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Direito Civil - Contratos

(65) 98112-8133

Regras:
1) começar ao menos com um oi e bom dia, tarde e noite;
2) dizer quem é;
3) qual turma e matéria;
4) seja objetivo;
5) odeio áudios, nunca ouço acima de 2 minutos;
6) áudios somente quando seu teclado estiver quebrado
7) áudios somente quando o momento exigir (situações
de dada emoção, ex; acidente, falecimentos, etc)
Professor e Palestrante
8) texto sem abreviações além do comum, ex: vc, pq, obg, MBA - FGV Rio - Direito Empresarial
tmj! Pos Graduação: Civil, Constitucional
Registro Públicos e I.A
9) não é porque li que responderei na hora. Mestre e Doutorando em Direito
pela UNIMAR -SP
@LEANDROCEZAR Analista do Poder Judiciário
O que Introdução ao tema

faremos Como faremos?

aqui? Sua Função é?

Seu Caderno

Seus Livros e PDF


O que é contrato?
cc/16
cc/22

conceito clássico do CC Italiano – MHD, Álvaro Villaça, por exemplo.


É o conceito que ainda prevalece para fins de concurso público.
Conceito clássico – negócio jurídico bilateral ou
plurilateral que visa à criação, modificação ou
extinção, entre as partes, de direitos e deveres que
traduzem uma relação jurídica de conteúdo
patrimonial.
(1) “bilateral ou plurilateral”.
Todo contrato é negócio jurídico, pelo menos, bilateral, por envolver duas pessoas
ou duas vontades.

Ex.: doação é negócio jurídico bilateral. CORRETO. A doação, por ser contrato, é
negócio jurídico bilateral, ou seja, envolve duas pessoas, mas é contrato unilateral,
como regra, por ter obrigações para apenas uma das partes.

Posso contratar comigo mesmo?

art. 685 do CC

Nesse sentido é o entendimento de Tartuce[1]:


"(...) Vale lembrar que a alteridade se constitui pela presença de pelo menos duas pessoas quando da constituição do
contrato. Justamente pela existência desses dois elementos é que seria vedada a autocontratação, ou celebração
de um contrato consigo mesmo. Mas dúvidas surgem quanto a essa possibilidade, se analisado o art. 117 do Código
Civil. [1] Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2017.
(2) criação, modificação ou extinção.

É negócio jurídico inter vivos, não se confundindo com os negócios mortis causa, ex.:
testamento (os efeitos serão após a morte). A divisão entre atos inter vivos e mortis
causa está no art. 426 CC.

Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Há, nesse artigo, a
nulidade absoluta do pacto sucessório (pacta corvina). É nulo porque o art. 166, VII,
fala que é nulo quando a lei proíbe e não estabelece sanção.
(3) Patrimonialidade:

Na visão clássica, o contrato exige um conteúdo patrimonial. O casamento, por


exemplo, não é contrato, por não ter a finalidade patrimonial. O pacto antenupcial é
contrato.

Enunciado 411, V Jornada – o descumprimento de contrato pode gerar dano moral, quando
envolver valor fundamental protegido pela CF/88.
o casamento é um contrato? Honoré Balzac tem um livro chamado contrato de casamento. Existem duas
correntes básicas: a corrente de direito público e a corrente de direito privado. A primeira afirma que o casamento
não é um instituto privado, sendo um ato administrativo (não tem eco no direito moderno). A segunda corrente,
que prevalece, diz que o casamento é um instituto de direito privado, mas se subdivide na corrente não
contratualista e a contratualista. A primeira subcorrente diz que o casamento não é um contrato (Maria Helena
Diniz), mas uma instituição ou, ainda, um negócio complexo com participação do juiz ou, como Leon Duguit, que
dizia que o casamento era um ato-condição (aquele que quando realizado coloca-se em uma situação jurídica
impessoal, com normas imodificáveis). Mas, é a segunda subcorrente que é forte no Brasil desde Clóvis Beviláqua
(Silvio Rodrigues, Orlando Gomes) sendo um contrato especial de direito de família, pois o núcleo do casamento é o
consentimento como qualquer outro contrato.

Porém, parte da doutrina contemporânea contesta essa ideia de Patrimonialidade estrita, pois o contrato também
pode envolver valores existenciais, relativos à tutela da pessoa humana. Surge assim um conceito contemporâneo
ou pós-moderno de contrato. Paulo Nalin – contrato é uma relação intersubjetiva (entre pessoas), baseada no
solidarismo constitucional, e que traz efeitos existenciais e patrimoniais não somente em relação às partes
contratantes, mas em relação a terceiros. De fato, existem contratos que envolvem valores relativos à dignidade da
pessoa humana. Exs.: plano de saúde, contratos de aquisição da casa própria, contratos de direitos de autor.

Esse conceito já trata da função social do contrato.


