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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ....ª JUNTA TRABALHISTA DA COMARCA DE ....

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ESTADO DO ....

Autos nº ....

...., pessoa jurídica de direito privado, com sede na Rua .... nº ...., na Comarca de ...., devidamente inscrita no
CGC/MF sob o nº ...., vem por suas advogadas ao final firmadas, (Instrumento Procuratório incluso), com sede
na Rua .... nº ...., na Comarca de ...., onde recebem intimações, notificações, respeitosamente a presença de
Vossa Excelência, face à RT contra si proposta por .... já qualificado, apresentar sua

DEFESA

pelas razões de fato e de direito que passa a aduzir:

Primeiramente a Reclamada quer impugnar todos os documentos que estão acostados à inicial e que não
preencham as formalidades ditadas pelo artigo 830 da CLT. Outrossim, se contrapõe a tudo quanto consta da
maliciosa, insegura e confusa Inicial, pois não condiz com o que realmente aconteceu. Na verdade, e isto é
preciso que o Reclamante reconheça, os fatos ocorreram conforme a seguir e serão contestados item por item
na exata seqüência em que foram arrolados.

I - DEFESA INDIRETA
AUSÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO - CHAPA
CARÊNCIA DE AÇÃO

O Reclamante alega que laborou para a Reclamada na função de descarregador de caminhão e na forma do
art. 3º da CLT, razão pela qual pleitea declaração de vínculo empregatício, anotação na CTPS, pagamento de
aviso prévio, gratificações natalinas, férias + 1/3 constitucional, horas extras + adicional + reflexos, FGTS +
multa de 40%, seguro-desemprego, multa do art. 477 da CLT e honorários advocatícios.

O Autor falta com a verdade. Jamais foi empregado da Reclamada, mas sim e sempre, CHAPA, prestando
serviços como trabalhador autônomo que sempre foi.

Contrário ao que forçosamente quer nos fazer crer o Autor, ausentes os requisitos do artigo 3º da CLT.

Entre o Reclamante e a Reclamada jamais aconteceu qualquer relação jurídica de emprego, face à inexistência
de continuidade e subordinação.

Diligenciando a respeito do autor, a Reclamada, foi informada de que o mesmo, eventual, ocasional e
esporadicamente era utilizado para o carregamento dos caminhões das mercadorias de seu depósito.

A Reclamada possui o seu quadro próprio de empregados registrados, para o mister a que o Autor foi, em
raras vezes, chamado, ocasiões estas em que havia excesso de trabalho.

Sobre o caso em tela, a r. decisão do E. TRT, da 1ª Região:

"Não é empregado quem presta serviço quando há excedente de trabalho." Ac. (Unânime) TRT 1ª Reg., 1ª T.
(RO 4545/90) Rel. Juiz José Maria da Cunha, "Boletim de Jurisp.", março/abril 92, p. 29.

E ainda:

"Relação de emprego. Chapa. Inexiste vínculo empregatício quando caracterizada a atividade de chapa,
trabalhando os autores na carga e descarga de veículos, somente quando existiam estes serviços, sem
obrigação de comparecimento ou de permanecer à disposição da empresa." (TRT - 12ª Reg. - RO-V-006205/93
- 2ª JCJ de Tubarão - Ac. 3ª T. - 007193/95 - unân. - Rel.: Juíza Ângela M. Almeida Ribeiro - Rectes: João
Ferreira e outro - Recdo.: Nelci Chaves Zanichelli - Advs.: Carlota Feuerschuette Silveira e outro; Alexandre
D'Alessandro Filho e outro - Fonte: DJSC, 28.09.95, pág. 45).

Como exposto acima, em raras ocasiões o Autor efetuou trabalho de descarregamento de caminhão para a
Reclamada, inexistindo, portanto, um dos requisitos essenciais à relação de emprego, qual seja, a não
eventualidade.

Quanto à alegada subordinação sofrida pelo Autor, resta totalmente impugnada, visto que completamente
inverídica ao seu pedido. Na realidade, como será provado por ocasião da instrução processual, o Reclamante
sempre foi o "responsável" (líder) de um grupo de 3 pessoas, as quais, face a localização da Reclamada, região
de várias transportadoras e saída da cidade, a qual sempre atraiu a presença de vários "chapas, oferecendo
seus serviços a quem desejasse, especialmente na carga e descarga de mercadorias, em atividade promíscua,
prestada a vários tomadores em um mesmo dia, conforme sua vontade e conveniência financeira.

Sobre o caso em tela a jurisprudência abaixo:


"Chapa. Inexistência da relação empregatícia. Eventual o trabalhador denominado 'chapa', que presta serviços
de carga e de descarga de caminhões para mais de uma empresa, sem fixação jurídica nem subordinação,
elemento nuclear da relação de emprego, que não pode ser meramente presumida. (TRT - 3ª Reg. - RO-
15112/94 - 10ª JCJ de Belo Horizonte - Ac. 1ª T. - maioria - Rel.: Antonio Fernando Guimarães - Fonte: DJMG
II, 27.01.95, pág. 26).

O Autor e as pessoas escolhidas e comandadas por ele, como já dito acima, em algumas poucas ocasiões
(excesso de trabalho, quando os empregados da Reclamada não conseguiam dar cabo ao trabalho) prestaram
serviços para a Reclamada, mais sempre sem qualquer subordinação, estando os demais chapas subordinados
ao Autor que era quem acertava o valor do serviço com a empresa, recebia em nome de todos, pelo serviço
realizado e depois, pagava pessoalmente seus camaradas. As RPAs juntadas pelo Autor só vem confirmar o
acima descrito pois, o valor ali consignado, por óbvio não é o relativo a um mês de trabalho na função de
chapa, quanto menos a um dia, sendo por conseguinte, a prova de que o Autor contratava outras pessoa, as
quais sob sua direção, prestavam serviços a inúmeras empresas, tendo os respectivos salários pagos pelo
próprio Autor.

Pelo exposto, inexistente na relação de trabalho havida com o Autor qualquer indício de subordinação,
exclusividade e, até mesmo, salário, pois como dito acima, a remuneração paga ao Autor e seus "camaradas"
era mutuamente combinada.

Inexistente qualquer um dos requisitos elencados no art. 3º celetário não há que se falar em vínculo
empregatício.

Neste sentido:

"Relação de emprego. Para que se verifique a relação empregatícia faz-se necessária a reunião dos três
requisitos ínsitos no art. 3º da CLT (serviço de natureza permanente, subordinado e salário). A ausência de
qualquer um desses torna evidente a possibilidade de reconhecimento de vínculo empregatício entre as
partes." Ac. TRT, 10ª Reg., 1ª T. (RO 1567/91), Rel. (designado) Juiz Franklin de Oliveira, DJU 21/10/92, p.
3367. "(Dicionário de Decisões Trabalhistas, B. C. Bonfim e Silvério dos Santos, 24ª edição, ET. p. 649,
verbete 4539)"

"Ex Positis", pela ausência de vínculo de emprego, cabem rejeitados todos os pedidos formulados na exordial.

Em homenagem ao princípio da eventualidade, contesta, a Reclamada, um a um, todos os pedidos do Autor.

DEFESA DIRETA

I - DO ALEGADO CONTRATO DE TRABALHO

A - DATA DE ADMISSÃO E DEMISSÃO

O Reclamante falta com a verdade, quando alega que foi admitido em .../.../... para exercer a função de
descarregador de caminhão e, que foi demitido em .../.../...

Como já afirmado acima, o Autor nunca foi admitido pela Reclamada. A empresa, nas poucas ocasiões em que
necessitou do serviço de chapas, contratou o Autor e seus colegas, comandados pelo primeiro, para prestação
de serviço específico. Os mesmos residiam na localidade e, quando viam algum container no pátio da
Reclamada se aproximavam do portão e ofereciam seus serviços ou, em outras oportunidades, quando
necessitasse do serviço de chapas, um representante da empresa se dirigia até um bar (ponto dos chapas),
onde permanecem todos os chapas a espera de algum serviço e, lá contratava o Autor e sua equipe para
descarregamento do(s) container.

As ocasiões em que o Autor prestou serviços para a Reclamada estão abaixo descritas e se comprovam pelas
RPAs ora juntadas:

a) .../.../... - refere-se a descarga de 05 containers - de 40 pés e 01 de 20 pés;

b) .../.../... - refere-se a descarga de 05 containers 40 pés e 01 de 20 pés;

c) .../.../... - refere-se a descarga de 02 containers 40 pés;

d) .../.../... - refere-se a descarga de 03 containers 40 pés e 01 de 20 pés;

e) .../.../... - refere-se a descarga de 02 containers 40 pés e 01 de 20 pés;

f) .../.../... - refere-se a descarga de 02 containers 40 pés;

g) .../.../... - refere-se a descarga de 04 containers 40 pés;


h) .../.../... - refere-se a descarga de 04 containers 40 pés;

i) .../.../... - refere-se a descarga de 04 containers 40 pés e empilhamento de 480 caixas de fósforo;

j) .../.../... - refere-se a descarga de 01 containers 40 pés;

k) .../.../... - refere-se a descarga de 03 containers 40 pés; e

l) .../.../... - descarga de containers 40 pés.

Pelo exposto, conclui-se que durante o período alegado pelo Autor, como de trabalho para a Reclamada, o
mesmo trabalhou somente em 14 oportunidades, totalmente esporádicas, sem qualquer relação de
continuidade e, juntamente com seus "camaradas" realizou o trabalho sem qualquer subordinação, da forma
como sempre fez na função de "chapa" autônomo, com a maior agilidade possível para poder efetuar novos
trabalhos a outras empresas.

B - DA SUBORDINAÇÃO

A visão moderna do instituto se consubstancia na obra de Paulo Emílio de Vilhena (Relação de Emprego, SP,
Saraiva, 1975), onde a subordinação é conceituada "como a participação integrativa da atividade do
trabalhador na atividade do credor do trabalho". Tal conceituação se explica numa visão dinâmica do vínculo
subordinante que mantém o trabalhador junto à empresa, como um dos componentes do seu giro total em
movimento, compondo todo o processo produtivista ou de fornecimento de bens. Desse encontro de energias
e, em especial, da certeza e da garantia de que tal encontro venha a ocorrer permanentemente, através da
atividade vinculada surge a noção de trabalho subordinado.

Como descrito no item anterior, o Autor nunca teve qualquer expectatividade em relação a compor o processo
produtivista da Reclamada, pois nos mais de 02 anos alegados pelo Autor como de trabalho para a Reclamada,
trabalhou somente em 14 oportunidades. Inexistente subordinação, não há que se falar em vínculo de
emprego.

Confirmando a tese acima esposada a jurisprudência abaixo do E. TRT, 10ª Reg.:

"Relação de emprego. Autônomo. Não constitui relação de emprego a atividade de pessoa física visando
prestação de serviços específicos, cujo resultado decorra de seu empenho profissional, eqüidistante e sem total
controle subordinativo por parte do contratante. Tal atuação pressupõe autonomia, apesar da não-
eventualidade, essencialidade, onerosidade e pessoalidade, elementos ínsitos na prestação de serviços
autônomos ou como empregado. Apenas a subordinação, ou seja, a inserção da pessoa nos mecanismos
dirigidos de produção da empresa, representa meio seguro para constatação do vínculo. Esta inexiste se há
liberdade na execução dos serviços." (TRT- 10ª Reg. - RO-5616/94 - 6ª JCJ de Brasília - Ac. 1ª T.-2895/95 -
Rel.: Juíza Terezinha Célia Kineipp Oliveira - j. em 17.10.95 - Fonte: DJU III, 03.11.95, pág. 16.299).

C - DA REMUNERAÇÃO

O Autor mais uma vez falta com a verdade, agindo com inegável má-fé, quando sustenta que a média do seu
salário mensal era de R$ .... (....) com fundamento nas RPAs que junta.

Como já retro afirmado, o Reclamante prestava serviço com mais três colegas. O valor ajustado entre o Autor
(representante dos outros três colegas) e a Reclamada para descarregamento de containers era de R$ .... (....)
para o container com 40 pés e, de R$ .... (....) para o container com 20 pés.

O item de letra "A", acima descrito, demonstra todas as vezes em que o Autor e seus camaradas prestaram
serviço de descarregamento de containers. Pois bem, a título de exemplo, verifica-se que no dia .... ocorreu o
descarregamento de .... containers, sendo que .... com .... pés e .... com .... pés. Pelo trabalho o Autor e seus
colegas receberam o valor total de R$ .... (....) conforme documento em anexo, RPA datada de ...., emitida em
nome do Autor, líder do grupo, que rateava o valor com os outros três chapas, donde se concluiu que o mesmo
recebeu por este descarregamento a importância de R$ .... (....) e assim ocorreu nos demais meses.

Ora Excelência, é óbvio que nenhuma empresa paga a importância de R$ .... (....) mensais para alguém que
desempenhe a função do Reclamante, como o mesmo pretende fazer crer nas razões da inicial.

Pelo exposto, se conclui que o Autor não recebia remuneração, mas sim pagamento pelos serviços prestados
eventualmente. Caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência, o que se admite somente em prol do
argumento, requer seja feita uma média, de acordo com as RPAs em anexo, cujos respectivos valores deverão
ser divididos por quatro para então se obter o valor efetivamente recebido pelo Autor nos seis meses
anteriores, o que dará uma média de R$ .... (....), nunca o valor apontado na exordial.

II - DO REGISTRO NA CTPS
Conforme já descrito acima, descabe o reconhecimento de vínculo empregatício, visto que sempre desenvolveu
a função de chapa, sendo totalmente eventual a atividade.

Inverídico, ademais, o período apontado na exordial. Conforme as RPAs em anexo, o Autor prestou serviços na
Ré, tão somente por quatorze oportunidades, durante quase .... anos, conforme já mencionado, sem qualquer
regularidade, prestando serviços há várias outras empresas no mesmo período, sem qualquer exclusividade
para com a Reclamada.

Isto posto, resta totalmente improcedente pleito de nº 04 letra "a" da exordial.

III - VERBAS RESCISÓRIAS, FÉRIAS, GRATIFICAÇÃO NATALINA E FGTS (8 e 40%)

Ausente liame empregatício, improcede pedido de férias e gratificação de natal. Além disto, ocasional o
trabalho, sem a continuidade capaz de autorizar a aquisição desses direitos.

Indevido, ainda, aviso prévio, natalinas e férias proporcionais, mais FGTS e multa ao tempo da "rescisão" e só
porque a ré não demitiu o Autor. Esse último, como próprio da relação mantida, não mais compareceu à
Reclamada em busca de serviços esporádicos, simplesmente auferiu, como de hábito, salário dia em última
data da prestação de serviço, e buscou a Reclamada somente agora e por esta via.

Em reconhecida eventual relação de emprego, fatal a caracterização de ruptura contratual por justo motivo,
por abandono de emprego, o que a toda evidência lhe retira qualquer direito em buscar aviso prévio, férias
com mais terço constitucional, gratificação de natal e FGTS mais 40%.

IV - DOBRA DO ARTIGO CELETÁRIO

Conforme exposto, a Reclamada contesta todos os pedidos pleiteados na exordial, existindo dúvidas a cerca da
legitimidade do pedido articulado pelo Autor. Vê-se que há polêmica, discussão, enfim, controvérsia. Logo as
razões apresentadas são suficientes para configurar pela improcedência do pleiteado.

