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TGDC II

ESQUEMA DE RESOLUÇÃO NEGÓCIO


JURÍDICO

Maria Teresa Olim Viríssimo Fontes - 1º ano TA2


Regente: prof. Maria Rosário Palma Ramalho
Assistente. Prof. Diogo Tapada dos Santos

Teresa Viríssimo 1
2021/2022

 Formação do negócio jurídico

1. Definição de declaração negocial- art. 217º CC


A declaração negocial, tutelada no art. 217º do CC exige comunicação e vontade,
ou seja, resulta de uma ação humana voluntária em que é exigida uma exteriorização
da vontade que se destina a produzir certos efeitos produzidos pelo autor.

2. Avaliação da exteriorização da vontade da declaração


2.1 Declaração expressa ou tácita- art. 217º CC
A declaração negocial é expressa quando é dita pelo autor por meio direto (ex:
palavras ou por escrito) ou tácita, quando se deduz aos factos que com toda a
probabilidade a relevem (ex: art. 234º CC). Estes factos têm de ser significantes,
positivos e inequívocos.
2.2 Ausência de declaração expressa ou tácita- silêncio- art. 218º CC
Na ausência de qualquer declaração expressa ou tácita, surge o silêncio, nos
termos do art. 218º CC, que corresponde à ausência de ação, ou seja, à não emissão
de qualquer tipo de declaração negocial e consequentemente à inexistência de um
fim e meios desencadeados para o prosseguir – o silêncio é nullum.
O silencio não tem valor negocial declarativo à exceção de certas situações e,
que esse valor lhe seja atribuído por lei, uso ou convenção (quando as partes
declaram que o silencio vale como declaração, se não for aceite por ambas as partes
o silencio não tem valor positivo.

Valor de silêncio atribuído por convenção (Ex: Quando enviam algo para
experimentar)
 As partes não acordam que o silencio vale como declaração, logo o silencio não
vale como aceitação.
 As partes acordam que o silêncio vale como aceitação:
- O destinatário pretende comprar o artigo- mantém-se em silêncio logo procede-
se à venda do artigo.
-O destinatário não pretende comprar o artigo- obrigado a restituir a coisa que o
proponente lhe tenha enviado quando ele a for buscar, até à data deve conservar o
bem. Só se recorre a responsabilidade quando o mesmo aja por dolo.
Valor de silêncio atribuído por uso (usos do comércio, usos da profissão) - art.
218º+ art. 3º do CC

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3. Eficácia da declaração negocial
3.1 Declarações entre ausentes e presentes: ou as partes estão em contacto direto
uma com a outra ou não (avaliar se é possível resposta imediata ex: chamada
telefónica). presentes. Distinguir se as partes do negocio não estão perto uma da
outra ou se estão em contacto direto. Não se trata de presença física, mas sim da
resposta imediata ou não, podendo ser presencial ou via digital.

3.2 Declarações recipiendas e não recipiendas-art. 224º CC


As declarações negociais são recipiendas ou não recipiendas conforme tenham
ou não um destinatário. As declarações são recipiendas quando têm um destinatário
determinado, normalmente são as que visam integrar um negócio contratual e as
declarações não recipiendas quando não têm um destinatário determinado (ex:
Oferta ao público, visto que não tem qualquer destinatário, mas visa integrar um
conteúdo contratual).
As declarações recipiendas vêm a sua eficácia condicionada pela ligação
particular que visam estabelecer com o seu destinatário. O tipo de relacionamento
exigido, do qual depende o momento da eficácia, tem sido equacionado por três
teorias:
Teoria da receção (regra geral) - art. 224º/1: a declaração é eficaz a partir do
momento que seja recebida pelo destinatário. Porém não é eficaz se quando recebida
pelo destinatário, em condições de sem culpa não poder ser entendida (relevância
negativa da teoria do conhecimento- art. 224º/3). Numa situação em que não é
recebida por culpa do destinatário, releva a teoria da expedição.
Teoria da expedição- art. 224º/2: a declaração é eficaz a partir do momento que seja
enviada pelo autor. Porém não se justifica perante uma declaração que nunca chegue
ao seu destino.
Teoria do conhecimento- art. 224º/1: a declaração produz efeitos a partir do
momento em que é conhecida pelo destinatário. Relevante em situações em que seja
dada a conhecer a declaração antes da receção formal da proposta.

 Formação dos contratos

4. Proposta contratual e aceitação


O consenso na formação dos negócios exige a proposta e a aceitação, traduzindo duas
ou mais declarações de vontade inequívocas.
4.1 Emissão de proposta contratual
A proposta é a declaração negocial em que uma das partes (autor) manifesta a
decisão de contratar e que uma vez aceite pela outra parte ou pelas outras, dá lugar ao

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aparecimento de um contrato. A proposta, para o ser efetivamente, deve reunir 3
requisitos essenciais, nomeadamente, deve ser completa (abranger todos os pontos a
integrar no futuro contrato, ficam incluídos aspetos que sejam necessários para os
contratantes, como também os supridos pela lei, através de normas supletivas), firme
(revelar uma intenção inequívoca de contratar) e formal (deve revestir a forma requerida
para o negocio).
Emitida uma proposta contratual e tornando-se esta eficaz, nos termos do art.
224º, pergunta-se quais os termos da eficácia e por quanto tempo deverá ela manter-se.

Eficácia da proposta: faz surgir um direito potestativo na esfera do destinatário, pela


aceitação que provoca a celebração de um contrato.
Duração da eficácia da proposta (extinção da proposta):
 Decurso do prazo- titulado no art. 228º/1 do CC
- Se for fixado prazo para aceitação, pelo proponente ou acordo das partes a
proposta mantém-se até ao termo desse mesmo prazo - art. 228º/1 a)
- Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir resposta imediata, a
proposta conserva-se até, que, em condições normais, ele e a aceitação cheguem
ao seu destino (art. 228 nº 1 b);
- Se nada for dito, a proposta subsiste pelo período que, em condições normais,
possibilite que a proposta e a aceitação cheguem aos seus destinos, acrescido de
cinco dias (art. 228 nº 1 c).
Correio registado: seriam assim 11 dias (6 dias + 5 dias) - art. 228º/1 c) + art.
254º/3 CPC

Meio utilizado pelo proponente para enviar a sua declaração:


Correio normal (resposta imediata): seriam assim 6 dias – 3 para enviar e 3
para receber. (art. 228º/1 b))
Correio normal (sem resposta imediata): 3 dias para enviar e 3 dias para
receber, acrescidos de 5 dias (condições normais), total de 11 dias- art. 228º/1 c)
Correio eletrónico: prof. Carvalho Fernandes diz-nos que se devem contar 24h
desde o envio do email.
Correio registado: art. 228º/1 c) + art. 254/3 CPC (“3 - A notificação postal
presume-se feita no terceiro dia posterior ao do registo, ou no primeiro dia útil
seguinte a esse, quando o não seja.”)

Declaração de prazo indefinido:

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A proposta feita em tais condições se submeteria à prescrição, nos eu
prazo ordinário de 20 anos (art. 300º ss. e art. 309º). Trata-se de um prazo
demasiado excessivo para que uma pessoa deva aguardar, logo propõe-se a
aplicação analógica do art. 411º do CC, o proponente pode solicitar ao tribunal a
fixação de um prazo para que o destinatário aceite ou rejeite.
 Revogação- tutelada no art. 230º
A revogação da proposta é um ato unilateral, praticado pelo proponente. Só é
possível se ainda não houver contrato, se já houver contrato é exigida através de
acordo entre as partes. Segundo o art. 230º, a revogação é viável em duas hipóteses:
- Quando o proponente se tenha reservado a faculdade de revogar- art. 230º/1
- Quando a revogação se dê em moldes tais que seja pelo destinatário, recebida antes
da proposta, ou ao mesmo tempo com esta- art. 230º/2

 Aceitação ou a rejeição
Aceitação: faz desaparecer a proposta e passa ser um contrato
Rejeição: renúncia do destinatário ao direito potestativo de aceitar a proposta em
jogo.
 Outros modos- tutelados no art. 231º e 226º
- Por morte ou incapacidade do proponente, havendo fundamento para presumir ser
essa a sua vontade- art. 231º/1-ou se tal resultar da própria declaração- art. 226º/1
- Por morte ou incapacidade do destinatário- art. 231º/2
- Por ilegitimidade superveniente do proponente, desde que anterior à receção da
proposta- art. 226º/2.