Segundo Olando Gomes, foi o capitalismo que desenvolveu a teoria clássica do contrato, calcada
em dois dogmas: autonomia da vontade e igualdade das partes contratantes (séculos XVIII e
XIX).

Porém, durante o século XX, percebeu-se, especialmente após as Grandes Guerras, que o Estado
não poderia ser abstencionista, modificando o Estado Liberal para o Estado Social, alterando as
fórmulas contratuais. Ocorreu, dessa forma, a socialização do direito (condicionar a autonomia
privada em detrimento de valores sociais).

A professora Judite Costa diz que a autonomia não é mais privada, mas solidária. Isso porque a
autonomia privada não é absoluta, mas limitada. Tudo isso se chama de constitucionalização do
direito civil.
Forma

No que tange à forma do contrato, vale lembrar que, em regra, vigora o princípio
da liberdade da forma.

Art. 107 do CC – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma


especial, senão quando a lei expressamente a exigir. O contrato é um negócio
jurídico, que tem forma livre, exceto no que for determinado pela lei.

No entanto, há situações em que se exige a forma para efeito de prova do contrato


em juízo, isto é, forma ad probationem. Há ainda situações em que a lei exige
forma sob pena de nulidade (requisito de validade), é a chamada ad
solemnitatem (art. 108, CCB – Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública
é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor
superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País).
É nulo de pleno direito o contrato de gerenciamento de carreira pactuado pelo
atleta em formação menor de 18 anos, afigurando-se válida a avença celebrada
pelo atleta profissional menor de 18 anos devidamente assistido A emancipação
legal proveniente de relação empregatícia, prevista no art. 5º, parágrafo único, V,
parte final, do CC/2002, pressupõe: i) que o menor possua ao menos dezesseis
anos completos; ii) a existência de vínculo empregatício; e iii) que desse liame lhe
sobrevenha economia própria. Por decorrer diretamente do texto da lei, essa
espécie de emancipação prescinde de autorização judicial, bem como dispensa o
registro público respectivo, bastando apenas que se evidenciem os requisitos legais
para a implementação da capacidade civil plena. Além disso, a autorização judicial
não é pressuposto de validade de contratos de gestão de carreira e de
agenciamento de atleta profissional celebrados por atleta relativamente incapaz
devidamente assistido pelos pais ou responsável legal. STJ. 3ª Turma. REsp
1.872.102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, julgado em 02/03/2021 (Info 687).
2. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS NO CC/02

Teoria dos diálogos das fontes (Eric Jaime - Alemanha) no Brasil Claudia Lima Marques.

Enunciado 167, III Jornada – Com o advento do CC/02, houve forte aproximação principiológica
entre o CC e o CDC, no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são
incorporadores de uma nova teoria geral do contrato.

Essa aproximação principiológica se deu basicamente através de três princípios – autonomia


privada, boa-fé objetiva e função social do contrato.

A teoria do diálogo das fontes foi desenvolvida pela professora Cláudia Lima Marques e sua
aplicação atualmente não se restringe apenas ao direito do consumidor, mas também a toda
inteiração entre os diversos ramos do direito, de modo que eles se autoinfluenciem e
complementem
(i) diálogo sistemático de coerência – quando há aplicação simultânea de duas leis, de modo
que uma sirva de base conceitual para a outra, ex.: o conceito de contrato é extraído do Código
Civil, complementando o conceito de contrato de adesão regido pelo CDC;

(ii) diálogo de complementaridade e o diálogo de subsidiariedade ocorre quando a aplicação


de duas normas ocorrer de modo coordenado direta ou indiretamente, respectivamente.
Exemplo: Quando as cláusulas gerais de uma lei podem encontrar ato subsidiário ou
complementar em caso regulado pela outra lei (diálogo de complementaridade), e quando o
sistema geral de responsabilidade civil sem culpa ou o sistema geral de decadência podem ser
usados para regular aspectos de casos de consumo, se trazem normas favoráveis ao consumidor
(diálogo de subsidiariedade);

(iii) diálogos de influências recíprocas sistemáticas ocorre quando conceitos estruturais de


uma lei sofrem influências da outra. Exemplo: o conceito de consumidor pode sofrer influências
do próprio Código Civil, bem como a aplicação do Código Civil pode ser restringida em face da
caracterização da relação de consumidor.
A. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA
Todo contrato pressupõe certa liberdade intelectual. O contratualismo (Savigny: o contrato é o
consenso das vontades na autorregulamentação de seus interesses privados) era uma das
quatro bandeiras levantadas pela revolução francesa, e até mesmo a relação do homem para
com o Estado foi representada pela forma contratual, como sabemos ao lermos o livro de
Rosseau: “O contrato social”.