Existente controvérsia, inaplicável a dobra salarial, previsto no artigo 467 da CLT.

Ademais, cumpre ressaltar que a dobra salarial de que trata o artigo 467, da CLT, só é aplicável aos salários
em sentido restrito. Além de que o pedido da parcela não é líquido e certo, logo inaplicável a dobra do artigo
467, da CLT.

Aliás, nesse sentido é que tem, decidido nosso tribunal, in verbis:

"A dobra salarial prevista no artigo 467, da CLT, refere-se unicamente a salários 'strictu senso', nela não se
compreendendo o aviso prévio, 13º salários e férias, ou mesmo horas extras. A aplicação do dispositivo legal
pressupõe ainda, a natureza incontroversa da verba salarial. Qualquer controversia razoável, afasta a dobra
salarial." (TRT-PR-RO 3670/89 - Ac. 3ª T. 5402/90, Rel. Juiz Euclides Alcides Rocha).

Em face da controvérsia estabelecida, descabe a aplicação da dobra.

Rejeite-se "in totum".

V - MULTA DO ART. 477 CELETÁRIO

Descabe o pedido de multa por atraso no pagamento de verbas rescisórias, seja pela espécie de relação de
fato mantida, seja pelo abandono de emprego caracterizada e até a ausência de atraso para pagamento de
qualquer verba rescisória.

Neste sentido, a r. decisão do E. TRT 9ª Região:

"CLT. Verbas rescisórias. Atraso. Multa. Art. 477. Controvertido o vínculo empregatício, ainda que
posteriormente judicialmente reconhecido como tal, descabe a condenação à multa do art. 477 da CLT porque
inexigível a carga de verbas rescisórias do trabalhador reclamante anteriormente ao decreto judicial que assim
deferiu a natureza da prestação de serviços." (TRT - 9ª Reg. - RO-04495/95 - 1ª JCJ de Foz do Iguaçu - Ac. 4ª
T. - 08278/96 - maioria - Rel.: Juiz Roberto Dala Barba - Recte: Cooperativa Agropecuária Três Fronteiras
Ltda. - Recdo: Dirceu Silveira de Souza - Advs.: Pedro Antonio Coelho de Souza Furlan e Marcos Apollini
Neumann - Fonte: DJPR, 26.04.96, pág. 279).

VI - DO HORÁRIO DE TRABALHO

Como acima descrito, ausente labor contínuo, habitual, pelo Autor na Reclamada. Ausente mesmo, o mais
mínimo controle de jornada, sem qualquer fixação de horário a cumprir. Entretanto, jamais laborou nos dias e
horários consignados na exordial.
Eventualmente, quando prestou serviços para a Reclamada, sempre o fez durante a jornada normal de
trabalho dos empregados da empresa, qual seja, das .... horas às .... horas, de segunda a sexta-feira, com
uma hora e meia de intervalo e aos sábados das .... horas às .... horas, mesmo porque, a Reclamada não
permitiria que uma pessoa estranha ao seu quadro pessoal permanecesse nas suas dependências após o
expediente normal.

"Ex positis" ausente jornada suplementar além de oito horas dia, restam indevidos pedidos de letras "d" e "e"
da exordial.

VII - SEGURO DESEMPREGO

Indevida a pretensão descrita no item de letra "I" da exordial, por absoluta falta de respaldo legal. Além disso,
a Justiça do Trabalho é incompetente para processar e julgar a matéria, eis que de ordem previdenciária.

Demais disto, a ruptura contratual tal como alegada no item de nº III (das verbas rescisórias) não confere ao
Autor direito à percepção de seguro desemprego. Em prol do eventual, cabe alegar que o recebimento do
benefício está sujeito a cumprimentos de requisitos administrativos não comprovados pelo Autor, como por
exemplo, estar desempregado, ter trabalhado mais que seis meses para a Reclamada, o que de fato, como já
mencionado acima, não ocorreu.

Sobre o caso em tela, a jurisprudência abaixo:

"Tendo sido judicial a declaração do vínculo empregatício, não há se falar em indenização de seguro
desemprego." (TRT - 3ª Reg. - RO-11188/95 - JCJ de Curvelo - Ac. 3ª T. - maioria - Rel.: Sergio Aroeira Braga
- Fonte: DJMG II, 23.01.96, pág. 11).

Pelo exposto improcede pleito de letra "I" da exordial.

VIII - JUSTIÇA GRATUITA

O Reclamante requer o benefício da justiça gratuita, mas em nenhuma oportunidade prova não ter condições
de arcar com as custas do processo, conforme lhe incumbia nos exatos termos da legislação vigente:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Incabíveis vez que a presente RT não se enquadra a Lei nº 5.584/70.

Incabíveis ainda, de acordo com o Enunciado de nº 219, do C. TST, mormente ante a edição do Enunciado de
nº 329, do C. TST, e da suspensão, em caráter cautelar do art. 1º, da Lei nº 8.906/94, pelo Excelso STF, na
ADIN de nº 1.127-8.

Neste sentido temos que:

"Honorários Advocatícios. Cabimento. Os honorários advocatícios somente são devidos no processo do trabalho
quando o trabalhador seja beneficiário de assistência judiciário sindical nos termos da Lei nº 5.584/70 (art.
14), e no percentual fixado no Enunciado nº 219/TST, por quanto o próprio Supremo Tribunal Federal deixou
certo na ADIN resultante da Lei nº 8.906/94, que resta preservado o 'jus postulandi' na justiça do Trabalho."
(TRT, 9ª Reg., RO-10922/94 - 1ª JCJ de Maringá - Ac. 3ª T. 14349/95 - maioria - Rel. Juiz Euclides Alcides
Rocha - DJPR - suplemento -, 09.03.95, pág. 40).

DA MÁ-FÉ DO LITIGANTE

Preceitua o artigo 1.531 do Código Civil:

"Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressaltar as quantias recebidas, ou pedir
mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado
e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se, por lhe estar prescrito, decair da ação."

Alega o Autor, inúmeras inverdades, algumas devidamente comprovadas nos autos e outras que se provarão
na fase oportuna.

Conforme a documentação inclusa a Reclamada prova que o Reclamante vem faltando com a verdade dos
fatos. Atualmente, é comum muitos ex-empregados irem a Justiça reclamar valores que já receberam do
desligamento da empresa. Através da documentação anexa, comprova-se que o pedido do Autor é descabido,
coercitivo e de má-fé. Isso não deixa de ser extorsão.

Esse tipo de conduta não honra a dignidade do Poder Judiciário e expõe a Justiça sobre larga margem de erro,
mormente quando se considera o que pode suceder em situações análogas envolvendo empresas consideradas
a revelia. Não se pode dar ensanchas para atitudes assim reprováveis, deturpando o regular exercício do
direito de ação e opondo-lhes a trapaça, o oportunismo de se arriscar no processo para pleitear o que não tem
direito, o que já foi pago, o que a lei não contempla, e o mais das vezes, de maneira tão sorrateira e maliciosa,
que só lembra a má-fé.

Tem o Autor a ciência do mal, certeza do engano, e, mesmo assim pleiteou pedido inexistente em
contravenção aos preceitos legais.

Diante do acima exposto, requer-se que o Reclamante seja declarado como incurso nos artigos 1.531 do
Código Civil, artigos 17 e 18 do Código de Processo Civil e condenado ao pagamento a Reclamada, do
equivalente ao preceituado nos supra artigos, com juros e correção monetária legal, bem como demais
despesas efetuadas. Tal encargo por constituir responsabilidade por ato ilícito, não se afastam com suposta
alegação de pobreza e declarações sacadas de ocasião.

E para corroborar a posição da ora contestante e fulminar de vez as postulações, vejamos o seguinte julgado,
o qual serve como uma luva no caso em tela:

"EMENTA: ARTIGO 1.531 DO CÓDIGO CIVIL. APLICABILIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO. É aplicável nesta
Justiça Especializada o art. 1.531 do CC, por força do disposto no art. 8º, parágrafo único, da CLT: aplicação
subsidiária do direito comum ao direito do trabalho. Não se diga que, com isso, há incompatibilidade com os
princípios fundamentais que norteiam o direito trabalhista, posto que a proteção do hipossuficiente, o maior
dos princípios deste ramo jurídico, só existe enquanto existir a relação de emprego. No momento que esta se
desfaz e que o ex-empregado ingressa em juízo, ele se equipara, processualmente, a parte passiva, ainda que
estejam em discussão direitos relativos ao contrato de trabalho. Isto porque, a solução do litígio,
meritoriamente, e que se dará em face dos preceitos protetivos ao empregado, relativamente ao tempo em
que detinha esta qualidade, aí, sim, se aplicando os princípios fundamentais do trabalho." (TRT - PR - RO -
4289/91, Ac. 1ª T. 3907/92 - Rel.: Juiz Tobias de Macedo Filho).

COMPENSAÇÃO:

"Ad cautelam", advindo condenação ao pagamento de quaisquer das verbas pleiteadas, o que se admite
apenas por argumentar, requer-se a compensação de todos os valores comprovadamente pagos a qualquer
título, durante o período laborativo conforme o artigo 767 da CLT.

JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA

Em caso de eventual condenação, o que se admite apenas como argumento, os juros e correção monetária
devem seguir os ditames da Legislação pertinentes em vigor.

RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS

Em caso de eventual condenação deve a sentença descriminar as verbas sob as quais incidem contribuição
previdenciária, nos termos do art. 43 da Lei nº 8.212/91 alterada pela Lei nº 8.620/93.

Ainda, no total da condenação deve ser abatido o valor correspondente a parcela do empregado para a
Previdência Social, pois constitui obrigação do empregado tal recolhimento, segundo o a alínea c, do parágrafo
único do artigo 16 do Decreto 2173/97

Ora, havendo obrigação legal do recolhimento por parte do empregado, não se justifica que a empresa deva
arcar sozinha com as contribuições, devendo ser deduzida do total do crédito do Autor o valor da parte que lhe
cabe para a Previdência Social.

O mesmo ocorre com o Imposto de Renda, que é encargo do Reclamante, devendo o valor correspondente, ser
deduzido do total de seus créditos e recolhido aos cofres públicos, segundo orientação do Provimento nº 01/93
da Corregedoria Geral da Justiça que estabelece em seus artigos 1º e 2º.

Assim, na oportunidade do pagamento, se a ação não for julgada improcedente, deve ser abatido o valor do
Imposto de Renda do total a ser recolhido pelo Reclamante.

CONCLUSÃO

Face ao exposto e a tudo mais que dos autos consta, protestando provar o alegado por todos os meios de
prova em direito admitidas, notadamente pelo depoimento pessoal da Autora, sob pena de confessa, juntada
de novos documentos e prova pericial, requerida pela Reclamante se necessário for. Requer desde já a
improcedência total do pedido, condenando-se a Autora em todas as cominações de direito.

Nestes termos,

Pede deferimento.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA MMª. VARA DO TRABALHO DE .........

....................................., (qualificação), residente na Rua .... n.º ...., Cidade de ...., por seu procurador
judicial (procuração em anexo), vem perante este MM. Juízo apresentar:

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

contra ......................................, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CGC/MF sob n.º ...., com
sede a Rua .... n.º ...., cep nº..., Cidade de ..., pelos motivos que passa a expor:

01. CONTRATO DE TRABALHO

O Reclamante foi contratado na data de ...., na função de vendedor, sendo demitido sem justa causa em data
de ....

Sua CTPS jamais foi anotada.

02. DA REMUNERAÇÃO

O Reclamante recebia na forma de comissões sobre as vendas de ...., no percentual de 10% sobre as vendas
no varejo e de 3% sobre as vendas no atacado, o que equivalia em média, a .... salários mínimos mensais.

O pagamento das comissões do Obreiro eram realizados através de depósitos em conta corrente (comprovante
em anexo). Assim a Reclamada deve ser compelida a juntada de todos os controles de venda do Reclamante, e
de todos os pedidos formulados pelo Reclamante, sob as penalidades do artigo 359 do CPC.

03. DAS HORAS EXTRAS

O Reclamante, durante todo o pacto laboral, laborava das 8:00 às 18:00 horas, com intervalo de uma hora
para refeições, sendo que aos sábados, laborava das 8:00 às 12:00 horas, sem nenhum intervalo.

Prestando jornada de labor ampliada, o Reclamante faz jus a receber horas extras, quais sejam, todas que
extrapolem a 8º hora diária de labor, 44º semanal, 220º mensal, no adicional de 50%, usando-se do divisor
220, com integração ao salário para todos os efeitos, com reflexos sobre férias, 13º salário, FGTS, DSR, horas
extras, aviso prévio e demais verbas rescisórias.

Contra qualquer alegação de que o Obreiro fazia parte da exceção representada pelo artigo 62 alínea "a" da
Norma Consolidada, cabe alguns esclarecimentos:

A Nova Constituição Federal, promulgada em 1988, em seu artigo 7º, inciso XIII, garante uma jornada máxima
de oito horas diárias e quarenta e quatro semanais para todos os obreiros, sem distinção ou exceção,
ressaltando o princípio da igualdade, constante no artigo 5º desta Carta Magna.

Assim, conclui-se que a intenção do legislador Constituinte, foi de revogar todas as exceções à jornada máxima
de oito horas com objetivos de natureza biológica, social e econômica, que não fogem à razão humana.

Diante do exposto, é clara a revogação do artigo 62 alínea "a" em respeito ao princípio da subordinação das
normas, e em observação à intatibilidade exigida pela nossa Carta Magna vigente.

Assim, a aplicação do artigo 62 alínea "a" para o caso em foco, significa claro desrespeito à Norma
Constitucional, uma ferida profunda à legalidade e aos direitos básicos do cidadão. Não destoam deste
entendimento as decisões de nosso Egrégio Tribunal Regional do Trabalho, IN VERBIS:

FUNÇÃO DE CONFIANÇA - PARÁGRAFO 2º DO ART. 224 DA CLT. NÃO RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL.

"A partir de 05.10.88, com a vigência da Constituição Federal de 1988, deixou de existir o parágrafo 2º do art.
224 da CLT, o qual não foi por ela recepcionado. Não há que se falar, portanto, na aplicação desse dispositivo
para afastar a condenação nas sétima e oitava horas como extras." (TRT-PR-RO-2025/91-Ac. 1ºT-3834/92-
Rel. Juiz Pretextato Pennafort Taborda Ribas - Publicado. no Diário da Justiça - Pg. 115, em 22/05/92).

04. 13º SALÁRIO.

O Reclamante não recebeu o 13º salário referente ao ano de 1992. Assim impõe-se o pagamento dobrado
deste salário, com integração do piso normativo, das horas extras e da média das comissões, com reflexos
sobre férias, DSR, FGTS, aviso prévio e demais verbas rescisórias.

05 . DAS VERBAS RESCISÓRIAS

No momento da rescisão contratual, o Reclamante não percebeu as verbas rescisórias inerentes à demissão
sem justa causa, fazendo jus portanto, ao pagamento de aviso prévio, férias vencidas acrescidas de 1/3, 13º
salário proporcional (6/12 avos), multa rescisória (FGTS 40%), saldo de salário (20 dias), e demais verbas
rescisórias inerentes à espécie.

