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Oral de Melhoria de Direito Romano 2021/2022

Teresa Viríssimo Turma A

Leges publicae populi Romani: As Leges rogatae

Inicialmente todas as deliberações dos comitia eram consideradas leges, nomeadamente


as que estavam relacionadas à creatio dos magistrados e as que respeitavam aos iudicia
criminali. A palavra leges só passou a ter um conteúdo conceptual quando se ligou apenas às
deliberações dos comitia com caráter normativo e legislativo.

A lex é toda a declaração solene com valor normativo baseada num acordo entre quem a
emite e o destinatário ou destinatários. A lex vincula aquele que a declara e a pessoa ou pessoas
às quais se destina. A lex pode ser privata ou publica, ou seja, a lex é privata (cria direito
privado, em virtude do principio já consagrado, consagrado e não criado devido a ser anterior à
Lei das XII Tábuas) quando a declaração solene com valor normativo tem por base um negocio
privado, isto verifica-se sobretudo quando alguém faz um acto de disposição solene acerca de
uma coisa sua, denomina-se lex dicta ( elaboradas pelo magistrado no uso dos seus próprios
poderes Ex: assuntos ligados à utilização dos bens do Estado).

A lex publica surgiu após a lex privata e baseia-se num negócio público. A lex rogata é
lex publica de aplicação geral que vincula todos os cidadãos romanos. Ao contrário da lex
privata não regula um acordo ou conceção celebrado entre particulares, mas tem como
destinatários todos os cidadãos romanos.

A lex em roma (lex rogata) consiste num conjunto de comandos solenes com valor
normativo propostos por um magistrado, votados pelo Populus reunido nos comitia centuriata e
posteriormente aprovados pelo povo a lei é submetida ao senado, detentor de auctoritas patrum (
) para que este confirme ou não a lei, no caso de não confirmar alega que aquela lei não está de
acordo com os mores maiorum. A lex surge como uma solução política de compromisso para a
paz entre os vários interesses presentes nos muitos conflitos que requeriam a intervenção do ius
através de soluções concretas.

Se a proposta do magistrado fosse aprovada passava a designar-se lex rogata ou lex lata,
esta lex distinguia-se da lex data que era dada diretamente pelo magistrado ao abrigo das
competências delegadas pelos comitia, com conteúdo administrativo, são muito ligadas à
administração territorial e à burocracia de governo, sendo a base do regime municipal de Roma.
O processo formativo das leges rogatae até à sua vigência plena é sintetizada em 6
etapas, nomeadamente:

1. A promulgatio, que consistia na afixação do texto do projeto a apresentar à


assembleia pelo magistrado com poder para convocar os comícios em lugar público,
por três dias antes da votação, para que todos o conhecessem.
2. As conciones eram as reuniões informais realizadas em lugar publico para que
houvesse uma discussão intensa e alargada do projeto. Os discrusos favoráveis
designavam-se suasiones e os críticos designados por dissuasiones.
3. A rogatio era o pedido de aprovação do projeto de lex pelo magistrado. Convocados
os comícios e reunidos em assembleia, o magistrado que presidia começava por
cumprir certas formalidades de carater religioso e mandava ler o projeto da lex. A
rogatio terminava com as palavras solenes: “queireis e ordenais, cidadãos?”
4. A votação era feita oralmente e de braço no ar com uma contagem manualA partir
da lex Papiria tabelaria de 131 a.C a votação passou a ser feita por voto escrito e
secreto. Logo para expressar o voto positivo a fórmula era: “uti rogas” (que
significa como pedes), para o voto negativo “antiquo”, em caso de abstenção era
proclamada a fórmula “non liquet” (não esta claro).
5. A aprovação era feita pelo senado, depois de votada favoraverlmente pelos comitia,
a lei precisava de ser referendada pelo “auctoritas patrum”. Após a lex publilia
philonis, de 339 a.C, a auctoritas patrum passa a ser conferida logo depois às
conciones, de modo que só os projetos que passavam na votação do senado eram
votados nos comícios.
6. A afixação era o ato que fechava o processo legislativo das leges rogatae. Depois de
concedida a auctoritas patrum, o projeto transformava-se em lex (“publica rogata”).
Era afixada em tabuas de madeira ou de bronze no fórum, para que que todos os
cidadãos pudessem ler e conhecer as suas prescrições.

A lex rogata dividia-se em 3 partes, nomeadamente praescriptio, rogatio e sanctio.

1. A praescriptio era uma espécie de apresentação onde se inscreviam os elementos


identificadores da lei (o nome do magistrado proponente, o comitia votante, lugar e data
da votação da lei, o nome da cúria, centúria ou tribo que abriu a votação, etc)
2. A rogatio é a parte dispositiva da lei, não tem integralmente valor normativo, ou seja,
não é constituída apenas por comandos legislativos integrados em normas. É uma parte
da lex rogata que corresponde a uma fase ou etapa do procedimento que leva à lex
(independentemente da votação e aprovação).
3. A Sanctio é a parte final da lex que afirma o respeito pelo disposto pelos mores
maiorum, as leges sacratae, o ius civile e fixa os termos em que vai ser aplicada a lei,
isto é, estabelece os modos da sua eficácia através de sanções. É nesta parte que o
legislador deixa claro que a nova lex não revoga o ius anterior e que o incumprimento
das suas normas implica sanções.

É estabelecida uma classificação das leges rogatae quanto à sanctio:


- perfectae: quando se declaram nulos os actos contrários às suas disposições
- minus quam perfectae: se apenas impõem multas aos transgressores
- imperfectae, se nem anulam os atos contrários e nem impõem sanção

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