Percebeu-se que era necessário também IGUALDADE MATERIAL. ( dirigismo contratual)

Esse princípio substituiu o modelo liberal da autonomia da vontade. Enzo Roppo – O contrato:
fala que os contratos são todos modelos. Virou um carimbo, por isso não poderia se falar em
autonomia da vontade.
Três razões pelas quais a autonomia privada tomou lugar da autonomia da vontade:

1) Crise da vontade – gerou a crise do contrato. Fala-se em morte do contrato (Grant Gilmore).

2) Dirigismo contratual – intervenção do Estado e da lei nos contratos. O Brasil hoje é conhecido
por essa intervenção, principalmente para a proteção de vulneráveis. Ex.: CDC e CC/02 (função
social do contrato).

3) Império do contrato modelo estandardização contratual (“standard”). Prevalecem, na


prática, os contratos de adesão. O que seria contrato de adesão? É aquele que tem o conteúdo
imposto por uma das partes. O estipulante impõe o conteúdo, em parte ou totalmente, ao
aderente contratual.

CUIDADO! Não se confunde o contrato de consumo com o contrato de adesão. O contrato de


adesão não necessariamente é de consumo (Enunciado nº 171 da III Jornada de Direito Civil).
Exemplo: contrato de franquia (recebe as exigências do McDonald’s), o contrato não é de
consumo. O oposto do contrato de adesão é contrato paritário ou negociado.
Liberdade de contratar x Liberdade contratual.
Liberdade de contratar x Liberdade contratual.

Apesar de ser expressões similares, referidos institutos são diferentes.

A liberdade de contratar está relacionada com a escolha da pessoa ou das pessoas com quem o
negócio jurídico será celebrado, sendo, em regra, uma liberdade plena.

Em contrapartida, a liberdade contratual está relacionada com o conteúdo do negócio jurídico,


sendo uma liberdade bem mais restrita, já que não se é admissível negócio jurídico cujo objeto
seja ilícito.
Contrato de adesão

Os arts. 423 e 424 são novidades em nosso ordenamento.

Os contratos de adesão só surgiram em razão de uma consequência inevitável da massificação


da economia (revolução industrial). É feito um contrato igual para todos, cujas condições não
podem ser modificadas pelas partes. É claro: as lesões individuais do passado hoje foram
substituídas pelas lesões coletivas.

Ele possui as seguintes características:

1) Uniformidade: as cláusulas são gerais e homogêneas para todas as pessoas.


2) Predeterminação unilateral: o conteúdo do contrato é pré-determinado.
3) Rigidez: não há discussão sobre as cláusulas.
4) Superioridade material de uma das partes: essa característica está presente em quase
todos os contratos de adesão.
Enunciado nº 172 do CJF: Art. 424: As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas
relações jurídicas de consumo. Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em
contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do Código Civil de
2002.

E o que se entende por autonomia privada?


E o que se entende por autonomia privada?

É o direito que a pessoa tem de regulamentar os próprios interesses, o que decorre dos
princípios constitucionais da liberdade e da dignidade humana. No plano contratual, desdobra-se
em dois conceitos.

A autonomia privada não é absoluta, devendo ser mitigada pelas normas de ordem pública e
sopesada com outros princípios. Ver art. 425 CC
Qual a diferença entre conceito aberto e cláusula geral? Conceito aberto consiste
simplesmente naquele conceito de conteúdo indeterminado ou fluídico, a ser
preenchido no caso concreto, a exemplo da expressão justa causa (Arruda Alvin
trata como conceito vago). Cláusula geral, a par de compreender o conceito aberto,
traduz uma disposição normativa impositiva ao juiz de modo a conferir-lhe um
mandado, uma determinação, em sua aplicação ao caso concreto (ex.: boa-fé
objetiva).

1) Conceito: é uma cláusula geral de natureza principiológica. A função social do


contrato é entendida como um princípio limitativo da autonomia privada, pois se
vive atualmente uma época de responsabilidade solidária. Orlando Gomes: função
quer dizer finalidade; social quer dizer coletiva. Finalidade coletiva do contrato.
Miguel Reale foi o responsável por colocar esse princípio no CC. Ele dizia que o
contrato não deveria atender apenas aos interesses das partes, mas de toda a
coletividade.
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da
entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas
no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos
preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes
determinada forma de execução.

2) Conceito: princípio contratual de ordem pública (art. 2.035 CC), pelo qual o
contrato deve ser, necessariamente, interpretado/visualizado de acordo com o
contexto da sociedade. O principal impacto desse conceito é a mitigação ou
relativização da autonomia privada e da força obrigatória do contrato (pacta sunt
servanda).
HA DIMENÇÕES NO CONTRATO?
FUNÇÃO SOLIDÁRIA: A TERCEIRA DIMENSÃO DOS CONTRATOS

Solidary function: the third dimension of the contracts.