4.1.1 Modalidades da proposta contratual

 Oferta ao público
A oferta ao público é uma modalidade de proposta contratual, caracterizada por
ser dirigida a uma generalidade de pessoas, logo é não recepienda por não ter
destinatário. Como qualquer proposta contratual deve reunir os 3 requisitos
fundamentais, nomeadamente, deve ser completa, deve compreender a intenção
inequívoca de contratar e deve ser formal.
A oferta ao público distingue-se de:
- Convite a contratar: através de vários meios, as entidades interessadas podem
incitar pessoas indeterminadas a contratar, não reveste a forma da proposta, ou
seja, não contem todos os elementos essenciais para a formação do contrato,
nomeadamente os 3 requisitos fundamentais.

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Convite à oferta: o proponente declara-se pronto a receber propostas que
depois poderá aceitar Ex: seguradoras e leilão
- Proposta feita a uma pessoa desconhecida ou de paradeiro ignorada: trata-se de
uma proposta comum, com destinatário específico, ou seja, não é destinado a
uma generalidade de pessoas. Esta proposta está tutelada no art. 225º do CC e
pode ser denominada por oferta genérica ao público.
-CCG: embora genéricas, as clausulas contratuais gerais não surgem
necessariamente como proposta e implicam uma rigidez que não enforma de
modo necessário a oferta ao público.

 Aceitação, rejeição e contraproposta- leva a uma extinção da proposta ou a uma


nova proposta

o A aceitação é uma declaração recipienda (expressa ou tácita-art. 217º/1), ou seja,


tem um destinatário, formulada pelo destinatário da proposta negocial ou por
qualquer outro interessado quando haja uma oferta ao público., cujo conteúdo
exprima uma total concordância com o teor da declaração do proponente. A
aceitação deve assumir três características fundamentais, nomeadamente,
exprimir um assentimento total e inequívoco, tem de haver tempestividade (tem
de ser emitida dentro do lapso de tempo que corresponde) como também revestir
a forma exigida para o contrato. Considerando a aceitação uma declaração
recipienda, reconhece-se a sua eficácia nos termos do art. 224º.
Receção tardia- pode suceder que a aceitação comece a produzir os seus efeitos
apenas quando a proposta já não tenha eficácia, nos termos do art. 229º. Quando
isso suceda não há qualquer contrato, pois para haver contrato é necessário que a
proposta contratual e a aceitação sejam eficazes.
- Aceitação expedida fora de tempo: o proponente nada tem a fazer, não chega a
haver negocio, porem se pretender a sua celebração deve fazer uma nova
proposta.
- A aceitação for expedida em tempo útil: o aceitante, tendo enviado a sua
declaração em tempo útil, fica convicto de que se celebrou um contrato, apenas o
proponente é conhecedor do atraso, por isso deve avisar o aceitante que não
chegou a concluir-se qualquer contrato, sob pena de responder pelos prejuízos, se
pretender o contrato basta considerar a aceitação tardia como eficaz.

o A contraproposta é uma aceitação apenas sobre o essencial da proposta porque


haverá ainda que definir o regime da negociação ulterior sobre não essencial.
Para ser aceitação tem de haver acordo sobre todos os problemas que qualquer
das partes queira suscitar.

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o A rejeição consiste em que perante uma proposta contratual, o destinatário
possui o direito potestativo de a rejeitar, logo é um ato unilateral recipiendo qual
o destinatário recusa a proposta negocial. Tal como a aceitação, pode ser
expressa ou tácita e assim que se torne eficaz nos termos do art. 224º, extingue-se
a proposta. Segundo o art. 233º 1ª parte, a aceitação da proposta com
aditamentos, limitações ou outras modificações implica a sua rejeição, a segunda
parte do mesmo artigo expõe que se a modificação for muito precisa, equivale a
nova proposta- contraproposta.

o A formação de um contrato com dispensa da declaração de aceitação,


tutelada no art. 234º, pode traduzir-se em:
- Atos de apropriação- uso, modificação, consumo
- Atos de cumprimento- reserva de um hotel
- Atos concludentes

4.2 Meios de contratação pela força das novas tecnologias


 Contratação através de autómatos: através de maquinas, mediante a introdução
do dinheiro, que distribuem determinados bens aos utentes.
Teorias para distinguir o proponente e o destinatário:
- Teoria da oferta automática: os autómatos a funcionar, mediante adequada
solicitação feita por um utente, deve ser vista como oferta ao publico. Pois assim
que a parte coloca o dinheiro na maquina está a aceitar a proposta genérica
formulada pela entidade que programa a maquina.
- Teoria da aceitação automática: a inserção da moeda na maquina não provoca
necessariamente o contrato, tal só se sucede se a maquina estiver em condições de
fornecer o bem, ou seja, se não estiver vazia.
 Contratação através de plataformas digitais

5. Forma das declarações negociais

6. Culpa in contrahendo

A culpa in contrahendo está tutelada no Art. 227ºCC e traduz que «quem


negoceia com outrem para a conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares
como na formação dele, proceder segundo as regras da boa-fé, sob pena de responder
pelos danos que culposamente causar à outra parte».

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Isto vai consagrar alguns deveres pré contratuais, que, tal como o nome indica,
são anteriores à concretização do contrato. Desses deveres é possível distinguir os
deveres de segurança, de informação e de lealdade.
Os deveres de segurança, segundo o prof. Menezes Cordeiro implicam que
durante a fase de formação do NJ, as partes devam assegurar que a outra não sofre
danos por estar num ambiente pre contratual – há, no entanto, doutrina, tal como a da
professora Maria do Rosário Palma Ramalho e PPV, em que se considera que estes
deveres decorrem independentemente de se estar ou não num ambiente pré contratual, e
dá-se o nome de deveres do tráfego, ou seja, só corresponde à culpa in contrahendo
quando os danos causados tenham a ver com o contrato, se não tiver haver com o
contrato quanto muito estaríamos perante uma responsabilidade extracontratual.
Os deveres de informação implicam que quando se está a negociar com alguém,
as partes devem dar os esclarecimentos adequados à outra parte, sobre todos os
elementos essenciais para a formação do contrato, exceto se estiverem envolvidos
direitos pessoais, neste caso verifica-se o direito da reserva- art.253º/2 CC.
Por fim, os deveres de lealdade são os que fazem com que não se quebre a
relação de confiança anteriormente criada para a celebração de um negócio.
Como todo este processo tem de ir ao encontro da boa-fé objetiva, há ainda
princípios que devem ser tidos em conta, tais como o princípio da primazia da
materialidade subjacente e o princípio da tutela da confiança( as partes devem agir de
forma a não violar as legitimas expetativas uma da outra, pelos seguintes requisitos: tem
de ter sido criada uma situação de confiança, tem de haver uma justificação para esse
estado, tem de haver investimento na confiança e ainda tem de ser imputável à outra
parte), que, no fundo, traduzem a ideia que a boa-fé não deve ser apenas aparente, mas
corresponder de facto à vontade e que não se podem criar situações de confiança que
depois se venham a quebrar.

Natureza e âmbito da indemnização (483º+487º ou 798º+799º):


- Responsabilidade contratual/ obrigacional (798º): Quando se entende que existe entre
as partes uma obrigação especifica, perante o incumprimento exige-se uma presunção
de culpa (art.799º), ficando imediatamente imputados todos os danos correspondentes
aos valores assegurados no vinculo- defendido por Mota Pinto.
- Responsabilidade Aquiliana/não-obrigacional: quando se opta por um dever de ordem
geral, eventualmente concretizado em deveres de tráfego. Por se julgar um dever
genérico, a ordem jurídica age de forma cautelosa- não há presunção de culpa (art.
483º/1) e a causalidade tem de ser estabelecida, ou seja, tem que se provar a ilicitude e a
culpa (art. 487º CC) de modo a calcular a indemnização.
- 3ª via Canaris: Dever unitário de base legal. A sua ligação situar-se-ia entre as duas
responsabilidades.
O dever de indemnizar só surge se se verificarem os pressupostos da tutela da
confiança:

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 Tem de ter sido criada uma situação de confiança
 Tem de haver justificação para esse estado
 Tem de haver investimento na confiança
 Tem de ser imputável à outra parte

Como relevam os danos?


