


R$ 279,74 (duzentos e setenta e nove reais e setenta e quatro
centavos), conforme atesta documento acostado.

c) Por derradeiro, requer que todas as notificações e intimações deste


processo sejam feitas em nome do patrono do autor, Bruno Ambrogi
Ciambroni, advogado inscrito na OAB/SP sob nº 291.013, com endereço o
eletrônico “bruno_ciambroni@hotmal.com”, e na hipótese de intimação postal,
seja remetida ao escritório com endereço constante no rodapé da presente
petição.

Termos em que,
Pede deferimento.

Taubaté, 09 de Dezembro de 2008.

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