1
Lívia Gaigher Bósio Campello.

primeira dimensão do contrato,


2
Mariana Ribeiro Santiago.

Sumário: Introdução; 1. A autonomia privada e o contexto dos princípios contratuais na


teoria clássica; 2. O Estado social e a limitação da autonomia privada pela função social
dos contratos; 3. Estado democrático de direito e a função solidária dos contratos;
Conclusão; Bibliografia.
ligada à função individual
Resumo: O presente artigo visa analisar a evolução dos contratos no direito brasileiro,
no contexto das transformações do Estado moderno, que repercutem diretamente em
matéria de princípios contratuais. Nesse intuito, partimos da origem do instituto,

segunda dimensão do contrato,


enquanto instrumento do liberalismo e do individualismo, atravessando as diferentes
limitações jurídicas que lhe foram impostas, culminando com o estudo da sua utilização
nos ditames da solidariedade. Em conclusão, verificamos que o contrato deve ser

ligada à função social


compreendido, atualmente, em três dimensões conexas e interdependentes, a da função
individual, a da função social e a da função solidária, as quais, aplicadas
conjugadamente, impulsionam o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável e
igualitária, dentro do ideal de justiça distributiva.
Palavras-chave: Contrato. Autonomia. Função social. Solidariedade.
Abstract: The present paper analyses the evolution of the contracts in Brazilian law, in
the context of the transformations of the modern State, that have a direct impact on the

terceira dimensão do contrato,


contractual principles. To that end, we start from the origin of the institute, as a
instrument of liberalism and individualism, across the different legal constraints
imposed on it, culminating in the study of its use in the dictates of solidarity. In

ligada à função solidária


conclusion, we found that the contract should be understood, actually, in three
dimensions related and interdependent, the individual function, the social function and
the solidary function, with, harmoniously applied, drive the development of a healthier
society and equal, within the ideal of distributive justice.
Keywords: Contract. Autonomy. Function social. Solidarity.

1
Advogada. Doutoranda em Direito das Relações Econômicas e Internacionais pela PUC SP.
2
Advogada. Doutora em Direito Civil Comparado pela PUC SP.
2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

ATENÇÃO. O art. 421 foi alterado pela lei 13.874/2019.

“Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção
mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.” (NR)

“Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença
de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes
jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que:
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das
cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução;
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada
Quais os dois erros técnicos do art. 421 CC?
A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato. Esses dois erros foram observados pelos professores Junqueira e Villaça e
constam no Projeto de Lei nº 699/2011:

1º) a função social do contrato não limita a liberdade de contratar, mas a liberdade
contratual;

2º) função social não é a razão do contrato, mas sim limite ao conteúdo. A razão do
contrato é a autonomia privada. Corrigindo ficaria: A liberdade contratual será
exercida nos limites da função social do contrato.

Sob essa ótica da função social do contrato, o contrato teria eficácia interna e
externa (entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência). Dupla eficácia.
Eficácia interna ou intersubjetiva: entre as partes

Proteção da dignidade da pessoa humana no contrato. Enunciado 23, I


Jornada

Vedação da onerosidade excessiva (desequilíbrio contratual).


Efeito gangorra

Nulidade de cláusulas antissociais. Súmula 302, STJ .

Conservação contratual. Enunciado 22, I Jornada.


Teoria do adimplemento substancial

Proteção do vulnerável contratual. (art. 423 e 424).


Eficácia externa ou transobjetiva

Tutela de direitos difusos e coletivos

Tutela externa do crédito - Teoria do terceiro cúmplice. Art. 608, do CC

PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO


(PACTA SUNT SERVANDA)

Continua tendo aplicação o princípio pelo qual o contrato faz lei entre as partes.
Porem, esse princípio é fortemente relativizado pelos princípios da boa-fé objetiva
e da função social do contrato.
BOA FÉ OBJETIVA

Histórico: a primeira fonte histórica encontra-se no direito romano


dando uma ideia de comportamento individual ético (Cícero). O
direito romano foi absorvido pelo direito alemão, de forma que o BGB
reconstruiu e consagrou a ideia do princípio da boa-fé objetiva. O
BGB tratou no §242, consagrando uma expressão “treu und glauben”
(lealdade e confiança), traduzida juridicamente como boa-fé objetiva.
O Direito Alemão é o berço dessa influência no Brasil, que está no art.
422 do CC/02. A BOA-FÉ OBJETIVA É INFLUÊNCIA DOS ALEMÃES. É
cláusula geral
Treu und Glauben

Guten Glauben
ALEMÃO - PORTUGUES

Treu und Glauben fidelidade e crença – denota a boa-fé objetiva.

que quer dizer, literalmente, bom


Guten Glauben pensamento ou boa crença– denota a boa-fé
subjetiva.
Trata-se de uma evolução do conceito de boa-fé, que saiu do plano intencional (boa-fé
subjetiva) para o plano de lealdade das partes (boa-fé objetiva). É o desdobramento de uma
máxima cristã que diz que não basta ser bem intencionado, pois de bem intencionados o
inferno está cheio.