Algumas doutrinas pretendem limitar a indemnização e arbitrar por culpa in
contrahendo, ou seja, o prejuízo da parte lesada pode ser estimado pelo:
- Interesse contratual positivo: a indemnização destina-se a colocar as partes na posição
em que estaria se o contrato fosse válido e eficaz, ou seja, caso tivesse havido contrato.
Cobrirá todos os danos que não se teriam tido se o contrato tivesse sido devidamente
cumprido.
- Interesse contratual negativo: a indemnização destina-se a colocar as partes na posição
em que estariam se não tivesse havido negociações, ou seja cobre os danos (danos
emergentes-perdes algo e deixas de ganhar outra coisa e lucros cessantes-não perdes
nada mas também não ganhas) que não teriam verificado se o contrato nunca tivesse
sido negociado nem celebrado.
Cálculo da indemnização: 798º, 562º e 564º/1

7. Formação de contratos através das CCG


As CCG são proposições pré- elaboradas que proponentes ou destinatários
indeterminados se limitam a propor ou a aceitar. As CCG estão tuteladas no decreto-lei
446/85 de 25 de outubro e são definidas por três elementos essenciais, nomeadamente a
sua pré elaboração, rigidez (não permitem alteração pela outra parte) e
generalidade/indeterminação dos destinatários/proponentes. Para além destes elementos
podemos apontar outras características que não são obrigatórias, entre estas, a
desigualdade entre as partes, a complexidade (alargam-se por um numero grande de
pontos que cobrem por minucia todos os aspetos contratuais) e a natureza formulária
(Docs. Extensos e pré-determinados). As CCG têm de ir de encontro com a boa-fé, pela
tutela da confiança e a primazia da materialidade subjacente, ou seja, a boa-fé não deve
ser apenas aparente, mas corresponder de facto à vontade e que não se podem criar
situações de confiança que depois se venham a quebrar
AS CCG só questionam a liberdade de estipulação e não a de celebração. Perante a
delicadeza do modo da formação do negócio com recurso a CCG, não basta a mera
aceitação, é necessária uma série de requisitos, nomeadamente uma efetiva
comunicação (letra legível e língua percetível-art.º 5), uma efetiva informação art.6º e
por fim a inexistência de clausulas prevalentes (clausulas discutidas previamente por
consenso art. 7º).
Cláusulas excluídas consistem num contrato com recurso a CCG em que alguns
dispositivos não tenham sido devidamente comunicados ou informados, tuteladas no art.

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8º, neste caso pelo art. 9º dispõe que nas áreas desguarnecidas pela exclusão, haverá que
incorrer, conforme os casos às regras supletivas aplicáveis e regras de integração dos
NJ.
Cláusulas proibidas são nulas nos termos no artigo 12º, são proibidas as CCG
contrárias à boa-fé (15º e 16º), relacionadas com relações entre empresários ou
entidades equiparadas (17º,18º 19º) e ainda relações com os consumidores finais
(20º,21º,22º,23º).

 Conteúdo do negócio jurídico


O NJ é constituído pelo conteúdo do negocio jurídico e o objeto.
O objeto é o bem, ou a realidade jurídica sobre o qual incide o dito negocio.
O conteúdo do NJ é o conjunto de regras que o negócio desencadeia, depois de ser
celebrado,) o conjunto de elementos sobre os quais as partes entenderam dispor
(elementos voluntários) que podem ser essenciais ao negócio de acordo com a sua
estrutura (elementos voluntários necessários) ou elementos assessórios fixados pelas
partes (elementos voluntários eventuais) e alguns elementos que decorrem da lei sobre
aquele negócio (elementos normativos) que ou se sobrepõe à vontade das partes
(elementos normativos imperativos) ou se aplica na falta de disposição das mesmas
(elementos normativos supletivos).

8. Requisitos Objetivos do Negócio:


Requisitos objetivos são aqueles que se reportam ao objeto ou ao fim do
negocio e caso não estejam previstos levam à nulidade do negócio, esta matéria está
tratada no art. 280º e 281º. Os requisitos essenciais do objeto e do fim do negócio são:
- Possibilidade (Tem de ser um objeto possível):
O negocio jurídico será nulo se o objeto não for possível seja em termos físicos seja em
jurídicos. Ex: Compra e venda da lua
o Impossibilidade originária/inicial e Impossibilidade superveniente
A impossibilidade originária surge no início do negócio e a superveniente
depois. A impossibilidade inicial implica a nulidade (280º/1) e superveniente
implica a extinção da obrigação, pode ocorrer por causa não imputável ao devedor
(790º/1) ou na sua extinção com aplicação das regras do incumprimento, quando o
devedor ocasione a responsabilidade (801º)
o Impossibilidade temporária e Impossibilidade definitiva

A impossibilidade temporária será ultrapassada e a definitiva determina a nulidade


do negócio.

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o Impossibilidade física (objeto fisicamente inexistente ou inalcançável) e
Impossibilidade legal (objeto é legalmente impossível ex: torre de Belém)
- Impossibilidade física por falta de substrato (não possui o objeto
fisicamente)
- Impossibilidade física por perda de conteúdo por supressão do escopo
(já não precisa do objeto porque já realizou o seu objetivo)

o Impossibilidade absoluta e Impossibilidade relativa


A impossibilidade absoluta é quando o objeto é atingido seja quais forem as
pessoas envolvidas (IMPLICA A NULIDADE), enquanto a impossibilidade
relativa consiste quando em que o objeto é atingido pelas pessoas concretamente
considerados.
o Impossibilidade efetiva e impossibilidade meramente económica

A impossibilidade efetiva consiste em que o objeto do negócio é ontologicamente


inviável, enquanto na impossibilidade meramente económica o objeto negocial é
pensável.
- Determinabilidade
Um negocio jurídico traduz um conteúdo comunicativo, quando suceda que do
negocio não derive uma informação clara quanto ao seu conteúdo ou ao seu objeto,
estamos perante um negócio indeterminável. O objeto ou conteúdo do negocio tem de
ser determinável ou determinado, caso contrario será nulo, ou seja, tem de ser
determinado pelas partes ou apenas pelo devedor ou credor.
- Licitude
Requisito dos negócios jurídicos que consiste na não ultrapassagem dos limites
injuntivos do ordenamento (art. 280º/1), ou seja, o objeto e o conteúdo não podem ser
contrários à lei (viola uma disposição legal que contenha norma imperativa, ou seja,
aquele que fez aquilo que a lei proíbe- consequência é a nulidade), têm de ser lícitos,
como também o fim do negocio (art. 281º).
O fim do negócio quando é contrário à lei, representa um negócio em fraude à
lei, ou seja, decorre daquelas situações negociais que sem violarem as normas legais
conseguem um fim contrário à lei, a ilicitude está no fim, consequentemente há nulidade
do negocio
- Contrariedade à ordem pública e aos bons costumes
Segundo o art. 280º/2 o negocio não deve ser contrária à ordem pública nem aos
bons costumes, implica a sua nulidade.
Os bons costumes referem-se a áreas em regras sensíveis como deveres pessoais,
matrimoniais, prática sexuais, ética profissional, etc. A ordem publica constitui um fator
sistemático da autonomia privada, pois é limitada por normas jurídicas imperativas. Isto
é são contrários à ordem pública contratos que exijam esforços excessivos aos
devedores ou que restrinjam demasiado a sua liberdade pessoal ou económica. A ordem

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publica faz apelo aos princípios estruturantes da mesma, ou seja, conjunto de normas
imperativas estruturantes para o Estado e para as pessoas, como direitos de
personalidade, etc.