06. DA MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT.

Não pagando as verbas rescisórias do obreiro, por óbvio, a Reclamada extrapolou o prazo de que trata
parágrafo 6º do artigo 477 da CLT, assim, o Reclamante faz a perceber a multa que trata o parágrafo 8º deste
mesmo artigo, prevista em uma remuneração mensal do empregado demitido.

07. DO SEGURO DESEMPREGO

No momento de sua demissão o Obreiro não recebeu as guias de seguro desemprego, não podendo portanto,
requerer este benefício de que trata a Lei 7.988/90.

Assim, a Reclamada deve ser condenada a indenizar o empregado no montante das parcelas que este deveria
receber a título de seguro desemprego (4 salários) nos termos do artigo 159 e seguintes do Código Civil
Brasileiro.

08. DO FGTS

A Reclamada deve comprovar os depósitos fundiários do Reclamante, mês a mês, sob pena de
complementação das diferenças existentes.

No caso de não comprovação dos depósitos fundiários, a Reclamada deve ser condenada ao pagamento do
valor equivalente a todos os depósitos fundiários de toda a relação de emprego.

Ainda, deve ser condenada ao pagamento de juros de mora de 1% ao dia, sobre os depósitos fundiários
devidos e atualizados, mês a mês, durante toda a relação de emprego, bem como ao pagamento de multa de
20% sobre o valor total do FGTS não depositado, pela aplicação do artigo 22 da Lei 8.036/90.

É devido o pagamento de FGTS no percentual de 11,2% sobre todos os pleitos anteriores, diante da demissão
injusta do Obreiro.

09. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

O artigo 133 da Constituição Federal, norma cogente, de interesse público, das partes e jurisdicional, tornou o
advogado indispensável à administração da Justiça, revogando o "JUS POSTULANDI" das partes.

Sendo necessária a presença do profissional em Juízo, nada mais justo e coerente do que o deferimento de
honorários advocatícios, inclusive ao advogado particular, por força do princípio da sucumbência (artigos 769
da CLT e 20 do CPC).

A Norma Constitucional, por sua natureza, não admite exceções, por motivos que não fogem a lógica. Assim,
quando o legislador constituinte impõe um limite ao artigo 133, não objetivou a criação de uma brecha a este
preceito, que permitisse o "JUS POSTULANDI", mas sim, os parâmetros para a atuação do advogado, sendo
esta a interpretação mais plausível, senão vejamos:

"ADVOGADO - INDISPENSABILIDADE DO ADVOGADO - EXTINÇÃO DO "JUS POSTULANDI" DAS PARTES NA


JUSTIÇA DO TRABALHO - ART. 133/CF - SÚMULA 327/STF - Atualmente (....) com a promulgação da CF de
1988 em face do art. 133 da Magna Carta, com a consagração da indispensabilidade do advogado na
administração da Justiça do Trabalho e, "ipso facto", reforçada a tese consubstanciada na súmula 327 do STF."
(Guilherme Mastrichi Basso, "in" Revista do Ministério Público do Trabalho - Procuradoria Geral da Justiça do
Trabalho, ano II, n.º 4, set., São Paulo, Ed. Ltr, 1992, p. 113)

"Conquanto não esteja a Autora assistida por sua entidade de classe, no que tange especificamente aos
honorários advocatícios, cumpre salientar que o art. 113 da Constituição Federal vigente tornou o advogado
"indispensável à administração da Justiça." Com isso, derrogou o artigo 791, da CLT, extinguindo a capacidade
postulatória das partes nos processos trabalhistas." (sentença proferida nos autos 570/90, 4º JCJ, pelo MM.
Juiz Presidente Dr. João Oreste Dalazen)

"Havendo sucumbência, são devidos os honorários advocatícios (art. 20 CPC). "(Ac. TRT 1º Região - 3 Turma -
RO 8.620/89, Rel. Juiz Roberto Davis, "indo" DO/RJ, 13/09/90 - pág. 110)

Ainda assim, não devemos esquecer a lição de que "a atuação da Lei não deve representar uma diminuição
patrimonial para a parte a cujo favor se efetiva."

DIANTE DO EXPOSTO, RECLAMA:

A - Anotação da CTPS do Obreiro de toda a relação de emprego, conforme o exposto no (....) 01 supra.

B - Pagamento de todas as horas extras laboradas pelo Obreiro, no seu respectivo adicional, com integração ao
salário para todos os efeitos, com reflexos sobre férias, 13º salário, FGTS, DSR, horas extras, aviso prévio e
demais verbas rescisórias, conforme o exposto no item 03 supra.

C - Pagamento do 13º salário relativo ao ano de 1992, com seus respectivos reflexos, conforme o exposto no
item 04 supra.

D - Pagamento de todas as verbas rescisórias inerentes a demissão sem justo motivo, conforme o exposto no
item 05 supra.

E - Pagamento da multa prevista no artigo 477 da CLT, conforme o exposto no item 06 supra.

F - Pagamento indenizado de todas as parcelas do seguro desemprego, conforme o exposto no item 07 supra.

G - Pagamento de todas as parcelas de FGTS não depositadas, com juros e multa legais, conforme o exposto
no item 08 supra.

H - FGTS no percentual de 11,2% sobre todos os pleitos anteriores, em face da demissão sem justo motivo do
Obreiro.

ISTO POSTO, REQUER:

I - Seja notificada a Reclamada, para que, querendo, possa apresentar defesa, sob pena de revelia e confissão.

II - Juros de mora nos termos do artigo 955, 1.062 e seguintes do Código Civil para o período anterior à
propositura da Reclamação Trabalhista.

III - Juros de mora nos termos da Lei 8.177/91 a contar da data da propositura da ação.

IV - Correção monetária

V - Parte incontroversa em dobro.

VI - Honorários advocatícios.

Protesta-se pela produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente testemunhal e juntada de
novos documentos.

Dá-se à causa o valor de R$ .... para efeitos de alçada, devendo todas as verbas serem apuradas em
liquidação de sentença.

Termos em que pede e espera deferimento.

...., .... de .... de ....

..................
Advogado OAB/...

RECLAMANTE EDSON MOURA DE DEUS


RECLAMADA PICOS MOTOS PEÇAS E SERVIÇOS LTDA – NEW
MOTOS
SENTENÇA

Vistos etc...
I – RELATÓRIO
EDSON MOURA DE DEUS, qualificado na inicial, regularmente representado
por advogado, ajuizou reclamação trabalhista em face de PICOS MOTOS E
SERVIÇOS LTDA - NEW MOTOS, com fundamento no seguinte suporte
Fático/jurídico aduzido na inicial, razão pela qual pede a condenação da
empresa reclamada nas parcelas e cominações descritas também na inicial e que
integram o presente relato. Pediu ainda a condenação da reclamada em custas
processuais, honorários advocatícios, bem como os benefícios da justiça
gratuita. Com a inicial, juntou procuração e documentos. Deu à causa o valor de
R$14.000,00. Partes regularmente notificadas para comparecimento em
audiência, que foi designada para 06.04.2006. Presentes as partes, os
respectivos patronos. A empresa reclamada apresentou defesa escrita na qual,
preliminarmente, alega carência de ação, em face da ilegitimidade passiva para
responder a presente demanda. No mérito, invocou a inexistência de vínculo
empregatício, admitindo apenas a prestação de serviço de natureza autônoma,
razão pela qual pede a improcedência do pedido articulado na inicial. Foram
colhidos os depoimentos pessoais das partes. Reduzido a termo o depoimento de
uma testemunha apresentada pela reclamada. Não havendo mais provas a serem
produzidas, encerrada a instrução processual. Frustradas as tentativas de
conciliação. Razões finais remissivas aos respectivos articulados. Distribuídos,
vieram para julgamento. É o quanto basta relatar.

II - RAZÕES DE DECIDIR.
PRELIMINARMENTE.
DA CARÊNCIA DE AÇÃO.
A preliminar de carência de ação levantada pela reclamada, em face de alegada
inexistência de relação de emprego e da ilegitimidade passiva é matéria que se
confunde com a questão de fundo, dado que se insere na competência desta
especializada o dizer se, numa dada relação jurídica, existe ou não o vínculo
empregatício. Melhor equacionada a questão, pois, se discutida na abordagem
de mérito da demanda, para onde então deve ser dirigida. Mercê disso, rejeito a
preliminar.
MÉRITO.
DA CONTROVÉRSIA E SEUS LIMITES. DA EXISTÊNCIA OU NÃO DA
RELAÇÃO DE EMPREGO NOS TERMOS DO DIPLOMA
DISCIPLINADOR.
O desnovelo da presente liça passa necessariamente pela análise a respeito da
existência ou não de uma relação típica de emprego. Se trata, pois, de recedente
indispensável, cujo desate ensejará ou não eventuais desdobramentos. De fato,
a reclamante alega em seu favor a prestação de serviço subordinado, típico de
uma relação de emprego. De seu lado, a tese da reclamada, é toda construída
sob o argumento de negativa de vínculo, nada obstante admita a prestação de
serviço por parte do reclamante na condição de vendedor autônomo, sem
qualquer subordinação, intermediando vendas de cotas de Consórcio Nacional
Honda Ltda e a empresa reclamada, em face do que não seria devida ao
reclamante nenhuma das verbas postuladas. Neste passo, quando se estar a falar
de relação de emprego, constitui-se encargo do autor tão somente demonstrar,
de forma objetiva, a existência da prestação do serviço em favor daquele que
alega ser o seu empregador, porquanto fato constitutivo de seu direito, ante a
dicção do art. 333, I, do CPC. Para a hipótese, como a presente, de a pessoa
indicada como empregador negar como sendo de emprego a relação de trabalho
afinal existente, dando-lhe contornos jurídicos diversos sob o argumento de
ausência de elementos suficientes à configuração do vínculo empregatício, tais
como a subordinação jurídica, onerosidade, pessoalidade e não eventualidade,
atrai para si a obrigação de provar que a prestação de serviços não tem natureza
empregatícia. Inteligência, porquanto, do art. 333, II, do CPC e por força da
presunção da relação de emprego, já que admitida a prestação de serviço. Nos
presentes autos, a produção de provas consistiu na juntada de documentos por
parte da reclamante, bem com na coleta de prova oral, na forma de depoimentos
pessoais e de apenas uma testemunha, esta apresentada pela reclamada.
a) DA ANÁLISE DA PROVA ORAL. DO DEPOIMENTO DO PREPOSTO
DA RECLAMADA EM CONFRONTO COM A PROVA DOCUMENTAL
APRESENTADA PELO RECLAMANTE.
O depoimento do presposto da reclamada, em linhas gerais, guarda coerência
com a tese desfiada na defesa. Ocorre que o argumento utilizado pelo preposto
da reclamada que, nesse sentido, reproduz a tese da defesa, com o fim de
demonstrar a inexistência de relação de emprego se prende no fato de que o
reclamante era vendedor externo e, nessa condição, autônomo, como se a
reclamada – que atua no ramo de vendas de consórcios e motocicletas – não
pudesse ter vendedores externos empregados, que seriam autônomos, mas tão
somente vendedores internos na condição de empregados. Tem mais: a
reclamada, a todo instante, procura vincular o reclamante ao Consórcio
Nacional Honda como se a este – ente desprovido de personalidade jurídica – o
reclamante fosse formalmente vinculado. Ora, é certo que a reclamada ao ser
autorizada a fazer a venda do CNH não o faz apenas a título de trabalho
voluntário ou de filantropia. Alguma renda a empresa reclamada há de auferir
com a venda de consórcios da Honda. Ao reverso, resta evidente que parte do
lucro obtido pela reclamada é proveniente da venda de consórcios. E lembre-se
que a atividade fim da reclamada é a revenda de bens (motocicletas, peças e
consórcios) e serviços (assistência técnica). Ocorre que para desenvolver suas
atividades e se a venda foi do tipo externa, a reclamada utiliza-se dos chamados
“vendedores autônomos”, o que não passa de uma forma de precarizar os
direitos sociais do trabalhador. Nesse sentido, se revela inverossímil, hilário até,
a afirmação da reclamada no sentido de que qualquer pessoa pode livremente
participar de cursos de formação de vendedores patrocinados pela reclamada e
que qualquer pessoa pode se utilizar de ferramentas, camisetas, fardamentos ou
logomarcas da reclamada. De igual modo, a afirmação do preposto da
reclamada no sentido de que o vendedor externo é pago pelo Consórcio
Nacional HONDA não passa de mais uma tentativa no sentido de afastar
qualquer vinculação direta com o reclamante. Mas semelhante tentativa se
revela debalde, em vão, à medida que o próprio preposto ao admitir a existência
de consórcio interno criado e administrado pela própria reclamada não consegue
explicar a razão pela qual se encontra nos autos formulário padrão
“CONTRATO DE ADESAO GRUPO DE AMIGOS” de fl. 15. Da mesma
forma que não consegue explicar – se é que vínculo nenhum existe entre
reclamante e reclamada – as razões pelas quais o documento de fl. 29 (padrão
na empresa, como se reconhece) se encontra juntados aos autos. E não é só, os
vários recibos juntos aos autos – não só aqueles que se referem a comissões
CNH – mas outros que se referem a gratificações (fls. 41/42), assim como o
certificado de fl. 45 firmado por preposto da reclamada comprovam a
vinculação direta do reclamante com a reclamada.
DA PROVA TESTEMUNHAL.
É certo que o reclamante nenhuma prova testemunhal produziu, vez que as
testemunhas que se apresentaram para depor revelaram ausência de isenção de
ânimo para depor e foram dispensadas. Entrementes – e na espécie, como já
registrado, o ônus da prova recaiu sobre a reclamada – a prova testemunhal
apresentada pela reclamada não revelou hábil à prova da negativa de vínculo. É
que a testemunha apresentada pela reclamada apenas reproduziu o discurso feito
anteriormente pelo preposto, ou seja, insiste na tecla de que vendedor externo
não tem vínculo com a reclamada, muito embora também tenha declarado (sic)
que o ponto de apoio do vendedor externo é a loja reclamada.
b) DA PROVA DOCUMENTAL E DOS INDÍCIOS E PRESUNÇÕES.
Ainda que o depoimento do representante da reclamada não tenha contrariado
os interesses da mesma, os documentos juntados aos autos com inicial, pelo
reclamante, traduzem verdadeiros indícios e presunções da existência da relação
de emprego. Referem-se a recibos de pagamentos efetuados ao reclamante
emitidos pela própria reclamada, além de modelos de contratos de vendas do
aludido consórcio interno, contrato de compra e venda, ficha cadastral, dentre
outras. Há de se perguntar então: se é que vínculo nenhum existe entre as partes,
porque os referidos documentos se encontravam na posse do reclamante, como
se fossem ferramentas de trabalho? Ou será que qualquer pessoa do povo pode
ter livre acesso aos mesmos? O certo é que, a meu sentir, os documentos
referenciados se constituem em indícios fortes da existência de uma relação de
emprego. Com efeito, segundo o magistério do cultuado Wagner D. Giglio, “ o
convencimento do julgador resulta de prova direta, realizada pela narração
histórica (oral ou escrita) do fato a ser provado, pela inspeção ou exibição de
prova, fato ou coisa, ou de prova indireta , por meio de narração ou exibição de
um raciocínio lógico. A esse ‘outro fato ou coisa’ se dá o nome de indício; os
raciocínios lógicos são as presunções. As presunções não são provas, mas
processos mentais de raciocínio lógico pelas quais, partindo-se de um fato
conhecido, infere-se a existência de outro, desconhecido” ( e negado,
acrescento). Se alguém é visto correndo para apanhar um ônibus, presume-se
que esteja com pressa” É o caso dos autos. Os contratos de fls. 12/16 são
formulários padrões da reclamada; os recibos de fls. 28/43 se constituem em
prova de pagamento efetuado ao reclamante, só para ficar nesses exemplos.
Portanto, se há reconhecimento no sentido de que os aludidos recibos foram
produzidas pela reclamada, resta evidenciado que os referidos documentos se
referem a uma folha de pagamento, o que se constitui, por si só, em prova
indiciária da existência da relação de emprego contestada.
DA UNIDADE DE CONVICÇÃO.
A matéria ora posta em debate já foi objeto de apreciação por este magistrado
em demandas anteriores envolvendo a mesma situação fática jurídica e que
mereceram procedência em parte. Sendo assim, depõe contra o próprio sistema
oficial de solução de conflito (exercício do poder jurisdicional) o existir
decisões divergentes quando examinadas uma situação que tem uma origem
comum, ou seja uma mesma situação fática jurídica. Nesses casos, de acordo
com o princípio da unidade de convicção, o que se recomenda é que as decisões
devem guardar harmonia entre si, sob pena de depor contra o próprio sistema,
porquanto não se pode conceber que à luz dos mesmos fatos possam surgir
decisões judiciais conflitantes entre si. Na espécie, já existem decisões judiciais
que, examinando os mesmos fatos e a mesma reclamada e a mesma categoria de
pessoas (vendedores) concluíram pela existência da relação de emprego entre as
partes. E pelo que restou apurado nos presentes autos, os fatos aqui agitados são
os mesmos que foram objeto de reflexão nas decisões anteriores, razão pela qual
hei de invocar os mesmos fundamentos esposados naqueles autos para concluir
pela procedência do presente pleito. Diante, pois, da prova produzida nos autos,
imperioso reconhecer, o que se faz agora, a presença dos supostos
configuradores da relação de emprego, razão pela qual declaro como existente o
vínculo de emprego firmado entre as partes no período declarado na inicial e
que não foi objeto de impugnação específica, revelando-se assim incontroverso.
De igual modo não há controvérsia acerca da natureza da rescisão contratual,
porquanto a defesa limitou-se em negar o vínculo de emprego.
DA REMUNERAÇÃO DECLARADA NA INICIAL.
Omitiu-se também a reclamada, por seu zeloso causídico, de impugnar a
remuneração declarada na inicial (média de R$550,00) de igual maneira
reputada incontroversa, ante a ausência de impugnação. Estabelecidas as
premissas básicas (existência de relação de emprego, período laborado, natureza
da rescisão contratual, valor da remuneração), ao exame dos pedidos em
espécie.
AVISO PRÉVIO.
Defere-se, em face da declaração da existência da relação de emprego e da
ausência do prévia comunicação da dispensa.
13º SALÁRIO DO PERÍDO LABORADO.
Ante a ausência de qualquer documento comprovando a regular quitação,
defere-se.
FGTS DO PERÍODO LABORADO ACRESCIDO DA INDENIZAÇÃO
COMPENSATÓRIA DE 40%.
Não existindo nos autos qualquer comprovação de regular recolhimento do
FGTS, defiro o pedido em espécie, inclusive no que se refere à multa de 40%,
ante a rescisão contratual sem justa causa.
FÉRIAS ADQUIRIDAS E PROPOCICIONAIS ACRESCIDAS DO TERÇO
CONSTITUCIONAL.
De igual modo, a reclamada não comprovou nos autos a regular concessão,
gozo e quitação das férias regulamentares, razão pela qual invocando os
mesmos argumentos acima, resolvo por bem deferir o pedido do reclamante no
particular para condenar a reclamada no pagamento, nos termos da lei, das
férias adquiridas e proporcionais relativas a todo o período laborado, acrescidas
do terço constitucional.
SEGURO DESEMPREGO.
Na fala do cumprimento da obrigação de fazer, converte-se a mesma na
correspondente indenização correspondente a 05 parcelas no valor de 01 salário
mínimo cada parcela.
DA MULTA DO ART. 477 DA CLT.
Não comprovada a regular quitação das verbas rescisórias no prazo da lei de
regência, defere-se.
SALÁRIO FAMÍLIA.
Indefere-se, ante a ausência de amparo legal.
DA COMINAÇÃO DO ART. 467 DA CLT.
Ante a natureza controvertida de toda a demanda, indefere- se.
DA ANOTAÇÃO DA CTPS DA RECLAMANTE.
Trata-se de obrigação que decorre da simples existência da relação de emprego,
já reconhecida na presente decisão. Defere-se então, nos termos do pedido.
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
Em homenagem ao princípio da sucumbência, deferem-se no percentual
correspondente a 10% do valor de condenação que for apurado em liquidação.
DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA.
Ante a simples declaração de estado de pobreza, defere-se o benefício
postulado.
II - CONCLUSÃO.
POSTO ISTO, decide este Juízo, com jurisdição na Vara Única do Trabalho de
Picos - Pi, preliminarmente, rejeitar a argüição de carência de ação; no mérito,
julgar PROCEDENTE EM PARTE o pedido veiculado na reclamação
trabalhista para condenar a reclamada no pagamento ao reclamante, no prazo
de 48 horas após o trânsito em julgado da presente decisão, das seguintes
parcelas, utilizando-se como base de cálculo a remuneração correspondente a
R$550,00, tudo nos termos da fundamentação supra que integra o presente
dispositivo:
a) Aviso prévio;
b) 13º salário do período laborado;
c) FGTS do período laborado acrescido de 40%;
d) Férias adquiridas e proporcionais, nos termos da lei, do
período laborado acrescidas do terço constitucional;
e) Indenização do seguro desemprego;
f) Multa do art. 477 da CLT.
Condena-se ainda a reclamada na anotação da CTPS da reclamante relativa a
todo o período laborado. Verba honorária a cargo da reclamada no percentual
correspondente a 10% do valor que fora apurado a título de condenação.
Concede-se à reclamante os benefícios da Justiça Gratuita. Liquidação mediante
simples cálculos, na forma permitida pelo art. 879, caput, da CLT e com os
acréscimos legais de juros e correção monetária. INSS e imposto de renda nos
termos da lei. Custas de R$100,00 pela reclamada, calculadas sobre o valor de
R$5.000,00, estimado como valor de condenação. Reclamante e reclamada já
previamente cientificados, consoante ata de fls. 70/72 e nos termos da Súmula
197 do TST.Nada mais. Publique-se e registre-se. Picos-Pi, 28 de abril de 2006.