Exigência de um comportamento de lealdade das partes contratuais em todas as fases do


contrato.

Há, no direito privado, dois tipos de boa-fé:

a) Boa-fé subjetiva: é um estado psicológico. É a boa-fé do: “eu não sabia”, ou seja, o
indivíduo ignora o possível vício. Ex.: posse de boa-fé. Ex: possuidor de boa-fé, casamento
putativo.

b) Boa-fé objetiva: é uma boa conduta. É a boa-fé concreta. É a presente no plano dos
contratos. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
A boa-fé objetiva é relacionada aos deveres anexos, laterais ou secundários.

Tais deveres são aqueles ínsitos a qualquer contrato, sem a necessidade de


previsão no instrumento.

Interpretativa

Funções De controle ou reativa

Integradora

Funções reativas ou parcelares do princípio da boa-fé objetiva


Supressio: perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício
no tempo. Haveria uma perda por renúncia tácita.

Surrectio: é o surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes.


Simão diz que é o outro lado da moeda da supressio. Um perde e o outro ganha.

Ex.1: Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do
credor relativamente ao previsto no contrato. O devedor começa a reiteradamente pagar
no centro da cidade de SP, embora o local de origem seja Carapicuíba. Há uma supressio
em relação ao credor e uma surrectio em relação ao devedor.

Ex.2: Informativo 478 STJ – aplicou surrectio em contrato de mandato, entendendo que
houve renúncia tácita em relação à correção monetária. O contrato de honorários previa a
correção monetária, mas o escritório de advocacia passou seis anos sem cobrar. Mesmo
dentro do prazo prescricional houve uma supressio, pela omissão no exercício do direito.
Tu quoque: quer dizer “até tu?” (até tu, Brutus?).

Traduz a regra de ouro da boa-fé.


Não faça como outro o que você não faria contra si mesmo.
Tu quoque: quer dizer “até tu?” (até tu, Brutus?).

Traduz a regra de ouro da boa-fé.


Não faça como outro o que você não faria contra si mesmo.

exceptio non adimpleti contractus

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a
sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes
diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a
prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe
incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de
satisfazê-la.
Venire contra factum proprium non potest

1) comportamento anterior;
2) comportamento posterior;
3) ausência de justa causa; e
4) dano ou receio de dano.

Duty to mitigate the loss

A origem é a Convenção de Viena sobre compra e venda.


Art. 77. Enunciado 169, III Jornada – a boa-fé objetiva impõe ao
credor o dever de mitigar o próprio prejuízo
Contrato com pessoas
1. Contrato com pessoa a declarar

Atualmente esse contrato é mais uma cláusula do que um contrato em si

Cláusula PRO AMICO ELIGENDO ou PRO AMICO ELECTO por meio da qual
uma das partes se reserva a faculdade de indicar quem irá assumir a
posição de contratante. Art. 467 - 471 do CC

2 . Estipulação em favor de terceiro

Seguro de vida. (art. 436 a 438). As partes são segurado e seguradora e o


terceiro, que não é parte, pode exigir o cumprimento. Os efeitos saem do
contrato.
3. Promessa de fato de terceiro (art. 439 e 440).

O único vinculado é o que promete, assumindo obrigação de fazer que, não


sendo executada, resolve-se em perdas e danos

FORMAÇÃO DOS CONTRATOS


A FORMAÇÃO DO CONTRATO PELO CÓDIGO CIVIL

• Fase de negociações preliminares ou de puntuação.


• Fase de proposta, policitação ou oblação.
• Fase de contrato preliminar.
• Fase de contrato definitivo ou de conclusão do contrato.
FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU PONTUAÇÃO

Essa é a fase em que ocorrem debates prévios, entendimentos, tratativas ou


conversações sobre o contrato preliminar ou definitivo. Cumpre assinalar que a
expressão puntuação foi difundida, na doutrina clássica, por Darcy Bessone,
estando relacionada a acordos parciais na fase pré-contratual. A origem está no
francês pourparlers e no italiano puntuazione (antecontrato, declaração).