9. Cláusulas Negociais típicas (reguladas na lei)


As clausulas negociais típicas são clausulas reguladas na lei, divididas em
elementos essenciais e acessórios, sendo que os essenciais são aqueles em que sem a
sua observação há a descaracterização do negocio jurídico e os elementos acessórios
são aqueles que podem ser escolhidos entre as partes, consoante a sua vontade. São
clausulas acessórias típicas a condição (art. 270º e ss), o termo (art. 278º e 279º),
modo/encargo, sinal e a clausula penal.
 A condição
É uma clausula contratual típica que vem subordinar a eficácia de uma
declaração de vontade a um evento futuro e incerto, tutelada no art. 270, e é
concretizada com o auxilio da autonomia privada, a boa-fé (tutela da confiança e da
primazia da materialidade subjacente) e a distribuição de riscos. Esta mesma
clausula contratual distingue-se entre condição suspensiva e condição resolutiva, em
que a suspensiva representa um negocio que só produz efeitos apos eventual
verificação da ocorrência e a resolutiva sempre que o negócio deixe de produzir
efeitos apos a eventual verificação da ocorrência em causa.
De modo a assegurar as expetativas das pessoas beneficiárias estabelecem-se
algumas regras de comportamento das partes, sendo a regra geral a do art. 272º CC,
em que devem comportar-se de acordo com as regras de boa-fé em sentido objetivo,
ou seja, há necessidade de se observar os vetores fundamentais da ordem jurídica
que consequentemente implica a observância da tutela da confiança e da primazia da
materialidade subjacente. O art. 273º e 274º indicam atos que as pessoas podem
fazer, nomeadamente, atos conservatórios (podem praticar livremente atos
conservatórios sobre o bem) e atos dispositórios (em que são validos consoante o
fim do negocio).
Se a condição não for verificada, pelo art. 275º, o negocio é ineficaz, porém se a
verificação for impedida, contra as regras da boa-fé, por aquele a quem prejudica
tem se por verificada, mas se for por aquele a quem beneficia considera-se não
verificada.
Após isto, com a verificação da condição, dá-se a celebração do negocio, nos
termos do art. 276º, em que aponta que as partes também podem convencionar de
forma diferente a data de celebração do contrato. No art. 277º estão inseridas
algumas exceções em que não se pode atribuir retroatividade da condição,
nomeadamente os contratos de execução continuada, os atos de administração
ordinária entretanto praticados e a natureza da boa-fé à posse do titular.

 O termo

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O termo diz respeito a uma clausula pela qual as partes subordinam a eficácia de
certo negocio jurídico à verificação de certo evento futuro e certo. Enquanto na
condição era remetida para uma verificação não segura, o termo não implica tal
incerteza, apenas surge como uma limitação temporal a um negócio jurídico
considerado pelas partes.
O termo pode ser:
- Suspensivo: em que a eficácia negocial só se dá apos a verificação de determinado
evento (determinado evento=contrato)
- Resolutivo: a eficácia negocial termina com a verificação do evento
- Incerto: há certeza do evento, mas não há data especifica
- Certa: há certeza da realização do evento e data da sua realização
- Expresso: resulta da vontade assumida das partes
- Tácito: resulta de circunstâncias que com toda a probabilidade revelem ser essa
vontade das partes
Desde o momento da estipulação e até à verificação do termo este diz-se
pendente, em que há um conflito de direitos entre o atual detentor do direito e aquele
que o receberá quando ele ocorrer, por isso a prof Palma Ramalho, acha o regime
legal sucinto porque o legislador remete todos os outros aspetos do termo para o
regime da condição, o que leva também a que os art. 274º,275º e 276º sejam
aplicados analogicamente
O computo do termo está titulado no art. 279º, embora que as partes podem ter
convencionado de outra forma.

 Modo ou encargo
Cláusula típica dos negócios intervivos (doação- art. 963º) e mortiscausa
(testamento- art. 968º e 2244º). Limita a liberdade do beneficiário através de um
encargo, que pode ser patrimonial (não pode ser superior ao do bem ex: pagamento de
dividas) ou não patrimonial (dou-te x se deixares que L usufrua também).
 Sinal
O sinal está titulado no art. 440º do CC, e é uma clausula acessória típica dos
negócios onerosos, ou seja, o sinal tem como objetivo acautelar o melhor cumprimento
do negocio jurídico no futuro, é uma clausula muito importante no contrato promessa
compra e venda porque presume-se como sinal qualquer antecipação do pagamento
(art.442º).
 Cláusula Penal
A clausula penal existe para o cumprimento de obrigações civis, é uma clausula
acessória em que as partes fixam o valor de indemnização se a outra parte não cumprir
ou se atrasar no cumprimento, segundo o art. 810º.

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Regras:
-Não pode ser exigido o cumprimento da obrigação principal e da clausula penal
(implica nulidade- art. 811º/1) exceto se as partes assim o tiverem estabelecido se
houver atraso no cumprimento.
-Não pode ser exigido a cláusula penal em conjunto com uma indemnização, devido a
que a clausula penal já representa uma indemnização (art. 811º/2).
- Se a clausula penal tiver um valor manifestamente excessivo a lei admite que se possa
reduzir, nos termos do art. 812º.

10. Modificação do conteúdo dos negócios jurídicos


Uma vez concluído o contrato deve ser cumprido pontualmente (art. 406º/1 1ª
parte). Porém pode haver algumas modificações, nomeadamente por acordo das partes
(art. 406º/1 2ª parte), de acordo com a lei, por determinação judicial e por alteração das
circunstancias. Para haver modificação por alteração das circunstancias acionada pelas
partes é necessário que verificar determinados requisitos (art. 437º/1): tem de ser
subsequente à conclusão do negocio, tem de ter sofrido uma alteração anormal e o
mantimento da obrigação originaria deve afetar gravemente os princípios da boa-fé.
Se todos os requisitos estiverem verificados, a parte lesada pode requer a
modificação segundo juízos de equidade (art. 437º/1) ou a sua resolução em que a outra
parte pode opor-se declarando aceitar a modificação do contrato (art. 437º/2).

11. Interpretação e integração do negocio jurídico


11.1 Interpretação do NJ
A interpretação do negocio, titulada nos art. 236º-238º visa determinar o seu
sentido juridicamente relevante, isto é, tem como objeto declarações negociais e tem
como função a fixação do seu sentido juridicamente relevante. Embora o CC só se refira
à interpretação da declaração negocial, o que está em causa não é apenas a declaração,
mas sim a interpretação do negocio como um todo, seja ele negocio unilateral ou um
contrato. Para interpretar um negocio temos que ter em conta duas teorias:
-Teoria subjetivista (Castro Mendes) - defende que deve ser atribuído maior relevo a
vontade dos declarantes, ou seja, procura do sentido critico/vontade interior do
declarante
-Teoria objetivista (MC, Ferreira de Almeida) - defende que deve ser atribuído maior
relevo ao sentido da declaração negocial, tal como é compreendida pelo destinatário, ou
seja, tirar o sentido interpretativo sem atender à intenção do declarante

Teresa Viríssimo 14
De modo a distingui a interpretação da lei da interpretação do negocio jurídico,
temos que no negocio jurídico revela essencialmente a vontade das partes, logo é uma
interpretação menos objetivista do que a interpretação da lei.
11.1.1. Regras essenciais
Aplicação do art. 236º:
o Aplicação art. 236º/1- quando o declaratário não conhece a vontade do
declarante
- Regra de impressão do destinatário: 236º/1 1ª parte (visão predominantemente
objetivista) a declaração vale com o sentido em que um declaratário normal
colocado na posição do real declaratário possa deduzir um comportamento do
declarante.
- 1ª concessão ao subjetivismo: 236/1 2ª parte (visão subjetivista) - “salvo se este
não puder razoavelmente contar com ele”, o prof. MC entende que se trata de uma
ressalva destinada a resolver vícios da vontade, quando se pretender dar solução a
essas hipóteses sem ter de recorrer aos requisitos específicos da aplicação das
figuras de vicio da vontade.

o Aplicação art. 236º/2- aplica-se quando o declaratário conheça a vontade do


declarante
- 2ª concessão do subjetivismo: Exprime o principio da “falsa demonstrativo
non nocet “que consiste em quando uma parte utilize formulas significativas
erradas e a outra tenha conhecimento do sentido pretendido e com ele concorde,
a qualificação errada não prejudica, ou seja, se a declaração tiver um sentido que
o declaratário saiba qual é a vontade do declarante, a mesma vale com o sentido
da vontade do declarante.
Divergência doutrinal:
PR: Não resulta da lei. A regra principal é a do nº2 e não a do nº1 porque facilita
a distinção entre interpretação da lei e interpretação do negocio, isto é, no
negocio deve valer como ambas as partes queriam, atribuindo se maior relevo à
vontade real.
MC: O Art. 236º/2 do CC não deve ser entendido à letra, devido a que uma
pessoa pode conhecer a vontade real de outra e no entanto não pretender aceitá-
la; ao dar o seu assentimento a uma declaração que saiba não corresponder à
vontade real de quem a emita, ela poderá abrir as portas a erro e ao dolo. O
declaratário tem não só de saber a vontade do declarante como estar em acordo
com ele.