SENTENÇA
RECLAMANTE MARLON CORDEIRO DIAS
ADVOGADO(S) JOSÉ CLENARTO SANTOS
RECLAMADA OLIVEIRA & AUTO PEÇAS LTDA - ME
ADVOGADO(S) FRANCISCO PEREIRA NETO
Vistos etc... MARLON CORDEIRO DIAS, devidamente qualificado na
exordial, por intermédio de advogado, ajuizou a presente RECLAMAÇÃO
TRABALHISTA em face de OLIVEIRA & AUTO PEÇAS LTDA - ME,
também qualificada nos autos, alegando, em resumo, que trabalhou para a
empresa reclamada, na função de vendedor, no período de 15.06.2002 a
31.05.2005, tendo sua CTPS anotada apenas em 01.09.2004, quando fora
dispensado, sem justa causa, percebendo o equivalente a dois salários mínimos,
com jornada de trabalho das 07:30 às 18:30 horas, de segunda a sexta, e das
07:30 às 16:00 horas, nos sábados, sempre sem intervalo intrajornada. Informa
que nos seis primeiros meses do pacto laboral a parte reclamada pagava apenas
o salário mínimo legal, desrespeitando o piso salarial da categoria dos
comerciários, cláusula 1ª da Convenção Coletiva de Trabalho de 2000 (fls.
23/46). Depois passou a ganhar o equivalente a dois salários mínimos, contudo
sua CTPS foi registrada apenas com o piso salarial da categoria, ficando o
restante - até completar dois salários mínimos - sendo pago extra folha. Afirma,
também, que jamais gozou férias nem recebeu o respectivo pagamento. As
gratificações natalinas e o FGTS foram quitados somente quanto ao período
registrado e a menor, com base tão-somente no piso da categoria, que era o
valor anotado na CTPS. Aduz que faz jus ao pagamento de horas extras, por ter
laborado em sobrejornada e nada percebeu sobre tais valores, bem como ao
respectivo adicional convencional de 60% mais repercussões no aviso prévio,
13º salários, férias + 1/3, FGTS mais 40% e RSR. Alega que o descumprimento
da cláusula 2ª das CCTs, que trata do reajuste salarial. Assim, são devidos
reajustes salariais e seus reflexos nas demais parcelas, mais multa de 50% por
tal descumprimento, nos termos do art.467, da CLT. Requer, ao final, a
condenação da demandada no pagamento da diferença salarial nos seis
primeiros meses do pacto laboral; aviso prévio; 13º salário; férias + 1/3
proporcionais; saldo de salário; férias dobradas e simples em todo o período
laborado; horas extras e adicional convencional de 60% e seus reflexos;
diferenças salariais nos termos da cláusula 2ª das CCT’s com 50% de multa e
seus reflexos; salário família; seguro desemprego; vale transporte; multa do art.
467, da CLT; aviso prévio para todos os efeitos – art. 487, da CLT; bem como
as retificações na sua CTPS – admissão (15.06.2002) e remuneração (dois
salários mínimos), além dos benefícios da Justiça Gratuita, custas processuais e
honorários advocatícios (fl. 70). Atribuiu à causa o valor de R$ 15.000,00
(quinze mil reais). Juntou procuração e vários documentos (fls. 08/65).
Aditamento a inicial quanto aos honorários advocatícios (fl. 70). Frustrada a
primeira tentativa de conciliação (fls. 83). Dispensada a leitura da peça de
ingresso, a reclamada apresentou procuração e documentos. Concedido prazo
para a parte reclamante se manifestar acerca dos documentos juntados com a
defesa. Manifestação tempestiva (fls. 93/94). Determinado que a reclamada
deposite em Juízo cópia do contrato social da empresa bem como eventuais
aditivos contratuais. Cópia juntada tempestivamente (fls. 86/92). Contestação
apresentada pela parte reclamada (fls. 72/74). Depoimentos pessoais às fls.
96/97. Prova testemunhal às fls. 97/98. Sem mais provas, encerrou-se a
instrução processual. Razões finais remissivas aos articulados. Conciliação final
rejeitada. Designada audiência de julgamento para o dia 19.09.2005, às 12:25
horas, ficando cientes os litigantes e seus procuradores. De tudo o referido,
incorpora-se o teor respectivo ao presente, para todos os efeitos, considerando-
se parte integrante deste relatório.
FUNDAMENTAÇÃO:
1. Das Questões de Mérito:
Do período contratual: Alega, em síntese, o reclamante, que laborou para a
reclamada, na função de vendedor, no período de 15.06.2002 a 31.05.2005,
tendo sua CTPS anotada apenas em 01.09.2004, quando fora dispensado, sem
justa causa, percebendo o equivalente a dois salários mínimos, com jornada de
trabalho das 07:30 às 18:30 horas, de segunda a sexta, e das 07:30 às 16:00
horas, nos sábados, sempre sem intervalo intrajornada. A reclamada, por sua
vez, em contestação (fls. 72/74), alega que o reclamante não foi admitido em
15.06.2002, pois, neste ano, ele prestava serviço externo como cobrador da
firma e recebia por comissão, sendo que prestava serviço apenas quando havia
cobrança a ser feita, também prestando serviços de cobrança para outras
empresas. Assevera que o reclamante não faz jus à diferença salarial do salário
mínimo para o piso salarial da categoria, nos seis primeiros meses do pacto, vez
que pagava o salário do piso da categoria dos comerciários. E, ainda, informa
ter pago ao obreiro, no ato da sua demissão, as verbas rescisórias requeridas,
tais como: aviso prévio, 13º salário e férias + 1/3 proporcionais, saldo de
salário, nos termos do TRCT (fl. 19). Quanto ao saldo de salário não tem
direito, uma vez que durante todo o período laboral percebia apenas o piso da
categoria profissional. Ressalte que não há direito às férias dobradas e simples,
e seus reflexos, tendo como base o salário apontado pelo reclamante, pois estas
parcelas já foram pagas, conforme seu salário anotado na CTPS, ou seja, o piso
salarial da categoria. Entende a reclamada que o reclamante não faz jus ao
pagamento de horas extras e respectivo adicional de 60% e seus reflexos, visto
que a jornada diária de trabalho era de oito horas, das 07:30 às 11:30 horas e das
13:30 às 17:30 horas, de segunda a sexta, e das 07:30 às 11:30 horas, nos
sábados. Afirma também não ser devida a diferença salarial, e seus reflexos,
face aos reajustes previstos na cláusula 2ª das CCTs, haja vista a percepção de
tão-somente o piso salarial da categoria. Diz, ainda, a reclamada que o autor não
forneceu cópia de certidão de nascimento, nem deu conhecimento à empresa
que tinha filho, não fazendo jus, desse modo, à cota de salário-família. Quanto a
indenização relativa ao seguro desemprego, o reclamante já fez beneficiou das
parcelas que tinha direito quando de sua demissão. E em relação ao vale
transporte, também não assiste razão ao reclamante, pois este reside próximo ao
antigo local de trabalho, não necessitando de condução para se deslocar até o
local. Por fim, requer que a reclamação seja julgada improcedente, pedindo,
ainda, a condenação do reclamante na verba indenizatória por litigância de má-
fé. Examinemos ponto por ponto.
Do período contratual: Para o exercício de qualquer emprego – em face da
presunção por força da regra geral - É OBRIGATÓRIO O CUMPRIMENTO
DE CERTAS FORMALIDADES (obrigações de fazer), como o registro do
empregado em livro ou ficha devidamente autenticados ou através de sistema
eletrônico, conforme modelos e instruções do Ministério do Trabalho, além das
anotações de sua CTPS 1. Como se verifica, é obrigação do empregador
promover as devidas anotações do contrato de trabalho, ficando o reclamante
com sua CTPS e a reclamada com o respectivo registro, onde fará prova de que
o contratou ou o demitiu em data distinta daquela alegada na exordial. Diante do
conjunto probatório dos autos, em especial o recibo no valor de R$ 400,00
(quatrocentos reais) (fl. 13), equivalente a dois salários mínimos, a contestação,
“...neste ano (2002), ele prestava serviço externo como cobrador da firma e
recebia por comissão” (fl. 73), e o depoimento da própria parte reclamada “que
o reclamante foi admitido em janeiro de 2004, na função de vendedor interno;
que antes de 2004 o reclamante trabalhou como cobrador para o depoente e
outras empresas” (fl. 96), bem como da ausência de anotações em sua CTPS,
fixo o período contratual no interstício de 15.06.2002 a 31.05.2005, com
dispensa imotivada da parte reclamante. Defere-se, então, o pagamento da
diferença salarial nos seis primeiros meses do pacto laboral (art. 464, CLT). Das
anotações em CTPS: Defere-se o pedido de retificação da CTPS, para que
conste a data correta da admissão – 15.06.2002 - e a remuneração equivalente a
dois salários mínimos legais. Do trabalho em sobrejornada: O serviço
suplementar é fato constitutivo do direito ao recebimento de horas extras e
respectivos reflexos. À luz do disposto no inciso XIII, do art. 7º da Constituição
Federal de 1988, a duração do trabalho normal é de 44 horas semanais, sendo 8
horas diárias, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Ora, se o limite legal é de
44 horas semanais, sendo 8 horas diárias e não havendo nos autos acordo ou
convenção coletiva de trabalho capaz de autorizar a compensação do labor ou a
redução da respectiva jornada – ônus afeto ao empregador - tenho como hora
extraordinária, a prestação dos serviços além da oitava. 1.ide arts. 13 e 29, CLT
Em que pese os argumentos lançados na peça defensória, entendo como devido
o pagamento de horas extras ao obreiro (art. 131, CPC), mormente no ser crível
que a loja fique aberta ao público até 19:00 horas e, no entanto, o empregador
dispensa os empregados às 17:30 horas, como relatado pela parte reclamada em
depoimento (fl. 97). Trago à baila o PRINCÍPIO DA PERSUASÃO
RACIONAL, impondo a fixação das horas extras, com cautela, à base de 1h
(uma hora) por dia, em média, de segunda a sexta e aos sábados 4h (quatro
horas), em média, durante todo o período laborado (15.06.2002 a 31.05.2005),
com reflexos nas parcelas rescisórias lançadas no TRCT de fl. 19, além dos
depósitos fundiários e multa de 40%, descontados os já recebidos, conforme fl.
19 e 82. Defere-se, então, o pagamento das horas extras e adicional
convencional de 60%, além dos reflexos sobre: aviso prévio; férias + 1/3
constitucional integral; férias + 1/3 constitucional proporcional; 13º salário; 13º
salário proporcional; saldo de salário; multa do art. 477 da CLT; e FGTS,
descontando-se os valores já pagos. Das horas extras (domingos e feriados):
Indefere-se o pleito, pois, do conjunto probatório dos autos, verifica-se que o
autor não demonstrou que tenha trabalhado, em horário extraordinário, em tais
dias. Das férias: Compulsando os autos, verifica-se que não há comprovantes de
pagamento de férias (art. 464, CLT). Defere-se, então, o pagamento de férias
simples e em dobro em todo o período laborado. Do salário família: Analisando
os autos, notadamente a impugnação da reclamada, verifica-se o não pagamento
do salário-família, sob o argumento de que o reclamante não forneceu cópia de
certidão de nascimento, nem deu conhecimento à empresa que tinha filho.
Contudo, isso não o exime do pagamento de tal parcela, ainda mais quando,
repetimos, não é crível a argumentação da reclamada. Assim, o reclamante faz
jus ao recebimento da parcela salário-família, conforme cópia de certidão de
nascimento juntada aos autos (fls. 14) razão pela qual defere-se o pleito em
referência. Do seguro desemprego: De plano, verifica-se que há diferença entre
os valores recebidos pelo obreiro a título de seguro desemprego e os valores
efetivamente devidos ao reclamante, haja vista as divergências entre a anotação
da CTPS e o valor da remuneração. Defere-se, então, o pleito remanescente. Do
vale transporte: Observa-se que o trabalhador em seu depoimento afirmou “que
se deslocava ao local de trabalho utilizando carro próprio” (fl. 96). Indefere-se,
então, o pleito em referência. Dos benefícios da Justiça Gratuita: Basta a
declaração de pobreza para assegurar o direito à gratuidade da Justiça (art. 4º, da
Lei nº 1.060/50), independentemente de atestado. Assim, considerando as
afirmações constantes da inicial, deferem-se os benefícios da Justiça Gratuita ao
reclamante, posto que cumpridas as formalidades legais para a sua concessão.
Dos honorários advocatícios: Fixo a verba honorária à base de 15% (quinze por
cento) sobre o montante apurado, nos termos do art. 133, da CF/88, art. 20, §
4.º, do CPC; art 22, da Lei Nº 8.906/94, e, em homenagem ao Princípio da
Sucumbência, acompanhando desta forma a jurisprudência dominante do
Egrégio TRT d 22ª Região. Da litigância de má-fé: Entende a demandada ser o
reclamante litigante de má-fé. O Código de Processo Civil, aplicável
subsidiariamente ao processo trabalhista, dispõe que é reputado litigante de
má-fé aquele que adotar procedimento enquadrável nos incisos I a VII do art.
17. A má-fé, sob o prisma processual, consiste na qualificação da conduta,
legalmente sancionada, daquele que atua em Juízo, convencido de não ter razão,
com ânimo de prejudicar adversário ou terceiro, ou criar-lhe obstáculo ao
exercício de direito. Não vislumbro, no vertente caso, indícios de má-fé por
parte do reclamante, pelo que rejeito a argüição.
DISPOSITIVO:

Isto posto, julgo PROCEDENTE EM PARTE o pedido objeto da presente


RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, aforada por MARLON CORDEIRO
DIAS em face de OLIVEIRA & AUTO PEÇAS LTDA - ME para o fim de
condenar a reclamada ao pagamento, no prazo de quarenta e oito horas, após o
trânsito e liquidação do julgado, com os acréscimos legais, as parcelas
decorrentes da diferença salarial nos seis primeiros meses do pacto laboral; as
horas extras e adicional convencional de 60% e respectivos reflexos sobre:
aviso prévio, férias + 1/3 constitucional integral, férias + 1/3 constitucional
proporcional, 13º salário, 13º salário proporcional, saldo de salário, multa do art.
477 da CLT, e FGTS, descontando-se os valores já pagos; férias simples e em
dobro em todo o período laborado; salário família e indenização correspondente
às diferenças do seguro desemprego. Condena-se, ainda, a parte reclamada a
proceder às retificações necessárias na CTPS do reclamante, no prazo de 05
(cinco) dias após o trânsito em julgado do decisum, sob pena de multa diária de
R$ 200,00 (duzentos reais), até o limite de 10 (dez) dias, sem prejuízo de ser
feita pela própria Secretaria da Vara, comunicando, ainda, a DRTb-PI para as
providências cabíveis. Concedo ao reclamante os benefícios da Justiça Gratuita.
Verba honorária à razão de 15% sobre o montante apurado. Demais pedidos
IMPROCEDENTES à míngua de respaldo legal. A sentença deverá ser
liquidada por simples cálculos, observando a remuneração mensal percebida
pelo reclamante, bem como os demais limites e parâmetros aqui decididos. A
reclamada fica ainda obrigada a comprovar, em quinze dias do trânsito em
julgado da decisão, perante a Secretaria desta Vara o recolhimento das
contribuições previdenciárias incidentes sobre todo o período laborado, sob
pena de execução. Tudo em fiel observância à fundamentação supra, a qual
passa a integrar o presente dispositivo, como se nele estive transcrito. Correção
monetária e juros na forma da lei e nos termos da Súmula nº 200, do Colendo
TST. Custas processuais no importe de R$ 200,00 (duzentos reais), calculadas
sobre o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), atribuído à condenação, pela
parte reclamada. Imposto de Renda na forma da lei. Partes e procuradores
cientes da presente decisão (Súmula 197, TST). Publique-se e registre-se. Picos-
PI, 19 de setembro de 2005.

PROCESSO: 00437.2003.005.14.00-0
CLASSE: RECURSO ORDINÁRIO
ORIGEM: 5ª VARA DO TRABALHO DE PORTO VELHO-RO
RECORRENTE: J. M. LONDE RAPOSO
ADVOGADOS: VALDOMIRO JACINTHO RODRIGUES E OUTRA
RECORRIDO: ANÍSIO REIS FERNANDES FILHO, ASSISTIDO PELO SINDICATO DOS
EMPREGADOS VENDEDORES E VIAJANTES DO COMÉRCIO PROPAGANDISTAS,
PROPAGANDISTAS VENDEDORES E VENDEDORES DE PRODUTOS
FARMACÊUTICOS DO ESTADO DE RONDÔNIA - SERVIPROFARO
ADVOGADO: JOSÉ ADEMIR ALVES
PROLATOR: JUIZ SHIKOU SADAHIRO
REPRESENTANTE COMERCIAL. FRAUDE. RECONHECIMENTO DO CONTRATO DE
EMPREGO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE 1º GRAU. Restando configurada a
fraude na pactuação entre as partes, uma vez que o vínculo existente era de emprego, na
forma do artigo 3º da CLT, inclusive com pagamentos de salários através de recibos
confeccionados pela própria reclamada, deve ser mantida a sentença de 1º grau. Recurso
Improvido.
RELATÓRIO
O recorrente inconformado com a sentença prolatada pela Juíza Isabel Carla de Melo Moura
Piacentini que julgou procedente em parte a reclamação trabalhista entendendo pela
existência do vínculo empregatício alegado pelo autor, interpõe o presente recurso,
sustentando que o reclamante era na verdade representante comercial e laborava sem os
requisitos do artigo 3° da CLT, pelo que a sentença não deveria ser mantida. Sem contra-
razões, conforme certidão de fls. 798. É o relatório aprovado em sessão.
2 FUNDAMENTAÇÃO
2. 1 CONHECIMENTO
Conhece-se do recurso ordinário patronal, pois estão preenchidos os pressupostos legais de
admissibilidade.
2. 2 MÉRITO
2. 2. 1 VÍNCULO EMPREGATÍCIO - VENDEDOR EXTERNO
Versam os presentes autos de recurso em que a recorrente-reclamada insurge-se contra a
sentença que reconheceu o vínculo empregatício de vendedor externo a partir de 17.1.2000,
condenando-a ao pagamento das verbas trabalhistas. A Juíza Relatora lançou as seguintes
premissas, durante a leitura do seu voto: "Os requisitos legais da definição de empregado
estão no art. 3º da CLT: 'Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de
natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário'. Para o
deslinde da questão posta em juízo necessário se faz analisarmos a distinção entre empregado
e trabalhador autônomo, e um dos pontos primordiais é o exame do requisito dependência, ou
seja, empregado é um trabalhador cuja atividade é exercida sob dependência de outrem. A
definição legal usa a palavra dependência, mas em seu lugar, generalizou-se na doutrina e
jurisprudência, a palavra subordinação, de maior importância eis que permite distinguir o
trabalho subordinado do trabalho autônomo. Empregado é um trabalhador subordinado. Se o
trabalhador não é subordinado, será considerado trabalhador autônomo, não empregado. A
CLT, ou seja, a legislação trabalhista é voltada para a proteção do trabalhador subordinado,
o empregado, e não é aplicável a trabalhadores autônomos, segundo nos ensina Amauri
Mascaro Nascimento. Como não existe definição legal de subordinação, a doutrina a
conceitua como uma situação em que se encontra o trabalhador, decorrente da limitação
contratual da autonomia da sua vontade, para o fim de transferir ao empregador o poder de
direção sobre a atividade que desempenhará (ainda Amauri Mascaro Nascimento). Em se
tratando de trabalhador autônomo não há o poder de direção sobre a atividade exercida. O
autônomo não está subordinado às ordens de serviços de outrem, uma vez que sendo
independente trabalhará quando quiser, como quiser e segundo os critérios que determinar.
Verificar, em cada caso, se o trabalho é prestado, ou não, com autonomia, se há, ou não
contrato de trabalho é a tarefa do juízo." Mas, passo seguinte, a Juíza Relatora não
reconheceu o vínculo empregatício, o que não merece prevalecer, pelas razões que doravante
serão sustentadas. No presente caso, restaram presentes os requisitos caracterizadores do
vínculo empregatício, na forma a seguir discriminada.
CONTINUIDADE - O trabalho do reclamante não era eventual, tanto que a própria
reclamada não nega, na contestação, o início do contrato em 17.01.2000, com vendas no
campo de atuação mencionado na petição inicial, além de reconhecer o comparecimento do
obreiro pelo menos uma vez ao mês para efetuar "acertamentos de contas e recebimentos"
("sic"). Ademais, a prova documental revela também a continuidade das atividades do
reclamente, corroborado com o depoimento da testemunha IZABEL CRISTINA REI DA
FRANÇA GARRA (fls. 753/754).
SUBORDINAÇÃO - Havia dependência jurídica do reclamante, uma vez que este exercia as
atividades de venda em conformidade com as orientações da empresa. Obviamente, pelo fato
de ser vendedor externo, em outra praça de atuação diferente da sede da empresa, não havia
a proximidade física com os superiores hierárquicos, mas neste ponto é necessário entender
que as relações de trabalho vêm sofrendo modificações com o passar do tempo, fruto por
exemplo da maior eficiência nos meios de comunicação e intercâmbio econômico.
Hodiernamente, encontramos vários empregados que trabalham a quilômetros de distância do
empregador e nem por isso deixam de ser empregados. A situação clássica do patrão, ou outra
pessoa designada, realizar a fiscalização pessoal já não existe em diversas profissões. Quanto
ao cumprimento de horário, da mesma forma há diversos trabalhadores que não possuem
controle de horário e nem por isso deixam de ser empregados. A subordinação deve ser
compreendida, também, como o elo entre o empregado e o empregador, no qual nem sempre
haverá contato diário ou direto, mas por vezes apenas a estipulação das orientações gerais e
necessárias às tarefas a ser cumpridas pelo empregado, sem necessidade de repetir tais
orientações diariamente, como no presente caso em que a atividade é simplesmente vender os
produtos da empresa e isso o reclamante efetivamente executou, mediante o pagamento de
remuneração, o que implica também em haver dependência econômica, até porque havia
exigência de exclusividade, conforme foi afirmado pela testemunha IZABEL CRISTINA REI
DA FRANÇA GARRA: "que ao que sabe, os vendedores não poderiam vender produtos de
concorrentes" (fl.754). O professor Octávio Bueno Magano muito bem expressou a evolução
no campo do trabalho ao dizer que a aglutinação de trabalhadores em um mesmo local de
trabalho vai converter-se em fato de freqüência cada vez menor, pois a tendência é que o
exercício da atividade econômica se distancie do modelo de concentração em grandes
fábricas e armazéns ("in" TRABALHO À DISTÂNCIA, artigo publicado na revista
TRABALHO & DOUTRINA, editora Saraiva, nº24, pág.03). O não menos ilustre
doutrinador Sérgio Pinto Martins assevera que o trabalho à distância não é somente aquele
realizado na residência do empregado, sendo que existem outras modalidades, como o
teletrabalho, asseverando que a questão da subordinação acaba ficando mitigada, observando-
se que em alguns casos poderá verificar-se muito mais autonomia do que subordinação. A
tecnologia acaba criando uma nova forma de subordinação. E o empregador pode ter o
controle da atividade do empregado por intermédio do computador, por produção, por
relatórios e outras formas ("in" TRABALHO À DISTÂNCIA, artigo publicado na revista
TRABALHO & DOUTRINA, editora Saraiva, nº24, pág.04/05).
ONEROSIDADE- O reclamante recebia salários pelo labor executado, e ressalte-se que os
recibos de salários de fls. 663 a 669 foram apresentados pela própria reclamada, juntamente
com a peça de defesa. Tais recibos de salários eram confeccionados pela empresa, conforme
declarou a testemunha PERCIVAL STORTO, diretor financeiro da reclamada (fl. 754).
PESSOALIDADE- O próprio reclamante executava a atividade de vendedor, não havendo
contratação de terceiros para ajudá-lo.
ALTERIDADE- O reclamante prestava os serviços por conta alheia, ou seja, era um trabalho
sem qualquer assunção de riscos pelo trabalhador. Note-se que a tese da defesa, no tópico
referente ao pleito de restituição de descontos indevidos, é no sentido de não ter ocorrido
dedução por inadimplência de clientes (transferência dos riscos da atividade econômica), mas
sim por se referirem tais descontos aos adiantamentos de valores. Logo, a própria reclamada
sustentou a alteridade do contrato.
Pois bem.
Além dos fundamentos supra, há outros que merecem registro. A atividade-fim da reclamada
é a comercialização de produtos e, de conseguinte, necessita de vendedores, tanto que a
testemunha IZABEL CRISTINA REI DA FRANÇA GARRA declarou: " que nesta cidade
trabalham 8 vendedores externos e 1 interno" (fls. 753). Ademais, inexiste qualquer contrato
da ventilada representação comercial e os recibos eram emitidos em nome do próprio
reclamante, conforme também ressaltado pelo Juízo de 1º grau. Quanto à utilização de
veículo da empresa, verifica-se que na peça de defesa a reclamada reconheceu o
fornecimento, "in verbis": "como o reclamante na época que laborava como preposto, usava
uma motocicleta, foi emprestado um veículo da empresa, até que o mesmo pudesse adquirir o
seu próprio, ficando naquela época pactuado uma comissão sobre as vendas de 6% (seis) por
cento, enquanto fosse utilizado o veículo da empresa, e quando fosse adquirido o veículo
próprio do vendedor viajante, seria o percentual aumentado para 7% (sete) por cento de
comissão mensal sobre as vendas efetuadas" (fl. 654) Do exposto pela afirmação da própria
reclamada, reforça-se a vinculação empregatícia, na medida em que até o veículo foi
fornecido ao obreiro para a execução das atividades de venda. Destarte, verifica-se que a
reclamada agiu em total fraude aos direitos trabalhistas (artigo 9º da CLT), uma vez que o
vínculo entre as parte era empregatício, na forma do artigo 3º da CLT, devendo ser mantida a
r. sentença de 1º grau, que reconheceu o contrato de emprego.
2. 2. 2 DA REMUNERAÇÃO
O recorrente requer a reforma da sentença quanto à remuneração, mas o argumento é singelo
no sentido de não existir vínculo empregatício, ou seja, não conseguiu desconstituir os
fundamentos da sentença "a quo", que fixou a remuneração do obreiro em observância ao
disposto na Cláusula 29ª dos Instrumentos Normativos, colacionados aos autos juntamente
com a petição inicial, ou seja, a média dos valores recebidos nos últimos cinco meses. Neste
tópico, o recorrente também faz menção ao FGTS, mas a argumentação também é apenas no
sentido de não existir direito a tal verba para os autônomos. Ocorre que, no presente caso, o
liame empregatício foi reconhecido. Deve ser mantida a sentença, neste particular.
2. 2.3 DA RESCISÃO CONTRATUAL
Alega o recorrente que a sentença reconheceu a data de extinção do pacto como sendo em
outubro de 2001 e sustenta, novamente, a inexistência de vínculo empregatício com a
conseqüente desnecessidade de pagar verbas rescisórias. Nada a reformar, neste tópico, tendo
em vista a manutenção da sentença quanto ao reconhecimento do contrato de emprego entre
as partes.
2.2.4 DA ANOTAÇÃO NA CTPS
O inconformismo do recorrente é fundamentado, novamente, na inexistência do contrato de
emprego e, por tal razão, pretende a não obrigatoriedade de anotar a CTPS do obreiro. Sem
razão, tendo em vista o reconhecimento do liame de emprego, conforme asseverado em linhas
passadas.
2.2.5 DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
O recorrente pleiteia a exclusão dos honorários advocatícios no percentual de 10%, aduzindo
que a sucumbência foi parcial e que o recorrido percebia valor mensal superior a dois salários
mínimos. Ocorre que o recurso, neste particular, não possui objeto, na medida em que não
houve, na parte dispositiva da sentença, a condenação em honorários advocatícios. Com
efeito, apesar de ter constado a apreciação da verba honorária na fundamentação da sentença,
tal parcela não constou no respectivo dispositivo, o que implica na ausência de condenação da
mencionada verba. Ressalte-se que a mera transcrição de "tudo conforme termos e parâmetros
da fundamentação supra que integra a presente decisão, para todos os efeitos legais" ("sic", fl.
772) não possui o condão de sanar a omissão, pois a remissão refere-se aos fundamentos e
não a algum deferimento de pedido que tenha sido omitido no dispositivo. No presente caso,
as parcelas efetivamente deferidas estão discriminadas na parte conclusiva da sentença, sendo
certo que o dispositivo é que transita em julgado. Não houve interposição de embargos de
declaração e, assim, restou preclusa a oportunidade de sanar a omissão quanto à verba em
comento. Prejudicado o recurso, portanto, apenas neste particular.
2.3 CONCLUSÃO
Dessa forma, conheço do recurso ordinário e, no mérito, nego-lhe provimento.
3 DECISÃO
ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, à unanimidade,
conhecer do recurso ordinário. No mérito, por maioria, negar-lhe provimento, vencidos os
Juízes Relator e Revisor. Será prolator do acórdão o Juiz Shikou Sadahiro. Sessão de
julgamento realizada no dia 28 de setembro de 2004.