Essa fase não está prevista no Código Civil de 2002, sendo anterior à formalização
da proposta, podendo ser também denominada fase de proposta não formalizada.
Há divergência na doutrina. Maria Helena Diniz entende que não haveria responsabilidade
contratual nessa fase do negócio. Flavio Tartuce, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, entendem que
sim, argumentando que responsabilização do dano é diferente de responsabilização contratual.Os
Enunciados n. 25 e 170 do CJF/STJ. Art. 187 do CC. Enunciado n. 37 do CJF/STJ. Enunciado n. 24 do
CJF/STJ.
FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO.

art. 427 do CC/2002

A fase de proposta, denominada fase de oferta formalizada, policitação ou


oblação, constitui a manifestação da vontade de contratar, por uma das partes,
que solicita a concordância da outra.
É declaração unilateral de vontade receptícia

art. 429 do CC/2002

Esse caráter receptício é mantido se a promessa for direcionada ao público.


hipótese em que o oblato é determinável.
Policitante, proponente ou solicitante – aquele que formula a proposta,
estando a ela vinculado, em regra.

Policitado, oblato ou solicitado – aquele que recebe a proposta e, se a


acatar, torna-se aceitante, o que gera o aperfeiçoamento do contrato
(choque ou encontro de vontades).

O oblato poderá formular uma contraproposta, situação em que os


papéis se invertem: o proponente passa a ser oblato e viceversa.
Proposta (ou oferta, policitação ou oblação) – Deve ser séria, clara,
precisa e definitiva – art. 427.

Aceitação – Deve ser pura e simples – art. 431.


O art. 428 do CC/2002 consagra hipóteses em que a proposta deixa de ser
obrigatória. Vejamos:

1 - Deixa de ser obrigatória a proposta, se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi
imediatamente aceita (art. 428, inc. I). Contrato com declaração consecutiva.

2 - Não será obrigatória a proposta se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido
tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente (art. 428, inc.
II, do CC). Contrato com declarações intervaladas.

3- Não será obrigatória a proposta se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a
resposta dentro do prazo dado pelo proponente (art. 428, inc. III, do CC).

4 - não obriga a proposta, se antes dela ou juntamente com ela, chegar ao conhecimento
da outra parte – o oblato – a retratação do proponente (art. 428, inc. IV, do CC).
Em complemento...
Art. 430 do CC dispõe que, se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao
conhecimento do proponente, este comunicará o fato imediatamente ao aceitante, sob pena de
responder por perdas e danos.

Presente uma aceitação fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, haverá nova
proposta, de forma a inverterem-se os papéis entre as partes, conforme comentado (art. 431 do
CC). Contraproposta.

O art. 432 do C.C diz que, se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação
expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, caso não
chegue a tempo a recusa. Esse dispositivo trata da aceitação tácita ou silêncio eloquente, que é
possível no contrato formado entre ausentes.

Mas e o art. 111 do CC?


Art. 432, em resumo, consagraria uma presunção legal de formação do
contrato, não por força do encontro de manifestações, mas sim com base em
uma ficção legal, de impossível conciliação com os princípios que regem a
conclusão dos negócios jurídicos.

Entende-se o formado o contrato:

entre presentes – ou inter praesentes – quando houver uma facilidade de comunicação entre as
partes para que a proposta e a aceitação sejam manifestadas em um curto período de tempo.

entre ausentes – ou inter absentes – quando não houver tal facilidade de comunicação quanto à
relação pergunta-resposta.
O QUE É A TEORIA DA AGNIÇÃO?

se a formação ocorrer entre ausentes, o contrato deve ser reputado como concluído
a partir do momento em que a aceitação for expedida (art. 434, caput, do CC),
conhecida simplesmente também como teoria da informação.

Teoria da Agnição na subteoria da Expedição:


É a regra. Segundo esta teoria, o contrato é formado a partir da expedição
da aceitação.

Teoria da Agnição na subteoria da Recepção:


É a exceção. Segundo esta teoria, o contrato é formado a partir da
recepção da aceitação.
FASE DE CONTRATO PRELIMINAR

O contrato preliminar, pré-contrato ou pactum de contrahendo encontra-se tratado


na atual codificação privada, como novidade, entre os arts. 462 a 466.

Vale esclarecer que a fase de contrato preliminar não é obrigatória entre as partes,
sendo dispensável.
FASE DE CONTRATO DEFINITIVO

Quando ocorre o choque ou encontro de vontades originário da liberdade


contratual ou autonomia privada. A partir de então, o contrato estará aperfeiçoado,
gerando todas as suas consequências.
A REVISÃO JUDICIAL DOS CONTRATOS POR FATO SUPERVENIENTE
NO CÓDIGO CIVIL E NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

A extinção do contrato deve ser a ultima ratio, o último caminho a ser


percorrido, somente se esgotados todos os meios possíveis de revisão.
princípio da conservação contratual que é anexo à função social dos
contratos. A relação entre os dois princípios é reconhecida pelo
Enunciado n. 22 do CJF/STJ.