Teresa Viríssimo 15
Boa-fé na interpretação: É necessário que o declarante tenha implícito o dever de
boa-fé, ou seja, de se por na parte contrario e de prever como é que a mesma irá
entender a declaração. Se o fizer culposamente estará a violar o art. 227º.

11.1.2. Regras especiais


- Casos duvidosos: em caso de duvida sobre o sentido da declaração (art. 237º)
 Negócios onerosos: sentido menos gravoso para o disponente (que
dispõe)
 Negócios gratuitos: sentido que conduz ao maior equilíbrio das partes
- Negócios formais: a declaração só vale se o sentido tiver uma correspondência
mínima com o texto do documento, ainda que perfeitamente expresso (art.
238º/1), porém este sentido pode valer se corresponder à vontade real das partes
e as razoes determinadas da forma do negócio não se opuserem a essa validade
( se a forma decorrer da lei não é aplicável)
- Interpretação dos testamentos: art. 2187º
Nº1- prevalece a vontade do testador
Nº2- não surtirá qualquer efeito a vontade do testador (sujeito a prova
complementar) que não tenha um mínimo de correspondência com o contexto
- Cláusulas ambíguas: art. 11º LCCG, têm o sentido que lhes daria o contraente
indeterminado normal que se limitasse a aceitá-las, quando colocado na posição
de aderente real. Em caso de duvida prevalece o sentido mais favorável ao
aderente.
- Complexos normativos: não regulados no CC- contratos de alcance geral e
abstrato (convenção coletiva- destinado a todos). A prof. PR diz que nestes casos
se aplica a interpretação da lei.

11.2 Integração no negocio jurídico

A integração trata-se também de interpretação, mas no sentido mais amplo da


palavra, a integração visa integrar aquilo que as partes não incorporam e que é
essencial para a formação do negócio.
A integração está titulada no art. 239º, que fixa os critérios para a integração das
declarações negociais, ou seja, na falta de disposição especial, a declaração negocial
deve ser integrada de harmonia com a vontade que as partes teriam tido se houvesse
previsto o ponto omisso, ou de acordo com os difames da boa-fé.

Ponto omisso:
 Delimitação das lacunas: nem tudo aquilo que as partes não regulam constitui
uma lacuna, mas sim tem de haver um ponto que deveria ter sido regulado pelas

Teresa Viríssimo 16
partes segundo a logica do contrato, depois disso como não podem ser aplicadas
normas supletivas, o negocio apesar da lacuna tem que continuar valido.
 Integração das lacunas: o art. 239º remete-nos para a vontade hipotética das
partes e para a boa-fé.
- Vontade Hipotética individual ou subjetiva: procura saber perante os
dados concretos existentes, qual teria sido em termos de probabilidade
razoável, a vontade das partes se tivessem previsto o ponto omisso
-Vontade hipotética objetivista (mais utilizada atualmente): efetua-se
perante os dados concretos existentes, a reconstrução da vontade justa
das partes se com razoabilidade tivessem previsto o ponto omisso.
A vontade hipotética é limitada pelos difames da boa-fé (tutela da
confiança e primazia da materialidade subjacente)

12. Vícios da vontade e da declaração


O negocio jurídico enquanto manifestação da autonomia privada, deve
corresponder àquilo que as partes quiseram com ele, quando isso não acontece
estamos perante um vicio. O negocio tem dois elementos estruturais, nomeadamente
a comunicação e a vontade.

 VÍCIOS REFERENTES À VONTADE: dificuldades na formação da vontade,


verificando-se situações de ausência de vontade ou de vontade incorretamente
formada.
Ausência de vontade: o declarante não queria fazer aquela declaração
- Falta de consciência na declaração- art. 246º
Verifica-se quando o declarante age (com mínimo de vontade) sem ter
consciência de estar a fazer uma declaração negocial. A declaração não produz
qualquer efeito exceto se o declarante tiver culpa, o declarante fica obrigado a
indemnizar o declaratário. Pelo art. 246º tem de haver total falta de consciência
do declarante, de forma a garantir a segurança jurídica e a tutelar os interesses do
declaratário, ou seja, a falta de consciência só é relevante se puder ser percebida
pelo declaratario normal na posição de declaratário real.
- Incapacidade acidental- art. 257º
Verifica-se quando alguém que normalmente tem capacidade jurídica deixa
de o ter. A declaração negocial é emitida num momento em que o declarante não
estava capacitado para entender o sentido de tal declaração (ex: alcoolizado). O
Nj é anulável se o facto for notório (só releva a incapacidade acidental clara e
radical), ou seja, o decalratário tem de saber da incapacidade acidental do
declarante. Se o facto for notório e mesmo assim o declaratário celebre o
contrato, sujeita-se à impugnabilidade do negócio e ainda pode incorrer em

Teresa Viríssimo 17
responsabilidade civil por violação de deveres de segurança e de lealdade (art.
227º, ou até por atentado aos direitos de personalidade (art. 483º).
- Coação Física – art. 246º
Verifica-se quando alguém é levado pela força natural (doença) ou humana a
emitir uma declaração negocial sem ter qualquer vontade de o fazer, logo não há
qualquer manifestação de vontade. A declaração proveniente de coação física é
nula, porem não há dever de indemnizar.
- Declaração não séria- art. 245º
Verifica-se em casos em que o declarante produz a declaração sem qualquer
intenção negocial, na expetativa de que isso seja conhecido pelo declaratário ou
por quem receber a declaração. Diferencia-se da falta de consciência porque na
declaração não séria emite uma declaração na expetativa que o declaratário saiba
que é a brincar, enquanto na falta de consciência o declarante não sabe que esta a
emitir uma declaração. Aplica-se a nulidade se a declaração for patentemente
não séria, se a declaração induzir o declaratário a aceitar justificadamente a sua
seriedade existe direito indemnizatório (245º/2). Temos que ter em conta a
interpretação no art. 236º em que se a declaração for tomada pelo declaratário
normal na posição real como não séria, ela cai no art. 245º/1, logo a sua
aceitação é irrelevante.

Vontade deformada: o declarante queria celebrar o negócio jurídico, mas não


naquelas condições devido a:

o Ausência de Liberdade
- Coação Moral: Vis absoluta.
Verifica-se quando a declaração determinada pelo receio de um mal de que o
declarante é ILICITAMENTE ameaçado com o fim de obter dele a declaração
(em situação de medo- vicio do negocio). Nesta situação há ausência de
liberdade mas há vontade.
Requisitos para a declaração ser anulável:
 Ameaça ilícita
 Ameaça real
 Ameaça finalisticamente dirigida à prática daquele ato específico (incide
sobre a pessoa, o seu património ou fazenda)
 Existência de nexo de dupla causalidade: ameaça tem de causar medo e
que esse medo seja determinante do negocio
- Coação Física- Vis absoluta. Insere-se na ausência de vontade e de liberdade
- Erro Vício: reside na formação da vontade negocial; declaração formada na
base de um pressuposto que não se verifica.