Porto Velho (RO), 04 de outubro de 2004

ACÓRDÃO - PROC. NU.: 00091.2004.012.13.00-4


RECURSO ORDINÁRIO
RECORRENTE: ELIZABETE ALVES BATISTA
RECORRIDA: MARIA DUCILEIDE BATISTA NUNES (IGUATUBUS)

E M E N T A: RELAÇÃO DE EMPREGO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. A liberdade


na prestação dos serviços por parte da reclamante foi, indubitavelmente, a
tônica resultante do conjunto probatório dos autos, o que revela a
condição autônoma da reclamante e afasta, por completo, a incidência do
art. 3º da CLT. Recurso ordinário ao qual se nega provimento.
Vistos etc.
Trata-se de recurso ordinário proveniente da Vara do Trabalho de Souza/PB, nos autos
da reclamação trabalhista proposta por ELIZABETE ALVES BATISTA, ora
recorrente, contra MARIA DUCILEIDE BATISTA NUNES (IGUATUBUS),
recorrida.
A Juíza a quo, pela sentença às fls. 49/51, julgou improcedente os termos dos pedidos
formulados pela reclamante em face da reclamada. Custas pela reclamante, no importe
de R$1.128,56, calculadas sobre R$ 56.428,00, posteriormente dispensadas, fl. 59.
Inconformada, recorre a reclamante, às fls. 55/57, pleiteando, inicialmente, os
benefícios da Justiça Gratuita para isenção no pagamento das custas, fundada na
declaração de pobreza acostada à fl. 58. Em seguida, sustenta devidamente provada a
vinculação empregatícia aduzida na exordial, e isto, não só a partir da interpretação de
lições doutrinárias que transcreve, mas também pelos próprios depoimentos de que se
valeu a magistrada para indeferir o pleito exordial, pois afirma que tal prova oral
esclarece a favor da relação de emprego, a tênue distinção existente entre esta e o
serviço autônomo.
Por fim, destaca que a prestação de serviços externos não é óbice ao reconhecimento
do liame laboral alegado, ante a previsão legal insculpida no inciso I do art. 62 da
CLT.
Requer, portanto, o provimento do recurso para que a ação seja julgada procedente em
todos os seus termos.
Contra-razões, pela recorrida, fls. 66/70, intempestivas.
O Ministério Público do Trabalho, à fl. 74, deixou de opinar, ressalvando, no entanto,
a faculdade de pronunciar-se, verbalmente, ou pedir vistas dos autos, na sessão de
julgamento, caso entenda necessário.
É o relatório.

ADMISSIBILIDADE
Conheço do recurso interposto, porque preenchidos os pressupostos atinentes à
espécie.
MÉRITO
A recorrente visa a reforma da sentença sob a alegação de que, ao contrário do que
decidiu o Juízo de Primeiro Grau, os elementos probatórios dos autos conduzem à
existência de relação empregatícia havida entre si e a recorrida, fato este que, segundo
sustenta, se corrobora nos próprios depoimentos das partes colhidos na fase instrutória
Assim, aduz que a afirmação contida em seu depoimento pessoal de que só ia ao
estabelecimento reclamado uma vez ao mês, justifica-se pelas próprias condições do
labor que exercia, o qual demandava constante ação externa, inclusive para fins de
cumprimento da meta alegadamente estipulada pela recorrida.
Segue seu raciocínio, ventilando que a hipótese de subordinação estaria espelhada nos
aspectos acima, bem como no fato de a demandada influir na escolha dos clientes,
como afirmou o preposto em seu interrogatório.
Por fim, conclui seu arrazoado invocando o art. 62, I, da CLT, como permissivo legal
ao reconhecimento da figura do empregado vendedor externo.
A irresignação em apreço, em síntese, volta-se claramente contra a avaliação
procedida pelo Juízo a quo da prova oral produzida.
A reclamante afirmou na exordial que laborou na função de empregada vendedora
para a reclamada no período de 01/11/1998 a 31/01/2004, mas que não teve sua CTPS
anotada.
A reclamada defendeu a tese de inexistência de vínculo empregatício, sob o argumento
de que, em verdade, a demandante prestou-lhe serviços na condição de representante
comercial, portanto, autônoma. Assevera que isto só se deu a partir do ano de 2000, e
que, como vendedora autônoma, cuidava de suas atividades com total liberdade, seja
quanto ao horário, seja quanto ao estabelecimento de rota e de escolha dos clientes,
além de não apresentar relatórios das atividades à empresa reclamada.
De fato, quando a reclamada sustenta que tais serviços lhe foram prestados de forma
autônoma, é seu o ônus da prova, ex vi do art. 333, II, do CPC.
Entretanto, a prova colhida nos autos revelou-se favorável à tese patronal, na medida
em que só reafirmou a natureza Pautônoma dos serviços prestados.
No particular, a transcrição de parte do depoimento autoral, consignado à fl. 50 da
decisão atacada, afigura-se esclarecedora da liberdade da reclamante na execução dos
serviços. São da própria autora as afirmações de que “(...) se encarregava de fazer seu
próprio itinerário de vendas; (...) a depoente não precisava pedir autorização para fazer
as vendas (...)”, além do que o seu comparecimento perante à demandada, uma única
vez ao mês, visava tão-somente o ajuste de contas, para percepção de comissão.
E pelo contexto do referido depoimento, a orientação da autora na escolha da rota de
vendas fornecida pela reclamada não tem, por si só, o condão de erigir a natureza
subordinativa da relação entre as partes, como tenta fazer crer a recorrente em suas
razões recursais.
Ressalta-se, inclusive, que as fichas cadastrais dos clientes, apresentadas pela
reclamante à empresa reclamada, não serviram para fortalecer a tese autoral, na
medida em que, ao final, era da própria reclamante a escolha destes mesmos clientes,
conforme confessado em seu depoimento, às fls. 40/41.
Quanto ao controle de jornada, a total ausência desta prática também reafirma a
inexistência de subordinação entre as partes, eis que, mais uma vez, a autora foi
peremptória em afirmar que “(...) o horário era estabelecido pela depoente (...)”.
E a condição externa da prestação dos serviços não afastaria, só por isto, o real
empregado da sede do labor, possibilitando-o a uma esporádica presença no
estabelecimento, apenas para ajustes de contas, como se deu in casu.
Aqui não se cuida da isolada apreciação do art. 62, I, da CLT, de que se valeu a
recorrente. Em tais hipóteses, a ausência de permanente fiscalização da obreira poderia
apenas afastar a caracterização do trabalho extraordinário, aliás, matéria estranha à
lide. De toda sorte, no presente caso, a falta do controle em questão contribuiu para
distanciar a alegada subordinação na relação jurídica havida entre as partes, ante a
ausência, dentre outros elementos, da habitualidade no comparecimento da autora à
empresa reclamada.
Some-se a isso, o fato de que a compra de mercadorias à reclamada, para revenda, era
uma prática adotada pela reclamante, assim acusado na contestação à fl. 20 e admitido
no depoimento autoral, como bem destacou a magistrada na sentença recorrida, à fl.
50. A hipótese revela que, de fato, os riscos do negócio ficavam a cargo da reclamante,
porque arcava com débitos originários da inadimplência dos seus clientes perante a
reclamada. E, nesse sentido, confessou a autora a existência de um débito atual junto à
reclamada, no montante de R$ 4.955,25.
Aliás, a ausência do elemento subordinação vem sendo o parâmetro recorrente para
fundamentar a negativa de vínculo em decisões dos nossos tribunais:
“RELAÇÃO DE EMPREGO. INEXISTÊNCIA. Negada a relação
de emprego, mas admitida a prestação de serviço, incumbia ao reclamado
o ônus de provar a inexistência dos requisitos definidores da
pretendida relação de emprego (art. 3º, da CLT), do que se desincumbiu.
A experiência tem mostrado que, para certas categorias profissionais, é
muito tênue a linha que separa o profissional autônomo do empregado. O
problema gerado pela miscelânea de feições não é privativo do Direito
do Trabalho. Outras esferas do direito padecem do mesmo mal, tendo,
cada uma, método próprio à separação das personalidades. Para a Justiça
do Trabalho o elemento definidor da existência de relação de emprego é
a presença de subordinação jurídica entre as partes, o que não se
verificou nos presentes autos. A adesão da reclamante à rotina de
trabalho, instituída no reclamado, foi pacífica e sem qualquer
oposição. A situação lhe resguardava autonomia profissional e
possibilitava auferir renda superior à percebida caso empregada fosse,
vez que propiciava a percepção de comissão por cadastro realizado.
Provada a condição operária de profissional autônomo, impossível o
acolhimento do pleito inicial. Mantenho a r. decisão. Vistos, relatados
e discutidos esses autos em que são partes as acima indicadas.” (TRT
10ª Região, ROPS: 00220, ANO: 2003, Rel.: MÁRCIA MAZONI CÚRCIO
RIBEIRO)
“RELAÇÃO DE EMPREGO - AUTÔNOMO OU VENDEDOR EMPREGADO
- NATUREZA DA RELAÇÃO JURÍDICA HAVIDA. A forma de prestação de
trabalho e as condições de desenvolvimento das obrigações entre as partes
contratantes indicam a real qualificação de cada uma delas e sua exata
titularidade jurídica. A vendedora autônoma exerce habitualmente e por
conta própria atividade profissional remunerada, explorando, em
proveito próprio, a sua força de trabalho, sem a ingerência da
Reclamada, dispondo ao seu alvedrio do método, modelo e tempo em que se
desenvolve a representação comercial. No pólo antiético a subordinação
é apreendida pelo poder de comando empresário, revelando-se na direção
da prestação de serviços, na aplicação de sanções ao tempo do
desatendimento de ordens expedidas. Nenhum desses elementos ficou
provado, impondo conclusão de que, no período em discussão, a
Reclamante exerceu suas funções com liberdade dentro do critério
tempo-espaço, trazendo ínsita a idéia lecionada por Ribeiro de Vilhena
de ‘preparo e conclusão do negócio em nome próprio’, agindo como o
dominus negotii, qualificando-se como comerciante.” (TRT: 3ª Região,
RO: 1259, 1999, REL. Juíza Emília Facchini)
Oportuno ainda destacar o reconhecimento doutrinário acerca da sutil diferença da
relação empregatícia e da representação comercial. Nesse tom é que a lição de
Maurício Godinho (in “Curso de Direito do Trabalho”, 2ª edição, pág. 593) aponta
similitudes entre ambos os liame jurídicos:
“São estes os traços fronteiriços usualmente
identifi-cados: remuneração parcialmente fixa; cláusula de
não-concorrência; presença de diretivas e orientações gerais do
representado ao representante; presença de planos específicos de
atividades em função de certo produto.”
Antes, porém, visando nortear a distinção das relações em comento, aponta alguns
elementos que, convergindo, tendem a caracterizar a relação empregatícia:

“(...) reporte cotidiano do trabalhador ao tomador


de serviços, descrevendo o roteiro e tarefas desempe-nhadas; controle
cotidiano, pelo tomador, das atividades desenvolvidas pelo obreiro;
exigência estrita de cumprimento de horário de trabalho; existência de
sanções disciplinares.”
Mas, como se viu, tais exemplos não se amoldam ao caso em apreço.
Nem mesmo a ausência de prova do efetivo registro da reclamante como representante
comercial (art. 2º, da Lei 4.886, de 09/12/65) serviu para enfraquecer a tese da defesa,
eis que a inobservância a tal critério formal não conduz, por si só, à conclusão da
existência de relação laboral.
O acervo probatório, com todos os aspectos fáticos advindos da instrução processual,
não demonstraram a necessária intensidade, repetição e continuidade de ordens por
parte da reclamada, visando a direção dos serviços pactuados, de forma que se pudesse
efetivamente identificar a tipificação do elemento subordinação.
Nesse raciocínio, é de se concluir que a adoção da técnica processual tão-somente
fundada no ônus probatório a cargo da reclamada, fruto do fato modificativo alegado
na defesa, não poderia suplantar a confissão autoral flagrada com o depoimento da
reclamante.
A liberdade na prestação dos serviços por parte da reclamante foi, indubitavelmente, a
tônica resultante do conjunto probatório dos autos, o que revela a condição autônoma
da reclamante e afasta, por completo, a incidência do art. 3º da CLT, nos conclusivos
termos da sentença recorrida, que pelo seus próprios fundamentos se mantém.
Isto posto, nego provimento ao recurso.
ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região, por
unanimidade, negar provimento ao recurso.
João Pessoa/PB, 20 de outubro de 2004.

QUARTA QUESTÃO
Um vendedor, Aberto Alves, contratado pela empresa "Refrigerantes Ltda.", teve anotada
em sua CTPS a exceção do artigo 62, inciso I da CLT. Tal anotação também constava da sua
ficha de registro de empregados.
Em seu labor Alberto Alves comparecia à empresa pela manhã e elaborava em roteiro de
visitas, a partir de carteira de clientes de sua área, apresentada pela empresa, provendo no
mínimo 20 (vinte) visitas diárias. Saía, então, para realizar as visitas mantendo contato por
telefone, quando informava o horário de chegada e saída em cada cliente. Encerradas as
visitas o vendedor enviava o relatório destas via "fax". Alberto Alves não registrava em
controle de freqüência a sua jornada, que em média era de 10 horas, sem intervalos, de
segundas a sábados. Dispensado, Alberto Alves propôs Reclamação Trabalhista em face de
sua ex - empregadora, onde pretende o pagamento de horas extras. Em sua defesa
"Refrigerantes Ltda." Sustenta nada dever a título de horas extras, dada a exceção a que
estavam sujeitos os seus vendedores.
Resolva a questão, apresentando fundamentos.
R.) Em primeiro lugar, em que pese a Constituição da República haver fixado como direito
mínimo de todos os trabalhadores urbanos e rurais a duração do trabalho limitada a oito horas
diárias e quarenta e quatro semanais, conforme seu art. 7°, XIII, entende-se pacificamente
que a norma da CLT constante do art. 62 foi objeto de recepção por tratar de situação
excepcional, onde não se pretende precarizar a situação do trabalhador, mas apenas se
reconhecer a inviabilidade da aplicação do modelo tradicional de fixação de jornada de
trabalho, devendo ser objeto de interpretação estrita.
A exceção contida no art. 62, I da CLT somente é aplicável ao trabalhador externo cujo
serviço seja incompatível com a fixação de horário de trabalho, conforme comando legal em
interpretação estrita, onde restaria configurada a impossibilidade, pela própria natureza do
trabalho, de manutenção de controle de horário pelo empregador.
No caso em análise, em que pese o empregador haver preenchido as formalidades legais para
adoção do mencionado modelo excepcional, restou evidenciada a existência de controle
indireto da jornada do reclamante, seja porque tinha que se apresentar pela empresa na parte
da manhã, cumprindo roteiro de visitas estabelecido pelo empregador com meta mínima, o
que induz a possibilidade de manipulação da quantidade de trabalho a ser desenvolvida pelo
empregado, seja porque ocorria o controle do horário de término do serviço pelo envio por
fax do relatório diário, bem como a fiscalização dos horários de início e término de visita a
cada cliente por telefone, tudo a demonstrar que o trabalho do reclamante era compatível com
a fixação de horário.
Assim, e na forma do princípio da primazia da realidade do fatos que informa o Direito do
Trabalho, há de se reconhecer que a formalidade efetuada pelo empregador quanto ao
enquadramento do reclamante na exceção do art. 62, I da CLT não impede a aplicação da
proteção mínima referente ao instituto da Duração do Trabalho, pois a bem da verdade o
autor era controlado em sua jornada e exercia atividade compatível com a fixação de horário
de trabalho.
Dessa forma, possui direito o autor ao recebimento das horas extras uma vez configurado o
labor excedente de oito horas diárias e quarenta e quatro semanais.
ACÓRDÃO Nº 716/03 - PROCESSO TRT RO Nº 816-02
RECORRENTE: MARCELINO MIGUEL DE OLIVEIRA
(PATRONOS: AUGUSTO CRUZ E OUTROS)
1º RECORRIDO: D. DIAS CASTRO - ME - ARMARINHO DIAS
(PATRONO: ELISEU DE OLIVEIRA)
2º RECORRIDO: ARMARINHO FARIA (A. A. FARIA)
(PATRONOS: HUDSON DE CASTRO MAGALHÃES E OUTRO)
ORIGEM: MM. 2ª VARA DO TRABALHO DE RIO BRANCO/AC
RELATOR: JUIZ SHIKOU SADAHIRO
REVISORA: JUÍZA ELANA CARDOSO LOPES LEIVA DE FARIA

VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PRESSUPOSTOS CONTIDOS NO ARTIGO 3º DA CLT.


RECONHECIMENTO. RETORNO DOS AUTOS PARA JULGAMENTO COMO
ENTENDER DE DIREITO.
O artigo 3º da CLT contém os pressupostos necessários para a caracterização do liame
empregatício. Havendo o reconhecimento do pacto laboral, em grau de recurso, os autos
devem retornar ao Juízo a quo para apreciação dos demais pedidos, a fim de evitar a
supressão de instância.
I-RELATÓRIO
VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de RECURSO ORDINÁRIO, oriundos da
MM. 2ª Vara do Trabalho de Rio Branco (AC ), em que são partes, como recorrente,
MARCELINO MIGUEL DE OLIVEIRA e, como recorridos, D. DIAS CASTRO - ME
ARMARINHO DIAS e ARMARINHO FARIA (A. A. FARIA).
O obreiro ajuizou reclamatória trabalhista a termo contra a empresa D. DIAS CASTRO
(ME) - ARMARINHO DIAS, alegando, em síntese, que foi admitido em 10.1.1998, e alegou
rescisão indireta em 6.12.2001, visto que o empregador não vinha cumprindo com as
obrigações do contrato de trabalho. Disse que a remuneração média contratada era de
R$1.800,00 mais uma passagem ida e volta à Divinópolis - MG, a cada dois meses.
Argumentou que cumpria jornada de trabalho de 7:00/7:30 às 11:30 horas das 13:30 às 17:00
horas e quando estava viajando a serviço sua jornada era da 7:00 às 19:30/20:00 horas, com
intervalo de aproximadamente 30 minutos para o almoço de segunda a sábado.
Desse modo requereu o pagamento de diferença de salários atrasados (comissões), aviso
prévio indenizado, 13º salários, férias integrais e em dobro com 1/3 constitucional, multas dos
artigos 467 e 477 da Consolidação das Leis do Trabalho, seguro-desemprego, passagens de
ida e volta à Divinópolis-MG, horas extras e reflexos, FGTS com 40%, e anotação na CTPS.
A empresa contestou (fls. 12/20) os pedidos alegando, preliminarmente, negativa de vínculo
empregatício asseverando que entre as partes existira uma relação comercial de natureza de
compra e venda, na qual o reclamante adquiria mercadorias e revendia a outros compradores.
Denunciou à lide no pólo passivo a empresa Armarinhos Faria (A. A. Faria - ME), no mérito
alegou que o reclamante jamais fora seu empregado uma vez que este apenas comprava
mercadorias para revendê-las a outros compradores e que o serviço prestado fora de maneira
autônoma. Refutou todos os pedidos e pugnou pela improcedência da ação.
Inconciliadas as partes, o Juízo a quo prolatou a sentença de fls. 74/77, rejeitou os pedidos
formulados pelo autor e julgou improcedente a reclamatória.
Inconformado, o reclamante interpôs o presente recurso ordinário (fls. 95/104), alegando que
as provas carreadas aos autos, especificamente os "Vales de adiantamento de salário" e os
depoimentos das testemunhas, comprovam que efetivamente existiu vínculo empregatício
entre os litigantes. Pugnou pela reforma da r. sentença recorrida.
O recorrente via petição de fl. 105, requereu a gratuidade da justiça nos termos da Lei nº
1.060/50 c/c Lei nº 5.584/70, sendo que a então Relatora, Juíza Flora Maria Ribas Araújo,
através de r. despacho de fl. 122, deferiu o pedido de isenção de custas processuais nos
termos do artigo 60, inciso IX, do Regimento Interno desta egrégia Corte.
O recorrido apesar de notificado (fls. 113) não apresentou contra-razões ao recurso obreiro.
O Ministério Público do Trabalho, em seu parecer (fl. 118), sugeriu o prosseguimento do
feito, sem prejuízo de eventual manifestação em Plenário. É o relatório
II - V O T O
ADMISSIBILIDADE
Conheço do recurso ordinário apresentado, eis que tempestivo, com representação processual
regular, preenchendo os requisitos legais de admissibilidade.
Registre-se, quanto às contra-razões que houve um lamentável erro na Secretaria da 2ª Vara
de Rio Branco, pois a notificação de fl. 109 endereçada para que o reclamado e o litisconsorte
pudessem contra-arrazoar o recurso do reclamante foi feita em um único documento, como se
o advogado Hudson de Castro Magalhães fosse patrono daqueles, sendo que este causídico é
patrono apenas do litisconsorte A.A. FARIA-ME (ARMARINHO FARIA), conforme
procuração de fl. 52.
O advogado do reclamado D. DIAS CASTRO- ME (ARMARINHO DIAS) é o Dr. Eliseu de
Oliveira, conforme instrumento de mandato de fl. 21.
Entretanto, entendi sanada a questão tendo em vista que da intimação do r. despacho de fl.
122, que isentou o reclamante das custas processuais, exarado pela Juíza relatora que me
antecedeu, o advogado do reclamado D. DIAS CASTRO- ME (ARMARINHO DIAS) foi
intimado (fl. 126) e tomou conhecimento da existência do presente recurso, sendo que não se
insurgiu quanto a uma possível nulidade e nem se mostrou interessado em apresentar contra-
razões. Assim, fica superada tal questão.
MÉRITO
VÍNCULO EMPREGATÍCIO
VENDEDOR O empregado, nas razões recursais, defende a tese de que entre as partes
efetivamente existiu vínculo empregatício considerando que o reclamado sempre emitia
"Vales de adiantamento de salário", nos quais resta configurada a dependência financeira.
O artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho considera empregado "toda pessoa física
que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e
mediante salário". São cinco os requisitos que caracterizam a condição de empregado:
continuidade, subordinação, onerosidade, pessoalidade e alteridade.
Ora, o serviço prestado pelo empregado deve ser de natureza não eventual, ou seja, deve ser
contínuo, não podendo ser esporádico.
No caso vertente, temos pela prova testemunhal (fls. 66/67) trazida pelo recorrente que o
trabalho do empregado era a venda de mercadorias de maneira continuada, portanto, não
havia eventualidade.
No que se refere à subordinação, que é um dos principais requisitos da relação de emprego,
pois o verdadeiro empregado é dirigido pelo empregador, a quem se subordina. Se o
trabalhador não é dirigido pelo empregador, mas por ele próprio, é autônomo. Entretanto, é
necessário entender que as relações de trabalho vem sofrendo modificações com o passar do
tempo, fruto por exemplo da maior eficiência nos meios de comunicação e intercâmbio
econômico.
Hodiernamente, encontramos vários empregados que trabalham a quilômetros de distância do
empregador e nem por isso deixam de ser empregados. A situação clássica do patrão, ou outra
pessoa designada, realizar a fiscalização pessoal já não existe em diversas profissões. Quanto
ao cumprimento de horário, da mesma forma há diversos empregados que não possuem
controle de horário e nem por isso deixam de ser empregados.
A subordinação deve ser compreendida, também, como o elo de ligação entre o empregado e
o empregador, no qual nem sempre haverá contato diário ou direto, mas por vezes apenas a
estipulação das orientações gerais e necessárias às tarefas a ser cumpridas pelo empregado,
sem necessidade de repetir tais orientações diariamente, como no presente caso em que a
própria reclamada noticia que o reclamante não prestava qualquer caução para retirar a
mercadoria, ao contrário, o reclamado adiantava valores para as despesas pessoais do obreiro,
o que demonstra que o empregador assumia o risco do negócio. E o reclamante, por seu turno,
corrobora esta afirmação, ficando patente que efetivamente executava a tarefa de vender as
mercadorias, pelo que era compensado mediante o pagamento de remuneração, o que implica
na dependência econômica.
O professor Octávio Bueno Magano muito bem expressou a evolução no campo do trabalho
ao dizer que a aglutinação de trabalhadores em um mesmo local de trabalho vai converter-se
em fato de freqüência cada vez menor, pois a tendência é que o exercício da atividade
econômica se distancie do modelo de concentração em grandes fábricas e armazéns (in
TRABALHO À DISTÂNCIA, artigo publicado na revista TRABALHO & DOUTRINA,
editora Saraiva, nº 24, pág.03).
O não menos ilustre doutrinador Sérgio Pinto Martins assevera que o trabalho à distância não
é somente aquele realizado na residência do empregado, sendo que existem outras
modalidades, como o teletrabalho, asseverando que a questão da subordinação acaba ficando
mitigada, observando-se que em alguns casos poderá verificar-se muito mais autonomia do
que subordinação. A tecnologia acaba criando uma nova forma de subordinação. E o
empregador pode ter o controle da atividade do empregado por intermédio do computador,
por produção, por relatórios e outras formas (in TRABALHO À DISTÂNCIA, artigo
publicado na revista TRABALHO & DOUTRINA, editora Saraiva, nº 24, pág. 4/5).
No presente caso, o tipo de atividade era simples, ou seja, o reclamante realizava a venda de
mercadorias. Assim como ocorre com o vendedor externo, não existia necessidade de todo o
tempo haver uma orientação do que deveria ser feito.
Conforme pode ser observado na declaração de firma individual de fl. 42, o objetivo da
empresa é comercializar produtos no atacado e no varejo e, logicamente, necessita de
vendedores para tal fim.
Note-se que o preposto afirmou que "o reclamante não prestava qualquer caução para retirar a
mercadoria, ao contrário, o reclamado adiantava valores para despesas pessoais do obreiro,
sendo que a mercadoria era encaminhada em confiança e várias vezes o reclamante vendeu
mercadorias até um determinado valor e recebeu menos do que o vendido, sendo que neste
caso o prejuízo era do reclamado, pois o reclamante recebia comissão sobre o valor
efetivamente recebido; que foi prometido ao reclamante o fornecimento de uma passagem no
final do ano, o que foi efetivamente cumprido até que o reclamante mudou-se para Rio
Branco". (fls. 65 e 66)
É patente a grande vinculação que existia entre as partes, pois o reclamante ficava com as
mercadorias sem ter que pagá-las, por óbvio porque era empregado e não vendedor
autônomo. Ademais, o reclamado adiantava os valores referentes às despesas pessoais,
situação que não pode ser concebida em relação a um autônomo. Da mesma forma, o
reclamante laborava sem os riscos do empreendimento comercial, conforme confessado pelo
preposto. Quanto à passagem para viagem, também demonstra a existência de benefício
logicamente ligado à vinculação muito mais empregatícia do que autônoma.
A testemunha Francisco Carrilho Torres reforçou a existência do liame empregatício ao
aduzir que "o local de realização das vendas era sempre determinado pelo representante do
reclamado ou do litisconsorte, ainda que houvesse sugestão do vendedor (...) que o acerto de
contas era feito a cada 02 meses e no intervalo era fornecido vales para os vendedores (...)que
quando o vendedor não pretende mais continuar vendendo para o reclamado ou
litisdenunciado existe a obrigatoriedade de fazer a comunicação". (fl. 66). A testemunha
Nervilo Fernandes, por sua vez, aduziu que "se não vendesse todas as mercadorias retiradas
podia devolver a sobra para o reclamado" (fl. 67), reforçando mais uma vez a situação de
simples empregado vendedor. A testemunha Daniel Xavier dos Santos, também corroborou a
situação típica de empregado, pois retirava as mercadorias para vender e, no prazo de 60 dias,
fazia o acerto, sendo que a sobra e as trocas eram aceitas pelo reclamado. A testemunha Raul
César de Oliveira nada acrescentou, além do que já havia sido instruído com as testemunhas
anteriores. No que se refere ao pagamento de salário, o obreiro, embora não tenha
apresentado provas documentais de que recebia o salário declinado na petição inicial,
constata-se através dos "Vales Adiantamento" (fls. 38/40), preenchidos com valores
intitulados de adiantamento de salário, que tais vales materializam a prova do efetivo
pagamento de salário pelo reclamado, o que por si só já evidencia que o reclamante recebia de
alguma forma uma remuneração, ainda que não fosse aquela declinada no termo de
reclamação. Ora, quando se fala em salários obviamente estamos tratando de um contrato de
emprego, pois os autônomos não recebem "salários". Nem se diga que seria mero erro, pois os
vales de fls. 38/40 foram impressos em gráfica e com vários dados da empresa, o que
demonstra que não se restringem a pouca quantidade ou que seja uma produção fortuita, e
fazem menção a "funcionário" e "adiantamento do meu salário referente ao mês de... ", ou
seja, não se confundem com um recibo qualquer. Ademais, tais documentos foram juntados
pelo próprio reclamado, sem qualquer ressalva na contestação. O próprio reclamante
executava o serviço, sendo que o fato de ter outra atividade econômica não desnatura o
contrato de emprego, até porque, se houver compatibilidade de horário, nada impede que um
empregado tenha outra atividade, pois a exclusividade não é requisito do contrato de
emprego. Resta presente também a alteridade, pois o reclamante prestava os serviços por
conta alheia, ou seja, era um trabalho sem qualquer assunção de riscos pelo trabalhador, o que
foi confessado pelo preposto, conforme já analisado anteriormente. Destarte, verifica-se que o
reclamado agiu em total fraude aos direitos trabalhistas (artigo 9º da CLT), uma vez que o
contrato entre as partes era de emprego, na forma do artigo 3º da Consolidação das Leis do
Trabalho. Após a análise supra, verifica-se que em relação ao período vindicado pelo
reclamante, neste feito, não houve vínculo empregatício com o litisconsorte (ARMARINHO
FARIA-A.A.FARIA). Com efeito, o próprio reclamante confessou que não laborou
simultaneamente para as duas empresas, ou seja, trabalhou para o litisconsorte somente após
trabalhar para o reclamado, razão pela qual, em relação ao lapso temporal pleiteado
especificamente nesta reclamatória não existiu liame empregatício com o litisconsorte, de
maneira que a sentença de 1º grau deve ser mantida neste particular. Ressalte-se, também, que
o recurso do obreiro foi no sentido apenas de reformar a sentença para efeito de ser
reconhecido o vínculo empregatício com o reclamado, não fazendo menção ao liame de
emprego com o litisconsorte. Por tais fundamentos, dá-se provimento ao recurso obreiro para,
reconhecendo o vínculo empregatício havido entre o reclamante e a empresa D. DIAS
CASTRO- ME (ARMARINHO DIAS),no período 10.1.1998 a 6.12.2001, determinar a baixa
dos autos à Vara de origem, a fim de que julgue os demais pleitos como entender de direito,
mantendo-se a sentença apenas em relação ao litisconsorte A.A. FARIA-ME (ARMARINHO
FARIA).
III - C O N C L U S Ã O
DESSA FORMA, conheço do recurso ordinário interposto, no mérito, dou-lhe provimento
para, reconhecendo o vínculo empregatício havido entre o reclamante e a empresa D. DIAS
CASTRO- ME (ARMARINHO DIAS) no período 10.1.1998 a 6.12.2001, determinar a baixa
dos autos à Vara de origem, a fim de que julgue os demais pleitos como entender de direito,
mantendo-se a sentença apenas em relação ao litisconsorte A.A. FARIA-ME (ARMARINHO
FARIA).
É O VOTO