Em reforço, a busca da preservação da autonomia privada é um dos


exemplos da eficácia interna do princípio da função social dos contratos,
reconhecida pelo Enunciado n. 360 do CJF/STJ.
Que o estudioso do Direito tenha conhecimento de que a revisão
contratual por fato superveniente prevista no CDC não é igual à revisão
contratual por fato superveniente prevista no CC/2002. Isso ficou ainda
mais evidenciado com a Lei 14.010/2020, que criou um Regime Jurídico
Transitório de Direito Privado em meio à pandemia da Covid-19 (RJET).
A revisão contratual:

1) por fato superveniente no Código Civil de 2002;

2) fato superveniente no Código de Defesa do Consumidor;


A revisão contratual por fato superveniente no Código Civil de
2002.

Arts. 317 e 478 do CC

Enunciado n. 176 do CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil:

“Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o


art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que
possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução
contratual”
A primeira corrente doutrinária afirma que o atual Código Civil
consagrou a teoria da imprevisão, de origem francesa, que remonta à
antiga cláusula rebus sic stantibus (cláusula que permite a revisão das
condições do contrato de execução diferida ou sucessiva ). Predomina na
prática a análise do fato imprevisível a possibilitar a revisão por fato
superveniente.

Segunda corrente, o Código Civil de 2002 adotou a teoria da onerosidade


excessiva, com inspiração no Código Civil Italiano de 1942, eis que o
nosso art. 478 equivale ao art. 1.467 do Codice
Deve ficar bem claro que a questão referente à teoria adotada pelo atual
Código Civil no que toca à revisão contratual por fato superveniente é
demais controvertida, sendo certo que, tanto na III Jornada (2004)
quanto na IV Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal
(2006), não se chegou a um consenso a respeito do tema.

Filia-se à primeira das visões pelo costume doutrinário e jurisprudencial,


sendo certo que, de fato, o art. 478 do nosso Código Civil equivale ao art.
1.467 do Código italiano.
Lei brasileira traz o art. 317, dispositivo que cuida mais adequadamente da
matéria e não tem correspondente naquela codificação estrangeira.

Essa é a fundamental diferença entre os sistemas. A partir dessas


constatações, entendemos ser interessante dizer que, até afastando qualquer
discussão acadêmica mais profunda quanto à teoria adotada, o Código Civil de
2002 consagra a revisão contratual por fato superveniente diante de uma
imprevisibilidade somada a uma onerosidade excessiva.
EM SUMA...
1º Requisito – O contrato deve ser, em regra, bilateral ou sinalagmático,
trazendo direitos e deveres para ambas as partes. Todavia, como exceção,
o art. 480 do CC, que ainda será estudado, admite a revisão dos contratos
unilaterais.

2º Requisito – O contrato deve ser oneroso, com prestação e


contraprestação, para que a eventual onerosidade excessiva esteja
presente.
3º Requisito – Deve assumir o negócio a forma comutativa, tendo as
partes envolvidas ciência quanto às prestações. A revisão por
imprevisibilidade e onerosidade excessiva não poderá ocorrer caso o
contrato assuma a forma aleatória, em regra, instituto negocial tipificado
nos arts. 458 a 461 do CC.

V Jornada de Direito Civil: “é possível a revisão ou


resolução por excessiva onerosidade em contratos
aleatórios, desde que o evento superveniente,
extraordinário e imprevisível não se relacione à álea
assumida no contrato” (Enunciado n. 440).
4º Requisito – O contrato deve ser de execução diferida ou de trato
sucessivo, ou seja, deve ainda gerar efeitos no tempo (art. 478 do CC). Em
regra, não é possível rever contrato instantâneo, já celebrado e
aperfeiçoado. Repise-se que o contrato de execução diferida é aquele
em que o cumprimento ocorre de uma vez só no futuro. No contrato de
trato sucessivo, o cumprimento ocorre repetidamente no tempo, de
forma sucessiva (v.g., financiamentos em geral).

A renegociação de contrato bancário ou a confi


ssão da dívida não impede a possibilidade de
discussão sobre eventuais ilegalidades dos
contratos anteriores. (súmula 286 STJ)
Civil e Processual. Acórdão. Nulidade. Omissão não configurada. Notas de crédito comercial. Repactuação
posterior em contrato de confissão de dívida. Prova pericial. Investigação da legitimidade de cláusulas
anteriores. Sequência contratual. Possibilidade. Necessidade da perícia. Reexame. Matéria de fato. Recurso
especial.
I. Não se configura nulidade quando o acórdão, inobstante não descendo a todos os múltiplos aspectos
suscitados pela parte, se acha corretamente fundamentado relativamente aos pontos essenciais ao deslinde
da controvérsia.
II. Possível a revisão de cláusulas contratuais celebradas antes da novação por instrumento de confissão
de dívida, se há uma sequência na relação negocial e a discussão não se refere, meramente, ao acordo
sobre prazos maiores ou menores, descontos, carências, taxas compatíveis e legítimas, limitado ao
campo da discricionariedade das partes, mas à verificação da própria legalidade do repactuado, tornando
necessária a retroação da análise do acordado desde a origem, para que seja apreciada a legitimidade do
procedimento bancário durante o tempo anterior, em que por atos sucessivos foi constituída a dívida
novada.
III. Devidamente justificada pelo Tribunal a quo a imprescindibilidade da realização da prova técnica, cuja
dispensa levou à anulação da sentença por cerceamento da defesa, o reexame da matéria recai no âmbito
fático, vedado ao STJ, nos termos da Súmula n. 7.
IV. Recurso especial não conhecido.
RECURSO ESPECIAL N. 132.565-RS
5º Requisito – Exige-se um motivo imprevisível (art. 317) ou
acontecimentos imprevisíveis e extraordinários (art. 478).