Teresa Viríssimo 18
Erro sobre o declaratário ou sobre o objeto do negócio (art. 251º): não está
em causa apenas a identidade do objeto, mas também as suas qualidades e
particularmente seu valor. Relevam também as qualidades jurídicas do
objeto.
Características objetivas- só importa para o adquirente, problema de
cognoscibilidade que se divide:
 MC: erro sobre as características objetivas ainda é erro sobre o
objeto- quase nunca um erro procedente pq é difícil o motivo que o
adquirente queria comprar- 251º+247º- anulável pelo erro do objeto
 CF: reconduz este erro ao 252/1 porque não são atingíveis por
qualquer pessoa, mas é necessário um acordo mm que seja tácito
quanto à essencialidade do motivo.
Não basta informar, mas tem que haver um acordo em que eu seja tácito
da essencialidade disso.
Remissão para o art. 247º (requisitos para a anulabilidade)
Erro sobre a Base do Negócio (art. 252º/2): Erro sobre as circunstancias
sobre as quais as partes se basearam para contratar, trata-se de um erro
bilateral e objetivo, ou seja, comum às partes em que fundaram a decisão de
contratar um facto externo que não controlam e que se alterou de forma
imprevisível.
MC: O erro da base do negócio será uma representação de uma das partes
conhecida pela outra, relativa a certa circunstancia basilar atraente do próprio
contrato e que foi essencial para o mesmo.
Remissão para o art. 437º apenas para efeitos de verificação dos requisitos e
para a possibilidade de modificação do contrato, se não houver possibilidade
de modificação, o contrato é anulado pelo 252º/2.
MC: Impõe uma interpretação restritiva quanto à remissão feita do art.
252º/2 para o art. 437º devido à alteração das circunstancias, sendo que ao
art. 437º apresenta duas soluções, nomeadamente a resolução do contrato ou
a sua modificação segundo juízos de equidade (art. 437º/1), em que o
professor compreende que estando um contrato em curso de execução, não
há que atingi-lo no passado, assim como não se exige atingi-lo in totum as
partes poderão ter investido já muito no seu cumprimento. Por isso diz que
se deve aplicar o regime comum do erro, nomeadamente a anulabilidade (art.
252º/2), porque a situação ocorre já no momento da celebração do negocio,
ela tem de comportar um prazo curto para se sedimentar, tem que ter
confirmação e ainda não se podem verificar valores que requeiram
consequências diferentes das normais para o erro.
PR: defende que ou permite anulação ou permite modificação, ou seja, se for
possível a modificação aplica-se diretamente o 437 se n for possível recorre-
se diretamente à anulação, decorrente do art. 252º/2.

Teresa Viríssimo 19
Erro sobre os motivos do negócio (art. 252º/1): Trata-se de um erro
unilateral, que recaia nos motivos determinantes da vontade, mas se não
refira à pessoa do declaratário nem ao objeto do negócio, ou seja o objeto
não está errado, mas sim os motivos. Só é causa de anulação se as partes
houverem reconhecido por acordo a essencialidade desse mesmo motivo.

Dolo (art. 253º): O erro pode ser espontâneo ou um erro por dolo.
O dolo tem uma dupla aceção no Direito Português:
1. A sugestão ou artificio usados com o fim de enganar o autor da declaração
(art. 253º/1)
2. A modalidade mais grave da culpa, contraposta à “mera culpa” ou
negligência referida no art. 483º/1
Analisemos então a 1ª aceção:
A relevância do dolo depende de três fatores:
- O declarante esteja em erro
- Que o erro tenha sido causado ou dissimulado(mantido) pelo declaratário
ou por terceiro
- Que o declaratário ou terceiro haja recorrido a qualquer artifício, sugestão
ou embuste.
A declaração com dolo implica a sua anulabilidade se o dolo for
determinante do erro e o erro determinante do negocio, a anulabilidade
implica indemnização dos danos causados, pode fazer-se em simultâneo
apelo às regras da CIC.
ANULABILIDADE DO ERRO DA VONTADE- PR (2 requisitos):
- Essencialidade: o elemento sobre o qual o declarante estava em erro deverá
ser essencial; exclui o erro indiferente
- Cognoscibilidade: dever de conhecimento proveniente da outra parte da
essencialidade do elemento sobre o qual o declarante estava em erro; é
necessário que ambas as partes tenham conhecimento por acordo
(convencional ou formal)

 VÍCIOS REFERENTES À DECLARAÇÃO:


Intencionais:
-Reserva Mental (art. 244º):

Teresa Viríssimo 20
Há reserva mental sempre que é emitida uma declaração contrária à vontade real
com o intuito de enganar o declaratário, ou seja, a vontade real e a declarada não
é a mesma, visto ter objetivo de enganar a outra parte. Existe reserva bilateral
quando as duas partes tentam enganar-se mutuamente.
A diferença entre reserva mental e declaração não séria é que não há intuito
negocial enquanto na reserva mental há uma intenção de enganar o declaratário
de modo a ter benefício do negócio (declaração não séria secreta).

Quando o declaratário conheça a vontade real:


o Acordo entre as partes com intenção de enganar terceiros- Pelo art.
244º/2, aplica-se o regime da simulação, como na reserva não existe intuito
de enganar terceiros o MC diz que deve ser lido em termos cabais, ou seja,
há uma remissão para a simulação in totum se houver um acordo entre as
partes com intenção de enganar terceiros.
o Conhece a vontade real do declarante e com ela concorde- Pelo art.
236º/2, funciona o regime da falsa demonstrativo non nocet.

-Simulação (art. 240º e ss.):


A simulação é uma divergência intencional entre a vontade e a declaração que
decorre de três requisitos: um acordo entre o declarante e o declaratário, no
sentido duma divergência entre a declaração e a vontade das partes, com intuito
de enganar ou prejudicar terceiros.
Existem várias modalidades de simulação:
o Inocente- intuito de enganar, mas não prejudicar (art. 242º/1) - animus
decipiendi

o Fraudulenta- intuído de enganar e prejudicar (art. 242º/1) - animus


nocendi

o Absoluta- as partes não pretendem celebrar nenhum negócio apesar de


exteriorizarem uma intenção e concluir o negocio

o Relativa- divergência entre a vontade declarada e a vontade real, sob


simulação esconde-se o negocio verdadeiramente pretendido (art. 241º)

 Objetiva-divergência recai sobre o objeto ou conteúdo do negócio.


Objetiva total- Simulações sobre a natureza do negócio, ou
seja, o negócio simulado e o negócio dissimulado pertencem a
tipos legais ou sociais distintos. (Ex: Celebrar uma compra e
venda para cobrir uma doação)

Teresa Viríssimo 21
Objetiva parcial- O negócio dissimulado é o simulado com
meras alterações no conteúdo. Ex: O preço declarado e o pago
não são os mesmos.

 Subjetiva- sempre que incida sobre as partes, traduz-se numa


interposição fictícia de pessoas (Uma parte do negocio não adquire
direitos e deveres ex: A não pode vender a B, por isso declara
vender a C)

O Regime geral do art. 240º/2 há sempre nulidade do negocio simulado exceto nas
situações de simulação relativa e na simulação envolvendo terceiros.
o SIMULAÇÃO RELATIVA:
O negocio sujeita-se ao negocio real, desde que respeite os requisitos de forma do
mesmo, segundo o art. 241º/1 e 2, ou seja, admite-se a validade dos negócios
dissimulados, se não houver nulidade ou anulabilidade em consequência do regime que
lhe corresponderia se fosse realizado sem dissimulação. Passa-se como se não tivesse
havido simulação, nos termos que correspondem à vontade real. Existem, no entanto,
dificuldades na aplicação prática, nomeadamente quando estão em questão 2 negócios
formais de natureza diferente
LEGITIMIDADE PRA ARGUIR A SIMULAÇÃO (art.242º), sem prejuízo pelo
disposto no art. 286º, a nulidade do negocio simulado pode ser arguida pelos próprios
simuladores entre si, ainda que a situação seja fraudulenta (art. 242º/1). Pode também
ser arguida pelos interessados prejudicados pelo art. 242º/2.
PR: defende a possibilidade de os simuladores invocarem a nulidade do negocio existe
de forma a se evitar a invocação da manifestação do abuso de direito.
MC: não concorda que exista a possibilidade de os simuladores invocarem a nulidade
do negócio
PROVA DA SIMULAÇÃO PELOS SIMULADORES (art. 394º/2):
Este artigo restringe os termos em que os simuladores podem invocar a simulação.
Impedir a prova testemunhal equivale muitas das vezes a restringir de modo indireto a
prescrição do art. 240º/2 quanto à nulidade da simulação. Com um entendimento
restritivo do artigo visa-se fazer prevalecer a verdade dos factos.

