Você está na página 1de 6

AULA 04 23/02/2022

DIREITO CIVIL III – CONTRATOS

FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

1. A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE
A manifestação da vontade pode ser expressa ou tácita.
Pode ser tácita quanto a lei não exigir que seja expressa (art. 111, do CC).
Ex. doação pura (art. 539, CC), venda a contento (art. 512, CC), praxe comercial
(art. 432, CC).
Tácita – ex. um turista que remete um email (fax) a determinado hotel,
reservando acomodações, informando que a chegada se dará em tal data, se não
receber aviso em contrário. Não chegando a tempo a negativa, reputar-se-á
concluído o contrato.
Expressa - por meio de escrito, verbal, gesto ou mímica, de forma
inequívoca. Ex. manifestação em leilão.

2. NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES (puntuação)


O contrato resulta de 02 manifestações de vontade: proposta e aceitação.
Claro que na maior parte dos casos existe longa fase de negociações
preliminares caracterizadas por sondagens, conversações, estudos e debates.
Embora as negociações preliminares não gerem, por si mesmas, obrigações
para qualquer dos participantes, elas fazem surgir, entretanto, deveres jurídicos
para os contratantes, decorrentes da incidência do princípio da boa-fé, sendo os
principais os deveres de lealdade e correção, de informação, de proteção e
cuidado e de sigilo. A violação desses deveres durante o transcurso das
negociações é que gera a responsabilidade do contraente, tenha sido ou não
celebrado o contrato.
Ex. responsabilidade ocorrerá se ficar demonstrada a deliberada intenção, com a
falsa manifestação de interesse, de causar dano ao outro contraente, levando-o a
perder outro negócio ou realizando despesas. (art. 186, CC).
Censura-se, assim, quem abandona inesperadamente as negociações já em
adiantado estágio, depois de criar na outra parte a expectativa da celebração de

1
um contrato para o qual se preparou e efetuou despesas, ou em função do qual
perdeu outras oportunidades.

3. A PROPOSTA
3.1 Conceito
Proposta, também chamada de oferta, policitação ou oblação, é uma
declaração receptícia de vontade, dirigida por uma pessoa a outra (com quem
pretende celebrar um contrato), por força da qual a primeira manifesta sua
intenção de se considerar vinculada, se a outra parte aceitar.
A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto:
preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento e etc. também deve
ser séria (art. 427, do CC). Deve ser clara, completa e inequívoca, linguagem
simples.
Não se pode dizer que se equivale ao contrato.
Oferta pública (art. 429, do CC) mercadoria em vitrinas, feiras, leilões e etc.

 Proponente ou policitante = denominação conferida àquele que faz a


proposta.
 Aceitante ou oblato = denominação conferida àquele que aceita a oferta.

3.2 A OFERTA NO CÓDIGO CIVIL (art. 427, do CC)


3.2.1 A força vinculante da oferta
Desde que séria e consciente, a proposta vincula o proponente.
A obrigatoriedade da proposta consiste no ônus, imposto ao proponente,
de mantê-la por certo tempo a partir de sua efetivação e de responder por suas
consequências, por acarreta no oblato (aceitante) uma fundada expectativa de
realização do negócio. Levando-o muitas vezes a elaborar projetos, a efetuar
gastos e despesas, a promover liquidação de negócios e cessação de atividade etc.
A morte intercorrente não desfaz a promessa, que se insere como elemento
passivo da herança. A proposta se transmite aos herdeiros como qualquer outra
obrigação, com exceção de retratação prevista no art. 428, IV, do CC.
ATENÇÃO: a proposta é vinculante – vincula o proponente. Dessa forma, a mera
proposta e aceitação da mesma, inicia a formação de um contrato, não

2
necessitando da efetiva entrega da coisa – tendo em vista que o contrato de
compra e venda não se trata de contrato real.

3.2.2 Proposta não obrigatória (art. 427, segunda parte, do CC)


A oferta não obriga o proponente:
1ª) Se contiver cláusula expressa a respeito: A oferta não obriga o
proponente se contiver cláusula expressa a respeito. Ex. “proposta sujeita a
confirmação” ou “não vale como proposta”. Tal publicidade não se aplica a
luz do CDC.
2ª) Em razão da natureza do negócio: ex. propostas abertas ao público que
se consideram limitadas ao estoque existente (art. 429, do CC).
3ª) Em razão das circunstâncias do caso: circunstâncias que a lei prevê (art.
428, do CC). É dado liberdade ao juiz para decidir.

Vamos estudar o art. 428, do CC.