Eis o grande problema da teoria adotada pelo CC/2002, pois poucos


casos são enquadrados como imprevisíveis por nossos Tribunais, eis que
a jurisprudência nacional sempre considerou o fato imprevisto tendo
como parâmetro o mercado, o meio que envolve o contrato e não a
parte contratante.

A partir dessa análise, em termos econômicos, na sociedade pós-


moderna globalizada, nada é imprevisto, tudo se tornou previsível.
Ilustrando, não seriam imprevisíveis o aumento do dólar, o desemprego
ou a escala inflacionária
imprevisibilidade e extraordinariedade

Trata-se, em essência, de assegurar o equilíbrio contratual, e não de


proteger as partes contra acontecimentos que não poderiam ou não
puderam antecipar no momento de sua manifestação originária de
vontade.

A imprevisibilidade e extraordinariedade do acontecimento não devem


representar um requisito autônomo, a ser perquirido em abstrato com
base em um acontecimento localizado a maior ou menor distância do
impacto concreto sobre o contrato, mas sim ficar intimamente associadas
ao referido impacto, o qual passa a consistir no real objeto da análise
judicial.
Enunciado n. 17 do CJF/STJ, da I Jornada: “a interpretação da expressão
‘motivos imprevisíveis’, constante do art. 317 do Código Civil, deve
abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também
causas previsíveis, mas de resultado imprevisíveis”

Enunciado n. 175 do CJF/STJ, da III Jornada: “a menção à


imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código
Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o
desequilíbrio, mas também em relação às consequências que ele produz”.
6º Requisito – Para que a revisão judicial por fato imprevisto seja possível, deve
estar presente a onerosidade excessiva (ou quebra do sinalagma obrigacional),
situação desfavorável a uma das partes da avença, normalmente à parte mais
fraca ou vulnerável, que assumiu o compromisso obrigacional.
Essa onerosidade excessiva é denominada por Álvaro Villaça Azevedo
como lesão objetiva ou lesão enorme (laesio enormis).
IV Jornada de Direito Civil o Enunciado n. 365 do
CJF/STJ: “a extrema vantagem do art. 478 deve ser
interpretada como elemento acidental da alteração
de circunstâncias, que comporta a incidência da
resolução ou revisão do negócio por onerosidade
excessiva, independentemente de sua
demonstração plena”.
QUESTÕES PONTUAIS

Enunciado n. 366 do CJF/STJ, segundo o qual “o fato extraordinário e


imprevisível causador de onerosidade excessiva é aquele que não está coberto
objetivamente pelos riscos próprios da contratação”.
não pode ser acionado diante de uma simples oscilação econômica para mais ou para menos do valor da
prestação
A revisão contratual por fato superveniente no Código de Defesa do
Consumidor.
Código de Defesa do Consumidor, constitui norma de ordem pública e de interesse
social, pelo que consta do seu art. 1.º, sendo também norma principiológica pela
previsão expressa de proteção aos consumidores constante no Texto Maior,
particularmente nos seus arts. 5.º, inc. XXXII, e 170, inc. III.

Art. 6.º, V
Código de Defesa do Consumidor não adotou a teoria da imprevisão.

Art. 7.º, § 1.º, da Lei 14.010/2020 em afastar essa revisão daquela prevista
em dispositivos do Código Civil.
Na esteira desse posicionamento, afirma-se que o Código de Defesa do
Consumidor adotou a teoria da base objetiva do negócio jurídico, muito
bem desenvolvida pelos alemães.

No entendimento jurisprudencial que ampara o posicionamento ao qual


se filia majoritariamente a doutrina, é forçoso concluir que, com a
possibilidade de se rever um contrato por simples onerosidade excessiva,
vislumbra-se um contrato amparado na teoria da equidade contratual ou
na teoria da base objetiva do negócio jurídico, concebidas diante da
tendência de socialização do Direito Privado, pela valorização da
dignidade da pessoa humana, pela solidariedade social e pela igualdade
material que deve sempre estar presente nos negócios jurídicos em geral.

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