o INOPONIBILIDADE DA SIMULAÇÃO A TERCEIROS DE BOA-FÉ (surge


no âmbito dos direitos de preferência):
O ponto cadente é a invocação da simulação pelos próprios simuladores e contra
terceiros, pelo art. 243º/1 há o impedimento de tal invocação perante terceiros de boa-fé,
ou seja, o terceiro que desconheça sem culpa a simulação. Pelo art. 243º/3 considera-se

Teresa Viríssimo 22
sempre de má-fé o terceiro que adquira o direito posteriormente ao registo da ação de
simulação.
Havendo violação de um direito de preferência pode o preferente, através da ação de
preferência prevista no art. 1410.º CC, fazer seu o negócio preferível. O preferente
poderia vir tornar seu o negócio, não podendo os simuladores invocar a simulação, por
força do art. 243.º/1. Em relação a esta possibilidade, a doutrina diverge:
- Manuel de Andrade- veio sustentar que só seriam terceiros, para efeitos de tutela da
boa-fé na simulação, as pessoas prejudicadas com a invalidação do negócio simulado e
não aquelas que lucrariam com ele
- Castro Mendes e Antunes Varela- defendem que a simulação era em qualquer caso
inoponível a terceiros de boa-fé
- Mota Pinto e Almeida Costa, MC e Carvalho Fernandes e a maioria da jurisprudência:
em sentido inverso, defendem que o objetivo da lei não pode ser o de permitir facultar o
enriquecimento do preferente, constituindo isso um abuso de direito. Posição adotada
pela jurisprudência.
CONFLITO DE INTERESSES ENTRE TERCEIROS DE BOA-FÉ:
Pode ser entre:
• Credores do simulador alienante e dos credores do simulador adquirente;
• Credores do simulador alienante e subadquirentes do simulador adquirente;
• Subadquirentes do simulador alienante e os subadquirentes do simulador adquirente;
Para resolver este conflito surgem duas teses:
• Teoria casuística – cada um dos conflitos é autonomamente;
• Teoria sistemática – a resolução de litígios reflete uma construção geral previamente
considerada.
O professor Menezes Cordeiro diz-nos que as teorias casuísticas devem ser rejeitadas,
pois são sustentadas em juízos arbitrários e subjetivos. Assim, a maioria da doutrina
tende a professar por construções gerais. Assim sendo, temos as seguintes orientações:
-Galvão Telles – defende o princípio da aparência: considera que o interesse dos
terceiros de boa-fé que confiam na aparência da transmissão simulatória deve
prevalecer. Assim, tendo em conta o caso acima exposto
- Castro Mendes e Oliveira Ascensão – defendem que a solução está no próprio regime:
os negócios simulados são nulos, podendo a nulidade ser invocada por qualquer
interessado. O legislador apenas impede que os simuladores oponham a simulação
contra terceiros de boa-fé, mas não que terceiros de boa-fé a oponham contra outros
terceiros de boa-fé.
-Carvalho Fernandes – considera que a solução deve ser procurada no regime legal da
colisão de direitos – art. 335.º CC.

Teresa Viríssimo 23
- Menezes Cordeiro – considera o regime geral, sendo que a nulidade, de acordo com o
art. 286.º, pode ser invocada por qualquer interessado, tendo, no âmbito da simulação,
por força do art. 243.º/1, a exceção de os simuladores não poderem invocar a simulação
contra os terceiros de boa-fé. Para além dos simuladores, estende a impossibilidade a
quem os tenha auxiliado, contudo chama a atenção para não confundir os terceiros que
auxiliaram os simuladores com os “terceiros de má-fé”: sujeitos que conheciam a
simulação, mas não a conheciam, sendo que têm legitimidade para opor a nulidade a
terceiros de boa fé.
NULIDADE DO NEGÓCIO SIMULADO:
Regime geral do art. 240º/2 há sempre nulidade do negocio simulado, porém não afeta a
validade do negocio dissimulado (art. 241º/1 CC).
O que acontece ao negócio dissimulado havendo simulação relativa?
o Teoria da forma da declaração: negócio dissimulado apenas poderá ser declarado
válido se as próprias declarações de vontade respeitarem a forma exigida

o Teoria da forma do negócio- não releva se a declaração de vontade característica


do negócio dissimulado revestiu forma legalmente exigida, ou seja, a sua
validade será declarada sempre que exista uma identidade entre a forma
empregue pelo negócio simulado e a forma exigida pelo negocio dissimulado.

o Teoria do ratio da forma- a validade do negocio dissimulado está dependente do


preenchimento das razoes justificativas subjacentes à exigência de forma
especial

Não intencionais:
- Erro na declaração/erro obstáculo (art. 247º)
Fala-se numa falsa representação da realidade, isto é, existe uma divergência
entre o que o autor pensou e o que disse. Esta divergência não é intencional, ou
seja, há uma comunicação errónea, o erro esta na comunicação.
O negocio é anulável quando haja erro na declaração caso se preencham os
dois requisitos cumulativos decorrentes do art. 247º, nomeadamente a
essencialidade (elemento sobre o qual o declarante estava em erro deverá ser
essencial, ou seja, se o declarante soubesse que estava em erro não teria
celebrado o negócio- protege o declarante) e a cognoscibilidade (dever de
conhecimento da outra parte da essencialidade do elemento sobre o qual o
declarante estava em erro. - Protege o declaratário).
A anulação do contrato por erro na declaração pode causar danos ao
declaratário, por isso existe um dever elementar, imposto pela boa-fé e pela
tutela da confiança, de fazer corresponder as declarações de vontade realizadas
ao que efetivamente se pretenda, com isto o declarante poderá responder por
CIC. Por outro lado, pelo artigo 248º o erro pode ser sanado, a validação do

Teresa Viríssimo 24
negocio depende de uma declaração e da consequente aceitação, assim prevalece
a vontade real do declarante numa manifestação pratica do principio da redução
dos negócios do art. 292º.
- Erro de calculo ou escrita (art. 249º)
O erro é de tal modo visível, que resulta do próprio contexto do documento
ou das circunstancias da declaração. Não se verificando a imediata aparência do
erro haverá que aplicar o regime geral do art. 247º. O erro de cálculo ou de
escrita apenas dá direito à retificação.
- Erro na transmissão da declaração (art. 250º)
A declaração não é transmitida ao decalratário pelo autor, mas por outra
pessoa, o erro aqui é do representante. O erro é anulável cumprindo os requisitos
do art. 247º (essencialidade e cognoscibilidade) conjugado com o 250º, a menos
que haja dolo pelo representante (art. 250º/2) o que leva à indemnização de todos
os lesados.

13. Vício da Usura (art. 282º-284º):


A Usura consiste na exigência de um certo equilíbrio das prestações das partes nos
negócios jurídicos onerosos (nos gratuitos já comporta um desequilíbrio), ou seja,
nenhuma parte deve ganhar exageradamente mais do que o que a outra perde. Porém,
isto não significa que todos os negócios onerosos têm que ser bons para ambas as partes,
só que a ordem jurídica intervém quando existe um desequilíbrio manifestamente
excessivo.
A prof. Palma Ramalho defende que se deve evitar a extensão da usura a todos os
negócios em que existe desequilíbrio porque se deve respeitar a autonomia privada e a
liberdade de estipulação
Requisitos para que haja usura:
- Requisitos objetivos- desequilíbrio das prestações negociais de forma excessiva ou
injustificada, ou seja, um beneficio excessivo ou injustificado que resultem do
negocio para o usurário seja para terceiros.
o Atual- benefícios atuais
o Futuros- benefícios futuros

- Requisitos subjetivos- necessário haver uma celebração do negocio com alguém


que tenha sido explorado pela fraqueza, necessidade, inexperiência, este
aproveitamento tem de ser consciente.
Nos termos do art. 282º o regime geral é o da anulabilidade, por uma questão de
segurança jurídica, contudo a lei permite ao lesado requerer a modificação
(recuperação) do negocio segundo juízos de equidade- reductio ad aequitatem, pelo art.
283º/1. Porém o prof. Menezes Cordeiro entende que a modificação segundo juízos de
equidade exige que o usurário entregue o benefício excessivo ou injustificado ao lesado.