D E C I S Ã O. ACORDAM os Exmºs Juízes do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da


14ª Região, à unanimidade, conhecer do recurso ordinário. No mérito, dar-lhe provimento
para reconhecer o vínculo empregatício havido entre o reclamante e a empresa D. Dias
Castro-ME (Armarinho Dias), no período de 10.01.1998 a 06.12.2001. Por maioria
determinar a baixa dos autos à Vara de origem, a fim de que julgue os demais pleitos como
entender de direito, mantendo-se a sentença apenas em relação ao litisconsorte A. A. Farias-
ME (Armarinho Faria); vencidos, no particular, os Exmºs. Juízes Carlos Augusto Gomes
Lôbo e Osmar João Barneze. Funcionou, na presente sessão de julgamento, o Exmº. Sr.
Procurador do Trabalho, Dr. Luís Antônio Barbosa da Silva. Sala de Sessões do Egrégio
Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região. Porto Velho/RO, 13 de maio de 2003.’

Tem o empregador algumas características, a saber: assumir riscos de sua atividade. Ou seja,
tanto os resultados positivos, como os negativos, esses riscos da atividade econômica não
podem ser transferidos para o empregado. O empregador admite o empregado, contrata-o
para a prestação de serviços, pagando salários. Isto é, remunerando-o pelo trabalho prestado.
Dirige o empregador a atividade do empregado, pois tem o primeiro poder sobre o segundo,
estabelecendo, inclusive, normas disciplinares no âmbito da empresa. Este poder de direção
abrange:
a) utilizar a força de trabalho que o empregado coloca à sua disposição, respeitada a
especificação do serviço contratado e os direitos do empregado;
b) fiscalização - o empregador dá ordens e acompanha sua execução;
c) disciplina, aplicando penalidades.
Em relação ao empregado a legislação trabalhista diz que "É considerado empregado toda
pessoa física que presta serviços de natureza não-eventual a empregador, sob dependência
deste e mediante salário, não havendo distinções relativas à espécie de emprego e à condição
de trabalhador, nem entre trabalho intelectual, técnico e manual" (CLT art. 3º, parágrafo
único).
Portanto, para se constatar a condição de empregado é preciso verificar os seguintes
requisitos:
a) pessoa física;
b) não-eventualidade na prestação de serviços;
c) dependência;
d) pagamento de salário;
e) prestação pessoal de serviços.
quem assume os riscos da atividade econômica (ou riscos
econômicos da atividade) é o EMPREGADOR e não o EMPREGADO,
vez que se subordina juridicamente de forma absoluta ao poder
patronal de direção.

A intenção do legislador com o texto em tela foi, de uma forma geral, imputar ao empregador
a responsabilidade por quaisquer prejuízos causados à empresa, por força da sua atividade
econômica, o que implica em dizer que até os prejuízos causados por seus empregados
deverão ser assumidos pelo "patrão".

assumir os riscos da atividade econômica: somente o empregador sabe como se deve atingir
os fins da empresa. Não pode ele, portanto, responsabilizar o empregado pelos prejuízos
resultantes – art. 462 CLT

Em resumo, nula é a estipulação contratual que impõe ao empregado o cumprimento de


jornada semanal de no mínimo oito e no máximo quarenta e quatro horas, em “escala móvel e
variável”, da qual o obreiro somente tomará conhecimento com dez dias de antecedência,
com pagamento de salários por unidade de tempo, visto que ofende princípios básicos de
proteção ao trabalhador. O sistema é nefasto, na medida em que impossibilita o contratado de
se auto-organizar social e financeiramente. Não há a certeza da jornada que irá cumprir e o
quanto irá perceber. Impõe, com isso, ao empregado manter-se à disposição do empregador
durante a totalidade das horas semanais (44), mas este remunerará somente as efetivamente
trabalhadas, implicando ilegal transferência dos riscos da atividade econômica. Além disso,
constitui modo sutil de o empregador fugir ao cumprimento do mínimo legal ou piso da
categoria profissional, sem que o empregado tenha a perspectiva de complementar sua
renda, buscando, talvez, outra atividade profissional.

É princípio norteador do direito do trabalho que os riscos da atividade econômica não são
suportados pelo empregado, mas sim pelo empregador e, desobrigar-se o tomador de
serviços, que é justamente quem tem capacidade econômica e patrimonial para suportar os
ônus resultantes de qualquer contrato de trabalho, seria o mesmo que transferir para o
empregado todos os riscos da atividade produtiva, o que é inadmissível no direito do
trabalho. Dessa forma, o recorrente deve responder subsidiariamente pelos créditos do
reclamante que decorram do extinto contrato de trabalho havido com a empresa locadora de
mão-de-obra, pois se esta não tiver como suportar tais encargos, o recorrido não poderá ficar
desamparado, arcando com os riscos da atividade econômica, os quais, em última instância,
devem ser suportados pelo tomador de serviços, que efetivamente usufruiu da sua força de
trabalho.

Não há dúvida de que o reclamante-recorrido era empregado da empresa locadora de mão-


de-obra, fato que não foi negado, ao contrário, está confirmado na petição inicial e
documentos juntados pelas reclamadas (fls.43/52). Assim, os riscos da atividade econômica
não devem ser suportados pelo empregado, mas sim pelo empregador e, desobrigar-se o
tomador de serviços, que é justamente quem tem capacidade econômica e patrimonial para
suportar os ônus resultantes de qualquer contrato de trabalho, seria o mesmo que transferir
para o empregado todos os riscos da atividade produtiva, o que é inadmissível no direito do
trabalho.

estabelecida fora do Estado-Membro ou no exterior (art.3°)”. págs.206/207 .


Prosseguindo, acerca do risco concernente às vendas, diz:
“O princípio justrabalhista da alteridade coloca, como se sabe, os riscos
concernentes aos negócios efetuados em nome do empregador sob ônus deste (art.
2°, caput, da CLT).
A Lei n. 3.207/57 atenua, porém, essa regra geral. É que o art. 7° do diploma estatui
que, “verificada a insolvência do comprador, cabe ao empregador o direito de
estornar a comissão que houver pago”.
Esse preceito, que reduz vantagem obreira clássica, deve ser, entretanto,
interpretado restritamente: desse modo, somente a insolvência do adquirente - e
não seu mero inadimplemento - é que autoriza o estorno mencionado pela lei
especial” (pág.207).
Também em igual sentido, AMAURI MASCARO NASCIMENTO:
“Aceita a transação, o risco do negócio pertence ao empregador. O vendedor terá
direito às comissões ainda que o negócio não se realize por motivos independentes
da participação do vendedor. Só num caso o vendedor perderá o direito. É na
hipótese de insolvência do cliente comprador, caso em que a lei autoriza até mesmo
o estorno das comissões que tiverem sido pagas (art.7º)” (in MANUAL DO
SALÁRIO, Ed. LTr, 2a. edição, 1985, pág.320).”
Nesse mesmo sentido são os arestos que se seguem:
“RECURSO DE REVISTA. COMISSÕES. CONTRATOS CANCELADOS. O
pagamento das comissões somente é exigível depois de ultimada a transação (art.
466 da CLT). A transação será considerada ultimada (aceita) se não for recusada
pelo empregador nos prazos legais (art. 3º da Lei nº 3.207/57). O descumprimento,
pelo comprador, das obrigações decorrentes do negócio celebrado, não confere ao
empregador o direito de proceder ao estorno das comissões auferidas pelo
empregado que realizou a venda. Recurso de revista a que se nega provimento.”
(TST - 5ª Turma - Proc. nº TST-RR-579.083/1999.5 - Rel. Min. Gelson de Azevedo -
DJ 28.11.2003)
“RECURSO DE EMBARGOS - COMISSÕES POR VENDA ULTIMADA -
CANCELAMENTO - ESTORNO DAS COMISSÕES - INVIABILIDADE. O
inadimplemento contratual pelo comprador, fora das hipóteses legais, assegura a
empresa vendedora o direito de exigir a correspondente indenização, por quebra do
contrato, razão pela qual inviável legalmente que possa deixar de remunerar seu
empregado que trabalhou e que não contribuiu, quer direta, quer indiretamente,
para o descumprimento das obrigações comerciais entre as duas pessoas jurídicas.
Admitir-se o contrário seria, em última análise, transferir ao empregado o risco do
exercício da atividade econômica, pois o descumprimento, pelo comprador, das
obrigações decorrentes do contrato de compra e venda ou até mesmo o seu
cancelamento, implicaria em supressão do direito ao salário daquele que procedeu
a venda. Recurso de embargos não provido.” (TST - SDI-1 - Proc. nº E-RR-
319248/96 - Rel. Milton de Moura França - DJ 06.04.01)

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