 Inciso I: quando o solicitado responde que irá estudar a proposta feita por
seu interlocutor, poderá retirá-la. Ex. é pegar ou largar. Se demorar, a
proposta caduca.
 Inciso II: se feita por um corretor ou correspondência. Para fins legais, são
considerados ausentes os que negociam mediante troca de
correspondência ou intercâmbio de documentos.
 Inciso III: se foi fixado prazo para resposta, o proponente terá de esperar a
resposta dentro do prazo dado.
 Inciso IV: a lei permite ao proponente a faculdade de retratar-se, ainda que
não haja feito ressalva nesse sentido. Todavia, para que se desobrigue, e
não se sujeite às perdas e danos, é necessário que a retratação chegue ao
conhecimento do aceitante antes da proposta ou simultaneamente a ela.
Ex. comunicar por via mais rápida a retratação.
Proposta feita entre Presentes (ou seja, - Sem prazo: deve ser imediatamente aceita, sob
pessoa presente, com comunicação pena de perder a eficácia (art. 428, I); é o caso do
imediata, instantânea, como por exemplo, “pegar ou largar”, se o oblato não aceita de
proposta feita por telefone). imediato, o policitante está desobrigado.
- Com prazo: é obrigatória durante o prazo
assinado.
Proposta feita entre Ausentes (ou seja, sem - Sem prazo: perde a validade se a resposta não
comunicação imediata ou instantânea, chegar ao proponente em prazo razoável -
como por exemplo, proposta realizada por “prazo moral” - (art. 428, II). Tem-se como prazo
carta, por e-mail). razoável, uma cláusula geral, que deve ser
interpretada no caso concreto.
3
- Com prazo: é obrigatória durante o prazo, não
se formando o contrato se a aceitação for
expedida depois de vencido. Ou seja, a aceitação
deve ser exteriorizada/expedida antes de
escoado o prazo, ainda que chegue ao
conhecimento do proponente fora desse prazo.

3.3 A oferta no CDC


O Código de Defesa do Consumidor regulamenta, nos arts. 30 a 35, a
proposta nos contratos que envolvam relações de consumo.
A proposta deve ser séria, clara e precisa.
A diferença de proposta entre o CDC e o CC, é que no primeiro é mais ampla
(atinge pessoas indeterminadas – em massa).
A proposta aberta ao público, por meio de exibição de mercadorias em
vitrinas, catálogos, anúncios nos diversos meios de divulgação etc., vincula o
ofertante.
O fornecedor deve assegurar o preço, características do produto e serviços,
bem como, o estoque, sob pena de responsabilidade (vide art. 35, do CDC).

4. A ACEITAÇÃO
4.1 Conceito
A aceitação consiste na formulação da vontade concordante do oblato (a
pessoa a quem é direcionada a proposta), feita dentro do prazo envolvendo a
adesão integral à proposta recebida. (Silvio Rodrigues).
Aceitação é a concordância com os termos da proposta, transformando em
contrato.
Caso apresentada fora do prazo, com adições, restrições ou modificações,
importará nova proposta (art. 431). Ou seja, seria uma contraposta.

4.2 Hipótese de inexistência de força vinculante da aceitação


O CC dá 02 hipóteses em que a manifestação de vontade deixa de ter força
vinculante:
a) Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos,
chegar tarde ao conhecimento do proponente (art. 430, primeira parte, do
CC): Ou seja, se chegar tarde ao conhecimento do policitante (proponente)
4
o aceite e, já tento celebrado contrato com outro, deverá comunicar
imediatamente ao então aceitante, sob pena de responder por perdas e
danos.

b) Se antes da aceitação, ou com ela, chegar ao proponente a retratação do


aceitante (art. 433, do CC). Ou seja, a lei permite a retratação da aceitação.

5. CONCLUSÃO DO CONTRATO
5.1 Contratos entre presentes
Se o policitante (proponente) não estabelecer nenhum prazo, esta deverá
ser manifestada imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculante.
Qual momento se deve considerar formado o contrato? Resp.: Se for entre
presentes, considera-se formado o contrato na ocasião. Se entre ausentes, caberá
análise de caso a caso.

5.2 Contratos entre ausentes


Quanto o contato é celebrado entre ausentes (por correspondência, carta,
email, telegrama, fax, radiograma, ou ainda por intermediários), a resposta leva
algum tempo para chegar ao conhecimento do proponente e passa por diversas
fases.
Entretanto, os autores divergem em teorias diferentes:
a) Teoria da informação ou da cognição: é o da chegada da resposta ao
conhecimento do policitante (proponente). Exige-se ser aberta para se ter
conhecimento de seu teor.
b) Teoria da declaração ou da agnição: subdivide em 03:
b.1) Teoria da declaração propriamente dita: o instante da conclusão
coincide com a da redação da correspondência epistolar (carta) do aceite.
Teoria não aceita, pois não tem como comprovar esse momento.
b.2) Teoria da expedição: necessário que tenha sido expedido o aceite, isto
é, saído do alcance e controle do oblato. Esta teoria foi acolhida pelo CC
(art. 434).
b.3) Teoria da recepção: além de escrita e expedida, a resposta deve ter
sido entregue ao destinatário.
6. LUGAR DA CELEBRAÇÃO (art. 435)
Local em que a proposta foi feita (art. 435).

5
O problema tem relevância na apuração do foro competente.
Vide art. 9°, §2°, da LINDB.
Ressalva-se que, com base na autonomia privada, as partes podem eleger o
foro competente.

7. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS PELA INTERNET


No estágio atual, a obrigação do empresário brasileiro que se vale do
comércio eletrônico, deve seguir as regras do CDC.
No entanto, o contrato de consumo eletrônico internacional obedece ao
disposto no art. 9°, §2°, da LINDB. Ou seja, se um brasileiro faz aquisição de algum
produto oferecido pela internet por empresa estrangeira, o contrato se rege pelas
leis do país contratante que fez a oferta (proposta).
Vide o art. 435, do CC.
Se o consumidor optar pela justiça brasileiro, nosso judiciário teria que
aplicar a lei estrangeira e, ainda, o consumidor teria que pedir a homologação da
decisão em corte nesse país estrangeiro.
O consumidor tem 02 opções:
a) Mover ação judicial no país estrangeiro;
b) Mover ação judicial no Brasil; art. 5°, XXXII, da CF, art. 21, II, do CPC, art.
101, I, do CDC.

Você também pode gostar