Teresa Viríssimo 25
Para o caso de a usura constituir crime, pelo art, 284º o prazo de caducidade do
direito de anulação é alterado, ou seja, sendo o prazo fixado num ano pelo art. 287º,
quando a usura é crime o prazo não termina até que o crime prescrever.

14. Ineficácia e Invalidade do negocio jurídico


A ineficácia dos negócios jurídicos traduz em termos gerais a situação na qual eles
se encontram quando não produzam todos os efeitos que dado ao seu teor se destinariam
a desencadear.
As situações de ineficácia pertencem a dois grandes grupos:
 Invalidade: não produção normal de efeitos opera mercê da presença no negócio
celebrado, de vícios ou desconformidades com a ordem jurídica.

- Nulidade (art. 286º)


A nulidade é uma falha estrutural do negocio que decorre da falta de algum
elemento essencial do negocio (vontade ou objeto), mas pode também decorrer
da contrariedade do negocio de normas imperativas, também se justifica na falta
de forma legal embora MC noa concorde devido a não haver valores
substantivos em jogo claramente definidos.
A nulidade é um ato que existe, mas não chega a produzir efeitos sendo
consagrado por 4 regras essenciais no art. 286º:
o A nulidade tem efeito automático: opera ipso iure, ou seja, nulidade opera
independentemente de qualquer vontade de a desencadear
o A nulidade é invocável por qualquer interessado
o A nulidade é invocável a todo o tempo
o A nulidade tem efeito retroativo- impugnação genérica (art. 289º)
o A nulidade pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal

O prof. Menezes Cordeiro ainda distingue a nulidade absoluta da nulidade


relativa:

Nulidade absoluta- art. 286º


Nulidade Relativa- ocorre sempre que surja uma nulidade suscetível de não ser
invocável por qualquer interessado ou que seja sanável.

- Anulabilidade (art. 287º+289º)


A anulabilidade do negócio jurídico visa tutelar privados, através da concessão
do direito potestativo para anular o negócio, ou seja, o interesse de uma pessoa
não foi suficientemente atendido na celebração do negócio. Enquanto a
anulabilidade não for invocada por uma das partes o negocio produz os seus
efeitos.

o Só pode ser invocada por pessoas cujo interesse a lei estabeleça


o Só pode ser invocada no prazo de um ano a contar da cessação do vício

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o A anulabilidade é sanada por confirmação
o Tem efeitos retroativos- não é aplicável nos casos de execução
continuada (arrendamento), tem de ser temperamentado com o principio
da boa-fé, especialmente quando envolvidos de boa-fé a título oneroso
(inopunivel) e gratuito (art. 291º/1 e 289º/2).

- Invalidades mistas ou atípicas


- Inexistência- Oliveira Ascensão e PPV entendem que se deve autonomizar a
figura da inexistência. No Código Civil esta figura surge associada, sobretudo,
ao casamento, nos art. 1627, 1628 e 1630. Tende também, a ser associada à
coação física e à ausência de vontade.
A prof. Palma Ramalho entende que não faz sentido autonomizar a inexistência,
desde que a nulidade possa ser requerida extrajuridicamente. O prof. Menezes
Cordeiro complementa esta posição, ao alegar que, o negócio nulo pode produzir
efeitos e, por isso, aquele que age de boa-fé através do negócio nulo (ex:
simulação – art. 240/1) ou anulável (ex: coação – art. 256) pode beneficiar
daqueles esquemas, mas sendo o negócio inexistente tudo ficaria bloqueado,
podendo a inexistência ser prejudicial para aqueles que agem de boa-fé.

 Ineficácia em sentido estrito: o negocio em si não tem vícios, apenas se verifica uma
conjunção com fatores extrínsecos que conduz à referia não produção normal de
efeitos.

15. A representação (258º-261º.)


A representação é um fenómeno de substituição da pessoa na atuação jurídica, em
que a titularidade não corresponde à legitimidade, ou seja, não tem qualidade que o
habilite a agir. Logo a representação traduz-se na realização de negócios jurídicos em
nome de outrem, em cuja esfera jurídica se produzem diretamente os respetivos efeitos.
O objetivo da representação é tudo se passar como se fosse o titular a atuar, isto é, o
representante atua no interesse do representado, o que não significa que não posso haver
interesse próprio.
Existem 3 requisitos para que a representação produza o seu efeito típico (inserção
direta e imediata do ato na esfera jurídica do representado- dominus negotti.
 Representante tem de agir em nome do representado
 Representante age por conta dessa pessoa
 Ato realizado caiba dentro dos limites dos poderes conferidos ao representante

Modalidades da representação:
- Representação Legal- poderes de atuação do representante decorrem da própria lei
(incapacidade dos menores que compete aos pais ou ao tutor)

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- Representação voluntária- a fonte de representação é um negócio jurídico,
normalmente a procuração (art. 262º) e o mandato (1157º). Os efeitos são os mesmos da
representação legal, nomeadamente art. 258º. Se o representante exceder os limites para
que o negocio produza os efeitos na esfera jurídica do representado, é necessário que o
mesmo seja por ele retificado, caso contrário é ineficaz.
Regime jurídico: A repercussão dos negócios na esfera do representado é imediata
( opera no preciso momento em que o negocio ocorra) e automática (não exige qualquer
outro evento para que ela ocorra).
16.
17. Abuso do Direito
O abuso de direito é algo estranho a priori e surge devido a situações sem que era
patentemente evidente que os direitos estavam a ser exercidos de forma menos
adequada, porém não havia a possibilidade de identificar nenhuma situação de ilicitude
porque não havia contrariedade da forma. Trata-se de uma situação de exercício de um
direito que é ilegítimo devido ao titular exceder manifestamente os limites impostos
pela boa-fé, bons costumes ou por fim social ou económico desse direito.
3 requisitos para o abuso de direito/limites ao exercício de direito:
Exceda manifestamente os limites impostos pela/o…
- Boa-fé
- Bons costumes
- Fim económico-social desse direito
A regra desde logo é que se alguém tem um direito e o exerce, pode fazê-lo,
porém cria-se aqui uma exceção que permite considerar ilegítimas condutas contrárias
aos valores base do ordenamento jurídico e social.

PR: aplicação crescente excessiva, visto que a figura do abuso do direito é uma
figura de segundo plano na ordem jurídica/ figura excecional.
Manifestações típicas de abuso de direito:
 Exceptio Doli- exceção do dolo
- Aquele que invoca a exceptio doli pode deter comportamento abusivo de
alguém alegando que esse comportamento abusivo é só para o prejudicar. Ex: A
constrói chaminé inútil para tirar a vista de B.
 Venire contra factum propium- ato ilicito
- Comportamentos contraditórios e frustração de expetativas criadas nas quais
haja legitimamente um terceiro confiado, isto é, quando o titular de um direito
que diz uma coisa e depois se contradiz, ou seja, o titular de um direito volta
atrás na sua decisão. Nas situações me que não se possa aplicar o venire devido a

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que o direito está já consolidado (já produziu efeitos) aplicam-se os critérios da
boa-fé (tutela da confiança predominantemente)
 Inalegabilidade formal
- Situação em que a nulidade derivada da inobservância da forma prescrita para
um determinado negócio jurídico não possa ser alegada sob pena de se verificar
um abuso de direito devido à contrariedade da boa-fé.
 Surreptio e Supressio
A supressio tem a ver com a situação em que na posição jurídica não exercida
durante certo tempo deixa de poder ser exercida – cessa.
Na esfera jurídica contrária surge uma surreptio, ou seja, uma situação
correspondente ao direito que se perdeu.
 Tu quoque
Aquele que viola uma norma jurídica não pode tirar partido dessa situação
 Exercício em desequilíbrio
- São abusivas as formas de exercício do direito que sejam inúteis (muito pouco
beneficio próprio) para o titular, mas causem danos para terceiro. Está implícito
o principio do mínimo dano, em que o exercício do direito deve ser feito de
modo a causar o mínimo dano a outrem. Deve haver um
equilíbrio/proporcionalidade entre as vantagens de uma parte e os prejuízos da
contraparte.

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